Buscar

resumo av2 Historia do Direito

Prévia do material em texto

O Café com leite: a política na República Oligárquica
Por que a História resolveu “batizar” a forma de fazer política durante a chamada República Oligárquica de Política do Café com Leite?
No capítulo anterior, nós verificamos que a Constituição, ao conceder autonomia aos estados acabou favorecendo politicamente as elites econômicas desses estados. 
Além disso, verificamos também que, entre todos os estados, São Paulo e Minas Gerais, maiores colégios eleitorais e principais economias, foram os mais favorecidos. No decorrer das três primeiras décadas do século XX, os dois estados, representados por suas elites econômicas irão construir e consolidar o controle político do Estado Nacional, inclusive celebrando um acordo (nem sempre cumprido à risca), que estabelecia um revezamento entre o Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro, na Presidência da República. Você deve estar se perguntando: “Partido Mineiro? Partido Paulista?” 
De fato, isso pode nos causar algum estranhamento, porque hoje concebemos os partidos no âmbito nacional, mas, na época, os partidos eram estaduais e não nacionais. Como o estado de São Paulo era o maior produtor de café, e o estado de Minas Gerais, o maior produtor de leite , acabou-se chamando esse acordo político entre as oligarquias paulista e mineira de “Política do café com leite”. 
Entretanto, o que significava na prática essa política? Como ela se sustentava? Quais os interesses que levaram a constituição desta aliança? Que mecanismos garantiam o funcionamento dela? E os demais estados? Onde entram nesse cenário?
Primeiro precisaremos recordar como essas oligarquias chegaram ao poder. Então vejamos este ponto.
A partir daí começaria a se construir um modelo político sustentado pelos acordos, pelo controle do voto e predomínio das elites agrárias nos seus respectivos estados, enfim da prática do Coronelismo. Mas o que é mesmo o Coronelismo? 
Essa denominação, na verdade, se remonta a Guarda Nacional, organização militar criada no Brasil em 1832, durante o período regencial. Na prática a Guarda Nacional que, na sua criação, estava subordinada a um grande proprietário rural que recebia o título de Coronel, era o instrumento que fazia valer o poder dessas autoridades locais sobre uma parcela da população que a ele estava subordinada. Essa subordinação, que se dava em muitos aspectos, garantia a esse grande proprietário um controle político absoluto na região onde ele predominava.
Esse controle político, garantido por essa subordinação, ou dependência, se refletia no controle sobre o voto. Na sua região era eleito quem o Coronel desejasse. Dessa forma, os municípios eram totalmente controlados por esses grandes proprietários, que, pela força ou pela dependência, tinham sob seu controle os votos necessários para garantir o predomínio político.
Esses favores muitas vezes eram dados em troca de votos, em uma prática conhecida como clientelismo, em que o eleitor, uma espécie de cliente, recebe favores e, em troca, garante que seu voto e de seus familiares serão dados ao Coronel que lhes prestou o serviço. Era uma espécie de troca: o Coronel fazia o “favor” e recebia o voto.
Se prestarmos atenção ao noticiário político da atualidade, observaremos que essa é uma prática ainda usual, embora seja proibida pela legislação eleitoral em vigor. Mas essa não era a única forma de controle eleitoral exercido pelo Coronel. Outra possibilidade era a utilização da força, o chamado voto de cabresto. Este se manifestava, fosse pela presença dos jagunços desse coronel nos lugares onde ocorria a votação, fosse pela simples ameaça ou ainda pelo medo da violência construído no dia a dia. 
A coerção eleitoral era facilitada pelo fato das eleições serem abertas e não secretas. A legislação eleitoral em vigor na época não estabelecia o voto secreto, ou seja, era possível saber em quem o cidadão tinha votado, o que facilitava a ação coercitiva sobre o voto.
Além dessas formas de corrupção eleitoral, havia fraudes de todos os tipos. Sessões eleitorais eram fechadas e os jagunços do Coronel votavam por todos os eleitores daquela zona eleitoral, inclusive pelos mortos. A contagem era realizada sem que ninguém fiscalizasse. Por isso, o processo eleitoral garantia de todas as formas possíveis que apenas os candidatos indicados pelos coronéis fossem eleitos.
Esse poder quase absoluto que os coronéis tinham em “seus” municípios, de alguma forma significava um problema para o governo federal, que precisava estabelecer uma relação que lhes garantisse apoio nas eleições presidenciais. O fato é que as oligarquias cafeeiras precisavam estabelecer uma aliança política com estes coronéis, principalmente no nordeste. Esse acordo se consolida no governo do Presidente Campos Sales, por meio de uma aliança que ficou conhecida como “Política dos Governadores”. 
Esse “esquema” funcionava de forma bastante simples, até porque as divergências que existiam entre o governo federal e o poder dos estados, representados pelos coronéis, não eram ideológicas, o que facilitava o acordo. A alma dessa política era a chamada Comissão de Verificação dos Diplomas dos Eleitos. A essa Comissão, criada no Congresso Nacional, cabia acatar, ou não, a eleição, tanto do executivo quanto do legislativo. Ou seja, só seriam diplomados depois que sua eleição fosse confirmada pela tal Comissão. 
Ora, quem controlava essa Comissão? Era o próprio Estado. Dessa forma, só tomavam posse os candidatos eleitos apoiados pelas oligarquias locais. Os que não pertencessem a esses grupos não tomavam posse, em um movimento que ficou conhecido como “degola”. Para as elites locais, esse mecanismo, mais do que garantir a eleição de seus candidatos, demonstrava o reconhecimento, por parte do governo federal, do poder que esses coronéis tinham em seus estados e municípios. 
Dessa forma, o Governo Federal mandava um recado: reconhecia a autoridade política local, não interferia nos assuntos locais, garantia os privilégios locais e, em troca, recebia o apoio político na hora da eleição presidencial. Assim, garantia-se a política do café com leite, porque ela garantia o predomínio local dos coronéis, como vemos no esquema:
Dessa forma, o controle político eleitoral durante toda a chamada República Oligárquica esteve nas mãos dos grandes proprietários rurais, mantendo seus privilégios e assegurando uma política econômica basicamente ruralista. Entretanto, é um erro acreditar que essa hegemonia não teve seus momentos de crises.
Diversos foram os movimentos sociais que ao longo desse período abalaram as estruturas do país, como veremos no próximo item.
Coronelismo
Para entendermos o funcionamento político de toda a República Oligárquica é necessário compreender bem o funcionamento desse modelo político. O coronel a que se faz referência não é a patente militar do exército. Nesse caso, estamos nos referindo ao grande proprietário rural, que também é conhecido por “coronel”. Você já deve ter visto na televisão ou lido em algum livro uma personagem, grande proprietária de terras, sendo chamada de “Coronel Fulano”!
O período da Ditadura do Estado Novo (de 1937 a 1945) e a Constituição de 1937
A Carta Constitucional do Estado Novo teve existência apenas nominal. Para Bonavides e Paes de Andrade, se a Constituição de 1937 não pode ser rotulada de forma categórica como uma Cons-tituição nominal, ou seja, uma Constituição dotada de um texto meramente formal, não se pode deixar de constatar que grande parte dela permaneceu inaplicada, exceção feita aos dispositivos autoritários que se prestavam às demandas imediatas do poder.
Apesar de apresentar certa convergência ideológica com a Constituição Polonesa de 1935, para Francisco Campos, a Constituição brasileira de 1937 (outorgada) não pode ser considerada uma constituição fascista já que nela encontravam-se capitulados, como crimes de responsabilidade do presidente da República, os atos que atentassem contra a existência da União, contra a Constituição, contra o livre exercício dospoderes políticos, contra a probidade administrativa, contra a guarda e emprego do dinheiro público e contra a execução das decisões judiciárias (art. 85). Segundo Francisco Campos, como uma constituição poderia ser fascista prevendo crimes de responsabilidade do presidente da República? 
De acordo com Boris Fausto, a chave da compreensão do Estado Novo encontrava-se nas “disposições finais e transitórias” da Constituição de 1937. Com a dissolução do Congresso, Vargas tinha o poder para expedir decretos-leis relacionados a todos os assuntos de responsabilidade do governo federal. Pelo artigo 186 das “disposições finais e transitórias”, o estado de emergência era declarado em todo o país, com a suspensão de todas as liberdades civis formalmente garantidas pela própria Constituição. Em outro preceito transitório que teve vigência indefinida, ficava o governo autorizado a aposentar funcionários civis e militares, se assim fosse do interesse do serviço público ou da conveniência do regime.
Com o Estado Novo e com a aplicação de alguns dispositivos da Constituição de 1937, a tendência centralizadora que já se verificava alguns meses após a Revolução de 1930 se realizou plenamente. O princípio da separação e da independência dos poderes foi eliminado, ficando a competência dos poderes condicionada aos interesses do Presidente da República. 
Os estados passaram a ser governados por interventores que, por sua vez, a partir de um decreto-lei de abril de 1939, passaram a ser controlados por um departamento administrativo, do qual dependiam a expedição do orçamento e os decretos–leis dos interventores. O Senado foi extinto e, em seu lugar, surgiria um Conselho Federal formado por representantes eleitos pelas assembleias estaduais e por dez membros diretamente nomeados pelo Presidente da República. A sucessão presidencial ocorreria por meio de eleições indiretas, por um Colégio Eleitoral composto por representantes da Câmara dos Deputados, do Conselho Federal, das Câmaras Municipais e de um Conselho da Economia Nacional.
Ainda que a Constituição de 1937 firmasse a natureza federativa do Estado brasileiro (artigo 3º), a hipertrofia da União limitou consideravelmente a autonomia dos estados-membros da federação.
Como exemplo das limitações impostas pela Carta de 1937 e pelo regime do Estado Novo, devemos lembrar que, de acordo com o artigo 9º dessa mesma Constituição, O Governo Federal poderia intervir nos estados, mediante a nomeação pelo Presidente da República de um interventor, que assumiria no estado as funções que, pela sua Constituição, competiriam ao Poder Executivo, ou as que, de acordo com as conveniências e necessidades de cada caso, lhe fossem atribuídas pelo Presidente da República. Além disso, os próprios interventores eram controlados por um departamento administrativo responsável pela análise e pela aprovação ou rejeição da proposta de orçamento e dos decretos-leis dos interventores.
Foram mantidos, na Carta de 37, todos os preceitos norteadores da legislação social e trabalhista (artigo 137) que já haviam sido firmados anteriormente na Constituição de 1934 e no que se referia aos dispositivos relacionados à organização familiar, podemos destacar:
	a manutenção da indissolubilidade do casamento (artigo 124);
	a responsabilização direta da família, com a colaboração do Estado, com relação à educação (artigo 125);
	e o estabelecimento da igualdade entre filhos legítimos e naturais (artigo 126), remetendo a efetivação desta medida para uma futura legislação infraconstitucional, o que não aconteceu.

Continue navegando