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NOVOS CAMINHOS PARA PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO RODRIGO VINÍCIUS SARTORI Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6609-4 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 0 9 4 Código Logístico 59295 Há algo em comum entre professores experientes e novatos, concursados com carreira estável em instituições públicas e ocasionais prestadores de serviço em instituições privadas, líderes acadêmicos e empreendedores educacionais: neste momento vivenciado, todos, em absoluto, são demandados a serem menos especialistas e mais generalistas. O cenário atual impõe cada vez mais funções agregadas ao papel de professor, que vê sua profissão passar por uma rápida e firme transformação. Diante dessa turbulência no campo profissional, abrem-se, ao mesmo tempo, diversas novas possibilidades de atuação do educador na sociedade atual, tema que é exaustivamente debatido neste livro. Novos caminhos esses que têm potencial de resultar em grande sucesso profissional se bem aproveitados. A expectativa é que essa obra possa contribuir com a formação de professores diferenciados, ainda mais competentes e que aproveitem todas as melhores oportunidades ao seu alcance. Novos caminhos para profissionais da educação Rodrigo Vinícius Sartori IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2018 – 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: plutmaverick/goodluz/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S26n Sartori, Rodrigo Vinícius Novos caminhos para profissionais da educação / Rodrigo Vinícius Sartori. - [2. ed.]. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 192 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6609-4 1. Professores - Formação. 2. Prática do ensino. I. Título. 20-62817 CDD: 370.71 CDU: 37.026 Rodrigo Vinícius Sartori Doutor em Administração pela Universidade Positivo (UP). Mestre em Engenharia da Produção, especialista em Gestão do Conhecimento nas Organizações e engenheiro industrial elétrico pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Professor, pesquisador e consultor sênior de gestão nas áreas de qualidade e inovação, com vivência internacional (EUA e Espanha). Desenvolve trabalhos acadêmicos e empresariais em todo o Brasil. É autor de livros para o ensino superior. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Ser professor no século XXI 9 1.1 Os desafios do mundo contemporâneo 9 1.2 Ser professor na atualidade 13 1.3 Múltiplas competências para o novo educador 18 2 Repensando a formação docente 24 2.1 A formação continuada 24 2.2 O pesquisador autodidata 29 2.3 O professor aluno 34 3 Novas possibilidades de atuação docente 41 3.1 Planejando a carreira 41 3.2 O professor empreendedor 46 3.3 Marketing pessoal e network 53 4 A contribuição das TIC para a educação 60 4.1 A nova comunicação professor-aluno 60 4.2 A internet na sala de aula 66 4.3 Tecnologia como recurso didático 71 5 Novidades tecnológicas na sala de aula 80 5.1 EaD e Mooc 80 5.2 Realidade virtual 85 5.3 Realidade aumentada 92 6 Inovações na educação 100 6.1 Jogos educacionais 100 6.2 Aula invertida e ensino híbrido 107 6.3 Convivência com dispositivos móveis 112 7 Novas competências comportamentais 119 7.1 Liderança 119 7.2 Relacionamento interpessoal 125 7.3 Motivação 130 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! 8 Noções de gestão para o professor 137 8.1 Qualidade e produtividade 137 8.2 Gestão de projetos 142 8.3 Gestão de conflitos 147 9 Tópicos especiais para o professor 156 9.1 A carreira internacional do professor 156 9.2 O papel do professor nos ecossistemas de inovação 163 9.3 O professor como agente político 168 10 A excelência docente 174 10.1 Leitura crítica 174 10.2 Maestria na escrita 181 10.3 Domínio da oratória 185 Há algo em comum entre professores experientes e novatos, concursados com carreira estável em instituições públicas e ocasionais prestadores de serviço em instituições privadas, líderes acadêmicos e empreendedores educacionais: neste momento vivenciado, todos, em absoluto, são demandados a serem menos especialistas e mais generalistas. O cenário atual impõe cada vez mais funções agregadas ao papel de professor, que vê sua profissão passar por uma rápida e firme transformação. Diante dessa turbulência no campo profissional, abrem-se, ao mesmo tempo, diversas novas possibilidades de atuação do educador na sociedade atual, tema que é exaustivamente debatido neste livro. Novos caminhos esses que têm potencial de resultar em grande sucesso profissional se bem aproveitados – o primeiro passo, naturalmente, é compreender o que ocorre com o mundo e com o trabalho do professor. É nesse sentido que o Capítulo 1 introduz essa reflexão sobre o que é ser professor no novo milênio: os desafios do mundo contemporâneo, ser professor na atualidade e as múltiplas competências para o novo educador. O objetivo do Capítulo 2 é repensar a formação docente. Por isso, uma análise crítica é realizada a respeito da formação continuada, do pesquisador autodidata e do professor aluno. Com um teor bastante prático, o Capítulo 3 descreve as novas possibilidades de atuação docente em termos de planejamento de carreira, de empreendedorismo, de marketing pessoal e networking. No Capítulo 4, analisando-se a nova comunicação professor aluno, a internet na sala de aula e a tecnologia como recurso didático, realiza-se, enfim, uma avaliação do grau de contribuição das tecnologias de informação e comunicação (TIC) para a educação. As novidades tecnológicas na sala de aula são o foco do Capítulo 5, que apresenta aspectos como EaD, Mooc, realidade virtual e realidade aumentada. O Capítulo 6 se ocupa de algumas inovações específicas no campo da educação, como os jogos educacionais, a aula invertida, o ensino híbrido e a convivência com dispositivos móveis. O propósito do Capítulo 7 é explorar as novas competências comportamentais necessárias ao educador da atualidade: liderança, relacionamento interpessoal e motivação. APRESENTAÇÃO No Capítulo 8, são apresentadas as noções essenciais de gestão para o professor, com foco nos elementos de qualidade, produtividade, gerenciamento de projetos e gerenciamento de conflitos. Reserva-se, no Capítulo 9, espaço para alguns tópicos especiais, que podem conduzir a carreira do professor à elevada distinção: a carreira internacional do professor, o papel do educador nos ecossistemas de inovação e a agência política desse profissional. Por fim, no Capítulo 10, descrevem-se atributos primordiais para o atingimento da excelência docente: a capacidade avançada na leitura, escrita e oratória. A expectativa é que essa obra possa contribuir com a formação de professores diferenciados, ainda mais competentes e que aproveitem todas as melhores oportunidades ao seu alcance. Bons estudos! Ser professor no século XXI 9 1 Ser professor no século XXI Por que algumas pessoasse tornam professores? Ou, ainda mais importante, por que alguns profissionais resolvem de maneira resoluta continuar sendo professores? Afinal, definitivamente essa não é uma ocupação para qualquer um, sobretudo no panorama atual (seja no Brasil ou mundo afora). A vocação para a educação é examinada pelas lentes das oportunidades que se apresentam atualmente, carregadas, todavia, de desafios à altura. Uma das mais formidáveis carreiras profissionais é cuidadosamente anali- sada nesta obra, em conjunto com as múltiplas competências a ela associadas. Afinal, uma sociedade em acelerado processo de transformação, em todas as instâncias, exige, mais do que nunca, uma geração de educadores de classe mundial. 1.1 Os desafios do mundo contemporâneo Vídeo De que forma mais desoladora um livro como este poderia iniciar, senão suscitando que máquinas inteligentes podem substituir, de ma- neira completa, os professores em sala de aula? Ao menos, esse é o cenário anunciado por Anthony Seldon, um dos dirigentes da Universi- dade de Buckingham, historiador que escreveu biografias de grandes nomes (como David Cameron e Tony Blair), além de ser um grande estudioso da educação. Para ele, esse movimento é irreversível e se iniciará até 2030 como parte de um novo paradigma de modelo educa- cional “um para um”: o máximo grau de personalização ou individua- lização do processo de aprendizagem, com base no impressionante avanço da tecnologia de inteligência artificial. Seldon (2018), que se diz “desesperadamente triste por isso”, mas receoso de estar certo, acredita que se vive o momento por ele de- helida.fraga Sublinhado 10 Novos caminhos para profissionais da educação nominado de quarta revolução educacional, conforme apresenta a linha do tempo a seguir. Primeira revolução educacional Segunda revolução educacional Terceira revolução educacional Quarta revolução educacional Caracterizou-se pela humanidade aprendendo os conceitos básicos de sobrevivência, como cultivar alimentos, caçar e construir abrigos – ou seja, uma protoeducação que garante minimamente estar vivo. Constituiu-se pelo compartilhamento organizado do conhecimento, mediante a elaboração dos sistemas de linguagem. Foi marcada pela célebre invenção de Johannes Gutenberg em 1450: a prensa móvel, que proporcionou a escrita como elemento central da cultura humana. Esboçada no momento presente, é a utilização massiva de máquinas inteligentes em sala de aula – embora a implicação seja tão disruptiva que o próprio conceito de sala de aula é desconstruído. disruptivo: que interrompe o seguimento normal de um processo; desestabilizador. Glossário Essa é uma visão que muitos podem acusar de pretensamente alar- mista, enquanto outros podem taxá-la de excessivamente fantasiosa. De todo modo, serve apenas como uma singela amostra do que é trata- do quando se evoca a análise dos desafios do mundo contemporâneo, os quais não são poucos, além de serem altamente perturbadores. Seldon (2018) pode não estar completamente correto em suas as- sertivas – ele mesmo procura nutrir alguma fé que tenta tranquilizá-lo nesse sentido. Independentemente disso, o cenário proposto é bastan- te útil para uma análise que conduza a repensar o papel do educador nos tempos atuais. Ao menos uma característica é essencialmente ver- dadeira quanto ao futuro: ele está aberto e é influenciado pelos esfor- ços que se conduzem desde o presente. Talvez o ponto de inflexão educacional, proposto por Seldon, não ocorra por volta de 2030 – é ver- dade que soaria como um apocalipse tecnológico imaginar que seria muito antes disso, mas, provavelmente, esse momento se manifeste poucas décadas à frente. O mundo real absorve cada vez mais as plenas possibilidades que ou- trora só poderiam ser especuladas no campo da ficção. Talvez, um dia, uma “pílula do conhecimento instantâneo”, ou algo do gênero, faça com que discutir educação como um processo perca todo o sentido. Talvez, um inflexão: mudança de direção. Glossário dia, professores artificiais façam o trabalho com uma maestria tal que se- quer se cogite a possibilidade de uma pessoa de carne e osso assumir no- vamente essa ocupação. Mas nada disso invalida a discussão atual acerca de uma melhor preparação dos professores para o futuro mais imediato (um horizonte que cobre, ao menos, os próximos dez anos). O campo educacional como um todo não pode se restringir a uma expectativa niilista, como alguém que adentra uma aguda crise exis- tencial (perguntando a si mesmo “para que viver, se afinal a morte é certa?”) e, assim, desiste de perseguir qualquer propósito. Desde 2016, quando o Fórum Econômico Mundial trouxe à tona o tema quarta revolução industrial (ou Indústria 4.0), muito se tem discu- tido sobre a automação dos empregos em todas as áreas imagináveis. O impacto sobre a educação é frontal, a começar pelo indicativo de que a maior parte das crianças de hoje, ao chegar ao mercado de trabalho, irá ocupar empregos que simplesmente não existem atualmente. Isso significa que a escola trabalha na atualidade conhecimentos que não terão adesão na realidade futura. Como consequência, não haverá ou- tro caminho senão a educação em regime permanente. Alguns podem, então, se perguntar com toda legitimidade: se o profes- sor perder seu emprego para uma máquina, o que se ensinará aos estu- dantes, afinal? Não fará sentido que a inteligência artificial os prepare para serem médicos, engenheiros, advogados, administradores ou qualquer outro tipo de emprego tradicional, uma vez que essa mesma tecnologia, que ameaça o protagonismo humano na docência, causa semelhante im- pacto em todas as outras profissões. Caso previsões, como as postuladas por Kurzweil (2005) e Schwab (2017), se ma- terializem quanto a um possível fu- turo em que máquinas trabalharão ao invés de pessoas (não cabendo aqui a preocupação com o desem- prego porque as máquinas existirão para servir à humanidade em todas as suas necessidades), a educação certamente caminhará do atual dominante direcionamento tec- nológico para uma pauta mais niilista: que nega tudo; pessimista. Glossário Os professores serão substituídos por máquinas inteligentes? Phonlamai Photo/Shutterstock Ser professor no século XXI 11 12 Novos caminhos para profissionais da educação humanística e filosófica, por exemplo, aprimorando a competência das pessoas para o autoconhecimento, o relacionamento interpessoal, a cari- dade e a convivência com a diversidade. Curiosamente, talvez se alcance o momento em que uma pessoa não ministre mais aulas – mas seja, para todos os efeitos, professor. É preciso ter em mente que, na perspectiva da função do educador, dar aulas é apenas uma das inúmeras atividades inerentes a essa ati- vidade profissional, algo, aliás, que este livro ocupa-se em examinar exaustivamente, ao oferecer uma análise pormenorizada da atuação do professor no mundo contemporâneo. Não se trata, portanto, de discutir uma mera estratégia de máxi- mo aproveitamento humano, enquanto a automação, silenciosamente, prepara o caminho para um implacável descarte de pessoas. No que se refere a novas tecnologias educacionais, os professores dispõem da oportunidade de liderarem a transformação, com discernimento para priorizar o que é necessário e apontar as direções que precisam ser percorridas. A equação que mescla o social, o tecnológico, o econômico e o ético é de difícil resolução e demanda o talento humano por exce- lência – ao menos, ainda por um bom tempo, suficiente para que os profissionais da educação se mobilizem pela sua própria capacitação e desenvolvimento de alto nível. Se os desafios da contemporaneidade, no que tange à tecnologia, são vultuosos, é preciso lembrar de que a variável tecnológica é apenas uma entre vários outros aspectos: o lado cultural também é preocupante. É fato incontestável que tal formação cultural não está relacionada à condição econômica de umindivíduo, como provam as inúmeras cele- bridades, expostas quase 24 horas por dia nas mídias de comunicação. Ter dinheiro para poder mandar um filho estudar no exterior não serve de muita coisa. A carência cultural que envolve a formação universitária não é um fenômeno unicamente brasileiro, mas um tanto quanto uni- forme no mundo atual. É verdade que algumas instituições do mais alto quilate em nível internacional – como o célebre Ivy League 1 – realizam um trabalho extraordinário, principalmente na formação de empreen- dedores e executivos de alto nível de desempenho. Contudo, preparar alguém para a melhor posição possível no mercado de trabalho ainda está a meio caminho de torná-lo um cidadão na plenitude do conceito. No filme Gênio Indomá- vel, um professor acaba descobrindo e lidando com a genialidade de um aluno, revelando que o imprevisível é quase sempre presente na carreira dos docentes, independentemente do nível de senioridade do profissional. Direção: Gus Van Sant. EUA: Miramax Films, 1997. Filme Ivy League é um grupo constituí- do por oito das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos: Brown, Columbia, Cornell, Dartmouth, Harvard, Princeton, Universidade da Pensilvânia e Yale. 1 Ser professor no século XXI 13 Levando em consideração as realidades de formação das universi- dades e faculdades de desempenho mediano, bem como a realidade da população em geral (que possui o típico dilema de trabalhar ou es- tudar, especialmente no Brasil) e as dificuldades inerentes a um país subdesenvolvido, o cenário mostra-se desalentador – pobreza cultural extrema pode tornar-se alienação social. De todo modo, a aversão que a população, em geral, demonstra por alta cultura não é um fenômeno isolado deste momento histórico, mas algo que atravessa gerações e não parece haver, nessa exclusão, injustiça ou perseguição. Em suma, ser professor implica conviver com desafios constantes, severos e que colocam verdadeiramente à prova a vocação para esse trabalho: há de se concordar com quem diz que ser professor é para quem nasceu para isso. O panorama tecnológico e o cultural, juntos, embora não representem a totalidade dos aspectos envolvidos, têm hoje um peso tal que acabam quase por ofuscar os demais (como va- lorização da profissão, mercado de trabalho, qualidade de vida etc.). Todas as pessoas já tiveram ao menos um professor que ficou marcado na memória por um bom motivo, e a razão disso não é o conteúdo programático oficial que foi repassado em uma aula, mas, sim, uma frase colocada de modo oportuno, um posicionamento preciso diante de um problema ou um incentivo para que enfrentas- se determinada situação da vida. Quando um professor se vê diante de uma turma, nunca sabe quem dali se tornará um empresário de sucesso, um governante ou um especialista consagrado em alguma área do conhecimento – ou, não menos importante, um cidadão de moral ilibada. Por vezes, o impulso decisivo na realização ou não das potencialidades de uma pessoa depende da sorte de contar com o professor certo, na hora certa. No Brasil, a Constituição Federal atualmente vigente (promulgada em 1988) define cultura como aquilo que dá testemunho do modo de ser de um povo, o que é, no mínimo, fortemente questionável: afinal, tal modo de ser carrega so- mente virtudes? É evidente que não, e os exemplos vexatórios que são admitidos certamente dispensam enunciação. Saiba mais Quais são alguns dos maiores desafios do mundo contemporâ- neo no que se refere à atividade de professor? Atividade 1 ilibado: puro, sem manchas. Glossário 1.2 Ser professor na atualidade Vídeo Se o discurso politicamente correto é o de que “ser professor é a mais nobre das profissões”, os momentos de intensa crise de desem- prego são úteis para escancarar, na prática, o menosprezo de muitos pela função docente. Em 2016, um jornal de circulação nacional no Bra- sil causou polêmica com uma reportagem cujo título era “Professores e garçons estão entre os bicos mais buscados”, completado pelo subtítu- lo: “Chance. Quantidade de trabalhadores informais cresceu de 668 mil 14 Novos caminhos para profissionais da educação para 746 mil, aponta a Acic. Medida é saída para o desemprego” (ME- TRO, 2016). Embora o teor da reportagem tenha se referido mais pre- cisamente à função de professor particular, a forma como a chamada da matéria foi estabelecida foi suficiente para uma reação incendiária à época, principalmente nas redes sociais. No ano seguinte, ocorreu uma nova polêmica: um grande grupo educa- cional brasileiro, recrutando uma das celebridades televisivas do momento, lançou seu curso de formação pedagógica na modalidade de educação a distância (EaD) com a chamada “Segunda graduação: torne-se um profes- sor e aumente sua renda! Não precisa de vestibular”. Como se fosse pou- co constrangimento, aconteceu, ainda, de um grupo concorrente plagiar a peça publicitária, lançando sua propaganda com exatamente os mesmos termos, trocando apenas a celebridade por outra de mesmo apelo popular. Ainda que não seja uma exclusividade dos profissionais da educa- ção, a “uberização” 2 de suas atividades, tal como denunciada por Silva (2019), pode contribuir para a precarização do trabalho dos professo- res – principalmente se estes forem inócuos na autogestão da carreira. De todo modo, embora o contingente de docentes no Brasil seja forma- do por todo tipo de perfil – desde os que sempre sonharam lecionar, até os que adotaram assumidamente a estratégia “se tudo mais der er- rado, eu me torno professor” –, não se pode desprezar os profissionais que tenham escolhido a função independentemente da razão, por uma única razão: a solução para o problema passa primeira e fundamental- mente pelo aperfeiçoamento individual. É de um em um que se des- perta a consciência do quanto é necessário assumir a responsabilidade pelo próprio aprimoramento como educador, por construir sua própria jornada para a excelência na ocupação, o que acabará por resultar em um quadro social profundamente diferente do vivido atualmente, afas- tando a vitimização complacente subentendida em Silva (2019). No artigo Os dilemas do professor iniciante: reflexões sobre os cursos de formação inicial, da autora Dulcinéia Souza, publicado na Revista Multidisciplinar da UNIESP, em 2009, explica-se que o iní- cio da carreira docente é marcado por crises, em um período de descoberta e de sobrevivên- cia, sendo imprescindíveis o conhecimento e a reflexão sobre essa fase profissional para que as instituições de formação superior em licenciatura e as instituições que recebem o professor iniciante possam oferecer apoio adequado a esse profissional. Acesso em: 21 fev. 2020. http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180403122844.pdf Artigo O termo uberização, inspirado no conceito do aplicativo de transporte Uber, refere-se a uma nova forma de negócio, na qual coloca-se o produtor e o consumidor em contato direto, deixando os intermediários em segundo plano. 2 inócuo: inofensivo; que não causa dano moral ou material. Glossário Um profissional que circuns- tancialmente tenha se tornado professor como um “bico” tem futuro nessa carreira? Explique. Atividade 2 Ser professor no século XXI 15 Mundo afora, conforme explicam Bacila (2016) e Ball (2017), o exercício da atividade profissional na educação se distingue em mui- tos aspectos. Em Portugal, por exemplo, existe um estatuto docente, desenvolvido pelo Ministério da Educação, que conduz as políticas referentes ao sistema educacional. Além disso, a categoria é calçada por uma estrutura sindical forte, que contribui para que profissionais contem com a progressão de carreira. Estados Unidos e Inglaterra são alguns dos países em que o título profissional de professor só é alcan- çado após o doutoramento do educador. Para Evans (2016), a atualidade impõe seus desafios à atividade do- cente, cabendo refletir sobre os caminhos a seguir no que dizrespeito ao propósito dos professores no século XXI. É de se admitir que, hoje, a evolução das carreiras e dos papéis acadêmicos tenha atingido um ponto crítico. Sendo assim, estaria o título de professor ameaçado de extinção? Há quem o critique como estritamente anacrônico, argu- mentando que não se cumpre mais seu propósito tradicional. Afinal, com a proliferação que se vê do professorado no mercado de trabalho, é difícil argumentar que o rótulo professor continue a sustentar a distin- ção que ele já mereceu um dia. De acordo com o mesmo autor, as instituições de ensino têm sido fundamentais no que se refere a ampliar os parâmetros do que a profissão de professor implica, em termos de propósito docente. Visando melhor aproveitar as habilidades e talentos de seus acadê- micos mais antigos – e talvez até mesmo justificando os salários e o status desses educadores experientes –, as escolas parecem ter rein- ventado o conceito de docência, em um movimento voltado a apoiar o cumprimento dos seus objetivos institucionais e a promulgação de suas estratégias organizacionais. Nesses termos, papéis que vêm sendo agregados à atividade docente incluem: zelador pela melhoria do status institucional; embaixador da instituição junto à comunida- de externa (incluindo relação direta com pais de alunos); informante público; repositório de conhecimento especializado; mentor; gera- dor de receita (ativo econômico); gestor; além de “líder acadêmico”, termo coringa (muitas vezes genérico e abstrato) no qual todas es- sas e outras possíveis funções podem ser agregadas. Para justificar a reinvenção do papel docente, as altas lideranças e gerências das instituições de ensino usualmente se valem do ar- gumento de que os dias do acadêmico “monofoco” desapareceram. anacrônico: retrógrado; contrário aos usos e costumes de uma época. Glossário 16 Novos caminhos para profissionais da educação Agora, todos os professores devem se esforçar para responder ao de- safio de uma adaptação ao ambiente dinâmico e modificado que é a escola do século XXI. Isso envolve expandir o repertório de habilidades e os parâmetros de seus domínios de conhecimento, aumentando o leque do que pode e deve ser coberto. Desse cenário, emerge a pres- são como um componente típico, por assim dizer, parte integrante de um ambiente de trabalho tão dinâmico. Na prática, isso pode denotar um fato inequívoco: nos dias atuais, se um professor não se sentir, de modo geral, estressado com seus afazeres no dia a dia, isso pode servir de alarme no que diz respeito à continuidade no emprego ou progres- são de sua carreira profissional. Segundo Evans (2016), esta tão bem quista adaptabilidade para os dias atuais é, por certo, um valor de difícil contestação. A dificul- dade também se impõe sobre a tentativa de se observar e concluir com segurança acerca da direção ante a qual os ventos da mudança estão soprando e seguindo seu curso. Representando uma adapta- bilidade consumada ao ambiente atual, as promoções e o acesso às melhores oportunidades na carreira docente vão exigindo foco, interesses e expertise mais amplos. Na escola do século XXI, a evidente vastidão e difusão do que seus titulares parecem aceitar como realidade do papel docente é uma questão que as instituições de ensino precisam levar a sério. Afinal, existe o risco de diluir o entendimento daquilo que é consensualmen- te reconhecido como o objetivo principal dos professores: o compro- metimento prioritário com pesquisas e estudos do mais alto nível, visando produzir e disseminar o estado da arte do conhecimento. Cumpre observar que, etimologicamente, professor é quem professa algo, e esse algo é, em última análise, a integridade do conhecimento. Ainda para Evans (2016), o impacto dessa diluição das atribuições já parece ser evidente: por sinal, estudantes que demonstram habi- lidades alternativas ou compensatórias ante aquilo que as institui- ções de ensino atualmente valorizam bastante – como capacidade de garantir financiamento para pesquisas, pensar estrategicamente, realizar apresentações públicas convincentes e bem articuladas, ou mesmo inspirar e motivar os outros – são facilmente encaminhados à docência. Vive-se, atualmente, uma democratização do professo- rado. Contudo, há que se levar em consideração que tal movimento é alinhado às necessidades atuais das instituições de ensino, tratan- quista: estimada. expertise: competência ou qualidade de especialista. Glossário Ser professor no século XXI 17 do-se, pois, de uma democratização muito mais baseada em habili- dades do que em termos de base social. A democratização abre portas, até então fechadas, ampliando o acesso à profissão. Quanto mais acesso, maior é o número de partici- pantes; e quanto maior o número de participantes, melhor diversida- de é conseguida, implicando, inevitavelmente, uma amplitude muito maior de competências docentes das mais diversas naturezas. Assim, percebendo uma necessidade ou aplicação para um conjunto de ha- bilidades mais amplo entre os professores do que era historicamen- te predominante, as instituições de ensino parecem ter estendido gradualmente os parâmetros dos papéis do professor, refazendo os propósitos desse profissional de acordo com as agendas institucionais pautadas na produtividade. Para Evans (2016), não resta dúvida de que extrair o melhor pro- veito do professorado passa por reavaliar o propósito e o papel des- se profissional. Ao menos duas perspectivas apresentam algumas maneiras possíveis de abordar essa questão fundamental. A primei- ra reconhece o propósito dos professores de envolver-se exclusiva- mente em atividades acadêmicas intelectualmente notáveis, gerando conhecimento inovador para o benefício intrínseco da disciplina e, por extensão, para o benefício extrínseco da própria instituição de ensino. Esse propósito envolveria um papel único, não ambíguo e sem complicações – o de pesquisador – e impediria a incorporação de quaisquer responsabilidades adicionais ou suplementares que os desviassem de seu objetivo, tornando os professores essencialmen- te profissionais especialistas. Isso, claro, transparece um retrocesso no redesenho da profissão imposto pelo mundo contemporâneo. Por sua vez, a outra perspectiva reconhece que, diante da crescente pressão para expandir suas próprias competências e seus propósi- tos, as instituições de ensino devem ampliar o foco e o repertório de atividades de seus professores. Em suma, ponderando vantagens e desvantagens, a carreira docen- te se mostra um funil: muitos a experimentam pelos mais variados mo- tivos, mas poucos se consolidam. Não há outro caminho para evoluir como professor senão desenvolver continuamente a competência para o exercício profissional – aliás, tantas são as atividades da profissão e tão diversos são os desafios associados que a prática acaba por exigir múltiplas competências simultâneas. 18 Novos caminhos para profissionais da educação 1.3 Múltiplas competências para o novo educador Vídeo Trabalhar como professor não se resume simplesmente a minis- trar aulas. Para Wilkerson (1999) e Arends (2014), o educador atua em quatro frentes de trabalho, quase sempre simultâneas: ensino, pesquisa, gestão e extensão. Portanto, o conjunto das inúmeras competências que o profissional precisa desenvolver está distribuí- do entre essas quatro dimensões. A começar pela mais óbvia, o ensino corresponde ao ato de le- cionar, ou seja, a tudo o que envolve o trabalho em sala de aula, ao relacionamento direto entre professor e aluno. Aqui, cabem a aborda- gem tradicional (do encontro em sala de aula) e as novas modalidades virtuais que a tecnologia passou a possibilitar (tanto aquelas em que professor e aluno mantêm um relacionamento estreito semelhante ao regime presencial, apesar da distância geográfica, quanto aquelas em que o professor não conhece as características individuais de seu aluno – apenas um perfil geral a respeito da turma). Mesmosendo aborda- gens diferentes, o professor deve sempre aprimorar sua prática para garantir o conhecimento programado para determinado curso. A pesquisa é o campo de produção científica do professor. Me- diante a estrita aplicação de métodos qualitativos e quantitativos ho- mologados pela comunidade científica, problemas de pesquisa são estudados e equacionados, e soluções são propostas, tudo de maneira documentada em artigos científicos, publicados em veículos especiali- zados conhecidos como periódicos científicos (ou journals). A rigor, o co- nhecimento é produzido pela pesquisa científica. Naturalmente, como uma das possibilidades cobertas metodologicamente, aquilo que é dis- cutido e trabalhado em sala de aula pode, muitas vezes, ser útil para a produção de conhecimento – embora todo esse trabalho precise ser aplicado com o rigor metodológico necessário. Por esse motivo, a ideia de que conhecimento também é gerado na interação entre professor e aluno tem a justa ressalva anotada. Por atividades de gestão, entendem-se todas as atribuições de lide- rança executiva no meio acadêmico. Por exemplo, a coordenação de um curso, de um grupo de pesquisas, de um programa de graduação Ser professor no século XXI 19 ou pós-graduação, a chefia de um departamento acadêmico ou, até mesmo, a direção de uma instituição de ensino. Por fim, as atividades de extensão são aquelas que não se ca- racterizam, essencialmente, como ensino, pesquisa ou gestão. Tra- balhar em uma revista científica, no papel de revisor ou editor, por exemplo, é uma possibilidade. Outras alternativas podem ser: di- vulgação científica na internet, consultoria educacional, entre tantas outras inúmeras possibilidades. Sem dúvida, algo marcante na profissão de educador é a cres- cente complexidade das responsabilidades que se vão acumulando. Portanto, o primeiro exercício proposto a um professor que está se questionando o quanto sua carreira parece “parada”, é diagnosticar como está a distribuição de trabalho nas dimensões ensino, pes- quisa, gestão e extensão. É claro que ninguém consegue balancear com perfeição essas quatro frentes estratégicas – as demandas vão surgindo conforme são ditadas pelo mercado de atuação –, mas é imprescindível ficar alerta ao fato de que a nulidade de atividades em qualquer um dos quatro campos possivelmente faz com que o professor seja menos valorizado. Esse monitoramento da própria carreira, em busca de autodiagnóstico, é obviamente uma necessi- dade para a vida toda. Quanto ao conjunto de competências necessárias ao êxito profis- sional na atividade docente no século XXI, a atual dinâmica social talvez possa levar alguém a arriscar um diagnóstico: o professor tem de se atualizar, pois ninguém aguenta mais a aula tradicional. Os alunos mu- daram, eles estão conectados com a informação e não querem mais receber conteúdo pronto. Então, o professor deve se reinventar, ser criativo, propor desafios, aliar-se à tecnologia, saber trabalhar com pro- jetos e tornar-se, efetivamente, um mediador, e não um fornecedor de conteúdo – afinal, não é para isso que existe a internet? Em partes, sim. O professor deve ser hábil para dosar inteligentemente o apelo à novidade (que não pode ser meramente uma “mudança pela mudan- ça”) e o procedimento didático-pedagógico clássico que educou em alto nível e por várias gerações pessoas realmente bem-sucedidas (econo- micamente e/ou moralmente). Então, a despeito de todas as novas necessidades que surgem com a evolução da sociedade, não é verda- de que ninguém aguenta mais a aula tradicional, pois o que ninguém Quais são as quatro frentes de trabalho do professor? Atividade 3 nunca suportou é a aula ruim. Mais uma vez, recorrendo à memória individual, todos podem se lembrar de, ao menos, um professor em sua vida que tenha tornado cada encontro com a turma um momento inesquecível, por mais tradicional que fosse seu sistema de ensino. Por outro lado, a explosão dos cursos on-line e os mais variados recursos eletrônicos presentes hoje em dia confirmam a velha máxima de que quantidade não é qualidade, pois não é difícil encontrar aulas ofereci- das com tecnologia de ponta e conteúdo paupérrimo. Uma aula clássica ou tradicional e uma aula arcaica não são a mes- ma coisa. A última significa um total descompasso, uma inadequação insustentável entre, de um lado, o que e como se propõe a ensinar e, de outro, aquilo que é necessário aprender. O que as novas tecnologias no campo da educação estão trazendo não é uma denúncia ou con- denação do modelo clássico, mas, sim, maior produtividade por meio da potencialização de elementos que justamente residem no clássico: a figura do professor, a figura do aluno, o conteúdo sistematizado de conhecimento, as fontes extras de leitura, as formas de avaliação, os mecanismos de feedback etc. Que os alunos mudaram, é verdade. Há muito se discute, ou se pro- cura entender, o impacto do choque de gerações na educação, mais especificamente na relação professor e aluno. O professor, geralmen- te, será mais velho ao menos uma geração que os estudantes sob sua tutela e poderia, assim, estar em desvantagem em relação às pretensas novas aptidões e características dos alunos. Interessados nesse tema, Buckingham e Willett (2013) conduziram um estudo que procurou en- tender a fundo o fenômeno da geração digital representada pelos no- vos alunos que adentram as instituições de ensino. Entre suas conclusões, está a constatação de que os jovens possuem uma invejá- vel desenvoltura natural com as novidades tecnológicas. paupérrimo: extremamente pobre. Glossário feedback: resposta a uma atitude ou comportamento. Glossário 20 Novos caminhos para profissionais da educação Uso de tecnologias em sala de aula. Rawpixel.com/Shutterstock Ser professor no século XXI 21 Por outro lado, um dos grandes achados do estudo foi revelar que, a despeito de tanta novidade high-tech que os rodeia, os estudantes possuem características em comum com seus colegas de gerações passadas, como o anseio e a necessidade pelo conhecimento e a expectativa de serem atendidos por um educador que lhes mostre que é possível contornar os obstáculos e desafios de sua jornada. Uma vez que existe a internet, o professor precisa prover conteú- do? Sem dúvida alguma, encontrar qualquer tipo de informação na grande rede, de maneira absolutamente instantânea, é muito fácil. Avaliar a qualidade e a credibilidade da fonte acessada e do material disponibilizado, por outro lado, é bem mais difícil; principalmente em uma época que recebe o constrangedor rótulo de era da pós-verdade, imersa em fake news e na viralização dos boatos mais infundados. Existe, portanto, uma necessidade imperativa de o professor intervir no processo de livre acesso à informação que qualquer aluno do ensi- no fundamental, com seu celular em mãos, acredita ter. Não se trata, claro, de restringir o trabalho de pesquisa simples- mente fornecendo os endereços previamente homologados como sites críveis: é preciso deixar o aluno, em um primeiro momento, tra- zer o resultado de suas buscas espontâneas, mas, logo em seguida, mostrar a ele como qualificar a informação acessada, julgar as fontes, identificar discursos ideológicos eventualmente incorporados, entre outros critérios. Um aluno precisa de suporte direto do professor para, por exemplo, saber que uma informação presente em um livro tende a ser muito menos atualizada e mais opinativa do que em um artigo científico publicado. Além disso, ainda mais importante, o alu- no precisa do professor para compreender o porquê disso. Está fora de discussão que o professor deve, sim, usar as tecno- logias disponíveis como aliadas no processo de ensino e aprendi- zagem. As possibilidades de enriquecimento da experiência de aula com o uso de aparatos tecnológicos são vastíssimas – desde que devidamente orientadas. De nada adianta abarrotar a sala de aula com todo tipo de geringonça eletrônica se oprofessor não orques- trar a atividade que seus alunos precisam desempenhar, estabele- cendo um propósito e as “regras do jogo” propriamente ditas, sem as quais a aula tende a desvirtuar para uma mera experimentação de curiosidades tecnológicas. high-tech: alta tecnologia; tecnologia avançada. Glossário fake news: notícias falsas que geram desinformação. Glossário críveis: dignos de crédito. Glossário 22 Novos caminhos para profissionais da educação Como demonstrado por Mishra e Koehler (2006), o professor de alto desempenho é aquele que consegue integrar três conjuntos de saberes: o do conteúdo propriamente dito (sua área de expertise), o pedagógico e o tecnológico. No caso do domínio tecnológico, um período de desa- tenção, no sentido de deixar de acompanhar as novidades da indústria, pode ser suficiente para o educador ficar em perigosa desvantagem no seu mercado de trabalho, visto que a evolução tecnológica se caracteriza por ser implacavelmente acelerada. E isso independe do quão tecnológi- ca é a área de conteúdo do docente; sem estar versado nas tecnologias educacionais (as quais não são apenas as digitais), sua empregabilidade é cada vez mais ameaçada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Um dos motivos que levam os professores a desenvolverem e acu- mularem competências, de maneira vitalícia, é a evolução da socieda- de. Um conjunto específico de saberes pode até ter sido responsável pelo sucesso que um professor teve no passado, mas, ao mesmo tem- po, pode não significar nada para o seu futuro. Diante da missão – desafio maior, aliás – de tentar harmonizar o progresso tecnológico com a recuperação da alta cultura, o professor precisa primeiramente ser sensibilizado quanto à necessidade de in- vestir em sua própria formação, para, só então, começar a desenhar a estratégia que possibilita alcançar o alto desempenho na função do- cente; o que é possível por meio de inúmeras e diversificadas com- petências, integrando o conhecimento especializado, o pedagógico e o tecnológico nas quatro frentes de atuação de seu ofício, que são o ensino, a pesquisa, a gestão e a extensão. REFERÊNCIAS ARENDS, R. I. Learning to Teach. Columbus: McGraw-Hill Education, 2014. BACILA, C. R. Nos bastidores da sala de aula. Curitiba: Intersaberes, 2016. BALL, S. J. The Education Debate. Bristol: Policy, 2017. BUCKINGHAM, D.; WILLETT, R. Digital Generations: children, young people, and the new media. Florence: Routledge, 2013. EVANS, L. The Purpose of Professors: professionalism, pressures and performance. Stimulus paper. Leadership Foundation for Higher Education, 2016. KURZWEIL, R. The Singularity is Near: when humans transcend biology. New York: Viking, 2005. METRO. Professores e garçons estão entre os bicos mais buscados. 30 mai. 2016. Ser professor no século XXI 23 MISHRA, P.; KOEHLER, M. J. Technological pedagogical content knowledge: a framework for teacher knowledge. Teachers College Record, New York, v. 108, n. 6, p. 1017-1054, 2006. Disponível em: http://one2oneheights.pbworks.com/f/MISHRA_PUNYA.pdf. Acesso em: 21 fev. 2020. SCHWAB, K. The Fourth Industrial Revolution. New York: Crown Business, 2017. SELDON, A. The Fourth Education Revolution: how artificial intelligence is changing the face of learning. Milton Keynes: The University of Buckingham, 2018. SILVA, A. M. A uberização do trabalho docente no Brasil: uma tendência de precarização no século XXI. Trabalho Necessário, v. 17, n. 34, p. 229-251, set./dez. 2019. Disponível em: http://periodicos.uff.br/trabalhonecessario/article/download/38053/21780. Acesso em: 21 fev. 2020. WILKERSON, J. M. On research relevance, professors’ “real world” experience, and management development: are we closing the gap? Journal of Management Development, Bingley, 18, n. 7, p. 598-613, 1999. GABARITO 1. Alguns dos maiores desafios do mundo contemporâneo em relação à atividade de professor são: o acompanhamento das inovações tecnológicas (uma vez que elas ocorrem em ritmo acelerado) e o baixo nível cultural da sociedade (independente- mente da classe socioeconômica). 2. Sim, esse professor pode ter futuro. Não se pode desprezar os professores que te- nham entrado na função, mesmo pelas razões mais erráticas possíveis, por um moti- vo: a solução para o problema da baixa valorização do profissional começa pela inicia- tiva de aperfeiçoamento individual. 3. A atuação profissional do docente se faz presente nas frentes de ensino, pes- quisa, gestão e extensão. É importante estar preparado para atuar nessas três frentes para crescer profissionalmente. 24 Novos caminhos para profissionais da educação 2 Repensando a formação docente Partindo da noção de que o professor precisa, por diversas razões, aprimorar e investir na sua formação para ampliar seus horizontes como profissional, a questão que se responde neste capítulo é: como fazê-lo? Afinal, o professor que estuda con- tinuamente é, sobretudo, um exemplo e uma inspiração para seus alunos. Felizmente, as novas tecnologias facilitam muito a capacitação constante que se exige durante toda a vida. Se antigamente uma formação de alto nível era exclusividade para os mais abastados, hoje se dispõe de uma gama de opções para todos os perfis socioeconômicos. 2.1 A formação continuada Vídeo Para que possa estar permanentemente capacitado, o professor deve considerar duas perspectivas de formação continuada, que não se excluem mutuamente: o programa stricto sensu e as formações com- plementares, que, juntas, constituem a espinha dorsal do currículo do docente. A primeira diz respeito ao mestrado e ao doutorado; já a segunda, a infinitas capacitações e certificações agregadas. É possível fazer uma analogia, ainda que rasa, com um atleta de alto nível, que precisa mesclar maratonas e olimpíadas (stricto sensu) com a frequên- cia assídua e, praticamente cotidiana, à academia de ginástica para que possa manter a forma física (formações complementares). Analisando a formação stricto sensu e concordando com Louzano et al. (2010), o fato é que o professor, principalmente do ensino superior, precisa considerar a obrigatoriedade de progredir seu nível acadêmico: se ainda não é mestre, precisa pensar em sê-lo; se ainda não é doutor, vale a pena pensar nessa possibilidade; e, mesmo para quem já alcan- çou o doutorado, o pós-doutorado pode estar no seu radar pessoal. Repensando a formação docente 25 Nesse aspecto, algumas considerações precisam ser feitas em relação à profissão de professor diante das demais. O que ocorre é que qualquer pessoa com curso superior pode fazer um mestrado ou mesmo um doutorado. Em tese, todas essas pessoas estão legal- mente habilitadas a se candidatar, pois possuem o requisito mínimo: a graduação completa. Na prática, principalmente no Brasil, dada a alta concorrência por essas posições, nos programas de pós-graduação de todas as instituições de ensino, sendo públicas ou privadas, o que se vê é que dificilmente pessoas sem um curso de especialização lato sensu conseguem êxito para ingressar no mestrado – da mesma forma, muito raramente se vê um doutorando que ainda não seja mestre. Então, se o objetivo é, no médio ou longo prazo, um doutoramento, certamen- te são necessárias etapas intermediárias de formação para conquistar com êxito essa meta. Para os profissionais em geral, como um fisioterapeuta, um ar- tista plástico ou um contador, o mestrado e o doutorado são ce- nários facultativos que eles podem considerar para suas carreiras – quando procuram esse caminho, é porque alguma inclinação existe, ainda que latente, para trabalhar no meio acadêmico. O fato é que, em última análise, até mesmo o curso de graduação básica, que permite a alguém dizer que tem ensino superior, não é, efetivamente, uma necessidade primordial. Muitas pessoas, depen- dendo de sua ocupação, valores pessoais e estilo de vida, podem viver perfeitamente bem, inclusive com pleno exercício da cidada- nia, sem ter um curso universitário. Não hámotivo que justifique impor educação superior às pessoas; o que se precisa assegurar é o pleno direito de acesso a quem se interessar por esse caminho. Já um cenário completamente diferente se apresenta a quem esco- lheu ser professor universitário. Nesse caso, em seu plano de carreira, deve-se ter por objetivo, sempre, o próximo grau acadêmico a ser con- quistado. Dependendo das circunstâncias de cada caso, pode ser um plano para curto, médio ou longo prazo, mas precisa ser um objetivo priorizado. Somente uma geração de profissionais capacitados pode- rá estabelecer condições estruturantes para mudar o quadro cultural no Brasil. Não se pode esperar que, da atual mentalidade de políticos, empresários e tecnocratas quaisquer, emerja a liderança para essa transformação, enquanto professores permanecem enclausurados em departamentos acadêmicos. Nesse campo, não há meia solução, pois Quais são as duas perspectivas de formação continuada que o professor deve considerar? Atividade 1 latente: oculta, escondida. Glossário tecnocratas: governantes que buscam apenas soluções técnicas. Glossário 26 Novos caminhos para profissionais da educação estacionar no progresso acadêmico, em uma zona de conforto que me- ramente garanta seu sustento familiar por algum tempo, conflita com a função social que o professor assumiu (consciente ou não disso). A situação ideal pode até não se realizar por um ou outro fator incidental, porém, é importante que seja perseguida com todo vigor e que, assim, todos os professores universitários do Brasil possam se tornar doutores, estando sempre envolvidos nas atividades de pós- doutoramento. Cumpre esclarecer que, diferentemente do que o senso comum possa imaginar, pós-doutorado não é um título que se conquiste ou um curso que se realize, como são o mestrado e o doutorado. O pós- doutoramento é uma atividade destinada, em geral, aos recém-doutores (para todos os efeitos, com menos de dez anos passados após a defesa da tese); não envolve cursar disciplinas e tampouco defender uma tese. O foco é, primordialmente, a pesquisa, com vistas à resolução de algum problema complexo, o que implica, na prática, a produção de publicações científicas mais amadurecidas (criar genuinamente conhecimento) ou, até mesmo, o desenvolvimento de tecnologia de ponta. Por isso, nesse regime de intensa pesquisa, a dedicação ao ensino, à gestão e à extensão é momentaneamente suprimida. Então, para começar a percorrer o caminho stricto sensu, os pro- fessores precisam planejar seu mestrado e doutorado. Os cursos são oferecidos pelos programas de pós-graduação de faculdades, centros universitários e universidades, da rede pública e privada. Não há outra alternativa, senão pesquisar. Desse modo, em função de sua área de predileção, o professor encontra nos sites das respectivas instituições as informações gerais sobre as ofertas de mestrado e doutorado. Nas instituições privadas, os cursos de mestrado e doutorado cos- tumam ser substancialmente caros, considerando o poder aquisitivo médio do brasileiro. Assim, é importante ficar alerta a ofertas que cos- tumam surgir, nas quais essas instituições podem oferecer cursos gra- tuitos. Muitas vezes, elas fazem isso por alguma política de subsídio ou como uma estratégia para conseguirem uma “massa crítica” de alunos formados naquela instituição, o que ajuda no estabelecimento de seu nome como uma marca presente no mercado. Há de se considerar, claro, que cursos gratuitos são muito mais concorridos que os pagos, como ocorre nas universidades e institutos federais. incidental: imprevisível, eventual. Glossário Repensando a formação docente 27 Dada a concorrência, um bom projeto de pesquisa é decisivo para ser aprovado como aluno de mestrado ou doutorado, de acordo com as linhas de pesquisa da instituição em que se disputa uma vaga. Quem fracassa no processo seletivo, muitas vezes, peca nesse aspecto; não é suficiente que o interesse particular de pesquisa do candidato tenha sido impecavelmente documentado em uma proposta de projeto, mas tor- na-se imprescindível que tal proposta tenha adesão temática ao que é trabalhado naquele programa de pós-graduação. Por isso, o candidato precisa ser estrategista. Uma vez determinado o programa como alvo, é necessário conhecer a respeito da linha de pesquisa e dos projetos em andamento na instituição – dados que podem ser levantados por meio de uma conversa direta com os professores desse programa. Uma vez aprovado como mestrando ou doutorando, há a pos- sibilidade de bolsas de estudo para ajudar a arcar com os custos (diretos e indiretos). Na maioria dos casos, o valor não é alto, mas ajuda o estudante a suportar a fase de sacrifício financeiro inerente a essa etapa da vida – a contrapartida costuma ser a exigência de permanência do estudante nas instituições. Ou seja, um mestrando ou doutorando bolsista acaba, na prática, por não se ausentar da instituição de ensino, visto que, quando não está em curso, está imerso em diversas outras atividades demandadas, principalmente as relacionadas aos grupos de pesquisa dos programas de pós-gra- duação. No Brasil, as bolsas de estudo são concedidas pelas agên- cias governamentais Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvol- vimento Científico e Tecnológico). Dependendo do edital, o repasse pode ser direto ao pós-graduando ou ser intermediado pelo próprio programa da instituição, que recebe a verba governamental e sele- ciona, internamente, seus bolsistas. Assim, monitorar permanente- mente editais e chamadas é estritamente necessário. Finalmente, no que se refere à formação stricto sensu, o professor deve considerar ainda as possibilidades criadas pelas novas tecnologias: a novidade é que existem mestrados e doutorados na modalidade EaD. No Brasil, o Ministério da Educação homologou o Parecer n. 462/2017 1 , do Conselho Nacional de Educação, que autoriza esse tipo de oferta. Já as formações complementares, por sua vez, são bem diferentes dos mestrados e doutorados: enquanto estes exigem um longo, inten- Parecer disponível em: http:// portal.mec.gov.br/docman/ outubro-2017-pdf/73971-pces- 462-17-pdf/file. Acesso em: 21 fev. 2020. 1 28 Novos caminhos para profissionais da educação so e rigoroso período de dedicação (de dois a quatro anos, sem contar o eventual tempo de preparo antecipado), aquelas são curtas e, de- pendendo do caso, podem ocorrer em questão de meses, semanas, dias ou mesmo horas. Como há muito mais liberdade envolvida, em alguns casos, sequer é concedida a certificação. Quem procura cursos de formação complementar quase sempre o faz muito mais em função do conhecimento especializado que pode ser conquistado do que de títulos a acumular. Na busca de aprimoramento profissional, é natural que o profes- sor opte por formações rápidas, gratuitas ou de baixo custo. Isso passa pelos convencionais minicursos e palestras que os professores podem frequentar em regime presencial ou na sua própria instituição de tra- balho, ou pelo que o mercado dispõe. Contudo, mais recentemente, as plataformas ao estilo Massive open on-line courses (Mooc), ou cursos on- -line abertos e massivos em português, mostraram-se como inovações de estrondoso sucesso para fins de capacitação continuada. Uma dessas plataformas é o Coursera 2 , uma das principais referências em Mooc de nível internacional. Ela possui um respeitável portfólio de cursos livres voltados à capacitação continuada de educadores, incluindo o conheci- mento pedagógico. Contudo, ao procurar cursos de qualquer natureza (área de especiali- zação, tecnológica ou pedagógica) sem ficar restrito unicamente aos ofe- recidos com opção de legenda em português, o portfólio se torna quase que infindável. Isso conduz a um dos mais importantes aspectos estra- tégicos relacionados à formação continuada dos educadores: é impres- cindível saber inglês. Isso é algo que precisa serpriorizado na vida de um professor, considerando que dominar uma língua estrangeira é mais uma competência cuja aquisição não é instantânea, mas, sim, trabalhada e aprofundada em regime permanente. Comprovando a limitação que é ficar restrito ao português, o exer- cício de procurar no Google por “Mooc for educators” resulta em uma listagem interminável de opções para capacitação docente nas mais diversas frentes. Vale muito a pena conhecer, em especial, as opções ofertadas por plataformas como Udemy, edX, Udacity, Codeacademy, Khan Academy, FutureLearn e Pluralsight, sendo essas algumas das mais em evidência. Em suma, talvez a grande dificuldade da formação continuada, atualmente, é fazer uma escolha, dada a explosão de ofer- tas absolutamente acessíveis a que se está submetido. O Veduca é uma plataforma brasileira que se apresenta como uma ótima alternativa para os professores que buscam apro- fundar seus conhecimentos em uma área específica de formação e/ou em tecnologia, embora não existam muitas ofertas de conteúdo pedagógico, como cursos voltados à educação. Disponível em: https://veduca. org. Acesso em: 21 fev. 2020. Site Plataforma disponível em: https://www.coursera.org. Acesso em: 21 fev. 2020. 2 Repensando a formação docente 29 2.2 O pesquisador autodidata Vídeo Existe, ainda, um forte componente de autoformação na função de professor: o aproveitamento da competência de saber aprender, a fim de se adquirir mais competências complementares. Afinal, se o aparato tecnológico atual faz com que qualquer criança recém-alfabe- tizada consiga encontrar, instantaneamente, informações sobre um termo qualquer na internet, os professores minimamente capacitados dispõem de aptidões cognitivas, que servem de filtro e de juízo crítico ao que encontram, além de uma estrutura dialética básica, que lhes permitem transitar pelo conhecimento mediante o que Hegel (1998) denomina de tese, antítese e síntese. Tese Antítese Síntese Ideia inicial seguida de pergunta que a contraponha. Nova ideia com base na resposta da pergunta inicial. Conclusão a partir da junção das duas ideias. Essa é a importância da pesquisa como competência a ser de- senvolvida e permanentemente aprimorada. Todo professor precisa pesquisar, ora para produzir o conteúdo para suas aulas, ora para a produção de seus próprios artigos científicos. Não existe a menor possibilidade de uma seriedade moral no desempenho da função de professor se não há sequer sensatez no pensamento – a integridade intelectual é a base de toda conduta docente, seja em suas práticas em sala de aula, seja nos seus estudos. Martins (2010), jornalista, his- 30 Novos caminhos para profissionais da educação toriador e crítico literário, relata que praticamente todas as ocupações intelectuais daqueles que precederam a sociedade brasileira, desde a colonização, consistem de futilidades que em nada contribuem para a alta cultura: cinco séculos de produção intelectual no país mostram- -se simplesmente irrelevantes na produção mundial de conhecimento. Como resultado, tem-se que, ao longo das décadas mais recentes, os artigos científicos publicados por pesquisadores brasileiros aumenta- ram em quantidade e diminuíram em qualidade. Sendo um fato objetivo, isso fica imune a qualquer discussão de natureza ideológica ou apelo nacionalista. Portanto, já citada a ne- cessidade de dominar o inglês como uma das competências centrais do professor da atualidade, outra competência se torna evidente: resistir à tentação de buscar conhecimento relevante (atualizado, de alto nível) nos materiais disponíveis em português só porque é “mais fácil”. Quando muito, nesses casos, o que se encontra, em grande parte, são meras traduções (nem sempre oficiais ou confiáveis) das fontes originais, as quais deveriam ser buscadas com prioridade. Quem ainda não domina suficientemente o idioma e precisa dar andamento às suas pesquisas enquanto resolve essa questão (afinal, proficiência em novo idioma é um trabalho para alguns anos de dedica- ção) pode considerar a utilidade dos tradutores on-line, como o Google Tradutor. Obviamente, não é a solução ideal, porque o atual estado da tecnologia ainda não é impecável na tradução, mas já fornece uma base para a compreensão. Fontes básicas para o professor fazer suas pesquisas, os artigos científicos publicados em periódicos internacionais são mais facil- mente identificados e acessados por buscadores especializados. O Google oferece uma excelente ferramenta para essa finalidade, que é o Google Scholar. Uma dica importante é usar sempre a opção de busca avançada, que permite uma pesquisa bem mais dirigida, por meio de palavras-chave associadas a um autor específico, a um deter- minado periódico ou a um intervalo de datas. Os resultados das bus- cas são apresentados com os links, tanto para o endereço do periódico quanto para, se disponível, o arquivo PDF com o artigo em questão. Outras bases de dados organizados por periódicos científicos que são de uso recorrente de pesquisadores acadêmicos são SciELO, PubMed, Medline, Redalyc, Web of Science, Scopus, Science Direct, entre inúmeras Repensando a formação docente 31 outras. Na prática, qualquer pesquisador com pretensão de alcançar alguma relevância com seu trabalho precisa investir algum tempo para se familiarizar com as bases de dados científicas, a fim de entender seu mecanismo de funcionamento e as suas funções possibilitadas. Afinal, uma das competências centrais de um pesquisador é a bibliometria, isto é, a capacidade de quantificar e de qualificar as fontes escritas de informação. Isso envolve identificar as tendências e o crescimento do conhecimento em uma determinada área. Na prática, isso significa que, quando um pesquisador precisa, por exemplo, encontrar informações sobre o movimento sindical no início do século XX, o mecanismo funcional das mitocôndrias ou a dinâmica do mercado de derivativos financeiros, sua primeira aptidão é a de ter um senso de relevância, ou seja, conseguir identificar quem são os respectivos autores mais citados nesses temas e quais periódicos reproduzem seus artigos. Por isso, um pesquisador acadêmico de alto nível (uma competência que se adquire com alguns anos de prática) é capaz de estudar a dispersão e as obsolescências dos campos científicos, medir o impacto das publicações e dos seus serviços de disseminação da informação, estimar a cobertura das revistas científicas e identificar os autores e instituições mais produtivos, bem como as revistas do núcleo de cada disciplina. Naturalmente, outras fontes de informação podem ser conside- radas pelo pesquisador, mas em um nível absolutamente secundá- rio de importância e de prioridade em relação aos artigos científicos (livros, revistas não científicas, jornais e canais de informação em geral disponíveis na internet). Uma fonte realmente formidável para se buscar conhecimento na atualidade é o YouTube, que funciona como a maior plataforma on-line de vídeos do mundo, com um volume de conteúdo disponível espantosa- mente gigante, crescendo cada vez mais. Segundo dados de 2020 4 , mais de 500 horas de vídeo são acrescentadas a cada minuto no YouTube, em uma base de mais de 2 bilhões de usuários, o que resulta em mais de 1 bilhão de horas de conteúdo vistas diariamente. É importante que os professores tenham o YouTube como um im- portante aliado para suas pesquisas. Para isso, a estratégia é inscre- ver-se nos canais de interesse. Esse registro faz com que a plataforma notifique o usuário cada vez que novos vídeos sejam lançados naque- obsolescência: processo de tornar-se obsoleto, ultrapassado. Glossário Dados disponíveis em: www. youtube.com/yt/about/ press/ e www.statista.com/ statistics/259477/hours-of-vi- deo-uploaded-to-youtube-e- very-minute/. Acesso em: 21 fev. 2020. 4 32 Novos caminhos para profissionais da educação les canais. Além disso, existe uma política de monetização: o YouTu-be paga aos responsáveis pelos canais de maior audiência um valor originado dos anunciantes que fazem publicidade na plataforma. Por isso, atualmente, existem os chamados youtubers, influenciadores digi- tais que se dedicam profissionalmente (muitos em tempo integral) para manter seus canais com uma audiência fiel. A maioria dos youtubers, evidentemente, por não serem campeões de audiência, mantém outras ocupações profissionais que lhes servem de principal fonte de renda. É interessante observar a grande quan- tidade de professores e pesquisadores que atuam, entre tantas ou- tras atividades inerentes à profissão, como youtubers. Ao pesquisador autônomo, é altamente recomendável que crie seu respectivo canal, principalmente para divulgar os resultados de seus trabalhos, já que a exposição na plataforma é gratuita. Além disso, é um trabalho que potencializa as publicações científicas, visto que, enquanto os artigos em periódicos científicos alcançam uma audiência formada pela comu- nidade acadêmica, o uso do YouTube ajuda na divulgação para a socie- dade em geral, fazendo com que o fruto daquele trabalho tenha maior apelo com o público e maior relevância social, não se podendo ignorar, ainda, essa estratégia como algo que também favorece pleitear finan- ciamento (público ou privado) para futuras pesquisas. Aliás, a presença de conteúdo educacional no YouTube é tão for- te que foi criado, em 2013, o YouTube Edu, fruto de uma parceria do Google (proprietário do YouTube) com o Instituto Lemann. Com essa iniciativa, o Brasil tornou-se o segundo país, depois dos EUA, a partici- par do projeto que mantém um canal exclusivo de conteúdo educativo. De início, foram selecionados 8 mil vídeos de professores brasileiros, já reconhecidos na plataforma e com canal próprio e, assim, o YouTube Edu foi dividido por áreas, como biologia, matemática, língua portu- guesa, física e química, com foco principalmente no ensino médio e no preparatório para o Enem (em janeiro de 2020, o YouTube Edu contava com uma base de mais de 370 mil inscritos). De toda forma, o YouTube é uma plataforma tão imensa que mais do que concentrar conteúdos em canais especiais, como é o caso do Youtube Edu, estimula-se que, de maneira descentralizada e independente, os pro- fessores conteudistas criem e invistam no crescimento de seus próprios canais. Nesse sentido, a plataforma mantém tutoriais ensinando passo a passo a estruturar e gerenciar canais de conteúdo educativo 5 . monetização: transformar algo em dinheiro; converter lucro. Glossário Quando um determinado conteu- dista posta seus vídeos no You- Tube, eles ficam agrupados em uma estrutura que é conhecida como canal. Assim, os canais do YouTube são as coleções de vídeos que se encontram na plataforma. Existem muitos canais dedicados à filosofia, educação, ciência, tecnologia e inovação. Saiba mais O que é o YouTube Edu? Atividade 2 Tutoriais disponíveis em: creato- racademy.youtube.com/page/ lesson/edu--channel-start?hl- pt-BR. Acesso em: 21 fev. 2020. 5 Repensando a formação docente 33 Dada sua qualidade, alguns conteúdos do YouTube são de conheci- mento praticamente obrigatório para os professores. No Brasil, é pre- ciso destacar o trabalho relevante mantido pelo ScienceVlogs Brasil: de modo pioneiro no cenário de divulgação científica no país, alguns dos mais influentes canais brasileiros se reuniram a fim de criar um selo de qualidade para reconhecer o trabalho de conteudistas que di- vulgam a ciência com seriedade. Afinal, em um meio em que a propa- gação de desinformação e a pseudociência são igualmente difundidas rapidamente, alimentadas ora por desonestidade ora por ignorância, é importante que haja alguma forma de facilitar o acesso do público a fontes críveis de conhecimento. Em nível internacional, é preciso destacar a organização TED, que possui uma enorme coletânea de vídeos com palestras curtas (com duração máxima de 18 minutos) sobre diversos temas (ciên- cias, negócios, problemas globais etc.). Esses vídeos estão disponí- veis no respectivo canal do YouTube (que já conta com mais de 15 milhões de inscritos) e na sua plataforma própria de hospedagem de vídeos da organização. Quanto à eventual barreira que o idioma possa representar para parte dos professores, o YouTube conta com um recurso de legendas para todos os seus vídeos: é possível acionar a função para, por exemplo, acompanhar um vídeo narra- do em inglês com legenda em inglês ou, até mesmo, com legenda traduzida automaticamente para português (o que, às vezes, perde um pouco de qualidade devido à acuracidade da inteligência arti- ficial empregada para essa tradução). Em suma, dado todo o con- junto de seus recursos e características, o YouTube é indispensável para o professor do século XXI, tanto como consumidor quanto como gerador de conteúdo na plataforma. Finalmente, fruto da atual tecnologia digital, uma opção de pesquisa, que nenhum professor pode deixar de conhecer e de experimentar, são os passeios virtuais nos principais museus do mundo 6 . Instituições como Louvre, Solomon Guggenheim, British Museum, Smithsonian, Vaticano, entre tantas outras, mantêm sites com riquíssimos conteúdos, oferecendo uma excursão praticamente similar a uma visita presencial e a custo zero. A dica é que vale muito a pena proceder a visita digital munido de óculos de realidade virtual, o que potencializa magistralmente a experiência. Os museus virtuais são um esplêndido exemplo do que a humanidade pode alcançar, alinhando alta tecnologia com alta cultura. O canal BláBláLogia reúne material de vários conteudistas de excelente qualidade nas áreas da educação e da ciência, proporcionando um alcance muito maior, trazendo-lhes mais visibilidade junto ao público e, claro, contribuindo para que seus canais individuais ganhem mais visibilidade. Disponível em: https://www. youtube.com/channel/UC3Ooj_ iDWELBumIEDejyNHQ. Acesso em: 14 fev. 2020 Vídeo acuracidade: precisão e exati- dão de dados e informações. Glossário Seleção de passeios disponível em: mentalfloss.com/arti- cle/75809/12-world-class-mu- seums-you-can-visit-online. Acesso em: 21 fev. 2020. 6 34 Novos caminhos para profissionais da educação 2.3 O professor aluno Vídeo Por definição, todo professor também é aluno. Afinal, o conhe- cimento não é estático e já predeterminado; se fosse, essa situação poderia admitir que alguns só o fornecem e outros só o adquirem. O conhecimento está em eterna expansão, como sugeriu Isaac Ne- wton em sua célebre frase “O que sabemos é uma gota, o que igno- ramos é um oceano”. A perspectiva aqui analisada não é a da evidente condição formal dos professores como estudantes efetivamente matriculados em cursos de mestrado, doutorado ou qualquer curso complementar; embora seja pertinente destacar que a experiência de sentar nova- mente na carteira de aluno, independentemente do curso, faz com que todo professor estudante imediatamente reflita sobre o quanto dessa experiência pode ser considerado em suas próprias aulas mi- nistradas. É inevitável: quando um aluno é, coincidentemente, tam- bém um profissional docente, ele sempre fará essa reflexão visando o seu autoaprimoramento. Por outro lado, cabe uma ponderação sobre a máxima de que “quem ensina aprende ao ensinar”, pois tal mantra pode beirar à falácia se aceito e reproduzido cegamente sem a devida racionalização. Afinal, se durante o exercício de seu ofício o professor também aprende, ele aprende exatamente o quê? O próprio conteúdo que é ministrado? Conforme muito bem delineado por Mishra e Koehler (2006), a com- petência para o ensino de alto desempenho reside na qualidade da in- tegração entre três distintos domínios do conhecimento: o pedagógico, o tecnológico e o de conteúdo (que é a área de expertise do professor). Assim, quando leciona, talvez o que o professor menos aprenda seja aquilo que diz respeito ao conteúdo – isso dependente da natureza do conhecimento em questão,ou seja, da disciplina ministrada. É claro que “aprender lecionando”, no que diz respeito ao conhecimento do “conteúdo”, faz muito mais sentido em história da arte ou fenomeno- logia política do que em alfabetização elementar e matemática básica. Quanto a aprender conteúdo enquanto o ministra, é inegável que os entusiastas de uma nova forma de educação se sustentam, há déca- das, na pirâmide da aprendizagem (ou cone da aprendizagem), seja na versão de William Glasser, da National Training Laboratories, na de Ed- gar Dale, ou na de qualquer outra das inúmeras que proliferam mundo Repensando a formação docente 35 afora (NUNES; BESSA, 2017). A pirâmide de Glasser (1986) sustenta a tese de que as pessoas aprendem do seguinte modo: Figura 1 Pirâmide da aprendizagem de William Glasser quando veem e ouvem quando discutem com os outros quando fazem ou experimentam quando leem quando ouvem quando veem quando ensinam 80 % 70 % 50 % 30 % 20 % 10 % 90 % Fonte: Adaptada de Glasser, 1986. Isso, por si só, parece mais do que suficiente para condenar todo o modelo clássico de ensino ao devido ostracismo e instaurar a supremacia da revolucionária didática do novo milênio, dispensando qualquer necessidade de debater pormenores dessa mudança. É tão agradável ficar sabendo de tais índices percentuais de retenção de conhecimento ou aprendizado efetivo; é tão politicamente correto bradá-los nos cursos de formação de educadores que um não tão mero detalhe passou incólume ao longo das décadas: a pirâmide é falsa. Ao menos, no que diz respeito aos valores percentuais expressos, conforme denuncia com todo fundamento analítico Letrud (2012), pois não há fundamentação empírica nesses números e a própria National Training Laboratories, ostracismo: ato ou efeito de repelir; afastamento, repulsa. Glossário 36 Novos caminhos para profissionais da educação quando inquirida sobre as fontes que originaram a apresentação da pirâmide, confessa não as ter, pois são muito antigas. Convém esclarecer que isso não significa não admitir o valor de en- sinar o que se aprende como alguma forma válida de aprendizado. É preciso, porém, deixar as coisas no seu devido lugar. Desse modo, na falta de um estudo científico sério, sem viés de confirmação, o que se tem, por ora, é a sensação empírica de que tal prática do professor aluno deva produzir algum efeito benéfico a quem ensina, no tocante ao domínio do conhecimento. Ao mesmo tempo, sabendo que os má- gicos números da pirâmide são tão reais quanto a mágica per se, o real aprendizado oferecido dessa análise é a prudência de perceber que talvez o clássico não seja tão ruim assim e, provavelmente, as novas abordagens demandem mais aprofundamento científico para serem devidamente incorporadas ao sistema educacional. Essas são as considerações em relação a aprender enquanto se en- sina, no quesito do conteúdo. Quanto a aprender nos quesitos pedagó- gico e tecnológico, o cenário é totalmente outro, pois torna-se evidente que isso ocorre continuamente. No tocante ao aspecto tecnológico, a constatação é bastante obje- tiva: muitas vezes, o professor é de, pelo menos, uma geração anterior aos alunos da sua turma de trabalho. Buckingham e Willett (2013) expli- cam sobre as diferenças entre os nativos digitais e os imigrantes digitais, afirmando que, em relação às novas tecnologias, é óbvio que, quanto mais cedo haja seu manuseio, maior será o seu domínio. Dessa forma, é bastante natural que, assim que uma novidade tecnológica seja lan- çada no mercado, espera-se que o aluno, e não o professor, adentre o ambiente escolar com aquele novo dispositivo e/ou serviço inovador. Os alunos tendem a ser nativos em novas tecnologias; já os profes- sores, imigrantes, têm de se adaptarem à medida que as novidades em questão se mostrem úteis e relevantes para o processo de ensino e aprendizagem. Pela interação direta que ocorre entre professor e alu- no, principalmente no regime presencial de ensino, o professor usufrui da conveniente vantagem de poder aprender com seus alunos a res- peito das características, recursos e funcionalidades do que é trazido para sala de aula. Por isso, nos tempos atuais, embora a disciplina seja um valor inegociável no tocante ao bom comportamento em sala de aula e esteja a cargo do professor manter a turma disciplinada, é espe- per se: em si mesmo; intrinsecamente. Glossário Qual é a crítica mais séria que se faz à Pirâmide da Aprendizagem? Atividade 3 Repensando a formação docente 37 cialmente conveniente que o docente seja receptivo ao uso de equipa- mentos tecnológicos trazidos por seus alunos para a aula. Afinal, principalmente nos níveis escolares mais básicos, como ensi- no médio e graduação, quando o estudante traz espontaneamente seu smartphone para a sala de aula, por exemplo, provavelmente o faz por motivos não tão didáticos. Mas há opção, além da inflexível rigidez de proibir (e até de apreender) o aparelho quando percebido em sala de aula, pois eis ali um ponto de acesso à internet, que pode ser usufruído para fins mais nobres, especialmente quando o conteúdo da aula ver- sa sobre informações altamente dinâmicas, como o valor de mercado de determinada empresa; nesse caso, por exemplo, a oportunidade de consultar a informação em tempo real é bastante interessante. Assim, um professor que esteja expondo, por exemplo, que o Facebook é uma empresa que vale centenas de bilhões de dólares no mercado, pode afe- rir esse número com a colaboração de seus alunos, pedindo a um deles para checar pelo celular o valor exato naquela data específica em que se realiza a aula – iniciativa que torna a atividade mais envolvente e dinâmi- ca, impactando diretamente na motivação e na atenção da turma. Ainda explorando um pouco mais esse mesmo exemplo, os alu- nos podem perguntar onde exatamente na internet se busca essa informação sobre valor de mercado de uma empresa. Surgirão várias fontes e é uma oportunidade para que o próprio professor aprenda (ou, ao menos, atualize-se), pois se ele incentivar que os alunos busquem diferentes fontes de informação e as confrontem, certamente, alguns dos resultados serão fontes que o professor até então desconhecia, principalmente quando se trata de temas tão di- nâmicos e inovadores quanto discutir a “uberização” das empresas, o potencial do blockchain na área de serviços de saúde ou, ainda, o people analytics como nova competência de gestores de RH. É im- portante orientar os alunos para sites confiáveis, como de universi- dades, de bibliotecas, do Ministério da Educação, e orientá-los para evitar a Wikipédia e blogs, por exemplo. Finalmente, aprender conhecimentos de natureza pedagógica enquanto se dá aula é, certamente, o fato mais óbvio envolvendo a formação docente; nesse quesito, experiência conta sobremanei- ra. Por mais leitura, preparação e cursos que um candidato a professor tenha, ele não se tornará um docente sênior senão pelo tempo de ativi- dade na função. Isso, claro, vale para qualquer atividade humana, visto Blockchain: sistema de registro de informações, por exemplo, para transações de moedas virtuais. People analytics: uso de uma metodologia de análise de dados que é aplicada para o gerenciamento de pessoas. Glossário 38 Novos caminhos para profissionais da educação que ninguém aprende a nadar, por exemplo, apenas lendo manuais e tutoriais a respeito de natação; é preciso cair na água. Nonaka e Takeuchi (1995), pesquisadores consagrados mundial- mente na área de gestão do conhecimento, explicam que existe o conhecimento explícito, facilmente documentável e quase que instanta- neamente transmissível, e o conhecimento tácito, aquele know-how que uma pessoa detém, forjado com o tempo dedicado à atividade, que é impossível de traduzir em um manual ou em um procedimento, sendo que a única maneira de o transmitir com alguma eficácia é pela existên- cia de um aprendiz que se lance à imitação e à prática. Desse modo,
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