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1 Hashtags: palavras, expressões, textos ou hipertextos? Hashtags: words, expressions, texts or hipertexts? Claudiene Diniz da Silva1 UFMG, Minas Gerais Resumo Este trabalho visa refletir sobre a relação entre as hashtags e a noção de texto e mais especificamente de hipertexto digital. Nossa motivação foi o profícuo uso das hashtags nas redes sociais e o fato delas constituírem hiperlinks, que são elementos caracterizadores dos hipertextos. As hashtags são aquelas palavras/expressões/frases/cadeia de caracteres precedidas pela cerquilha “#”, que surgiram para agrupar assuntos em comum na rede de internet, facilitando a busca desses conteúdos, mas foram agregando novas funcionalidades como forma de expressão de opinião, estratégia de ancoragem, etc. Nesse estudo, apresentamos uma discussão sobre a noção de texto e hipertexto, utilizando os pressupostos teóricos de Gomes (2010) e Coscarelli (2012), passamos pelo conceito de hiperlink de Gualberto (2012) e propomos uma relação entre esses conceitos e as hashtags, tentando observar os pontos em comum e as idiossincrasias das hashtags. Palavras-chave: hashtags, hipertexto, hiperlinks. Abstract This paper aims to reflect on the relationship between hashtags and the notion of text, and more specifically digital hypertext. Our motivation was the profitable use of hashtags on social networks and fact constitute hyperlinks, elements that characterize hipertexts. The hashtags are those words/phrases /sentences /set of characters preceded by the pound sign "#", that emerged to group issues in common in the internet network, facilitating the search of these contents, but have been adding new features as a form of expression of opinion, strategy anchoring, etc. In this study, we present a discussion of the notion of text and hypertext, using the theoretical assumptions of Gomes (2010) and Coscarelli (2012), passed by the concept of hyperlink Gualberto (2012) and propose a relationship between these concepts and hashtags, trying to observe the common points and the idiosyncrasies of hashtags. Keywords: hashtags, hypertext, hyperlinks. 1diennedinniz@hotmail.com 2 Introdução Novas tecnologias desencadeiam transformações em antigos paradigmas. Quando o assunto é texto, podemos afirmar que novos conceitos foram desenvolvidos, surgiu o hipertexto e as mudanças não param por aí. Considerando essas mudanças, propormos uma reflexão sobre a relação entre as noções de texto, hipertexto e as hashtags, aquelas palavras ou expressões precedidas pela cerquilha (#), usadas comumente nas redes sociais virtuais. As perguntas motivadoras desse estudo são: as hashtags são somente palavras ou expressões ou podem ser consideradas textos? As hashtags podem ser hipertextos? Essas perguntas nos levaram às hipóteses a seguir: (a) algumas hashtags podem ser consideradas textos e outras fazem parte de texto e (b) se as hashtags contem hiperlinks, e podem ser consideradas textos, logo elas também são hipertextos. Partindo das perguntas e das hipóteses levantadas, propomos um estudo cujo objetivo principal é discutir a relação das hashtags com as noções de texto e hipertexto. Para alcançar o objetivo proposto, apresentaremos uma caracterização das hashtags, posteriormente faremos uma breve exposição sobre os conceitos de texto e hipertextos e afins, utilizando Cafiero (2002), Coscarelli (2012), Gomes (2010), para então apresentarmos uma análise que demonstre a relação entre esses elementos. Nossa conclusão consistirá na confirmação ou refutação das hipóteses propostas. 1 O que são hashtags? A hashtag é um termo de origem inglesa, composto pela junção de hash (cerquilha - #) e tag (etiqueta). Ela surgiu na década de 1990 no site de bate-papo chamado Internet Relay Chat (IRC)2 com o intuito de organizar os assuntos desse site. Mas em 2007, as hashtags se tornaram popularizaram ao serem usadas pelo Twitter, uma rede social com mais de 284 milhões de usuários. Nessa rede social, as hashtags começaram a ser usadas para reunir temas afins e identificá-los com palavras-chaves, facilitando sua busca. Com o passar dos anos, novas funções foram agregadas as hashtags e seu uso foi estendido para outras redes sociais, como o Instagran, o Facebook, Vine, Flickr, Google+ e também fora do mundo virtual. Atualmente elas são usadas em campanhas publicitárias; campanhas sociais de cunho filantrópico, ecológico, político; como recurso para demonstrar a opinião das pessoas, etc. Segundo Cunha (2012), que pesquisou sobre a “a etiquetagem de micromensagens no Twitter”, “as hashtags são cadeias de caracteres (apenas letras, números e traços inferiores/underscores) criadas livremente pelos membros da rede a fim de adicionar contexto e metadados às postagens, funcionando muitas vezes como palavras-chave dos tweets.” (CUNHA, 2012, p.4). 2Internet Relay Chat (IRC)- é um protocolo de comunicação utilizado na Internet basicamente como bate-papo (chat) e troca de arquivos, permitindo a conversa em grupo ou privada. Sua primeira documentação data de 1993. 3 Ainda que este autor ancore seu conceito de hashtags no Twitter, Cunha (2012) expõe importantes características delas. O primeiro é o fato de as hashtags constituírem uma cadeia de caracteres que formam um bloco único, sem espaço entre as palavras e/ou números que as compõem, como por exemplo,#ironia, #8demarço, #nãovaitercopa, #somostodosmacacos. Outro ponto importante é a ideia de adicionar contexto, pois há casos em que as hashtags servem de âncora temporal e/ou espacial para o que está sendo dito, como no exemplo “O que seria de mim sem elas? #DiadasMulheres #8deMarço”, em que “elas” só podem ser identificadas pela hashtag #DiadasMulheres. Outro conceito de hashtag é apresentado por Alves Filho et al. (2012, p.86), para quem as hashtags são etiquetas usadas pelos tuiteiros para marcar postagens, que, ao serem precedidas do símbolo “#”, tornam-se links que conduzem a uma lista de postagens contendo a mesma hashtag. No entanto, o que diferencia as hashtags do Twitter das usadas, por exemplo, em blogs ou sites é o seu caráter condensador de opiniões, de informações e de conhecimento compartilhado, relacionado a funções sociais mais diversificadas do que a simples organização ou marcação de conteúdo. Logo, podemos afirmar de modo geral que as hashtags apresentam cinco usos mais gerais: marcação de assunto, desambiguação de postagens, ancoragem da imagem, expressão de opinião e fins publicitários. Os marcadores de assunto indicam o tema das postagens e funcionam como indexadores, facilitando buscas do assunto por outros usuários, como as hashtags#saúde e #lookdodia. Os ancoradores de imagem, assim como os marcadores, indicam um lugar, uma atividade social da imagem que acompanham, como #poa, #cidademaravilhosa, #RiodeJaneiro. As hashtags que ancoram imagens são muito comuns na rede social Instagran e na maioria das postagens são a única forma linguística presente nas postagens. Já as hashtags para expressão de opinião são diversificadas, podem ter cunho político ou não, por exemplo, #somostodosmaju, #adoro, #prontofalei, #foradilma, #AnulaSTF. E há ainda as hashtags utilizadas em campanhas publicitárias, dentro ou fora da rede de internet, como #jogapramim durante a Copa do Mundo de 2014, veiculada pela Empresa Sadia. Tendo em vista as funcionalidades das hashtags e o fato delas se tornarem hiperlinks capazes de conduzir a uma lista de postagens com a mesma hashtag, pensamos numa possível relação entre elas e a noção de hipertexto.Será que podemos afirmar que as hashtags são hiperlinks com as mesmas características daqueles que compõem os hipertextos? E aquelas hashtags que aparecem com imagens como única informação, podem ser consideradas textos? As respostas para essas indagações dependem dos conceitos de texto e hipertexto. E esse será o assunto do tópico a seguir. 2. Texto e hipertexto: conceituação Muitos estudos foram desenvolvidos na tentativa de conceituar texto e posteriormente hipertexto. Tendo em vista que o objetivo do nosso estudo é apresentar a relação entre eles e as hashtags, apresentaremos aqui os conceitos propostos Coscarelli (2012), autora que se dedica ao estudo da leitura de 4 hipertextos, e consequentemente trabalha com a noção de texto e hipertexto. Além dessa autora, utilizaremos reflexões apresentadas por Gomes (2010) sobre hipertexto e por Gualberto (2012) sobre hiperlinks. Coscarelli (2012) adota a concepção de texto de Costa Val (1993, p.3), para quem o “texto é uma ocorrência de linguística, escrita ou falada de qualquer extensão”, mas a autora acrescenta a esse conceito que outras linguagens podem estar associadas a essa ocorrência. Conforme Coscarelli (2012), o texto não é um evento comunicativo, mas faz parte dele, um produto dele. Coadunando com essa visão, Cafiero (2002, p.31) explica que: O texto, então, entendido como uma unidade linguística concreta, é um conjunto organizado de informações conceituais e procedimentais (instruções de como ligar essas informações), que media a comunicação. É um produto de um ato discursivo, isto é, está sempre marcado pelas condições em que foi produzido e pelas condições de sua recepção. Conforme Coscarelli (2012), essa definição de texto serve tanto para texto como para hipertexto. Lembramos que os hipertextos podem ou não ser digitais, haja vista que “jornais e revistas impressos podem ser considerados hipertextos” (COSCARELLI, 2012, p.149), pois contém recursos hipertextuais como os índices e as notas de rodapé. Considerando que as hashtags ocorrem predominantemente no ambiente digital, nosso foco está centrado no conceito de hipertexto digital. Uma vez que o conceito de texto serve para hipertexto, vale acrescentar que o hipertexto digital, por estar em um ambiente digital, engloba “elementos não verbais que sinalização a navegação do ambiente” (COSCARELLI, 2012, p.149). Coscarelli (2012, p.149) apresenta a seguinte definição para hipertexto digital: um conjunto de nós, textos ou unidades de informação verbais ou não verbais (como imagens, animações, filmes, sons, etc.), conectados a outros por links, ou seja, elementos que nos levam a outros nós e que costumam ser indicados por palavras sublinhadas escritas em azul ou por ícones, mas nada impede que outros recursos sejam usados como para marcar os links disponíveis. Já Gomes (2010) explica que muitos dos estudos que tentam definir hipertexto partem de comparações com o texto impresso, deixando de lado suas características linguísticas e não considerando suas possibilidades inovadoras. Esse autor afirma que “quando procuramos entender o que é hipertexto, encontramos certa confusão – e a uma mistura - de suas particularidades linguísticas com sua usabilidade, de sua produção (design) com sua recepção (leitura e construção de sentidos)” (GOMES, 2010, p.20). O autor conceitua hipertexto a partir dos elementos que formam o termo (hiper+texto), isto é, “o termo hipertexto remonta à ideia do espaço hiperbólico criado em 1704 e que foi utilizado, no século XIX, pelo matemático F. Klein para demonstrar um ramo da geometria dedicada ao hiperespaço, ou ao espaço de muitas dimensões.” (GOMES, 2010, p.23). Logo, para Gomes (2010), o hipertexto é o texto multidimensional, considerando-se o texto (impresso) como uma unidade unidimensional. Esse autor também conceitua hipertexto como “produto de uma nova modalidade linguística no meio digital, que está sujeito aos limites e possibilidades inerentes ao meio.” (GOMES, 2010, p.32) 5 Gomes (2010) e Coscarelli (2012) defendem que uma diferença entre o texto e hipertexto está no suporte e na rapidez do acesso. Segundo Gomes (2010, p.28), há teóricos que apresentam como diferenças “a maior quantidade de informações disponíveis, devido à presença de links, à rapidez de acesso às informações e à possibilidade de combinar diversas modalidades impraticáveis no texto impresso”. Uma característica marcante em todos os conceitos de hipertextos apresentados foi a presença de links. Coscarelli (2012) afirma que o hipertexto é um conjunto de nós, textos ou unidades de informação verbais ou não verbais conectados a outros por links, já Gomes (2010) comenta que links ajudam a caracterizar o hipertexto. Mas o que são links? No próprio conceito de hipertexto apresentado por Coscarelli (2012, p.149), a autora responde que os links são “elementos que nos levam a outros nós e que costumam ser indicados por palavras sublinhadas escritas em azul ou por ícones”. Já Gomes (2010, p.64-65) explica que “o link é a unidade de conexão do hipertexto, ou ainda uma referência de documento a outro (link externo) ou de um local a outro no mesmo documento (link interno), que pode ser seguido eficientemente usando o computador”. Para Gualberto (2012), assim como para Gomes (2010), os hiperlinks (ou simplesmente links) representam uma característica do hipertexto digital. Gualberto (2012, p.41) explica que os hiperlinks funcionam “como ligações entre os nós, pois o hipertexto é constituído por nós (ou conceitos) e ligações ou hiperlinks (relações)”. Essa autora, ao estudar os hiperlinks como dispositivos linguísticos, afirma que eles funcionam como focalizadores de atenção, pois apontam para um lugar no espaço digital, isto é, um site que pode ser acessado a qualquer momento. Esse tipo de hiperlink Gualberto (2012) denominou de “hiperlinks dêiticos”, cujo caráter é essencialmente catafórico, pois leva o leitor para fora do texto que está na tela. Já em seus estudos do hiperlink como um dispositivo cognitivo, Gualberto (2012, p.41) baseando-se em Koch (2005), afirma que “o hiperlink exerce o papel de um compressor de cargas de sentido”, ou seja, os hiperlinks devem ser “capazes de acionar modelos (frames, scripts, esquemas, etc)” levando o leitor a inferir sobre o que poderá existir por trás de cada um deles. Gualberto (2012, p.41) alega que os hiperlinks funcionam como “portas de entrada para outros espaços, visto que remetem o leitor a outros textos virtuais que vão incrementar a leitura.” 3. Hashtags, textos e hipertextos: noções que se entrelaçam Ao passarmos pelos conceitos de hashtag, de texto, hipertexto e hiperlink, chegamos ao ponto alto da nossa proposta, apresentar possíveis relações entre esses conceitos. Comecemos com a afirmação de Alves Filho et al. (2012, p.87): “as hashtags são hiperlinks que ligam postagens (hipertextos)”. Concordamos com afirmação de Alves Filho et al. (2012), todavia acreditamos que as hashtags têm peculiaridades que devem ser destacadas. 6 Primeiro as hashtags são hiperlinks sim, mas nem sempre remetem a outros textos que tratam do mesmo tópico, como acredita Koch (2007, p.27), “os links (...) remetem sempre a outros textos que tratam de um mesmo tópico, complementando-se, reafirmando-se ou mesmo contradizendo-se uns aos outros”. Diferente dos demais links, algumas hashtags são utilizadas pelos usuários com o intuito de fazer parte dessa rede de links interconectados e não necessariamente para apresentar algo que diz respeito ao tópico do qual a “primeira” hashtag faz parte, já que, conforme explica Alves Filho et al. (2012, p.91) um grupo de usuários começa a usar uma hashtag e ela vai sendodisseminada entre as redes de contatos como uma micromeme até virar TrendingTopics3, usuários que nunca tinham pensado em usar aquela marcação podem passar a fazê-lo. Dessa forma, é possível que uma parte dos usuários parta da hashtag que virou micromeme para construir sua postagem, contribuindo com informações a mais a mais (comentando, contestando, acrescentando fotos, etc.) ou apenas repassando-a. Para exemplificar a afirmação acima, vejamos a imagem a seguir: Figura 1: Uso de hashtags do TrendingTopics não relacionadas à postagem SOARES, Eduardo Leal (@eduardo02687265). "#meteorshower assiste meu video se gostar inscreva-se obg agradeço muito". 13 de agosto de 2015, 10:44. Tweet. Na Figura 1, o usuário do Twitter convida os demais usuários para assistir seu vídeo sobre política. Para chamar a atenção de possíveis “espectadores”, o usuário começa sua postagem com a hashtag #meteoroshower, que nada tem a ver com política, mas está na lista das hashtags mais postadas no momento. A hashtag #meteoroshower é uma referência à chuva de meteoro anunciada pela NASA prevista para o dia 12 de agosto de 2015 (dia anterior a postagem do usuário @eduardo02687265). Nesse caso, podemos ver que o usuário utiliza a hashtag do TrendingTopic para se inserir na lista de postagens mais visualizadas do momento, e não para acrescentar algo sobre o assunto. Isso prova que, no caso da hashtag como hiperlink, nem sempre remeterá ao mesmo assunto, como afirmou Koch (2007). A Figura 1 também serve para rever a seguinte afirmação de Koch (2007, p.35): 3 Os TrendingTopics (TTs) ou Assuntos do Momento são uma lista em tempo real das frases mais publicadas no Twitter pelo mundo todo. 7 Hiperlinks e nós tematicamente interconectados serão, portanto, os grandes operadores da continuidade de sentidos e da progressão referencial no hipertexto, desde que o hipernauta seja capaz de seguir, de forma coerente com o projeto e os objetivos da leitura, o percurso assim indiciado. Diferentemente do que é defendido por Koch (2007), acreditamos que as hashtags não são um tipo de link que funciona como “operadores da continuidade de sentidos” e de “progressão referencial”. Como vimos na Figura 1, o uso da hashtag #meteoroshower pelo internauta não dá ideia de continuidade nem remete à mesma referência temática. Ainda que o “hipernauta” deseje saber sobre a chuva de meteoros, ao clicar na hashtag #meteoroshower, ele será apresentado a outras postagens que não tratam desse tema, como é o caso da Figura 1. Alves Filho et. al. (2012) também coaduana com nossas afirmações, ao explicita que: “a postagem com hashtag, considerada como hipertexto digital, possui um aspecto peculiar: ao clicar na hashtag, o leitor é levado a uma lista de textos que, muitas vezes, não estão relacionados ao objetivo temático do hipertexto “inicial”, embora sejam ligados pelo mesmo hiperlink.” (ALVES FILHO et al. 2012, p.91) Além de confirmar o que estamos propondo, a citação supracitada também aborda outro ponto importante para esse trabalho. Ao declarar que uma postagem de uma rede social como o Twitter é considerada um hipertexto, Alves Filho et. al. (2012) se aproxima das questões que nortearam essa pesquisa: as hashtags são somente palavras ou expressões ou podem ser consideradas textos? As hashtags podem ser hipertextos? Segundo Alves Filho et. al. (2012), toda postagem nas redes sociais com hashtag é um hipertexto, isto é, a postagem é um hipertexto e a hashtag é um dos elementos que compõem esse hipertexto. Entretanto, se partirmos do pressuposto segundo o qual o hipertexto para ser hipertexto tem que possuir hiperlinks, e que os hiperlinks que aparecem nas postagens são as hashtags, podemos afirmar que as hashtags transformam as postagens nas redes sociais (textos) em hipertextos (textos com links). Todavia, vale ressaltar que existem postagens compostas por outros links além da hashtag, como é o caso da Figura 1. Nesse exemplo, há a hashtag #meteoroshower, mas há também o link que remete a um vídeo sobre política. Mas só a hashtag pode ser considerada um texto/hipertexto? Vejamos o exemplo a seguir, extraído de outra rede social, o Instagram: Figura 2: Postagem do Instagram composta por foto e hashtags 8 RITO, Madeleine Boldero (@maddierito). "#ipanema #riodejaneiro #nofilter". A Figura 2 é composta por uma imagem da Praia de Ipanema da cidade do Rio de Janeiro, como mostram as hashtags #ipanema e #riodejaneiro. Já a hashtag #nofilter significa que nenhum filtro foi usado para deixar a imagem mais clara, mais nítida ou com algum efeito de cores, isto é, a iluminação e as cores são naturais. Nesse exemplo a postagem se resume às hashtags, e cada uma delas é um hiperlink, que pode direcionar o internauta a outras postagens com temáticas bem diferentes. Ao adotarmos conceito de texto proposto por Coscarelli (2012), isto é, o texto é uma ocorrência de linguística, escrita ou falada de qualquer extensão no qual outras formas de linguagens podem estar associadas a essa ocorrência, podemos considerar as hashtags textos/hipertextos. A Figura 2 reúne os dois elementos citados pela autora, ou seja, ocorrência linguística (as hashtags) e outra forma de linguagem (a imagem da Praia de Ipanema). Logo esse conjunto pode ser chamado de texto/hipertexto. Considerações finais Ao iniciarmos esse trabalho, tínhamos a pretensão de refletir sobre a relação da hashtag com as noções de textos e hipertexto. Para isso, fizemos alguns questionamentos e levantamos as seguintes hipóteses: (a) algumas hashtags podem ser consideradas textos e outras fazem parte de texto; (b) se as hashtags surgiram no meio digital, e são podem ser consideradas textos, logo elas também são hipertextos. Depois de passarmos pelo conceito de hashtag a partir de Cunha (2012), Alves Filho et. al. (2012), pelos conceitos de texto, hipertexto e hiperlinks de Gomes (2010), Coscarelli (2012) e Gualberto (2012), chegamos a estas conclusões: A hipótese (a) desse trabalho se confirmou, pois algumas hashtags podem ser textos, mas grande parte delas faz parte de textos, que são as postagens onde elas aparecem; A hipótese (b) também se confirmou. Por ser um hiperlink, ao se constituir como um texto, a hashtag automaticamente se constituirá um hipertexto; 9 Com as hipóteses confirmadas, chegamos à conclusão que as hashtags podem ser textos, podem ser hipertextos se estiverem no ambiente digital e que podem ser partes fundamentais de hipertextos, pois podem transformar, em alguns casos, textos em hipertextos. Concluímos ainda que as hashtags, como links, têm funcionamentos peculiares. Esse estudo tratou de alguns dos espaços em que as hashtags ocorrem (como o Twitter e o Instagram), em situações específicas. Acreditamos que há outras funcionalidades das hashtags que merecem ser exploradas, assim como os outros ambientes em que elas ocorrem. E esses outros aspectos nos direcionam para pesquisas futuras. Referências Bibliográficas ALVES FILHO, Francisco; CASTRO, Bruno Diego de Resende; ALEXANDRE, Leila Rachel Barbosa. #marcarporque – funções sociorretóricas das hashtags no Twitter. Revista do GEL, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 85-110, 2012. COSCARELLI, C. Texto versus hipertexto na teoria e na prática. IN: COSCARELLI, C. (ORG) Hipertexto na teoria e na prática. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2012. CUNHA, Evandro Landulfo Teixeira Paradel. A etiquetagem de micromensagens no twitter: uma abordagem linguística. Dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação do Instituto de Ciências Exatas – UFMG. Belo Horizonte 2012. GOMES, Luis FernandoHipertextos multimodais: Leitura e Escrita na Era Digital. Jundiaí: Paco Editorial, 2010. GUALBERTO, Ilza Maria Tavares. Os hiperlinks e o desafio das conexões em hipertexto enciclopédico digital. IN: COSCARELLI, C. (ORG) Hipertexto na teoria e na prática. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2012. KOCH, I. G. V. Hipertexto e construção do sentido. Alfa, São Paulo, v. 51, n. 1, p. 22-38, 2007.
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