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Novos Caminhos para profissionais da educão

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Prévia do material em texto

NOVOS CAMINHOS PARA PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
RODRIGO VINÍCIUS SARTORI
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6609-4
9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 0 9 4
Código Logístico
59295
Há algo em comum entre professores experientes e 
novatos, concursados com carreira estável em instituições 
públicas e ocasionais prestadores de serviço em instituições 
privadas, líderes acadêmicos e empreendedores educacionais: 
neste momento vivenciado, todos, em absoluto, são 
demandados a serem menos especialistas e mais generalistas. 
O cenário atual impõe cada vez mais funções agregadas 
ao papel de professor, que vê sua profissão passar por uma 
rápida e firme transformação.
Diante dessa turbulência no campo profissional, 
abrem-se, ao mesmo tempo, diversas novas possibilidades 
de atuação do educador na sociedade atual, tema que é 
exaustivamente debatido neste livro. Novos caminhos esses 
que têm potencial de resultar em grande sucesso profissional 
se bem aproveitados.
A expectativa é que essa obra possa contribuir 
com a formação de professores diferenciados, ainda 
mais competentes e que aproveitem todas as melhores 
oportunidades ao seu alcance.
Novos caminhos 
para profissionais da 
educação 
Rodrigo Vinícius Sartori
IESDE BRASIL
2020
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
© 2018 – 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: plutmaverick/goodluz/Shutterstock
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S26n
Sartori, Rodrigo Vinícius
Novos caminhos para profissionais da educação / Rodrigo Vinícius 
Sartori. - [2. ed.]. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 
192 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6609-4
1. Professores - Formação. 2. Prática do ensino. I. Título.
20-62817 CDD: 370.71
CDU: 37.026
Rodrigo Vinícius 
Sartori
Doutor em Administração pela Universidade Positivo 
(UP). Mestre em Engenharia da Produção, especialista 
em Gestão do Conhecimento nas Organizações e 
engenheiro industrial elétrico pela Universidade 
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Professor, 
pesquisador e consultor sênior de gestão nas áreas 
de qualidade e inovação, com vivência internacional 
(EUA e Espanha). Desenvolve trabalhos acadêmicos e 
empresariais em todo o Brasil. É autor de livros para o 
ensino superior.
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
SUMÁRIO
1 Ser professor no século XXI 9
1.1 Os desafios do mundo contemporâneo 9
1.2 Ser professor na atualidade 13
1.3 Múltiplas competências para o novo educador 18
2 Repensando a formação docente 24
2.1 A formação continuada 24
2.2 O pesquisador autodidata 29
2.3 O professor aluno 34
3 Novas possibilidades de atuação docente 41
3.1 Planejando a carreira 41
3.2 O professor empreendedor 46
3.3 Marketing pessoal e network 53
4 A contribuição das TIC para a educação 60
4.1 A nova comunicação professor-aluno 60
4.2 A internet na sala de aula 66
4.3 Tecnologia como recurso didático 71
5 Novidades tecnológicas na sala de aula 80
5.1 EaD e Mooc 80
5.2 Realidade virtual 85
5.3 Realidade aumentada 92
6 Inovações na educação 100
6.1 Jogos educacionais 100
6.2 Aula invertida e ensino híbrido 107
6.3 Convivência com dispositivos móveis 112
7 Novas competências comportamentais 119
7.1 Liderança 119
7.2 Relacionamento interpessoal 125
7.3 Motivação 130
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
8 Noções de gestão para o professor 137
8.1 Qualidade e produtividade 137
8.2 Gestão de projetos 142
8.3 Gestão de conflitos 147
9 Tópicos especiais para o professor 156
9.1 A carreira internacional do professor 156
9.2 O papel do professor nos ecossistemas de inovação 163
9.3 O professor como agente político 168
10 A excelência docente 174
10.1 Leitura crítica 174
10.2 Maestria na escrita 181
10.3 Domínio da oratória 185
Há algo em comum entre professores experientes e novatos, concursados 
com carreira estável em instituições públicas e ocasionais prestadores de 
serviço em instituições privadas, líderes acadêmicos e empreendedores 
educacionais: neste momento vivenciado, todos, em absoluto, são 
demandados a serem menos especialistas e mais generalistas. O cenário 
atual impõe cada vez mais funções agregadas ao papel de professor, que vê 
sua profissão passar por uma rápida e firme transformação.
Diante dessa turbulência no campo profissional, abrem-se, ao mesmo 
tempo, diversas novas possibilidades de atuação do educador na sociedade 
atual, tema que é exaustivamente debatido neste livro. Novos caminhos 
esses que têm potencial de resultar em grande sucesso profissional se bem 
aproveitados – o primeiro passo, naturalmente, é compreender o que ocorre 
com o mundo e com o trabalho do professor.
É nesse sentido que o Capítulo 1 introduz essa reflexão sobre o que é 
ser professor no novo milênio: os desafios do mundo contemporâneo, ser 
professor na atualidade e as múltiplas competências para o novo educador. 
O objetivo do Capítulo 2 é repensar a formação docente. Por isso, uma 
análise crítica é realizada a respeito da formação continuada, do pesquisador 
autodidata e do professor aluno.
Com um teor bastante prático, o Capítulo 3 descreve as novas 
possibilidades de atuação docente em termos de planejamento de carreira, 
de empreendedorismo, de marketing pessoal e networking. No Capítulo 4, 
analisando-se a nova comunicação professor aluno, a internet na sala de 
aula e a tecnologia como recurso didático, realiza-se, enfim, uma avaliação 
do grau de contribuição das tecnologias de informação e comunicação (TIC) 
para a educação. As novidades tecnológicas na sala de aula são o foco do 
Capítulo 5, que apresenta aspectos como EaD, Mooc, realidade virtual e 
realidade aumentada.
O Capítulo 6 se ocupa de algumas inovações específicas no campo da 
educação, como os jogos educacionais, a aula invertida, o ensino híbrido e a 
convivência com dispositivos móveis. O propósito do Capítulo 7 é explorar 
as novas competências comportamentais necessárias ao educador da 
atualidade: liderança, relacionamento interpessoal e motivação.
APRESENTAÇÃO
No Capítulo 8, são apresentadas as noções essenciais de gestão para o 
professor, com foco nos elementos de qualidade, produtividade, gerenciamento 
de projetos e gerenciamento de conflitos.
Reserva-se, no Capítulo 9, espaço para alguns tópicos especiais, que 
podem conduzir a carreira do professor à elevada distinção: a carreira 
internacional do professor, o papel do educador nos ecossistemas de 
inovação e a agência política desse profissional. Por fim, no Capítulo 10, 
descrevem-se atributos primordiais para o atingimento da excelência 
docente: a capacidade avançada na leitura, escrita e oratória.
A expectativa é que essa obra possa contribuir com a formação de 
professores diferenciados, ainda mais competentes e que aproveitem todas 
as melhores oportunidades ao seu alcance.
Bons estudos!
Ser professor no século XXI 9
1
Ser professor no século XXI
Por que algumas pessoasse tornam professores? Ou, ainda 
mais importante, por que alguns profissionais resolvem de maneira 
resoluta continuar sendo professores? Afinal, definitivamente essa 
não é uma ocupação para qualquer um, sobretudo no panorama 
atual (seja no Brasil ou mundo afora). A vocação para a educação 
é examinada pelas lentes das oportunidades que se apresentam 
atualmente, carregadas, todavia, de desafios à altura. Uma das 
mais formidáveis carreiras profissionais é cuidadosamente anali-
sada nesta obra, em conjunto com as múltiplas competências a 
ela associadas. Afinal, uma sociedade em acelerado processo de 
transformação, em todas as instâncias, exige, mais do que nunca, 
uma geração de educadores de classe mundial.
1.1 Os desafios do mundo contemporâneo 
Vídeo De que forma mais desoladora um livro como este poderia iniciar, 
senão suscitando que máquinas inteligentes podem substituir, de ma-
neira completa, os professores em sala de aula? Ao menos, esse é o 
cenário anunciado por Anthony Seldon, um dos dirigentes da Universi-
dade de Buckingham, historiador que escreveu biografias de grandes 
nomes (como David Cameron e Tony Blair), além de ser um grande 
estudioso da educação. Para ele, esse movimento é irreversível e se 
iniciará até 2030 como parte de um novo paradigma de modelo educa-
cional “um para um”: o máximo grau de personalização ou individua-
lização do processo de aprendizagem, com base no impressionante 
avanço da tecnologia de inteligência artificial.
Seldon (2018), que se diz “desesperadamente triste por isso”, mas 
receoso de estar certo, acredita que se vive o momento por ele de-
helida.fraga
Sublinhado
10 Novos caminhos para profissionais da educação 
nominado de quarta revolução educacional, conforme apresenta a 
linha do tempo a seguir.
Primeira revolução 
educacional
Segunda revolução 
educacional
Terceira revolução 
educacional
Quarta revolução 
educacional
Caracterizou-se 
pela humanidade 
aprendendo os conceitos 
básicos de sobrevivência, 
como cultivar alimentos, 
caçar e construir 
abrigos – ou seja, uma 
protoeducação que 
garante minimamente 
estar vivo. 
Constituiu-se pelo 
compartilhamento 
organizado do 
conhecimento, 
mediante a elaboração 
dos sistemas de 
linguagem.
Foi marcada pela 
célebre invenção 
de Johannes 
Gutenberg em 1450: 
a prensa móvel, que 
proporcionou a escrita 
como elemento central 
da cultura humana. 
Esboçada no momento 
presente, é a utilização 
massiva de máquinas 
inteligentes em sala de aula 
– embora a implicação seja 
tão disruptiva que o próprio 
conceito de sala de aula é 
desconstruído.
disruptivo: que interrompe 
o seguimento normal de um 
processo; desestabilizador.
Glossário
Essa é uma visão que muitos podem acusar de pretensamente alar-
mista, enquanto outros podem taxá-la de excessivamente fantasiosa. 
De todo modo, serve apenas como uma singela amostra do que é trata-
do quando se evoca a análise dos desafios do mundo contemporâneo, 
os quais não são poucos, além de serem altamente perturbadores.
Seldon (2018) pode não estar completamente correto em suas as-
sertivas – ele mesmo procura nutrir alguma fé que tenta tranquilizá-lo 
nesse sentido. Independentemente disso, o cenário proposto é bastan-
te útil para uma análise que conduza a repensar o papel do educador 
nos tempos atuais. Ao menos uma característica é essencialmente ver-
dadeira quanto ao futuro: ele está aberto e é influenciado pelos esfor-
ços que se conduzem desde o presente. Talvez o ponto de inflexão 
educacional, proposto por Seldon, não ocorra por volta de 2030 – é ver-
dade que soaria como um apocalipse tecnológico imaginar que seria 
muito antes disso, mas, provavelmente, esse momento se manifeste 
poucas décadas à frente.
O mundo real absorve cada vez mais as plenas possibilidades que ou-
trora só poderiam ser especuladas no campo da ficção. Talvez, um dia, 
uma “pílula do conhecimento instantâneo”, ou algo do gênero, faça com 
que discutir educação como um processo perca todo o sentido. Talvez, um 
inflexão: mudança de direção.
Glossário
dia, professores artificiais façam o trabalho com uma maestria tal que se-
quer se cogite a possibilidade de uma pessoa de carne e osso assumir no-
vamente essa ocupação. Mas nada disso invalida a discussão atual acerca 
de uma melhor preparação dos professores para o futuro mais imediato 
(um horizonte que cobre, ao menos, os próximos dez anos).
O campo educacional como um todo não pode se restringir a uma 
expectativa niilista, como alguém que adentra uma aguda crise exis-
tencial (perguntando a si mesmo “para que viver, se afinal a morte é 
certa?”) e, assim, desiste de perseguir qualquer propósito.
Desde 2016, quando o Fórum Econômico Mundial trouxe à tona o 
tema quarta revolução industrial (ou Indústria 4.0), muito se tem discu-
tido sobre a automação dos empregos em todas as áreas imagináveis. 
O impacto sobre a educação é frontal, a começar pelo indicativo de que 
a maior parte das crianças de hoje, ao chegar ao mercado de trabalho, 
irá ocupar empregos que simplesmente não existem atualmente. Isso 
significa que a escola trabalha na atualidade conhecimentos que não 
terão adesão na realidade futura. Como consequência, não haverá ou-
tro caminho senão a educação em regime permanente.
Alguns podem, então, se perguntar com toda legitimidade: se o profes-
sor perder seu emprego para uma máquina, o que se ensinará aos estu-
dantes, afinal? Não fará sentido que a inteligência artificial os prepare para 
serem médicos, engenheiros, advogados, administradores ou qualquer 
outro tipo de emprego tradicional, uma vez que essa mesma tecnologia, 
que ameaça o protagonismo humano na docência, causa semelhante im-
pacto em todas as outras profissões.
Caso previsões, como as postuladas por 
Kurzweil (2005) e Schwab (2017), se ma-
terializem quanto a um possível fu-
turo em que máquinas trabalharão 
ao invés de pessoas (não cabendo 
aqui a preocupação com o desem-
prego porque as máquinas existirão 
para servir à humanidade em todas 
as suas necessidades), a educação 
certamente caminhará do atual 
dominante direcionamento tec-
nológico para uma pauta mais 
niilista: que nega tudo; 
pessimista.
Glossário
Os professores serão 
substituídos por máquinas 
inteligentes?
Phonlamai Photo/Shutterstock
Ser professor no século XXI 11
12 Novos caminhos para profissionais da educação 
humanística e filosófica, por exemplo, aprimorando a competência das 
pessoas para o autoconhecimento, o relacionamento interpessoal, a cari-
dade e a convivência com a diversidade.
Curiosamente, talvez se alcance o momento em que uma pessoa 
não ministre mais aulas – mas seja, para todos os efeitos, professor. 
É preciso ter em mente que, na perspectiva da função do educador, 
dar aulas é apenas uma das inúmeras atividades inerentes a essa ati-
vidade profissional, algo, aliás, que este livro ocupa-se em examinar 
exaustivamente, ao oferecer uma análise pormenorizada da atuação 
do professor no mundo contemporâneo.
Não se trata, portanto, de discutir uma mera estratégia de máxi-
mo aproveitamento humano, enquanto a automação, silenciosamente, 
prepara o caminho para um implacável descarte de pessoas. No que 
se refere a novas tecnologias educacionais, os professores dispõem da 
oportunidade de liderarem a transformação, com discernimento para 
priorizar o que é necessário e apontar as direções que precisam ser 
percorridas. A equação que mescla o social, o tecnológico, o econômico 
e o ético é de difícil resolução e demanda o talento humano por exce-
lência – ao menos, ainda por um bom tempo, suficiente para que os 
profissionais da educação se mobilizem pela sua própria capacitação e 
desenvolvimento de alto nível.
Se os desafios da contemporaneidade, no que tange à tecnologia, são 
vultuosos, é preciso lembrar de que a variável tecnológica é apenas uma 
entre vários outros aspectos: o lado cultural também é preocupante.
É fato incontestável que tal formação cultural não está relacionada à 
condição econômica de umindivíduo, como provam as inúmeras cele-
bridades, expostas quase 24 horas por dia nas mídias de comunicação. 
Ter dinheiro para poder mandar um filho estudar no exterior não serve 
de muita coisa. A carência cultural que envolve a formação universitária 
não é um fenômeno unicamente brasileiro, mas um tanto quanto uni-
forme no mundo atual. É verdade que algumas instituições do mais alto 
quilate em nível internacional – como o célebre Ivy League 1 – realizam 
um trabalho extraordinário, principalmente na formação de empreen-
dedores e executivos de alto nível de desempenho. Contudo, preparar 
alguém para a melhor posição possível no mercado de trabalho ainda 
está a meio caminho de torná-lo um cidadão na plenitude do conceito.
No filme Gênio Indomá-
vel, um professor acaba 
descobrindo e lidando 
com a genialidade de 
um aluno, revelando que 
o imprevisível é quase 
sempre presente na 
carreira dos docentes, 
independentemente do 
nível de senioridade do 
profissional.
Direção: Gus Van Sant. EUA: 
Miramax Films, 1997.
Filme
Ivy League é um grupo constituí-
do por oito das universidades 
mais prestigiadas dos Estados 
Unidos: Brown, Columbia, 
Cornell, Dartmouth, Harvard, 
Princeton, Universidade da 
Pensilvânia e Yale.
1
Ser professor no século XXI 13
Levando em consideração as realidades de formação das universi-
dades e faculdades de desempenho mediano, bem como a realidade 
da população em geral (que possui o típico dilema de trabalhar ou es-
tudar, especialmente no Brasil) e as dificuldades inerentes a um país 
subdesenvolvido, o cenário mostra-se desalentador – pobreza cultural 
extrema pode tornar-se alienação social. De todo modo, a aversão que 
a população, em geral, demonstra por alta cultura não é um fenômeno 
isolado deste momento histórico, mas algo que atravessa gerações e 
não parece haver, nessa exclusão, injustiça ou perseguição.
Em suma, ser professor implica conviver com desafios constantes, 
severos e que colocam verdadeiramente à prova a vocação para esse 
trabalho: há de se concordar com quem diz que ser professor é para 
quem nasceu para isso. O panorama tecnológico e o cultural, juntos, 
embora não representem a totalidade dos aspectos envolvidos, têm 
hoje um peso tal que acabam quase por ofuscar os demais (como va-
lorização da profissão, mercado de trabalho, qualidade de vida etc.).
Todas as pessoas já tiveram ao menos um professor que ficou 
marcado na memória por um bom motivo, e a razão disso não é o 
conteúdo programático oficial que foi repassado em uma aula, mas, 
sim, uma frase colocada de modo oportuno, um posicionamento 
preciso diante de um problema ou um incentivo para que enfrentas-
se determinada situação da vida. Quando um professor se vê diante 
de uma turma, nunca sabe quem dali se tornará um empresário de 
sucesso, um governante ou um especialista consagrado em alguma 
área do conhecimento – ou, não menos importante, um cidadão de 
moral ilibada. Por vezes, o impulso decisivo na realização ou não 
das potencialidades de uma pessoa depende da sorte de contar com 
o professor certo, na hora certa.
No Brasil, a Constituição 
Federal atualmente vigente 
(promulgada em 1988) define 
cultura como aquilo que dá 
testemunho do modo de ser de 
um povo, o que é, no mínimo, 
fortemente questionável: afinal, 
tal modo de ser carrega so-
mente virtudes? É evidente que 
não, e os exemplos vexatórios 
que são admitidos certamente 
dispensam enunciação.
Saiba mais
Quais são alguns dos maiores 
desafios do mundo contemporâ-
neo no que se refere à atividade 
de professor?
Atividade 1
ilibado: puro, sem manchas.
Glossário
1.2 Ser professor na atualidade 
Vídeo Se o discurso politicamente correto é o de que “ser professor é a 
mais nobre das profissões”, os momentos de intensa crise de desem-
prego são úteis para escancarar, na prática, o menosprezo de muitos 
pela função docente. Em 2016, um jornal de circulação nacional no Bra-
sil causou polêmica com uma reportagem cujo título era “Professores e 
garçons estão entre os bicos mais buscados”, completado pelo subtítu-
lo: “Chance. Quantidade de trabalhadores informais cresceu de 668 mil 
14 Novos caminhos para profissionais da educação 
para 746 mil, aponta a Acic. Medida é saída para o desemprego” (ME-
TRO, 2016). Embora o teor da reportagem tenha se referido mais pre-
cisamente à função de professor particular, a forma como a chamada 
da matéria foi estabelecida foi suficiente para uma reação incendiária à 
época, principalmente nas redes sociais.
No ano seguinte, ocorreu uma nova polêmica: um grande grupo educa-
cional brasileiro, recrutando uma das celebridades televisivas do momento, 
lançou seu curso de formação pedagógica na modalidade de educação a 
distância (EaD) com a chamada “Segunda graduação: torne-se um profes-
sor e aumente sua renda! Não precisa de vestibular”. Como se fosse pou-
co constrangimento, aconteceu, ainda, de um grupo concorrente plagiar a 
peça publicitária, lançando sua propaganda com exatamente os mesmos 
termos, trocando apenas a celebridade por outra de mesmo apelo popular.
Ainda que não seja uma exclusividade dos profissionais da educa-
ção, a “uberização” 2 de suas atividades, tal como denunciada por Silva 
(2019), pode contribuir para a precarização do trabalho dos professo-
res – principalmente se estes forem inócuos na autogestão da carreira. 
De todo modo, embora o contingente de docentes no Brasil seja forma-
do por todo tipo de perfil – desde os que sempre sonharam lecionar, 
até os que adotaram assumidamente a estratégia “se tudo mais der er-
rado, eu me torno professor” –, não se pode desprezar os profissionais 
que tenham escolhido a função independentemente da razão, por uma 
única razão: a solução para o problema passa primeira e fundamental-
mente pelo aperfeiçoamento individual. É de um em um que se des-
perta a consciência do quanto é necessário assumir a responsabilidade 
pelo próprio aprimoramento como educador, por construir sua própria 
jornada para a excelência na ocupação, o que acabará por resultar em 
um quadro social profundamente diferente do vivido atualmente, afas-
tando a vitimização complacente subentendida em Silva (2019).
No artigo Os dilemas do professor iniciante: reflexões sobre os cursos de formação inicial, da autora 
Dulcinéia Souza, publicado na Revista Multidisciplinar da UNIESP, em 2009, explica-se que o iní-
cio da carreira docente é marcado por crises, em um período de descoberta e de sobrevivên-
cia, sendo imprescindíveis o conhecimento e a reflexão sobre essa fase profissional para que 
as instituições de formação superior em licenciatura e as instituições que recebem o professor 
iniciante possam oferecer apoio adequado a esse profissional. 
Acesso em: 21 fev. 2020.
http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180403122844.pdf
Artigo
O termo uberização, inspirado 
no conceito do aplicativo de 
transporte Uber, refere-se a 
uma nova forma de negócio, na 
qual coloca-se o produtor e o 
consumidor em contato direto, 
deixando os intermediários em 
segundo plano.
2
inócuo: inofensivo; que não 
causa dano moral ou material.
Glossário
Um profissional que circuns-
tancialmente tenha se tornado 
professor como um “bico” tem 
futuro nessa carreira? Explique.
Atividade 2
Ser professor no século XXI 15
Mundo afora, conforme explicam Bacila (2016) e Ball (2017), o 
exercício da atividade profissional na educação se distingue em mui-
tos aspectos. Em Portugal, por exemplo, existe um estatuto docente, 
desenvolvido pelo Ministério da Educação, que conduz as políticas 
referentes ao sistema educacional. Além disso, a categoria é calçada 
por uma estrutura sindical forte, que contribui para que profissionais 
contem com a progressão de carreira. Estados Unidos e Inglaterra são 
alguns dos países em que o título profissional de professor só é alcan-
çado após o doutoramento do educador.
Para Evans (2016), a atualidade impõe seus desafios à atividade do-
cente, cabendo refletir sobre os caminhos a seguir no que dizrespeito 
ao propósito dos professores no século XXI. É de se admitir que, hoje, 
a evolução das carreiras e dos papéis acadêmicos tenha atingido um 
ponto crítico. Sendo assim, estaria o título de professor ameaçado de 
extinção? Há quem o critique como estritamente anacrônico, argu-
mentando que não se cumpre mais seu propósito tradicional. Afinal, 
com a proliferação que se vê do professorado no mercado de trabalho, 
é difícil argumentar que o rótulo professor continue a sustentar a distin-
ção que ele já mereceu um dia.
De acordo com o mesmo autor, as instituições de ensino têm sido 
fundamentais no que se refere a ampliar os parâmetros do que a 
profissão de professor implica, em termos de propósito docente. 
Visando melhor aproveitar as habilidades e talentos de seus acadê-
micos mais antigos – e talvez até mesmo justificando os salários e o 
status desses educadores experientes –, as escolas parecem ter rein-
ventado o conceito de docência, em um movimento voltado a apoiar 
o cumprimento dos seus objetivos institucionais e a promulgação 
de suas estratégias organizacionais. Nesses termos, papéis que vêm 
sendo agregados à atividade docente incluem: zelador pela melhoria 
do status institucional; embaixador da instituição junto à comunida-
de externa (incluindo relação direta com pais de alunos); informante 
público; repositório de conhecimento especializado; mentor; gera-
dor de receita (ativo econômico); gestor; além de “líder acadêmico”, 
termo coringa (muitas vezes genérico e abstrato) no qual todas es-
sas e outras possíveis funções podem ser agregadas.
Para justificar a reinvenção do papel docente, as altas lideranças 
e gerências das instituições de ensino usualmente se valem do ar-
gumento de que os dias do acadêmico “monofoco” desapareceram. 
anacrônico: retrógrado; 
contrário aos usos e costumes de 
uma época.
Glossário
16 Novos caminhos para profissionais da educação 
Agora, todos os professores devem se esforçar para responder ao de-
safio de uma adaptação ao ambiente dinâmico e modificado que é a 
escola do século XXI. Isso envolve expandir o repertório de habilidades 
e os parâmetros de seus domínios de conhecimento, aumentando o 
leque do que pode e deve ser coberto. Desse cenário, emerge a pres-
são como um componente típico, por assim dizer, parte integrante de 
um ambiente de trabalho tão dinâmico. Na prática, isso pode denotar 
um fato inequívoco: nos dias atuais, se um professor não se sentir, de 
modo geral, estressado com seus afazeres no dia a dia, isso pode servir 
de alarme no que diz respeito à continuidade no emprego ou progres-
são de sua carreira profissional.
Segundo Evans (2016), esta tão bem quista adaptabilidade para 
os dias atuais é, por certo, um valor de difícil contestação. A dificul-
dade também se impõe sobre a tentativa de se observar e concluir 
com segurança acerca da direção ante a qual os ventos da mudança 
estão soprando e seguindo seu curso. Representando uma adapta-
bilidade consumada ao ambiente atual, as promoções e o acesso 
às melhores oportunidades na carreira docente vão exigindo foco, 
interesses e expertise mais amplos.
Na escola do século XXI, a evidente vastidão e difusão do que seus 
titulares parecem aceitar como realidade do papel docente é uma 
questão que as instituições de ensino precisam levar a sério. Afinal, 
existe o risco de diluir o entendimento daquilo que é consensualmen-
te reconhecido como o objetivo principal dos professores: o compro-
metimento prioritário com pesquisas e estudos do mais alto nível, 
visando produzir e disseminar o estado da arte do conhecimento. 
Cumpre observar que, etimologicamente, professor é quem professa 
algo, e esse algo é, em última análise, a integridade do conhecimento.
Ainda para Evans (2016), o impacto dessa diluição das atribuições 
já parece ser evidente: por sinal, estudantes que demonstram habi-
lidades alternativas ou compensatórias ante aquilo que as institui-
ções de ensino atualmente valorizam bastante – como capacidade 
de garantir financiamento para pesquisas, pensar estrategicamente, 
realizar apresentações públicas convincentes e bem articuladas, ou 
mesmo inspirar e motivar os outros – são facilmente encaminhados 
à docência. Vive-se, atualmente, uma democratização do professo-
rado. Contudo, há que se levar em consideração que tal movimento 
é alinhado às necessidades atuais das instituições de ensino, tratan-
quista: estimada.
expertise: competência ou 
qualidade de especialista.
Glossário
Ser professor no século XXI 17
do-se, pois, de uma democratização muito mais baseada em habili-
dades do que em termos de base social.
A democratização abre portas, até então fechadas, ampliando o 
acesso à profissão. Quanto mais acesso, maior é o número de partici-
pantes; e quanto maior o número de participantes, melhor diversida-
de é conseguida, implicando, inevitavelmente, uma amplitude muito 
maior de competências docentes das mais diversas naturezas. Assim, 
percebendo uma necessidade ou aplicação para um conjunto de ha-
bilidades mais amplo entre os professores do que era historicamen-
te predominante, as instituições de ensino parecem ter estendido 
gradualmente os parâmetros dos papéis do professor, refazendo os 
propósitos desse profissional de acordo com as agendas institucionais 
pautadas na produtividade.
Para Evans (2016), não resta dúvida de que extrair o melhor pro-
veito do professorado passa por reavaliar o propósito e o papel des-
se profissional. Ao menos duas perspectivas apresentam algumas 
maneiras possíveis de abordar essa questão fundamental. A primei-
ra reconhece o propósito dos professores de envolver-se exclusiva-
mente em atividades acadêmicas intelectualmente notáveis, gerando 
conhecimento inovador para o benefício intrínseco da disciplina e, 
por extensão, para o benefício extrínseco da própria instituição de 
ensino. Esse propósito envolveria um papel único, não ambíguo e 
sem complicações – o de pesquisador – e impediria a incorporação 
de quaisquer responsabilidades adicionais ou suplementares que os 
desviassem de seu objetivo, tornando os professores essencialmen-
te profissionais especialistas. Isso, claro, transparece um retrocesso 
no redesenho da profissão imposto pelo mundo contemporâneo. 
Por sua vez, a outra perspectiva reconhece que, diante da crescente 
pressão para expandir suas próprias competências e seus propósi-
tos, as instituições de ensino devem ampliar o foco e o repertório de 
atividades de seus professores.
Em suma, ponderando vantagens e desvantagens, a carreira docen-
te se mostra um funil: muitos a experimentam pelos mais variados mo-
tivos, mas poucos se consolidam. Não há outro caminho para evoluir 
como professor senão desenvolver continuamente a competência para 
o exercício profissional – aliás, tantas são as atividades da profissão e 
tão diversos são os desafios associados que a prática acaba por exigir 
múltiplas competências simultâneas.
18 Novos caminhos para profissionais da educação 
1.3 Múltiplas competências 
para o novo educador 
Vídeo Trabalhar como professor não se resume simplesmente a minis-
trar aulas. Para Wilkerson (1999) e Arends (2014), o educador atua 
em quatro frentes de trabalho, quase sempre simultâneas: ensino, 
pesquisa, gestão e extensão. Portanto, o conjunto das inúmeras 
competências que o profissional precisa desenvolver está distribuí-
do entre essas quatro dimensões.
A começar pela mais óbvia, o ensino corresponde ao ato de le-
cionar, ou seja, a tudo o que envolve o trabalho em sala de aula, ao 
relacionamento direto entre professor e aluno. Aqui, cabem a aborda-
gem tradicional (do encontro em sala de aula) e as novas modalidades 
virtuais que a tecnologia passou a possibilitar (tanto aquelas em que 
professor e aluno mantêm um relacionamento estreito semelhante ao 
regime presencial, apesar da distância geográfica, quanto aquelas em 
que o professor não conhece as características individuais de seu aluno 
– apenas um perfil geral a respeito da turma). Mesmosendo aborda-
gens diferentes, o professor deve sempre aprimorar sua prática para 
garantir o conhecimento programado para determinado curso.
A pesquisa é o campo de produção científica do professor. Me-
diante a estrita aplicação de métodos qualitativos e quantitativos ho-
mologados pela comunidade científica, problemas de pesquisa são 
estudados e equacionados, e soluções são propostas, tudo de maneira 
documentada em artigos científicos, publicados em veículos especiali-
zados conhecidos como periódicos científicos (ou journals). A rigor, o co-
nhecimento é produzido pela pesquisa científica. Naturalmente, como 
uma das possibilidades cobertas metodologicamente, aquilo que é dis-
cutido e trabalhado em sala de aula pode, muitas vezes, ser útil para 
a produção de conhecimento – embora todo esse trabalho precise ser 
aplicado com o rigor metodológico necessário. Por esse motivo, a ideia 
de que conhecimento também é gerado na interação entre professor e 
aluno tem a justa ressalva anotada.
Por atividades de gestão, entendem-se todas as atribuições de lide-
rança executiva no meio acadêmico. Por exemplo, a coordenação de 
um curso, de um grupo de pesquisas, de um programa de graduação 
Ser professor no século XXI 19
ou pós-graduação, a chefia de um departamento acadêmico ou, até 
mesmo, a direção de uma instituição de ensino.
Por fim, as atividades de extensão são aquelas que não se ca-
racterizam, essencialmente, como ensino, pesquisa ou gestão. Tra-
balhar em uma revista científica, no papel de revisor ou editor, por 
exemplo, é uma possibilidade. Outras alternativas podem ser: di-
vulgação científica na internet, consultoria educacional, entre tantas 
outras inúmeras possibilidades.
Sem dúvida, algo marcante na profissão de educador é a cres-
cente complexidade das responsabilidades que se vão acumulando. 
Portanto, o primeiro exercício proposto a um professor que está se 
questionando o quanto sua carreira parece “parada”, é diagnosticar 
como está a distribuição de trabalho nas dimensões ensino, pes-
quisa, gestão e extensão. É claro que ninguém consegue balancear 
com perfeição essas quatro frentes estratégicas – as demandas vão 
surgindo conforme são ditadas pelo mercado de atuação –, mas é 
imprescindível ficar alerta ao fato de que a nulidade de atividades 
em qualquer um dos quatro campos possivelmente faz com que o 
professor seja menos valorizado. Esse monitoramento da própria 
carreira, em busca de autodiagnóstico, é obviamente uma necessi-
dade para a vida toda.
Quanto ao conjunto de competências necessárias ao êxito profis-
sional na atividade docente no século XXI, a atual dinâmica social talvez 
possa levar alguém a arriscar um diagnóstico: o professor tem de se 
atualizar, pois ninguém aguenta mais a aula tradicional. Os alunos mu-
daram, eles estão conectados com a informação e não querem mais 
receber conteúdo pronto. Então, o professor deve se reinventar, ser 
criativo, propor desafios, aliar-se à tecnologia, saber trabalhar com pro-
jetos e tornar-se, efetivamente, um mediador, e não um fornecedor de 
conteúdo – afinal, não é para isso que existe a internet? Em partes, sim.
O professor deve ser hábil para dosar inteligentemente o apelo à 
novidade (que não pode ser meramente uma “mudança pela mudan-
ça”) e o procedimento didático-pedagógico clássico que educou em alto 
nível e por várias gerações pessoas realmente bem-sucedidas (econo-
micamente e/ou moralmente). Então, a despeito de todas as novas 
necessidades que surgem com a evolução da sociedade, não é verda-
de que ninguém aguenta mais a aula tradicional, pois o que ninguém 
Quais são as quatro frentes de 
trabalho do professor?
Atividade 3
nunca suportou é a aula ruim. Mais uma vez, recorrendo à memória 
individual, todos podem se lembrar de, ao menos, um professor em 
sua vida que tenha tornado cada encontro com a turma um momento 
inesquecível, por mais tradicional que fosse seu sistema de ensino. Por 
outro lado, a explosão dos cursos on-line e os mais variados recursos 
eletrônicos presentes hoje em dia confirmam a velha máxima de que 
quantidade não é qualidade, pois não é difícil encontrar aulas ofereci-
das com tecnologia de ponta e conteúdo paupérrimo.
Uma aula clássica ou tradicional e uma aula arcaica não são a mes-
ma coisa. A última significa um total descompasso, uma inadequação 
insustentável entre, de um lado, o que e como se propõe a ensinar e, 
de outro, aquilo que é necessário aprender. O que as novas tecnologias 
no campo da educação estão trazendo não é uma denúncia ou con-
denação do modelo clássico, mas, sim, maior produtividade por meio 
da potencialização de elementos que justamente residem no clássico: 
a figura do professor, a figura do aluno, o conteúdo sistematizado de 
conhecimento, as fontes extras de leitura, as formas de avaliação, os 
mecanismos de feedback etc.
Que os alunos mudaram, é verdade. Há muito se discute, ou se pro-
cura entender, o impacto do choque de gerações na educação, mais 
especificamente na relação professor e aluno. O professor, geralmen-
te, será mais velho ao menos uma geração que os estudantes sob sua 
tutela e poderia, assim, estar em desvantagem em relação às pretensas 
novas aptidões e características dos alunos. Interessados nesse tema, 
Buckingham e Willett (2013) conduziram um estudo que procurou en-
tender a fundo o fenômeno da geração digital representada pelos no-
vos alunos que adentram as instituições de ensino. 
Entre suas conclusões, está a constatação 
de que os jovens possuem uma invejá-
vel desenvoltura natural com 
as novidades tecnológicas. 
paupérrimo: extremamente 
pobre.
Glossário
feedback: resposta a uma 
atitude ou comportamento.
Glossário
20 Novos caminhos para profissionais da educação 
Uso de tecnologias em 
sala de aula.
Rawpixel.com/Shutterstock
Ser professor no século XXI 21
Por outro lado, um dos grandes achados do estudo foi revelar que, 
a despeito de tanta novidade high-tech que os rodeia, os estudantes 
possuem características em comum com seus colegas de gerações 
passadas, como o anseio e a necessidade pelo conhecimento e a 
expectativa de serem atendidos por um educador que lhes mostre 
que é possível contornar os obstáculos e desafios de sua jornada.
Uma vez que existe a internet, o professor precisa prover conteú-
do? Sem dúvida alguma, encontrar qualquer tipo de informação na 
grande rede, de maneira absolutamente instantânea, é muito fácil. 
Avaliar a qualidade e a credibilidade da fonte acessada e do material 
disponibilizado, por outro lado, é bem mais difícil; principalmente em 
uma época que recebe o constrangedor rótulo de era da pós-verdade, 
imersa em fake news e na viralização dos boatos mais infundados. 
Existe, portanto, uma necessidade imperativa de o professor intervir 
no processo de livre acesso à informação que qualquer aluno do ensi-
no fundamental, com seu celular em mãos, acredita ter.
Não se trata, claro, de restringir o trabalho de pesquisa simples-
mente fornecendo os endereços previamente homologados como 
sites críveis: é preciso deixar o aluno, em um primeiro momento, tra-
zer o resultado de suas buscas espontâneas, mas, logo em seguida, 
mostrar a ele como qualificar a informação acessada, julgar as fontes, 
identificar discursos ideológicos eventualmente incorporados, entre 
outros critérios. Um aluno precisa de suporte direto do professor 
para, por exemplo, saber que uma informação presente em um livro 
tende a ser muito menos atualizada e mais opinativa do que em um 
artigo científico publicado. Além disso, ainda mais importante, o alu-
no precisa do professor para compreender o porquê disso.
Está fora de discussão que o professor deve, sim, usar as tecno-
logias disponíveis como aliadas no processo de ensino e aprendi-
zagem. As possibilidades de enriquecimento da experiência de aula 
com o uso de aparatos tecnológicos são vastíssimas – desde que 
devidamente orientadas. De nada adianta abarrotar a sala de aula 
com todo tipo de geringonça eletrônica se oprofessor não orques-
trar a atividade que seus alunos precisam desempenhar, estabele-
cendo um propósito e as “regras do jogo” propriamente ditas, sem 
as quais a aula tende a desvirtuar para uma mera experimentação 
de curiosidades tecnológicas.
high-tech: alta tecnologia; 
tecnologia avançada.
Glossário
fake news: notícias falsas que 
geram desinformação.
Glossário
críveis: dignos de crédito.
Glossário
22 Novos caminhos para profissionais da educação 
Como demonstrado por Mishra e Koehler (2006), o professor de alto 
desempenho é aquele que consegue integrar três conjuntos de saberes: 
o do conteúdo propriamente dito (sua área de expertise), o pedagógico 
e o tecnológico. No caso do domínio tecnológico, um período de desa-
tenção, no sentido de deixar de acompanhar as novidades da indústria, 
pode ser suficiente para o educador ficar em perigosa desvantagem no 
seu mercado de trabalho, visto que a evolução tecnológica se caracteriza 
por ser implacavelmente acelerada. E isso independe do quão tecnológi-
ca é a área de conteúdo do docente; sem estar versado nas tecnologias 
educacionais (as quais não são apenas as digitais), sua empregabilidade 
é cada vez mais ameaçada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos motivos que levam os professores a desenvolverem e acu-
mularem competências, de maneira vitalícia, é a evolução da socieda-
de. Um conjunto específico de saberes pode até ter sido responsável 
pelo sucesso que um professor teve no passado, mas, ao mesmo tem-
po, pode não significar nada para o seu futuro.
Diante da missão – desafio maior, aliás – de tentar harmonizar o 
progresso tecnológico com a recuperação da alta cultura, o professor 
precisa primeiramente ser sensibilizado quanto à necessidade de in-
vestir em sua própria formação, para, só então, começar a desenhar 
a estratégia que possibilita alcançar o alto desempenho na função do-
cente; o que é possível por meio de inúmeras e diversificadas com-
petências, integrando o conhecimento especializado, o pedagógico e 
o tecnológico nas quatro frentes de atuação de seu ofício, que são o 
ensino, a pesquisa, a gestão e a extensão.
REFERÊNCIAS
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KURZWEIL, R. The Singularity is Near: when humans transcend biology. New York: Viking, 2005.
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WILKERSON, J. M. On research relevance, professors’ “real world” experience, and 
management development: are we closing the gap? Journal of Management Development, 
Bingley, 18, n. 7, p. 598-613, 1999.
GABARITO
1. Alguns dos maiores desafios do mundo contemporâneo em relação à atividade de 
professor são: o acompanhamento das inovações tecnológicas (uma vez que elas 
ocorrem em ritmo acelerado) e o baixo nível cultural da sociedade (independente-
mente da classe socioeconômica).
2. Sim, esse professor pode ter futuro. Não se pode desprezar os professores que te-
nham entrado na função, mesmo pelas razões mais erráticas possíveis, por um moti-
vo: a solução para o problema da baixa valorização do profissional começa pela inicia-
tiva de aperfeiçoamento individual.
3. A atuação profissional do docente se faz presente nas frentes de ensino, pes-
quisa, gestão e extensão. É importante estar preparado para atuar nessas três 
frentes para crescer profissionalmente.
24 Novos caminhos para profissionais da educação 
2
Repensando a 
formação docente
Partindo da noção de que o professor precisa, por diversas 
razões, aprimorar e investir na sua formação para ampliar seus 
horizontes como profissional, a questão que se responde neste 
capítulo é: como fazê-lo? Afinal, o professor que estuda con-
tinuamente é, sobretudo, um exemplo e uma inspiração para 
seus alunos. Felizmente, as novas tecnologias facilitam muito 
a capacitação constante que se exige durante toda a vida. Se 
antigamente uma formação de alto nível era exclusividade para 
os mais abastados, hoje se dispõe de uma gama de opções para 
todos os perfis socioeconômicos.
2.1 A formação continuada 
Vídeo Para que possa estar permanentemente capacitado, o professor 
deve considerar duas perspectivas de formação continuada, que não 
se excluem mutuamente: o programa stricto sensu e as formações com-
plementares, que, juntas, constituem a espinha dorsal do currículo 
do docente. A primeira diz respeito ao mestrado e ao doutorado; já a 
segunda, a infinitas capacitações e certificações agregadas. É possível 
fazer uma analogia, ainda que rasa, com um atleta de alto nível, que 
precisa mesclar maratonas e olimpíadas (stricto sensu) com a frequên-
cia assídua e, praticamente cotidiana, à academia de ginástica para que 
possa manter a forma física (formações complementares).
Analisando a formação stricto sensu e concordando com Louzano et 
al. (2010), o fato é que o professor, principalmente do ensino superior, 
precisa considerar a obrigatoriedade de progredir seu nível acadêmico: 
se ainda não é mestre, precisa pensar em sê-lo; se ainda não é doutor, 
vale a pena pensar nessa possibilidade; e, mesmo para quem já alcan-
çou o doutorado, o pós-doutorado pode estar no seu radar pessoal.
Repensando a formação docente 25
Nesse aspecto, algumas considerações precisam ser feitas em 
relação à profissão de professor diante das demais. O que ocorre é 
que qualquer pessoa com curso superior pode fazer um mestrado 
ou mesmo um doutorado. Em tese, todas essas pessoas estão legal-
mente habilitadas a se candidatar, pois possuem o requisito mínimo: a 
graduação completa. Na prática, principalmente no Brasil, dada a alta 
concorrência por essas posições, nos programas de pós-graduação de 
todas as instituições de ensino, sendo públicas ou privadas, o que se vê 
é que dificilmente pessoas sem um curso de especialização lato sensu 
conseguem êxito para ingressar no mestrado – da mesma forma, muito 
raramente se vê um doutorando que ainda não seja mestre. Então, se 
o objetivo é, no médio ou longo prazo, um doutoramento, certamen-
te são necessárias etapas intermediárias de formação para conquistar 
com êxito essa meta.
Para os profissionais em geral, como um fisioterapeuta, um ar-
tista plástico ou um contador, o mestrado e o doutorado são ce-
nários facultativos que eles podem considerar para suas carreiras 
– quando procuram esse caminho, é porque alguma inclinação 
existe, ainda que latente, para trabalhar no meio acadêmico. O 
fato é que, em última análise, até mesmo o curso de graduação 
básica, que permite a alguém dizer que tem ensino superior, não é, 
efetivamente, uma necessidade primordial. Muitas pessoas, depen-
dendo de sua ocupação, valores pessoais e estilo de vida, podem 
viver perfeitamente bem, inclusive com pleno exercício da cidada-
nia, sem ter um curso universitário. Não hámotivo que justifique 
impor educação superior às pessoas; o que se precisa assegurar é 
o pleno direito de acesso a quem se interessar por esse caminho.
Já um cenário completamente diferente se apresenta a quem esco-
lheu ser professor universitário. Nesse caso, em seu plano de carreira, 
deve-se ter por objetivo, sempre, o próximo grau acadêmico a ser con-
quistado. Dependendo das circunstâncias de cada caso, pode ser um 
plano para curto, médio ou longo prazo, mas precisa ser um objetivo 
priorizado. Somente uma geração de profissionais capacitados pode-
rá estabelecer condições estruturantes para mudar o quadro cultural 
no Brasil. Não se pode esperar que, da atual mentalidade de políticos, 
empresários e tecnocratas quaisquer, emerja a liderança para essa 
transformação, enquanto professores permanecem enclausurados em 
departamentos acadêmicos. Nesse campo, não há meia solução, pois 
Quais são as duas perspectivas 
de formação continuada que o 
professor deve considerar?
Atividade 1
latente: oculta, escondida.
Glossário
tecnocratas: governantes 
que buscam apenas soluções 
técnicas.
Glossário
26 Novos caminhos para profissionais da educação 
estacionar no progresso acadêmico, em uma zona de conforto que me-
ramente garanta seu sustento familiar por algum tempo, conflita com a 
função social que o professor assumiu (consciente ou não disso).
A situação ideal pode até não se realizar por um ou outro fator 
incidental, porém, é importante que seja perseguida com todo vigor 
e que, assim, todos os professores universitários do Brasil possam se 
tornar doutores, estando sempre envolvidos nas atividades de pós-
doutoramento. Cumpre esclarecer que, diferentemente do que o senso 
comum possa imaginar, pós-doutorado não é um título que se conquiste 
ou um curso que se realize, como são o mestrado e o doutorado. O pós-
doutoramento é uma atividade destinada, em geral, aos recém-doutores 
(para todos os efeitos, com menos de dez anos passados após a defesa 
da tese); não envolve cursar disciplinas e tampouco defender uma tese. 
O foco é, primordialmente, a pesquisa, com vistas à resolução de algum 
problema complexo, o que implica, na prática, a produção de publicações 
científicas mais amadurecidas (criar genuinamente conhecimento) ou, 
até mesmo, o desenvolvimento de tecnologia de ponta. Por isso, nesse 
regime de intensa pesquisa, a dedicação ao ensino, à gestão e à extensão 
é momentaneamente suprimida.
Então, para começar a percorrer o caminho stricto sensu, os pro-
fessores precisam planejar seu mestrado e doutorado. Os cursos são 
oferecidos pelos programas de pós-graduação de faculdades, centros 
universitários e universidades, da rede pública e privada. Não há outra 
alternativa, senão pesquisar. Desse modo, em função de sua área de 
predileção, o professor encontra nos sites das respectivas instituições 
as informações gerais sobre as ofertas de mestrado e doutorado.
Nas instituições privadas, os cursos de mestrado e doutorado cos-
tumam ser substancialmente caros, considerando o poder aquisitivo 
médio do brasileiro. Assim, é importante ficar alerta a ofertas que cos-
tumam surgir, nas quais essas instituições podem oferecer cursos gra-
tuitos. Muitas vezes, elas fazem isso por alguma política de subsídio ou 
como uma estratégia para conseguirem uma “massa crítica” de alunos 
formados naquela instituição, o que ajuda no estabelecimento de seu 
nome como uma marca presente no mercado. Há de se considerar, 
claro, que cursos gratuitos são muito mais concorridos que os pagos, 
como ocorre nas universidades e institutos federais.
incidental: imprevisível, 
eventual.
Glossário
Repensando a formação docente 27
Dada a concorrência, um bom projeto de pesquisa é decisivo para 
ser aprovado como aluno de mestrado ou doutorado, de acordo com 
as linhas de pesquisa da instituição em que se disputa uma vaga. Quem 
fracassa no processo seletivo, muitas vezes, peca nesse aspecto; não é 
suficiente que o interesse particular de pesquisa do candidato tenha sido 
impecavelmente documentado em uma proposta de projeto, mas tor-
na-se imprescindível que tal proposta tenha adesão temática ao que é 
trabalhado naquele programa de pós-graduação. Por isso, o candidato 
precisa ser estrategista. Uma vez determinado o programa como alvo, é 
necessário conhecer a respeito da linha de pesquisa e dos projetos em 
andamento na instituição – dados que podem ser levantados por meio 
de uma conversa direta com os professores desse programa.
Uma vez aprovado como mestrando ou doutorando, há a pos-
sibilidade de bolsas de estudo para ajudar a arcar com os custos 
(diretos e indiretos). Na maioria dos casos, o valor não é alto, mas 
ajuda o estudante a suportar a fase de sacrifício financeiro inerente 
a essa etapa da vida – a contrapartida costuma ser a exigência de 
permanência do estudante nas instituições. Ou seja, um mestrando 
ou doutorando bolsista acaba, na prática, por não se ausentar da 
instituição de ensino, visto que, quando não está em curso, está 
imerso em diversas outras atividades demandadas, principalmente 
as relacionadas aos grupos de pesquisa dos programas de pós-gra-
duação. No Brasil, as bolsas de estudo são concedidas pelas agên-
cias governamentais Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de 
Pessoal de Nível Superior) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvol-
vimento Científico e Tecnológico). Dependendo do edital, o repasse 
pode ser direto ao pós-graduando ou ser intermediado pelo próprio 
programa da instituição, que recebe a verba governamental e sele-
ciona, internamente, seus bolsistas. Assim, monitorar permanente-
mente editais e chamadas é estritamente necessário.
Finalmente, no que se refere à formação stricto sensu, o professor 
deve considerar ainda as possibilidades criadas pelas novas tecnologias: 
a novidade é que existem mestrados e doutorados na modalidade EaD. 
No Brasil, o Ministério da Educação homologou o Parecer n. 462/2017 1 , 
do Conselho Nacional de Educação, que autoriza esse tipo de oferta.
Já as formações complementares, por sua vez, são bem diferentes 
dos mestrados e doutorados: enquanto estes exigem um longo, inten-
Parecer disponível em: http://
portal.mec.gov.br/docman/
outubro-2017-pdf/73971-pces-
462-17-pdf/file. Acesso em: 21 
fev. 2020.
1
28 Novos caminhos para profissionais da educação 
so e rigoroso período de dedicação (de dois a quatro anos, sem contar 
o eventual tempo de preparo antecipado), aquelas são curtas e, de-
pendendo do caso, podem ocorrer em questão de meses, semanas, 
dias ou mesmo horas. Como há muito mais liberdade envolvida, em 
alguns casos, sequer é concedida a certificação. Quem procura cursos 
de formação complementar quase sempre o faz muito mais em função 
do conhecimento especializado que pode ser conquistado do que de 
títulos a acumular. 
Na busca de aprimoramento profissional, é natural que o profes-
sor opte por formações rápidas, gratuitas ou de baixo custo. Isso passa 
pelos convencionais minicursos e palestras que os professores podem 
frequentar em regime presencial ou na sua própria instituição de tra-
balho, ou pelo que o mercado dispõe. Contudo, mais recentemente, as 
plataformas ao estilo Massive open on-line courses (Mooc), ou cursos on-
-line abertos e massivos em português, mostraram-se como inovações 
de estrondoso sucesso para fins de capacitação continuada. Uma dessas 
plataformas é o Coursera 2 , uma das principais referências em Mooc de 
nível internacional. Ela possui um respeitável portfólio de cursos livres 
voltados à capacitação continuada de educadores, incluindo o conheci-
mento pedagógico.
Contudo, ao procurar cursos de qualquer natureza (área de especiali-
zação, tecnológica ou pedagógica) sem ficar restrito unicamente aos ofe-
recidos com opção de legenda em português, o portfólio se torna quase 
que infindável. Isso conduz a um dos mais importantes aspectos estra-
tégicos relacionados à formação continuada dos educadores: é impres-
cindível saber inglês. Isso é algo que precisa serpriorizado na vida de 
um professor, considerando que dominar uma língua estrangeira é mais 
uma competência cuja aquisição não é instantânea, mas, sim, trabalhada 
e aprofundada em regime permanente.
Comprovando a limitação que é ficar restrito ao português, o exer-
cício de procurar no Google por “Mooc for educators” resulta em uma 
listagem interminável de opções para capacitação docente nas mais 
diversas frentes. Vale muito a pena conhecer, em especial, as opções 
ofertadas por plataformas como Udemy, edX, Udacity, Codeacademy, 
Khan Academy, FutureLearn e Pluralsight, sendo essas algumas das 
mais em evidência. Em suma, talvez a grande dificuldade da formação 
continuada, atualmente, é fazer uma escolha, dada a explosão de ofer-
tas absolutamente acessíveis a que se está submetido.
O Veduca é uma plataforma 
brasileira que se apresenta como 
uma ótima alternativa para os 
professores que buscam apro-
fundar seus conhecimentos em 
uma área específica de formação 
e/ou em tecnologia, embora 
não existam muitas ofertas de 
conteúdo pedagógico, como 
cursos voltados à educação.
Disponível em: https://veduca.
org. Acesso em: 21 fev. 2020.
Site
Plataforma disponível em: 
https://www.coursera.org. 
Acesso em: 21 fev. 2020.
2
Repensando a formação docente 29
2.2 O pesquisador autodidata 
Vídeo Existe, ainda, um forte componente de autoformação na função 
de professor: o aproveitamento da competência de saber aprender, 
a fim de se adquirir mais competências complementares. Afinal, se o 
aparato tecnológico atual faz com que qualquer criança recém-alfabe-
tizada consiga encontrar, instantaneamente, informações sobre um 
termo qualquer na internet, os professores minimamente capacitados 
dispõem de aptidões cognitivas, que servem de filtro e de juízo crítico 
ao que encontram, além de uma estrutura dialética básica, que lhes 
permitem transitar pelo conhecimento mediante o que Hegel (1998) 
denomina de tese, antítese e síntese.
Tese Antítese Síntese
Ideia inicial 
seguida de 
pergunta que a 
contraponha. 
Nova ideia 
com base na 
resposta da 
pergunta inicial.
Conclusão a 
partir da junção 
das duas ideias. 
Essa é a importância da pesquisa como competência a ser de-
senvolvida e permanentemente aprimorada. Todo professor precisa 
pesquisar, ora para produzir o conteúdo para suas aulas, ora para 
a produção de seus próprios artigos científicos. Não existe a menor 
possibilidade de uma seriedade moral no desempenho da função de 
professor se não há sequer sensatez no pensamento – a integridade 
intelectual é a base de toda conduta docente, seja em suas práticas 
em sala de aula, seja nos seus estudos. Martins (2010), jornalista, his-
30 Novos caminhos para profissionais da educação 
toriador e crítico literário, relata que praticamente todas as ocupações 
intelectuais daqueles que precederam a sociedade brasileira, desde a 
colonização, consistem de futilidades que em nada contribuem para a 
alta cultura: cinco séculos de produção intelectual no país mostram-
-se simplesmente irrelevantes na produção mundial de conhecimento. 
Como resultado, tem-se que, ao longo das décadas mais recentes, os 
artigos científicos publicados por pesquisadores brasileiros aumenta-
ram em quantidade e diminuíram em qualidade. 
Sendo um fato objetivo, isso fica imune a qualquer discussão de 
natureza ideológica ou apelo nacionalista. Portanto, já citada a ne-
cessidade de dominar o inglês como uma das competências centrais 
do professor da atualidade, outra competência se torna evidente: 
resistir à tentação de buscar conhecimento relevante (atualizado, de 
alto nível) nos materiais disponíveis em português só porque é “mais 
fácil”. Quando muito, nesses casos, o que se encontra, em grande 
parte, são meras traduções (nem sempre oficiais ou confiáveis) das 
fontes originais, as quais deveriam ser buscadas com prioridade.
Quem ainda não domina suficientemente o idioma e precisa dar 
andamento às suas pesquisas enquanto resolve essa questão (afinal, 
proficiência em novo idioma é um trabalho para alguns anos de dedica-
ção) pode considerar a utilidade dos tradutores on-line, como o Google 
Tradutor. Obviamente, não é a solução ideal, porque o atual estado 
da tecnologia ainda não é impecável na tradução, mas já fornece uma 
base para a compreensão.
Fontes básicas para o professor fazer suas pesquisas, os artigos 
científicos publicados em periódicos internacionais são mais facil-
mente identificados e acessados por buscadores especializados. O 
Google oferece uma excelente ferramenta para essa finalidade, que 
é o Google Scholar. Uma dica importante é usar sempre a opção de 
busca avançada, que permite uma pesquisa bem mais dirigida, por 
meio de palavras-chave associadas a um autor específico, a um deter-
minado periódico ou a um intervalo de datas. Os resultados das bus-
cas são apresentados com os links, tanto para o endereço do periódico 
quanto para, se disponível, o arquivo PDF com o artigo em questão.
Outras bases de dados organizados por periódicos científicos que são 
de uso recorrente de pesquisadores acadêmicos são SciELO, PubMed, 
Medline, Redalyc, Web of Science, Scopus, Science Direct, entre inúmeras 
Repensando a formação docente 31
outras. Na prática, qualquer pesquisador com pretensão de alcançar 
alguma relevância com seu trabalho precisa investir algum tempo para 
se familiarizar com as bases de dados científicas, a fim de entender seu 
mecanismo de funcionamento e as suas funções possibilitadas. Afinal, 
uma das competências centrais de um pesquisador é a bibliometria, 
isto é, a capacidade de quantificar e de qualificar as fontes escritas de 
informação. Isso envolve identificar as tendências e o crescimento do 
conhecimento em uma determinada área. Na prática, isso significa que, 
quando um pesquisador precisa, por exemplo, encontrar informações 
sobre o movimento sindical no início do século XX, o mecanismo 
funcional das mitocôndrias ou a dinâmica do mercado de derivativos 
financeiros, sua primeira aptidão é a de ter um senso de relevância, 
ou seja, conseguir identificar quem são os respectivos autores mais 
citados nesses temas e quais periódicos reproduzem seus artigos. 
Por isso, um pesquisador acadêmico de alto nível (uma competência 
que se adquire com alguns anos de prática) é capaz de estudar a 
dispersão e as obsolescências dos campos científicos, medir o impacto 
das publicações e dos seus serviços de disseminação da informação, 
estimar a cobertura das revistas científicas e identificar os autores e 
instituições mais produtivos, bem como as revistas do núcleo de cada 
disciplina.
Naturalmente, outras fontes de informação podem ser conside-
radas pelo pesquisador, mas em um nível absolutamente secundá-
rio de importância e de prioridade em relação aos artigos científicos 
(livros, revistas não científicas, jornais e canais de informação em 
geral disponíveis na internet).
Uma fonte realmente formidável para se buscar conhecimento na 
atualidade é o YouTube, que funciona como a maior plataforma on-line 
de vídeos do mundo, com um volume de conteúdo disponível espantosa-
mente gigante, crescendo cada vez mais. Segundo dados de 2020 4 , mais 
de 500 horas de vídeo são acrescentadas a cada minuto no YouTube, em 
uma base de mais de 2 bilhões de usuários, o que resulta em mais de 
1 bilhão de horas de conteúdo vistas diariamente.
É importante que os professores tenham o YouTube como um im-
portante aliado para suas pesquisas. Para isso, a estratégia é inscre-
ver-se nos canais de interesse. Esse registro faz com que a plataforma 
notifique o usuário cada vez que novos vídeos sejam lançados naque-
obsolescência: processo de 
tornar-se obsoleto, ultrapassado.
Glossário
Dados disponíveis em: www.
youtube.com/yt/about/
press/ e www.statista.com/
statistics/259477/hours-of-vi-
deo-uploaded-to-youtube-e-
very-minute/. Acesso em: 21 
fev. 2020.
4
32 Novos caminhos para profissionais da educação 
les canais. Além disso, existe uma política de monetização: o YouTu-be paga aos responsáveis pelos canais de maior audiência um valor 
originado dos anunciantes que fazem publicidade na plataforma. Por 
isso, atualmente, existem os chamados youtubers, influenciadores digi-
tais que se dedicam profissionalmente (muitos em tempo integral) para 
manter seus canais com uma audiência fiel.
A maioria dos youtubers, evidentemente, por não serem campeões 
de audiência, mantém outras ocupações profissionais que lhes servem 
de principal fonte de renda. É interessante observar a grande quan-
tidade de professores e pesquisadores que atuam, entre tantas ou-
tras atividades inerentes à profissão, como youtubers. Ao pesquisador 
autônomo, é altamente recomendável que crie seu respectivo canal, 
principalmente para divulgar os resultados de seus trabalhos, já que 
a exposição na plataforma é gratuita. Além disso, é um trabalho que 
potencializa as publicações científicas, visto que, enquanto os artigos 
em periódicos científicos alcançam uma audiência formada pela comu-
nidade acadêmica, o uso do YouTube ajuda na divulgação para a socie-
dade em geral, fazendo com que o fruto daquele trabalho tenha maior 
apelo com o público e maior relevância social, não se podendo ignorar, 
ainda, essa estratégia como algo que também favorece pleitear finan-
ciamento (público ou privado) para futuras pesquisas.
Aliás, a presença de conteúdo educacional no YouTube é tão for-
te que foi criado, em 2013, o YouTube Edu, fruto de uma parceria do 
Google (proprietário do YouTube) com o Instituto Lemann. Com essa 
iniciativa, o Brasil tornou-se o segundo país, depois dos EUA, a partici-
par do projeto que mantém um canal exclusivo de conteúdo educativo. 
De início, foram selecionados 8 mil vídeos de professores brasileiros, já 
reconhecidos na plataforma e com canal próprio e, assim, o YouTube 
Edu foi dividido por áreas, como biologia, matemática, língua portu-
guesa, física e química, com foco principalmente no ensino médio e no 
preparatório para o Enem (em janeiro de 2020, o YouTube Edu contava 
com uma base de mais de 370 mil inscritos).
De toda forma, o YouTube é uma plataforma tão imensa que mais do 
que concentrar conteúdos em canais especiais, como é o caso do Youtube 
Edu, estimula-se que, de maneira descentralizada e independente, os pro-
fessores conteudistas criem e invistam no crescimento de seus próprios 
canais. Nesse sentido, a plataforma mantém tutoriais ensinando passo a 
passo a estruturar e gerenciar canais de conteúdo educativo 5 .
monetização: transformar 
algo em dinheiro; converter 
lucro.
Glossário
Quando um determinado conteu-
dista posta seus vídeos no You-
Tube, eles ficam agrupados em 
uma estrutura que é conhecida 
como canal. Assim, os canais do 
YouTube são as coleções de vídeos 
que se encontram na plataforma. 
Existem muitos canais dedicados 
à filosofia, educação, ciência, 
tecnologia e inovação.
Saiba mais
O que é o YouTube Edu?
Atividade 2
Tutoriais disponíveis em: creato-
racademy.youtube.com/page/
lesson/edu--channel-start?hl-
pt-BR. Acesso em: 21 fev. 2020.
5
Repensando a formação docente 33
Dada sua qualidade, alguns conteúdos do YouTube são de conheci-
mento praticamente obrigatório para os professores. No Brasil, é pre-
ciso destacar o trabalho relevante mantido pelo ScienceVlogs Brasil: 
de modo pioneiro no cenário de divulgação científica no país, alguns 
dos mais influentes canais brasileiros se reuniram a fim de criar um 
selo de qualidade para reconhecer o trabalho de conteudistas que di-
vulgam a ciência com seriedade. Afinal, em um meio em que a propa-
gação de desinformação e a pseudociência são igualmente difundidas 
rapidamente, alimentadas ora por desonestidade ora por ignorância, 
é importante que haja alguma forma de facilitar o acesso do público a 
fontes críveis de conhecimento.
Em nível internacional, é preciso destacar a organização TED, 
que possui uma enorme coletânea de vídeos com palestras curtas 
(com duração máxima de 18 minutos) sobre diversos temas (ciên-
cias, negócios, problemas globais etc.). Esses vídeos estão disponí-
veis no respectivo canal do YouTube (que já conta com mais de 15 
milhões de inscritos) e na sua plataforma própria de hospedagem 
de vídeos da organização. Quanto à eventual barreira que o idioma 
possa representar para parte dos professores, o YouTube conta 
com um recurso de legendas para todos os seus vídeos: é possível 
acionar a função para, por exemplo, acompanhar um vídeo narra-
do em inglês com legenda em inglês ou, até mesmo, com legenda 
traduzida automaticamente para português (o que, às vezes, perde 
um pouco de qualidade devido à acuracidade da inteligência arti-
ficial empregada para essa tradução). Em suma, dado todo o con-
junto de seus recursos e características, o YouTube é indispensável 
para o professor do século XXI, tanto como consumidor quanto 
como gerador de conteúdo na plataforma.
Finalmente, fruto da atual tecnologia digital, uma opção de pesquisa, 
que nenhum professor pode deixar de conhecer e de experimentar, são 
os passeios virtuais nos principais museus do mundo 6 . Instituições como 
Louvre, Solomon Guggenheim, British Museum, Smithsonian, Vaticano, 
entre tantas outras, mantêm sites com riquíssimos conteúdos, oferecendo 
uma excursão praticamente similar a uma visita presencial e a custo zero. 
A dica é que vale muito a pena proceder a visita digital munido de óculos 
de realidade virtual, o que potencializa magistralmente a experiência. Os 
museus virtuais são um esplêndido exemplo do que a humanidade pode 
alcançar, alinhando alta tecnologia com alta cultura.
O canal BláBláLogia reúne 
material de vários conteudistas 
de excelente qualidade nas 
áreas da educação e da ciência, 
proporcionando um alcance 
muito maior, trazendo-lhes mais 
visibilidade junto ao público e, 
claro, contribuindo para que seus 
canais individuais ganhem mais 
visibilidade.
Disponível em: https://www.
youtube.com/channel/UC3Ooj_
iDWELBumIEDejyNHQ. Acesso 
em: 14 fev. 2020
Vídeo
acuracidade: precisão e exati-
dão de dados e informações.
Glossário
Seleção de passeios disponível 
em: mentalfloss.com/arti-
cle/75809/12-world-class-mu-
seums-you-can-visit-online. 
Acesso em: 21 fev. 2020.
6
34 Novos caminhos para profissionais da educação 
2.3 O professor aluno 
Vídeo
Por definição, todo professor também é aluno. Afinal, o conhe-
cimento não é estático e já predeterminado; se fosse, essa situação 
poderia admitir que alguns só o fornecem e outros só o adquirem. 
O conhecimento está em eterna expansão, como sugeriu Isaac Ne-
wton em sua célebre frase “O que sabemos é uma gota, o que igno-
ramos é um oceano”.
A perspectiva aqui analisada não é a da evidente condição formal 
dos professores como estudantes efetivamente matriculados em 
cursos de mestrado, doutorado ou qualquer curso complementar; 
embora seja pertinente destacar que a experiência de sentar nova-
mente na carteira de aluno, independentemente do curso, faz com 
que todo professor estudante imediatamente reflita sobre o quanto 
dessa experiência pode ser considerado em suas próprias aulas mi-
nistradas. É inevitável: quando um aluno é, coincidentemente, tam-
bém um profissional docente, ele sempre fará essa reflexão visando 
o seu autoaprimoramento.
Por outro lado, cabe uma ponderação sobre a máxima de que 
“quem ensina aprende ao ensinar”, pois tal mantra pode beirar à falácia 
se aceito e reproduzido cegamente sem a devida racionalização. Afinal, 
se durante o exercício de seu ofício o professor também aprende, ele 
aprende exatamente o quê? O próprio conteúdo que é ministrado?
Conforme muito bem delineado por Mishra e Koehler (2006), a com-
petência para o ensino de alto desempenho reside na qualidade da in-
tegração entre três distintos domínios do conhecimento: o pedagógico, 
o tecnológico e o de conteúdo (que é a área de expertise do professor). 
Assim, quando leciona, talvez o que o professor menos aprenda seja 
aquilo que diz respeito ao conteúdo – isso dependente da natureza do 
conhecimento em questão,ou seja, da disciplina ministrada. É claro 
que “aprender lecionando”, no que diz respeito ao conhecimento do 
“conteúdo”, faz muito mais sentido em história da arte ou fenomeno-
logia política do que em alfabetização elementar e matemática básica.
Quanto a aprender conteúdo enquanto o ministra, é inegável que 
os entusiastas de uma nova forma de educação se sustentam, há déca-
das, na pirâmide da aprendizagem (ou cone da aprendizagem), seja na 
versão de William Glasser, da National Training Laboratories, na de Ed-
gar Dale, ou na de qualquer outra das inúmeras que proliferam mundo 
Repensando a formação docente 35
afora (NUNES; BESSA, 2017). A pirâmide de Glasser (1986) sustenta a 
tese de que as pessoas aprendem do seguinte modo:
Figura 1
Pirâmide da aprendizagem de William Glasser
quando veem e ouvem
quando discutem com os outros
quando fazem ou experimentam
quando leem
quando ouvem 
quando veem
quando ensinam
80 %
70 %
50 %
30 %
20 %
10 %
90 %
Fonte: Adaptada de Glasser, 1986.
Isso, por si só, parece mais do que suficiente para condenar todo o 
modelo clássico de ensino ao devido ostracismo e instaurar a supremacia 
da revolucionária didática do novo milênio, dispensando qualquer 
necessidade de debater pormenores dessa mudança. É tão agradável 
ficar sabendo de tais índices percentuais de retenção de conhecimento 
ou aprendizado efetivo; é tão politicamente correto bradá-los nos cursos 
de formação de educadores que um não tão mero detalhe passou 
incólume ao longo das décadas: a pirâmide é falsa. Ao menos, no que 
diz respeito aos valores percentuais expressos, conforme denuncia com 
todo fundamento analítico Letrud (2012), pois não há fundamentação 
empírica nesses números e a própria National Training Laboratories, 
ostracismo: ato ou efeito de 
repelir; afastamento, repulsa.
Glossário
36 Novos caminhos para profissionais da educação 
quando inquirida sobre as fontes que originaram a apresentação da 
pirâmide, confessa não as ter, pois são muito antigas.
Convém esclarecer que isso não significa não admitir o valor de en-
sinar o que se aprende como alguma forma válida de aprendizado. É 
preciso, porém, deixar as coisas no seu devido lugar. Desse modo, na 
falta de um estudo científico sério, sem viés de confirmação, o que se 
tem, por ora, é a sensação empírica de que tal prática do professor 
aluno deva produzir algum efeito benéfico a quem ensina, no tocante 
ao domínio do conhecimento. Ao mesmo tempo, sabendo que os má-
gicos números da pirâmide são tão reais quanto a mágica per se, o real 
aprendizado oferecido dessa análise é a prudência de perceber que 
talvez o clássico não seja tão ruim assim e, provavelmente, as novas 
abordagens demandem mais aprofundamento científico para serem 
devidamente incorporadas ao sistema educacional.
Essas são as considerações em relação a aprender enquanto se en-
sina, no quesito do conteúdo. Quanto a aprender nos quesitos pedagó-
gico e tecnológico, o cenário é totalmente outro, pois torna-se evidente 
que isso ocorre continuamente.
No tocante ao aspecto tecnológico, a constatação é bastante obje-
tiva: muitas vezes, o professor é de, pelo menos, uma geração anterior 
aos alunos da sua turma de trabalho. Buckingham e Willett (2013) expli-
cam sobre as diferenças entre os nativos digitais e os imigrantes digitais, 
afirmando que, em relação às novas tecnologias, é óbvio que, quanto 
mais cedo haja seu manuseio, maior será o seu domínio. Dessa forma, 
é bastante natural que, assim que uma novidade tecnológica seja lan-
çada no mercado, espera-se que o aluno, e não o professor, adentre o 
ambiente escolar com aquele novo dispositivo e/ou serviço inovador.
Os alunos tendem a ser nativos em novas tecnologias; já os profes-
sores, imigrantes, têm de se adaptarem à medida que as novidades em 
questão se mostrem úteis e relevantes para o processo de ensino e 
aprendizagem. Pela interação direta que ocorre entre professor e alu-
no, principalmente no regime presencial de ensino, o professor usufrui 
da conveniente vantagem de poder aprender com seus alunos a res-
peito das características, recursos e funcionalidades do que é trazido 
para sala de aula. Por isso, nos tempos atuais, embora a disciplina seja 
um valor inegociável no tocante ao bom comportamento em sala de 
aula e esteja a cargo do professor manter a turma disciplinada, é espe-
per se: em si mesmo; 
intrinsecamente.
Glossário
Qual é a crítica mais 
séria que se faz à Pirâmide da 
Aprendizagem?
Atividade 3
Repensando a formação docente 37
cialmente conveniente que o docente seja receptivo ao uso de equipa-
mentos tecnológicos trazidos por seus alunos para a aula.
Afinal, principalmente nos níveis escolares mais básicos, como ensi-
no médio e graduação, quando o estudante traz espontaneamente seu 
smartphone para a sala de aula, por exemplo, provavelmente o faz por 
motivos não tão didáticos. Mas há opção, além da inflexível rigidez de 
proibir (e até de apreender) o aparelho quando percebido em sala de 
aula, pois eis ali um ponto de acesso à internet, que pode ser usufruído 
para fins mais nobres, especialmente quando o conteúdo da aula ver-
sa sobre informações altamente dinâmicas, como o valor de mercado 
de determinada empresa; nesse caso, por exemplo, a oportunidade de 
consultar a informação em tempo real é bastante interessante. Assim, 
um professor que esteja expondo, por exemplo, que o Facebook é uma 
empresa que vale centenas de bilhões de dólares no mercado, pode afe-
rir esse número com a colaboração de seus alunos, pedindo a um deles 
para checar pelo celular o valor exato naquela data específica em que se 
realiza a aula – iniciativa que torna a atividade mais envolvente e dinâmi-
ca, impactando diretamente na motivação e na atenção da turma.
Ainda explorando um pouco mais esse mesmo exemplo, os alu-
nos podem perguntar onde exatamente na internet se busca essa 
informação sobre valor de mercado de uma empresa. Surgirão 
várias fontes e é uma oportunidade para que o próprio professor 
aprenda (ou, ao menos, atualize-se), pois se ele incentivar que os 
alunos busquem diferentes fontes de informação e as confrontem, 
certamente, alguns dos resultados serão fontes que o professor até 
então desconhecia, principalmente quando se trata de temas tão di-
nâmicos e inovadores quanto discutir a “uberização” das empresas, 
o potencial do blockchain na área de serviços de saúde ou, ainda, o 
people analytics como nova competência de gestores de RH. É im-
portante orientar os alunos para sites confiáveis, como de universi-
dades, de bibliotecas, do Ministério da Educação, e orientá-los para 
evitar a Wikipédia e blogs, por exemplo.
Finalmente, aprender conhecimentos de natureza pedagógica 
enquanto se dá aula é, certamente, o fato mais óbvio envolvendo 
a formação docente; nesse quesito, experiência conta sobremanei-
ra. Por mais leitura, preparação e cursos que um candidato a professor 
tenha, ele não se tornará um docente sênior senão pelo tempo de ativi-
dade na função. Isso, claro, vale para qualquer atividade humana, visto 
Blockchain: sistema de registro 
de informações, por exemplo, 
para transações de moedas 
virtuais.
People analytics: uso de 
uma metodologia de análise 
de dados que é aplicada para o 
gerenciamento de pessoas. 
Glossário
38 Novos caminhos para profissionais da educação 
que ninguém aprende a nadar, por exemplo, apenas lendo manuais e 
tutoriais a respeito de natação; é preciso cair na água.
Nonaka e Takeuchi (1995), pesquisadores consagrados mundial-
mente na área de gestão do conhecimento, explicam que existe o 
conhecimento explícito, facilmente documentável e quase que instanta-
neamente transmissível, e o conhecimento tácito, aquele know-how que 
uma pessoa detém, forjado com o tempo dedicado à atividade, que é 
impossível de traduzir em um manual ou em um procedimento, sendo 
que a única maneira de o transmitir com alguma eficácia é pela existên-
cia de um aprendiz que se lance à imitação e à prática.
Desse modo,

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