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2.ª edição
2009
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IESDE Brasil S.A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
© 2006-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza-
ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
W761 Winck, Otto Leopoldo; Triches, Ivo José; Rezende, Cláudio Joaquim. 
/ Tópicos da Filosofia da Educação. / Otto Leopoldo Winck; 
Ivo José Triches; Cláudio Joaquim Rezende. 2. ed. — Curitiba : 
IESDE Brasil S.A. , 2009.
336 p.
ISBN: 978-85-7638-998-9
1. Educação. 2. Filosofia. 3. Antropologia educacional. 4. Filo-
sofia – História. I. Título. II. Machado, Wanderley. III. Silva, Lu-
ciano D. da. IV. Triches, Natalina.
CDD 370.1
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Domínio público
Nome da obra: Escola de Atenas, 1510
Autor: Rafael Sanzio
Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Espe-
cialista em Filosofia com Ênfase em Ética pela Pontifícia Universidade Católica do 
Paraná (PUCPR) e bacharel em Teologia pela PUCPR.
Otto Leopoldo Winck
Mestre em Engenharia da Produção com ênfase em Mídia e Conhecimento pela 
UFSC. Especialista em Filosofia Clínica pela Faculdade Padre João Bagozzi. Espe-
cialista em Filosofia Política pela UFPR. Especialista em Pensamento Contemporâ-
neo pela PUC-PR. Graduado em Filosofia pela PUC-PR.
Ivo José Triches
Sumário
Apresentação ............................................................................. 11
Convite à filosofia ..................................................................... 13
Por que filosofia? ........................................................................................................................... 13
Definições .................................................................................................................................... 14
Divisão de tarefas ...................................................................................................................... 16
A atitude filosófica e o senso comum ................................................................................ 17
Nem dogmatismo nem ceticismo ....................................................................................... 18
Sócrates e a filosofia moral ocidental....................................25
O gênio grego, o mito e as origens da filosofia .............................................................. 25
Os filósofos naturalistas e os sofistas ................................................................................. 27
Platão e o nascimento da razão ocidental ..........................41
Platão: atleta e poeta ............................................................................................................... 41
As vigas do pensamento platônico .................................................................................... 43
O legado de Platão ................................................................................................................... 46
Aristóteles e a filosofia como totalidade 
dos saberes ................................................................................. 53
Filho de médico, mestre de príncipe .................................................................................. 53
Os escritos de Aristóteles ....................................................................................................... 54
Só o individual é real ................................................................................................................ 55
A metafísica ................................................................................................................................. 57
O pai da lógica ............................................................................................................................ 59
A justa medida e o bem comum .......................................................................................... 61
De Aristóteles à Renascença................................................. 69
A filosofia na era helenística .................................................................................................. 69
Sob a égide da cruz .................................................................................................................. 77
A Renascença e o divórcio entre razão e fé ...................................................................... 87
Espinosa: uma filosofia da liberdade ................................. 97
A filosofia moderna: entre razão e experiência .............................................................. 97
Uma vida em diáspora ............................................................................................................. 98
Uma vida de filósofo ..............................................................................................................100
O panteísmo de Espinosa .....................................................................................................103
O ser humano ..................................................................................................................................104
A moral, o sábio e a eternidade ..........................................................................................106
Igreja e Estado ..........................................................................................................................106
O Iluminismo e o Século das Luzes ..................................113
Há algo de novo debaixo do Sol ........................................................................................113
Da Inglaterra e da França as luzes brilham para o mundo .......................................115
Luzes e revolução ....................................................................................................................116
A máquina a vapor e a ferrovia: as luzes chegam à técnica .....................................118
Nomes que brilham ................................................................................................................119
O legado iluminista ................................................................................................................122
Immanuel Kant e o idealismo alemão ...................................129
Na encruzilhada da razão .....................................................................................................129
O filósofo de Königsberg ......................................................................................................130
Entre dogmatismo e ceticismo: a via kantiana .............................................................133
A razão no tribunal .................................................................................................................134
O imperativo categórico .......................................................................................................138
Kant e a educação ...................................................................................................................140
O idealismo alemão ................................................................................................................141
A dialética idealista e materialista ....................................147
Dialética: breve histórico ......................................................................................................147
Hegel ............................................................................................................................................149
O hegelianismo ........................................................................................................................151Filósofo e agitador ..................................................................................................................154
O materialismo histórico ......................................................................................................156
A práxis ........................................................................................................................................158
Schopenhauer: o mundo como representação .............167
Contra Hegel .............................................................................................................................167
Uma vida taciturna .................................................................................................................169
O mundo como representação ..........................................................................................171
Tudo é dor ..................................................................................................................................172
O nirvana ....................................................................................................................................173
Schopenhauer e a educação ...............................................................................................174
O positivismo e o desenvolvimento da ciência ...........179
Um mestre e uma musa ........................................................................................................179
História e evolução .................................................................................................................181
A religião da humanidade ....................................................................................................183
Quando filosofia vira samba ................................................................................................183
Nietzsche educador ...............................................................191
Vates e filósofos........................................................................................................................191
Uma vida perigosa ..................................................................................................................192
Uma filosofia feita com o martelo .....................................................................................196
O “anticristo” e a luta contra o platonismo do povo ...................................................197
O super-homem e a nova moral ........................................................................................198
Nietzsche e a educação .........................................................................................................199
Nietzsche está vivo .................................................................................................................201
A Escola de Frankfurt .....................................................................209
A herdeira do facho ................................................................................................................209
Uma escola crítica ...................................................................................................................210
Os momentos da teoria crítica ...........................................................................................212
Teoria crítica versus teoria tradicional ..............................................................................213
Razão instrumental e indústria cultural ..........................................................................214
Principais expoentes ..............................................................................................................216
Luzes, razão e educação........................................................................................................222
Pragmatismo e existencialismo.........................................231
Era dos extremos: as duas faces da moeda ....................................................................231
Pragmatismo: origens e paternidade ...............................................................................232
Existencialismo: “uma mística do inferno” ......................................................................237
Filosofia e educação ..............................................................259
Filosofia para quê? ................................................................................................................................ 259
Crise e filosofia .................................................................................................................................259
Filosofia e educação: isso dá samba? ...............................................................................262
Filosofar ou filosofar: eis a questão ...................................................................................264
Ética e educação .....................................................................269
A refundação da ética ............................................................................................................269
Ética e moral ..............................................................................................................................270
A ética através dos tempos ..................................................................................................271
A ética na educação ............................................................................................................................. 275
Reconstruindo a ética na escola: tarefas .........................................................................276
Filosofia e formação humana na escola .........................283
No princípio ...............................................................................................................................283
A educação como formação................................................................................................284
A formação como humanização ........................................................................................286
A escola como espaço privilegiado da formação ........................................................288
O processo do filosofar na Educação Infantil ...............295
Filosofia para crianças e filosofia com crianças .............................................................295
Filosofia e autonomia ...................................................................................................................296
Uma sociedade real ................................................................................................................298
A diferença .................................................................................................................................300
Gabarito..........................................................................................305
Referências ................................................................................329
Anotações ......................................................................................335
 “Tudo o que é sólido se desmancha no ar”, escreveu Karl Marx no Manifesto 
Comunista, referindo-se à vertiginosa velocidade das mudanças na sociedade de 
sua época. Hoje, mais de 150 anos depois, podemos afirmar que essa constatação 
continua mais do que nunca atual. Vivemos, com efeito, sob o impacto de mudan-
ças cada vez mais velozes, em um tempo em que valores e certezas outrora consi-
derados sólidos liquefazem-se antes mesmo que outros lhes tenham substituído.
 Nesse sentido, a educação é uma caixa de ressonância dessas vertiginosas 
transformações. Ao mesmo tempo em que as instituições de ensino são o baluar-
te de algumas das mais antigas tradições, como a disciplina e a hierarquia, elas não 
deixam de ser profundamente afetadas pelas alterações do presente mais imediato. 
As rebeliões juvenis do ano de 1968, por exemplo,tiveram como palco privilegiado as 
universidades.
Daí a importância e a urgência de pensarmos constantemente a educação. E para 
fazê-lo, nada melhor do que pedirmos auxílio à filosofia. E é o que faremos ao 
longo deste curso de Tópicos de Filosofia da Educação.
 Na aula inicial, intentaremos uma melhor clarificação do conceito de filoso-
fia. Em seguida, da aula dois à aula 14, faremos uma viagem pela história da filosofia 
ocidental, desde os seus antecessores gregos até correntes recentíssimas como o 
Existencialismo e a Escola de Frankfurt. Assim, nessa viagem lançaremos um olhar 
especial sobre alguns dos principais pensadores desse longo período, e esse olhar 
será acompanhado de exercícios de fixação e reflexão. Ademais, cada aula será 
complementada com um ou mais textos extraídos preferencialmente dos próprios 
filósofos – isso porque acreditamos que conhecer a história da filosofia é, sobretudo, 
frequentar a reflexão dos pensadores que fizeram essa história. Mas, em todo caso, 
ler textos de filosofia ainda não é produzir filosofia e, por isso, ao fim de cada uma 
destas aulas, os alunos serão estimulados a ousarem pensar e refletir, à luz tanto dos 
filósofos estudados quanto de problemas extraídos da contemporaneidade.
 As aulas 15 a 18, por seu lado, abordam sob vários aspectos as relações 
entre filosofia e educação. Aqui são atacadas algumas questões candentes dessa 
problemática. Já que a educação nunca ocorre sem um substrato filosófico, ainda 
que latente ou oculto, é importante trazer à tona esse diálogo incontornável. É 
da mútua fecundação entre essas duas disciplinas, muito próximas uma da outra, 
que poderá surgir uma compreensão e uma prática de ensino e aprendizagem 
capazes não apenas de interpretar as velozes mudanças de nosso tempo como 
também de conduzi-las para a construção de uma sociedade mais humana. Aliás, 
o próprio Marx declarou, na 11.ª tese sobre Feuerbach, que “até agora os filósofos 
se limitaram a interpretar o mundo. Cabe-lhes agora transformá-lo”. Acrescenta-
mos apenas que essa missão é também – e sobretudo – dos educadores.
 Dessa maneira, ao fim desta apresentação, que não pretendemos longa, 
só nos resta desejar bons estudos e que essa viagem pelos horizontes imbricados 
da filosofia e da educação possa produzir muitos frutos tanto na teoria quanto na 
prática de nossa ação pedagógica.
Otto Leopoldo Winck
Apresentação
Convite à filosofia
A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo.
Maurice Merleau-Ponty
Não se pode aprender a filosofia; 
somente se pode aprender a filosofar.
Immanuel Kant
Por que filosofia?
Entre as matérias escolares, a filosofia é vista não raro como a mais abs-
trata e a mais distante dos interesses humanos mais imediatos. Depois do 
declínio da teologia, na Idade Moderna, coube à filosofia, a antiga serva da 
teologia (conforme a máxima dos teólogos medievais), o lugar de rainha. 
No entanto, ela seria também destronada com o advento das ciências po-
sitivas – aquelas que exigem o recurso da experimentação –, de modo 
que hoje é comum se perguntar o porquê da filosofia, pergunta que não 
é feita quando o assunto é Matemática, Física ou Biologia. Mesmo disci-
plinas pertencentes ao arco das ciências humanas – como Pedagogia, Psi-
cologia e Sociologia – encontram justificativas mais facilmente que a Filo-
sofia. Ora, estuda-se Pedagogia para se aprimorar o processo de ensino e 
aprendizagem, e a Psicologia e a Sociologia são necessárias para melhor 
se compreender o funcionamento da mente humana e da sociedade. Mas, 
e a filosofia, serve para quê? Em uma cultura em que se valoriza sobrema-
neira o que tem finalidade prática e utilidade imediata, o conhecimento 
filosófico parece fora de lugar, supérfluo e desnecessário.
Todavia, é justamente aí que se revela a sua imprescindibilidade. Em 
uma época e uma sociedade dominadas pela técnica, com os saberes 
(entre outros fatores, por causa do enorme cabedal de conhecimento e 
experiência acumulados) sendo extremamente especializados e portanto 
fragmentados, é indispensável um olhar que ofereça uma crítica e rigorosa 
14
Tópicos da Filosofia da Educação
visão de conjunto de todo esse horizonte. É imperioso – sob o risco de não saber-
mos nos localizar e portanto ficarmos privados de ação – um saber sobre esses 
saberes, um olhar sobre esses olhares, uma indagação sobre essas indagações, 
uma pergunta que nasce antes e não termina depois. Por que pensamos o que 
pensamos? Por que dizemos o que dizemos? Por que fazemos o que fazemos?
Nossa reflexão tem por meta a educação e, portanto, vamos direcionar para 
ela nossos questionamentos. Por que tenho essas ideias acerca do processo edu-
cacional? Será que não há outra maneira de se compreender esse processo? Por 
que falo dessa maneira sobre ou com nossos educandos? Por que me comporto 
dessa maneira em relação a eles? A quem interessa esse método educacional? 
De que ponto de vista e de que lugar social ele foi produzido? Isso é filosofia. E, 
aplicando-a ao processo do aprendizado, é filosofia da educação.
Definições
Mas, afinal, o que é filosofia? Como podemos defini-la? Existem provavelmen-
te tantas definições quantas são as escolas ou correntes da filosofia. O significa-
do etimológico do termo é “amor à sabedoria”:
phylos = “amigo”, “amor”
sophya = “sabedoria”
Porém, antes do substantivo filosofia já era usado o verbo filosofar e o nome 
filósofo. Provavelmente Pitágoras (580-500 a.C.) foi o primeiro a autodenominar- 
-se filósofo, embora se discuta se o título possuía então o mesmo sentido que 
ganharia depois, com Platão (426-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.). Para esses 
dois nomes paradigmáticos do pensamento ocidental, a filosofia é resultante da 
admiração e do estranhamento diante do espetáculo do mundo. Enquanto para 
Platão a filosofia é o saber que, em face das contradições da realidade, atinge 
a visão do verdadeiro – isto é, das ideias –, para Aristóteles a sua função é a in-
vestigação das causas e princípios das coisas. Para ele, na medida do possível, 
o filósofo possui, para além da particularidade de cada objeto, a totalidade do 
saber. Por isso, a filosofia é a ciência do ser enquanto ser e, em última instância, a 
ciência do princípio dos princípios, da causa última.
Convite à filosofia
15
Na Idade Média, a filosofia era uma aspiração à compreensão racional dos 
dados da fé. Na modernidade, ela foi ganhando cada vez mais autonomia. Para 
Francis Bacon (1561-1626), a filosofia é o conhecimento das coisas não pelos seus 
fenômenos transitórios, mas pelos seus princípios imutáveis. Para René Descartes 
(1596-1650), ela é o saber que averigua os princípios de todas as ciências e, enquan-
to filosofia primeira (a metafísica), ocupa-se da elucidação das verdades últimas. 
John Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753) e David Hume (1711-1776), 
cada um por sua vez, consideram-na, em geral, como crítica das ideias abstratas e 
reflexão sobre a experiência. Por outro lado, Immanuel Kant (1724-1804), depois 
de traçar os limites da razão, concebe a filosofia como um conhecimento racional 
por princípios.
Na corrente conhecida como idealismo alemão, a filosofia é entendida ora 
como o sistema do saber absoluto, dedução do mundo a partir do eu, como em 
Fichte (1762-1814), ora, como em Hegel (1770-1831), como a consideração pen-
sante das coisas, identificando-se assim com o espírito absoluto, isto é, o espírito 
plenamente consciente e conhecedor de si. Para Schopenhauer (1788-1860), ela 
é a ciência do princípio de razão como fundamento de todos os outros saberes 
e como autorreflexão da vontade. No positivismo, a filosofia torna-se um com-
pêndio geral dos resultados das ciências. Já para Edmund Husserl (1859-1938), 
ela é uma ciência rigorosa que conduz à fenomenologia1 como disciplina filosó-
fica fundamental. Por outro lado, para Wittgenstein (1859-1938) e os positivistas 
lógicos, ela não é um saber com um conteúdo específico, mas um conjunto de 
atos; não um conhecimentoe sim uma atividade. Em contrapartida, para Henri 
Bergson (1859-1941), a filosofia tem por objeto a substância da intuição, e ainda 
que se utilize da ciência como instrumento, aproxima-se mais da arte.
Como se vê, as definições e compreensões do que seja filosofia têm sido tão 
elásticas quanto contraditórias. Eis a seguir uma tentativa contemporânea de 
definição da filosofia:
A filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedimentos e conceitos científicos. Não 
é religião: é uma reflexão crítica sobre as origens e formas das crenças religiosas. Não é arte: é uma 
interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações das obras de arte e do trabalho 
artístico. Não é Sociologia nem Psicologia, mas a interpretação e avaliação crítica dos conceitos e 
métodos da Sociologia e da Psicologia. Não é política, mas a interpretação, compreensão e reflexão 
sobre a origem, a natureza e as formas do poder. Não é História, mas interpretação do sentido dos 
acontecimentos enquanto inseridos no tempo e na compreensão do que seja o próprio tempo. 
Conhecimento do conhecimento e da ação humana, conhecimento da transformação temporal 
dos princípios do saber e do agir, conhecimento das mudanças das formas do real ou dos seres; a 
filosofia sabe que está na História e que tem uma história. (CHAUÍ, 1994, p. 17)
1 Fenomenologia é o estudo dos fenômenos, ou melhor, o estudo de como o indivíduo percebe os fenômenos, isto é, tudo aquilo que é apreendido 
pelos sentidos ou pela consciência.
16
Tópicos da Filosofia da Educação
Todavia, o importante em todas essas discussões é que, à medida que crescia 
a consciência do problema, erigia-se pouco a pouco uma verdadeira “filosofia 
da filosofia”, que tem a sua justificação no fato de a filosofia não ser nunca, por 
princípio, uma totalidade acabada, mas sempre uma totalidade possível.
Divisão de tarefas
No entanto, desde cedo essa totalidade precisou de uma repartição de tare-
fas para poder abarcar os mais variados ângulos de seu múltiplo objeto. Ainda 
que a divisão da filosofia em diferentes disciplinas não seja comum a todos os 
sistemas, como ocorre em Platão ou Santo Agostinho, ela é visível em muitos 
outros sistemas filosóficos. Foi em Aristóteles que apareceram pela primeira vez 
as divisões que seriam tão influentes no curso da filosofia ocidental. É a partir de 
seu sistema filosófico – espécie de enciclopédia do saber de seu tempo – que 
se constituíram como disciplinas a lógica, a ética, a estética (poética), a Psico-
logia (doutrina da alma), a filosofia política e a filosofia da natureza, todas elas 
dominadas pela filosofia primeira (metafísica). Ao longo do tempo, a elas viriam 
se acrescentar, dominando sobretudo o ensino da filosofia até o século XIX, a 
gnoseologia, a epistemologia, a ontologia, a sociologia, além de um conjunto 
de matérias como filosofia da religião, filosofia do Estado, filosofia do Direito, 
filosofia da história, filosofia da linguagem etc., bem como a história da filosofia. 
Algumas delas se tornariam autônomas, como a Psicologia e a Sociologia. Por 
outro lado, há aqueles que julgam, por diversos motivos, que se deve excluir do 
corpus filosófico disciplinas como a lógica e a metafísica.
É possível estudar a filosofia de uma maneira sincrônica, isto é, abordando-a 
por meio de todas essas disciplinas, sem uma preocupação específica com suas 
evoluções temporais e os problemas decorrentes de influências, filiações, rami-
ficações e desdobramentos.
Também é possível estudá-la de um ponto de vista diacrônico, a partir de uma 
visada histórica, verificando no tempo o surgimento de suas principais correntes 
e o desenvolvimento de suas disciplinas. Pode-se também usar uma abordagem 
que se sirva de ambas as possibilidades. Por exemplo, pode-se ao mesmo tempo 
estudar tanto a ética e suas exigências atuais (abordagem sincrônica) quanto a 
sua evolução na história (abordagem diacrônica). Em nosso trabalho, privilegia-
remos um enfoque diacrônico, lançando um olhar sobre alguns dos principais 
filósofos e escolas filosóficas da história, mas sem desprezar, em alguns momen-
tos, uma óptica sincrônica.
Convite à filosofia
17
A atitude filosófica e o senso comum 
Em que consiste uma atitude filosófica? Quando, de fato, estamos envolvidos 
no processo filosófico? O que há de fundamental na atitude filosófica é a sua 
capacidade de indagar. Perguntar:
 O que a coisa é?
 Como a coisa é?
 Por que a coisa é assim?
Essas questões fazem parte da atitude de alguém que se coloca em uma pos-
tura filosófica frente ao mundo. O filósofo é aquele que não aceita como dadas 
as respostas às questões com que ele se depara no mundo.
De fato, a filosofia é um conhecimento instituinte na medida em que ques-
tiona o saber instituído, que é o saber já posto, já estabelecido, que goza de um 
certo consenso. De certa forma, é tudo aquilo que se tem por verdadeiro, por 
natural – em um determinado momento, em uma determinada sociedade. Resu-
mindo, saber instituído é o senso comum. E, nesse processo de indagação acerca 
desse saber institucionalizado, o ser humano vai dando novos significados ao 
mundo e à sua própria existência.
Quando nos referimos ao conceito de senso comum, nós o relacionamos ao 
conhecimento fragmentado da realidade. Platão definia esse tipo de conheci-
mento como doxa (“opinião”). Em outras palavras, emitimos parecer sobre tudo 
o que nos cerca e, no entanto, nessas opiniões nos falta uma visão da totalida-
de. Não conseguimos perceber que tudo se encontra inter-relacionado. Ou seja, 
para que possamos ter uma visão da totalidade de um fenômeno, torna-se ne-
cessário apreendê-lo na sua relação com os demais fenômenos.
Embora Platão tenha estabelecido vários níveis de compreensão da realida-
de, os dois principais são a doxa e a episteme. Um indivíduo que vive no âmbito 
da doxa é alguém que localiza sua existência apenas no senso comum.
Por outro lado, pensar os problemas a partir da episteme (“ciência”) é pensá- 
-los à luz da filosofia. Essa expressão designa a capacidade de olharmos para os 
fenômenos de maneira sistematizada. Uma reflexão somente é sistemática se 
for rigorosa, radical e de conjunto. Para explicitar a importância desses conceitos 
dentro do processo do filosofar, valemo-nos de um comentário de Maria Lúcia 
de Arruda Aranha. Nesse trecho, a filosofia da vida pode ser tomada como sinô-
nimo de doxa, opinião, senso comum:
18
Tópicos da Filosofia da Educação
A filosofia é radical porque vai até as raízes da questão. A palavra latina radix, radicis significa 
literalmente “raiz” e, no sentido derivado, “fundamento”, “base”. Portanto, a filosofia é radical 
enquanto explica os fundamentos do pensar e do agir.
A filosofia é rigorosa porque, enquanto a filosofia de vida não leva suas conclusões até as 
últimas consequências, o filósofo especialista dispõe de um método claramente explicitado 
que permite proceder com rigor, garantindo a coerência e o exercício da crítica. Para justificar 
suas afirmações com argumentos, faz uso de uma linguagem rigorosa, que permite definir 
claramente os conceitos, evitando a ambiguidade típica das expressões cotidianas. Para 
conseguir essa linguagem, o filósofo inventa conceitos, cria expressões novas ou altera e 
especifica o sentido de palavras usuais.
A filosofia desenvolve uma reflexão de conjunto porque é globalizante, examina os problemas 
sob a perspectiva do todo, relacionando os diversos aspectos. Enquanto as ciências examinam 
“recortes” da realidade, a filosofia, além de poder examinar tudo (porque nada escapa ao seu 
interesse), também visa o todo, a totalidade. (ARANHA, 2002, p. 107)
Outro aspecto a se salientar é que o conteúdo da reflexão filosófica, o tecido 
do seu pensar, é a trama dos acontecimentos do cotidiano. É por isso que nesse 
processo de indagação estão presentes tanto os temas aparentemente mais dis-
tantes de nossa experiência imediata quanto os problemas com que nos depa-
ramos todos os dias em nossavida.
Em suma, na atitude filosófica está compreendido o pressuposto de que não 
podemos aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, 
os valores em geral, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais de-
vemos aceitá-los sem antes havê-los submetido a uma crítica radical. É por essa 
razão que se justifica mais uma vez a importância da filosofia em nosso trabalho 
como educadores: ela impede a estagnação e ressignifica a experiência. Se educar 
não se reduz apenas à transmissão de conhecimentos, mas é também uma refle-
xão crítica sobre o que é conhecimento e sobre o que é educação, a filosofia não 
será apenas mais um conteúdo do processo educacional, mas o seu próprio alvo.
Nem dogmatismo nem ceticismo
Novamente torna-se relevante um olhar sobre a etimologia das palavras. 
Skeptikós significa “aquele que observa”, “que considera”. Desse modo, cético é 
aquele que observa e considera, tanto que conclui pela impossibilidade mesma 
do conhecimento.
Por outro lado, dogmatikós denota “aquele que se funda em princípios”. Assim, 
dogmático é todo aquele que se apega aprioristicamente aos princípios de uma 
doutrina.
Convite à filosofia
19
Dogma, por sua vez, pode ser compreendido como um princípio fundamen-
tal e indiscutível de uma determinada doutrina ou teoria, não necessariamen-
te religiosa. Toda vez que verdades irrefutáveis são aventadas, sem que elas 
possam ser demonstradas racionalmente, na verdade são dogmas que estão 
sendo aludidos.
As tradições religiosas não têm necessariamente problemas com dogmas, 
pois toda fé está fundada, em última instância, em uma origem suprarracional. 
Todavia, sempre que na ciência se acena para verdades indemonstráveis, muitas 
vezes tomadas de empréstimo do senso comum ou da religião, se está resvalan-
do da episteme para a doxa.
No fim das contas, tanto o cético quanto o dogmático acabam produzindo 
uma visão imobilista do mundo. O primeiro porque acha impossível chegar-se 
a algum conhecimento real das coisas. O segundo, porque antes de se debruçar 
sobre a realidade, já traz, de antemão, as suas “verdades”.
A filosofia, ao contrário, move-se entre o ceticismo e o dogmatismo – na verda-
de, mais próxima do primeiro. Enquanto o cético declara que é impossível saber, 
o dogmático diz que tem certeza que sabe. O filósofo, por seu turno, afirma que 
não sabe, mas quer saber – tendo consciência, entretanto, que todo saber é par-
cial e provisório. Com efeito, “a filosofia é a procura da verdade, não a sua posse” 
(ARANHA,1988, p. 51).
Texto complementar
Ciência e filosofia
(DURANT, 2000, p. 26-27)
Ciência é descrição analítica; filosofia é interpretação sintética. A ciência 
quer decompor o todo em partes, o organismo em órgãos, o obscuro em 
conhecido. Ela não procura conhecer os valores e as possibilidades ideais 
das coisas, nem o seu significado total e final; contenta-se em mostrar a sua 
realidade e sua operação atuais, reduz resolutamente o seu foco, concen-
trando-o na natureza e no processo das coisas como são. O cientista é tão 
20
Tópicos da Filosofia da Educação
imparcial quanto a natureza no poema de Turguêniev: está tão interessado 
na perna de uma pulga quanto nos paroxismos criativos de um gênio. Mas 
o filósofo não se contenta em descrever o fato; quer averiguar a relação do 
fato com a experiência em geral e, com isso, chegar ao seu significado e ao 
seu valor; ele combina coisas numa síntese interpretativa; tenta montar, de 
maneira melhor do que antes, esse grande relógio que é o universo e que 
o cientista perquiridor desmontou analiticamente. A ciência nos ensina a 
curar e a matar; reduz a taxa de mortalidade no varejo e depois nos mata 
por atacado na guerra; mas só a sabedoria – o desejo coordenado à luz de 
toda experiência – pode nos dizer quando curar e quando matar. Observar 
processos e construir meios é a ciência; criticar e coordenar fins é filosofia; e 
porque hoje os nossos meios e instrumentos se multiplicaram além de nossa 
interpretação e da nossa síntese de ideais e fins, nossa vida está cheia de som 
e fúria, não significando coisa alguma. Porque um fato nada é, exceto em 
relação ao desejo; não é completo, exceto em relação a um propósito e a um 
todo. Ciência sem filosofia, fatos sem perspectiva e avaliação não podem nos 
salvar da devastação e do desespero. A ciência nos dá o conhecimento, mas 
só a filosofia nos dá a sabedoria.
Atividades
1. Com base nos trechos de Marilena Chauí e Will Durant que constam da aula, 
estabeleça os pontos de convergência e divergência entre a ciência e a filo-
sofia.
Convite à filosofia
21
2. Segundo as definições de filosofia que os filósofos foram estabelecendo ao 
longo dos tempos, relacione a coluna da esquerda com a da direita.
1. Bergson
2. Locke, Berkeley e Hume
3. Fichte
4. Wittgenstein
5. Kant
6. Husserl
7. Schopenhauer
 )( Ciência rigorosa que conduz à 
fenomenologia.
 )( Tem por objeto a substância da 
intuição.
 )( É um conjunto de atos desprovido de 
conteúdo específico.
 )( Crítica das ideias abstratas e reflexão 
da experiência.
 )( Ciência do princípio da razão como 
fundamento dos saberes.
 )( Sistema do saber absoluto.
 )( Conhecimento racional por princípios.
22
Tópicos da Filosofia da Educação
3. A respeito das proposições de Platão sobre a doxa (“opinião”, “senso comum”) 
e episteme (“ciência”), assinale, quanto aos enunciados seguintes, F (falso) ou 
V (verdadeiro).
 Pensar os problemas a partir da )( doxa é pensá-los à luz da filosofia.
 O senso comum relaciona-se ao conhecimento fragmentado da reali- )(
dade.
 Ao saber instituído ( )( episteme) contrapõe-se o saber instituinte (doxa).
 Doxa )( é uma reflexão rigorosa, radical e de conjunto.
 Episteme )( diz respeito à capacidade de contemplarmos os fenômenos 
de maneira sistematizada.
Para produzir filosofia
Diante do aumento dos índices de violência em nosso país, não poucos têm 
defendido o incremento de medidas coercitivas como ampliação das penas, di-
minuição da maioridade penal e sobretudo recrudescimento da repressão do 
Estado. Há ainda quem, em conversas privadas, defenda o uso da tortura na in-
vestigação e a eliminação física dos criminosos. Dizem que “direitos humanos 
são para humanos direitos”. Segundo o que foi explanado na aula, essa linha de 
pensamento relaciona-se com a doxa ou a episteme? O que seria uma reflexão 
filosófica – rigorosa, radical e de conjunto – a respeito da violência social em 
nosso país?
Convite à filosofia
23
Sócrates e a filosofia moral ocidental
O mito é o nada que é tudo.
Fernando Pessoa
Diferentemente dos sofistas, Sócrates não se apresenta como professor. 
Pergunta, não responde. Indaga, não ensina.
Marilena Chauí
O gênio grego, o mito e as origens da filosofia
Tanto o termo quanto o conceito de filosofia tem a sua origem na Grécia 
antiga, mas isso não significa que outros povos não tenham desenvolvido 
formas particulares de pensamento crítico. De maneira especial, encontra-
mos algumas dessas formas na Índia, na China e na Pérsia. Além disso, os 
gregos usufruíram conhecimentos conquistados por povos mais antigos, 
como a astronomia dos caldeus e dos babilônicos e a agrimensura dos 
egípcios. No entanto, a forma de pensamento sistemático, racional e des-
vinculado da religião que ficou conhecida como filosofia nós devemos às 
peculiaridades do gênio grego.
Como era esse gênio? Podemos resumir as suas características em 
alguns traços básicos.
 Em primeiro lugar, o racionalismo, isto é, a consciência do valor má-
ximo do conhecimento.
 Mas esse conhecimento não é abstrato e sim proveniente da expe-
riência: é um conhecimento sensível.
 Todavia, esse conhecimento sensível não se fecha sobre si mesmo, 
mas transcende o real em direção ao absoluto.
26
Tópicos da Filosofia da Educação
 Sendo otimista, como consequência de seu racionalismo, o grego ten-
derá também ao pessimismo quandopressentir toda a irracionalidade 
do real.
Contudo, todos esses traços se coadunam em um equilíbrio harmônico, como 
aprazia grandemente ao senso de proporções do espírito helênico1.
E também outras causas colaboraram para o surgimento do pensamento 
filosófico:
Nos séculos VII e VI a.C., a Grécia sofreu uma transformação socioeconômica considerável. De 
país predominantemente agrícola que era, passou a desenvolver de forma sempre crescente 
a indústria artesanal e o comércio. Assim, tornou-se necessário fundar centros de distribuição 
comercial, que surgiram inicialmente nas colônias jônicas, particularmente em Mileto, e 
depois também em outros lugares. As cidades tornaram-se florescentes centros comerciais, 
acarretando um forte crescimento demográfico. (REALE; ANTISERI, 1990, p. 20)
Foi nas cidades ou pólis – que na Grécia eram sobretudo cidades-Estado – que 
se desenvolveu outra importante criação grega: a política. O desenvolvimen-
to urbano com as suas instituições, e o lugar privilegiado da península grega 
– entreposto estratégico entre Ocidente e Oriente, arena de encontro de muitas 
etnias e de diversas culturas, cujo contato e rivalidade ensejaram comparações, 
análises e reflexões – resultaram em um ambiente propício para o surgimento da 
filosofia. Entre os gregos, a arte e a filosofia são devidas sobretudo aos jônios2, 
que souberam exprimir em alto grau o gênio helênico.
Mas como se deu, a partir desse gênio, e de maneira especial entre os jônios, 
a gênese da filosofia grega, matriz de todo o pensamento ocidental? Primeira-
mente, os gregos, como todos os povos, explicavam os fenômenos do universo 
e as suas origens por meio do mito. A palavra mito vem do grego mythós e deriva 
de dois verbos, tendo os sentidos de “contar, narrar, falar alguma coisa a alguém” 
e “anunciar, nomear, designar”. Para os gregos, o mito era um discurso proferido 
para ouvintes que recebiam o relato como verdadeiro porque este está fundado 
na autoridade daquele que narra. Refere-se quase sempre a algo fabuloso que 
se supõe acontecido em um passado remoto, imemorial, impreciso. Os mitos 
podem reportar-se a grandes feitos heroicos, considerados frequentemente 
como o fundamento e o início de uma determinada comunidade ou do gênero 
humano como um todo. Podem também ter como objeto fenômenos naturais 
e, nesse caso, costumam ser apresentados alegoricamente. Além disso, muitas 
vezes os mitos contêm a personificação de coisas ou de acontecimentos.
1 Helênico: que se refere à Grécia antiga, chamada Hélade, ou aos gregos antigos.
2 Os jônios eram habitantes da Jônia, conjunto de colônias da Grécia antiga nas ilhas e no litoral asiático do Mar Egeu.
Sócrates e a filosofia moral ocidental
27
Para os filósofos da Antiguidade, nem sempre o mito foi entendido como 
oposto à razão: alguns o admitiam como invólucro da verdade. Essa concepção 
foi adotada, por exemplo, por Platão, que considerava as narrações mitológi-
cas como um modo de expressão de verdades que escapam ao raciocínio. Em 
todo caso, a explicação racional, objeto da filosofia, tem a sua origem a partir do 
mito, desenvolvendo-se a partir dele, até sua plena autonomia. Se a explicação 
mítica dos fenômenos do universo é encontrada em todos os povos e em todas 
as épocas, devemos aos gregos os primeiros e decisivos passos da explicação 
racional do mundo.
São muitas as maneiras que os historiadores subdividiram a história da filoso-
fia clássica, que compreende um período de mais de um milênio. De um modo 
geral, podemos sintetizar essa época em quatro períodos:
 Período naturalista – também chamado cosmológico3 ou pré-socrático 
do final do século VII ao final do século V a.C., quando a filosofia ocupa-se 
fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das transforma-
ções na natureza.
 Período humanista – também denominado antropológico4 ou socrático, do 
final do século V e todo o século IV a.C., quando o objeto principal da filoso-
fia torna-se as questões humanas, como a ética e a política.
 Período sistemático – do final do século IV ao final do século III a.C., quan-
do a filosofia tem por tarefa reunir e sistematizar todo o conhecimento 
anterior sobre o mundo e o ser humano.
 Período helenístico – também conhecido como greco-romano ou religio-
so, do final do século III a.C. até o século VI d.C. Nesse longo período, que 
já alcança Roma e o pensamento cristão, a filosofia interessa-se principal-
mente pelas questões da ética, do conhecimento humano e das relações 
entre a humanidade e Deus.
Os filósofos naturalistas e os sofistas
O primeiro período da filosofia grega toma o nome de naturalista ou cosmo-
lógico porque a especulação dos filósofos voltou-se para a natureza, o mundo 
exterior. Esse período surgiu e se desenvolveu fora da Grécia propriamente dita, 
3 Em grego, cosmos significa “mundo” e por isso esse período recebeu o nome de cosmológico.
4 Em grego, ântropos significa “homem” e por isso esse período recebeu o nome de antropológico.
28
Tópicos da Filosofia da Educação
nas florescentes colônias da Ásia Menor5 e do sul da Itália, tendo o seu início nos 
fins do século VII e o seu término dois séculos depois.
A escola jônica
A primeira expressão dessa fase, inaugurando por assim dizer o pensamento 
ocidental, é a chamada escola jônica, que floresceu em Mileto, na Ásia Menor, ao 
longo do século VI. Os jônios procuravam a substância última de todas as coisas 
em uma única matéria, animada por uma energia interior (daí hilozoísmo, “maté-
ria animada”, ser o nome dessa doutrina). Seu primeiro representante é Tales de 
Mileto (624-546 a.C.), para quem a água era a substância primordial de todas as 
coisas. Para Anaximandro (610-547 a.C.), também de Mileto, o elemento primor-
dial seria o apeiron (o indeterminado, sem fim e em constante movimento). Já para 
Anaxímenes (585-528 a.C.), também da mesma cidade, este princípio era o ar.
O expoente mais célebre dessa escola é Heráclito (aproximadamente 540-470 
a.C.), de Éfeso, na Jônia. Para ele, o elemento primordial é o movimento, o eterno 
vir-a-ser: tudo está sujeito a um fluxo perpétuo, representado pelo fogo. O vir-a- 
-ser é luta, conflito de opostos, antítese de vida e morte. Esse movimento só será 
reconduzido à estabilidade pela sabedoria universal, que determina o acordo 
entre as oposições. Por esse motivo Heráclito é considerado o pai da dialética, a 
qual considera que a razão das coisas está na constante luta dos contrários. É de 
Heráclito a ideia de que o mesmo homem não se banha duas vezes no mesmo 
rio, pois ao tentar um segundo banho, o rio já terá mudado, já será outro por 
conta do contínuo fluxo das águas. E como as coisas mudam constantemente, 
aquele homem já não será o mesmo homem que da primeira vez.
Pitágoras e a escola itálica
Pitágoras (571-497 a.C.), fundador da escola pitagórica ou itálica, nasceu em 
Samos, uma ilha do Mar Egeu, mas pontificou nas colônias do sul da Itália. Para 
ele, o princípio primordial da realidade é representado pelo número, ou seja, pelas 
relações matemáticas. Toda a multiplicidade do mundo e o vir-a-ser é explicado 
pelo pitagorismo por meio da luta dos opostos, da qual os números pares e os ím-
pares são paradigmáticos. Esse conflito é reconduzido ao equilíbrio pela harmonia 
matemática que rege o universo todo, tanto material quanto moral. Outros repre-
sentantes dessa escola são Filolau de Crótona e Árquitas de Tarento.
5 Na Antiguidade, era conhecida como Ásia Menor a extremidade ocidental da Ásia, em linhas gerais correspondendo ao território do que conhe-
cemos hoje como Turquia.
Sócrates e a filosofia moral ocidental
29
Xenófanes e a escola eleata
Essa escola empresta o seu nome da cidade de Eleia, no sul da Itália, e seu 
fundador é Xenófanes (cerca de 570-460 a.C.), nascido em Cólofon, na Ásia 
Menor. Mas o seu maior representante é Parmênides de Eleia (cerca de 530-460 
a.C.), para quem o elemento original das coisas é o ser, uno, idêntico, imutável e 
eterno, representado como umesfera suspensa no vácuo, sendo que o mundo 
sensível não passa de ilusão.
Zenão (cerca de 495-430 a.C.), também de Eleia, discípulo de Parmênides, 
é famoso pelas controvérsias nas quais tentava demonstrar a inexistência do 
movimento.
A escola pluralista
Empédocles (cerca de 492-493 a.C.), de Agrigento, Sicília, toma dos eleatas a 
doutrina da eternidade e da imutabilidade do ser, mas o divide em quatro ele-
mentos fundamentais – a terra, a água, o ar e o fogo –, explicando a multiplici-
dade e a mudança dos fenômenos mediante as várias recombinações desses 
elementos. Como Heráclito, acreditava na realidade do movimento. Pensava, 
entretanto, que o amor e o ódio são as duas forças primordiais que presidem a 
combinação dos quatros elementos.
Já para Anaxágoras (cerca de 500-428 a.C.), a realidade é constituída de uma 
infinidade de minúsculas partículas, eternas e imutáveis, de natureza diversa, 
para explicar a variedade das coisas. O nous é a inteligência imanente que con-
trola e seleciona essas partículas, tirando-as do caos e ordenando-as conforme 
sua similaridade.
Todavia, Demócrito (460-370 a.C.), natural de Abdera, na Trácia6, é o maior re-
presentante dessa corrente, também chamada atomística. Para ele, o ser de Par-
mênides é dividido em uma infinidade de corpúsculos simples e homogêneos, 
denominados átomos, os quais, suspensos no vazio, movem-se devido à diversi-
dade de tamanho e à consequente diversidade de gravidade de cada uma dessas 
partículas. Os átomos, o vazio e o movimento constituiriam a razão de tudo.
6 A Trácia é uma região do sudeste da Europa, englobando o que hoje é o nordeste da Grécia, o sul da Bulgária e a parte europeia da Turquia.
30
Tópicos da Filosofia da Educação
Os sofistas e a arte da persuasão
De 500 a 448 a.C., houve as chamadas Guerras Médicas, relatadas em Histó-
rias, de Heródoto. As cidades jônicas, pertencentes à Grécia e situadas na Ásia 
Menor, revoltaram-se contra o Império Persa e foram apoiadas por algumas ci-
dades do continente, por fim sendo lideradas por Atenas. Depois das vitórias 
dos gregos sobre os persas, assistimos ao triunfo de Atenas, que torna-se o eixo 
social, político e cultural do universo grego. É o chamado século de Péricles7, 
quando a democracia encontra-se em seu auge. A democracia ateniense, que se 
tornaria fundamental para o desenvolvimento da filosofia, tem uma característi-
ca essencial que a distingue da democracia moderna: é uma democracia direta, 
sem a mediação de representantes eleitos. Ora, para lograr que a sua opinião 
fosse acatada nas assembleias, o cidadão precisava ser dotado de talentos ora-
tórios. Aqui entram os sofistas, mestres da eloquência, encarregados de ensinar 
aos jovens das famílias das classes mais abastadas a arte da persuasão.
Professores encarregados de transmitir os princípios da retórica e da oratória, 
os sofistas alegavam que os ensinamentos dos filósofos cosmologistas estavam 
eivados de erros, além de não terem nenhuma utilidade para a vida da pólis. 
Portanto, com os sofistas há uma mudança de foco na pesquisa filosófica: a preo-
cupação com a natureza, que esteve no centro das atenções dos pensadores an-
teriores, começa a refluir, dando lugar ao interesse pelo humano – daí também 
o nome de antropológica ou humanista dado a essa fase. “Com efeito, os sofistas 
operaram uma verdadeira revolução espiritual, deslocando o eixo da reflexão da 
physis e do cosmos para o homem e aquilo que concerne à vida do homem como 
membro de uma sociedade” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 73).
Protágoras (cerca de 480-410 a.C.), um dos maiores nomes da sofística – junto 
com Górgias (484-375 a.C.) e Hípias (cerca de 435-343 a.C.) –, dizia que o homem 
é a medida de todas as coisas. Em relação ao período anterior, isso significava 
uma abertura para o subjetivismo: dizer que o homem é a medida de todas as 
coisas significa dizer “que as coisas são como lhe parecem; não, porém, como 
aparecem ao homem em geral, mas como aparecem ao homem hic et nunc 
[“aqui e agora”]: é verdadeiro – e é bem – o que aparece como tal a cada qual e a 
cada momento” (PADOVANI; CASTAGNOLA, 1984, p. 109). Daí porque não é raro 
os sofistas serem acusados de relativistas e céticos – para os relativistas, tudo 
pode ser verdade, enquanto para os céticos não é possível alcançar a verdade.
7 Péricles foi uma das principais lideranças políticas de Atenas. Sua época, o século V a.C., foi um período de esplendor para Atenas, no qual convi-
veram grandes nomes como Fídias, Sófocles, Policleto, Calícrates e Sócrates.
Sócrates e a filosofia moral ocidental
31
É nesse contexto que aparece Sócrates, como um meteoro, dividindo a filoso-
fia grega em antes e depois dele.
O filho da parteira
Nascido em Atenas (470 ou 469 a.C.), filho de um escultor e de uma parteira, 
desde cedo Sócrates se entregou à reflexão e ao ensino filosófico, não se deixan-
do levar pelos cuidados da vida doméstica e da política. No entanto, ao contrá-
rio dos outros filósofos, não fundou uma escola, preferindo ensinar em lugares 
públicos, como nos ginásios, nas praças e nos mercados. Exerceu um enorme 
fascínio sobre os atenienses, especialmente os mais jovens, mas a sua ironia e 
a sua atitude crítica foram-lhe aos poucos granjeando inimizades entre as par-
celas influentes da sociedade. Por fim, foi acusado de corromper a juventude e 
demonstrar impiedade diante dos deuses da cidade.
Todavia, Sócrates não quis se defender. Condenado à pena capital, morreu 
aos 71 anos, em 399 a.C., ingerindo cicuta – um veneno extremamente letal, ex-
traído da planta de mesmo nome –, depois de ter recusado os projetos de fuga 
propostos por alguns de seus discípulos. Sua morte foi o coroamento de uma 
vida dedicada ao conhecimento e à virtude, já que ele se transformou no marco 
de alguém que preferiu morrer em vez de negar suas convicções.
Sócrates não escreveu nada: tudo que sabemos de sua pessoa nos chegou 
por meio de seus discípulos, como Xenofonte e Platão – e não são poucos os de-
bates da crítica para estabelecer o que é confiável nessas fontes. O certo, porém, 
é que Sócrates se beneficia da virada antropológica efetuada pelos sofistas. 
Contudo, ao contrário destes, ele não se interessa pelo ser humano empírico 
(o ser humano individual, como é visto e apreendido pelos sentidos), mas pelo 
humano em geral, com propósitos morais.
Como os sofistas, ele começa por criticar o senso comum, o saber instituído, 
a opinião, a doxa – mas não para aí, o que não seria mais do que um ceticismo: 
ele transcende o saber imediato em busca do saber autêntico, que seria racio-
nal e perene. Esse conhecimento estaria dentro de cada um. Para encontrá-lo, 
Sócrates, um filho de parteira, serve-se de uma técnica por ele chamada de mai-
êutica, um método que consiste em “parir”, “dar à luz” ideias complexas a partir 
de perguntas simples, articuladas a partir de um determinado assunto. Assim ele 
explicava o seu método:
32
Tópicos da Filosofia da Educação
A minha arte obstétrica tem atribuições iguais às das parteiras, com a diferença de eu não 
partejar mulheres, porém homens, e de acompanhar as almas, não os corpos, em seu trabalho 
de parto. Porém, a grande superioridade de minha arte consiste [...] na faculdade de conhecer 
de pronto se o que a alma dos jovens está na iminência de conceber é alguma quimera ou 
faculdade ou fruto legítimo e verdadeiro. (apud PENHA, 1994, p. 35)
Daí também a sua máxima: gnothi seauton, “conhece-te a ti mesmo”.
O aludido preceito socrático pretende mais do que orientar o indivíduo ao simples conheci-
mento de si próprio. Seu alcance é maior: é um convite [...] ao aprofundamento da condição 
humana, do qual [...] nos desviamos quando levados pelo conhecimento enciclopédico sobre 
a natureza das coisas. (PENHA, 1994, p. 33)
Partindo desse pressuposto, Sócrates constrói uma ética racionalista, na qual 
a virtude passa a ter um papel fundamental. Mas em que consiste a virtude? 
Antes de mais nada, ela se identifica com o conhecimento.Os gregos chama-
vam-na areté, “significando aquilo que torna uma coisa boa e perfeita naquilo 
que é, ou melhor ainda, significa aquela atividade ou modo de ser que aperfei-
çoa cada coisa, fazendo-a ser aquilo que deve ser” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 88). 
Desse modo, ele nos diz que a causa do mal é a ignorância: se conhecêssemos 
o bem, não praticaríamos o mal. Por essa razão, o conhecimento de si mesmo 
é condição suficiente e necessária para a obtenção da areté. O autodomínio e a 
liberdade são as bases para se atingir a virtude. Para ele, o ser humano é o artífice 
da sua própria felicidade ou infelicidade.
Mas, afinal, o que é o ser humano para Sócrates? “O homem é sua alma, en-
quanto é perfeitamente a sua alma que o distingue especificamente de qual-
quer outra coisa. E, por alma, Sócrates entende a nossa razão e a sede de nossa 
atividade pensante e eticamente operante” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 87). Por 
isso, a essência do ser humano – segundo Sócrates – é sua psyché. Nesse sentido, 
ele é considerado o fundador da filosofia moral do Ocidente.
Outra ideia relevante no pensamento socrático é a noção de humildade. Sua 
máxima “só sei que nada sei” é ilustrativa disso. Quando era elogiado por seus 
discípulos, ele fazia tal afirmação. Para demonstrar que esse era um valor incor-
porado em sua prática cotidiana, Sócrates construía suas afirmações a partir da 
relação dialógica com seus interlocutores. Além disso, a dialética socrática é per-
passada pela ironia. Em sua etimologia, o conceito de ironia significa “a arte de 
interrogar”. Quando Sócrates utilizava tal recurso, tinha por objetivo mostrar que 
aquele com quem estava dialogando na verdade estava ignorando o que julga-
va conhecer. Por meio desse processo, desejava tornar seu interlocutor cônscio 
da própria ignorância para que ele pudesse partir em busca da verdade.
Sócrates e a filosofia moral ocidental
33
Finalmente, mais que suas palavras, sua postura como filósofo mostrou-nos 
que a filosofia não é uma forma de conhecimento hermético, fechado, reservado 
somente a uma elite de iniciados: Sócrates interpelava os transeuntes com quem 
se deparava e discutia com eles os temas do cotidiano. Refletia, por exemplo, 
sobre a liberdade, o amor, a amizade, a verdade – questões que nos tocam a 
todos.
Comentando a morte de Sócrates, Marilena Chauí afiança que
[...] o maior erro dos juízes foi não terem ouvido o mais importante ensinamento de Sócrates, 
isto é, que todos os homens são iguais porque todos são capazes de ciência, todos são dotados 
de uma alma racional na qual se encontra a verdade e todos são capazes de virtude. Razão, 
ciência, verdade e virtude são universais e todos os homens são, por natureza, capazes delas. 
(CHAUÍ, 2000, p. 155)
Mártir da filosofia e da fidelidade aos seus princípios, Sócrates permanece 
vivo até hoje, não só em seu exemplo, mas sobretudo como base da construção 
do edifício da moral do Ocidente.
Texto complementar
Sócrates e Polo
(PLATÃO, 1986, p. 98-102)
SÓCRATES: – [...] Vê, pois, se estás disposto a ceder-me o turno da argumen-
tação, respondendo às perguntas. Eu creio deveras que nós – eu, tu e toda 
gente – julgamos pior cometer a injustiça do que sofrê-la, e pior do que ex-
piá-la não a expiar.
POLO: – Mas, a meu ver, nem eu, nem ninguém mais, o admitimos. Quem, se 
não tu, a cometer uma injustiça, preferiria sofrê-la?
SÓCRATES: – Eu? Sim, como tu e toda gente.
POLO: – Ora, ora! Nem eu, nem tu, nem ninguém mais.
SÓCRATES: – Então, não vais responder?
POLO: – Mas como não? Estou até ansioso por saber o que, afinal, vais dizer!
SÓCRATES: – Então, para o saberes, faze de conta que estou principiando a inter-
rogar-te e dize-me, Polo, o que achas pior: praticar uma injustiça, ou sofrê-la?
34
Tópicos da Filosofia da Educação
POLO: – Sofrê-la, ora!
SÓCRATES: – E o que é mais feio? Ser autor ou ser vítima duma injustiça? 
Responde.
POLO: – Ser autor.
SÓCRATES: – Sendo mais feio, não é, então, pior?
POLO: – Absolutamente não.
SÓCRATES: – Compreendo. Não consideras a mesma coisa, parece, o belo e 
o bom, o mau e o feio.
POLO: – Não, realmente.
SÓCRATES: – Que dizes a isto? Todas as coisas belas, como objetos, cores, 
formas, ressonâncias, costumes, é sempre sem relação alguma que lhes atri-
buis a beleza? Por exemplo, comecemos pelos objetos belos; não os chama 
belos tendo em vista, em cada caso, os fins a que servem, ou algum prazer, 
caso se delicie quem os contempla? Fora desses pontos de vista, podes men-
cionar alguma outra razão da beleza dos objetos?
POLO: – Não posso.
SÓCRATES: – Não se dá o mesmo com tudo mais? Formas, cores, não as declara 
belas em razão de certo prazer ou certa utilidade, ou por ambos os motivos?
POLO: – Sim.
SÓCRATES: – Não é assim também quanto às ressonâncias e tudo que con-
cerne à música?
POLO: – Sim.
SÓCRATES: – Outrossim, no tocante às leis e costumes, sem dúvida, os que são 
belos não fogem a estas qualificações de úteis, agradáveis, ou ambas as coisas.
POLO: – Acho que não.
SÓCRATES: – À beleza de instrução sucede o mesmo, não é?
POLO: – Por sem dúvida! Agora, Sócrates, estás acertando, quando defines o 
belo pelo prazer e pelo bem.
SÓCRATES: – Portanto o feio será aferido pelos opostos, pela dor e pelo mal.
POLO: – Forçosamente.
SÓCRATES: – Quando, portanto, de duas coisas belas, uma seja mais bela, 
Sócrates e a filosofia moral ocidental
35
assim é por sobrelevar num dos dois predicados referidos, ou em ambos, isto 
é, ou no prazer, ou na utilidade, ou nesta e naquele.
POLO: – Perfeitamente.
SÓCRATES: – E quando de duas coisas feias uma é mais feia, assim é por so-
brelevar ou na dor, ou no dano. Ou não é forçosamente assim?
POLO: – É, sim.
SÓCRATES: – Adiante. Que dizíamos há pouco sobre praticar e sofrer injusti-
ça? Não dizias que sofrê-la é pior, mas praticá-la é mais feio?
POLO: – Dizia.
SÓCRATES: – Então, se praticá-la é mais feio do que sofrê-la, assim é por ser 
mais doloroso e sobrelevar em dor, ou dano, ou ambas as coisas. Não é isso 
também forçoso?
POLO: – Como não?
SÓCRATES: – Ora, examinemos em primeiro lugar se praticar uma injustiça so-
breleva em dor sofrê-la e se padecem mais os autores do que as vítimas.
POLO: – Isso, Sócrates, absolutamente não.
SÓCRATES: – Então, não é em dor que sobrelevas?
POLO: – Não, por certo.
SÓCRATES: – Se na dor, não, não sobrelevaria portanto em ambos os motivos.
POLO: – Não, é claro.
SÓCRATES: – Resta, pois, a outra razão?
POLO: – Sim.
SÓCRATES: – O dano?
POLO: – Naturalmente.
SÓCRATES: – Ora, se praticar uma injustiça sobreleva em dano, será pior do 
que sofrê-la.
POLO: – Claro que sim.
SÓCRATES: – É ou não é fato que anteriormente a maioria das pessoas e tu 
também concordáveis em que é mais feio ser o autor do que a vítima?
POLO: – Sim.
36
Tópicos da Filosofia da Educação
SÓCRATES: – E revelou-se agora pior.
POLO: – Aparentemente.
SÓCRATES: – Acaso, entre o mais e o menos danoso e feio, preferirias o pri-
meiro? Não hesites em responder, Polo; não te fará dano algum. Ao contrário, 
confia-te bravamente à razão como a um médico e responde sim ou não à 
minha pergunta.
POLO: – Bem, Sócrates, eu não preferiria.
SÓCRATES: – Alguém no mundo o faria?
POLO: – Não creio, a pensar assim.
SÓCRATES: – Portanto, eu dizia a verdade: nem eu, nem tu, nem qualquer 
outra pessoa preferiríamos cometer injustiça a sofrê-la, por ser mais danoso.
Atividades
1. Segundo o princípio primordial que os filósofos naturalistas ou cosmológi-
cos aventaram para a origem das coisas, relacione a coluna da esquerda com 
a da direita.
a) Anaximandro de Mileto
b) Demócrito
c) Pitágoras
d) Tales de Mileto
e) Empédocles
f) Anaxímenes de Mileto
g) Heráclito
 )( A água.
 O )( apeiron (o indeterminado, sem 
fim e em terno movimento).
 )( O ar.
 )( Terra, água, ar e fogo.
 )( O movimento, o vir-a-ser 
representado pelo fogo.
 )( O número.
 )( O átomo.
Sócrates e a filosofia moral ocidental
37
2. Com baseno conceito de maiêutica e no exemplo desse conceito apresenta-
do no texto complementar, vamos fazer um exercício prático.
 Para tanto, vamos dividir a turma dois a dois. Em cada dupla, um faz o papel 
de Sócrates e o outro o de interlocutor do filósofo. O primeiro, com base no 
conteúdo da aula, deve procurar extrair a verdade a partir do método socrá-
tico de pergunta e resposta. O segundo deve se deixar conduzir até que do 
senso comum se chegue a ideias mais pertinentes e perspicazes. Depois, os 
alunos devem registrar os resultados.
 Eis alguns exemplos de temas que podem ser abordados nesses diálogos 
socráticos:
 A educação é o único caminho para o desenvolvimento de um país.
 A mulher só se realiza plenamente na maternidade.
 Artistas e cientistas vivem sempre no mundo da lua.
38
Tópicos da Filosofia da Educação
3. Leia abaixo uma letra do compositor Chico Buarque.
Bom conselho
Ouça um bom conselho 
Que eu lhe dou de graça 
Inútil dormir que a dor não passa 
Espere sentado 
Ou você se cansa 
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo 
Deixe esse regaço 
Brinque com meu fogo 
Venha se queimar 
Faça como eu faço 
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo 
Vim não sei de onde 
Devagar é que não se vai longe 
Eu semeio o vento 
Na minha cidade 
Vou pra rua e bebo a tempestade
 Agora responda: quais são os pontos de contato entre essa letra e o método 
socrático?
Sócrates e a filosofia moral ocidental
39
Para produzir filosofia
 Em um país de alfabetização tardia e com péssimos índices de leitura, somos 
levados a acreditar em qualquer opinião apresentada em letra impressa. Mas 
nem sempre essas opiniões são o resultado de uma reflexão de índole filo-
sófica, isto é, que vai até a raiz do problema. Muitas vezes, elas não passam 
do que realmente são, isto é, uma opinião. A exemplo de Sócrates, procure 
desconstruir o que há de superficial – isto é, atrelado ao senso comum – em 
algumas das ideias veiculadas nos jornais da imprensa diária.
Platão e o nascimento da razão ocidental
Platão: atleta e poeta
Ao contrário de Sócrates, que era filho de membros das classes popu-
lares, Platão era de ascendência aristocrática. Seu pai orgulhava-se de ter 
o rei Codros entre os seus antepassados e sua mãe de ter parentesco com 
Sólon1. Nascido em Atenas (428 ou 427 a.C.), seu nome original era Aris-
tócles. Platão é apelido, derivado, segundo alguns, de seu porte atlético 
(ombros largos) ou, segundo outros, da largueza de seu estilo. Com sua 
origem, era natural que desde cedo Platão visse na carreira política o seu 
destino. Aos 20 anos de idade travou contato com Sócrates – 40 anos mais 
velho – e por oito anos usufruiu de seus ensinamentos e de sua amizade. 
A morte trágica do mestre imprimiu uma marca em todas as fases de seu 
pensamento. Ele passou a desprezar a democracia e as massas, ideando 
um modo de governo dirigido pelos mais sábios e capazes.
A partir disso, fez várias viagens com o intuito de instruir-se. Conheceu 
o Egito, o sul da Itália, (onde estabeleceu relações com os pitagórigos), a 
Sicília (onde não teve sucesso no intento de influenciar positivamente o 
rei, tendo sido vendido como escravo, sendo resgatado mais tarde).
De volta a Atenas, fundou nos jardins do parque dedicado ao herói 
Academos a sua célebre escola, destinada a desenvolver as ideias de 
Sócrates e a rebater as dos sofistas. A Academia, como ficou conhecida, 
adquiriu grande prestígio, a ela acorrendo homens de todos os cantos e 
ali sendo desenvolvidos os ideais de uma educação para a autonomia do 
indivíduo.
O ideal da educação autônoma significa:
1 Sólon (640-560 a.C.) foi um estadista e poeta ateniense. Autor de um código de leis que introduziu grandes reformas nos primeiros 25 
anos do século VI a.C., em Atenas. Essas leis enfraqueceram significativamente o poder da aristocracia, que se baseava nos privilégios 
de nascimento. Sólon substituiu as leis draconianas por um estatuto menos severo, que se tornaria a base para as leis clássicas surgidas 
posteriormente.
42
Tópicos da Filosofia da Educação
 em primeiro lugar, ensinar o livre espírito de pesquisa, o compromisso do 
pensamento apenas com a verdade;
 em segundo lugar, estimular a autodeterminação ética e política.
Em vez de transmitir doutrinas, a Academia ensina a pensar ou, como lemos 
no Mênon, que é um dos textos de Platão, “o dever de procurar o que não sabe-
mos”. Em vez de transmitir valores éticos e políticos, a Academia ensina a criá-los, 
isto é, a propô-los a partir da reflexão e da teoria. Ali estudaram, entre outros, o 
matemático Eudóxio e o jovem Aristóteles. Nela prevaleceu o espírito socrático: 
a discussão oral e o desenvolvimento do vigor intelectual do estudante, sendo 
menos importantes as exposições escritas (CHAUÍ, 2000, p. 175).
Finalmente, em 347 a.C., aos 80 anos de idade, reconhecido e admirado, 
morre Platão, tendo sido velado por uma verdadeira multidão. De sua grandeza 
nos dá testemunho um dos maiores pensadores do século XX: “Poucos filósofos, 
se é que algum, alcançaram a sua amplitude e profundidade e nenhum o supe-
rou. Qualquer pessoa que se dedique à investigação filosófica será insensata se 
ignorá-lo” (RUSSELL, 2002, p. 107).
Praticamente toda a sua produção chegou até nós, compreendendo 36 diá-
logos, 13 epístolas e uma coleção de definições, esta provavelmente apócrifa – 
isto é, pode ser que tais definições sejam erroneamente atribuídas a Platão, não 
há certeza se a sua autoria realmente é do mestre. Seu interesse abarca as mais 
diversas áreas do conhecimento: ciências, matemática, retórica, arte, política etc. 
Suas obras mais importantes e conhecidas são:
 Apologia de Sócrates, em que resgata os pensamentos do mestre;
 O Banquete, em que versa sobre o amor de uma forma dialética; 
 A República, em que analisa desde a política e a ética até questões metafí-
sicas, como a imortalidade da alma.
No entanto, um problema sobre a real compreensão do pensamento platôni-
co diz respeito às “doutrinas não escritas”. Antigas fontes referem que, na Acade-
mia, Platão ministrou cursos cujo teor ele não quis deixar por escrito. Para ele, “O 
conhecimento dessas coisas não é de forma alguma transmissível como os outros 
conhecimentos” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 20). Para muitos estudiosos, esse as-
pecto é decisivo para se ter uma visão de conjunto da filosofia platônica, e essa 
tradição oral pode ser de certa forma reconstituída pelos escritos dos discípulos 
de Platão. Além disso, é bom ter presente que Platão, a despeito de ter expulsado 
Platão e o nascimento da razão ocidental
43
de sua república os poetas, é um filósofo de inspiração poética. Por trás do sábio, 
é visível, em sua produção, a veia do artista, manifestada no recurso às metáforas, 
às fábulas e aos mitos.
No tocante ainda à sua obra, deve-se destacar a influência de Sócrates. É ver-
dade que em seus escritos percebem-se elementos de diversos filósofos pré- 
-socráticos, como Parmênides e Heráclito, por exemplo. Contudo, nenhuma 
influência foi tão grande e decisiva quanto a de Sócrates, a ponto de em seus 
livros, sobretudo nos diálogos socráticos, ser difícil distinguir aquilo que é do 
mestre e aquilo que é efetivamente de Platão. Assim, é por meio dos textos de 
Platão que conhecemos as ideias de Sócrates, e é por meio de Sócrates, tornado 
seu porta-voz, que conhecemos as ideias de seu discípulo mais célebre.
As vigas do pensamento platônico
Assim como em Sócrates, para Platão a filosofia tem um objetivo prático, moral: 
a incumbência de resolver os grandes problemas da vida. Todavia, ao contrário de 
seu mestre, que restringia o âmbito da filosofia ao ser humano, Platão a estende a 
toda a realidade. Nas pegadas de Sócrates, Platão também distingue um conhe-
cimento sensível (a opinião, a doxa) e um conhecimento intelectual (a ciência, a 
episteme). Mas enquanto Sócrates fazia derivar o segundo do primeiro, para Platão 
o universal e imutável conhecimento intelectualnão pode se originar do conheci-
mento sensível, particular e mutável. Nas palavras de João da Penha (1994, p. 36):
As ideias estão separadas das coisas, o mundo inteligível está fora e acima do mundo sensível. 
A multiplicidade e instabilidade das coisas resultam de uma ilusão dos sentidos. A única reali-
dade objetiva, perfeita, são as ideias, não passando aquilo que vemos de pálidas representa-
ções daquelas. As coisas são cópias imperfeitas e fugazes de arquétipos de modelos ideais. É 
no mundo dos inteligíveis, situado na esfera celeste, que habitam as ideias, essência de tudo o 
que existe e de suas perfeições. 
Jostein Gaarder (1999, p. 100) apresenta um exemplo significativo dessa teoria 
de Platão:
Por que todos os cavalos são iguais, Sofia? Talvez você ache que eles não são iguais. Mas existe 
algo que é comum a todos os cavalos; algo que garante que nós jamais teremos problemas 
para reconhecer um cavalo. Naturalmente, o “exemplar” isolado do cavalo, este sim “flui”, 
“passa”. Ele envelhece e fica manco, depois adoece e morre. Mas a verdadeira “forma do cavalo” 
é eterna e imutável. 
Desse modo, os conceitos ou ideias que temos em nossa mente são eternos 
e imutáveis, e por isso, necessários2. São os arquétipos, isto é, formas ou mode-
los espirituais a partir dos quais todos os fenômenos são formados. A realidade, 
2 Necessário, em filosofia, é tudo aquilo que não pode não ser; que não há outra forma de ser. É algo inelutável.
44
Tópicos da Filosofia da Educação
por sua vez, é mutável e imperfeita, ou seja, contingente3. O conhecimento por 
meio dos sentidos e o conhecimento por meio da razão trazem resultados com-
pletamente diferentes. Os dados dos sentidos apenas nos permitem apreender 
simulacros (cópias imperfeitas) das ideias, levando-nos a formular opiniões não 
raro contraditórias e superficiais sobre a realidade.
No entanto, a experiência sensível que nos é dada pelos sentidos é funda-
mental para desencadear o processo de conhecimento. O conhecimento ocorre 
quando nos recordamos imperfeitamente dos arquétipos que a alma teria con-
templado no mundo das ideias antes do nascimento corporal. A esse proces-
so dá-se o nome de anamnesis (reminiscência). Trata-se, todavia, do nível mais 
baixo do conhecimento.
O mundo das ideias, por sua vez, só pode ser intuído pela razão, o que implica 
uma ruptura radical com os dados dos sentidos a que estamos acostumados. O 
conhecimento, para Platão, passa ainda por três níveis fundamentais: 
 o conhecimento sensível, que é efetuado pelos sentidos no mundo dos 
fenômenos; 
 o conhecimento discursivo, que implica o conhecimento da matemáti-
ca, a única ciência que possui uma natureza não corpórea; 
 o conhecimento intelectivo, ao qual só a filosofia é capaz de levar, por 
meio de um corte completo com a experiência sensorial. 
Por meio desses três níveis, a mente se eleva do múltiplo e sensível até o uno, 
universal e inteligível.
Para Platão, ainda, o divino é representado pelo mundo das ideias, no ápice 
do qual se encontra a ideia do bem, seguida de três ideias que a caracterizam: 
 a beleza;
 a proporção;
 a verdade. 
Como a multiplicidade dos fenômenos é unificada pelas respectivas ideias, 
unas e imutáveis, do mesmo modo a multiplicidade das ideias encontra a sua 
unidade na ideia do bem, que é o ser sem o qual não se entende o vir-a-ser. E, 
embora ela apresente atributos divinos, a essa realidade suprema falta o poder 
3 Contingente, em filosofia, é o contrário de necessário, ou seja, é aquilo que existe mas poderia não existir.
Platão e o nascimento da razão ocidental
45
criador, ou melhor, ordenador, de que é dotado o demiurgo, o qual, ainda que 
superior à matéria, é inferior às ideias, de cujo modelo se serve para ordenar o 
mundo, extraindo o cosmos do caos.
Da mesma maneira que o demiurgo, mas subordinado a ele, as almas têm 
uma função mediadora entre as ideias e a matéria.
Segundo Platão, existem três tipos de alma:
 alma concupiscente, própria dos vegetais;
 alma irascível, própria dos animais;
 alma racional, exclusiva do ser humano.
Mas no ser humano os três tipos de alma encontram-se reunidos hierarqui-
camente. A alma racional, destinada ao conhecimento das ideias, localiza-se 
na cabeça e tem como virtude principal a sabedoria. A alma irascível, asso-
ciada à vontade, situa-se no peito e tem por virtude cardeal a força. A alma 
concupiscente, por seu turno, tem por sede o ventre e como virtude capital, a 
moderação. A alma racional controla as outras duas, e por meio das três virtu-
des obtém-se o pleno domínio do corpo e das paixões, alcançando-se assim a 
justiça e a felicidade.
Nesse sentido, o corpo seria um obstáculo para a natureza racional do ser 
humano. A moral platônica, portanto, ancorada no dualismo corpo-alma, é uma 
moral ascética, de renúncia ao mundo. O objetivo da humanidade encontra-se 
além deste mundo, na contemplação do mundo das ideias.
Quanto ao destino individual das almas depois da morte, segundo Platão, as 
almas dos filósofos e de todos que souberam se desprender do mundo sensível 
voltam para o mundo das ideias; as dos seres apegados à matéria vão para um 
lugar de danação; enquanto as outras se reencarnam em corpos mais ou menos 
nobres segundo o bem ou mal que tiverem praticado.
Aliás, para Platão, cabe também aos filósofos o governo de sua república ideal 
e nela haveria basicamente três classes:
 a dos filósofos, encarregados da direção do estado;
 a dos guerreiros, responsáveis pela sua defesa; 
 a dos produtores – agricultores e artesãos –, os quais, submetidos aos ou-
tros, seriam os responsáveis pela sua sustentação econômica.
46
Tópicos da Filosofia da Educação
Compreendendo que os interesses privados, domésticos, não raro entram 
em choque com os interesses da coletividade, Platão não hesita em sacrificar os 
primeiros em proveito dos últimos. Todavia, se a natureza do Estado é sobretudo 
ética, o seu fim principal é pedagógico: antes de mais nada, o Estado deve zelar 
pelo bem espiritual dos cidadãos, educando-os na virtude, e somente em um 
segundo momento ele deve se ocupar com o bem-estar desses cidadãos.
O legado de Platão 
Se Aristóteles, o mais famoso discípulo de Platão, seria o responsável por 
grande parte da construção do arcabouço científico do Ocidente, caberia ao 
mestre o estabelecimento de sua estrutura espiritual. Opondo o mundo das 
ideias ao mundo da matéria, Platão criaria as condições – que seriam reforçadas 
mais tarde pelo cristianismo – para que se produzisse durante muitos séculos 
uma repulsa profunda por tudo que estivesse relacionado com a ordem material 
e sensível, como o corpo e a sexualidade, em proveito do mundo do espírito, da 
mente, das ideias. Essa cisão entre corpo e alma, matéria e espírito, que deixaria 
suas marcas na identidade ocidental, nós devemos a Platão. Não poucos pensa-
dores, entre os quais Nietzsche, tentariam mais tarde desconstruir essa herança. 
Em todo caso, de certa forma Platão foi a pedra fundamental do edifício filosó-
fico e espiritual do Ocidente. Não é tarefa de pouca monta livrarmo-nos de sua 
influência. 
Textos complementares
Imaginemos uma caverna separada do mundo
(CHAUÍ, 2000, p. 195)
Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um alto muro, 
cuja entrada permite a passagem da luz exterior. Desde seu nascimento, ge-
ração após geração, seres humanos ali vivem acorrentados, sem poder mover 
a cabeça para a entrada nem se locomover, forçados a olharem apenas para a 
parede do fundo e sem nunca terem visto o mundo exterior nem a luz do sol. 
Acima do muro, uma réstia de luz exterior ilumina o espaço habitado pelos 
prisioneiros, fazendo com que as coisas que se passam no mundo exterior 
Platão e o nascimento da razão ocidental
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sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Por trás 
do muro, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras de 
homens, mulheres, animais, cujas sombras são projetadas na parede da ca-
verna. Os

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