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Porções de Pensamento Antígona Uma breve análise das questões morais e jurídicas

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Antígona: Uma breve análise das questões morais e jurídicas na
tragédia tebana
INTRODUÇÃO
A peça Antígona é a última da Trilogia Tebana escrita por Sófocles, poeta grego que
viveu no século V a.C., e dá sequência a Édipo Rei e Édipo em Colono. O palco dos
acontecimentos é Tebas, cidade que fora governada por Laio, pai de Édipo. Quando
este, desconhecendo o laço paternal, matou aquele, foi seu tio Creonte quem
governou a cidade até que Édipo se tornasse o rei.
Depois de Édipo ter deixado Tebas por causa de seu erro, Etéocles e Polinice, filhos
de Édipo e Jocasta, em comum acordo, alternam o governo da cidade em lugar de
seu pai. Porém, depois de um período, Eteócles recusou-se a ceder seu lugar ao
irmão, que declarou guerra para conquistar a coroa. Descontente, Polinice juntou-
se com Adrasto, rei de Argos, e outros guerreiros e lançou a expedição dos Sete
contra Tebas, iniciando uma guerra para retomar a coroa.
Durante uma batalha, os irmãos se mataram um ao outro, e Creonte, outra vez no
poder, rendeu homenagens a Etéocles antes de sepultá-lo e instituiu um édito que
proibia o sepultamento e as honrarias a Polinice previstos pela tradição funerária
ligada à religião. Antígona, irmã dos dois, inconformada com o desrespeito ao
costume sagrado, decidiu desobedecer às ordens reais e dar um sepultamento
digno a Polinice.
É a partir daí que este trabalho pretende abordar as questões morais e jurídicas que
envolvem essa tragédia tebana. Encenada e estudada ao longo dos séculos por
discutir os limites entre o direito natural e o direito positivo, Antígona agora servirá
de base para uma análise que não pretende ser exaustiva ou linear, mas que deseja
discutir brevemente temas como crimes contra a vida; tipos de punição;
religiosidade; tirania; conceito de justiça; desigualdade entre homens, mulheres e
escravos na sociedade tebana.
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1. ANÁLISE DAS QUESTÕES MORAIS E JURÍDICAS EM ANTÍGONA
1.1 Atentados contra a vida
Motivada pelo costume sagrado, Antígona assumiu o dever de sepultar Polinice,
que matou Etéocles e foi morto por ele. Em relação aos atentados contra a vida,
destacam-se da peça o fratricídio, o suicídio e o regicídio. O primeiro está
relacionado ao homicídio entre irmãos, o segundo é o ato intencional de tirar a
própria vida e o terceiro é o homicídio de um governante.
Apesar dos laços fraternais, Polinice e Etéocles entendiam que o domínio da cidade
estaria acima das ligações familiares, por isso não se pouparam um ao outro. A
personagem que dá nome à peça, ao ver-se emparedada e condenada à morte,
antecipa-a, enforcando-se com uma corda de sua cintura. Hêmon, noivo de
Antígona e filho de Creonte, indignado ao ver sua amada morta, preferiu suicidar-
se. Na sequência, Eurídice, mãe de Hêmon, desconsolada pela morte do filho,
também se mata.
Observa-se que antes de suicidar-se, Hêmon tentou ferir seu pai, mas este
afastou-se e não se feriu. Caso aquele conseguisse seu intento e ferisse seu pai de
morte, seria um caso de regicídio e não de parricídio exclusivamente. A motivação
do crime seria a insatisfação com a punição que Creonte deu a Antígona, que não
foi motivada por ordem do futuro sogro, mas do tirano de Tebas.
Obviamente, os atentados descritos acima não podem ser analisados apenas sob a
ótica do século XXI. Naquele tempo e naquela sociedade, a morte era preferível à
desonra e ao banimento. Veja-se o que disse Antígona a Creonte quando viu que
não teria escapatória: “Que vou morrer, bem o sei; é inevitável; e morreria mesmo
sem o teu decreto. E para dizer a verdade, se morrer antes do meu tempo, será
para mim uma vantagem! Quem vive como eu, envolta em tanto luto e desgraça,
que perde com a morte?” (SÓFOCLES, 2003 p. 96).
Essa atitude extremada foi uma maneira de levar às últimas consequências uma
insatisfação. Ainda hoje há muitos gregos cometendo o suicídio por não
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concordarem com a atual política grega e por terem sido prejudicados por ela.
1.2 Punições
Dentre os muitos tipos de punição, como a prisão por um crime ou a escravização
de um prisioneiro de guerra, Antígona apresenta duas práticas que ainda podem
ser encontradas em alguns países fundamentalistas islâmicos, e.g.: o
apedrejamento e o emparedamento. Esta foi a punição dada a Antígona, apesar de
aquela ter sido a punição prometida aos desobedientes.
O emparedamento foi uma espécie de sepultamento em vida àquela que já estava
morta sentimentalmente pela perda do irmão. Como disse Tirésias, o profeta cego
de Tebas, “Para que matar pela segunda vez quem já não vive?” (Ibdem, p. 113). As
pedras da caverna foram a sepultura que o destino reservou para a filha de Édipo
que, movida por seu amor fraternal, em um ato heroico, deu sepultura ao irmão. A
honra deste foi a desonra e a punição daquela. 
Caso se considere apenas a desobediência, a personagem que dá nome à tragédia
recebeu o que merecia por ter ido de encontro à determinação real, porém existem
outros detalhes que merecem observação: o objetivo da desobediência não foi
questionar a legitimidade de Creonte como governante, mas aquela proibição
específica. Além disso, não foi por sua própria vaidade, mas para observar uma
tradição funerária de reconhecida importância para a sociedade tebana, inclusive o
próprio Creonte, que rendeu homenagens a Etéocles.
1.3 Conceito de justiça
Em Antígona, aborda-se a justiça sob dois aspectos: um relacionado àquilo que
deveria ser feito pelos indivíduos – desde o nível pessoal até o estatal − e outro
relacionado à personificação da deusa Justiça. O primeiro caso pode ser visto
quando o Corifeu disse à Antígona que não seria justo dar o mesmo tratamento ao
homem de bem, que segundo eles seria Etéocles, e ao criminoso, Polinice. Vê-se
aqui a subjetividade do que seria um homem de bem. Como o insepulto era
contrário ao poder vigente, este foi considerado o criminoso. O segundo, quando
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Antígona explica que desobedeceu a ordem real “pois não foi decisão de Zeus; e a
Justiça, a deusa que habita com as divindades subterrâneas, jamais estabeleceu tal
decreto entre os humanos” (Ibdem, p. 96). Entende-se aí que quando uma lei é
extremamente injusta, ela poderá deixar de ser observada, perdendo sua eficácia
social.
Já na opinião de Creonte, tudo que ele determinava seria justo e não havia
nenhuma injustiça no fato de ele sustentar sua autoridade com proibições daquele
tipo. Isso é uma mostra de que a ordem foi dada em benefício próprio e não de
Tebas. Por medo de que sua autoridade fosse colocada à prova, Creonte, que já
havia experimentado o poder em outra ocasião, temeu que as honras prestadas a
Polinice pudessem ser relacionadas a um movimento de contestação ao seu poder
e estimulassem novas revoltas contra ele.
Segundo o Coro, o homem “Com inteligência e habilidade ele pode se inclinar, ora
para o bem, ora para o mal. Quando no governo, frequentemente se torna indigno,
abjura as leis da natureza e as leis divinas a que jurou obedecer, e pratica o mal,
audaciosamente!” (Ibdem, p. 93). Assim agia Creonte. Apesar de demonstrar
consideração por algumas leis da natureza ou divinas, era capaz de passar por
cima das que considerasse prejudiciais ao seu governo, agindo de forma incoerente
e hipócrita.
1.4 Religiosidade e mitologia 
A sociedade tebana era submetida a várias fontes de direito. Além do direito
positivo, havia os costumes, a religião e a mitologia. Vivia-se em um ambiente
controlado pela autoridade, pela religiosidade e pelo medo de punições, de homens
ou deuses, conforme o mito, visto que “Um dos elementoscentrais do pensamento
mítico e de sua forma de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério,
ao sagrado e à magia” (MARCONDES, s.d., p. 20).
Não se duvida do sentimento que Antígona nutria por seu irmão. Ela disse que não
contrariaria a proibição real por causa de um filho ou marido, mas sim pelo irmão,
visto que, por não ter mais pai ou mãe, nunca mais poderia ter outro. Ainda assim,
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durante todo o tempo existiu o medo de punição por algo errado que supostamente
tivesse sido feito, antes ou depois do rito fúnebre de Polinice.
Deuses imortais, qual de vossas leis infringi? Mas... poderá me valer implorar aos
deuses? Que auxílio posso deles esperar, se foi um ato de piedade que atraiu sobre
mim o castigo reservado aos ímpios? Se tais coisas recebem a aprovação dos
deuses, reconheço que sofro por minha culpa; mas, se me são impostas por meus
inimigos mortais, a eles não desejo suplício mais cruel do que este que vou
padecer! (SÓFOCLES, 2003, p. 101).
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