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Uberlândia UFU 2015 3º ENCONTRO DE PESQUISA SOBRE DIREITO E RELIGIÃO 14 e 15 de Outubro de 2015 em Uberlândia, Minas Gerais LIBERDADE RELIGIOSA, DISCRIMINAÇÃO E IGUALDADE ANAIS Uberlândia UFU 2015 3º ENCONTRO DE PESQUISA SOBRE DIREITO E RELIGIÃO 14 e 15 de Outubro de 2015 em Uberlândia, Minas Gerais LIBERDADE RELIGIOSA, DISCRIMINAÇÃO E IGUALDADE ANAIS Coordenador Geral Rodrigo Vitorino Souza Alves 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 3 Realização: Centro Brasileiro de Estudos em Direito e Religião - CEDIRE Faculdade de Direito – UFU Oxford Journal of Law and Religion (OUP) Laboratório Americano de Estudos Constitucionais Comparados - LAECC Apoio: PROEX/UFU FAPEMIG, CAPES, OAB-MG Coordenação Geral: Rodrigo Vitorino Souza Alves Comissão Científica: Alexandre Walmott Borges José de Magalhães Campos Ambrósio Moacir Henrique Júnior Rodrigo Vitorino Souza Alves Comissão Organizadora: Anaisa Almeida Naves Sorna Andrei Rossi Mango Anna Carolina Tavares Beatriz Andrade Gontijo Bruna Pratali Tarcitano Fernanda Castro Gastaldi Gabrielle Lourence de Andrade Isabela da Cunha Isabela França Luiza Macedo de Alcântara Rafaela Sarri Silva Renan Dos Santos Roberta Bevilacqua Valéria Emilia de Aquino Veronique Vital Richard Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Direito “Prof. Jacy de Assis” Centro Brasileiro de Estudos em Direito e Religião Endereço: Av. João Naves de Ávila, 2121, Bloco 3D, Sala 307 CEP 38400-100 Uberlândia-Minas Gerais - Telefone: (34)3239-4227 Home page: http://www.ufu.br; http://www.fadir.ufu.br; http://www.direitoereligiao.org 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 4 Os textos apresentados são de inteira responsabilidade de seus autores Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) E56a Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião (3. : 2015 : Uberlândia, MG) Anais / III Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião, 14 e 15 de Outubro de 2015, em Uberlândia, Minas Gerais ; coordenação geral: Rodrigo Vitorino Souza Alves. - Uberlândia : UFU, 2015. Tema: “Liberdade Religiosa, Discriminação e Igualdade”. Inclui bibliografia. 1. Direito - Congressos. 2. Religião e direito - Congressos. I. Alves, Rodrigo Vitorino Souza. II. Encontro de pesquisa sobre direito e religião (3 : 2015 : Uberlândia, MG). III. Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Direito Prof. Jacy de Assis. VI. Título. CDU: 340 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 5 APRESENTAÇÃO O 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião foi realizado nos dias 14 e 15 de outubro de 2015 pelo Centro Brasileiro de Estudos em Direito e Religião - CEDIRE (anteriormente designado “Grupo de Pesquisa Direito e Religião”), vinculado à Faculdade de Direito da Universidade Federal de Uberlândia e indexado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil (CNPq). O Encontro, de natureza internacional, foi organizado em cooperação com Oxford Journal of Law and Religion Academy (Oxford University Press), contando ainda com a parceria do Laboratório Americano de Estudos Constitucionais Comparados – LAECC e com o apoio de PROEX/UFU, FAPEMIG, CAPES e OAB-MG 13ª Subseção. A série de encontros tem como objetivo: Contribuir para o aprofundamento da pesquisa nas diversas formas e perspectivas sobre a relação entre Direito e Religião; Fomentar uma cultura de paz, em que sejam assegurados os direitos humanos e fundamentais, especialmente para a promoção do respeito à diversidade; Facilitar a capacitação para o enfrentamento de questões relacionadas ao exercício de práticas religiosas em espaços públicos; Promover a interação entre pesquisadores com diferentes bagagens teóricas para melhor compreensão do pluralismo religioso, da secularidade do Estado e da tolerância. O evento tem como público-alvo pesquisadores e estudantes das diversas áreas do conhecimento que se dedicam ao estudo do tema. Em sua terceira edição, o Encontro teve como tema: “Liberdade Religiosa, Discriminação e Igualdade”, e contou com a presença de dezenas de estudantes, pesquisadores, professores e outros profissionais, brasileiros e estrangeiros. Rodrigo Vitorino Souza Alves Professor da Faculdade de Direito da UFU Líder do Centro Brasileiro de Estudos em Direito e Religião (UFU/CNPq) Membro do International Consortium on Law and Religion Studies, Law and Religion Scholars Network e Consorcio Latinoamericano de Libertad Religiosa 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 6 ------------------------------------------------------------------------------ SESSÃO 01 – 14/10/2015 08h00 - 11h40 :: PALESTRAS Local: Auditório do Bloco 5S - UFU - Registro - Abertura - Fábio Carvalho Leite :: "Estado e Religião: A liberdade religiosa no Brasil" - Antonio Baptista Gonçalves :: "Liberdade Religiosa e a (In)tolerância do Estado Laico Brasileiro" - Cecilia Palomo Caudillo :: "Religious marriage in Mexico: Discrimination vs Religious Freedom" 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 7 ------------------------------------------------------------------------------ SESSÃO 02 - 14/10/2015 13h30 - 15h15 :: Fórum ABLIRC sobre liberdade religiosa e cidadania: A defesa da liberdade religiosa e o combate à discriminação Local: Auditório do Bloco 5S - UFU Presidência do Fórum: Samuel Gomes de Lima - Associação Brasileira de Liberdade Religiosa e Cidadania (ABLIRC) - Fábio Nascimento - Comissão de Liberdade Religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção de São Paulo - Douglas McAllister - Igreja dos Santos dos Últimos Dias - Kian Eghrari Moraes - Fé Baha'i - Euler Bahia - Reitor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP) - Ricardo Rossetti - Professor da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) - Ilton Garcia da Costa - Professor da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 8 15h30 :: SESSÕES PARALELAS - GRUPOS DE TRABALHO 15h30 - 18h00 :: GRUPO DE TRABALHO 1 - Temas Diversos sobre Direito e Religião 1 Coordenação: Ricardo Rossetti e Ilton Garcia da Costa Local: Sala 208 do Bloco 5S - UFU3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 9 A IMUNIDADE CONSTITUCIONAL AOS TEMPLOS E A LIBERDADE DE RELIGIÃO Geisa Costa Ferreira Altamirando Pereira da Rocha A imunidade tributárias aos templos de qualquer culto garantida pela Constituição Federal (CF), sob o aspecto fiscal, pode ser considerada norma indutora que incentiva a prática de atividades religiosas sem finalidade econômico-produtiva para o desenvolvimento do país. Apesar da liberdade religiosa ser um direito fundamental protegido por tal imunidade deve- se ater na atual realidade em que se verifica um grande aumento de religiões, algumas com finalidade comercial, sem o devido tratamento tributário, aspecto importante a ser considerado nesta atual momento de crise econômica, além de prejudicar outras religiões que levam a sério a finalidade para a qual foram criadas. Objetivos: Este estudo propõe-se a estudar as imunidades tributárias concedidas aos templos religiosos, enfatizando os reflexos negativos desse privilégio no contexto atual, com o estudo sistematizado da legislação, doutrina e jurisprudências relevantes sobre o tema. Descrição Metodológica: Será utilizado o tipo de pesquisa bibliográfica, para o conhecimento das contribuições trazidas pelas fontes secundárias analisadas, permitindo selecionar tópicos de interesse para o trabalho em questão. Como procedimento metodológico, empregou-se o método hipotético-dedutivo. Quanto ao procedimento técnico, fez uso da análise textual, ou seja, uma abordagem das várias bibliografias pré-selecionadas. Também, recorreu-se à análise temática, que corresponde à etapa da compreensão global das fontes secundárias trabalhadas, e a análise interpretativa, sendo, esta, a etapa com vistas à interpretação dos textos selecionados. Outrossim, utilizou-se o tipo de pesquisa documental, a fim de reunir, classificar e distribuir as fontes primárias utilizadas, ou seja, a CF de 1988, dentre outros textos legais. Para o procedimento metodológico, foi empregado o estudo comparativo, para proporcionar uma visão mais completa acerca das legislações selecionadas, que possuem as mesmas unidades de análises. Como procedimento técnico, recorreu-se à análise de conteúdo de bibliografias e diplomas normativos, sendo o Brasil o universo delimitado desta pesquisa. Resultados: Espera-se, com o estudo do tema proposto, trazer propostas e embasamentos teóricos para uma maior efetividade e coerência com a realidade atual para a aplicabilidade das normas tributárias referentes aos templos religiosos. Conclusão: A existência harmônica e pacífica das diversas religiões no território nacional não mais justifica a concessão de favores fiscal aos cultos religiosos pelo Estado. Por outro lado, tal favor fiscal tem contribuído decisivamente para o aumento descomunal de diversas atividades econômicas ligadas aos templos religiosos, sem a incidência da pesada carga tributária a que está sujeita as demais atividades. Portanto, não se justifica conceder privilégios desproporcionais aos templos sem que estes precisem prestar contas. Como se trata de um país laico, deveria tratar as igrejas com a mesma ética que se tratam as demais instituições, mesmo porque as religiões no Brasil convivem de forma democrática e pacífica. Mas vale ressaltar que a questão não é religiosa, mas econômica e social, pois o Estado ao conceder tais benefícios incentiva atividades que não geram lucros nem produtividade para a economia nacional. Nesta fase da história e ante os fatos com que nos defrontamos a nível internacional, não há razão para que prevaleça a imunidade a templos. Palavras-chave: Imunidade tributária. Templos. Normas fiscais indutoras. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 10 O ESTADO LAICO E A LIBERDADE RELIGIOSA: INTERESSE PÚBLICO VERSUS DIREITO PRIVADO EM UMA DEMOCRACIA PLURAL RELIGIOSA Patrícia Fontes Cavalieri Monteiro Elena de Carvalho Gomes (Orientadora) Os núcleos objetivos que compõem o direito à liberdade religiosa o situam no universo das liberdades subjetivas e dos bens da personalidade, o que o faz gozar de particular relevo na tutela juscivilística da personalidade humana. Essa proeminência jurídica, associada ao avanço da modernidade com a passagem do Estado religioso ao Estado leigo, culminou na separação da religião da vida das sociedades políticas contemporâneas, sobre as quais se ergueu uma concepção de mundo e de homens livres e profanos, possíveis, eles próprios, de buscar a sua autonomia e o desenvolvimento de sua personalidade. Na práxis, o princípio jurídico da laicidade se expressa por meio de dois comportamentos estatais que são, ao mesmo tempo, opostos e recíprocos entre si: o Estado como agente ativo, garantidor do exercício da liberdade religiosa dos cidadãos; e o Estado agente passivo, “protegido” pela neutralidade contra as confissões religiosas, impedindo-as de que se valham da máquina estatal como se fosse seu altar e impinjam condições políticas ou pensamento antilaico, de maneira a comprometer o Estado Democrático. Nesse contexto, todos são chamados a ser interlocutores do mesmo direito de liberdade, legitimatio pautada em diferentes compreensões e papéis a serem desempenhados. Precisamente aí é que reside o desafio de um Estado laico. Objetivos: A definição de como devem se relacionar Estado e religião, cujas linhas parecem incomunicáveis em uma sociedade contemporânea, é o problema que se propõe a abordar e resolver a presente investigação a partir dos seguintes vieses: Como o Estado deve tutelar a liberdade religiosa ante a colidência desse direito com outro direito coletivo, necessário à implementação das políticas públicas - atividade preponderante daquele? Haverá compatibilidade entre o interesse público e o direito privado religioso em uma democracia plural? Descrição metodológica: As vicissitudes da pluralidade religiosa em uma sociedade cujo Estado é laico são o que justificam a presente pesquisa, retratadas nessa pesquisa mediante casos concretos que servirão de base metodológica à contextualização da hipótese. A estrutura metodológica utilizada baseou-se na revisão bibliográfica, no exame de doutrina e jurisprudência. Conclusão: O ponto de equilíbrio dessa relação pressupõe a imperiosa observância a dois elementos reguladores dessa relação: o interesse público verificado nas ações político-administrativas e a subsunção, pelo Estado, ao princípio da tolerância. O primeiro é a única exceção constitucionalmente admissível à regra do afastamento estatal das questões religiosas, com base na qual poderá o Estado, inclusive, embaraçar-lhes o funcionamento. O segundo é a observância do princípio da tolerância, compreendido como o dever de respeito pela dignidade e pela personalidade dos cidadãos, bem como pelas suas diferentes crenças e opções de consciência. É, pois, um princípio conformador das diferenças de crenças. Parece encontrada, então, uma via possível para a solução do problema normativo fundamental da pesquisa: haverá compatibilidade entre o interesse público e o direito religioso numa democracia laica e multireligiosa na medida em que o Estado, tutor desse direito, for capaz de fundamentar as ações políticas que eventualmente limitem aquele na razão pública e no princípio universal da tolerância. Palavras-chave: Liberdade religiosa, Laicidade, Interesse público. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 11 O EXERCÍCIO DA LIBERDADE RELIGIOSA NAS RELAÇÕES DEEMPREGO QUANTO AO DIA DE CONCESSÃO DO REPOUSO SEMANAL REMUNERADO Renato de Almeida Oliveira Muçouçah Introdução: ao se tratar o direito fundamental à liberdade religiosa, pretende-se trazer a lume especialmente a discussão acerca da liberdade de crença, sem ignorar as demais vertentes desse direito. Ao professar uma crença religiosa (seja ela qual for), a pessoa vive de acordo com certos preceitos e códigos de conduta, os quais são inerentes a qualquer fé. O crente, todavia, se por um lado não pode ser tolhido na expressão de sua religiosidade, também não poderá, a depender de uma série de questões, exercê-la em sua plenitude, seja em espaços públicos ou privados, sob pena de desobedecer a comandos normativos, inclusive constitucionais e de magnitude similar ao disposto no artigo 5º, VIII, da Carta Magna. O foco da pesquisa volta sua especificidade ao indagar questão inerente à relação de emprego, a saber, o repouso semanal remunerado: nos termos do artigo 7º, XV, da Constituição Federal, este deverá ser concedido preferencialmente aos domingos. O repouso semanal, conforme Convenções 14 e 106 da Organização Internacional do Trabalho deve dar-se, de fato, num período de no mínimo vinte e quatro horas de descanso no decorrer de cada período de sete dias. Objetivo: a preferência pelo domingo como dia do repouso é explícita referência brasileira ao cristianismo, em especial à vertente católica. Ocorre que até mesmo outras correntes cristãs não enxergam o domingo como o dia que se deve dedicar a Deus; os adventistas do sétimo dia, por exemplo, guardam o período entre as 18h00 de sexta-feira às 18h00 de sábado como o necessário à adoração. Para os muçulmanos a sexta-feira é o melhor dia sobre o qual se levantou o Sol e, por isso, é nele que seus crentes devem orar em comunidade. O mesmo ocorre com o sábado, dia santo do judaísmo. Aplicar a norma constitucional de forma cega, sem considerar individualidades no contrato de emprego, constituiria desrespeito do empregador quanto à liberdade religiosa do empregado? Descrição metodológica: foi utilizado o método hipotético-dedutivo, percebendo-se lacuna na particularidade do problema apresentado e, pelo processo de inferência dedutiva, testaram-se hipóteses para encontrar as mais escorreitas respostas ao fenômeno. Resultados: há diversos trabalhadores que, no Brasil, laboram no domingo, professem eles ou não alguma fé cristã. O domingo é preferencialmente o dia para repouso, o que implica em conceder tal dia da semana como descanso dentro de determinado período independentemente da religião do empregado, a priori. Conclusão: caso a fé do empregado não seja a cristã ou pregue a guarda de outro dia para repouso, a preferência deve recair sobre esse dia da semana, e não outro, no caso individualizado, em que pese a literalidade do artigo 7º, XV, da Constituição Federal. Traduz-se em dever de adaptação razoável ao empregador quanto à observância da máxima efetividade dos direitos fundamentais de seus subordinados. Não sendo possível, na dinâmica empresarial, propiciar ao empregado a guarda de outro dia que não o domingo, deverá este – também mediante adaptação razoável – adotar medidas para que seja concedida aos empregados que professem determinada fé a possibilidade de folgar nos dias destinados ao culto. Palavras-chave: religião e relação de emprego; dever de adaptação razoável; vinculação do empregador a direitos fundamentais dos empregados; proteção antidiscriminatória. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 12 HOMOSSEXUALIDADE E CONTRATO DE EMPREGO: UMA ANÁLISE ACERCA DO PROSELITISMO RELIGIOSO NOS AMBIENTES DO TRABALHO Renato de Almeida Oliveira Muçouçah Introdução: a homofobia, ora compreendida como forma específica de discriminação quanto às pessoas homossexuais, poderá dar-se como atos de discriminação (fatos materiais) e os discursos de ódio (como previsto pelo Conselho da Europa, de 1997), os quais promovem discriminação ou violência contra tais pessoas. Por outro lado, as principais religiões monoteístas do mundo (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) nutrem prosélitos que condenam a pessoa que vive sua homossexualidade. No Brasil, conforme dados do IBGE de 2010, 86,8% da população é cristã (64,6% de católicos romanos e 22,2% de protestantes). Objetivo: verificar a possibilidade de determinado empregador valer-se, quando da contratação de empregados, por preferência de candidatos em razão de credo e, além disso, de discriminação contra pessoas homossexuais por estas não se adaptarem à fé veiculada no ambiente do trabalho da empresa. Ademais, será perquirida a possibilidade de um empregador valer-se de proselitismo em sua empresa, assim como permitir a alguns empregados que o façam, sobretudo no que concerne à condenação da homossexualidade Descrição metodológica: foi utilizado o método hipotético-dedutivo, percebendo-se lacuna na particularidade do problema apresentado e, pelo processo de inferência dedutiva, testaram-se hipóteses para encontrar as mais escorreitas respostas aos fenômenos trazidos à discussão. Valeu-se também do método sistemático, de grande utilidade no direito do trabalho e constitucional modernos, vez que possibilita uma leitura coerente do ordenamento jurídico, bem como a compatibilização entre seus diversos institutos, na medida em que os sistematizam. Resultados: inexiste justificativa plausível a qualquer empregador que lhe permita invadir a esfera íntima do empregado para tomar conhecimento de suas práticas sexuais; no entanto, ao candidato homossexual que assim decidir declarar-se, é defeso ao empregador criar qualquer obstáculo para acesso ao emprego. No curso da relação de emprego, porém, diversos interesses entram em conflito no ambiento do trabalho: desejo do empregador ou de subordinados seus patrocinarem proselitismo religioso no âmbito da empresa, para além do direito de o empregado homossexual desejar livremente manifestar sua sexualidade em condutas como receber o companheiro no horário de almoço, matricular filhos adotivos em creches mantidas pelo empregador, etc. O conflito se dará quando o empregado homossexual sentir-se atingido por discurso religioso que o condena, vindo este de colega de trabalho ou do empregador. Conclusão: por inexistirem direitos fundamentais absolutos, a técnica da ponderação de interesses deve guiar o intérprete e o aplicador nos conflitos acima narrados. A simples referência difusa e não repetitiva da condenação religiosa à homossexualidade não constitui, per se, homofobia. Por outro lado, o empregado homoafetivo deve respeitar seus colegas de trabalho independentemente do credo que professam, e é proibido a quaisquer subordinados, assim como ao empregador, valerem-se da liberdade de expressão para tolher direitos de personalidade, devendo-se promover tolerância recíproca entre os grupos citados por meio do princípio da proporcionalidade, vetor a guiar as liberdades já mencionadas. Palavras-chave: religião e relação de emprego; homossexualidade; liberdade religiosa; ponderação de interesses; proteção antidiscriminatória. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 13 A RELIGIÃO EM MARX: A CONSTRUÇÃO DO SEU PENSAMENTO EM PERSPECTIVA HISTÓRICA Gabriel Sandino de Castro O presente trabalho, fruto de estudos iniciais, tem como objetivo identificar a concepção da religião na teoria marxiana e sua implicação nas relações sociais. Neste sentido, a pesquisa é compreendida sob uma análise teórica e conceitualdos escritos de Marx, uma vez que o autor alemão não se dedicou ao tema da religião, especificamente, em seus trabalhos. Além disso, levamos em conta o caráter histórico dos estudos do autor, ou seja, compreender o processo de construção da concepção de religião para Marx. Em diferentes trabalhos, o autor alemão abordou a religião como uma forma específica de mecanismo para a dinâmica da sociedade. A hipótese desta pesquisa parte da ideia que a crítica marxiana da religião não deve ser compreendida quando separada dos demais estudos do autor. Em outras palavras, uma teoria marxiana da religião é parte da crítica de Marx ao capitalismo e não algo independente. Isto significa que não se pode pensar a religião em Marx sem discutir a sociedade moderna capitalista. Apesar de Marx focar no estudo da religião e as suas formas de manifestação, é no cristianismo que o autor irá concentrar as suas críticas. Assim, é dado o recorte histórico de 1840 a 1846, em que Marx expõe seu pensamento acerca do papel da religião. Na verdade, podemos considerar as obras - editorial 179 do jornal Gazeta de Colônia, “As filosofias da natureza em Democrito e Epicuro” (tese de doutorado), “Manuscritos de Paris”, “A Questão judaica” “A Sagrada Família” e “ A Ideologia Alemã” - como as principais acerca do tema. No senso comum, as maiores críticas à religião, salve Nietzsche, origina-se de Marx, sobretudo na ideia de “ilusão”. O entendimento das práticas religiosas como certa “utopia” da mente humana não se originou de Marx. Na verdade estas críticas já eram feitas por filósofos pré- socráticos. A diferença entre o intelectual alemão para os demais era a sua preocupação em compreender a religião a partir de uma análise histórica, ou seja, ela como um dos elementos fundamentais das relações sociais. Marx percebe que o desenvolvimento e peculiaridades de cada sociedade (aldeias, sociedades capitalistas modernas, comunidades arcaicas) são os alicerces para a legitimação de determinada religião. Portanto, nenhuma crença existe sem um contexto específico para qual ela possa vir de encontro com as necessidades daquele grupo social. Não obstante, o filósofo alemão apontou o caráter da religião como produto de uma determinada realidade correspondente a um modo de produção particular. (...) A famosa frase “A religião é o ópio do povo” (MARX, 2005) em muitos casos, é confundida com uma afronta ao papel da espiritualidade na vida dos seres humanos. O autor alemão estava preocupado em identificar e dimensionar os efeitos da religião nas relações sociais. Em nenhum momento, Marx visa desacreditar na espiritualidade do homem enquanto crença, ou uma filosofia de vida própria. Na verdade, o filósofo alemão aponta que as Igrejas, enquanto instituições sociais reforçam o caráter subserviente dos trabalhadores, uma vez que ao se preocuparem com a pós- vida os operários e camponeses deixam de lado as lutas que correspondem à realidade material. Portanto, não podemos deixar de destacar que as críticas de Marx a religião é fruto da forma como as instituições religiosas afetavam a sociedade da época, ou seja, se o homem é fruto do seu tempo, a religião também é. Isto não significa que ela seja um fenômeno social novo, e sim, a forma como ela manifesta-se na sociedade. Palavras-chave: teoria marxiana da religião. sociedade capitalista moderna. Cristianismo. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 14 AS CONSEQUÊNCIAS DO PLURALISMO RELIGIOSO Anna Carolina Alves Cruz No Brasil republicano não houve liberdade religiosa enquanto perdurou a hegemonia do catolicismo. Entretanto, na medida em que o Estado obteve autonomia relativa mais acentuada perante grupos religiosos, com separação formal definitiva da Igreja Católica, para Mariano (2003), essa disjunção também assegurou alguma liberdade para que os indivíduos pudessem escolher a religião que mais lhes interessasse. E o Estado passou a se comprometer com a tolerância o pluralismo religioso. Com essa liberdade, ampliou-se a concorrência na oferta de serviços religiosos e, simultaneamente, o impulso para a conversão e o trânsito religioso também aumentou, observando-se, então, a expansão das opções religiosas não hegemônicas. Tal expansão é utilizada como argumento por quem não vê sentido na teoria da secularização. Mas, assim como Pierucci, Mariano reitera que esse crescimento das práticas religiosas não anula a secularização ocorrida no Ocidente. Na segunda metade do século XX, é possível notar a conjuntura pluralista e concorrencial das igrejas que se baseiam em uma lógica de mercado. Por outro lado, a separação entre Estado e religião, componente fundamental da secularização, não pode ser vista como criação de duas esferas sociais paralelas, uma vez que as relações de seus agentes foram alteradas, mas permaneceram importantes. Sobre isso, Emerson Giumbelli não acredita em uma secularização total da sociedade, pois, hoje em dia, assiste-se muito a acusações de fraude, manipulação e exploração de fieis, que recorrem ao poder público em defesa de seus direitos, também acionado nos casos de intolerância e preconceitos religiosos. Assim, é como se a modernidade impusesse uma condição de “liberdade vigiada” às religiões. Para ele, “toda vez que um conjunto de crenças e práticas com pretensão a estatuto religioso ultrapassar tais limites cabe ao Estado [...] intervir no sentido da regulação das atividades e relações sociais.” (GIUMBELLI, 1996, p. 9 apud CAMURÇA, 2003, p.61). Neste sentido, acredita que a conexão da religião com o Estado ocorre porque a esfera religiosa ainda não está plenamente adaptada à lógica secular. A modernidade garante maior liberdade de escolha religiosa, logo, há mais alternativas religiosas, as religiões antigas sobrevivem, outras aparecem e o pluralismo religioso se diversifica. Almeida (2010) aponta que com o crescimento do pluralismo religioso, logo a proliferação de instituições conduz a uma infidelidade a elas, o que justificaria a citação acima. Num contexto e liberdade e intenso pluralismo religiosos, a competição por fieis torna-se acirrada, o que estimula o ativismo e proselitismo de seus pastores e leigos, estratégias de marketing, entre outros recursos de atuação. Nesse sentido, baseando-se na bibliografia de sociólogos e antropólogos da religião, o objetivo desta comunicação é a de expor como o pluralismo religioso está crescendo no Brasil e o que ele influencia ou pode influenciar nas religiões. Palavras-chave: Pluralismo. Estado. Secularização. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 15 RESOLUÇÃO N. 8/2011 DO CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA (CNPCP) Lidyane Maria Ferreira de Souza O Direito brasileiro não conta ainda com um texto normativo tão detalhado sobre o exercício da liberdade religiosa quanto a Resolução n.8/2011 do CNPCP, por isso, convém analisar o processo de produção desta Resolução e sua repercussão. Para a teoria do direito à liberdade religiosa, dois pontos são particularmente interessantes: a transformação do direito individual à (solicitação de) assistência religiosa em direito da organização religiosa de prestar a assistência religiosa; a menção recorrente às religiões de matriz africana como exemplos de minoria a ser protegida e a subsequente não aprovação dos dispositivos normativos que efetivariam esta proteção. A função do Conselho é subordinado ao Ministério da Justiça e a ele competem a elaboração de diretrizes, planos e programas de políticacriminal e penitenciária, o estímulo a pesquisas e a fiscalização dos estabelecimentos de pena. A Resolução foi provocada por reclamações sobre as restrições impostas pelos sistemas estaduais penitenciários à entrada de assistentes religiosos nas prisões. Estas reclamações envolviam: limitação ao número de assistentes religiosos permitidos; cancelamento arbitrário das visitas programadas; proibição de acesso a todas as áreas da prisão; exigência de constituição jurídica da organização religiosa para prestação da assistência religiosa. Embora as atas das reuniões sejam bastante concisas, as gravações em áudio são úteis para compreender o processo de elaboração da Resolução no qual a lógica da segurança, prevalecente no ambiente prisional, tanto se sobrepõe à lógica da tríade liberdade religiosa- laicidade-respeito ao pluralismo, quanto avança na elaboração de dispositivos sobre questões controversas nesta tríade. Assim, os conselheiros elaboraram distinções sutis relacionadas aos fins ressocializadores da assistência religiosa, bem como parecem ampliar o sentido jurídico de religião ao tratar de “assistência humana”. Por outro lado, o processo de elaboração não citou relatos das pessoas presas, mas apenas relatos de assistentes religiosos. Além disso, a Resolução não contempla as religiões de matriz africana. Contudo, a Resolução foi recebida com satisfação por um dos grupos representativos dos assistentes religiosos – a Pastoral Carcerária - e há uma expectativa de que a Resolução funcione como barreira às restrições impostas pelos sistemas estaduais. É possível que em outros ambientes institucionais as lógicas próprias, ao serem compatibilizadas com a regulação jurídica da religião, produzam novas configurações e sentidos a esta mesma regulação, como em escolas e hospitais. Para tanto, é preciso ampliar a pesquisa jurídica para além de seus ambientes tradicionais – Legislativo e Judiciário – e para além dos comportamentos tradicionalmente observados – respeito ou violação às normas jurídicas. Palavras-chave: assistência religiosa; conselho nacional de política criminal e penitenciária; liberdade religiosa; laicidade; segurança 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 16 TEORIA CRÍTICA E ANÁLISE CULTURAL DA LIBERDADE RELIGIOSA Lidyane Maria Ferreira de Souza Em diferentes contextos nacionais, a regulação jurídica da religião é problemática. O acesso às vantagens e aos mecanismos de proteção das práticas religiosas é diferente conforme se tratem de indivíduos e grupos com fé e práticas religiosas majoritárias ou minoritárias. A teoria crítica da liberdade religiosa, composta por estudos interdisciplinares que vão além da análise dogmática do direito à liberdade religiosa e dos modelos de relação entre Estado e religiões, tem indicado como as categorias da laicidade e da liberdade religiosa operam nas práticas institucionais, levando em conta sua origem na história do Direito Moderno e sua relação com a linha que demarca o religioso e o secular. Estudos produzidos sob esta orientação identificaram dificuldades intrínsecas à regulação jurídica da religião. Entretanto, a teoria crítica não indica como lidar com estas categorias herdadas, sem reproduzir seus problemas. Para tanto, pode ser útil a ferramenta chamada “religion-making”, contribuição vinda dos Estudos Religiosos. Para parte destes, a categoria “religião” é tão ou mais problemática que as categorias “liberdade religiosa” e “laicidade” (ou linha que demarca o que é religioso e o que é secular), mas, apesar disso, indivíduos e grupos têm apreendido o funcionamento desta categoria e aprendido um modo de usá-la que lhes seja menos desfavorável. Assim, esta linha de estudos reconhece que a categoria “religião” é construída pelas instituições e práticas estatais - “religion-making from above” - e acadêmicas - “religion-making from -, sem ignorar a possibilidade de indivíduos e grupos também atuarem ativamente nesta construção - “religion-making from below”. E é interessante notar como alguns dos exemplos de “religion-making from below” acontecem justamente em instâncias jurídicas. No âmbito jurídico, uma análise cultural do Direito pode adequar esta ferramenta aos estudos jurídicos, permitindo que os estudos sobre a regulação jurídica da religião sejam capazes de perceber certa autonomia a indivíduos e grupos no uso desta regulação, sem romantizá-las. Uma análise cultural pode direcionar o estudioso para a análise das práticas específicas de regulação, para notar o fluxo das ideias jurídicas e os diferentes usos que indivíduos, grupos e instituições fazem delas. Por este percurso, poder- se-ia chegar a algo como um “religious freedom making”. Sem a obrigação de preservar o Rule of Law da ameaça da religião (enquanto sistema normativo concorrente), esta análise permitira ao observador atentar para o trabalho que os direitos subjetivos religiosos fazem, para além de e apesar da ausência de neutralidade estatal. Palavras-chave: teoria crítica da liberdade religiosa; religion-making; análise cultural do direito; secular; laicidade. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 17 15h30 - 17h30 :: GRUPO DE TRABALHO 2 - Temas Diversos sobre Direito e Religião 2 Coordenação: Moacir Henrique Júnior e José de Magalhães Campos Ambrósio Local: Sala 312 do Bloco 5S - UFU 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 18 A ASSISTÊNCIA RELIGIOSA NOS PRESÍDIOS BRASILEIROS E A AUSÊNCIA DAS RELIGIÕES MINORITÁRIAS Bruno Ferreira de Oliveira Preceitua a Declaração Universal dos Direitos Humanos no artigo XVII que toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, e que esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença, de manifestar sua crença pelo ensino, prática, culto e pela observância, isolada ou coletivamente, e em público ou particular. Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988 confere o direito à liberdade de crença como garantia constitucional, aplicando-se aos cidadãos que se encontrem também privados da liberdade. Por conseguinte, a assistência religiosa nos presídios é um direito fundamental previsto constitucionalmente, conferindo prestação de assistência religiosa nas unidades civis e militares de internação coletiva (art. 5º, VII). No Brasil, a Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984) prevê que será assegurada à pessoa presa a atuação de diferentes confissões religiosas em igualdades de condição, majoritárias ou minoritárias, vedado o proselitismo religioso e qualquer forma de discriminação e estigmatização. Ainda, conforme as Regras Mínimas para Tratamento de Reclusos, documento da ONU que, em sua regra 6.2 assegura a liberdade de crença e na regra n.º 42 salienta que, tanto quanto possível, cada recluso deve ser autorizado a satisfazer as exigências da sua vida religiosa, assistindo aos serviços ministrados no estabelecimento e tendo na sua posse livros de rito e prática de ensino religioso da sua confissão. Apesar de vários dispositivos assegurarem a assistência religiosa aos presos, a Comissão Parlamentar de Inquérito do Sistema Carcerário (2009) constatou massivo e regular trabalho das igrejas evangélicase a presença da Pastoral Carcerária, vinculada à Igreja Católica. Como resultado, constatamos que as religiões minoritárias, tais como as afro-brasileiras e espíritas, ainda continuam a serem estigmatizadas e excluídas dessa garantia constitucional e social. A falta de assistência religiosa aos detentos pertencentes às religiões minoritárias demonstra a gravidade do problema estigmatização na sociedade brasileira, indo contra a previsão da Lei de Execução Penal. Sendo assim, na teoria, ao preso é conferida a autonomia para escolher determinada religião a ser seguida dentro do cárcere, mas na prática a assistência religiosa não é homogênea, ou seja, a depender do Instituto Penal ele terá acesso ou não a determinadas religiões, com exceção das majoritárias (católicas e evangélicas) que sempre estão presentes. Este trabalho, portanto, objetiva analisar o motivo e a causa da ausência das religiões minoritárias na prestação da assistência religiosa nos presídios brasileiros, além de propor soluções para abranger o máximo de religiões possíveis dentro dos estabelecimentos prisionais. Palavras-chave: Assistência Religiosa. Presídios. Estigmatização. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 19 A PSICOGRAFIA COMO MEIO PROBATÓRIO NO PROCESSO BRASILEIRO Andrei Rossi Mango Isabela da Cunha Machado Resende Muito se discute se o espiritismo trata-se de uma religião ou de uma ciência. Também há os que defendem que pode ser ambos. Contudo, não se pode olvidar do caráter científico da doutrina espírita, conforme afirma Allan Kardec: O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações. Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. Portanto, por ser uma ciência, o espiritismo pode contribuir com o Direito, de modo a garantir a interdisciplinariedade aceita pelo art. 332 do CPC vigente. O presente trabalho objetiva analisar o uso da psicografia - ação em que um espírito desencarnado escreve por meio de um médium - como meio probatório tanto na esfera cível quanto criminal. Geralmente, esse tipo de prova tem maior utilidade nos casos de responsabilidade civil, de homicídio e nas hipóteses em que se discutem supostos plágios. Seria a psicografia um meio probatório lícito? A psicografia é um meio probatório inominado (ou atípico), pois não está prevista no ordenamento mas pode ser utilizada para formar o livre convencimento do juiz. Assim, ela é uma prova lícita e legítima, com fundamentamentação no art. 5º, LV da CF/88 que garante o “contraditório e a ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes”. A prova psicografada serve, justamente, para fundamentar o contraditório e a ampla defesa prevista como direitos fundamentais na Constituição Federal. Além disso, a psicografia não vai contra a moral, o que faz dela um meio de prova lícito, de acordo com o art. 332 do CPC, que dispõe: “Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.” Analogamente, a psicografia pode ser entendida como prova documental e, como toda prova, ela não é absoluta, sua força probatória é relativa. Contudo, deve contribuir para a verdade e deve possuir credibilidade. Nesse sentido, a psicografia deve passar por uma perícia para atribuir a sua veracidade e, dessa forma, poder ajudar na formação da convicção do magistrado. Convém ressaltar que a psicografia tem o mesmo valor probatório que a prova documental. Outro ponto relevante a ser destacado é que devido o fato de o Estado ser laico, não convém normatizar de forma expressa o documento psicografado como meio de prova. Não é aconselhável nem permitir nem proibir, pois o Estado (que deve permanecer distante das relações religiosas e deve interferir apenas em ultima ratio) poderia estar demonstrando certa preferência por religião ou fé professada, de maneira a abalar essa laicidade. Dessa forma, entende-se que apesar de ser legítima, a psicografia deve ser mantida como prova inominada e defende-se o seu cabimento tanto na esfera criminal quanto na cível. Palavras-chave: Espiritismo; Direito; Psicografia; Processo; Prova 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 20 RELIGIÃO, INDIVÍDUO E SOCIEDADE: A PROTEÇÃO DA LIBERDADE RELIGIOSA COMO UM DIREITO HUMANO Nathalia Caroline Barbosa Abranches de Faria Este artigo possui como perspectiva a análise, não definitiva, da liberdade religiosa como uma ramificação a qual pertence as proteções dos direitos humano. Trata-se de um trabalho sobre as proteções dessas religiosidades e a constitucionalização das mesmas, sendo uma proteção devida pelo Estado em muitos entendimentos. Texto subdividido em momentos de contexto histórico, assim como a defesa resultante de todo este caminho exposto, da liberdade da fé e religiosidade em geral, aliás tais conceitos são também propostas analisadas no artigo em questão. OBJETIVOS: O objeto findou-se na análise do caso concreto ao fim do artigo, visto que a análise das concepções atuais de liberdade religiosa vindo desde os ditames históricos eram os principais pontos que os autores tencionavam alcançar com tal estudo e escrita. Perpassando por noção do termo religião e alguns apontamentos advindos da diferenciação cultural. METODOLOGIA: O artigo proposto foi estruturado em um período de intercâmbio na Universidade de Coimbra, suas concepções e análises são basicamente da temática frente ao continente europeu, com algumas comparações e exposições da liberdade religiosa em sua concepção histórica na América do Norte, Brasil, dentre outras regiões da Antiguidade. RESULTADOS: As considerações propostas pelo trabalho, gera conclusões sobre como o caso concreto é tratado na perspectiva europeia com a temática proposta, ainda análise final da religião em seu aspecto social, e a análise da vedação expressa da discriminação religiosa por parte da Corte Europeia. CONCLUSÃO: A Carta dos Direitos Fundamentais do Homem é um documento com grande peso jurídico, colocado no patamar dos Tratados, ela trouxe inúmeras modificações, apesar da Europa ainda viver nessa pluralidade e em muitos casos, ainda por resquícios do passado, entrar em atrito com as liberdades garantidas, às quais também deveriam ser garantidas pelos Estados componentes dessa União. O cidadão deve ter assegurado pelo Estado seu direito de ter ou não uma religião, sem que o Estado imponha algo a ele, assegurado o direito ao culto, à manifestação de sua crença, reuniões com tema de sua respectiva crença. Todos esses direitos e outros tantos mais elementares, fazem parte dos Direitos Humanos e estão elencados na Carta, usada pela União Europeia e que, com certeza, foi de fundamental (e continua sendo) importância para continuar a luta de cada vez mais Estados e povos, para que estes se distanciem da intolerância religiosa e aquele não cause opressão e funcione como algo que impõe determinados ritos sociais. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 21 DIGNIDADEHUMANA E LIBERDADE RELIGIOSA NA DIGNITATIS HUMANAE: INTERRELAÇÕES ENTRE A IGREJA CATÓLICA E A DOUTRINA DOS DIREITOS HUMANOS Natalia Brigagão F. A. Carvalho Rodrigo Vitorino Souza Alves (Orientador) Este trabalho objetiva analisar os conceitos de liberdade religiosa e dignidade humana na Dignitatis Humanae, declaração sobre a liberdade religiosa aprovada pelo Concílio Vaticano II e promulgada pelo Papa Paulo VI no ano de 1965. O estudo tem a intenção de compreender como a Igreja delimita estes conceitos e os interrelaciona, em perspectiva comparativa (i) a seus prévios desenvolvimentos teológicos, (ii) a divergentes posições filosóficas e (iii) às concepções jurídicas traçadas pela doutrina de Direitos Humanos. Visualiza-se, com base na observação destes aspectos, que a instituição católica fortemente influencia e é influenciada pelo contexto em que se insere, fomentando com substrato ético e paradigmático o desenvolvimento dos Direitos Humanos – principalmente pela via do conceito de dignidade humana – ao passo em que extrai do universo jurídico e da ética secular contribuições a sua própria doutrina – como se observa, por exemplo, pelas nuances expansivas ineditamente conferidas à questão das liberdades. Ao se pronunciar sobre a liberdade religiosa, a Igreja continua a submetê-la a noções de obediência e responsabilidade e a dispor destas noções de forma jusnatural – como derivação da justiça e da bondade. Contudo, amplia-se a valorização deste direito ao exigir que seja efetivado na máxima medida possível, de forma conferir ao poder civil e suas disposições normativas a legitimação para regular esta liberdade, em uma clara mitigação de seus posicionamentos tradicionais. Quanto ao conceito de dignidade – utilizado estrategicamente para a fundamentação da liberdade religiosa –, não se pode afirmar com incisão que este se expande ou relativiza: a Dignitatis Humanae não adota nenhuma definição expressa e precisa. Contudo, dois aspectos se evidenciam. O primeiro, a força e a centralidade de que dispõe a noção de dignidade a construção da ética cristã católica. O segundo, a clareza das influências seculares (sobretudo jurídicas) que orientam a plasmação deste paradigma, de forma que a instituição católica parece incorporar, ainda que não de forma explícita, perspectivas a que se opunha secularmente. Palavras-chave: liberdade religiosa, dignidade humana, Direitos Humanos, Igreja Católica. Dignitatis Humanae 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 22 USO DE CRUCIFIXO EM REPARTIÇÃO PÚBLICA E A RELAÇÃO COM A LAICIDADE DA REPÚLICA FEDERATVA DO BRASIL Gerson Machado da Silva Júnior Gabriel Gomes Canêdo Vieira de Magalhães (Orientador) A República Federativa do Brasil na sua Constituição de 1988, se intitula um Estado Laico, ou seja, a religião não deve ter influência nos assuntos do Estado. Um discussão, que vendo sendo esmiuçada há muitos anos não só no Brasil, mais em vários países do mundo, é sobre o uso de Crucifixos em Repartições Públicas. Dentro da esfera brasileira, muitos cristãos alegam que o Estado Brasileiro é laico, mas não laicizante, o que seria um Estado que obriga as pessoas a não demonstrar sua crença, sob alegação de que ofenderiam terceiros. Uma outra alegação dos cristãos brasileiros, é que como o Brasil, é um Estado Democrático de Direito, se a grande maioria da população brasileira acha conveniente a presença de crucifixos em repartições púbicas, eles não deveriam ser retirados, pois iriam atender a um desejo da minoria. A permanência ou não de crucifixos em repartições públicas, como nos órgãos do poder judiciário, é uma questão que envolve liberdade de crença e princípios da administração pública, pois ainda há divergência jurisprudencial para solucionar esse impasse; embora o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) seja favorável à permanência de crucifixos em Plenários e salas do judiciário. Para solucionar essa questão é necessário compreender que o Estado brasileiro é laico, portanto deve manter-se inteiramente separado das Igrejas e neutro diante de qualquer religião professada pelo seu povo, assim, se por um lado o Estado precisa salvaguardar a prática das diversas religiões, por outro há de atuar como entidade neutra, distante de qualquer influência religiosa. O assunto tratado é polêmico justamente porque aborda a convicção religiosa das pessoas e trata de questões de fé. Portanto, a linha adotada pelo Estado constitucional brasileiro deve ser de neutralidade absoluta frente às questões religiosas conforme estabelecido pela Constituição Federal. Esse trabalho, tem como objetivo mostrar os diversos posicionamentos da esfera brasileira. Posicionamento teórico, jurídico, religioso, utilizando-se de pesquisas bibliográfica, documentais, posicionamentos dos órgãos jurídicos brasileiro, como o Superior Tribunal Federal. Palavras-chave: Crucifixo, Estado, Constituição Federal. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 23 LIBERDADE RELIGIOSA EM CUBA: ASPECTOS GERAIS DO PAÍS SOCIALISTA Beatriz Andrade Gontijo da Cunha Cuba é um Estado autoritário liderado por Raul Castro cujo único partido autorizada a se eleger é o Partido Comunista. Em 1959 Fidel Castro, irmão de Raul, outorgou, após a revolução cubana, que o país se tornaria socialista e ateu. Como consequência muitos fiéis religiosos foram obrigados a declararem publicamente se adeptos a uma religião, e então impedidos de ser membro do partido comunista. Muitos clérigos foram expulsos ou reprimidos durante o período. Com a ruina da União Soviética Cuba começou a abrir suas portas para as igrejas e diminuir sua repressão a liberdade religiosa. Retirou o ateísmo dos requisitos para ser membro do partido Comunista e a característica “ateu” do Estado, substituindo para Estado Secular. Além de ter estreitado seus laços com a comunidade protestante representada pelo “Consejo de las iglesas”. Para Jill I. Goldenziel toda a abertura realizada pelo governo de Cuba no período pós-guerra fria não passou de um jogo de interesse realizado pelo governo. O governo passou a trabalhar de forma a passar uma falsa ideia de liberdade religiosa enquanto ao mesmo tempo controlava e manipulava a religião. O governo cubano teria estabelecido entre as religiões protestantes representados pelo “Consejo de las Iglesas” uma espécie de corporativismo: o conselho apoia o Estado perante seus fiéis, aumentando o consenso sobre suas políticas e em troca são concedidos ao Conselho uma série de benefícios do governo. Outro fato que possibilitou a abertura religiosa de Cuba, foi a consequente abertura econômica. Inúmeros grupos religiosos estrangeiros passaram a levar assistência humanitária a população cubana. Sendo conveniente ao Estado que não precisa mais desempenhar a função já realizada pelos religiosos e ao mesmo tempo o número de revoltosos por melhores condições diminuiria. O direito constitucional de associação é limitado ao fato de não poderem ir contra os objetivos do Estado socialista. Porém uma igreja só é autorizada a se manter em funcionamento se for registrada e autorizada pelo governo. E mesmo as registradas encontram empasses com o governo. Os artigos do código penal cubano possuem uma linguagem muito vaga, de modo a permitir que o governo proíba ou restrinja a liberdade religiosa conforme seu interesse deste modo muitos religiosos são punidos arbitrariamentepor exercerem sua liberdade religiosa. O Objetivo do presente estudo foi elaborar um estudo de casos sobre Cuba para entender como a liberdade religiosa se estende pelo país. O método utilizado foi o bibliográfico indutivo com a pesquisa em relatórios científicos de órgão internacionais. O presente estudo ainda se encontra em desenvolvimento, mas com os resultados obtidos até então é possível inferir que há desrespeito a liberdade religiosa no país, apesar de ter havido um pequeno avanço ao longo dos anos o país ainda está longe de garantir com ampla efetividade esse direito humano. Palavras-chave: Cuba, Liberdade Religiosa, Partido Comunista 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 24 A INFLUENCIA RELIGIOSA NO PROCESSO LEGISLATIVO BRASILEIRO Maria Gabriela Silva Moreira Eliseu Starling A Constituição de 1988 assegura em seu artigo 19 que: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas subvencioná- los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou suas representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público”. (BRASIL, 1988). Dessa forma, proeminentemente, a Magna Carta assegura o direito de culto, independentemente de sua origem. Apesar do panorama laico estabelecido na Constituição Federal, o que efetivamente observamos, não é o laicismo, ou seja, separação do Estado e da Religião. Esta situação fica clara, quando observamos a influência do cristianismo na aprovação ou não de algumas legislações no âmbito do Congresso Nacional por nossos se nos pensarmos vários tipos de religiões. Devemos lembrar ainda, que o Brasil, foi colônia de Portugal, e com a chegada da Família Real em 1808, o catolicismo se tornou mais presente, influenciando fortemente os dias atuais. Objetiva-se com o presente trabalho, verificar se existe ou não influência cristã no processo legislativo brasileiro, no que tange a rejeição ou aprovação de uma lei. Para tanto, será utilizado o método qualitativo de pesquisa, pautado em levantamento bibliográfico, a fim de reunir informações relevantes ao desenvolvimento do trabalho, proporcionando conclusões fundamentadas. Das pesquisas iniciais, podemos identificar que leis, que ferem os preceitos cristãos, muitas vezes, são rejeitadas, pelas bancas católica e protestante que compõe o Congresso Nacional, como liberação do aborto, da eutanásia, casamento homoafetivo, dentre outras. Assim, apesar da Constituição Federal estabelecer um estado laico, no âmbito do poder legislativo federal, verificamos que a religião não separada do Estado. Palavras-chave: Estado Laico; Magna Carta; Religião; Processo Legislativo Brasileiro. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 25 ANÁLISE DOS PRESSUPOSTOS E IMPLICAÇÕES DA DISCRIMINAÇÃO FUNDADA EM RAZÕES RELIGIOSAS EM ÂMBITO TRABALHISTA Anna Carolina Tavares Assunção A partir da análise das características que perfazem a relação de emprego, a problemática da discriminação, especialmente aquela fundada em razões religiosas, parece não olvidar de um campo fértil à sua manifestação. Assim sendo, o poder diretivo do empregador – legitimado ora no direito de propriedade, ora no contrato de trabalho - associado ao consagrado princípio balizador da interpretação normativa das leis trabalhistas, a saber, o princípio da proteção ao empregado, que dada a notória manifestação do poder privado no contrato de trabalho representa, historicamente o elo mais vulnerável da relação trabalhista, constituem marcos ensejadores às práticas discriminatórias “convalidadas” pela autonomia privada. Não obstante, da análise doutrinária e jurisprudencial, combinada aos princípios ordenadores do Estado Democrático de Direito, em especial aqueles positivados na Constituição Federal em seu artigo 5º, incisos VI e VIII, é possível aferir-se que na relação trabalhista, ao passo em que o empregador se compromete (de forma simplista e preponderante) ao pagamento do salário, o empregado aliena sua força de trabalho, não sendo componente desta a liberdade de crença, direito fundamental insuscetível de alienação. Destarte, o presente trabalho visa abordar desde a análise semântica da palavra discriminação, seu alcance e limitação, passando pelas formas e momentos em que esta se manifesta no ambiente de trabalho - notadamente a discriminação fundada em razões religiosas - e ainda, analisar os efeitos jurídicos de tal prática a partir da óptica do ordenamento jurídico pátrio. A relevância temática abrange ainda a caracterização de assédio moral fundado em razões religiosas, bem como os efeitos e as consequências jurídicas que ambas as condutas – discriminação e assédio – repercutem na ceara trabalhista. Neste propósito constata-se que, em que se pese a ratificação da Convenção nº 11 da Organização Internacional do Trabalho, que trata da discriminação em matéria de emprego e profissão, a ausência de legislação infraconstitucional regulamentadora, macula as decisões jurisprudenciais de demasiada subjetividade e compromete a própria segurança jurídica, o que considerando a relevância da matéria, por se tratar a liberdade religiosa de direito fundamental, torna a ponderação de interesses no caso concreto tarefa árdua de ser dirimida. Palavras-chave: Discriminação. Contrato de Trabalho. Religião. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 26 15h30 - 17h30 :: GRUPO DE TRABALHO 3 - Temas Diversos sobre Direito e Religião 3 Coordenação: Sheilla Dourado e Diego Nunes Local: Sala 313 do Bloco 5S - UFU 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 27 O LIMIAR ENTRE O DIREITO À VIDA E A LIBERDADE RELIGIOSA NO CASO BIRMINGHAM CHILDREN'S NHS TRUST VERSUS B & C Luiza Macedo de Alcântara Roberta Maria Botelho Bevilacqua A religião Testemunha de Jeová é considerada pelos próprios fieis uma religião de cunho cristão, por diversos motivos: acreditam e seguem os ensinamentos de Jesus e que não há salvação sem Ele; e também creem que não há salvação sem Jesus, sendo Ele reconhecido por todos os homens como uma autoridade. Entretanto, uma característica imprescindível a essa religião que é a de que a salvação é impossível de ser alcançada sem que se obedeça plenamente a Sociedade Torre de Vigia e sem a participação em grupos de trabalho. Para cumprir esse princípio e encontrar a salvação, é necessário então que todas as Testemunhas de Jeová evitem alguns comportamentos, muitos dos quais amplamente difundidos na sociedade, como a comemoração de aniversários e canto de hinos nacionais, e também se abstêm no recebimento de vários tratamentos médicos, sendo o mais polêmico deles a transfusão sanguínea, mesmo em caso de risco à vida. O caso judicial apresentado neste trabalho gira em torno do direito à vida e do direito à liberdade religiosa. Esse envolveu o nascimento de um bebê com problemas cardíacos - cujos pais são da religião Testemunha de Jeová - e oHospital Birmingham, no qual o bebê recebia o tratamento. O caso foi levado a diante pelo Hospital Birmingham, já que após o nascimento, o bebê apresentou um sério problema de saúde, necessitando assim, de uma cirurgia cardíaca, e consequentemente de transfusão de sangue, sendo esta proibida de acordo com os princípios religiosos dos pais da criança. Levando em consideração os possíveis riscos da realização de um procedimento cirúrgico de considerável gravidade sem a possibilidade de efetuar transfusões de sangue, em fevereiro de 2014 o Hospital Birmigham buscou uma ordem junto à Alta Corte da Inglaterra e País de Gales, que lhes permitiria realizar a transfusão de sangue no bebê, caso necessário, mesmo contra a vontade e princípios religiosos dos pais. Considerando que a vida da criança estava em risco sem a permissão da transfusão de sangue durante a cirurgia, o julgamento da Corte foi favorável ao requerente, concedendo ao Hospital o direito de realizar transfusão de sangue na criança. A justificativa da sentença foi a de que em qualquer situação de risco à vida, onde a opinião profissional daqueles medicamente responsáveis por um paciente envolva a necessidade de administração de sangue e/ou hemoderivados, é lícito para aqueles profissionais a efetivação. Dessa forma, por meio da análise deste caso internacional e de sua sentença, buscar-se-á demonstrar que o limiar entre a liberdade religiosa e o direito à vida é demasiadamente próximo, sendo necessário que haja uma delicadeza e ponderamento por parte das autoridades competentes e até de bom-senso por parte dos próprios fiéis tendo em vista seus princípios religiosos, acerca desse tema tão polêmico. Palavras-chave: Testemunha de Jeová. Transfusão sanguínea. Caso internacional. Direitos humanos. Princípios religiosos. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 28 A LIBERDADE RELIGIOSA NA CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS E ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE DE 1987 Gabriella Coelho Santos A história em âmbito jurídico faz-se necessária para fornecer, em consonância com o jurista, uma consciência crítica. Revela-se, a partir desta concepção, que uma visão unilinear é simples diante de um contexto complexo e, por conseguinte, rompem-se convicções levianas, inserem-se dúvidas, bem como se relativiza certezas consideradas absolutas (GROSSI, 2007). Isto posto, é possível verificar que a função da história do direito é problematizar o pressuposto implícito e acrítico das disciplinas dogmáticas (HESPANHA, 2009). A história do direito pretende, portanto, obter uma visão global e ampla do fenômeno jurídico. Para concretizar esta perspectiva é necessário relativizar o momento atual, inserindo-o na linha que surge no passado, permeia o presente e dirige-se ao futuro. O historiador aponta o sentido dessa linha. Direção esta que não é determinada pelo constante movimento evolutivo sob o respaldo de constante progresso (GROSSI, 2010). Compreender o fenômeno da constituição na perspectiva histórica é, também, analisá-lo como um todo que se insere socialmente. Neste panorama, pretende-se aprofundar na história constitucional notadamente quanto à recepção do artigo 12 (liberdade de consciência e de religião) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro. Buscar-se-á, também, investigar e problematizar as interações desta com a Assembleia Nacional Constituinte de 1987. Desse modo, com intuito de alcançar estes objetivos, faz-se necessário: (a) delinear o contexto histórico do surgimento desta Convenção celebrada em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969; (b) analisar a liberdade religiosa quanto dispositivo da Convenção Americana; (c) abordar o contexto histórico da Constituinte de 1987; (d) investigar os preceitos acerca da liberdade religiosa apontados pela Convenção nas Comissões Temáticas da Assembleia Constituinte de 1987; e, por fim, (e) verificar a interação e as compatibilidades da Convenção na formação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no que concerne ao tema de liberdade religiosa. Nota-se, ademais, que na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, por meio dos delegados representantes dos Estados membros da Organização dos Estados Americanos (OEA), elaborou-se a Convenção Americana sobre Direitos Humanos. As discussões da Convenção rementem ao pós Segunda Guerra Mundial em 1948, no qual foi discutida a Declaração Americana dos Direitos e Deveres da Pessoa. A adesão do Brasil à Convenção Americana sobre Direitos Humanos, configura-se como fator fundamental para a projeção definitiva da imagem do país como nação respeitadora e garantidora dos direitos humanos no plano internacional (TRINDADE, 1985). Pressupõe-se que este seja um dos motivos pelos quais a Assembleia Constituinte de 1987 inseriu no texto constitucional princípios e garantias fundamentais. Desse modo, justifica-se a busca do tema de liberdade religiosa na confluência entre a Convenção e a Constituinte. Aponta-se, por fim, que esta pesquisa se desenvolve em perspectiva histórica e, sendo assim, utiliza-se da investigação e análise de fontes documentais. Destaca-se, o Decreto nº 678 de seis de novembro de 1992, o qual promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos e as atas das comissões temáticas da Assembleia Nacional Constituinte. Palavras-chave: Liberdade Religiosa, Convenção Americana sobre Direitos Humanos, Assembleia Nacional Constituinte de 1987. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 29 A LIBERDADE DE CRENÇA RELIGIOSA DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA EM CONFLITO COM OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS Itaci Alves Marinho Junior O objetivo deste trabalho é simplesmente identificar e problematizar os conflitos originários da liberdade religiosa em face dos princípios constitucionais, como isonomia, igualdade, impessoalidade e legalidade. Sabe-se juridicamente que os adventistas gozam do pleno exercício da liberdade de crença religiosa, isto é, a constituição federal de 1988, expressa em seu artigo 5°, inciso VIII, que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”. No entanto, ao observar o caso concreto, percebe-se que não há realização absoluta desde direito em prol dos Adventistas Do Sétimo Dia, sobretudo em concursos públicos e atividades acadêmicas de ensino superior realizadas no sábado, dia reconhecido como um sinal simbólico de lealdade, observância, dedicação, amor e exclusividade a Deus. Sendo assim, a luta dos Adventistas pelo direito constitucional e religioso de realizar um prova de concurso, e/ou alterar o regime de aulas em guarda ao sábado se tornou constante nos órgãos judiciais. Como exemplo disso, em um recente caso o Conselho Nacional de Justiça não ratificou a liminar, que “privilegiava” um adventista fazer a prova para juiz após o pôr do sol de sábado, na qual, realizaria separado dos demais candidatos. Segundo o presidente do CNJ, ministro Ricardo Lewandowski, cujo qual, teve o voto de decisão para esse caso, afirmando que a realização da prova em horário distinto dos demais candidatos fere os princípios constitucionais de igualdade e isonomia, onde todos os candidatos inscritos devem se submeter ao mesmo dia e horário de prova exemplificada pelo edital do concurso, não concedendo tal privilégioao adventista, pois violaria o princípio impessoalidade. Ademais, o mesmo entendimento é esposado por outros órgãos judiciais, como o Tribunal Regional Federal (TRF) 4ª Região, em Porto Alegre, onde a desembargadora Federal Silva Goraieb, em sua análise, considerou inconstitucional a realização do concurso público para juiz do trabalho em horário especial, afirmando que a mudança de horário violava o principio da legalidade administrativa e o princípio da igualdade tutelada pela constituição. No entanto, ao analisar outras jurisprudências e casos julgados semelhantes, poderá observar e discernir que a própria administração pública encontrou uma solução plausível para resolver a lide desses conflitos, isto é, foi concedido aos candidatos adventistas o “privilegio” de realizar a prova do Exame Nacional Do Ensino Médio (ENEM), após o pôr do sol, estando confinado e incomunicável durante o momento de guarda ao sábado. Essa decisão tomada pelo o próprio Supremo Tribunal Federal – STF, na presidência do atual ministro Ricardo Lewandowski, que considerou a solução de confinamento constitucional, não havendo violação dos princípios constitucionais vigentes. Desta forma, em virtude dos casos mencionados, serão utilizados os três critérios básicos sendo eles; ponderação, aplicação do caso concreto e sopesamento, para obter a solução dos conflitos entre princípios, conforme os pensamentos de Roberto Alexy. Palavras-chave: Liberdade. Adventistas. Constituição. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 30 O ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL- LEI 12.088/10 FRENTE AO DIREITO À LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA E AO LIVRE EXERCÍCIO DOS CULTOS RELIGIOSOS Rogério De Cássio Neves Ferreira Filho Loyana C. de Lima Tomaz A sociedade brasileira ao contrário de outras sociedades ainda sofre muito para inventariar o legado deixado por tão longo período de escravidão, pois o Brasil foi ultimo país a abolir a escravidão. A metade da população brasileira é negra, sendo também o segundo país com a maior população negra do mundo, agravadas como os maiores indicadores sociais de desigualdades. Considerando-se o quadro econômico social e cultural, o negro foi excluído do direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício dos cultos religiosos, em todos os períodos da história. Foram sempre coadjuvantes da política pública e protagonistas como força de trabalho operário.Tendo por escopo impedir e corrigir a desigualdades históricas, em relação principalmente no que tange a concessão e garantia dos direitos dos descendentes de escravos no Brasil, foi sancionado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 20 de julho de 2010, o Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/10) que entrou em vigor em 20 de outubro de 2010, possuindo 65 artigos em sua constituição.Dentre esses direitos referidos, no seu Artigo 25, são assegurados a liberdade de consciência e direito ao livre Exercício dos Cultos Religiosos: Preservar a inviolabilidade a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantidos, na forma da lei; proteger aos locais de culto e a suas liturgias; ter direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício dos cultos religiosos de matriz africana; ter assistência religiosa aos praticantes de religiões de matrizes africanas internados em hospitais ou em outras instituições de internação coletiva, inclusive àqueles submetidos a pena privativa de liberdade; que o poder público adote as medidas necessárias para o combate à intolerância com as religiões de matrizes africanas e à discriminação de seus seguidores.Nesse contexto, é imprescindível uma maior apreciação e investigação sobre a eficácia e efeitos gerados na sociedade com a criação do Estatuto da Igualdade Racial - Lei Nº12.288/10, com ênfase no Direito à Liberdade de Consciência e de Crença e ao Livre Exercício dos Cultos Religiosos e avaliar se o Estatuto gerou efeitos considerados um avanço no Brasil e no direito. Sendo assim, a desigualdade Racial sempre gerou muita polêmica e nem sempre foi bem aceita pela sociedade. Portanto, foi necessário pesquisar sobre a eficácia e efeitos gerados pelo Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/10) com ênfase direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício dos cultos religiosos, analisando o posicionamento da doutrina nacional sobre o tema com fundamento da lei. E também a analise junto à comunidade local e universitária, principalmente a população negra, como vem sendo realizado tal direito e seu impacto. Palavras-chave: Negro; Religião; Sociedade Brasileira. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 31 A RECUSA DE TRATAMENTO MÉDICO PELO REPRESENTANTE LEGAL DO INCAPAZ POR MOTIVO DE CONVICÇÃO RELIGIOSA Gilberto Veloso da Cunha Júnior Juliana Alves Campos Resende O direito à vida e à liberdade religiosa quando inseridos num mesmo contexto são matérias de controvérsias recorrentes. Enquanto alguns doutrinadores afirmam que o direito à vida é a base para todos os outros direitos fundamentais, outros afirmam que, na verdade, a dignidade da pessoa humana, através de suas várias faces, deve ser respeitada, principalmente num Estado Democrático de Direito. Neste contexto, quando se aborda a respeito da recusa de tratamento médico vital, como, por exemplo, a transfusão de sangue em pessoas que pertencem ao grupo cristão Testemunhas de Jeová, fica evidenciado o conflito entre estes direitos garantidos pela legislação pátria. A existência de previsão constitucional e a regulamentação do tratamento médico dispensado nessa situação em Códigos de Ética são colocadas frente a frente e a aplicabilidade de um ao outro dependerá da circunstância fática, notadamente o iminente risco de morte. O respeito à opinião do paciente baseada em convicções religiosas deve ser mantido, mas após sua prévia ciência dos riscos pela recusa do tratamento e sua autorização quando este for civilmente capaz. Um problema que surge nesta seara é quando este paciente está impossibilitado de se manifestar livre e voluntariamente, ou seja, em um estado de, em sentido lato sensu, incapacidade jurídica. Neste caso, a decisão entre viver ou morrer dependerá do consenso entre seus representantes legais. Surge então uma nova discussão: a possibilidade de autonomia de decisão por um terceiro referente ao direito fundamental à vida do paciente por ele representado. O objetivo deste estudo é discutir acerca do conflito que surge entre o direito à vida e o direito à liberdade religiosa quando da recusa pelos pais e/ou representantes legais do enfermo menor/incapaz ao tratamento médico que implica a realização de transfusão sanguínea, sendo eles pertencentes ao grupo Testemunhas de Jeová. Palavras-chave: Objeção de consciência. Tratamento médico. Transfusão. Testemunhas de Jeová. 3º Encontro de Pesquisa sobre Direito e Religião “Liberdade religiosa, Discriminação e Igualdade” 32 A CONSTITUCIONALIDADE DA SUBVENÇÃO PÚBLICA DE PRÁTICAS DE CURA RELIGIOSAS Leonardo Marcondes Alves Carla Borges Almeida Esse estudo exploratório investiga a constitucionalidade da subvenção pública de práticas terapêuticas religiosas por meio do Sistema Único de Saúde, SUS. O certame da Fundação Municipal de Saúde de Uberlândia, FUNDASUS (Edital 01/2015) serviu de estudo
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