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A Mediação no Novo Codigo de Processo Civil

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FACULDADE DAMÁSIO 
 CURSO DE PÓS –GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO 
PROCESSUAL CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MALIRRE ABADI GHADIM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A MEDIAÇÃO NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Campo Grande –MS 
2017 
 
 
 
2 
 
 
FACULDADE DAMÁSIO 
CURSO DE PÓS –GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO 
PROCESSUAL CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MALIRRE ABADI GHADIM 
 
 
 
 
 
 
 
 
A MEDIAÇÃO NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Faculdade 
Damásio, como exigência parcial 
para obtenção do título de 
Especialista em Direito Processual 
Civil, sob orientação da professora 
Tatiana Aparecida Clementino de 
Brito Ohta. 
 
 
 
 
 
 
CAMPO GRANDE - MS 
2017 
 
 
3 
 
 
MALIRRE ABADI GHADIM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A MEDIAÇÃO NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
 
Esta monografia apresentada no final 
do Curso de Pós-Graduação Lato 
Sensu em Direito Processual Civil, na 
Faculdade Damásio, foi considerada 
suficiente como requisito parcial para 
obtenção do Certificado de 
Conclusão. A examinada foi 
aprovada com a nota ________. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo, 31 de maio de 2017. 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Deus, pela oportunidade de 
evolução através do estudo, e por me 
dar, todos os dias, forças para 
alcançar meus objetivos; 
 
 
5 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Á Deus, pelo dom da vida e pela força concedida para lutar por 
meu sonho. 
Aos meus professores, que com leveza transmitem e 
compartilham seu conhecimento sem nada mais desejar além do 
melhoramento de seus alunos; 
À minha família, por ser meu porto seguro durante todos os 
longos anos de estudo e dedicação na construção de minha carreira. 
Aos meus colegas de faculdade, de trainee e trabalho, por 
dividirem comigo suas brilhantes ideias e por estarem ao meu lado 
durante a jornada acadêmica e profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O diálogo cria base para a colaboração” 
(Paulo Freire - 1921 - 1997) 
 
 
7 
 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho se presta ao estudo da Mediação à luz do Novo 
Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), diploma que inseriu no 
ordenamento jurídico pátrio a citada forma de solução de litígios como 
forma de solução alternativa à judicialização de conflitos, expondo-o como 
meio de celeridade processual através da solução efetiva dos conflitos 
que têm origens nas relações jurídicas de continuidade, como nos casos 
de demandas do direito de família, por exemplo. A Constituição Federal 
de 1988 estabeleceu como direito fundamental aos cidadãos o acesso à 
justiça, e isso não se limita apenas à postulação judicial, pois é evidente 
que a propositura de uma ação judicial está longe de assegurar, com 
celeridade e concretude, os direitos pleiteados no Judiciário. A mediação, 
instituto inserido oficialmente pelo Código de Processo Civil de 2015, mas 
que tem raízes nas anteriores tentativas de solução alternativa de 
conflitos, é meio efetivo de acesso à justiça, sem que necessariamente as 
partes tenham de recorrer à morosa e problemática máquina do Judiciário. 
As partes têm a oportunidade de dialogar e encontrar um meio para 
solucionar suas contendas através das sessões de mediação, sem as 
barreiras dos rígidos processos judiciais. A mediação precisa ser 
incentivada por todos os operadores do direito, merecendo ser priorizada 
com a implantação e seu desenvolvimento através de políticas públicas, 
por iniciativa dos três poderes, para que a sociedade saiba manejar este 
instrumento como meio de pacificação social. Dessa forma, o presente 
trabalho visa analisar as origens, características, modalidades e 
benefícios da mediação como instrumento processual de efetivação dos 
direitos tutelados pela CF/1988. 
 
 
 
 
Palavras-chave: Acesso à justiça; Solução alternativa de Conflitos; 
Desjudicialização; Pacificação social; Celeridade; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
ABSTRACT 
 
This work lends itself to the study of Mediation in the light of the New Code 
of Civil Procedure (Law no. 13.105 / 2015), a document that inserted in 
the legal system the aforementioned form of dispute settlement as a form 
of alternative solution to the judicialization of conflicts, As a means of 
procedural celerity through the effective solution of conflicts that have 
origins in legal relations of continuity, as in cases of demands of family 
law, for example. The Federal Constitution of 1988 established as a 
fundamental right to citizens access to justice, and this is not only limited 
to the judicial postulation, since it is clear that the filing of a lawsuit is far 
from ensuring, with speed and concreteness, the rights claimed in the 
Judiciary. The mediation, instituted officially by the Code of Civil 
Procedure of 2015, but which has roots in the previous attempts of 
alternative solution of conflicts, is effective means of access to justice, 
without necessarily the parties have to resort to the slow and problematic 
machine of the Judiciary . The parties have the opportunity to dialogue 
and find a way to resolve their disputes through mediation sessions, 
without the barriers of rigid legal proceedings. Mediation needs to be 
encouraged by all legal operators, deserving to be prioritized with the 
implementation and its development through public policies, at the 
initiative of the three powers, so that society knows how to handle this 
instrument as a means of social pacification. Thus, the present work aims 
at analyzing the origins, characteristics, modalities and benefits of 
mediation as a procedural instrument to enforce the rights protected by 
CF / 1988. 
 
 
 
Key words: Access to justice; Alternative Conflict Solution; Non-
judicialization; Social pacification; Celerity; 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO..................................................................................................10 
1 MEDIAÇÃO: BREVE HISTÓRICO..................................................................15 
2 A GARANTIA CONSTITUCIONAL DO ACESSO À JUSTIÇA E A 
MEDIAÇÃO.......................................................................................................26 
3 MEDIAÇÃO E O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL..............................36 
CONCLUSÃO....................................................................................................60 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................64 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho visa o estudo do método autocompositivo 
da mediação, à luz do novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105 de 16 de 
março de 2015), e análise da legislação específica, a Lei da Mediação (Lei nº 
13.140 de 26 de junho de 2015). 
 
Será feito o estudo de um método alternativo de resolução de 
conflitos, pautado nos princípiose normas constitucionais e processuais civis, 
dentro da autocomposição, prevista e incentivada pelo novo CPC, códex que 
lhe deu o devido espaço no ordenamento jurídico, legitimando o procedimento 
como forma hábil e efetiva para a obtenção de direitos e bens jurídicos. 
 
Tem a intenção de expor a mediação não só como método 
alternativo de resolução de conflitos, paralelo e de auxílio ao processo judicial 
nessa empreita, mas como forma de acesso à justiça e promoção da paz social, 
por meio do diálogo dentro deste procedimento. 
 
Objetiva analisar os principais pontos do método 
autocompositivo, conforme a integração dos princípios constitucionais e 
processuais civis, voltando-se principalmente para a sua análise conjugada ao 
princípio constitucional do acesso à justiça, previsto no inciso LXXIV da 
Constituição Federal de 1988. 
 
Demonstra que os métodos alternativos de resolução de 
conflitos, com a mediação, estão ligados ao conceito amplo do acesso à justiça, 
expondo que a garantia constitucional não se limita à previsão de ingresso com 
ação no Judiciário, e que justamente por isso, foram criadas as alternativas auto 
compositivas. 
 
Este trabalho visou ressaltar os benefícios da existência de 
alternativas para resolução de litígios, principalmente quando a realidade do 
Judiciário esbarra na morosidade e superlotação das varas judicias com 
 
 
11 
 
 
processos que, muitas vezes, nem passaram por saneamento, e não terão a 
resolução do mérito em tempo hábil. 
 
Visa demonstrar que a regulamentação do método 
autocompositivo, com a sua previsão em Código de Processo Civil, e também 
em lei esparsa, é conquista do ordenamento jurídico, e permite a sua 
implantação de forma segura e progressiva, até que alcance o patamar de 
instituto jurídico, assim como ocorreu com a arbitragem. 
 
A intenção é demonstrar que a sua previsão legal, permite que 
seja promovida a solução mais célere das demandas levadas ao Judiciário, e 
que ainda, sejam prevenidas novas ações judiciais, mediante a conscientização 
das partes em conflito sobre a importância de conciliar interesses opostos com 
o diálogo. 
 
Dessa forma, no primeiro capítulo, e feita breve exposição do 
histórico da mediação, especialmente do seu trajeto legislativo, até a previsão 
em Código de Processo Civil e regulamentação por lei específica. 
 
Cita também a trajetória do método autocompositivo ao redor 
do mundo, citando os principais e mais relevantes casos de sucesso na 
implantação de alternativas de resolução de conflitos em ordenamento jurídico, 
desde a sua inclusão no ordenamento jurídico, até a s técnicas desenvolvidas 
para a execução do método, como é o caso das abordagens sobre o histórico 
no Japão. Inglaterra e Estados Unidos. 
 
Também explica a trajetória legislativa da mediação no Brasil, 
citando os projetos e leis que antecederam a atual regulamentação do instituto. 
 
Por conseguinte, o segundo capitulo relaciona o método de 
autocompositivo da mediação com os princípios constitucionais e a garantia 
fundamental do acesso à justiça, demonstrando que a previsão da Lei 
processual da mediação visa o acesso à justiça em sentido amplo. 
 
 
12 
 
 
Também esclarece que a igualdade e o acesso à justiça 
somente se dão através da facilitação e desburocratização dos meios de 
acesso aos direitos e bens jurídicos, e que isso é possível com a 
desjudicialização dos conflitos, como ocorre na mediação. 
 
Expõe que a mediação é método de promoção de igualdade e 
justiça, e que esta é a finalidade da tutela jurisdicional, e não o litigio; além do 
que, por meio do diálogo inerente à autocomposição, se constitui como forma 
de promoção da paz social. 
 
O terceiro capítulo, aborda a mediação como método 
autocompositivo valido e vigente no ordenamento jurídico, e a relaciona aos 
princípios do direito processual civil, conforme disposições da Lei nº 13. 
105/2015. 
 
Aborda a mediação como elemento auxiliar e colaborativo com 
o processo judicial, independentemente de sua modalidade ser judicial ou 
extrajudicial. 
 
Aborda as características da mediação e as relaciona com as 
disposições do Código de Processo Civil de 2015, ressaltando os pontos 
positivos da adoção do método para a solução dos conflitos entre partes 
que recorreram, ou têm a intenção de recorrer à tutela judicial, para 
debater litígios que, em maioria, são causados por falta de comunicação 
e diálogo objetivo entre si. 
 
Expõe a relação das partes envolvidas no conflito com a 
mediação, discorrendo sobre as garantias legais dos mediandos dentro 
do procedimento, e sobre as garantias que possuem em relação ao 
mediador, por exemplo. 
 
Demonstra que, apesar de recente, a mediação é método de 
igual credibilidade e eficiência para a resolução de demandas, e que gera 
 
 
13 
 
 
para as partes que optam pela autocomposição, a mesma segurança 
jurídica de um acordo firmado em juízo ou, até mesmo, por uma sentença 
de mérito. 
 
Esclarece que a previsão de métodos auto compositivos e a 
concessão de oportunidade para o diálogo, por meio de previsão legal do 
CPC, é proveitosa mesmo quando não ocorre a firmação de acordo, pois 
o restabelecimento de diálogo e manutenção de relações sociais é mais 
valioso para a mediação. 
 
Dentre toda a exposição, se presta a demonstrar que a efetiva 
promoção de justiça e resolução de conflitos se dá por meio do diálogo e 
conciliação de interesses, deixando-se de lado a rivalidade, em ação de 
mudança da “cultura do processo”. 
 
Ressalta que é dever, principalmente dos operadores do 
Direito, o incentivo e divulgação da mediação e demais métodos auto 
compositivos, pois a finalidade maior do direito é a promoção de igualdade 
e pacificação social, independente do meio utilizado para isso, e se 
preciso, que se desburocratize os procedimentos, pois o processo é meio 
e não fim. 
 
Esclarece que o presente trabalho aborda a mediação dentro 
da compreensão daquilo que é novo, conforme disposições inseridas pelo 
Código de Processo Civil de 2015, e que o estudo dos métodos auto 
compositivos não se limita à elaboração de artigo cientifico, mas segue 
enquanto se exercer o estudo do direito, dada a dinâmica do processo e 
da evolução dos institutos como a medição. 
 
Este trabalho, é simplória tentativa de expor os principais 
pontos da mediação, conforme entendimento das disposições 
constitucionais e do Código de Processo Civil de 2015, sendo que o 
estudo do tema não se limita aos seus termos, dada pluralidade e 
 
 
14 
 
 
diversidade de jurídicos que a mediação permite sejam analisados. 
 
Repisa, que a compreensão, estudo, exercício de 
desenvolvimento da mediação e demais alternativas de resolução de 
conflitos, é missão para a toda a carreira acadêmica do operador de 
Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
1 MEDIAÇÃO: BREVE HISTÓRICO 
 
Em razão do objeto da presente obra ser o estudo da mediação 
sob a ótica do Novo Código de Processo Civil, antes de aprofundar a 
análise sobre o instituto devidamente reconhecido e firmado pelo estatuto 
processual, é imprescindível analisar seu processo de construção ao 
longo da história, conforme evolução da própria autocomposição no 
ordenamento jurídico. 
 
Assim, oportuno considerar as circunstâncias que 
antecederam a mediação como forma de solução alternativa de conflitos, 
com o fim de compreender a sua necessidade e adequação no 
ordenamento jurídico vigente. 
 
É possível afirmar que a cultura do processo e o abarrotamento 
do Judiciário com ações judiciais originadas pela ingerência de conflitos 
pela população, foramdeterminantes para a busca de novas ferramentas 
para tornar o acesso à justiça mais palpável aos que necessitam de 
intervenção para resolução de contendas. 
 
Conforme levantamento do Conselho Nacional de Justiça, por 
meio do “Relatório Justiça em Números”, elaborado no ano de 2012, 
existem mais de 64 milhões de processos já em andamento no Judiciário, 
sendo que na data da apuração, existiam 28 milhões de novos processos, 
o que ressalta o abarrotamento do Judiciário com processos, sem que 
haja previsão de resolução satisfatória em tempo razoável.1 
 
As condições de superlotação das varas judiciais é alarmante 
e torna a inviável, quase impossível, a tutela judicial com concessão de 
sentença em tempo razoável às partes e com a satisfação plena das 
 
1
 Justiça em números 2013: ano-base 2012. Conselho Nacional de Justiça. Brasilia: 
CNJ, 2013. Disponivel em:<http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-
judiciarias/Publicações/relatorio_jn2013.pdf> 
 
 
16 
 
 
partes, concedendo-lhes os direitos pleiteados se maiores transtornos. 
A evolução e crescimento do exercício do acesso à justiça 
tornou urgente a necessidade de adoção de meios alternativos para 
solucionar, pelo menos, parte dos milhões de demandas consignadas no 
Judiciário, encaixando-se perfeitamente neste contexto, a mediação. 
 
Existem precedentes do uso da mediação em outros países da 
Europa e Estados Unidos, bem como na América Latina, sendo que neste 
continente, o Brasil é o país que possui a regulamentação mais completa 
do instituto, cujo ordenamento jurídico acolheu muito bem, de forma 
harmônica com a Constituição Federal, o método alternativo de resolução 
de lides. 
 
Conforme explica a Doutora em Direito, Gisele Leite, o Japão 
foi um dos primeiros países a regulamentar a mediação, no fim da década 
de 40. Informa ainda, que a os japoneses instituíram a mediação como 
procedimento obrigatório na resolução dos conflitos, estruturando seu 
sistema jurídico de forma a criar cargos para que profissionais do direito, 
eleitos conforme renomado saber jurídico, experiência e respeito perante 
a sociedade atuassem como mediadores.2 
 
Conforme estudo desenvolvido pela autora, o sistema japonês 
funcionava da seguinte forma: 
No Japão existe a figura milenar chamada chotei que atua 
nos conflitos de direito de família, operando quase uma 
conciliação quase judiciária, sendo mesmo uma das 
atividades jurisdicionais. Em resumo, o chotei confia a 
solução do conflito a uma terceira pessoa ou a uma 
comissão formada por um magistrado e também dois ou 
mais conciliadores, se fosse necessário. Os conciliadores 
nipônicos são nomeados pelo Supremo Tribunal e, atuam 
por um biênio, deve ter a faixa etária de quarenta a setenta 
anos, tendo uma qualificação técnica para a função além 
de competência. Em verdade, o principal critério de eleição 
era ser um dos notáveis da comunidade. Existe um corpo 
 
2
 LEITE. G. Um breve histórico sobre a mediação. Jusbrasil. 11.03.2017. disponivel 
em:<https://professoragiseleleite.jusbrasil.com.br/artigos/437359512/um-breve-
historico-sobre-a-mediacao> 
 
 
17 
 
 
trans e multidisciplinar de especialistas universitários que 
dão auxílio quando na função de chotei. Apenas quando 
esgotamos os meios disponíveis para essa etapa, é que 
os interessados são encaminhados ao shimpam (que 
equivale a um procedimento de instrução e julgamento).3 
Observe que o sistema japonês, antes mesmo da 
regulamentação, na década de 40, já era bem mais desenvolvido que os 
modelos de autocomposição europeus e americanos. 
 
Criou-se até uma pré-instância somente para a mediação, no 
que em seu ordenamento jurídico não era alternativa de resolução de 
conflitos, mas um dos principais caminhos de acesso à justiça e 
pacificação social, exemplo digno de destaque e que serve de exemplo 
para os modelos auto compositivos contemporâneos. 
 
Já na Europa, no Reino Unido, nos anos de 1978 e 1979, 
estabeleceram-se precedentes para a mediação, que passou a ser 
adotada como técnica para solucionar litígios nas varas de família, 
especialmente os que versavam sobre guarda de menores.4 
 
A autora ainda explica que a mediação evoluiu no sistema 
jurídico inglês, sendo criada a Family Mediators Association – FMA, em 
1988, uma espécie de organização incentivadora do método 
autocompositivo que não somente realizava mediações, mas também 
trabalhava com a formação de mediadores no país, sendo coordenada 
pela assistente social Lisa Parkinson, pioneira na área no Reino Unido.5 
 
A doutora em Direito ainda explica que a precursora da 
mediação no Reino Unido, Lisa Parkinson, conseguiu expandir a técnica, 
então voltada para a tratativa familiar judicial, para a França. 
 
3
 LEITE. G. Um breve histórico sobre a mediação. Jusbrasil. 11.03.2017. disponivel 
em:<https://professoragiseleleite.jusbrasil.com.br/artigos/437359512/um-breve-
historico-sobre-a-mediacao> 
4
 Idem. 
5
 Idem. 
 
 
18 
 
 
 
Sobre a mediação nos países europeus, e sua expansão nas 
escolas francesas de direito, a autora explica: 
A contribuição da França para o desenvolvimento da 
mediação está na superação e abandono do pensamento 
binário muito peculiar da linguagem jurídica, substituindo 
pelo pensamento ternário[...] Atualmente não se cogita 
mais em modelo francês ou europeu de mediação pois o 
principal modelo fora concebido pela assistente social 
mediadora familiar Lisa Parkinson, que, embora seja 
inglesa domina o idioma francês por conta de sua origem 
paterna. A mediadora inglesa passou a compartilhar com 
a França e o Canadá a sua grande experiência em aplicar 
a mediação no judiciário do sistema da common law, 
passou também a lecionar o curso de formação de 
mediador familiar promovido pelo Instituto Europeu de 
Mediação Familiar (IEFM). A importância da mediação é 
tamanha que a sua menção está inserida na 
recomendação do Conselho Europeu aos Estados-
Membros a respeito da mediação familiar [...]. O enfoque 
atual na França da mediação é centrado na cultura da paz 
e, não apenas na pacificação dos conflitos, cujo 
mecanismo era restrito à conciliação. 
Contemporaneamente o conceito francês de mediação 
consagrou o modelo europeu, cujo fundamento está no 
movimento da Associação pela Promoção da Mediação 
(APPM) que é legitimada e reconhecida pela Comunidade 
Européia.6 
 
A mediação como instituto jurídico de solução alternativa de 
conflitos, método de autocomposição com técnicas próprias, foi 
amplamente desenvolvida na década de 70, especialmente nos Estados 
Unidos, quando negociadores de Harvard desenvolveram métodos de 
comunicação entre partes discordantes, coordena por terceiros, para 
solucionar demandas como opção aos processos judiciais.7 
 
Na lição de Ana Rosenblatt…[et al.], a técnica desenvolvida 
tinha características negociais, com o principal objetivo de resolver evitar 
 
6
 LEITE. G. Op cit. 
7
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; 
Manual de Mediação para Defensoria Pública. 1 Ed. – Brasilia, DF; FUNDAÇÃO 
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA/FUB, 2014.pg. 61. 
 
 
19 
 
 
o ingresso de novas demandas no Judiciário que já estava inchado.8 
Abriu-se mais espaço para os métodos autocompositivos, 
chegando-se a criação de grupo de estudos específicos, como o Projeto 
de Negociação da Escola de Direito de Harvard, que desenvolveu técnicas 
de negociação e estruturou “[...] originariamente o processo de 
mediação”9. 
 
Era frequentemente utilizada no meio empresarial e comercial, 
em semelhança com a arbitragem, posteriormentepassando a técnica a 
ser adotada por outros setores que, do mesmo modo, necessitavam de 
soluções rápidas para as lides estacionadas no judiciário. A autora ainda 
explica: 
Técnica multidisciplinar e inclusiva por natureza, a 
mediação incorporou, ao longo dos anos, aportes para as 
mais variadas áreas do conhecimento: Direito, Psicologia, 
Filosofia, técnicas de comunicação e negociação, 
Antropologia, Sociologia. As, diferentes contribuições e 
enfoques deram origem a distintos modelos de mediação. 
O modelo original, apoiado em princípios de negociação, 
gerou outras linhas com maior foco nas relações sociais.10 
 
Do excerto acima compreende-se o motivo de a mediação ser, 
atualmente, após regulamentação, o método autocompositivo mais 
sucedido na esfera cível familiar, pois ao longo dos anos a técnica foi 
desenvolvida com outras ciências auxiliares, como a psicologia, 
essenciais à manutenção saudável das relações humanas. 
 
Tanto que o Código de Processo Civil de 2015, incorporou a 
experiência bem-sucedida da autocomposição em seu texto, por meio da 
edição do art. 694, uma inovação legislativa, que assim dispõe: 
Art. 694. Nas ações de família, todos os esforços serão 
empreendidos para a solução consensual da controvérsia, 
devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras 
áreas de conhecimento para a mediação e conciliação. 
 
 
8
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; Op 
cit, pg. 61. 
9
 Idem. 
10
 Idem, pg. 72. 
 
 
20 
 
 
Por conseguinte, oportuno mencionar, existem doutrinadores 
que creem em expansão da mediação no ordenamento jurídico pátrio tão 
bem-sucedida quanto a arbitragem, que foi adotada inicialmente por 
grandes empresas, a fim de solucionar empasses estritamente comerciais 
sem submissão ao formalismo do processo judicial, e posteriormente 
passou por regulamentação e permitiu o acesso de outros setores. 
 
De certa forma, a arbitragem foi precedente para a mediação, 
no sentido de que introduziu a ideia de que é possível a adoção de 
métodos auto compositivos que garantem às partes a mesma qualidade 
e segurança jurídica de uma sentença emanada pelo juiz de direito, após 
o ortodoxo processo judicial. 
 
As ações mais efetivas de incentivo à autocomposição são 
posteriores à década de 90, quando se implantou a arbitragem, sendo 
adotadas pelos três Poderes espécies de políticas públicas, conforme 
explica Ana Rosenblatt…[et al.] apud Ministério da Justiça: 
No âmbito do Executivo, foi criada, em 2003, a Secretaria 
da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça (SRJ), 
com o objetivo de elaborar e executar políticas públicas 
para a melhoria do acesso à justiça. No ano seguinte, os 
reṕresentantes dos três Poderes assinaram o I Pacto 
Republicano por um Judiciário mais rápido e republicano 
e, em 2009, o II Pacto Republicano, por um sistema de 
justiça mais acessível, à gil e efetivo. Em 2012, foi criada 
a Escola Nacional de Mediação e Conciliação (ENAM), 
resultado de uma parceria entre a SRJ e o Conselho 
Nacional de Justiça (CNJ), cujo objetivo principal é 
“disseminar as técnicas de resolução extrajudicial de 
conflitos, capacitar e aperfeiçoar os operadores de direito, 
estudantes de direito e professores, agentes de mediação 
comunitária, servidores do Ministério de Justiça, bem 
como membros de outros órgãos, entidades ou instituições 
em que técnicas de autocomposição sejam pertinentes 
para a sua atividade”.11 
 
Oportuno também mencionar que existiram iniciativas de 
implantar a mediação na esfera criminal, com tentativas de conciliar 
 
11
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; Op 
cit, pg. 16. 
 
 
21 
 
 
interesses das partes do processo penal no sentido de reparar o dano 
causado pelo delito, especialmente em casos de menores infratores, 
crimes de menor potencial ofensivo e onde haja, de alguma forma, uma 
relação jurídica de continuidade entre o autor e vítima, como na violência 
doméstica. 
No campo do direito penal [...] o Projeto de Lei 7.006, de 2006, 
que prevê condições de validade de acordos obtidos em 
mediações penais e preceitua expressa autorização às práticas 
restaurativas na abordagem de crimes e contravenções penais 
de menor potencial ofensivo, com caráter complementar e 
voluntário. Isto porque a conciliação tradicional não estabelece 
ambiente necessário e suficiente à restauração das relações 
interpessoais e comunitárias entre ofensor e vítima.12 
 
Das finalidades e princípios mencionados pela autora, 
depreende-se que a implantação dos métodos auto compositivos, 
incluindo a mediação, dependeram de ações prévias, baseadas em 
educação jurídica daqueles que serão envolvidos pelo processo, tanto as 
partes quanto os colaboradores, sendo este o objeto das políticas 
públicas. 
 
Trata-se de um histórico, uma preparação para a mudança de 
mentalidade, dos próprios operadores do direito e sujeitos envolvidos, da 
cultura do processo para a resolução objetiva das demandas do cotidiano, 
construída através dos anos. 
 
De forma paralela, o Legislativo também atuou de forma ativa 
na regulamentação e incentivo dos métodos auto compositivos, no que 
existiram diversos projetos de lei anteriores à previsão da medição no 
Código de Processo Civil de 2015. 
 
Ainda segundo explica Ana Rosenblatt…[et al.], “[...] são dignos 
de menção os esforços empreendidos pelo Legislativo para estimular o 
 
12
 VASCONCELOS, C. E. de. Mediação e práticas restaurativas. São Paulo: Método, 
2008, pg. 50. 
 
 
22 
 
 
uso de meios alternativos de resolução de litígios. ”13 
 
Segundo a autora, a movimentação legislativa em torno da 
mediação iniciou pouco tempo após a popularização da arbitragem como 
meio bem-sucedido de autocomposição, sendo os primeiros projetos de 
lei datados do fim da década de 90, conforme explicação abaixo: 
Em 1998, a Deputada Zulaiê Cobra apresentou o primeiro 
Projeto de lei para regulamentar o uso da mediação no 
Brasil, o PL 4.827/98 e, em 2002, o Senador Pedro Simon 
apresentou o PLS 94/12 como substitutivo àquele projeto. 
Tendo em vista o tempo em que o projeto ficou em 
tramitação no Congresso, o Senador Ricardo Ferraço 
apresentou um novo texto, em 2011, o PLS 517/11. 
FInalmente, em 2013, dois grupos de trabalho criados para 
discutir um marco legal atualizado para a Mediação 
entregaram para o Senado Federal os Projetos de Lei 
405/13 e 434/13, que serviriam como base para um 
substitutivo ao PL 517/11, aprovado no fim daquele ano e 
enviado para a Câmara dos Deputados sob o número 
4.169/14, no início de 2014.14 
 
O mais recente Projeto de Lei que antecedeu a 
regulamentação pelo ‘novo’ Código de Processo Civil, tinha “[...] como 
objeto a institucionalização da mediação judicial, extrajudicial e nos casos 
em que configure como parte a Administração Pública. ”15 
 
Existe ainda a Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional 
de Justiça, que trouxe como política pública a implantação de métodos 
auto compositivos para a pacificação social, com incentivo à mediação, 
arbitragem e conciliação, ou outros meios adequados.16 
 
Após a resolução, foram criados centros de mediação e 
conciliação nos tribunais, em juizados, núcleos de prática jurídica de 
universidades, todos, ligados ao Judiciário, ampliando o acesso da 
 
13
 ROSEMBLATT. A, Op cit,, pg. 17. 
14ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; Op 
cit, pg. 17. 
15
 Idem. 
16
 Idem, pg. 62. 
 
 
23 
 
 
população às alternativas para resolução de litígios. 
 
Conformeesclarece o Ministério de Justiça, no manual de 
Mediação, a premente necessidade de dar opções para a solução de 
litígios que lotavam o Judiciário deu origem à Resolução que abriu 
caminho para os métodos auto compositivos, conforme se vê abaixo: 
A criação da Resolução 125 do CNJ foi decorrente da 
necessidade de se estimular, apoiar e difundir a 
sistematização e o aprimoramento de práticas já adotadas 
pelos tribunais. Desde a década de 90, houve estímulos 
na legislação processual à autocomposição, 
acompanhada na década seguinte de diversos projetos 
piloto nos mais diversos campos da autocomposição: 
mediação civil, mediação comunitária, mediação vítima-
ofensor (ou mediação penal), conciliação previdenciária, 
conciliação em desapropriações, entre muitos outros. Bem 
como práticas autocompositivas inominadas como oficinas 
para dependentes químicos, grupos de apoio e oficinas 
para prevenção de violência doméstica, oficinas de 
habilidades emocionais para divorciandos, oficinas de 
prevenção de sobre endividamento, entre outras.17 
 
Veja que os precedentes normativos da regulamentação pelo 
CPC apresentaram o mesmo viés das ações adotadas pelo Executivo, 
criando métodos de implantação das políticas públicas, sendo os 
instrumentos legais meios de efetivação e concretização do trabalho 
operado pelo outro Poder, de modo que suas ações caminharam ao longo 
dos anos de forma interdependente. 
 
Cumpre mencionar que os anteriores projetos de lei já traziam 
como princípios para a medição, a oralidade, informalidade e autonomia 
das partes, consensualismo e igualdade18, incorporados pelo Código de 
Processo Civil de 2015 como norteadores, também, para outros institutos 
por ele regulamentados. 
 
Em geral, os projetos regulamentares da mediação, 
 
17
 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Manual de Mediação. 2013. pg, 27. 
18
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; Op 
cit, pg. 17. 
 
 
24 
 
 
antecessores do CPC/2015, visavam tornar o método autocompositivo 
acessível a todas as camadas da população, descartando a excessiva 
burocracia do procedimento, como forma de facilitar o acesso à justiça.19 
As ações conjuntas dos outros dois poderes, com o Judiciário, 
buscaram trazer meios efetivos de implantação de alternativas à 
judicialização dos conflitos, e de modo reflexo, construíram bases para 
desincentivar a “[...] cultura do litígio que ainda predomina no Brasil. ”20 
 
Apesar dos esforços, tem-se que é desafio a mudança de polo 
no pensamento geral, focado na judicialização dos conflitos, também por 
ser novidade a autocomposição no ordenamento jurídico, como instituto 
legalmente reconhecido, assim como é a mediação. 
 
O processo de desjudicialização é lento, e inicialmente é 
operado pelo próprio Judiciário, que ao receber as demandas com 
tendência e possibilidade de mediação, remete as partes à 
autocomposição, na tentativa de solucionar os litígios de forma mais 
célere e menos impactante do que submetê-los ao rígido processo judicial. 
 
Frisa que é possível realizar autocomposição sem prévia 
submissão das demandas ao Judiciário, como hoje ocorre, de forma 
simplificada e acessível, desde que haja incentivo e ampla divulgação do 
direito à solução célere e efetiva dos litígios, por meio da mediação e 
outros métodos auto compositivos. 
 
Num futuro próximo, pela própria natureza da medição, é 
perfeitamente possível a existência de câmaras e tribunais de 
independentes do Judiciário, assim como ocorre com a arbitragem. 
 
Isso não retiraria da mediação a segurança jurídica das partes 
 
19
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; Op 
cit, pg. 17. 
20
 Idem. 
 
 
25 
 
 
envolvidas, tampouco o compromisso dos agentes mediadores em fazer 
cumprir a lei e princípios que regem a autocomposição, como forma de 
garantir acesso à justiça. 
 
Inclusive, oportuno mencionar que é precioso para o estudo da 
mediação como método alternativo ao processo judicial para a resolução 
de conflitos, tecer considerações sobre os principais valores insertos na 
Constituição Federal que amparam a existência da mediação, como o 
direito ao acesso à justiça, e no novel Código de Processo Civil, que 
concedeu o espaço devido à mediação no ordenamento jurídico nacional. 
 
Desse modo, no capítulo seguinte, passa-se à análise da 
mediação como método de promoção da garantia constitucional do 
acesso à justiça, à luz dos princípios constitucionais e daqueles 
recentemente introduzidos pelo CPC/15. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
2 A GARANTIA CONSTITUCIONAL DO ACESSO À 
JUSTIÇA E A MEDIAÇÃO. 
 
Neste capítulo pretende-se analisar o acesso à justiça, como 
garantia constitucional, demonstrando que pode ser exercida não 
somente por meio do ingresso com processos judiciais, mas por formas 
alternativas de solução de conflitos, como a prática da mediação. 
 
Isso porque o acesso à justiça é direito muito mais amplo, que 
permite a promoção da paz social por diversos meios, inclusive através 
dos métodos auto compositivos de solução dos litígios. 
 
Sob a análise de Dandara Batista Correia...[et al], as 
dificuldades no acesso aos próprios direitos tutelados pela Constituição 
de 1988, compõem o quadro da inacessibilidade à justiça, o que faz surgir, 
como forma de equilibrar as relações sociais em conflito, os métodos 
alternativos de solução de conflitos. Em suas palavras: 
O Acesso à Justiça, compreendido como direito 
humano, pressupõe pelo Estado de Direito sua 
plena realização mediante Sistema de Justiça 
efetivo e democrático. Contudo, o quadro 
macroeconômico e sociocultural no qual gesta essas 
garantias não é favorável a sua realização objetiva 
de forma igualitária entre os indivíduos. Para tanto, 
formulam-se, no âmbito do Estado, práticas 
alternativas de resolução de conflitos, tais como a 
mediação e a conciliação a fim de dirimir as 
desigualdades das disputas levadas à lide. É nessa 
perspectiva de tornar o processo civil menos 
oneroso para a parte desfavorecida, e mais célere, 
que, desde a década de 1960, discute-se pelo 
mundo o direito ao acesso à justiça. 21 
 
A Constituição Federal prevê, no art. 5º, inciso XXXV, que “a lei 
 
21
 CORREIA, D. B; ALMEIDA, B. de L. F. de; O acesso à justiça nas práticas de 
mediação e conciliação: limites na garantia de direitos. Revista CEJ, Brasilia, Ano 
XVI, n 58, set/dez 2012; 
 
 
27 
 
 
não excluirá da apreciação do Judiciário lesão ou ameaça a direito” 22, 
porém, a garantia e o exercício do acesso à justiça são mais abrangentes 
do que a previsão de busca ao aparato Judiciário para a solucionar 
conflitos. 
 
Carlos Eduardo Vasconcelos explica que, desde o “[...] 
preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil. o Estado 
Democrática é destinado à assegurar o exercício de direitos [...] fundada 
na harmonia social e comprometida com a solução pacífica das 
controvérsias. “23 
 
Marcus Vinicius Rios Gonçalves explica que o art. 3º, caput, do 
CPC reproduz a regra do mencionado dispositivo constitucional, e “[...] se 
traduz no direito de ação em sentido amplo [...] e incondicional [...]”.24 
 
O doutrinador ressalta ainda que o acesso à justiça vem 
incentivado no códex processual civil, nos parágrafos do art. 3º do 
CPC/15, em que consta a seguinte redação: 
§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de 
solução consensual de conflitos deverão ser estimulados 
por juízes, advogados, defensores públicos e membros 
do Ministério Público, inclusive no curso doprocesso 
judicial.25 
 
O processualista ainda complementa explicando que é dever 
do Estados, instituições, operadores do direito, membros do MP e 
Defensorias o incentivo e aplicação dos meios consensuais de solução de 
conflitos, dentre elas a mediação.26 
 
 
22
 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Vade Mecum Acadêmico 
Rideel/ Ane Joyce Angher, 20ª Ed. – São Paulo: Rideel, 2015. 
23
 VASCONCELOS, Carlos Eduardo de. Mediação de conflitos e práticas 
restaurativas. São Paulo: Método, 2008, pg. 47. 
24
 GONÇALVES, M. V. R.; coord. LENZA. P. Direito Processual Civil Esquematizado. 
6ª ed. - São Paulo: Saraiva, 2015. pg. 65. 
25
 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16/03/2015. Código de Processo Civil. 
26
 GONÇALVES, M. V. R.; coord. LENZA. P. Op cit, pg., 66. 
 
 
28 
 
 
Oportuno mencionar que o desenvolvimento desses valores, 
conforme a evolução das próprias instituições e Poderes, especialmente 
do Judiciário, fez surgir a necessidade de repaginar o acesso à justiça, 
atribuindo-lhe qualidades que permitem a coexistência entre os 
envolvidos na tutela jurisdicional. 
 
Isso porque a coexistência pacífica, a manutenção das 
relações sociais é muito mais importante para a própria ordem social do 
que a decisão objetiva e rígida, de um litígio, em que se prioriza somente 
os ritos e procedimentos. 
 
Dessa percepção, decorre o desenvolvimento de uma justiça 
mais acessível e com mais capacidade restaurativa, conforme explica 
Adriana S. Silva: 
Atualmente, verifica-se no contexto social uma nova ideia 
de Justiça, a justiça coexistencial, ideia essa que 
compreende, no âmbito do poder Judiciário, o mais alto 
nível de Justiça: a resolução da totalidade da lide com a 
preservação das relações interpessoais e sociais. 27 
 
Como dito, o exercício do acesso à justiça na modalidade de 
propositura de ações perante o Judiciário, em razão da grande demanda 
e consequente inviabilidade de solução dos litígios em tempo hábil, 
tornou-se dificultoso, fazendo surgir a necessidade de criação de métodos 
alternativos para que o Estado passasse a gerir com mais eficiência os 
conflitos de interesses da população. 
 
Alguns autores acreditam que quando Estado utiliza do Poder 
Judiciário como primeira opção para resolver os litígios em nome de 
pessoas, que já perderam controle na autotutela, é sinal de que há “ [...] 
incapacidade na gestão dos serviços públicos [...]” 28. 
 
27
 SILVA, Adriana dos Santos. Acesso à justiça e arbitragem. São Paulo: 
Editora Manole, 2015, pg. 88. 
28
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; 
Manual de Mediação para Defensoria Pública. 1 Ed. – Brasilia, DF; FUNDAÇÃO 
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA/FUB, 2014.pg. 23. 
 
 
29 
 
 
 
Isso porque entendem ser devido o “[...] exame do conflito 
originário e a devolução do poder de decisão às pessoas em conflito, 
como propõem os processos de mediação. ” 29 
 
Assim, tem-se que a capacidade de autocomposição é 
caminho de acesso à justiça, que deve ser incentivado pelo ente estatal, 
até para fins de manter a eficiência e celeridade do serviço público em 
prol da paz social. 
 
Até porque, a garantia constitucional do acesso à justiça é 
muito mais ampla do que a simples previsão de que as partes em litígio 
podem recorrer ao Judiciário para solucionar a demanda. 
 
Conforme explica Carlos Eduardo Vasconcellos, o efetivo 
acesso à justiça se dá pela correção do processo judicial, concedendo-lhe 
a possibilidade de participação de todos os envolvidos, de forma 
democrática, o que ressalta a importância da mediação para o alcance 
pleno dessa garantia fundamental.30 
 
Sob a concepção de Ana Rosenblatt…[et al.] “[...] a garantia 
constitucional abrange não apenas a prevenção e reparação de direitos, 
mas a realização de soluções negociadas e o fomento da mobilização da 
sociedade para participar ativamente na [...] resolução de disputas [...]”. 31 
 
Inclusive, menciona-se que a mobilização deve partir dos 
operadores do direito, especialmente os que têm maior e primeiro contato 
com a busca pela resolução dos litígios, os advogados, conforme prevê o 
inciso IV, parágrafo único, do art. 2º, do Código de ética e Disciplina da 
 
29
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; Op 
cit, pg. 23 
30
 VASCONCELOS, C. E., Op cit, pg. 44. 
31
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; op 
cit, pg. 26. 
 
 
30 
 
 
OAB, que dispõe ser dever dos advogados “estimular a conciliação entre 
os litigantes prevenindo, sempre que possível, a instauração de litígios”.32 
 
O exercício contemporâneo do acesso à justiça tem por 
objetivo desenvolver uma justiça de reparação efetiva, ou, restaurativa, e 
que se prioriza as relações que envolvem o processo, e não o 
procedimento judicial em si. 
 
Desse modo, é possível afirmar que a o acesso à justiça deve 
priorizar não somente a democracia do acesso às vias de resolução de 
conflitos, mas também a “[...] a qualidade material e temporal de saída 
deste “sistema” 33. 
 
Por conseguinte, tem-se que novamente os métodos 
alternativos de resolução de conflitos são as vias mais adequadas para se 
garantir o pleno acesso à justiça, considerando a satisfação das partes e 
a duração razoável do processo. 
 
Neste sentido, a mediação, que visa a pacificação de conflitos 
em lides geradas em relações sociais de continuidade, é o instrumento 
mais adequado para o alcance de consensos, gerados pelo diálogo e 
orientação jurídica, o que reforça amplitude a simplicidade no acesso à 
justiça. 
 
Oportuno transcrever o que Dandara Batista Correia...[et al], 
explica em sua obra, abaixo: 
A lógica das formas alternativas de resolução de 
conflitos, como já elucidado, é facilitar o Acesso à Justiça 
de forma a garantir um processo eficaz e eficiente, ou 
seja, tornar mais ágeis e econômicas as soluções para 
os conflitos jurídicos mediante o acordo amigável. Há 
uma explícita preocupação com o aprimoramento do 
processo civil, em detrimento de seus impactos. 
 
32
 VASCONCELOS, C. E. op cit, pg. 47. 
33
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; op 
cit, pg. 26. 
 
 
31 
 
 
 
Neste sentido, conforme explica o juiz de direito, 
Andre Gomma de Azevedo, a mediação economiza tempo das partes 
medianas e, literalmente, traz celeridade para aqueles que resolvem seus 
litígios pela autocomposição, vejamos: 
De fato, como indicado anteriormente[3], o argumento de 
celeridade processual para evitar a audiência 
autocompositiva não encontra suporte legislativo ou 
mesmo fático. Considere-se que o tempo médio de 
duração de demandas cíveis no Brasil, da inicial até o 
trânsito em julgado após o prazo recursal extraordinário 
(tribunais superiores) seja de 10 anos. Para cada 
demanda que se encerra por conciliação ou mediação, 
economiza-se cerca de 9,5 anos de tramitação. Se cada 
autocomposição onera o andamento processual em seis 
meses, pode-se afirmar que cada mediação ou 
conciliação bem-sucedida justifica cerca de 20 
demandas sem acordo. Isto é, para que se justifique o 
encaminhamento de demandas para a conciliação ou 
mediação, em razão da duração do processo apenas no 
primeiro e segundo graus de jurisdição, basta que haja 
5% de sucesso. Em algumas oportunidades, como o 
prêmio de qualidade em conciliação do Conselho 
Nacional de Justiça em 2013, verificou-se que o índice de 
acordo nas conciliações foi acima de 70%. Da mesma 
forma, o magistrado pode também determinar quea 
conciliação ou a mediação deverá ser conduzida entre a 
data de despacho da inicial e a data estabelecida para a 
audiência de instrução.34 
 
Existe corrente doutrinária que defende a mediação, 
e outros métodos alternativos de resolução de conflitos, como forma de 
diminuição das desigualdades sociais, ao passo em que permite à 
população desprovida de recursos para a contratação de advogados e 
custeio de taxas judiciais, o acesso à mecanismos efetivos para solucionar 
as lides em torno de seus bens jurídicos. 
 
É considerada forma de promoção de igualdade 
entre as pessoas vulneráveis economicamente e cujo acesso à 
 
34
 AZEVEDO. A. G. de. Institutos da conciliação e da mediação nunca 
foram tão valorizados. 30/12/2016, Conjur – Consultor Juridico. Disponivel 
em:< http://www.conjur.com.br/2016-dez-30/retrospectiva-2016-conciliacao-
mediacao-nunca-foram-tao-valorizadas> 
 
 
 
32 
 
 
informação é restrito. Neste sentido, explica Ana Rosembaltt ... [et al] 
justifica o contexto de dificuldade do acesso à justiça 
[...] a própria Constituição [...] remete aquele que foi 
ofendido às vias judiciais. [...] o cidadão desprovido de 
recursos, por não contar com uma defesa técnica de 
qualidade, já que a advocacia privada implica custos 
elevados, não conseguirá fazer valer tais garantias, o que 
significa, de certo modo, verdadeira dupla insuficiência 
de proteção. 35 
 
Dessa forma, é inegável que a mediação, sendo 
procedimento menos oneroso e burocrático, mais acessível, e que ainda 
confere poder decisório às próprias partes envolvidas, é ferramenta de 
promoção da igualdade social e forma de potencialização do acesso à 
justiça. 
 
A mediação como forma de exercício do acesso à 
justiça é ferramenta disponível para a promoção de outras garantias 
constitucionais, possibilitando às partes, especialmente as menos 
favorecidas, que tenham acesso ao mínimo existencial. 
 
De modo complementar, [...] o procedimento da 
mediação também visa incluir socialmente o indivíduo, ampliando seu universo 
cultural, possibilitando o conhecimento de seus direitos e deveres, dirimindo a 
hostilidade [...]. “36 
 
Igualmente, o acesso à justiça por meio da 
mediação permite a “[...] continuidade dos vínculos pessoais, familiares 
ou de negócio, tendo o acordo assim, eventualmente, obtido maior 
probabilidade de cumprimento espontâneo. “37 
 
Veja que a segurança jurídica obtida por meio de 
 
35
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; op 
cit, pg. 27. 
36
 LOPES, M. H; PARRA, P. O acesso à justiça através da mediação. VII EPCC - 
Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar. Editora CESUMAR. Maringá, 
2011. 
37
 VASCONCELOS, C. E. op cit, pg. 47. 
 
 
33 
 
 
decisões advindas de métodos auto compositivos, é mais concreta 
perante as pessoas envolvidas, justamente pelo protagonismo que lhes é 
atribuído durante os procedimentos, o que torna este caminho de acesso 
à justiça mais atrativo. 
 
Não é incomum constatar a realidade no Brasil de 
que muitas pessoas deixam de buscar a tutela jurisdicional pelos 
obstáculos de um processo, e pelo receio de frustrar suas expectativas de 
direito pela hipossuficiência, seja econômica ou até mesmo probatória, 
dentro de um processo judicial. 
 
Urge dar continuidade às políticas públicas iniciados 
pelos Poderes nacionais, desde a década de 90, para que se dê maior 
divulgação à sociedade de que existem opções para a resolução de 
conflitos, promovendo educação cidadã e conscientização de que o 
alcance da justiça é possível por outros caminhos que não a litigância 
dentro do Judiciário. 
 
Veja que não é possível um Estado Democrático de 
direito sem que seja concedido aos sujeitos que dele fazem parte, a 
capacidade de buscar seus direitos fundamentais, com autonomia e 
capacidade de gestão consciente sobre os próprios interesses. 
 
De modo complementar, ainda na reflexão sobre o 
acesso à justiça por meio da mediação, Carlos Eduardo Vasconcelos 
recomenda: 
Nessa perspectiva, os operadores do direito devem 
estar empenhados em apoiar o desenvolvimento de 
núcleos de mediação comunitária e a difusão de 
técnicas, habilidades e éticas de mediação de 
conflitos e demais práticas restaurativas, 
estimulando o protagonismo das comunidades. 
Essas iniciativas não devem ser encaradas como 
remendos ou paliativos para aliviar as pressões 
 
 
34 
 
 
contra a ineficiência do Judiciário. [...] 38 
 
Conforme mencionado anteriormente, a tendência é 
que sejam criadas câmaras de mediação particulares, assim como ocorre 
com a arbitragem, às quais as partes interessadas em autocomposição 
do seu litígio podem recorrer, cujas decisões, ou sentenças, poderão ser 
executáveis no âmbito judicial, em último caso. 
 
Tem-se, pois, que a criação de instituições não 
necessariamente vinculadas ao Judiciário, para a finalidade de 
desenvolver e executar, com a colaboração dos tutelados, métodos auto 
compositivos, é útil e necessária, para a promoção do acesso à justiça. 
 
Frise-se que o acesso à justiça, com garantia de 
satisfação às partes que buscam auxílio na resolução de seu litígio, e isso 
inclui a possibilidade de negociação, celeridade, redução de burocracia e 
de tempo, é mais amplo do que a simples submissão das lides ao 
Judiciário. 
 
O alcance da justiça, como sentimento social de 
pacificação e coexistência saudável entre as partes litigantes no grupo, 
deve partir da colaboração e diálogo, e se sobrepor à cultura de rivalidade, 
inclusive nos Tribunais. 
 
Nesta seara, a mediação, como método alternativo 
de solução de conflitos, cumpre com o princípio de colaboração entre as 
partes, e promove a igualdade entre aqueles que precisam de orientação 
para dirimir os litígios, sem retirar dos interessados principais o poder de 
decisão, permitindo-lhes o desenvolvimento da comunicação, como forma 
de prevenir futuros conflitos que venham a necessitar de intervenção. 
 
Se inicialmente a mediação surgiu como alternativa 
 
38
 VASCONCELOS, C. E. op cit, pg. 51. 
 
 
35 
 
 
à superlotação e morosidade do Judiciário, da própria insuficiência na 
prestação do serviço público de gerência de conflitos pelo Estado, 
atualmente é uma das principais vias do acesso à justiça e promoção de 
igualdade social. 
 
É via de acesso ao mínimo existencial para muitos 
grupos que não detém de meios suficientes para litigar por seus interesses 
no Judiciário, com as mesmas condições, mediante custos reduzidos, 
além de constituir nova perspectiva, em contraponto à cultura do 
processo. 
 
Assim, o reconhecimento da mediação pelo Código 
de Processo Civil/2015 como método de efetiva resolução de conflitos, é 
grande conquista para a pacificação social e o método mais efetivo de 
promoção da justiça, pois aproxima os tutelados dos seus direitos, e lhes 
devolve a capacidade de decidir sobre as relações sociais de continuidade 
em que estão envolvidos. 
 
Nesta trilha, considerando a importância da 
mediação para facilitar o acesso à justiça, passa-se a estudá-la como 
instituto jurídico, à luz dos princípios do novo Código de Processo Civil e 
legislação esparsa, expondo suas modalidades e, principalmente, 
benefícios para os envolvidos e sociedade, o que se fará no próximo 
capítulo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
3 A MEDIAÇÃO E O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
Neste capítulo, será estudada a mediação como instituto 
jurídico, espécie de alternativa para resolução de litígios, devidamente 
regulamentada pelo Código de Processo Civil de2015, seus princípios, 
características, diferenças entre os demais métodos auto compositivos, e 
modalidades judicial e extrajudicial. 
 
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, traz 
simplificada e completa definição do que é a mediação, nos termos 
abaixo: 
A mediação é um processo voluntário que oferece 
àqueles que estão vivenciando um conflito familiar, ou 
qualquer outro conflito de relação continuada, a 
oportunidade e o espaço adequados para solucionar 
questões relativas à separação, sustento e guarda de 
crianças, visitação, pagamento de pensões, divisão de 
bens e outras matérias, especialmente as de interesse da 
família. As partes poderão expor seu pensamento e terão 
uma oportunidade de solucionar questões importantes de 
um modo cooperativo e construtivo. O objetivo da 
mediação é prestar assistência na obtenção de acordos, 
que poderá constituir um modelo de conduta para futuras 
relações, num ambiente colaborativo em que as partes 
possam dialogar produtivamente sobre suas 
necessidades e de seus filhos.39 
 
Conforme depreende-se da análise do conceito de mediação 
exposta pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, a característica mais 
marcante da mediação é que o procedimento coloca os sujeitos do litígio 
como protagonistas, dando-lhes o poder de decisão, de forma orientada, 
sobre seus interesses, com a finalidade de se manter as relações sociais, 
com forma de promoção de justiça. 
 
Sobre a mediação, o CONIMA- Conselho Nacional de 
Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem, explica 
 
39
 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. O que é mediação? 
Disponível em:< http://www.tjrj.jus.br/web/guest/institucional/mediacao/estrutura-
administrativa/o-que-e-mediacao> 
 
 
37 
 
 
que o método autocompositivo da mediação é regido pelos seguintes 
princípios: 
 
São PRINCÍPIOS BÁSICOS a serem respeitados no 
Processo da Mediação: 
– o caráter voluntário; 
– o poder dispositivo das partes, respeitando o princípio 
da autonomia da vontade, desde que não contrarie os 
princípios de ordem pública; 
– a complementariedade do conhecimento; 
– a credibilidade e a imparcialidade do Mediador; 
– a competência do Mediador, obtida pela formação 
adequada e permanente; 
– a diligência dos procedimentos; 
– a boa - fé e a lealdade das práticas aplicadas; 
– a flexibilidade, a clareza, a concisão e a simplicidade, 
tanto na linguagem quanto nos procedimentos, de modo 
que atendam à compreensão e às necessidades do 
mercado para o qual se voltam; 
– a possibilidade de oferecer segurança jurídica, em 
contraponto à perturbação e ao prejuízo que as 
controvérsias geram nas relações sociais; 
– a confidencialidade do processo. 40 
 
A mediação é regida pelo “[...] princípio da autonomia de 
vontade, [...] característica que anda lado a lado com o protagonismo das 
partes. ”41 
 
Na lição de Silvio Rodrigues “O Princípio da Autonomia da 
Vontade consiste na prerrogativa conferida aos indivíduos de criarem 
relações na órbita do direito, desde que se submetam às regras impostas 
pela lei e que seus fins coincidam como o interesse geral, ou não o 
contradigam. ”42 
 
De modo complementar, Irineu Strenger leciona que “ [...] a 
autonomia da vontade como princípio deve ser sustentada não só como 
 
40
 CONIMA. Regulamento Modelo Mediação. Disponivel em:< 
http://www.conima.org.br/regula_modmed> 
41
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; 
Manual de Mediação para Defensoria Pública. 1 Ed. – Brasilia, DF; FUNDAÇÃO 
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA/FUB, 2014.pg. 62. 
42
 RODRIGUES, Silvio. Dos Contratos e das declarações unilaterais de vontade. 
São Paulo: Saraiva, 2007, p.15 
 
 
38 
 
 
um elemento da liberdade em geral, mas como suporte também da 
liberdade jurídica, que é esse poder insuprimível no homem de criar por 
um ato de vontade uma situação jurídica, desde que esse ato tenha objeto 
lícito[...]“.43 
Nas palavras da jurista Flávia Tartuce, a autonomia de vontade 
é preceito intrínseco ao procedimento da mediação, conforme se vê 
abaixo: 
A liberdade e a autonomia, aliás, são valores essenciais 
à mediação. É imperioso relembrar que durante a sessão 
consensual não se atua segundo a lógica de julgamento 
formal em que há imposição de resultado pela autoridade 
estatal: a lógica conciliatória demanda o reconhecimento 
da dignidade e da inclusão todos, rechaçando condutas 
autoritárias por força do respeito recíproco que deve 
pautar a atuação dos participantes.44 
 
Veja que a mediação se encaixa perfeitamente nas ideias dos 
doutrinadores, no sentido de que as relações sociais, mesmo em conflito, 
geram relações jurídicas que objetivam a manutenção das relações 
sociais, resolvendo, da forma menos lesiva, os litígios entre as partes. 
 
Ocorre que a concessão de autonomia às partes que buscam 
a tutela de seus litígios permite maior aproveitamento dos pontos positivos 
da relação social em conflito o que garante a sua manutenção, 
especialmente quando são casos específicos de continuidade, como 
ocorre nas demandas em varas de família, por exemplo. 
 
 Ana Rosemblatt [et al..], esclarece a importância da autonomia 
das partes para os métodos auto compositivos como a mediação, 
conforme se lê abaixo: 
Por ser os mediandos protagonistas do processo do qual 
aderiram voluntariamente e os autores de um eventual 
acordo, as soluções produzidas ganham legitimidade. 
Os mediandos se reconhecem no acordo produzido na 
 
43
 STRENGER, Irineu. Da autonomia da vontade: direito interno e internacional. 
São Paulo: LTr, 2000, p. 66. 
44
 TARTUCE. F. Mediação no Novo CPC: questionamentos reflexivos.2015. Pg. 08. 
Disponivel em:< http://www.fernandatartuce.com.br/wp-
content/uploads/2016/02/Media%C3%A7%C3%A3o-no-novo-CPC-Tartuce.pdf> 
 
 
39 
 
 
mediação. A consequência é há um grande nível de 
comprometimento com as decisões tomadas. A ideia de 
protagonismo está conectada á de responsabilidade - 
não no sentido jurídico, em que essa palavra é associada 
à culpa e à condenação, mas, sim, no sentido de se ter 
em conta uma concepção adulta do ser humano.45 
 
Veja que a autonomia concedida às partes na mediação, 
confere mais efetividade para as decisões dela advindas, seja em âmbito 
judicial e extrajudicial, e isso contribui para a garantia da segurança 
jurídica, com a consequente queda de reincidência da busca ao Judiciário 
pelas partes, desta vez, para fazer cumprir os acordos. 
 
Isso porque, pela condição ativa das partes no procedimento, 
a mediação permite a melhor compreensão dos termos do acordo, que foi 
firmado de forma mais maleável possível, conforme as condições da cada 
um dos envolvidos. 
 
Diferente dos acordos judiciais, firmados em conciliações 
perante o juiz, por exemplo, a mediação é feita nas condições de 
compreensão dos envolvidos, conforme suas possibilidades de 
cumprimento, sem a imposição de termos para o acordo, como muitas 
vezes ocorre que ando o magistrado “sugere” algum termo para o acordo, 
intervindo na negociação. 
 
Essa situação somente é possível graças à simplificação do 
processo do método autocompositivo da mediação, por meio da retirada 
dos ritos burocráticos e engessados da mediação, e incentivo à oralidade 
e informalidade no procedimento. 
 
Sobre a informalidade, a mediação passa a ser um 
procedimento que possibilita a “[...] flexibilidade para conduzir o processo 
 
45
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; Op 
cit, pg. 63. 
 
 
40 
 
 
[...]” 46, conformemelhor atender aos interesses e condições das partes. 
 
Justamente por essa redução dos ritos nos métodos auto 
compositivos, como ocorre na mediação, é que se garante, com mais 
eficiência, a duração razoável do processo, princípio homenageado pelo 
novel Código de Processo Civil, no art. 4º, abaixo transcrito: 
Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável 
a solução integral do mérito, incluída a atividade 
satisfativa. 47 
 
Veja que a redação do dispositivo legal não atrela a resolução 
do conflito, com a satisfação do seu mérito, à tutela estritamente judicial, 
o que permite e dá margens para a utilização de meios alternativos para 
a efetivação da justiça buscada pelas partes litigantes. 
 
Conforme mencionado anteriormente, é cediço que a demanda 
do Judiciário torna morosa a tutela Estatal dos conflitos, e desse modo, a 
propositura de uma ação judicial nem sempre será o melhor caminho para 
a satisfação das partes, em tempo razoável. 
 
A exemplo, uma demanda em Vara da Fazenda Pública, onde 
o cidadão busca o acesso à medicamentos essenciais ao trato de sua 
saúde, ou em Varas de Família, onde casais litigam em divórcio e a 
guarda dos infantes resta pendente, por mais que obtenham liminares e 
meios de encurtamento para o objeto pretendido, não serão rápidas o 
suficiente para resolver os conflitos de interesses e entregar, em tempo 
hábil, o direito aos litigantes. 
 
Também porque nesse procedimento autocompositivo 
dispensa-se a produção de provas sobre os interesses em conflitos, o que 
viabiliza o comum acordo em tempo mais rápido e corrige a 
 
46
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; Op 
cit, pg. 64. 
47
 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16/03/2015. Código de Processo Civil. 
 
 
41 
 
 
hipossuficiência probatória dos mediandos sobre o objeto da 
autocomposição. 
 
Assim, os métodos auto compositivos e alternativos de 
resolução de conflitos, encurtam a via crucis das partes que recorrem ao 
Judiciário, e permitem a satisfação de seus interesses em tempo razoável, 
cumprindo o que o inciso LXXVIII do art. 5º da CF/88 preceitua: 
Art. 5º. [...] LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e 
administrativo, são assegurados, a duração razoável do 
processo e os meios que garantem a celeridade de sua 
tramitação. ”48 
 
Por conseguinte, também é possível perceber que a mediação 
também está relacionada ao princípio da colaboração entre as partes, pois 
os mediandos atuam não como litigantes, mas como protagonistas de 
suas decisões, tomando diálogo colaborativo com a finalidade de resolver 
o impasse. 
 
Com a participação ativa das partes, na mediação os sujeitos 
se empenham muito mais em entrar num consenso do que se 
dependessem de uma decisão hetero compositiva. 
 
Também por isso, a mediação é meio que atende à duração 
razoável do processo, pois nesse procedimento não se perde tempo com 
ânimos revanchistas, mas tão somente com ações colaborativas para 
chegar-se a um acordo. 
 
Cumpre relembrar que o Código de Processo Civil dispõe em 
seu art. 6º que é dever das partes colaborar para a obtenção de decisões 
justas, em tempo hábil, veja: 
Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar 
entre si para que se obtenha, em tempo razoável, 
decisão de mérito justa e efetiva.49 
 
48
 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Vade Mecum 
Acadêmico Rideel/ Ane Joyce Angher, 20ª Ed. – São Paulo: Rideel, 2015. 
49
 Idem. 
 
 
42 
 
 
 
Por conseguinte, cumpre ressaltar que, assim como ocorre no 
processo judicial, a mediação é regida pela imparcialidade daquele que 
dirige o procedimento, sendo garantia das partes a imparcialidade do 
mediador. 
 
Sobre esta característica da mediação, Ana Rosemblatt [et 
al…], esclarece a imparcialidade no âmbito da mediação: 
[...] utiliza-se o termo de imparcialidade ativa, que se 
refere à uma imparcialidade construída de forma 
dinâmica, por meio de movimentos de aproximação 
empática/distanciamento nas intervenções do mediador 
com os mediandos. Por meio de uma balanceamento, o 
mediador equilibra suas intervenções: confere igual 
tempo de fala aos mediandos, exerce escuta ativa, 
legitima e valida os mediandos de maneira equilibrada. A 
busca pela equidistância através do balanceamento não 
só dá conta do aspecto externo da imparcialidade - 
trazendo a percepção de imparcialidade para os 
mediandos -, como também contribui para a construção 
de imparcialidade interna do mediador.50 
 
Veja que a autora explica que a isonomia permanece presente 
no procedimento autocompositivo, e que a chamada imparcialidade ativa 
não interfere no poder de decisão das partes, pelo contrário, facilita o 
consenso na mediação. 
 
Por conseguinte, tem-se que outro princípio regente da 
mediação é o da confidencialidade, previsto no §1º do art. 166 do CPC, in 
verbis: 
Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas 
pelos princípios da independência, da imparcialidade, da 
autonomia da vontade, da confidencialidade, da 
oralidade, da informalidade e da decisão informada. 
§ 1o A confidencialidade estende-se a todas as 
informações produzidas no curso do procedimento, cujo 
teor não poderá ser utilizado para fim diverso daquele 
previsto por expressa deliberação das partes. 51 
 
50
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; Op 
cit, pg. 68. 
51
 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16/03/2015. Código de Processo Civil. 
 
 
 
43 
 
 
 
Tal característica é importante para o procedimento da 
mediação porque estabelece um vínculo de confiança entre as partes, 
necessário para a cooperação e conciliação de interesses. 
 
Nas palavras de Ana Rosemblatt [et al…]: 
“A confidencialidade gera a confiança que o mediando 
necessita para manter um diálogo aberto, sem o temor 
de que o que disser seja usado contra ele, já que as 
conversações na mediação são protegidas. O ambiente 
é propício para a boa-fé necessária ao desenvolvimento 
do trabalho. ” 52 
 
Observe que os princípios informadores da mediação 
demonstram que inexiste uma hierarquia imutável no procedimento, a 
qual as partes estão submetidas, o que facilita a composição dos acordos 
e torna mais executável seus termos. 
 
Adiante, o Código de Processo Civil traz que o método 
autocompositivo da mediação é recomendado para aqueles casos em que 
se constata litígio oriundo de uma relação social de continuidade, veja a 
redação do artigo do CPC abaixo: 
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de 
solução consensual de conflitos, responsáveis pela 
realização de sessões e audiências de conciliação e 
mediação e pelo desenvolvimento de programas 
destinados a auxiliar, orientar e estimular a 
autocomposição. 
[...] 
§ 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos 
em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará 
aos interessados a compreender as questões e os 
interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo 
restabelecimento da comunicação, identificar, por si 
próprios, soluções consensuais que gerem benefícios 
mútuos. 
 
Observe que a intenção do legislador foi além da simples 
 
52
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; Op 
cit, pg. 64. 
 
 
 
44 
 
 
composição de acordo, mas visou a pacificação social como 
consequência da tutela autocompositiva, por meio do “restabelecimento 
da comunicação” entre as partes. 
 
Sábia tática, pois é cediço que muito conflitos em relações 
sociais de continuidade, como as familiares, são gerados porfalta de 
diálogo, ou de vontade em se manter um, e acabam, inevitavelmente, 
chegando ao Judiciário, por deficiência das partes em solucionar questões 
simples, muitas vezes de fundo mais emocional do que de direito. 
 
É exatamente por isso que a mediação é método versátil e de 
grande aproveitamento para o meio jurídico, pois importa técnicas de 
conversão, com inteligência psicoemocional, potencializando o diálogo 
intermediado pelo mediador. 
 
Carlos Eduardo Vasconcellos explica que a “mediação é um 
meio [...] não hierarquizado de solução de disputas em que duas ou mais 
pessoas, com a colaboração de um terceiro, mediador [...] dialogam 
construtivamente e procuram identificar os interesses em comum [...]”. 53 
 
Como diferença em relação aos demais métodos, é possível 
dizer, pela própria compreensão do disposto nos parágrafos do art. 165 
do CPC, que em relação à conciliação, por exemplo, a relação sobre que 
versa o litígio não é de continuidade entre as partes, pois inexiste vínculo 
entre elas, como ocorre no direito do consumidor, por exemplo. 
 
Conforme Vasconcellos explica, a conciliação é uma espécie 
de mediação, porém focada na composição de acordo, tão somente, sem 
o restabelecimento de diálogo para a sadia manutenção e recuperação do 
vínculo social em conflito.54 
 
53
 VASCONCELOS, C. E. de. Mediação e práticas restaurativas. São Paulo: Método, 
2008, pg. 36. 
54
 Idem, pg. 39. 
 
 
45 
 
 
 
No caso da conciliação, diferente do que ocorre na mediação, 
é possível a orientação jurídica das partes pelo mediador, que assim como 
ocorre com o magistrado, faz intervenções de mérito no procedimento, 
com o objetivo de formalizar o acordo. 
 
Ana Rosemblatt [et al…], explica que na mediação deve-se “[...] 
zelar pela autonomia e protagonismo dos mediandos[...]” de modo que o 
mediador não deve dar sugestões para a composição de interesses.55 
 
A conciliação tem cunho mais negocial, de barganha, já a 
mediação é construtiva e participativa, em que o acordo versa sobre 
interesses e não somente sobre bens. 
 
Em relação à arbitragem, Vasconcellos ainda esclarece que a 
mediação é método, pois reúne série de técnicas interdisciplinares que 
auxiliam no campo do direito, para a promoção de justiça e resolução de 
conflitos.56 
 
A arbitragem, “[...] é um instituto de Direito”57, com 
regulamentação própria, Lei nº 9.307/2006, com natureza jurídica 
contratual e jurisdicional, que vincula as partes à sua jurisdição, de cunha 
igualmente negocial e empresarial.58 
 
Cumpre esclarecer que, apesar de existir a Lei da mediação 
(Lei nº 13.140/2015), por ser recentíssima, o método autocompositivo 
ainda não se estabeleceu de forma sólida no ordenamento jurídico por 
falta de conhecimento e de oportunidades para seu emprego na resolução 
de litígios. 
 
55
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; Op 
cit, pg. 65. 
56
 VASCONCELOS, C. E. de. op cit, pg. 40 
57
 Idem. 
58
 Idem. 
 
 
46 
 
 
 
Cumpre mencionar que a Lei nº 13.140/2015, Lei da Mediação, 
traz em seu bojo a definição de mediação, conforme disposto no parágrafo 
único do art. 1º da referida lei), com a seguinte redação: 
Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade 
técnica exercida por terceiro imparcial sem poder 
decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as 
auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções 
consensuais para a controvérsia. 59 
 
Veja que a própria legislação específica traz a mediação como 
“técnica”, um método, pois engloba diversos conhecimentos para auxiliar 
na composição de interesses, coadunando com a ideia de Vasconcelos, 
acima exposta. 
 
Por conseguinte, como característica da mediação, o 
procedimento pode ter como objeto bem jurídico disponível ou 
indisponível, que aceite transação, nos termos do art. 3º da Lei 13.140/15. 
 
São direitos indisponíveis que admitem transação, aqueles 
relacionados a questões de alimentos, guarda de filhos e outras causas 
de família, causas coletivas, demandas que envolvem entes públicos. 60 
 
Na mediação, as partes contam, além da confidencialidade, 
com as mesmas garantias relacionadas à imparcialidade do juiz, em 
relação ao mediador, que submete às regras de impedimento e suspeição, 
conforme dispõe o art. 5º da Lei 13.140/15. 
 
Não obstante, o parágrafo único do dispositivo, impõe ao 
mediador a obrigação de comunicar as partes fatos que possam afetar a 
sua imparcialidade, veja: 
Parágrafo único. A pessoa designada para atuar como 
mediador tem o dever de revelar às partes, antes da 
 
59
 BRASIL. Lei nº 13.140 de 26/06/2015. Lei da mediação. 
60
 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do processo e 
processo de conhecimento (vol. 1). 11ª ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2009. 
 
 
47 
 
 
aceitação da função, qualquer fato ou circunstância que 
possa suscitar dúvida justificada em relação à sua 
imparcialidade para mediar o conflito, oportunidade em 
que poderá ser recusado por qualquer delas. 
 
Isso porque o rol de suspeição e impedimento do Código de 
Processo Civil é taxativo, e porque existem outros fatos de convicção, 
crença, sociais, e até espirituais/religiosos que podem afetar o julgamento 
do mediador e/ ou sua relação com os mediandos, o que é inerente ao ser 
humano. 
 
O mediador precisa ser imparcial tanto em relação às partes, 
quanto em relação ao tema versado pelo procedimento.61 Assim, em uma 
mediação que envolva a guarda de infantes, por exemplo, não é 
recomendável que o (a) mediador (a) seja pessoa que está em fase de 
divórcio e disputa de guarda de seus filhos, por motivos óbvios de 
afetação de sua imparcialidade, e consequente ativação de pré-
julgamento dos mediandos. 
 
Ainda em relação ao mediador, como consequência da 
imparcialidade e, principalmente, o princípio da confidencialidade que 
regem o procedimento, a ele fica vedado depor como testemunha em 
ações dos mediandos, bem como assessorar, patrocinar e representar os 
mediandos, no prazo de um ano após a última audiência, conforme 
previsão do art. 6º da Lei 13.140/15. 
 
Essa disposição visa o sigilo sobre as informações obtidas na 
mediação, por meio do relato das partes, bem como a manutenção da 
confiança dos mediandos para com o próprio método autocompositivo, 
que deve ser pautado na boa-fé, o que impede o benefício de terceiros ou 
do mediador, através do conhecimento sobre o tema das sessões de 
mediação. 
 
61
 ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R.V.M.; CAVALCANTI R. R. B.; Op 
cit, pg. 67. 
 
 
48 
 
 
 
A Lei da mediação dispõe que o mediador judicial, deverá 
cumprir requisitos para o ingresso na função, diferentemente do que 
ocorre na extrajudicial, em que pode ser eleito pelas partes, por exemplo. 
São as condições para o mediador judicial: 
Art. 11. Poderá atuar como mediador judicial a pessoa 
capaz, graduada há pelo menos dois anos em curso de 
ensino superior de instituição reconhecida pelo Ministério 
da Educação e que tenha obtido capacitação em escola 
ou instituição de formação de mediadores, reconhecida 
pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de 
Magistrados - ENFAM ou pelos tribunais, observados os 
requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho 
Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da 
Justiça. 
 
O Conselho Nacional de Justiça promove cursos de formação 
e qualificação de mediadores, com ensinamentos de direito, noções de 
psicologia, comunicação, antropologia e das técnicas específicas de

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