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UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO 
Ensino de Jovens e Adultos 
 
 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO 
Ensino de Jovens e Adultos 
 
 2 
SUMÁRIO 
 
 PÀG. 
I – INTRODUÇÃO 01 
1.1. Qual é a “utilidade” da filosofia? 01 
1.2. As origens do pensamento filosófico 02 
1.3. A Cosmologia dos Pré-socráticos 02 
II – OS SOFISTAS 04 
2.1. Sócrates 05 
2.2. Platão 05 
2.3. Aristóteles 06 
III - OS FILOSÓFOS MODERNOS E A TEORIA DO CONHECIMENTO 07 
3.1. O racionalismo 08 
3.2. O empirismo 09 
3.3. O criticismo de Kant 11 
IV - PENSAMENTO E LINGUAGEM 11 
4.1. O que e Linguagem 11 
V – A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA 12 
5.1. Século XIX 12 
5.2. O século XX 15 
VI - AS DISCIPLINAS FILOSÓFICAS 17 
6.1. A Metafísica 17 
6.2. Epistemologia 19 
6.3. Ética 21 
VII - FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA 23 
VIII - ESTÉTICA 24 
IX - DIMENSÃO PEDAGÓGICA DA FILOSOFIA 25 
9.1. Abordagem Filosófica, Metafísica e Epistemológica da Formação da Pessoa 26 
X - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 28 
 
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO 
Ensino de Jovens e Adultos 
 
 3 
Parabéns! Você optou por fazer um curso 
na modalidade a distância, um processo diferente 
da modalidade presencial. 
Se este é seu primeiro contato com a 
filosofia, você certamente estará se fazendo a 
pergunta - O que é a filosofia? Se não é seu 
primeiro contato, você provavelmente já se deu 
conta de que esta não é uma das perguntas mais 
fáceis de serem respondidas. 
No processo educativo, se pensássemos a 
filosofia como um instrumento de desenvolvimento 
de nossa capacidade argumentativa isto já 
justificaria sua importância e relevância. 
Se pensarmos a reflexão filosófica apenas 
como treinamento lógico do pensar, estaremos 
desvirtuando a filosofia e toda sua história de 
interação e interesse pelo processo educacional. 
 
I - INTRODUÇÃO 
 
Há uma pergunta que muitos se fazem 
quando ouve falar de filosofia: que utilidade tem a 
filosofia? 
 
A filosofia, por mais que ignoremos tem 
exercido uma admirável influência até mesmo sobre 
a vida de gente que nunca ouviu falar nela. 
Indiretamente, tem sido destilada através de 
sermões, da literatura, dos jornais e da tradição oral, 
afetando assim toda a perspectiva geral do mundo. 
 
Você sabe qual a etimologia da filosofia? 
Pitágoras (séc. VI .a.C.) - também conhecido 
como matemático – usou pela primeira vez a 
palavra filosofia (philos-sophia), que significa 
“amor à sabedoria”. É bom observar que a própria 
etimologia mostra que a filosofia não é puro logos, 
pura razão: ela é a procura amorosa da verdade. 
A filosofia propriamente dita tem condições 
de surgir no momento em que esse pensar é posto 
em causa, tornando-se objeto de uma reflexão. 
Examinando a palavra reflexão temos 
diversos significados: refletir é retomar o próprio 
pensamento, pensar o já pensado, voltar para si 
mesmo e colocar em questão o que já se conhece. 
 
1.1. Qual é a “utilidade” da filosofia? 
 
 Para responder a essa questão, gostaria de 
saber o que você entende por utilidade? 
 
 A utilidade da filosofia está no fato de que 
ela, por meio da reflexão permite que o homem 
tenha mais que uma dimensão. A filosofia é a 
possibilidade de transcendência humana, a 
capacidade que só o homem tem de superar a sua 
imanência (situação dada e não escolhida). Pela 
transcendência o homem surge como um ser de 
projeto, capaz de construir o seu destino, capaz de 
liberdade. 
 A filosofia recupera o processo perdido no 
imobilismo das coisas feitas (mortas porque já 
ultrapassadas). A filosofia impede a estagnação. Por 
isso o filosofar sempre se confronta com o poder, 
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO 
Ensino de Jovens e Adultos 
 
 4 
não devendo sua investigação estar alheia à ética e à 
política. 
 A filosofia é a crítica da ideologia. 
Atentando para a etimologia grega correspondente à 
verdade, observamos que a verdade é pôr a nu 
aquilo que estava escondido, e aí reside a vocação 
do filósofo: o desvelamento do que está encoberto 
pelo costume, pelo convencional, pelo poder. 
 Finalmente, a filosofia exige coragem. 
Filosofar não é um exercício puramente intelectual. 
Descobrir a verdade é ter a coragem de enfrentar as 
formas estagnadas do poder que tentam manter o 
status quo, é aceitar o desafio da mudança. Saber 
para transformar. 
 Em conversa com seus amigos, você disse 
que está estudando Filosofia. Mal acabou de falar e 
logo perguntaram: “O que é filosofia?” 
 E agora, o que você irá responder? 
 
1.2. As origens do pensamento filosófico. 
 A filosofia ocidental nasceu na Grécia, entre 
os séculos VII e VI a.C., com uma preocupação em 
responder à questão da ordem do universo (cosmos). 
Este momento da história do pensamento é 
usualmente chamado de passagem do mito ao logos. 
Esta expressão pode gerar alguns mal-entendidos 
em função de seus termos principais: mito e logos. 
Veja, então, o que significa cada um: 
 Mito – São explicações que se caracterizam 
por fazer referências a entidades sobrenaturais como 
sendo as responsáveis pelos fenômenos da natureza. 
 Logos - O termo “logos”, em grego, 
significa razão, linguagem, ciência. Dentre os mal-
entendidos comuns, pode-se destacar a suposição de 
que a passagem do “mito” ao “logos” se deu de 
maneira definitiva, com o abandono total de 
referências sobrenaturais, assim como achar que a 
explicação filosófica é dotada de razão, ao passo 
que o mito seria destituído dela (REALE e 
ANTISERI,1990). 
 
 A escrita, que surgiu neste período, teve um 
papel importante nesta passagem, pois o que antes 
era apenas contado pela tradição oral, passou a ser 
escrito. Modificando, assim, o pensamento e o 
homem. 
 
1.3. A Cosmologia dos Pré-socráticos. 
 Os filósofos Pré-socráticos aparecem entre 
os séculos VII e VI a.C. em todas as colônias gregas 
que se espalham pela a costa do Mediterrâneo, 
principalmente na Ásia Menor. A preocupação 
destes primeiros pensadores era descobrir o 
princípio que explicasse sua existência e ordem. Por 
isso foram chamados “filósofos da natureza”. Do 
pouco que sobrou dos escritos do pensamento 
filosófico destes, nota-se que está permeado de mito 
(religião), pois seus argumentos são apresentados 
como verdade revelada pelos deuses. Suas 
explicações não fazem referência aos deuses como 
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Ensino de Jovens e Adultos 
 
 5 
sendo a causa única dos acontecimentos deste 
mundo. 
 Os filósofos Pré-socráticos começam a 
indicar inúmeros princípios e causas físicas ou 
abstratas, que em alguns casos explicam não 
somente o mundo, mas também os deuses como 
parte dessa mesma estrutura. 
 É neste período que surge o interesse pelo 
mundo e pelo significado da própria existência, 
como demonstra os pensadores destacados a seguir: 
 Tales de Mileto (sécs. VII-VI a.C.) - Ele 
achava que a origem de todas as coisas seria a água. 
Não sabemos o que exatamente ele queria dizer com 
isso, mas devia estar convencido de que toda forma 
de vida teria se originado da água - para onde 
retorna quando se dissolve. 
 Tales viajou por várias regiões, inclusive o 
Egito, onde, segundo consta, calculou a altura de 
uma pirâmide a partir da proporção entre sua 
própria altura e o comprimento de sua sombra: essa 
proporção é a mesma que existe entre a altura da 
pirâmide e o comprimento da sombra desta. Esse 
cálculo exprime o que, na geometria, até hoje se 
conhece como teorema de Tales. 
 Anaximandro de Mileto (sécs. VII-VI 
a.C.) - Ele achava que nosso mundo seria apenas um 
entre uma infinidade de mundos que evoluiriam e se 
dissolveriam em algo que elechamou de ilimitado 
ou infinito. 
 Não é fácil explicar o que ele queria dizer 
com isso, mas parece claro que Anaximandro não 
estava pensando em uma substância conhecida, tal 
como Tales concebeu. 
 Talvez tenha querido dizer que a substância 
que gera todas as coisas deveria ser algo diferente 
das coisas criadas. Urna vez que todas as coisas 
criadas são limitadas, aquilo que vem antes ou 
depois delas teria de ser ilimitado. É evidente que 
esse elemento básico não poderia ser algo tão 
comum como a água. 
 Anaxímenes de Mileto (séc. VI a.C.) - Ele 
pensava que a origem de todas as coisas teria de ser 
o ar ou o vapor. Anaxímenes conhecia, claro, a 
teoria da água de Tales. Mas de onde vem a água? 
Anaxímenes acreditava que a água seria ar 
condensado. Acreditava também que o fogo seria ar 
rarefeito. De acordo com Anaxímenes, o ar 
constituiria a origem da terra, da água e do fogo. 
 Pitágoras de Samos (cerca de 530 a.C. até 
início do séc. V a.C.), grande matemático da 
Antigüidade, é o primeiro a usar o termo filósofo, 
pois, uma vez indicado como sábio (sophos), teria 
respondido que apenas era um "amante da 
sabedoria" (philo, "aquele que ama", sophia, 
"sabedoria"); desenvolveu uma teoria filosófica 
baseada na idéia de que tudo é composto de 
números – entendidos por ele como pequenas 
partículas materiais – e a ordem do universo é 
derivada de harmonias geométricas. 
 Xenófanes de Cólofon (c. 570 a.C.) foi 
grande crítico da concepção popular e tradicional 
dos deuses. Tinha como fonte as obras de Homero, 
crítica esta que reaparecerá mais tarde na República 
de Platão. 
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Ensino de Jovens e Adultos 
 
 6 
 Heráclito de Éfeso (sécs. VI-V a.C.) 
defendeu a idéia de que tudo é um fluxo contínuo 
gerado por uma guerra eterna entre os contrários; 
nada permanece o mesmo e tudo é e não é ao 
mesmo tempo. 
 Parmênides de Eléia (sécs. VI-V a.C.) 
criticou a visão de Heráclito e seus seguidores 
afirmando que somente a razão poderia fornecer o 
conhecimento do que é a natureza; para ele, os 
sentidos percebem o fluxo contínuo do mundo, mas 
somente a razão pode mostrar que por trás de tudo 
que muda está o imutável, o perfeito e eterno, isto é, 
o ser. 
 Zenão de Eléia (sécs. VI-V a.C.) foi 
discípulo de Parmênides e desenvolveu uma série de 
paradoxos (argumentos que levam a sua própria 
contradição) sobre a existência do movimento. 
 Empédocles de Agrigento (484/481-
424/421 a.C.) se referiu aos quatro elementos (água, 
terra, fogo e ar) como os responsáveis pela 
composição de tudo. 
 Anaxágoras de Clazômenas (c. 500-428 
a.C.) dizia que tudo na natureza é composto de 
sementes que determinam sua geração e vida. 
 Leucipo de Mileto e seu discípulo 
Demócrito de Abdera (séc. V a.C.) criaram a idéia 
de átomo; acreditavam que tudo é composto de 
pequenas partículas indivisíveis que se unem e se 
separam continuamente formando todas as coisas 
(KIRK e RAVEN, 1982). 
 
 A teoria atômica atual é muito semelhante 
a de Demócrito, a natureza é composta de 
diferentes átomos que se juntam para criar, se 
separam e voltam a se reunir para criar novas 
coisas. A ciência descobriu que os átomos podem 
ser divididos em partículas menores chamadas de 
PRÓTONS, NÊUTRONS e ELÉTRONS. 
Demócrito não teve acesso aos aparelhos 
eletrônicos de nossa época. Sua única ferramenta 
foi a razão, esta lhe dizia que “nada surge do nada 
e nada desaparece, então a natureza tende ser 
composta por pecinhas minúsculas que se 
combinam e depois se separam”. 
 
II – OS SOFISTAS 
 
 A palavra SOFISTA, originalmente, 
significa "especialista do saber". Mas este termo 
adquiriu uma conotação negativa após a crítica e o 
ataque ferrenho que receberam de Sócrates, Platão e 
Aristóteles. 
 O século V a.C., uma série de 
transformações sociais ocorreu no mundo grego, em 
especial nas grandes cidades. O poder da 
aristocracia diminui após uma série de reformas 
sociais que entregam parte considerável do poder 
político ao "demo", o povo. Atenas torna-se uma 
democracia e, como grande centro cultural da 
época, passa a atrair, como as demais cidades, um 
grande número de estrangeiros. Um grupo de 
pensadores e professores se torna importante nesse 
período, pois modificaram a perspectiva do 
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Ensino de Jovens e Adultos 
 
 7 
pensamento que até então se centrava na questão 
sobre a natureza, a chamada questão cosmológica, e 
se deslocou para a questão antropológica, a questão 
sobre o homem e tudo que o envolve. 
 Segundo Guthrie (1995), os sofistas além de 
serem responsáveis por essa virada na percepção do 
pensamento, foram responsáveis por: 
� difundir e desenvolver a idéia do ensino 
com todos os professores remunerados; 
� estabelecer através do nomadismo (viajem 
de cidade a cidade) uma perspectiva cultural ampla; 
� despertar o interesse pela linguagem, 
consolidar um espírito de liberdade de pensamento e 
revalorização da lógica. 
 
2.1. Sócrates 
 Era ateniense, filho de um escultor e uma 
parteira. Embora não tenha fundado escola ele 
ensinava em locais públicos ou em qualquer um 
outro lugar que pudesse empreender conversação 
sobre os mais diversos temas. Causou forte 
impressão sobre a juventude ateniense e os mais 
diversos tipos de pessoas, o que o levou a ter um 
grande número de inimizades. 
 Sócrates nunca escreveu suas idéias, pois 
acreditava que a verdade devia ser atingida através 
do diálogo. Seu primeiro pensamento tinha ligações 
com a filosofia naturalista, mas após o contato com 
os mestres sofistas, voltou-se para a questão do 
homem e do conhecimento. 
 Sócrates investigava a natureza humana, 
enquanto os Pré-socráticos investigavam questões 
cosmológicas. Para Sócrates, o homem se definia 
em função de sua alma (psyché) e não de seu corpo. 
No pensamento de Sócrates, as virtudes se 
designavam na atividade que propicia o 
desenvolvimento do intelecto, da alma. Ele defendia 
a idéia de que o mal era fruto da ignorância e que o 
conhecimento levava ao bem, propiciador da 
verdade e do aprimoramento espiritual. 
 Ao ser condenado a morte, não se revolta. 
Acreditava na imortalidade da alma humana, 
compreendia a filosofia como uma preparação para 
a morte, uma vez que esta propiciava o 
aprimoramento do espírito, em detrimento da 
satisfação corporal. Preparada, a alma se livra do 
corpo e passa a viver em um mundo livre da matéria 
(PLATÃO, 1972). 
 Uma importante crítica de Sócrates em 
relação aos sofistas, era o método de ensino 
remunerado. Sócrates acreditava que todos 
possuíam já dentro de si a verdade eterna e única e o 
conhecimento não era adquirido, e sim, lembrado. 
 Como nada escreveu, o pensamento de 
Sócrates pode ser percebido dentro dos escritos de 
seus discípulos, que sobre ele escreveram 
apresentando visões diversas e desenvolvendo 
escolas filosóficas de inspiração socrática. 
 O seu principal discípulo foi Platão, que 
escrevia diálogos nos quais Sócrates era sempre seu 
personagem principal. Muitas vezes, residia a 
dificuldade de diferenciar o que era pensamento de 
Sócrates e o que é era pensamento de Platão. 
 
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 8 
2.2. Platão 
 Platão, cujo verdadeiro nome era Aristoclés, 
era cidadão ateniense de família aristocrática 
descendente de Sólon, o legislador. Tornou-se 
discípulo de Sócrates por volta dos vinte anos. Essa 
convivência transformou sua vida e pensamento. 
Após a morte do mestre, empreende em viagens 
para Grécia, Itália e Egito. Em 387 a.C., funda sua 
escola em Atenas, a Academia. Sua escola se tornou 
uma revolução no ensino e pólo de atração de 
alunos e pensadores. 
 Platão assumiu as idéias de seu mestre, 
Sócrates, incorporando a elas, as suas, a ponto demuitas vezes dificultar a diferenciação das idéias de 
um e do outro. Sua principal inovação foi a defesa 
da existência de um mundo das idéias/formas. 
 Na busca do verdadeiro conhecimento, 
Platão distingue a episteme (conhecimento) da doxa 
(opinião). Na episteme se tem o conhecimento 
verdadeiro e confiável, em contrapartida, na doxa, o 
mutável e inconsistente. 
 Como Platão assume a posição socrática de 
inferioridade da matéria - que é amorfa (sem forma) 
e só possui determinação por que é limitada pelas 
formas/idéias -, a alma é o elemento eterno e 
perfeito aprisionado no corpo e que teve sua origem 
no mundo das idéias. 
 A alma é imortal, mas precisa se aprimorar 
por um processo contínuo de reencarnação 
(metempsicose). No diálogo "Fédon", Platão 
defende a idéia socrática da eternidade da alma em 
contraposição às crenças contrárias e nega a ligação 
indissociável entre corpo e alma. 
 Há no pensamento de Platão a identificação 
entre a virtude e o conhecimento; o mal é resultado 
da ignorância e o bem equivale ao conhecer. 
 Em sua interpretação do mundo social, 
Platão via com desconfiança a democracia, uma vez 
que foi nesse sistema de governo que Sócrates foi 
condenado à morte. A sociedade ideal de Platão 
possuía três estratos: trabalhadores, guerreiros e 
magistrados, cada um deles composto por 
indivíduos que já nasciam com um tipo de alma 
com a predisposição a um dos tipos de atividade. 
 
2.3. Aristóteles 
 Aristóteles nasceu em Estagira, na Trácia, 
região da Macedônia. Seu pai foi médico da corte 
do rei Amintas, da Macedônia, pai de Filipe e avô 
de Alexandre, o Grande. Em 366 a.C., Aristóteles 
entra para a Academia de Platão e lá permanece por 
vinte anos, só se retirando após a morte do mestre. 
Enquanto esteve na Academia, Aristóteles conheceu 
uma série de sábios que ali estavam. 
 Em 343 a.C., se torna preceptor de 
Alexandre, o Grande - na época com treze anos. 
Após a subida ao trono de Alexandre (336 a.C.), 
Aristóteles volta a Atenas e funda sua escola, 
próxima ao templo dedicado a Apolo Lício, daí o 
nome de "Liceu", pelo qual a escola era conhecida. 
Também chamada "escola peripatética", pois suas 
aulas em meio aos jardins eram comuns (perípatos, 
"passeio"). Até 323 a.C., ano da morte de Alexandre 
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Ensino de Jovens e Adultos 
 
 9 
e início da reação antimacedônica em Atenas, o 
Liceu se tornou um grande centro de produção 
filosófica e científica, chegando a relegar a segundo 
plano a Academia. 
 Curiosamente, a mesma acusação feita a 
Sócrates, de impiedade, foi dirigida a Aristóteles. 
Esse vai para Cálcis e deixa Teofrasto no comando 
do Liceu. Morre poucos meses depois, em 322 a.C. 
 Aristóteles foi dotado de mente 
enciclopédica, leu e escreveu sobre os mais diversos 
temas, alguns hoje pertencentes às ciências naturais 
e humanas. Foi o primeiro sistematizador da lógica 
clássica e seus princípios; estudou os argumentos, 
seus tipos, falhas, sua composição, sua relação com 
o raciocínio, etc. 
 Uma das grandes diferenças entre o 
pensamento de Aristóteles e de seu mestre Platão, 
foi a crítica e recusa da existência do "mundo das 
idéias". Para Aristóteles, as idéias não se encontram 
em um mundo em separado; as idéias são produto 
da abstração que a mente faz do que é percebido 
pelos sentidos. 
 Aristóteles desenvolve a física e a 
metafísica iniciadas pelos pré-socráticos. Determina 
a análise do mundo pelo que ele tem de geral, 
desenvolvendo os conceitos de causa (material, 
formal, eficiente, final), substância, acidentes, ato, 
potência, etc. Dentro de sua perspectiva, o ser 
humano é definido como uma composição de 
matéria e forma, onde seu corpo é a matéria e sua 
alma é sua forma. A alma é princípio de vida e 
qualquer ser vivo possui um tipo de alma. Só o ser 
humano tem alma intelectiva, responsável por sua 
capacidade racional. 
 Todos os indivíduos desejam a felicidade, 
compreendida das mais diversas formas, mas apenas 
o desenvolvimento do intelecto e das virtudes 
propicia a máxima felicidade, o que não caracteriza 
um desprezo aos aspectos corporais, pois, para 
Aristóteles, as necessidades materiais têm de ser 
satisfeitas para atingirmos a contemplação. 
 O ser humano é um animal racional, mas 
também é um animal político, social; o ser humano 
só consegue sobreviver em grupo e é nele que 
desenvolve sua potencialidade. 
 
 As teorias de Platão e Aristóteles 
fundamentaram debates durante muitos séculos e 
somente a partir da filosofia moderna de Descartes 
(1596-1650) que surge uma nova metodologia com 
o intuito de resolver os temas da metafísica antiga 
e medieval. 
 
 A partir dos conteúdos estudados, faça um 
quadro comparativo; entre as teorias de Platão e 
Aristóteles, identificando pontos de convergência e 
divergência. 
 
 
 
 
 
 
 
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 10 
III - OS FILOSÓFOS MODERNOS E A 
TEORIA DO CONHECIMENTO 
 
 O que é o conhecimento? Ele é possível? 
Quais são os seus limites? Existem regras para a 
obtenção de conhecimento verdadeiro? Estas eram 
algumas questões que ocupavam o pensamento 
filosófico na modernidade. 
 
 A partir do século XIV, uma mudança na 
civilização européia começa a se processar. 
 Esse processo de mudança de visão de 
mundo resultou no fim da Idade Média, 
convencionalmente determinado pelos historiadores 
em 1453, com a queda de Constantinopla pelos 
turcos. 
 Com a expulsão dos árabes da península 
ibérica inicia-se a constituição dos Estados 
nacionais europeus, o que é a superação do sistema 
feudal, com seu poder político desagregado. 
 A filosofia desvincula-se da teologia e o 
problema central do período medieval – Deus – é 
substituído por problemas do conhecimento, que se 
tornam as questões centrais do pensamento 
moderno. 
 As descobertas de novas terras e o 
aparecimento dos Estados - ampliam a percepção 
cultural do homem moderno. As relações pessoais 
são relegadas a um plano secundário. As relações 
com Deus, intermediadas pela Igreja, passam a ser 
contestadas. 
 
 Essas mudanças têm agora a imprensa 
para ajudar a propagação. O indivíduo é agora o 
cerne das perspectivas econômica, científica e 
religiosa. 
 
 Em uma situação de mudança, onde a 
posição da pessoa já não está garantida, a 
desconfiança para com a tradição se torna a tônica 
dominante. A dúvida e a posição filosófica que a 
acompanha, o ceticismo, se tornam o substrato do 
mundo moderno. 
 As grandes linhas de pensamento que 
tentam responder a pergunta do conhecimento no 
Período Moderno são duas: o racionalismo e o 
empirismo. A primeira tem como característica 
privilegiar a razão em detrimento das percepções 
sensoriais, que são vistas como responsáveis pelo 
erro e pelo engano. Ao contrário, o empirismo 
defende a idéia de que todo conhecimento humano 
tem origem na percepção sensível, não existindo 
idéias inatas, como era crença dos racionalistas. 
 
3.1. O racionalismo 
 
Com a frase “se duvido, é porque penso, e se 
penso, existo” 
 
 René Descartes, o principal pensador do 
racionalismo, filósofo e matemático (1596-1650). 
 Nascido em La Haye, em uma família de 
posses – seu pai era magistrado da Bretanha - cedo 
perdeu a mãe e passou a ser criado por uma ama, 
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO 
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 11 
sem a presença do pai, que se mantinha ausente por 
muito tempo. Já maior, foi mandado para o principal 
colégio da Europa, La Fleche, dirigido por jesuítas. 
Lá mantinha o hábito da infância de acordar sempre 
perto do meio-dia. Apesar do horário flexível, 
Descartes desenvolveu uma mente que seria uma 
das mais férteis da modernidade. Em 1612, cansado 
da vida na escola e do que havia aprendidoali, parte 
para conseguir o conhecimento que pretendia, não 
mais nos livros, mas no mundo. 
 Foi acusado de ateísmo, o que negou, mas 
acabou sendo preso, depois de inúmeras disputas 
teóricas. Manteve correspondência com diversas 
personalidades políticas e intelectuais de sua época. 
Essa fama levou com que a rainha Cristina, da 
Suécia, o convidasse para lá viver e fundar a 
"Academia de Ciências". O clima do país não lhe 
foi favorável além de ter que dar aulas na corte, no 
início da manhã em um rigoroso inverno sueco fez 
com que ele falecesse de pneumonia em 1650. 
 Descartes, em sua procura pelo ponto de 
partida que garantiria o conhecimento correto, 
começa um processo de dúvida que tinha como 
objetivo descartar qualquer coisa que pudesse ser 
objetável; é o que se convencionou chamar "dúvida 
metódica", pois era apenas um caminho para a 
certeza, não uma desconfiança quanto às 
possibilidades do conhecimento humano. 
 A certeza absoluta a que Descartes chega é 
a constatação da própria existência como ser 
pensante (res cogitans), o que traduziu em sua frase 
mais famosa: se duvido, é porque penso, e se penso, 
existo (cogito ergo sum). 
 Descartes, em sua filosofia, distingue duas 
substâncias no mundo: a res cogitans , "a coisa 
pensante" (alma), e a res extensa, "a coisa extensa" 
(matéria). O mundo (matéria) é regido por leis 
mecanicistas. A alma não é regida por essas leis, as 
relações entre corpo e alma são apenas ocasionais, 
pois não se influenciam mutuamente. 
 Outros grandes representantes do 
racionalismo foram: 
� Blaise Pascal (1623-1662) - 
filósofo, matemático e físico, que chamou a atenção 
para os limites da racionalidade ao admitir que "o 
coração tem razões que a própria razão 
desconhece"; 
� Baruch Spinoza (1632-1677) - o ser 
é uno: a substância ou Natureza: Deus é a própria 
ordem geométrica necessária a tudo. Espinosa 
elimina o dualismo cartesiano:a essência das coisas 
é uma. 
� Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-
1716) - faz parte da tradição racionalista, mas 
advoga a impossibilidade da comunicação entre as 
substâncias, defendendo o paralelismo, isto é, 
mente e corpo não interagem, mas têm 
comportamentos correlatos. 
 
 
 
 
 
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 12 
3.2. O empirismo 
“A mente é uma tabula rasa” 
John Locke 
 O empirismo é característico do período 
moderno, onde empreende uma crítica à filosofia 
racionalista e às possibilidades de um conhecimento 
metafísico nos moldes da filosofia antiga e 
medieval. 
 Dentre os principais pensadores do 
empirismo destacam-se: 
� Francis Bacon (1561-1626) - 
revaloriza a observação e o raciocínio indutivo 
como produtores de conhecimento científico. 
� Thomas Hobbes (1588-1679) - 
defende que apenas existe a substância material, ou 
seja, aquilo que pode ser percebido pela mente 
humana através dos sentidos. Esse ser material, 
(homem), tem como traço natural o egoísmo. Seu 
estado natural é o da "guerra de todos contra todos", 
mas sua racionalidade faz ver que a existência da 
sociedade lhe propiciaria uma vida mais longa e 
segura. Entrega, após um contrato natural tácito, 
seus direitos naturais nas mãos de um poder 
soberano, que passa a exercê-los de maneira 
despótica para garantir a existência da sociedade e a 
preservação de seus membros (HOBBES, 1979). 
� John Locke (1632-1704) – para ele 
as idéias inatas não existem; todas são derivadas da 
experiência sensível. Para ele “a mente é uma tabula 
rasa”. Da mesma maneira que Hobbes, Locke é um 
contratualista, mas não acredita que em estado 
natural a situação seja a de guerra de todos contra 
todos. Para Locke as pessoas decidem pela própria 
condição racional, por estabelecer um pacto 
implícito para a constituição da sociedade, e que ao 
ceder parte de seus direitos para o governo, essa 
cessão não é incondicional; se o governante não 
prestar contas de suas obrigações para com aqueles 
de onde emana seu poder, pode perder a 
representatividade, ser destituído e substituído. 
Locke é o grande teórico da democracia 
representativa. 
� George Berkeley (1685-1753) - 
Para Berkeley, existir é estar na consciência; ser é 
ser percebido (esse est percipi). Para ele a existência 
da matéria e o nosso conhecimento se resumem às 
imagens que temos em nossas mentes (imagens 
produzidas por nossos sentidos), embora não 
havendo certeza de que correspondem ao que os 
objetos são realmente; em outras palavras, não 
temos acesso ao que as coisas são em si mesmas. 
 Segundo o bispo irlandês, o que garante que 
as coisas existem, mesmo quando não as 
percebemos, é o fato de tudo estar na mente de 
Deus, ser percebido por Deus (BERKELEY, 1980). 
� David Hume (1711-1776) - o maior 
nome do empirismo moderno. David Hume foi um 
dos primeiros filósofos a advogar explicitamente o 
ateísmo e sofreu as conseqüências de sua posição. 
Almejou uma cadeira de professor, o que nunca 
conseguiu, foi assistente de diversos personagens 
importantes de sua época e desejou profundamente 
ser reconhecido, em vida, por suas idéias como 
filósofo, mas isso não aconteceu. 
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 13 
 Hume, como os demais empiristas, defendia 
que a única fonte de idéias em nossa mente eram os 
sentidos. 
 Aquelas percepções mais próximas no 
tempo e no espaço formam as impressões, que 
possuem mais força e vivacidade. Quando essas 
impressões não possuem mais as percepções para 
lhes garantir a força, se tornam idéias guardadas na 
memória, mais fracas e tênues. Além disso, a mente 
humana liga idéias vindas da percepção e cria seres 
imaginários. A alma humana é apenas o conjunto 
dessas impressões e idéias e, uma vez que cessa a 
atividade dos sentidos, cessa a alma. 
 Para Hume, nossa mente estabelece uma 
relação que não está no fato em si, mas apenas na 
nossa disposição em vê-los assim. Todo 
conhecimento é conjetural, uma interpretação que a 
mente humana realiza sobre os fenômenos 
individuais que observa. 
 Alguns iluministas franceses foram 
influenciados pelo pensamento empírico, em 
especial, as idéias políticas. Os iluministas criam no 
poder da razão humana como solução para os 
problemas do homem e da sociedade; empenharam-
se em defender a universalização do saber - é o caso 
da elaboração da "enciclopédia" por D'Alembert e 
Diderot -; criticaram o absolutismo; veneravam a 
ciência como a expressão máxima da verdade; 
criticaram a tradição; eram otimistas utópicos que 
acreditavam no progresso irreversível da 
humanidade. 
� Jean-Jacques Rousseau (1712-
1778) foi, ao mesmo tempo, iluminista e precursor 
do romantismo. Pregava, dentro do espírito 
romântico, uma volta à natureza e uma crítica ao 
progresso científico e técnico. 
 
 Como você estudou, Razão e Sentidos 
travam uma batalha no século XVII. Nesta 
batalha não houve um vencedor, mas sim 
vencedores. Muitas outras linhas de pensamento 
tiveram ali, a sua origem. 
 
3.3. O criticismo de Kant 
 
 Criador de um dos mais importantes 
sistemas filosóficos do século XVIII, Immanuel 
Kant (1724-1804) nasceu em Königsberg, de 
família humilde pertencente à seita protestante 
pietista, de grande rigor religioso. A figura da mãe 
foi de enorme influência na vida do pensador; 
mulher de pouca cultura formal, Regina Reuter 
instigou o comportamento reto e a admiração ao 
saber que Kant levaria por toda sua vida. Estudou na 
universidade da cidade natal, onde se formou em 
1747, ano no qual teve que interromper os estudos 
de titulação que lhe fariam professor universitário 
em razão da necessidade de sobreviver. Somente em 
1755, alcança o doutorado e ser livre-docente na 
Universidade de Königsberg. O período na livre 
docência também não foi fácil. Entre 1770 e 1781, 
Kantpreparou seu sistema filosófico, o que 
culminou com o aparecimento de sua grande obra, 
Crítica da Razão Pura (1781), a primeira das 
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 14 
críticas a que se seguem, Crítica da Razão Prática 
(1788) e Crítica do Juízo (1790). 
 Em 1794, Kant é proibido de expressar suas 
opiniões sobre a religião; não se retrata, mas não 
aborda mais o assunto. Morre em 1804. 
 Segundo Kant, a intuição sensível nos 
fornece os fenômenos indeterminados, o que por si 
mesmo não constitui conhecimento, dado serem 
percepções específicas sem traços de universalidade 
e necessidade. O conhecimento somente se constitui 
pela organização dos dados da intuição sensível por 
um elemento a priori que lhes dá forma e ordem. 
Esta estrutura racional ordenadora é uma lógica do 
entendimento e é vazia em si mesma, sem conteúdo. 
Sua função é objetivar o dado sensorial fornecendo 
a síntese (união) entre o particular sensorial e a 
universalidade da estrutura a priori que permite a 
própria constituição do conhecimento. Tanto espaço 
e tempo – formas a priori da intuição sensível que 
ordenam os fenômenos percebidos – 
quanto as categorias – conceitos puros que 
permitem a ligação dos fenômenos – constituem, ao 
mesmo tempo, o modo próprio daquele que conhece 
e o objeto conhecido. Os principais objetos de 
estudo da metafísica são Deus, a alma e a liberdade; 
esses objetos não podem ser conhecidos pela razão, 
pois estão além de seus limites (KANT, 1985). 
 
 A conclusão de que Deus não pode ser 
conhecido pela razão humana, sem nenhuma 
referência ao mundo da experiência, não fez Kant, 
um crente fervoroso, renunciar suas crenças. 
 
 Kant, quanto ao critério de ação, elaborou 
uma ética de cunho formal. A ação só deve ser 
realizada se for possível imaginá-la universal, pois 
isso determina o que é bom em si mesmo e não é 
apenas agradável. "Age sempre de maneira que 
fosse seu desejo que todos assim o fizessem"; essa é 
a máxima de Kant, o imperativo categórico (KANT, 
2002). 
 
IV - PENSAMENTO E LINGUAGEM 
 
4.1. O que é Linguagem 
 A linguagem é um dos principais 
instrumentos na formação do mundo cultural, é 
através dela que transcendemos a nossa experiência. 
Quando damos nome a um objeto da natureza, nós o 
individualizamos, o diferenciamos do restante que o 
cerca; ele passa a existir para a nossa consciência. 
Com esse simples ato de nomear, distanciamos-nos 
da inteligência concreta animal e entramos no 
mundo do simbólico. 
 O nome é símbolo dos objetos que existem 
no mundo natural e das entidades abstratas (existem 
somente no nosso pensamento), por exemplo, ações, 
estados ou qualidades como tristeza, beleza, 
(liberdade). 
 A linguagem pode ser definida como um 
sistema simbólico, sendo o homem o único animal 
capaz de criar símbolos, ou seja, signos arbitrários 
em relação ao objeto que representam e, por isso 
mesmo, convencionados, ou seja, dependentes de 
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 15 
aceitação social. 
 
V – A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA 
 
 A filosofia contemporânea corresponde ao 
pensamento produzido a partir do século XIX. 
 Uma série de acontecimentos políticos 
determinam essa época: a Revolução Francesa; a 
independência dos países latino-americanos no 
século XIX e dos países africanos e asiáticos no 
século XX; o colonialismo tardio no séc. XIX e seu 
declínio no séc. XX; a ascensão e posterior queda 
do poderio europeu no mundo; duas guerras 
mundiais; o período de bipolarização política entre 
Estados Unidos e União Soviética; o crescente e 
cada vez mais forte processo de interdependência 
mundial chamado por alguns de "globalização" e 
por outros de "mundialização"; massificação de 
diversos traços culturais, além de uma perspectiva, 
cada vez mais forte, de tendências fundamentalistas 
em questões religiosas. 
 Vejamos agora, as principais escolas 
filosóficas contemporâneas e alguns de seus 
representantes: 
� o materialismo dialético (Marx, 
Engels); 
� o existencialismo (Kierkegaard, 
Sartre); 
� o positivismo (Comte, Stuart Mill); 
� a fenomenologia (Husserl, 
Heidegger); 
� o pragmatismo (Peirce, James); 
� o positivismo lógico (Carnap); 
� a filosofia analítica de linguagem 
artificial (Wittgenstein, Ayer) e de linguagem 
ordinária (Wittgenstein, Austin); 
� o neotomismo (Maritain, Gilson); 
� o neomarxismo ou Escola de 
Frankfurt (Adorno, Habermas). 
 
Para que você possa melhor assimilar as grandes 
perspectivas filosóficas, o não-dogmatismo e a 
diversidade do pensamento contemporâneo, 
organizamos os principais pensadores por século. 
 
5.1. Século XIX 
 Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-
1830) foi o principal representante do idealismo 
alemão. 
 Hegel criticava a idéia de Kant segundo a 
qual temos acesso ao fenômeno, mas não temos 
acesso ao númeno, a coisa em si. Para Hegel, não 
podemos nem mesmo afirmar a existência da coisa 
em si; nosso conhecimento se resume às idéias em 
nossa mente, em nossa consciência. 
 Na filosofia de Hegel tudo que é racional é 
real e tudo que é real é racional, isto é, não há 
separação, como em Kant, das esferas teórica e 
prática. Há uma identidade entre o pensamento e a 
realidade; as regras do pensar são também as regras 
do mundo. 
 Essas regras são regidas pelo princípio de 
contradição, que afirma que nada é idêntico a si 
mesmo e tudo se subordina à afirmação e à negação; 
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 16 
é a dialética hegeliana que se mostra como princípio 
de ordenação do mundo material, da história da 
humanidade e, principalmente, como processo pelo 
qual o Espírito (Deus) se desenvolve e se mostra. 
 Assim, Hegel vê sua época - em todos os 
seus aspectos econômicos, políticos, religiosos, 
artísticos, científicos e filosóficos - como o 
momento de culminância do processo dialético de 
desenvolvimento do Espírito; dessa posição, Hegel 
advogava o "fim da história", no sentido de que a 
partir de então, nada mais haveria de relevante a ser 
revelado. Coincidentemente ou não, sua filosofia foi 
o último sistema filosófico da história produzido por 
um único pensador (REALE e ANTISERI, 1990). 
 Hegel teve seus críticos ferrenhos, que em 
especial discordaram da subordinação do indivíduo 
ao todo, ao universal. 
 Arthur Schopenhauer (1788-1860) 
afirmava a predominância da vontade sobre a 
realidade. Filósofo pessimista, afirmava que tudo o 
que é tido como bom, belo e agradável não passa de 
ilusão, por isso nunca atingimos a felicidade. 
 Outro crítico da época, foi o dinamarquês 
Sören Kierkegaard (1813-1855), considerado o pai 
do existencialismo. No pensamento do dinamarquês 
não há essência do ser humano; ela é construção 
existencial de cada indivíduo, que faz a si mesmo 
durante sua vida. 
 Extremamente religioso e crítico da 
estrutura da Igreja Luterana da Dinamarca - 
Kierkegaard a acusava de ter traído o espírito do 
Cristianismo ao se aliar à teologia de cunho 
hegeliano, o filósofo percebeu o quanto a posição 
única da existência do indivíduo causa angústia e 
desespero. A solução seria o salto no absurdo da fé, 
que possui princípios incompreensíveis à razão 
(KIERKEGAARD, 1979). 
 Crítico tardio de Hegel e de Schopenhauer, 
Friedrich Nietzsche (1844-1900) é um dos 
pensadores mais instigadores da atualidade. Apesar 
de alemão, Nietzsche foi crítico da cultura 
germânica e da religião, em especial da cristã. Seus 
escritos não possuem estilo sistemático 
argumentativo. Os homens fracos e incapazes se 
defendem frente àqueles que são superiores por 
meio de duas armas poderosas: a moral e a religião. 
Assim como todas as grandes religiões, o 
Cristianismo prega uma moral de cordeiros onde os 
medíocres(a maioria das pessoas) oprimem aos 
superiores; os pobres, fracos e humildes merecem 
tudo e aos fortes, orgulhosos e aristocráticos é 
reservada a condenação. 
 Nietzsche prega o advento do super-homem, 
aquele que é senhor de sua própria vontade, criador 
de sua própria moral. Uma vez que "Deus está 
morto", somente aquele que é superior aos demais 
tem a capacidade de assumir sua vontade, até então 
aprisionada. Esse homem está "além do bem e do 
mal", porque não é mais a 
sociedade que lhe impõe o certo e o errado, mas é 
ele que cria as virtudes necessárias a sua vida 
(NIETZSCHE, 1992). 
 Uma outra vertente é o positivismo que tem 
como seu mais conhecido representante o francês 
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 17 
Auguste Comte (1798-1856), cuja filosofia muito 
influenciou o pensamento e a história do Brasil. 
 Para Comte e os positivistas, somente a 
observação é fonte de conhecimento científico e 
todos os demais conhecimentos não passam de 
ilusão. 
 O positivismo defendia a idéia de progresso 
contínuo e irreversível da humanidade, cuja face 
mais visível era o desenvolvimento da ciência e da 
técnica. 
 Para Comte, as civilizações passam por três 
fases de desenvolvimento: 
� a primeira, associada a infância, é a 
fase mítica ou religiosa, onde as explicações 
ocorrem sempre com referências às divindades; 
� a segunda, a juventude, encontra-se 
a fase metafísica, onde princípios abstratos e não 
materiais são indicados como respostas aos 
acontecimentos; 
� a última é a maturidade, a fase 
científica, onde tudo é explicado pela observação e 
referência aos fenômenos. 
 Comte foi expulso da Escola Politécnica de 
Paris (devido suas idéias republicanas) e começou a 
dar aulas particulares em casa; entre seus primeiros 
alunos já havia brasileiros que estudavam na capital 
francesa. 
 A exposição do pensamento no século XIX 
não estaria completa sem a apresentação do 
pensamento do alemão Karl Marx (1818-1883). 
Marx era filho de advogado que, obrigado a 
escolher entre poder exercer a profissão ou 
permanecer judeu, se "converteu" ao 
protestantismo. 
 Marx estudou na Universidade de Berlim, e 
se formou em 1841. No mesmo ano começou a 
trabalhar como jornalista no jornal "Gazeta 
Renana", que foi logo fechado pelo governo. Nessa 
época, Marx toma contato com as idéias de Ludwig 
Feuerbach (1804-1872), de quem assumirá a 
posição de que não é Deus que cria os homens, mas 
os homens é que criam Deus. 
 Em 1843 vai para Paris, onde conhece 
Friedrich Engels (1820-1895), filho de industrial 
que havia, também após a leitura de Feuerbach, 
abandonado o idealismo hegeliano e abraçado o 
materialismo. Engels se tornaria - mesmo após a 
péssima impressão que deixou em Marx no primeiro 
encontro dos dois - o amigo e colaborador de Marx 
até o fim da vida desse; os dois escreveram juntos o 
"Manifesto Comunista", pequena obra que 
sintetizava a visão de mundo dos dois. 
 Marx, em consonância com o positivismo 
assume a crença no progresso inevitável da 
humanidade. As leis dialéticas são leis da matéria e 
por isso mesmo, determinantes de uma mudança 
contínua. A situação do modo de produção 
capitalista produz as condições para superação desse 
mesmo sistema, pois o capitalista maximiza os 
lucros através da exploração do trabalho do 
proletariado, mas isso tem um limite na capacidade 
física do trabalhador. O capitalismo aumenta a 
produção e os lucros maximizando a técnica, que 
exige cada vez menos trabalho assalariado, 
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 18 
aumentando a produtividade. Ao mesmo tempo, 
desemprega uma massa de trabalhadores que não 
terá renda para consumir, o que leva a crises 
sucessivas de excesso de produção. 
 A influência das idéias de Marx na política 
foi imensa, forjando parte da história do século XX 
e produzindo o ordenamento mundial atual. 
 
5.2. O século XX 
 No século XX temos uma pluralidade de 
perspectivas filosóficas. As principais são: 
 Pragmatismo - os principais representantes 
são Charles Sanders Peirce (1839-1914), William 
James (1842-1919) e John Dewey (1859-1952). O 
pragmatismo é uma reação ao materialismo 
positivista que escolhe o caminho da prática. O 
pragmatismo afirma de maneira clara que o método 
pragmático consiste no estudo de várias doutrinas 
do ponto de vista de suas conseqüências práticas e 
seus resultados. 
 Fenomenologia - seu principal 
representante foi Edmund Husserl (1859-1938). 
Husserl argumenta que devemos compreender os 
fenômenos como eles nos aparecem, independentes 
de suas relações. A fenomenologia é o método 
privilegiado do existencialismo. 
 Os principais representantes do 
existencialismo no séc. XX são: Martin Heidegger 
(1889-1976), Karl Jaspers (1883-1969), Jean-Paul 
Sartre (1905-1980), Gabriel Marcel (1887-1973) e 
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961). 
 A filosofia de Heidegger é extremamente 
influente. É considerado um dos filósofos da "morte 
da filosofia", pois dizia que a filosofia, como vinha 
sendo produzida desde Sócrates, não propiciaria a 
posse da verdade – Nietzsche fazia a mesma crítica 
dizendo que a verdadeira filosofia era a dos pré-
socráticos – e a saída seria o retorno à linguagem 
poética, que seria a única a permitir a posse do ser. 
 Sartre se tornou o mais popular filósofo do 
século XX. Dentro do existencialismo e da 
fenomenologia, flertou com o marxismo soviético e 
chinês; foi da Resistência na época da Segunda 
Guerra Mundial; participou ativamente da política 
francesa do pós-guerra apoiando sindicatos e 
greves; participou do movimento de estudantes de 
1968; escreveu romances e peças teatrais; foi 
agraciado com o Nobel de literatura, mas recusou; 
viajou o mundo apoiando revoluções sociais. 
 O existencialismo de Sartre era ateu e sua 
filosofia pregava o controle da náusea e da angústia 
inevitáveis ao se perceber que Deus não existe e que 
todos os atos são de inteira responsabilidade do 
indivíduo, que não se reporta a nada para decidir sua 
existência e determinar sua própria essência 
(REALE; ANTISERI, 1990) (SARTRE, 2004). 
 Neomarxistas - os teóricos da Escola de 
Frankfurt recriaram em novos moldes a abordagem 
de Marx (teoria crítica), por isso são chamados de 
neomarxistas. 
 
 
 
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 19 
 
 Não devemos confundir o pensamento 
de Frankfurt com os ditos marxistas, que eram 
ideólogos do mundo soviético; o marxismo da 
Escola de Frankfurt não era aceito pela 
ortodoxia dos países comunistas. 
 
 Usando a teoria de Marx e dela fazendo 
uma mescla com outras doutrinas – por exemplo a 
psicanálise, esses teóricos desenvolveram uma 
crítica da sociedade de massas, da cultura, das artes, 
da ciência e da razão instrumental ligada à técnica. 
 Neopositivismo, ou positivismo lógico - 
responsável por uma das revoluções do pensamento 
filosófico no século XX. Com ele a filosofia sofre o 
que se convencionou chamar de "giro lingüístico", 
determinando que a análise da linguagem se 
tornasse a atividade primordial da filosofia. 
 Segundo os positivistas lógicos, somente 
são consideradas ciências aquelas áreas de 
conhecimento, cujas sentenças são verificáveis. 
Além desse critério de verificação, que estabelecia 
uma separação entre o que é e o que não é 
científico, os positivistas lógicos chamavam a 
atenção para o fato de que a linguagem comum não 
seria adequada para o conhecimento científico; 
defendiam, então, que somente uma linguagem 
artificial lógica e simbólica poderia tratar do 
conhecimento. 
 O trabalho da filosofia estaria resumido à 
análise da linguagem das ciências por meio da 
lógica simbólica. Era essa linguagem que 
propiciaria a unificação das ciências, um idealdos 
neopositivistas. 
 O projeto faliu; mesmo a física, modelo de 
ciência para os positivistas lógicos, possui 
proposições metafísicas, que não podem ser 
verificadas. 
 A preocupação do positivismo com a 
questão da demarcação científica era reflexo da 
extrema importância que a ciência adquiriu dentro 
da sociedade ocidental. Em função desse interesse 
pelo conhecimento científico, uma área específica 
da filosofia surgiu no século XX: a filosofia da 
ciência. 
 Karl Popper (1902-1994) assumiu a questão 
de determinar o que é ou não ciência. Crítico do 
positivismo lógico, Popper defendeu um novo 
critério de demarcação, que segundo ele, não estaria 
na verificação, mas no caráter falsificável de uma 
teoria. Somente uma teoria que se coloca à prova - 
dizendo exatamente o que admite ou não e como 
isso pode ser testado - é tida como científica. 
Teorias que nunca podem ser falsificadas são teorias 
metafísicas. Mas, ao contrário dos positivistas 
lógicos, Popper não dizia que teorias metafísicas 
não possuíam sentido; eram plenas de sentido e 
muitas vezes fonte de teorias científicas (POPPER, 
1993, 1994). 
 
 
 
 
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 20 
VI - AS DISCIPLINAS FILOSÓFICAS 
 
 A filosofia divide suas disciplinas em 
função dos problemas a que responde. São cinco as 
grandes áreas de investigação da filosofia: 
� a metafísica; 
� a epistemologia, ou teoria do 
conhecimento; 
� a ética; 
� a filosofia política; e 
� a estética; 
 Dentro destas grandes áreas, temos divisões 
em disciplinas mais específicas que tiveram sua 
delimitação estabelecida a partir do século XIX e 
durante o século XX. 
 
Veja um exemplo! 
 Dentro da epistemologia há a filosofia da 
ciência que, além da perspectiva geral que procura 
falar de todas as ciências, pode se dividir em 
filosofia das ciências naturais, formais e sociais. 
 Estas divisões não tornam as disciplinas 
filosóficas estanques, pelo contrário, os problemas 
filosóficos se encontram e se inter-relacionam, 
constituindo uma rede com diversos nós de ligação. 
 As três primeiras disciplinas que você 
estudará são: metafísica, a epistemologia e a ética. 
Que tal começar? 
 
6.1. A Metafísica 
 Este termo é o título de uma das principais 
obras de Aristóteles, apesar do filósofo grego não o 
ter utilizado. Andrônico de Rodes, organizador da 
obra completa de Aristóteles no século I a.C., 
ordenando os livros em ordem alfabética grega, 
percebeu um problema, pois o livro posterior à 
"Física" não tinha nome. Andrônico o nomeou "o 
livro que vem depois da Física", em grego "tà metà 
tà fisicà"; daí "metafísica". Aristóteles utilizava a 
expressão "filosofia primeira" para se referir à 
disciplina que hoje denominamos metafísica. 
 
 O nome dado por Andrônico veio a se 
tornar aceito, em especial porque o termo se refere 
à coisas que estão além do que é físico. No caso de 
Aristóteles, a "filosofia primeira", ou metafísica, 
seria a área da filosofia que abordaria as causas 
primeiras de toda a existência, o ser em si mesmo, 
que Aristóteles identificava como Deus. 
 
 De maneira introdutória pode-se dizer que a 
metafísica trata dos problemas do ser e da 
existência. O que existe? O que define a existência 
específica de algo e do todo? Que tipo de existência 
pode-se advogar da essência das coisas? Existem 
causas e quais? O que é necessário e o que é 
contingente? Todas estas são questões metafísicas. 
(ARISTÓTELES, 1984). 
 Aristóteles já igualava o estudo metafísico 
ao estudo de Deus e essa tem sido uma preocupação 
constante dentro da filosofia. Desde a Antigüidade, 
os filósofos têm se perguntado pela possibilidade da 
existência ou não de uma entidade supra-natural, 
criadora ou co-eterna com o mundo. Muitos ao 
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 21 
longo do tempo desenvolveram argumentos 
favoráveis à crença na existência de Deus. 
 Os argumentos elaborados utilizam 
inúmeras abordagens, observe: 
 Platão chegou a identificar as idéias do 
Belo e do Bom com Deus e negou as divindades 
gregas como representativas da Divindade 
verdadeira (PLATÃO, 2001); 
 Aristóteles falava de uma causa primeira, 
dentre todas as causas observadas, que ele 
identificou como uma divindade co-eterna ao 
universo (ARISTÓTELES, 1984); 
 Santo Tomás de Aquino desenvolveu os 
argumentos de Aristóteles dentro de uma 
perspectiva cristã, o que ficou conhecido como as 
"cinco vias" sobre a existência de Deus (AQUINO, 
2002); 
 Santo Agostinho, santo Anselmo e 
Descartes desenvolveram um argumento – 
chamado de ontológico – que afirmava a existência 
de Deus a partir da própria idéia de Deus 
(AGOSTINHO, 1984) (ANSELMO, 1979) 
(DESCARTES, 1979); 
 Pascal, à época de Descartes, desenvolveu 
um argumento baseado na maior probabilidade de 
acerto da crença na existência de Deus (PASCAL, 
1973); 
 Kant afirmou a necessidade moral da 
crença em Deus, sem a qual nenhuma vida moral 
poderia se constituir (KANT, 2002); 
 Richard Swinburne - filósofo britânico da 
contemporaneidade - inspirado no argumento de 
Pascal utiliza um teorema da probabilidade-
estatística (teorema de Bayes) para advogar a 
racionalidade da crença em um Deus pessoal, em 
especial o do Cristianismo (SWINBURNE, 1998); 
 A razão da existência pessoal e da 
existência como um todo, também é um problema 
metafísico e com reflexos imediatos para o nosso 
viver cotidiano. 
 Por exemplo, os objetivos que você traça 
em sua vida e as ações que realiza para alcançá-
los. Em especial este problema se coloca quando o 
homem se defronta com condição mortal. 
 
 A morte apressa as questões acerca do 
significado da vida, além da definição de que é algo 
bom ou ruim. 
 Procurar sentido no que fazemos pode 
estar nos desejos pessoais, nas preocupações 
sociais, ou em algo fora desse mundo. 
 Alguns filósofos argumentam que não há 
sentido na existência pessoal, que se daria pelo 
acaso e demandaria a produção livre e pessoal de 
um significado, sob pena de se admitir até mesmo o 
suicídio como resposta à falta de significado da 
existência. 
 Outros dirão que mesmo que se produza 
significado, este é apenas subjetivo, pois o universo 
demonstra uma indiferença constante à existência e 
ao que o ser humano produz, já que tudo será 
consumido pelo tempo e desaparecerá para sempre, 
mesmo as lembranças que tenham de nós e de 
nossas ações. Talvez o ser humano não devesse se 
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 22 
preocupar tanto com sua existência como um ser 
único, achando que ele é especial (NAGEL, 2001, 
2004). 
 
Antes de continuar dê uma parada e leia a poesia 
de Fernando Pessoa, denominada O Mistério das 
Cousas, ela possibilitará a reflexão sobre o que 
você estudou. 
O Mistério das Cousas 
 
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) 
Há Metafísica bastante em não pensar em nada. 
O que penso eu do mundo? 
Sei lá o que penso do mundo! 
Se eu adoecesse pensaria nisso. 
Que idéia tenho eu das cousas? 
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? 
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma 
E sobre a criação do Mundo? 
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos 
E não pensar. É correr as cortinas 
Da minha janela (mas ela não tem cortinas). 
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério! 
O único mistério é haver quem pense no mistério. 
Quem está ao sol e fecha os olhos, 
Começa a não saber o que é o sol 
E a pensar muitas cousas cheias de calor. 
Mas abre os olhos e vê o sol, 
E já não pode pensar em nada, 
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos 
De todos os filósofos e de todos os poetas. 
A luz do sol não sabe o que faz 
E por isso não erra e é comum e boa. 
Metafísica? Que metafísicatêm aquelas árvores? 
A de serem verdes e copadas e de terem ramos 
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz 
pensar, 
A nós, que não sabemos dar por elas. 
Mas que melhor metafísica que a delas, 
Que é a de não saber para que vivem 
Nem saber o que não sabem? 
"Constituição íntima das cousas"... 
"Sentido íntimo do Universo" ... 
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada. 
É incrível que se possa pensar em cousas dessas, 
É como pensar em razões e fins 
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos 
lados das árvores 
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão. 
Pensar no sentido íntimo das cousas 
É acrescentado, como pensar na saúde 
Ou levar um copo à água das fontes. 
O único sentido íntimo das cousas 
É elas não terem sentido íntimo nenhum. 
Não acredito em Deus porque nunca o vi. 
Se ele quisesse que eu acreditasse nele, 
Sem dúvida que viria falar comigo 
E entraria pela minha porta dentro 
Dizendo-me, Aqui estou! 
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos 
De que, por não saber o que é olhar para as cousas, 
Não compreende quem fala delas 
Com o modo de falar que reparar para elas 
ensina.) 
Mas se Deus é as flores e as árvores 
E os montes e sol e o luar, 
Então acredito nele, 
Então acredito nele a toda a hora, 
E a minha vida é toda uma oração e uma missa, 
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos. 
Mas se Deus é as árvores e as flores 
E os montes e o luar e o sol, 
Para que lhe chamo eu Deus? 
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar; 
Porque, se ele se fez, para eu o ver, 
Sol e luar e flores e árvores e montes, 
Se ele me aparece como sendo árvores e montes 
E luar e sol e flores, 
É que ele quer que eu o conheça 
Como árvores e montes e flores e luar e sol. 
E por isso eu obedeço-lhe, 
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si 
próprio?), 
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente, 
Como quem abre os olhos e vê, 
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes, 
E amo-o sem pensar nele, 
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 23 
E penso-o vendo e ouvindo, 
E ando com ele a toda a hora. 
 
6.2. Epistemologia 
 A epistemologia, ou teoria do 
conhecimento, trata de todas as questões acerca do 
conhecimento humano: como procede; de onde 
parte; seus limites; seus tipos. 
 Ao procurar conhecimento, pretende-se 
encontrar crenças verdadeiras justificadas. 
 Dentro desta definição encontram-se dois 
conceitos que devem ser clarificados: verdade e 
justificação. 
 Existem diversas teorias que definem o que 
é a verdade. Dentre elas temos a mais comum, a 
"teoria da correspondência" ou "teoria especular". O 
termo "especular" se refere a espelho, pois supõe 
que os conhecimentos que cada pessoa possui se 
espelham a realidade ou correspondem ao mundo 
como ele é. Assim, verdadeira é a crença que 
reproduz a estrutura do mundo e falsa é a crença que 
não reflete esta estrutura. 
 Uma outra teoria, mais nova, é a 
pragmatista. Segundo esta teoria, a verdade é uma 
característica provisória das crenças, ou seja, 
enquanto estas produzem o resultado esperado em 
termos de finalidades práticas, elas sustentam o 
status de verdadeiras. 
 Quanto à justificação, sua definição está 
ligada ao tipo de conhecimento que se pretende 
advogar, o procedimento necessário para atingi-lo e 
as evidências relevantes. 
 
 Veja uma explicação! 
 Se o que pretendo provar é um teorema 
matemático, o procedimento de justificação se 
resume ao conjunto de regras lógicas de 
demonstração e não necessito de evidência além do 
próprio cálculo lógico. O mesmo não acontece se a 
crença que pretendo justificar é a de que 
determinado vírus é o causador de uma doença 
específica; neste caso preciso de evidência 
observacional que deverá ser coletada, mensurada 
e relacionada com os efeitos que pretendo explicar. 
 Ao tentar defender a existência da mente 
como algo imaterial a justificativa deverá possuir 
não só uma argumentação logicamente correta, mas 
também apresentar fatos plausíveis e não 
contraditórios em defesa do que se pretende afirmar 
como verdade. 
 Todas estas características dizem respeito 
ao conhecimento, mas há uma área específica da 
epistemologia que se consolidou no passar dos 
séculos XIX e XX: a filosofia da ciência. 
 O conhecimento científico, em especial o 
das ciências naturais, se desenvolveu enormemente 
a partir do início da modernidade com a Revolução 
Científica e a Revolução Industrial. A ciência se 
tornou, durante o século XIX e ainda hoje para 
alguns, o conhecimento privilegiado. A ciência tem 
uma enorme importância na sociedade de hoje, o 
que pode ser apreciado ao notar o grande interesse e 
dependência que se possui das questões científicas e 
tecnológicas. Aos filósofos interessam indagar o 
que caracteriza o conhecimento científico, seu 
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 24 
método ou métodos, suas teorias e a realidade da 
qual pretende falar. 
 
É bom lembrar que o problema da demarcação do 
que é ou não conhecimento científico vem desde o 
início dos questionamentos em filosofia da ciência 
e está ligado à questão do progresso da ciência. 
 
 É importante ressaltar ainda, uma das 
posições mais radicais contra as convicções realistas 
do conhecimento: o ceticismo. 
 O cético é um terrorista do conhecimento 
que pretende deixar em escombros o edifício do 
conhecimento. A metáfora do edifício do 
conhecimento foi utilizada por Descartes em sua 
obra "Discurso do Método", onde pretendia se 
defender dos argumentos céticos. O cético chama 
atenção para o fato de que constantemente o ser 
humano erra: nosso raciocínio se mostra errado, 
somos enganados pelos sentidos, confundimos 
sonho e realidade, e nossas teorias estão 
permanentemente se mostrando falhas. 
 
 Em suma, não podemos dar crédito às 
nossas percepções e crenças, pois não 
possuímos garantia alguma da correção delas; 
no máximo podemos afirmar que temos 
opiniões acerca do mundo, nunca 
conhecimento de como ele realmente é. 
 
 
 
6.3. Ética 
 Os problemas éticos, assim como os 
políticos, são os que mais se relacionam com o 
nosso dia-a-dia. As questões éticas são relativas ao 
agir humano. O que é certo fazer? O que não 
devemos fazer? Qual ou quais são as fontes da 
moralidade? Há alguma relação entre o certo e o 
útil? A felicidade pessoal é a justificativa final das 
ações humanas? 
 Além das questões éticas de cunho geral 
referidas acima, existem as questões mais 
específicas, relativas à época em que se vive, em 
especial aquelas que dizem respeito à vida. 
 
 Veja estes exemplos! 
 O aborto poderia ser eticamente 
justificado? A eutanásia não seria apenas um 
assassinato? Pode-se realizar pesquisas com 
células-tronco embrionárias? 
 
 Estas questões estão ligadas com a 
concepção de ser humano. A moral tradicional e as 
religiões tentam respondê-las, mas como as 
concepções morais são variadas e as religiões são 
muitas, o papel da filosofia se mostra primordial, 
pois com o uso da nossa capacidade racional 
comum pode-se tentar o acordo. 
 Se prestarmos atenção à história da 
humanidade, perceberemos que os diferentes povos 
e civilizações possuíam concepções contraditórias 
acerca do certo e do errado; as sociedades hoje 
existentes, tem percepção do bem e do mal também 
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 25 
variadas. A conclusão destas observações para o 
relativista moral é a de que a norma moral depende 
da sociedade em que se vive; o que é certo é aquele 
tipo de ação que a sociedade procura incentivar ou 
toma como normal, e o que é errado é a ação que 
aquela sociedade tenta proibir. 
 
 Deste modo, para o relativista moral não 
podemos condenar moralmente asações de 
determinado povo, pois este está simplesmente 
fazendo aquilo que pensa estar certo. Qualquer 
tipo de repreensão moral seria derivada de uma 
atitude etnocêntrica. 
 
 As posições relativistas vêm desde a 
Antigüidade. Alguns de seus mais famosos 
representantes foram os sofistas, na Grécia Antiga, 
e Montaigne, no início do Período Moderno. A 
crítica ao relativismo também é tão antiga quanto 
seus representantes. Sócrates constituiu seu 
pensamento na luta contra as posições céticas e 
relativistas dos sofistas, assim como Platão. 
 Há uma coincidência nas diversas respostas 
dadas ao relativismo moral, mesmo quando estas 
respostas não derivam teorias éticas comuns. 
Platão, Aristóteles, os filósofos cristãos da Idade 
Média, os racionalistas modernos, os empiristas, os 
utilitaristas, Kant e diversos outros pensadores não 
coincidiram em suas propostas de uma teoria ética 
definidora do certo e do errado no agir humano, mas 
todos eles coincidiram em suas críticas ao 
relativismo e na possibilidade de chegarmos 
racionalmente ao que usualmente chamamos de 
"regra áurea", uma norma moral universal. Nisto 
estão ao lado das maiores tradições religiosas da 
história da humanidade (SINGER, 2002). 
 As críticas ao relativismo e ao subjetivismo 
estão centradas na idéia da impossibilidade de 
crítica moral, de educação moral e reforma social ao 
admitirmos a posição relativista. Segundo os 
críticos do relativismo, basta que você se pergunte 
quais seriam as razões para condenar um ato em um 
grupo social diferente do seu ou em um subgrupo 
social da sociedade em que se está inserido. 
 
Como, por exemplo... 
Posso condenar um ato terrorista se esta pode ser 
uma ação vista como correta dentro do grupo ao 
qual o terrorista pertence? Olhe para os inúmeros 
subgrupos dentro da sociedade em que você vive. Se 
em um destes subgrupos a prática religiosa é 
diferente da maioria da sociedade, ela teria que ser 
condenada como errada? 
 
 No caso do subjetivismo ético, os 
problemas se repetem. Imagine você se o certo e o 
errado fossem os objetos do desejo dos indivíduos. 
A responsabilidade moral, assim como a imputação 
de culpa, não poderiam ocorrer dentro da sociedade. 
Novamente, como pais e educadores agem? Dizem 
a seus filhos e alunos "façam o que desejam"? 
 A idéia de educação moral está justamente 
baseada no controle dos desejos subjetivos. Como 
bem disse Thomas Hobbes, se esta é a natureza 
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 26 
egoística do homem, o estado da natureza é a guerra 
de todos contra todos (HOBBES, 1979). 
 Há uma tentativa, com base no pensamento 
de Kant, de controlar o subjetivismo. Esta faz 
referência ao conceito de "observador ideal". O 
pensador que defende esta teórica foi o filósofo 
americano John Rawls. Nesta teoria, ao decidir 
sobre a ação, o indivíduo deve se colocar na posição 
de um observador ideal que procuraria ter o máximo 
conhecimento possível sobre a ação a ser realizada – 
inclusive as possíveis conseqüências – e procurar 
agir com total imparcialidade nas ações, isto é, 
levando os interesses de todas as pessoas – incluso 
ele próprio – igualmente em consideração 
(RAWLS, 2002). Uma das críticas a esta posição 
está ligada à exigência de total imparcialidade. 
 
 Imagine! Você levaria igualmente em 
consideração os interesses de seus familiares e de 
um desconhecido? 
 
 A questão mais central, diante das 
conseqüências para a possibilidade de uma ética é a 
questão do livre-arbítrio. 
 Os seres humanos são efetivamente livres 
ao tomarem uma decisão ou isto não passa de uma 
ilusão? 
 Diversos autores defenderam o 
determinismo como a posição teórica mais 
apropriada ao nosso conhecimento sobre o mundo e 
o ser humano. 
 O determinismo defende que todas as ações 
no mundo estão determinadas por causas anteriores 
a elas, incluso as ações humanas. 
 O ser humano tem que ter autonomia na 
escolha. Em algum momento nossa capacidade de 
decisão ou nossa vontade de poder escolher deve 
ocorrer sem nenhum constrangimento. 
 Isso é possível? Pense em você! 
 Quando decidiu fazer este curso, você não 
foi influenciado por nada a tomar esta decisão? 
 
 Kant é responsável por uma das mais 
influentes elaborações éticas da filosofia. Kant 
estabeleceu uma regra moral de aplicação universal 
que se configurou no chamado "imperativo 
categórico": age de tal maneira que seja seu desejo 
que todos ajam da mesma forma. A ética de 
Kant é extremamente rígida e vinculada à noção do 
"dever"; se você faz o que é certo, mas o faz 
almejando algo mais além de fazer o que é certo, 
então a ação foi viciada. 
 
 Agora, você estudará mais duas 
disciplinas filosóficas: a filosofia política e a 
estética. 
 
VII - FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA 
 
 A estrutura política, dos sistemas de 
governo e da justiça já era comum no pensamento 
dos filósofos da Antigüidade grega. 
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 27 
 Porém há dois tipos de contraposições 
teóricas clássicas na filosofia política. A primeira 
diz respeito à origem da sociedade e está dividida 
entre naturalistas e contratualistas. A segunda trata 
das relações entre ética e política que apresenta 
aqueles que defendem uma regulação ética da 
política e aqueles que defendem uma regulação 
exclusivamente política. 
 Os pensadores naturalistas são aqueles que 
afirmam o aspecto natural e evolutivo do 
aparecimento e desenvolvimento das sociedades. 
Seu representante foi Aristóteles que definia o ser 
humano como um animal político. Para ele, o 
Estado é apenas o ápice do desenvolvimento social 
e gregário da natureza humana. O núcleo social 
básico é a família, e dela vêm as demais 
organizações sociais. Esta progressão é natural e 
evolutiva, pois o homem não é uma besta que vive 
solitária, nem um deus que não precisa dos outros 
para existir (ARISTÓTELES, 1985). 
 Os contratualistas afirmam que qualquer 
sociedade surge em função de um pacto implícito 
entre os indivíduos que a comporão. As pessoas 
possuiriam diversos direitos que são naturais e por 
meio de uma decisão racional decidem por viver em 
grupo, abdicando de todos ou de alguns direitos 
naturais. 
 Para Aristóteles, a política é a continuação 
da ética. Um ser humano somente se define em 
sociedade, pois é nela que deve se esforçar por 
adquirir hábitos virtuosos. 
 Quase dois mil anos depois de Aristóteles, 
o diplomata e pensador político florentino Nicolau 
Maquiavel irá se contrapor à ligação entre ética e 
política. Para Maquiavel, a política possui regras 
próprias e o agir político deve ser definido pelos 
seus fins inerentes, que para ele são a manutenção 
do poder e da ordem na sociedade. 
 Maquiavel estabelece uma diferença entre 
o que hoje chamamos "razão de Estado" e as razões 
pessoais do governante. 
 
Aquilo que individualmente para uma pessoa seria 
o correto fazer, não é necessariamente certo para 
um governante. 
 
 Se necessário aos fins específicos do 
Estado, o governante deve agir na sua dependência, 
mesmo que pessoalmente em sua vida particular não 
o fizesse. O lema "os fins justificam os meios" é a 
expressão da desvinculação entre os preceitos éticos 
pessoais e os preceitos políticos públicos 
(MAQUIAVEL, 1973). 
 Para finalizar as referências aos problemas e 
respostas abordados dentro da filosofia política, 
façamos referência à questão da justiça e sua 
distribuição. 
 John Rawls e Robert Nozick foram dois 
filósofos americanos atuais que representaram 
idéias contrárias sobre a justiça distributiva. 
 Rawls defendeu a importância do Estado 
como o elaborador e realizador de mecanismos 
sociais e econômicos que produzam justiça social. 
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Ensinode Jovens e Adultos 
 
 28 
Caberia ao Estado diminuir as distâncias das 
diferenças entre as condições materiais dos 
indivíduos que compõem uma sociedade. 
 Nozick, era frontalmente contra qualquer 
tipo de ação que interferisse nos direitos naturais de 
uma pessoa. 
 A ação dos indivíduos dentro da sociedade 
deve ser livre de qualquer constrangimento. 
 
VIII - ESTÉTICA 
 
 A estética é a área da filosofia que trata da 
beleza e da arte. A apreciação estética é parte do 
nosso cotidiano. 
 
Observe: 
 Pode-se dizer que certas composições 
musicais são belas; quão bonita é uma paisagem; 
fala-se sobre a beleza de algumas pessoas; 
encanta-se com os quadros e as esculturas como 
belas. 
 Mas o que há de comum em uma 
paisagem, uma música, uma pessoa e um quadro 
quando dizem que todos são belos? 
 
 Você já deve ter se perguntado sobre isso e 
já deve ter percebido que, além de falar da beleza de 
coisas diferentes, as pessoas têm opiniões diferentes 
sobre o que é belo ou não. A tendência natural é 
chegar à conclusão de que gosto não se discute. 
 Nem todas as teorias estéticas advogam um 
subjetivismo extremo, a mais usual perspectiva 
estética é a da imitação. Em Platão, todo o mundo 
físico é imitação do mundo das idéias, o que 
percebemos através da nossa capacidade racional 
que ultrapassa o sensorial e apreende a idéia 
imaterial e eterna do belo, a beleza em si mesma. 
 Na perspectiva de Aristóteles a arte é por 
definição arte imitativa. Quanto mais perfeita a 
imitação realizada, mais a arte permite o 
aprimoramento humano, pois possibilita a 
percepção e a vivência de experiências múltiplas. 
 Alguns outros teóricos se concentraram na 
emoção, tanto a que o artista pretenderia expressar, 
quanto aquela que ocorre em quem aprecia. Mas os 
problemas logo aparecem. Como posso ter certeza 
da apreensão correta da emoção do artista? 
 Quanto à emoção produzida naquele que 
percebe a situação não é menos problemática. Se a 
emoção estética produzida por algo é diferente em 
duas pessoas é porque aquilo é falho? Não posso 
admitir que algo seja arte sem que aquilo produza 
em mim algum tipo de emoção? 
 Um outro tipo de posição em estética 
advoga uma posição sociológica e histórica. Esta 
concepção afirma que a beleza e a arte são definidas 
em função das condições psicológicas e sociais 
existentes em determinados períodos e locais. 
 Arte é aquilo que foi estabelecido como arte 
pelos manuais de história, pelos artistas, pelos 
marchands e pelos críticos. O mesmo ocorreria com 
a concepção de beleza. Dentro desta perspectiva há 
uma coincidência com o relativismo moral em ética 
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 29 
e com o ceticismo em epistemologia (GARDNER, 
2002). 
 Atualmente, o padrão de identificação do 
que é belo está ligado ao fato de evolutivamente as 
espécies reconhecerem a relação entre saúde e 
organismos de corpos simétricos. Esta hipótese 
explicativa é fruto de uma aliança nem sempre 
aceita entre estética e biologia evolucionista 
(WRIGHT, 1996). 
IX – DIMENSÃO PEDAGÓGICA DA 
FILOSOFIA 
 
 A preocupação grega com a formação do 
indivíduo se desdobrou nas inúmeras interpretações 
do que é o ser humano e as condições de 
maleabilidade de formação a que está submetido. 
A filosofia não pretende somente justificar a 
interpretação do que é o homem, como também 
produz normatização acerca dos procedimentos de 
formação. 
Uma concepção antropológica da natureza 
humana mais comedida seria a interpretação 
aristotélica do ser humano como um ser com 
características próprias, mas maleável em sua 
formação, que se dará de maneira interativa com os 
outros e com as situações com que se defronta. 
 Por exemplo: aristotelicamente, diríamos 
que: 
 A educação envolve aspectos sociais, 
políticos e éticos que fazem dela uma arte regida 
pela prudência, e esta prudência se aplica à 
prática. 
 
A partir de agora vamos nos aprofundar nestes 
aspectos que envolvem o processo educativo. 
 
 Iniciaremos revisitando Platão e Sócrates. 
 A concepção de ser humano encontrada em 
Platão permite o aprimoramento pessoal, mas a 
prática educacional defendida por ele não permite 
variedade. Platão estabelece estritas regulações do 
processo educacional em relação aos tipos 
psicológicos que acreditava existirem. A imagem do 
Sócrates mestre é a de um indivíduo preocupado 
com os caminhos que o conhecimento e o 
aprimoramento moral do indivíduo poderiam tomar. 
Sócrates é apresentado nos diálogos de Platão como 
mais preocupado com o procedimento do que com o 
resultado final do empreendimento cognitivo. O 
processo educacional não termina, assim como a 
verdade não se apreende de todo. 
 Esta perspectiva socrática vai até o advento 
do Cristianismo. Após a vitória do Cristianismo 
como religião dominante no mundo ocidental, a 
missão de preparar a vida deixa de ser uma função 
da filosofia e passa a ser da religião. 
 
9.1. Abordagem Filosófica, Metafísica e 
Epistemológica da Formação da Pessoa 
 A filosofia possibilitará a formação do 
indivíduo quando retomar a noção de razão prática, 
entendida como orientação para a vida. 
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 30 
 Para isto devemos levar em consideração 
alguns fatores importantes para uma abordagem 
filosófica, metafísica e epistemológica da formação 
da pessoa. 
 
� Educação: a busca de uma 
constituição estável do ser humano que não 
muda com o tempo 
 Ao advogarmos um modo específico de 
educar estamos supondo uma constituição estável 
do ser humano que não muda com o tempo. A 
indicação de propriedades definidoras não é 
empreendimento fácil e devemos ter o cuidado em 
não cristalizar interpretações e práticas, a ponto de 
se tornarem prejudiciais à formação da pessoa. 
� Ausência de regularidade do 
processo educacional 
 A falta de regularidade do processo 
educacional também deve ser levada em conta para 
uma perspectiva pedagógico-filosófica 
enriquecedora. A figura do Sócrates inquiridor é 
exemplar dos descaminhos do processo educacional. 
Podemos justificar certas práticas educacionais, mas 
a dificuldade de que tais práticas ocorram sempre da 
mesma forma e resultem nos resultados pretendidos 
é uma pretensão que até a ciência natural 
contemporânea problematiza pelo uso contínuo da 
estatística e do cálculo de probabilidades. 
� A educação enquanto um 
processo histórico 
 A educação e seus processos obedecem a 
uma referência histórica. Nenhum procedimento 
humano está desvinculado de seu momento 
histórico e dos valores que constituem as 
comunidades. Não perceber a historicidade dos 
procedimentos educacionais impede a compreensão 
da mudança e a contextualidade destes processos. 
� A linguagem como veículo dos 
processos educativos. 
 A linguagem é o veículo privilegiado dos 
processos educacionais. A atenção aos significados 
e crenças vinculados no processo educacional nos 
remete à estrutura da argumentação, do diálogo, da 
formação pragmática do significado. A linguagem é 
o meio de compartilhamento de crenças. A 
linguagem produz significado dentro da 
comunidade de falantes, que determina o uso dos 
termos. 
 Perceber a educação como um jogo 
lingüístico ajuda a tomá-la como um processo de 
interação segundo regras. 
� A cultura enquanto um conjunto 
de valores para as comunidades 
 A cultura apresenta um conjunto de valores 
que norteiam todas as atividades dentro de uma 
comunidade. Uma educação plena e democrática 
deveria reproduzir os valores, criticá-los, repô-los, 
compará-los e disseminá-los em sua pluralidade. 
� Aspectos econômicos que 
influenciam a educação 
 Por último – mas não seriam só estes os 
fatores existentes – citamos os aspectos

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