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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 91 VI.1 INTRODUÇÃO VI.1.1 - Classificação das Solicitações A ação dos diversos carregamentos sobre o modelo estrutural definido resulta no conhecimento das solicitações para cada uma das diversas seções que a ele pertencem. Podem ser classificadas em: Solicitações normais: Flexão e Normal (de tração ou de compressão); Solicitações tangenciais: Cortante e Torção. No caso específico do Concreto Armado, o dimensionamento da solicitação normal de flexão, como já apreciado no módulo II, é conduzido com base em modelo físico-matemático construído a partir do estudo do comportamento de uma seção isolada do restante do elemento estrutural. Figura 1 - Solicitações Normais: Seções Isoladas Construção dos Modelos de Dimensionamento na Seção Em módulo próximo será visto que o mesmo procedimento de isolamento da seção servirá de suporte para o dimensionamento de elementos submetidos às UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 92 solicitações normais de tração/compressão e também à flexão composta reta ou oblíqua, de fundamental importância no estudo de pilares, colunas estacas e outros elementos flexo-comprimidos. A construção de modelo de dimensionamento para solicitações tangenciais de cortante e torção não pode mais ser feita com base no estudo de seções isoladas. Em face da maior complexidade de funcionamento do elemento estrutural, para este grupo de solicitações, se faz necessário que os modelos de dimensionamento sejam construídos a partir da análise e do entendimento do elemento estrutural em sua totalidade. Figura 2 - Solicitações Tangenciais: Cortante e Torção Construção dos Modelos de Dimensionamento no Elemento VI.1.2 – Abrangência Inicial do Estudo de Solicitações Tangenciais Os elementos estruturais podem ser simplificadamente classificados em função da relação entre suas dimensões D1, D2 e D3, de forma que: D1>>D2D3: Elementos unidimensionais – comprimento é bem superior à largura e à altura, que se equivalem. Ex.: vigas, pilares, etc. D1D2>>D3: Elementos bidimensionais – o comprimento e a largura são bem superiores à espessura. Ex.: lajes, vigas-parede, etc. D1D2D3: Elementos tridimensionais – o comprimento, a largura e a altura são equivalentes. Ex.: consoles, blocos de fundação, etc. No caso dos elementos bidimensionais a classificação deve ainda ser complementada diante do plano de ação de seus principais carregamentos, além da sua UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 93 geometria. Como exemplo, pode-se registrar a diferença entre lajes, elementos bidimensionais cujos principais carregamentos atuam na direção normal ao seu plano, enquanto vigas-parede, que também são elementos bidimensionais, têm carregamentos atuantes em seu próprio plano. O desenvolvimento didático impõe que a abordagem do tema seja focada, inicialmente, em elementos lineares (vigas). O dimensionamento e detalhamento de elementos lineares bidimensionais serão estudados posteriormente. A ruptura por efeito dos esforços cisalhantes é iniciada após o surgimento de fissuras inclinadas, causadas pela combinação de força cortante, momento fletor e possíveis forças axiais. VI.2 A FUNÇÃO da ARMADURA TRANSVERSAL VI.2.1 – A Abertura de Fissuras e a Armadura Transversal Com base na Mecânica dos Sólidos e na Teoria da Elasticidade, sabe-se que uma viga submetida a momentos fletores constantes não apresentam esforço cortante, havendo somente a ação de tensões normais () nas seções. A Eq (6.1) demonstra tal efeito: 0C dx dM V te (6.1) A Figura 3 mostra uma viga biapoiada submetida a duas cargas concentradas de baixa intensidade, equidistantes dos apoios. Na região central, entre as cargas, há somente flexão pura, não existindo esforços cortantes. A viga é composta por uma armadura longitudinal inferior de flexão, superior de montagem e estribos a 90º distribuídos ao longo do seu comprimento. Observam-se as trajetórias das tensões principais de compressão e de tração da viga ainda não fissurada (estádio I). Na região de flexão pura, estas trajetórias são paralelas ao eixo longitudinal da viga. Nas extremidades da viga, estas trajetórias são inclinadas devido à presença dos esforços cortantes que geram as tensões cisalhantes. Nota-se que estas trajetórias são perpendiculares entre si. Faz-se o diagrama de deformações e tensões da seção a-a, podendo estas serem calculadas pela equação da Lei de Hooke (Eq.6.2): UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 94 E (6.2) onde: E é o módulo de elasticidade do concreto; é a tensão normal de compressão ou tração; c é deformação. Figura 3 – Tensões Principais no Estádio I Observa-se ainda na Figura 3 que: c é a tensão normal de compressão no concreto; s é a tensão normal de tração na armadura longitudinal; DEQ DMF UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 95 c é deformação de encurtamento no concreto; s é deformação de alongamento na armadura longitudinal tracionada; fct,f é a resistência à tração na flexão no concreto. Aumentando-se a intensidade das forças aplicadas, podem surgir as primeiras fissuras de flexão no trecho central da viga, caso as tensões normais de tração ultrapassem a tensão de tração limite do concreto (fct,f), passando do Estádio I para o Estádio II, conforme pode ser visto na Figura 4. Figura 4 – Tensões Principais no Estádio I e II Crescendo ainda mais o valor das cargas concentradas, as fissuras de flexão se acentuam e surgem as fissuras devidas ao cisalhamento nas extremidades da viga, próximas ao apoio, onde os momentos fletores são quase inexistentes (Figura 5). Na região do quarto de vão, as fissuras são devidas à flexão e ao cisalhamento. Figura 5 – Quadro fissuratório no Estádio II UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 96 A Figura 6 indica as trajetórias de tensões principais para o carregamento uniforme atuando sobre viga de material homogêneo, equivalente ao concreto armado solicitado a carregamentos ainda reduzidos com a peça trabalhando ainda no Estádio I, isto é, com concreto submetido a tensões abaixo de sua resistênciaà tração. Figura 6 – Tensões Principais no Estádio I Na LN as tensões principais 1 e 2 estão inclinadas a 45º em relação ao eixo da viga. Outros estados de tensão, como por exemplo, aqueles dispostos segundo os eixos x-y, podem ser representados, definindo as tensões normais x e y e as tensões tangenciais xy e yx. Conhecer as trajetórias das tensões principais é importante para posicionar corretamente as armaduras de tração e conhecer a direção das bielas de compressão. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 97 As fissuras de cortante, inclinadas, indicadas na Figura 8, formam-se a partir do momento que as tensões de tração no concreto ultrapassam sua resistência fct e se abrem na direção da trajetória de tensões trativas, sendo sempre perpendiculares à direção da tensão principal de tração. As tensões principais de tração 1 devem ser resistidas por uma armadura de cisalhamento que atravesse as fissuras. As tensões principais de compressão 2 são resistidas pelo concreto comprimido, localizado entre as fissuras (bielas de compressão). Figura 8 – Inclinação das Fissuras nos Estádios II e III A amplificação da abertura das fissuras indicadas nas figuras anteriores tende a partir a viga em dois corpos. A disposição da armadura transversal, indicada nas Figuras 9 e 10, impede a evolução e restringe a abertura destas fissuras. O natural é dispor a armadura sempre na direção principal de tração, perpendicular à fissura, conforme mostra a Figura 9. Por isso, a armadura transversal, que combate as fissuras devido ao cisalhamento, era disposta, em princípio, a 45º e a armadura de flexão, que combate as fissuras de flexão, é colocada horizontalmente. Devido a aspectos construtivos, a armadura para combater o cisalhamento é montada a 90º, conforme indicado na Figura 10. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 98 Figura 9 – Disposição dos Estribos na Direção das Trajetórias de Tração Figura 10 – Disposições dos Estribos Verticais A armadura de flexão ancorada junto aos apoios exerce também função importante, ainda que de ordem secundária. abertura de fissuras controlada por estribos abertura de fissuras controlada por estribos UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 99 Figura 11 – A Função da Armadura Transversal Na atualidade, a técnica de armar fica praticamente restrita a disposição acima. VI.3 OS ENSAIOS MONITORADOS VI.3.1 – Os Ensaios Solicitados a Cortante em Elementos Lineares A formação de um modelo de dimensionamento para elementos submetidos a cortantes tem também como ponto de partida a realização de ensaios instrumentados para aquisição de dados. Os ensaios de Sttutgart, nos quais vigas de concreto armado são rompidas e monitoradas do início do carregamento até seu colapso final, foram descritos nos estudos de dimensionamento à flexão que conduziram às conclusões sobre Estádios e binário interno resistente. Estes ensaios podem ser reorientados em seus objetivos, de forma que as peças não atinjam o colapso por flexão e sim por cortante. São realizados em vigas isostáticas simplesmente apoiadas, de concreto armado, submetidas à ação de duas cargas concentradas crescentes e equidistantes em relação à linha de simetria do elemento conforme indicado na Figura 12. Figura 12 – Viga Ensaiada: Cargas Concentradas e Estribos Verticais UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 100 As peças são armadas com armadura longitudinal de flexão no bordo tracionado e armadura transversal para cortante, constituída por estribos verticais. Os ensaios são inteiramente monitorados a partir de instante inicial de aplicação das cargas concentradas, que, com intensidade crescente, levam gradativamente as peças ao colapso final, caracterizado por suas ruínas. Ajustando-se as dimensões da seção das vigas e a quantidade da armação transversal. Pode-se também desdobrar a ruptura por cortante nas formas em que esta pode ocorrer: 1. Ruptura pelo alongamento excessivo do aço da armadura transversal. 2. Ruptura pelo esmagamento do concreto na região da biela comprimida. As Figuras 13 e 14 indicam, respectivamente, as configurações finais das vigas ensaiadas, rompidas pelo aço tracionado e pelo esmagamento do concreto comprimido. O quadro fissuratório, com distribuição, inclinação e abertura de fissuras, embora distinto para cada caso anterior, mantém como ponto comum a inclinação das fissuras na medida em que estas se afastam da região central da peça, onde a flexão é máxima e o cortante é mínimo. Figura 13 – Quadro na Ruptura por Cortante: Alongamento Excessivo do Aço dos Estribos Alongamento excessivo da armadura de cortante UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 101 Figura 14 – Quadro na Ruptura por Cortante: Esmagamento do Concreto VI.3.2 – A Configuração das Tensões Segundo os Ensaios a Cortante A aquisição e processamento de dados durante os ensaios oferecem uma visualização do comportamento estrutural da peça e do seu fluxo de tensões internas, em especial nos momentos que precedem o colapso final e ruína do elemento. Tanto na ruptura pelo aço tracionado como na que se dá pelo concreto comprimido, representada, respectivamente, pelas Figuras 13 e 14, pode-se observar o comportamento integral da peça, configurado na Figura 15 e a seguir descrito: Figura 15 – Quadro na Ruptura por Cortante: Alongamento do Aço No trecho central: A peça submetida exclusivamente à flexão resiste internamente formando um bloco de tensões compressivas junto ao bordo superior equilibrado pela armadura ruptura por esmagamento da biela comprimida UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 102 tracionada junto ao bordo inferior, funcionando de acordo com modelo do binário interno resistente à flexão (já estudado). Nos trechos extremos: A peça rompendo por cortante apresenta fissuração com inclinação variando entre 30º e 60º, com fissuras e trincas tanto mais abertas e mais inclinadas à medida que se aproximam dos apoios; Entre as fissuras inclinadas formam-se diagonais de concreto comprimido; A armadura transversal atravessando as fissuras e tracionada. VI.4 A ANALOGIA da TRELIÇA DE MÖRSCH Mörsch, no início do séculoXX, percebeu que a complexidade do comportamento integral da peça poderia ser superada a partir das seguintes observações extraídas dos resultados dos ensaios na fase de ruptura. O conjunto de diagonais comprimidas poderia ser visto como um arco natural onde o concreto absorveria a compressão gerada pela descida das cargas concentradas em direção aos apoios. (Figura 16) Figura 16 – Descida de Cargas Formando Arco de Concreto Comprimido Um exame detalhado deste arco de concreto no momento da ruptura da peça indicaria que a descida da carga, em função da fissuração e por não encontrar apoio nos pontos intermediários, só poderia ser equilibrada sendo “suspensa” pela armadura transversal, para logo em seguida descer por outra diagonal comprimida, sendo novamente suspensa, até o ciclo se encerrar no apoio onde a carga encontraria sua descida efetiva (Figuras 17 e 18). UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 103 Figura 17 – Diagonais Comprimidas e Estribos Tracionados Figura 18 – Simplificação do Caminhamento da Carga O modelo teórico idealizado por Mörsch consiste em se associar o funcionamento da peça ao de uma treliça isostática, no qual as armaduras e o concreto, trabalhando em conjunto, equilibrassem o esforço cortante. Este mecanismo pode ser visualizado em dois estágios: 1º Estágio de Modelagem da Treliça Clássica de Mörsch: Treliçado Mörsch assume que a fissuração da peça nos trechos extremos se dá a 45º, denominando cada uma das diagonais de concreto situadas entre as fissuras “bielas comprimidas”. Os estribos que atravessam as fissuras mantendo a integridade do elemento são denominados “montantes tracionados”. O bordo superior forma o “banzo comprimido” em concreto e o bordo inferior constitui o “banzo tracionado” composto pela armadura longitudinal de flexão. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 104 Figura 19 – Formação da Treliça Hiperestática: o 1º Estágio O resultado é uma estrutura treliçada de elevado grau de hiperestaticidade imprópria ainda para representar um modelo teórico. 2º Estágio de Modelagem da Treliça de Mörsch: Condensação Buscando uma configuração de treliça isostática, Mörsch condensa diversas bielas comprimidas representando-as por poucas bielas com áreas equivalentes de seção transversal. Da mesma forma, poucos montantes tracionados passam a representar, com área maior, a totalidade de estribos da peça. Tendo em vista o ângulo de 45º para fissuras e bielas entre elas confinadas, a configuração de uma treliça isostática só pode ser alcançada se o conjunto de bielas e tirantes for condensado em intervalos “h” iguais a altura da treliça, definida pela distância entre os eixos dos elementos que formam seus banzos comprimido e tracionado. Como já estudado no dimensionamento à flexão, esta distância corresponde ao braço de alavanca “z”. A Figura 20 representa esta condensação e a treliça isostática que dela resulta. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 105 Figura 20 – Formação da Treliça Isostática: 2º Estágio Assim, fica formado o modelo denominado Treliça de Mörsch, com o concreto contribuindo com os sub-elementos comprimidos: banzo e bielas; o aço com os sub- elementos tracionados: banzo e montantes. VI.5 DIMENSIONAMENTO ao CORTANTE PELA NORMA BRASILEIRA A norma permite dois tipos de verificação para o cortante, uma mais simples (Modelo de Cálculo I) e outra mais sofisticada (Modelo de Cálculo II). MODELO DE CÁLCULO I No Modelo de Cálculo I o ângulo das bielas de compressão é considerado = 45° e as armaduras, no caso estribos = 90° - a norma permite variação de 45° a 90°, mas na prática atual do concreto armado não se usam mais estribos inclinados e nem barras dobradas. A parcela complementar Vc, absorvida pelo concreto, independe do esforço cortante Vsd. Com base na Analogia da Treliça, o concreto, que funciona como biela de compressão, é verificado para que não ultrapasse 0,85fcd e o aço que funciona na forma de estribos é quantificado para que determine sua área por unidade de comprimento, definindo-se o As e o espaçamento “s” dos mesmos. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 106 VI.5.1 – Verificação do Concreto: Vsd<Vrd2. Estudando o equilíbrio da treliça através de duas seções de Ritter (A-A e B-B), ilustradas na Figura 21, tem-se: Figura 21 – Tensão de Compressão na Alma Tem se então as equações de equilíbrio adiante indicadas: sd o bd VF 45cos (6.3) o sd bd V F 45cos (6.4) A força resultante de compressão na biela é representada por Fbd e calculada fazendo o equilíbrio de forças, conforme indicado na Figura 21. A tensão média de compressão no concreto, atuante na alma é representada por cd.e calculada por: b5,0d9,0 V b45cosz 45cos V A F sd o o sd bd cd (6.5) bd Vsd cd 5,09,0 (4) onde A é a área da seção transversal da biela. Vsd Fbd cd Vsd Fbd z 45º A A B B UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 107 A tensão limite no concreto, considerando-se o efeito Rüsch seria: cdmáx cd f85,0 (5) Porém, alguns fatores, relacionados a seguir, afetam a tensão na biela e não são considerados nesta analogia. As fissuras na peça de concreto não são exatamente paralelas e, portanto, nos seus pontos mais estreitos, a tensão na biela aumenta; Figura 18 – Estreitamento da Biela com Aumento da Tensão Compressiva A ligação rígida entre a biela e o banzo comprimido produz flexão, além da compressão, majorando-se a tensão normal de compressão; O fato de a biela estar atravessada por barras tracionadas acarreta em uma diminuição da tensão última de ruptura nesta; Por esses fatores, o limite da tensão de compressão na alma é reduzido a 70% da tensão de 0,85 fcd: cdcdcd ff 6,085,07,0máx (6) Além disso, considera-se um fator de segurança de redução que aumenta com a resistência do concreto, v. A tensão máxima de compressão do concreto passa a ter a seguinte expressão: Ligação rígida no nó UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 108 vcdcd f 6,0máx (7) onde: 250 f 1 ckv (8) Igualando-se cd a cd Máx, deduz-se a expressão da força cortante resistente de cálculo pela ruptura do concreto (Vrd2): cdcd máx (9) bd V f sdcdv 5,09,0 6,0 (10) cdvsd fdbV 6,09,05,0máx (11) máx 2 sdrd VV (12) dbfV cdvrd 27,02 (13) A verificação do concreto à ruptura pela ruína das diagonais comprimidas de concreto (bielas) é satisfeita se: 2rdsd VV (14) VI.5.2– Cálculo da Armadura Transversal – Asw: Vsd < Vrd3 = Vc + Vsw Para o cálculo da armadura transversal deve-se satisfazer a seguinte condição: swcrdsd VVVV 3 (15) UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 109 Sendo: Vrd3 – Força cortante resistente de cálculo por ruptura do aço; Vsw – Parcela da força cortante transportada pela armadura transversal; Vc – Parcela da força cortante absorvida por mecanismos complementares (efeito de pino, engrenamento dos agregados nas fissuras, participação do banzo comprimido, etc.), indicados na Figura 19. Figura 19 – Mecanismos Complementares (Fusco) a) Banzo Comprimido: Em vigas altas de pequeno porte, biapoiadas, a força de cisalhamento pode ser transmitida diretamente aos apoios pelo efeito de arco, mostrado na Figura 20. Figura 20 – Mecanismos Complementares (Fusco) b) Engrenamento dos agregados graúdos (Fig.21): este engrenamento permite que haja a transmissão de forças oblíquas através das fissuras de flexão. A transmissão de esforços permitida pelo engrenamento dos agregados, particularmente dos grãos de agregado graúdo, amplia a zona colaborante de concreto tracionado que transfere as forças cortantes. Esta área de contato é UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 110 tanto maior quanto menor a abertura da fissura e maior quantidade de agregado graúdo. Figura 21 – Engrenamento dos agregados (Fusco) c) Efeito de pino: é gerado pela armadura longitudinal de tração. O aço é submetido a deformações transversais em relação ao eixo da barra, relacionadas aos mecanismos de corte e flexão das barras causadas pela distorção, conforme ilustra a Figura 22. Este efeito amplia a região de concreto colaborante na transmissão das forças cortantes. Figura 22 – Efeito de Pino (Fusco) A parcela Vc, considerando somente flexão simples, pode ser calculada como: a) Elementos estruturais tracionados quando a linha neutra se situa fora da seção: 0Vc (16) b) Na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a seção: dbf6,0VV wctd0cc (17) UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 111 onde: Vc0 representa a resistência ao cortante de uma viga sem estribos, ou seja, é a força cortante que uma viga sem estribos pode resistir. Essa força tem valor empírico e é devida à soma de outras três forças, difíceis de serem quantificadas, que são: Vcc (força cortante resistida pela região de concreto comprimido pelas tensões da flexão), Vengr,y (componente vertical do cortante resistido pelo engrenamento dos agregados ao longo da fissura inclinada) e Vpino (força cortante devida ao efeito de pino da armadura longitudinal). fctd é a resistência à tração do concreto, dada por: 𝑓𝑐𝑡𝑑 = 𝑓𝑐𝑡𝑘,𝑖𝑛𝑓 𝛾𝑐 = 0,7𝑓𝑐𝑡𝑚 𝛾𝑐 (18) Com: fctk,inf sendo o valor inferior da resistência média à tração do concreto; fct,m sendo a resistência média à tração. Para concretos com fck até 50 MPa: 𝑓𝑐𝑡,𝑚 = 0,3 × 𝑓𝑐𝑘 2/3 (19) Para concretos com fck de 50 a 90 MPa: 𝑓𝑐𝑡,𝑚 = 2,12 × ln(1 + 0,11 × 𝑓𝑐𝑘) (20) Com fct,m e fck expressos em megapascals (MPa). c) Na flexo-compressão: 0c máx,sd 0 0cc V2 M M 1VV (21) onde: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 112 M0 é o momento fletor que anula a tensão normal de compressão na borda da seção (tracionada por Md,máx) provocada pelas forças normais de diversas origens concomitantes com Vsd; Msd,máx é o momento fletor de cálculo, máximo no trecho em análise, que pode ser tomado como o de maior valor no semi-tramo considerado, (para esse cálculo, não se consideram os momentos isostáticos de protensão, apenas os hiperestáticos). Com o valor de Vc conhecido, calcula-se a parcela do esforço cortante a ser resistida pela armadura transversal: csdsw VVV (22) A resultante de tração, Rs, no montante, representado na Figura 1.23, é relativa ao comprimento de influência z, medida na direção do seu eixo longitudinal, que deve ser resistida por uma armadura Asw, composta por barras espaçadas pela distância s. Figura 23 – Mecanismo de Funcionamento da Armadura Transversal De acordo com a Figura 19, a área total de armadura no comprimento z é dada por: s z AA swtotsw , (23) UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 113 A tensão correspondente nos montantes para a treliça clássica é: totsw s sw A R , (24) Como: sds VR (25) E, substituindo-se (20) em (21), tem-se: zA sV A V sw sd totsw sd sw , (26) Onde: Asw – Armadura transversal; s – Espaçamento longitudinal entre armaduras transversais; Fywd – Tensão de escoamento do aço de armadura transversal (w). A premissa básica neste dimensionamento a cortante é a de que a ruptura acontece por escoamento do aço e não pelo esmagamento da biela comprimida. Assim, tem-se a tensão no aço expressa por: ywdsw f (27) Substituindo-se z por 0,9 d e Vsd por Vsw, a equação (25) modifica-se para: dA sV f sw sw ywd 9,0 (28) Ou UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 114 ywd swsw fd V s A 9,0 (29) Essa equação indica a quantidade de armação transversal por metro, sendo usualmente expressa em cm2/m. A taxa volumétrica de armadura transversal é a relação entre a área da seção da armadura transversal e a área da seção de concreto que a envolve, expressa por: senbs A w sw w (30) Para estribos verticais, α = 90º, daí: w sw w bs A (31) Portanto, para definir a área de aço pormetro a partir da taxa volumétrica de armadura, faz-se: ww sw b s A (32) Obs.: A NBR 6118/14 (item 17.4.2.2) limita a tensão fywd ao valor de fyd para a armadura transversal constituída por estribos, e a 70% de fyd quando forem utilizadas barras dobradas inclinadas, não se tomando, para ambos os casos, valores superiores a 435 MPa. MODELO DE CÁLCULO II As diagonais de compressão têm inclinação variável entre 30º e 45º com relação ao eixo longitudinal do elemento estrutural. Admite-se que a parcela complementar Vc tenha redução com o aumento de Vsd. Na verificação do concreto comprimido a expressão do Vrd2 passa a ser: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 115 gcotgcotsendbf54,0V 2cd2v2rd (33) A armadura transversal é dada por: sengcotgcotfd9,0 V s A ywd sw,sw (34) Sabe-se que: csdsw VVV (35) Com Vc dado por: a) Elementos estruturais tracionados quando a linha neutra se situa fora da seção: 0Vc (36) b) Na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a seção: 1cc VV (37) sendo: 0c1c VV , quando 0csd VV (38) 0V 1c , quando 2rdsd VV (39) Interpola-se linearmente para valores intermediários. c) Na flexo-compressão: 1c máx,sd 0 1cc V2 M M 1VV (40) UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 116 A Figura 24 ilustra o gráfico de variação de Vc1 com Vsd. Para Vsd maior que Vc0, a força Vc1 é dada por: 0c2rd sd2rd 0c1c VV VV VV (41) Figura 24 – Variação de Vc1 VI.6 DETALHAMENTO da ARMADURA TRANSVERSAL: DISPOSIÇÕES GERAIS VI.6.1 – A Evolução da Técnica de Armar A dificuldade em se lidar apropriadamente com as solicitações cortantes no concreto armado, no início do século passado, fica evidenciada na Figura 25, pela disposição da armadura segundo as trajetórias de tração. Ideia que foi muito discutida, porém abandonada em razão da complexidade construtiva dela derivada. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 117 Figura 25 - Disposição da Armadura Segundo Trajetórias de Tração A Figura 26 indica a evolução natural do conceito anterior, tendo sido por muito tempo empregado. Esta forma de armar, proposição aparentemente melhor, permitia que as barras de flexão fossem dobradas na medida em que esta solicitação diminuía, resistindo assim ao cortante na medida em que este aumentava. Gradativamente, por questões de ordem executiva e também em função de restrições normativas, que vieram a se impor, foi também abandonada. Figura 26 - Armadura única com Dupla Função: Barras Dobradas A Figura 27 indica solução largamente empregada no passado, na qual se faz a separação das armaduras de flexão e cortante. A armadura longitudinal é mantida retilínea em toda a sua extensão e a armadura para resistir ao cortante, denominada estribos, é formada por barras verticais fechadas, envolvendo as de flexão e inclinadas a 45º. Foi bem utilizada até que, por questões de simplificação construtiva também entrou em desuso. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 118 Figura 27 - Separação das Armaduras: Longitudinal e Estribos Inclinados Por fim, a verticalidade dos estribos, apresentada na Figura 28, faz com que estes percam eficiência na mesma proporção em que se afastam da inclinação natural da trajetória de tensões internas e da abertura de fissuras. Compensam este fato, com comprimentos inferiores aos estribos inclinados e com a simplificação dos procedimentos executivos. Na atualidade, é praticamente a única solução usada em armadura passiva, tanto por razões construtivas como pelas restrições normativas às demais alternativas. Figura 28 - Separação das Armaduras: Longitudinal e Estribos Verticais VI.6.2 – Armadura Mínima A existência de uma armadura mínima, segundo Garcia (2002), deve ser disposta no interior das vigas para atender os seguintes objetivos: a) as vigas não apresentem ruptura brusca logo após o surgimento das primeiras fissuras inclinadas caso surjam carregamentos não previstos no cálculo; b) limitar a inclinação das bielas e a abertura das fissuras inclinadas; UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 119 c) evitar a flambagem da armadura longitudinal comprimida. Conforme a NBR 6118/03 (item 17.4.1.1), todas as vigas com bw 5d (d = altura útil) devem ter uma armadura transversal mínima constituída por estribos, com a seguinte taxa geométrica: ywk ctm w sw sw f f 2,0 sensb A (42) onde: Asw é a área transversal dos estribos; s é o espaçamento dos estribos, medido segundo o eixo longitudinal do elemento estrutural; é a inclinação dos estribos em relação ao eixo longitudinal do elemento estrutural; bw é a largura média da alma, medida ao longo da altura da seção; fywk é a resistência ao escoamento do aço da armadura transversal; fct,m é a resistência média à tração do concreto dada por: MPa) em (f ,f3,0f ck 3 2 ckm,ct (43) Isolando s Asw na eq. (42) e fazendo como armadura mínima, tem-se: senb f f 2,0 s A w ywk ctmmín,sw (44) UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 120 com: mín,swA é igual a área da seção transversal de todos os ramos verticais do estribo (cm2/m); bw em cm; fywk em kN/cm2. VI.7 DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS VI.7.1 – Diâmetro dos Estribos O diâmetro da barra do estribo de estar compreendido entre: 10 b mm 5 wt (45) Para barra lisa, o diâmetro deve ser inferior a 12,5 mm; Para estribos formados por telas soldadas, o diâmetro mínimo pode ser reduzido para 4,2 mm, desde que sejam tomadas precauções contra a corrosão dessa armadura. VI.7.2 – Espaçamento Mínimo e Máximo entre os Estribos Segundo a NBR 6118/03, item 18.3.3.2: “O espaçamento mínimo entre estribos, medido segundo o eixo longitudinal do elemento estrutural, deve ser suficiente para permitir a passagem do vibrador, garantindo um bom adensamento da massa”. Portanto, cm 1s vibr (46)UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 121 Objetivando-se evitar que uma fissura não seja interceptada por pelo menos um estribo, o espaçamento entre estribos não deve ser maior que: mm 200d3,0s então ,V67,0 mm 300d6,0s então ,V67,0 V máx2Rd máx2Rd sd (47) VI.7.3 – Espaçamento Máximo entre os Ramos Verticais dos Estribos O espaçamento transversal (st) é usado para definir o número de ramos verticais que deve ser especificado para os estribos, principalmente no caso de estribos de vigas largas. Recomenda-se que vigas largas com bw maior que 40 cm devem ter estribos com mais de dois ramos verticais. Se a distância entre os ramos superar o espaçamento máximo permitido, deve- se então, aumentar o número de ramos, geralmente em números pares para que os estribos sejam idênticos. O maior número de ramos é obtido sobrepondo-se os estribos na mesma seção transversal, como mostrado na Figura 29. Figura 29 – Estribos com quatro ramos O espaçamento transversal entre os ramos verticais sucessivos dos estribos não deve exceder os seguintes valores: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 122 mm 350d6,0s então ,V20,0 mm 800ds então ,V20,0 V máxt,2Rd máxt,2Rd sd (48) VI.7.4 – Emendas dos Estribos O item 18.3.3.2 da NBR 6118/14 explica que: “As emendas por traspasse são permitidas apenas quando os estribos forem constituídos por telas ou por barras de alta aderência”. VI.7.5 – Ancoragem dos Estribos “A ancoragem dos estribos deve ser necessariamente ser garantida por meio de ganchos ou barras longitudinais soldadas” (item 9.4.6, NBR 6118/03) O diâmetro interno da curvatura dos estribos deve ser, no mínimo, igual ao índice dado na Tabela 1 (9.2 NBR 6118/03) A Figura 30 ilustra esquematicamente os tipos de ganchos: Os ganchos dos estribos podem ser: a) Semicirculares ou em ângulo de 45º (interno), com ponta reta de comprimento igual a 5t, porém não inferior a 5 cm; b) Em ângulo reto, com ponta reta de comprimento maior ou igual a 10t, porém não inferior a 7 cm (este tipo de gancho não deve ser utilizado para barras e fios lisos). Tabela 1 – Diâmetro dos Pinos de Dobramento para Estribos Bitola (mm) Tipo de Aço CA - 25 CA - 50 CA - 60 10 3 t 3 t 3 t 10< < 20 4 t 5 t - 20 5 t 8 t - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL CURSO DE CONCRETO ARMADO Capítulo VI – Dimensionamento à Cortante MAYRA PERLINGEIRO, LEONARDO VALLS e EDUARDO VALERIANO pág. 123 Figura 30 – Tipos de Ganchos
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