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III Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 
2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 
896 
 
“FEMINIZAÇÃO DA POBREZA”: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O 
EMPOBRECIMENTO DAS MULHERES 
 
 
Suamy Rafaely Soares
1
 
 
 
RESUMO: 
A presente reflexão objetiva compreender a relação dialética entre a acumulação capitalista e a 
desigualdade de gênero. Neste sentido, se propõe a analisar o processo de pauperização das mulheres, 
a historicidade do conceito de “feminização da pobreza”, bem como, a sua funcionalidade para as 
novas formas de intervenção na “questão social”, surgidas como resposta a crise do capital pós-1970. 
Ainda, situa as contradições dos programas de transferência de renda e a relação do Programa Bolsa 
família com a reprodução da desigualdade de gênero. 
Palavras-Chave: Patriarcado, acumulação capitalista, pauperização 
 
ABSTRACT 
This reflection aims to understand the dialectical relationship between capitalist accumulation and 
gender inequality. In this sense, we intend to analyze the process of impoverishment of women, the 
historicity about the concept of "feminization of poverty", as well as its functionality to the new forms 
of intervention in the "social issues" that arose in response to the crisis of capital post-1970. Also lies 
the contradiction of income transfer programs and the relationship of the Bolsa Familia with 
reproduction of gender inequality. 
Keywords: Patriarchate, capitalist accumulation, impoverishment. 
 
 
1 NOTAS INTRODUTÓRIAS 
O aprofundamento da desigualdade social vem se apresentando como um dos 
principais debates político e teórico da contemporaneidade e a sua redução foco dos governos 
liberais, conservadores e socialdemocratas. No âmbito da construção do conhecimento tem-se 
constituído diferentes abordagens para compreender e intervir no cenário atual. Desde a 
construção de pseudocategorias analíticas articuladas à perspectivas teóricas funcionalistas, 
estruturalistas e pós – modernas, à reafirmação das categorias da crítica da economia política 
marxista. 
Vale ressaltar, que o feminismo tem, permanentemente, debatido acerca da 
particularidade da chamada “questão social”2 na vida das mulheres, devido a histórica 
 
1
 Assistente social, mestrado em Serviço Social pela UFPE, docente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras 
de Cajazeiras – FAFIC. Email: suamy_soares@hotmail.com. 
 
 
 
III Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 
2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 
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situação de dominação/exploração a que são submetidas. Isso pode ser visibilizado nas esferas 
pública e privada, por meio de inúmeras expressões, entre elas, a pauperização, a pouca 
participação na política, na economia e na ciência, a divisão sexual do trabalho, o controle da 
sexualidade e o uso da violência. 
Especialmente nas últimas três décadas vê-se a emergência do conceito de 
“feminização da pobreza”, utilizado indiscriminadamente pelos sujeitos coletivos mais 
diversos e até contraditórios – órgãos governamentais, Banco Mundial, Fundo Monétário 
Internacional, ONG’s, fundações, filantrópicas e empresas, agências de cooperação 
internacional, lutas sociais e universidades – transformando-se numa linha de acesso a 
recursos e no foco das políticas de combate à pobreza. 
Em resumidas contas, o presente trabalho se propõe, em primeiro lugar, a compreender 
a relação dialética entre a acumulação capitalista e a desigualdade de gênero. Em outra parte, 
analisar a historicidade do conceito de “feminização da pobreza”, bem como, a sua 
funcionalidade para as novas formas de intervenção na “questão social”, surgidas como 
resposta a crise do sistema do capital pós -1970. 
 
2 PATRIARCADO E SISTEMA CAPITALISTA: A IMPORTÂNCIA DA 
SUBORDINAÇÃO DAS MULHERES PARA A ACUMULAÇÃO DO CAPITAL 
A desigualdade entre mulheres e homens constitui-se como um fenômeno histórico, 
social, cultural e econômico materializado pelo patriarcado
3
. De acordo com Saffioti (1999) o 
patriarcado é um sistema de relações sociais que garante a subordinação da mulher ao homem 
e, pode ser pensado “[...] como um dos esquemas de dominação/exploração componentes de 
 
2
 A questão social é aqui entendida como o conjunto das expressões das desigualdades econômicas, sociais, 
políticas e culturais que são produzidas e/ou reproduzidas na sociedade capitalista desenvolvida. As bases 
explicativas para a emergência e reprodução destas desigualdades se assentam, em caráter último, porém não 
único, (as desigualdades de gênero, raça, etnia e geração se entrecruzam com a classe, mas não podem ser 
explicadas exclusivamente pelo viés da exploração/dominação de classe), na lógica que embasa esta forma de 
sociedade: a lógica da mercadoria e o processo de exploração e dominação que a sustenta. Sobre a questão social 
como objeto e fundamento sócio-histórico de legitimação do serviço social como profissão, cf. IAMAMOTO, 
Marilda V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 2003. 
3 Segundo Saffioti (2004) a palavra patriarcado é de origem grega em que pater quer dizer pai e archie significa 
comando. A autora (2004, p.101) ainda aponta uma importante reflexão: “Tão-somente recorrendo ao bom 
senso, presume-se que nenhum (a) estudioso (a) sério (a) consideraria igual o patriarcado reinante na Atenas 
Clássica ou na Roma Antiga ao que vige nas sociedades urbano-industriais do ocidente. Mesmo tomando só o 
momento atual, o poder de fogo do patriarcado vigente entre os povos africanos e/ou mulçumanos é 
extremamente grande no que tange à subordinação das mulheres aos homens [...]”. 
 
 
 
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uma simbiose da qual participam também o modo de produção e o racismo” (SAFFIOTI, 
1999, p.193). Trata-se, pois, de relações de dominação que foram apropriadas, reconfiguradas 
e ampliadas pelo modo de produção capitalista. 
O surgimento e a consolidação da sociedade de classe, que tem sua base de 
sustentação na propriedade privada e na família patriarcal monogâmica, reconfigura o lugar 
da mulher na sociedade. Nesse sentido, os (as) filhos (as) e as terras passaram a ser 
propriedades privadas do homem, ficando bem definido os papéis sociais e sexuais entre eles. 
Ao homem era dado o poder de vida e morte sobre a mulher, filhos, escravos e animais, ou 
seja, sobre todos que estavam sob seu domínio, no famulus
4
. 
Uma referência importante aqui, é o fato de que a consolidação da família patriarcal 
monogâmica objetivou uma repartição entre as esferas pública e privada, a primeira locus 
privilegiado dos homens, do poder, da economia, da participação política e científica, e a 
segunda espaço obrigatório das mulheres, da subjetividade e da reprodução dos filhos e filhas. 
De acordo com Reed (2008, p.42), 
 
Na nova sociedade os homens se converteram em principais produtores, enquanto 
as mulheres eram trancadas em casa e ficaram limitadas à servidão familiar. 
Desalojadas de seu antigo lugar na sociedade, não somente se viram privadas de 
sua independência econômica, como, inclusive, de sua antiga liberdade sexual. A 
nova instituição do matrimônio monogâmico surgiu para servir as necessidades da 
propriedade, que a partir de entãoera possuída pelo homem. 
 
Mediante o exposto, nas sociedades de classe pré-capitalistas, e, posteriormente, na 
fase de emergência e consolidação do capitalismo as mulheres foram confinadas ao espaço 
doméstico e socializadas para o mundo da reprodução social. Isso não significa que as 
mulheres, enquanto categoria social, ficaram excluídas da produção, pois executavam 
atividades como tecer e confeccionar vestimentas, produzir e conservar alimentos e remédios, 
entre outras, que com a industrialização passaram a ser realizadas nas fábricas. 
Assim, a afirmação de que do período escravagista à manufatura as mulheres se 
mantiveram na reprodução, e, apenas com o advento da grande indústria se inserem na 
 
4
 De acordo com Saffioti (2004, p. 89): “famulus significa escravo doméstico, e família é o número total de 
escravos pertencentes a um homem”. 
 
 
 
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produção social, é própria da ciência androcêntrica, que invisibiliza a história das mulheres 
enquanto trabalhadoras. Segundo Vinteuil (1989, p. 06), 
 
Além de anacrônica, esta tese é inaceitável, porque nenhuma formação social 
conhecida na história pôde prescindir da utilização massiva da força de trabalho das 
mulheres para a produção.[...] sustentar que todas as mulheres ficaram excluídas da 
produção é produto da ideologia patriarcal que apresenta o trabalho das mulheres 
como um não trabalho. 
 
Com o desenvolvimento das forças produtivas, por incremento da maquinaria, cria-se 
a necessidade de aumentar o número de trabalhadores, e, por conseguinte, inserir as mulheres 
e crianças no ciclo produtivo da fábrica, que até então era espaço exclusivo dos homens. De 
acordo com Marx (2008, p. 451): 
 
Tornando surpéflua a força muscular, a maquinaria permite o emprego de 
trabalhadores sem força muscular ou com desenvolvimento físico incompleto, mas 
com membros mais flexíveis. Por isso, a primeira preocupação do capitalista, ao 
empregar a maquinaria, foi a de utilizar o trabalho das mulheres e crianças. Assim, 
de poderoso meio de substituir o trabalho e trabalhadores, a maquinaria 
transformou-se imediatamente em meio de aumentar o número de assalariados, 
colocando todos os membros da família do trabalhador, sem distinção de sexo e 
idade, sob o domínio direto do capital. 
 
Aqui fica claro, a relação entre o modo de produção capitalista e o patriarcado, pois, a 
mulher, referenciada socialmente como frágil e sem força muscular, passa a ser considerada 
como força de trabalho inferior, e, sendo assim, só será utilizada quando a força muscular for 
considerada surpéflua. Como já mencionei anteriormente várias teóricas feministas 
(SAFFIOTI,1987;REED,2008;TOLEDO,2008;) afirmam que as mulheres sempre realizaram 
atividades pesadas, tais como, preparar a terra para agricultura, cuidar dos animais, transportar 
utensílios pesados, entre outras, que apontam a apropriação da subordinação da mulher para 
desqualificar o seu trabalho. Ainda é importante ressaltar que no patriarcado o trabalho das 
mulheres é compreendido como complementar ao masculino, pois o homem deve assumir o 
papel de provedor e protetor da família. 
A retirada da mulher do exército industrial de reserva
5
, tem grande importância no 
processo acumulativo e expansivo do capital. Em primeiro lugar, porque, considerar a força 
 
5
 É próprio da lógica do capital criar uma superpopulação de trabalhadores supérfluos para o trabalho e a 
riqueza, mas economicamente necessários a dinâmica do capital, no sentido de acirrar a concorrência entre os 
 
 
 
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de trabalho feminina como inferior e complementar, faz com que a composição do seu salário 
seja reduzida, e, consequentemente, provoca a redução dos salários da classe trabalhadora. 
Segundo Toledo (2008, p.38-39): 
 
A incorporação da mulher à fábrica, e também da criança, desvalorizou o trabalho 
masculino e aumentou o grau de exploração, agora não mais do operário individual, 
mas de toda a família operária. Marx explica como o valor da força de trabalho 
passou a ser determinado pelo tempo de trabaho indispensável para a manuntenção 
de toda a família operária, e não mais apenas do operário adulto individual. Ao 
lançar no mercado de trabalho todos os indivíduos da família, a máquina distribuiu 
entre toda a sua família o valor da força de trabalho de seu chefe, desvalorizando-a. 
 
Em segundo lugar, a entrada das mulheres na fábrica cria a necessidade de ampliar a 
produção e a circulação de mercadorias, bem como a demanda de serviços. Como já esboçado 
anteriormente, as atividades que até então eram realizadas pelas mulheres, passaram a ser 
executadas pela fábrica. Isso transformou a família operária, até então produtora, em 
consumidora dos bens e serviços ofertados pelo sistema capitalista. 
Salienta-se que, o trabalho doméstico realizado pelas mulheres não é contabilizado 
pelo capitalista. Em outras palavras, os custos da reprodução da força de trabalho são 
contados a partir da satisfação das necessidades básicas à manuntenção e reprodução da classe 
trabalhadora, tais como, alimentação, vestuário, habitação, lazer, educação, entre outras. 
Entretanto, está excluído desta conta, todo o trabalho investido na gestão e execução dessas 
tarefas domésticas, assim como, o fato de que essas atividades são atribuições das mulheres. 
Por tudo isso, seria impossível a manuntenção do trabalho assalariado na produção sem a 
sustentação do trabalho reprodutivo e não remunerado na esfera doméstica (Carrasco,2001). 
Não é demais afirmar que o modo de produção capitalista insere de forma massiva 
crianças e mulheres na produção fabril, se apropriando de sua histórica subordinação para 
acumular mais riquezas. Por tudo isso, faz um movimento duplo, de um lado, cristaliza as 
atividades procriativas e reprodutivas como responsabilidades das mulheres, como forma de 
desonerar o capital com a reprodução social da força de trabalho. Em outra direção, 
transforma essas mulheres, junto com seus (as) filhos (as) em trabalhadores (as) mais baratos, 
 
trabalhadores e regular o valor dos salários. Assim, os capitalistas têm um grande contingente de trabalhadores a 
disposição do processo produtivo, podendo ser inseridos ou repelidos de acordo com as necessidades de 
expansão do capital. Para aprofundar essa questão, cf. IAMAMOTO, Marilda V. Serviço Social em Tempo de 
Capital fetiche. São Paulo: Cortez, 2008 
 
 
 
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e, em certa medida, submissos (as). Como afirma Toledo (2008, p.39): “[...] apesar de haver 
sido confiscada pelo capital para ir à fábrica, a mulher não foi liberada da escravidão do 
trabalho doméstico”. 
A autora ainda aponta que (2008, p.54), 
 
O trabalho doméstico agrava o processo de alienação vivenciado pela mulher no 
mercado de trabalho e no conjunto das relações sociais. Além de embrutecê-la, 
porque toma-lhe o tempo ao aprimoramento intelectual e artístico, à participação 
política e social, a separa da produção materialdo conjunto da sociedade ou 
reserva-lhe um lugar subalterno. Sendo assim, a questão da alienação da mulher em 
casa e no trabalho é um aspecto fundamental de sua opressão. 
 
Ademais, essa entrada das mulheres na esfera da produção capitalista, em vez de 
proclamar a libertação feminina, como preconizava inúmeros autores (as), aprofundou as 
expressões do patriarcado no âmbito público e privado, bem como perpetuou diversos 
preconceitos e discriminações contra este segmento. 
É importante dizer que as mulheres, nos séculos XIX e XX, ocuparam cada vez mais, 
postos de trabalho, todavia, o fato do sistema capitalista se apropriar da subordinação das 
mulheres para obter mais lucro, transformou-as em trabalhadoras precarizadas, 
majoritariamente nos trabalhos informais e parciais, com baixas remunerações e sem 
garantias trabalhistas, além da acumulação de uma dupla jornada de trabalho. 
Além disso, é preciso reconhecer que a força de trabalho feminina, tradicionalmente, 
compunha o exército industrial de reserva, e que o capital insere ou repele essa força de 
trabalho quendo necessita ampliar sua produção. Um exemplo disso foi as duas guerras 
mundiais, em que as mulheres ocuparam os lugares dos homens e em pouco tempo voltaram 
ao desemprego (REED,2008). 
Sabe-se bem que as constantes transformações no modo de produção capitalista 
agudiza a dupla condição de exploração da mulher, como reprodutora do capital e da força de 
trabalho. Com destaque, para o processo de reestruturação produtiva do capital e emergência 
do neoliberalismo, no final da década de 1970
6
. 
 
6 O capitalismo é um sistema baseado na expansão e acumulação, que articula em sua dinâmica contraditória, 
períodos de grande produção de riquezas e outros de grande estagnação. Ademais, toda forma de restrição a 
dinâmica expansiva do capital aparece como sinal de crise, que de acordo com Netto e Braz (2007) é elemento 
constitutivo do modo de produção capitalista e favorece o processo de reestruturação do sistema, pressupondo o 
 
 
 
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Uma referência importante aqui é que as intensas transformações no modo de 
produção capitalista articuladas aos processos organizativos das lutas sociais feministas 
objetivaram mudanças no sistema patriarcal, expressas em conquistas no âmbito dos direitos 
sociais e políticos, no mercado de trabalho, na esfera privada, entre outros. No entanto, a base 
material do patriarcado não foi destruída, pois o ingresso das mulheres no mundo do trabalho 
e em outros espaços da vida social se dá de forma precarizada e subordinada aos homens. 
Tal fenômeno se concretiza para as mulheres através da pouca inserção nos espaços de 
decisão política, econômica e científica, da ocupação do mercado de trabalho de forma 
subalternizada, da divisão sexual do trabalho, do controle da sexualidade e da capacidade 
reprodutiva e do uso da violência. Nesse ponto da discussão cabe trazer alguns elementos da 
subordinação das mulheres nas últimas três décadas. 
Em primeiro lugar, é importante apontar algumas reflexões acerca da pouca 
participação das mulheres no poder político. Segundo Godinho (2004), nas últimas três 
décadas ampliou-se a presença da mulher nos espaços de caráter político, todavia, esse 
processo deu-se, fundamentalmente, na base dos partidos políticos e sindicatos, com fortes 
contradições, já que, em certa medida é uma inserção sustentada por políticas de cotas, e, em 
um momento histórico marcado pela “perda de fibra” dos movimentos sociais e partidos de 
esquerda
7
. 
 Outro traço marcante da desigualdade entre homens e mulheres diz respeito a esfera 
econômica. Sabe-se bem, que as mulheres são historicamente o segmento social mais 
pauperizado e, mesmo a entrada das mulheres no processo produtivo não foi capaz de 
modificar esse quadro. Como já aludi, a inserção de mulheres na produção capitalista amplia 
as contradições do sistema patriarcal, já que impõe à mulher a obrigação com o trabalho 
doméstico, a socialização e educação dos filhos e filhas, bem como, o papel de cuidadora da 
família. Esses elementos potencializam a reprodução das relações desiguais de gênero. 
 
desenvolvimento de novas tecnologias e formas de exploração do trabalho, bem como, a adoção de medidas 
paliativas. Dessa forma, a ação capitalista convive com uma instabilidade permanente, cumulativa e crônica do 
sistema. Mais informações acerca das crises do capital ver, c.f. NETTO, J.P; BRAZ, M. Economia Política. Uma 
introdução crítica.São Paulo: Cortez, 2007. 
7
 Sem dúvida, o processo organizativo das mulheres, principalmente, nas décadas de 1980 e 1990, nos grupos de 
mulheres, foi importante para consolidação do movimento feminista e das mulheres, enquanto sujeito político 
coletivo. 
 
 
 
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Destaca-se, também, o processo de reestruturação produtiva, a partir da década de 
1970, que aprofunda a particularidade na forma de exploração das mulheres. Segundo Hirata 
(2003) ocorreu uma ampliação do trabalho remunerado das mulheres, em nível mundial, tanto 
no setor informal quanto no formal, e, estagnação dos postos de trabalho masculino. É 
importante salientar que o aumento do emprego remunerado das mulheres foi acompanhado 
da degradação e precarização desses empregos, por meio da flexibilização e terceirização do 
trabalho, da “desregulamentação” das leis trabalhistas e sindicais, da ampliação do mercado 
de trabalho informal, bem como, do crescente desemprego e o aumento da desigualdade. 
A autora ainda aponta a desigualdade de salários, das condições de trabalho e de saúde 
não foram alteradas em sua estrutura, bem como a relação das mulheres com o trabalho 
doméstico não mudou, apesar do aumento de responsabilidades no mundo público. Ampliou-
se as tecnologias e serviços para o uso doméstico, mas as atribuições do mesmo continuam 
sendo das mulheres. Esses elementos reforçam a tendência das mulheres se situarem, cada 
vez mais, em atividades e empregos precários, e, por conseguinte, aprofundam a condição 
histórica de pauperização das mulheres. 
Ainda em relação ao trabalho remunerado das mulheres, estudos recentes do Programa 
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostram que em média, no Brasil, as 
mulheres recebem pouco mais da metade do salário dos homens, apesar de terem maior grau 
de escolaridade e dedicam mais horas para o trabalho doméstico. 
Ademais, as informações do relatório do PNUD sobre as desigualdades entre mulheres 
e homens indicam que os países africanos estão entre os menos desiguais, inclusive aqueles 
que possuem os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), disputam os primeiros 
lugares da lista com menor diferença de rendimento entre mulheres e homens
8
. Essa igualdade 
na pobreza nega o argumento de que a desigualdade entre homens e mulheres é fruto do 
subdesenvolvimento e/ou resquícios do atraso. Assim, entendo que o modelo de 
desenvolvimento da sociedade capitalista de produção está fortemente baseado nas 
desigualdades de gênero, por tudo isso, não surpreende os dados da PNUD que mostram que 
 
8
 Segundo o mesmo relatório do PNUD, o Quênia, 144° noranking do IDH, está em segundo lugar em 
desigualdades de rendimentos entre homens e mulheres, nesse país as mulheres recebem 82% dos salários dos 
homens. Em Moçambique, 175° no IDH, é o terceiro de menor desigualdade de renda, as mulheres ganham 81% 
do salário dos homens. Ainda na lista dos dez primeiros colocados estão outros dois países africanos, Burundi e 
Malawi, ambos com baixo IDH. 
 
 
 
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os países desenvolvidos e de alto IDH, apresentam grandes diferenças nos rendimentos 
feminino e masculino. 
Além da pouca participação política e econômica, outra expressão da subordinação da 
mulher que foi aprofundada pelo capitalismo, diz respeito ao controle do corpo e da 
sexualidade, manifestados de diversas formas, entre elas, a imposição da heterossexualidade e 
da maternidade como normas, a dificuldade de acesso as políticas de saúde reprodutiva, a 
criminalização do aborto, o tráfico de mulheres e a prostituição, e, na mercantilização do 
corpo das mulheres. Convém enfatizar, o uso da violência como expressão máxima do 
patriarcado. De acordo com pesquisas feitas pela Fundação Perseu Abramo cerca de uma em 
cada cinco brasileiras declara espontaneamente ter sofrido algum tipo de violência 
(SAFFIOTI, 2004). 
Podemos afirmar por meio dessas considerações, que é próprio da lógica do sistema do 
capital se apropriar dos segmentos historicamente vulnerabilizados como forma de ampliar a 
acumulação. Homens e mulheres são explorados nesse sistema, mas há particularidades na 
forma de exploração feminina, que requer, além da luta anticapitalista, uma ação coletiva das 
mulheres capaz de construir uma sociedade verdadeiramente emancipada, autodeterminada e 
livre. 
Nesse sentido, a opressão patriarcal e a exploração efetivada pelo sistema capitalista 
estão perfeitamente articuladas e ao falar da subordinação das mulheres na atual sociedade, 
não temos como deixar de mencioná-las. Sendo assim, não podemos estudar as desigualdades 
de gênero de uma forma desarticulada da perspectiva da totalidade, ou seja, da materialidade 
concreta de nossa sociedade patriarcal/capitalista/racista. 
 
3 FEMINIZAÇÃO DA POBREZA: UM CONCEITO A SER REPENSADO? 
Cabe dizer, que nas últimas três décadas multiplicaram-se os estudos de gênero, em 
um contexto de ofensiva neoliberal e contrarreformas no Estado, bem como, de consolidação 
do terceiro setor e refluxo dos movimentos sociais. 
Com isso, a categoria gênero passa a ser utilizada pelas agências de cooperação 
internacional, Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial como foco para redução da 
pobreza, e, sendo assim, transforma-se em uma linha de acesso à recursos que, 
fundamentalmente, implicam na construção de estratégias ditas de “empoderamento” e 
 
 
 
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“autonomia individual”, ao “protagonismo”, a “cooperação e integração social”. É importante 
mencionar que houve uma gradativa incorporação da categoria gênero como base ou tema 
transversal das ações e/ou políticas sociais dos governos. 
Esse processo é compreendido por muitas teóricas como uma manifestação de força do 
movimento feminista e de mulheres, todavia, deve ser analisado a apropriação do discurso 
feminista pelo Estado, que altera as demandas do movimento e re-significa suas 
reivindicações. Penso, que a centralidade da questão não reside no fato das reivindicações do 
movimento serem incorporadas ou não pelo Estado, mas da necessidade de um 
questionamento constante da forma como são elaboradas as políticas governamentais com 
perspectiva de gênero. 
 Concomitantemente a esse processo se tem construído um debate multifacetado acerca 
da relação entre a “pobreza” e a “questão de gênero”. Nesse sentido, afirma-se que está em 
curso um novo fenômeno denominado de “feminização da pobreza”, tal conceito, passa a ser 
utilizado para justificar a formulação e implementação de políticas públicas focadas 
especificamente para as mulheres pobres. 
Como já aludi, o conceito “feminização da pobreza” já nos ronda a três décadas, 
segundo Novellino (2004) ele surge em 1978, nos E.U.A., em um artigo de Diane Pearce que 
relacionava o empobrecimento feminino ao aumento de famílias chefiadas por mulheres, 
assim, este fenômeno estava intrínsecamente associado ao fato da ausência do provedor 
masculino na família. 
Esse ângulo analítico tem sido base de inúmeros estudos sobre o assunto que afirmam 
a “feminização da pobreza” como um reflexo de uma “nova pobreza” e a relaciona 
diretamente com a chefia feminina e a inserção das mulheres no mercado de trabalho. Outra 
perspectiva para compreender esse fenômeno se articula com os efeitos específicos das 
políticas econômicas de corte neoliberal sobre a vida e o trabalho das mulheres. Ainda há os 
estudos, mais recentes, e, na ordem do dia, que identificam grupos de mulheres mais 
vulneráveis ao empobrecimento, tais como as mulheres negras, as mulheres indígenas, as 
mulheres lésbicas, as mães solteiras, entre outros. 
Todas essas abordagens tem como pressuposto comprovar ou refutar a “feminização 
da pobreza” para formular políticas sociais, ou focalizadas nas mulheres pobres, ou universais 
para homens e mulheres pobres. Para tanto, empreende-se esforços para estabelecer linhas de 
 
 
 
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pobreza, tipologias e indicadores acerca do empobrecimento feminino, a exemplo do Índice 
de Desenvolvimento Humano Feminino - IDHF. 
Algumas indagações emergem como fundamentais: afinal, o que é a “feminização da 
pobreza”? Como e por que os mais diversos sujeitos sociais vem se apropriando desse 
conceito? Qual a funcionalidade desse conceito tão amplo e palátavel para as novas formas de 
enfrentamento a “questão social”, surgidas no pós-1970? E como o movimento feminista têm 
se posicionado frente a esse debate? Ousar refletir essas questões postas na atualidade “pós” é 
uma necessidade para constituirmos um debate realmente aprofundado e crítico. 
As autoras das mais diversas vertentes do feminismo, desde as mais radicais até as 
conservadoras, relacionam a “feminização da pobreza” com dois elementos: o aumento da 
chefia feminina como indicador de pobreza e a inserção das mulheres no mercado de trabalho 
de forma subalternizada. 
É preciso levar em consideração que embora a ausência masculina obrigue a mulher a 
prover o sustento da família, e, sobretudo, amplie suas responsabilidades na reprodução e 
socialização dos filhos e filhas, não é a partir da ausência do homem enquanto figura 
provedora e protetora que se desenvolve o processo de “feminização da pobreza”, como 
afirmam algumas autoras, a exemplo de Pearce (1978). Até porque, de acordo com dados do 
PNUD, ONU e OIT, os chefes de domicílio, sejam homens ou mulheres, sofrem de forma 
similar os baixos níveis de renda (CASTRO, 2004). 
O que pode ser acrescentado aqui, é a o fato das mulheres se posicionarem em postos 
de trabalho mais precarizados e com menores rendimentos. Segundo Lavinas (1996) nos 
últimos dez anos, aumentou a taxa de mulheres no mercado de trabalho, embora em 
ocupações com nível de rendimento baixo, e com pouca qualificação e capacidade gerencial. 
Além disso, constatou-se uma tendência à redução no diferencial dos rendimentos por sexo e 
uma ampliação do desnível de renda entre as mulheres.Para Lavinas (1996, p.473), “Numericamente, [...] a pobreza feminina não tem maior 
expressão que a pobreza masculina”. E, nesse sentido, a autora conclui, que existem 
desigualdades próprias de gênero e outras que se desenvolvem entre pobres e não-pobres. 
Na presente reflexão, a pobreza feminina não pode ser compreendida, apenas, de 
forma demográfica e/ou numérica, a não ser que se analise pobreza como insuficiência de 
renda ou consumo. Dessa maneira, a pauperização das mulheres, tem inúmeros elementos, 
 
 
 
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tais como, o fato de possuirem pouco poder político, econômico, científico, o uso da violência 
e a dificuldade de acesso a políticas sociais. 
Já para o PNUD (2010) a “feminização da pobreza” é um conceito controverso por 
agrupar a pobreza e a desigualdade de gênero, duas grandes problemáticas da 
contemporaneidade. Por essa razão, há uma necessidade de se esclarecer o conceito e atribuir 
indicadores para alocar recursos de forma eficiente. 
Dessa maneira, o conceito deve significar uma mudança nos níveis de pobreza com 
uma tendência desfavorável às mulheres ou aos domicílios chefiados por mulheres. Vale 
ressaltar, que o termo pobreza é compreendido como insuficiência de renda ou consumo, 
capacidade ou liberdade, e esta relacionado a três indicadores ou fatores determinantes, a 
localização, a escolaridade e o número de pessoas por domicílio. 
Apreendido na perspectiva de mudança, a “feminização da pobreza” deve implicar em 
um processo, que faça com que as carências implícitas no conceito de pobreza se tornem mais 
comuns ou intensas entre as mulheres ou nos lares por elas chefiados. 
De acordo com Lavinas (1996) a “feminização da pobreza” tem aparecido nos 
discursos governamentais e de agências de cooperação internacional, assim como nas análises 
teóricas de diversas vertentes do feminismo como um fenômeno contemporâneo, e, que tem 
como característica reunir duas fragilidades: ser mulher e ser pobre. Por essa razão, esta 
categoria sexuada se refere à mulher pobre. Segundo a autora supracitada (1996, 02-03): 
 
Ao enfatizar a feminização da pobreza, estamos falando das mulheres pobres, que 
certamente não irão buscar sua cidadania própria a partir da pobreza.[...] Não é 
possível reivindicar o direito de ser pobre. Por isso mesmo, a mulher pobre é uma 
forma de categorização social forçosamente gestada pelas instituições, pelas elites 
pensantes, pela classe política. Não é um processo identitário com vistas à 
constituição de um campo legítimo de interesses e a mecanismo de representação. E, 
por essas razões, é uma categoria ah doc ao feminismo. 
 
Para Castro (2001) a “feminização da pobreza” deve ser compreendida a partir das 
transformações no mercado de trabalho e nas políticas sociais de emprego e renda, 
direcionadas à elevação da quantidade de postos de trabalho, ou compensatórias, tais como, 
capacitações e transferências de renda, bens e serviços. A autora aponta a apropriação do 
conceito de “feminização da pobreza” para justificar políticas compensatórias e fragmentar os 
direitos sociais consquistados pela classe trabalhadora. Nessa lógica, se escolhe um grupo de 
 
 
 
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beneficiários (as), deixando de fora uma grande parcela da população em condição 
semelhante. 
Considero que o conceito de “feminização da pobreza”, como esta sendo analisado nas 
últimas décadas, tem uma interpretação ambígua e fetichizada, e, vem sendo utilizado por 
forças sociais contraditórias. Um conceito que agrada gregos e troianos. Além disso, tem uma 
forte funcionalidade para a lógica do modo de produção capitalista, assim como, não analisa a 
dominação e exploração das mulheres de forma aprofundada. Em primeiro lugar, porque parte 
do pressuposto de que a pauperização das mulheres é um processo recente. Sabe-se bem que 
as mulheres, historicamente, não dispunham em seu poder os meios de produção, não 
participavam das grandes decisões coletivas, nem tão pouco tinham acesso a construção do 
conhecimento. Por essa razão não é pertinente dizer que houve uma “feminização da pobreza” 
como uma questão processual e situada nos últimos 30 anos, pois as mulheres historicamente 
são a parcela populacional mais empobrecida. 
Em segundo lugar, o processo de aprofundamento da pobreza feminina, deve ser 
pensado como parte do processo de empobrecimento da classe trabalhadora no pós 1970. Isso 
porque, as medidas para retomar o ciclo expansivo e acumulativo do capital nos anos 1980, 
baseadas no receituário neoliberal, não foram capazes de superar a crise capitalista, entretanto 
afetaram a condição de vida da classe trabalhadora. De forma que houve uma agudização da 
desigualdade social, acompanhada da fragilização dos direitos sociais, e, nesse contexto, uma 
apropriação dos segmentos historicamente explorados/dominados para expandir a 
acumulação. 
Mediante o exposto, esses segmentos historicamente explorados, a exemplo das 
mulheres, negros, homossexuais, entre outros, têm sua força de trabalho cada vez mais 
precarizada, e passam a ser beneficiários de políticas sociais focalizadas, fragmentadas e, em 
certa medida, paternalistas, que cristalizam sua condição de segmento explorado. 
 
4 “FEMINIZAÇÃO DA POBREZA” E AS POLÍTICAS SOCIAIS FOCALIZADAS 
NAS MULHERES 
 Quero sustentar em minha análise, que a partir da década de 1970, com o processo de 
reestruturação do sistema do capital, se dimensiona uma forte preocupação, téorica e política, 
com o aprofundamento da chamada “questão social”, e, por conseguinte, com a expansão da 
 
 
 
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pobreza como elemento capaz de ameaçar a retomada do ciclo expansivo/acumulativo 
capitalista. 
 No campo téorico, elaborou-se categorias analíticas para compreender essa “nova” 
realidade, tais como, desfiliação, “nova pobreza”, “apartação social”, “exclusão”, “nova 
questão social”, entre outras, articuladas a perspectivas teóricas funcionalistas, estruturalistas 
e pós – modernas9. 
Nesse sentido, a pobreza ganha status de centralidade no discurso das agências 
internacionais de cooperação, isso pode ser observado nos relatórios anuais do Banco Mundial 
e nas indicações sobre políticas de desenvolvimento, que dimensionam a pobreza como foco 
central de intervenção e limite para o crescimento econômico. Por tudo isso, Banco Mundial, 
Organização Mundial do Comércio e Fundo Monetário Internacional, vêm somando esforços 
para reduzir a pobreza, através de investimentos na esfera social, nos países em 
desenvolvimento, principalmente com políticas focalizadas e de transferência de renda, com 
centralidade na família. 
Inclusive, com base na noção de feminização da pobreza, essas organizações 
internacionais recomendam, por meio do documento Toward gender equality de 1997, a 
focalização das políticas de combate à pobreza nas mulheres. 
Uma referência importante nesse debate, é que o movimento feminista muito 
pressionou pela adesão de uma perspectiva de gênero na elaboração das políticas sociais e por 
políticas públicas específicas para as mulheres. 
E, nessa correlação de forças, aconteceu uma absorção por parte das instituições 
governamentais e de cooperação internacional de elementos do discurso feminista acerca da 
histórica pauperização das mulheres,principalmente, a partir da Conferência de Pequim 
(1995). 
Essa conjuntura impulsionou inúmeros estudos acerca da condição da mulher, que 
demonstraram um intenso empobrecimento feminino, mesmo com o aumento de sua 
participação no mercado de trabalho e de sua base educacional. Dessa forma, passou-se a 
 
9
 Nas últimas décadas tem-se construído diferentes abordagens para compreender e analisar a realidade, dentre 
elas, o debate francês elaborado por Castel e Rosavalon, com inspiração em Durkheim, o primeiro, trata a 
chamada “questão social” como uma fratura na coesão social. O segundo, aponta o surgimento de uma “nova 
questão social”. Ambos referem-se a reconstituição do contrato social como forma de reconstruir os vínculos 
sociais, seja via proteção social, ou da solidariedade. 
 
 
 
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reproduzir nos campos teórico e político que a pobreza femina deveria ser o foco da ação para 
redução da pobreza, pela via de sua inserção em postos de trabalho, transferências de renda e 
pela efetivação de políticas sociais focalizadas nas mulheres pobres. 
Nesse sentido, houve uma ressignificação ideológica do debate feminista acerca da 
pauperização das mulheres, com ampliação dos estudos sobre “feminização da pobreza”. O 
que, em certa medida, legitimou ainda mais o processo de focalização das políticas sociais, 
que pressupõem a comprovação de renda, contrapartida dos (as) beneficiários (as) e 
responsabilização das mulheres pela eficiência das políticas. 
É preciso analisar que enfoque de gênero e centralidade na mulher são perspectivas 
totalmente diferentes, a primeira significa que as desigualdades entre homens e mulheres 
devem ser enfrentadas no contexto do conjunto das desigualdades sociais. Já a segunda, 
compreende a mulher como objeto de sua ação, e não as relações entre os gêneros e seus 
antagonismos. 
Penso, por tudo isso, que o que temos são políticas com centralidade na família, 
especialmente nas mulheres, em que transfere-se a responsabilidade do Estado com o 
enfrentamento da “questão social” para a sociedade civil, e a unidade familiar. Nesse 
horizonte, a mulher passa a ter responsabilidade pela eficiência das políticas sociais, assim 
como, a ser compreendida como um instrumento de desenvolvimento social. 
Além desses elementos, as políticas focalizadas nas mulheres, em geral, 
instrumentalizam os papéis sociais atribuidos às mulheres, principalmente, os relacionados à 
esfera reprodutiva. Assim, a transferência de bens ou atividades de capacitação, desenvolvidas 
por essas políticas, reforçam as habilidades consideradas adequadas as mães/donas-de 
casa/não-trabalhadoras. 
Segundo Carloto (2006) as políticas com centralidade na mulher desconsideram as 
desigualdades entre homens e mulheres, e em certa medida, as amplia e reafirma. Já que nelas 
a “mulher-mãe” é interpelada a participar das ações, responsabilizada pela educação dos (as) 
filhos (as) e pelo cumprimento dos critérios de permanência nos programas. E, sendo assim, 
sobrecarregam as mulheres com atividades que implicam na forma de execução dos 
programas. 
O debate sobre a relação entre “feminização da pobreza” e as políticas sociais 
focalizadas na mulher tem sido crescente nos últimos anos, e, inclusive alguns segmentos do 
 
 
 
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movimento feminista criticam a focalização de “mulheres em geral”, defendendo o 
reconhecimento das diferenças entre as próprias mulheres. Assim, propõe uma “focalização 
dentro da focalização”, capaz de dá conta dos segmentos de mulheres mais vulnerabilizados, 
tais como, as mulheres negras, mulheres mães solteiras, mulheres lésbicas, entre outras, que 
nessa perspectiva, somam explorações. 
 Contrariando essas perspectivas, Lavinas (1996) e Castro (2001) apontam a 
necessidade de se defender políticas públicas mais universais, que visem reduzir a 
pauperização da classe trabalhadora e não de grupos específicos de pobres, mesmo que sejam 
de mulheres. Todavia, apontam a necessidade de compreender que há desigualdades entre 
homens e mulheres que devem ser analisadas e consideradas na elaboração e implementação 
de programas governamentais. 
Considero, que a fragmentação das políticas articulada a mobilização de setores do 
movimento feminista por políticas cada vez mais direcionadas a “grupos específicos”, 
aprofundam o processo de pauperização crescente da classe trabalhadora, e, das particulares 
formas de pauperização das mulheres, assim como obstaculariza a compreensão do fenômeno 
de forma profunda e crítica. 
Nesse sentido, é imprescindível analisar a processo específico de exploração das 
mulheres, articulada a questão de classe/raça/orientação sexual e geração, e também, da 
defesa dos direitos sociais e de políticas universais de redistribuição de riqueza. 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 A “feminização da pobreza” é um conceito polissêmico e palatável, que precisa ser 
mais profundamente teorizado. Vem sendo utilizado em níveis de compreensão diversos, 
desde o pensamento comum mais elementar, até o teórico, mais sofisticado. Além disso, tem 
adesão dos sujeitos sociais diversos e antagônicos, fazendo parte do discurso da “direita” e 
“esquerda”, e nesse sentido, adquire uma interpretação fetichizada. 
Ademais, é um conceito que explica o fenômeno de empobrecimento feminino, 
situado nas últimas três décadas, capaz de justificar a necessidade de políticas fragmentadas, 
desarticuladas e focalizadas nas mulheres. 
 
 
 
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E por essas razões, não consegue dá conta de compreender/analisar a relação dialética 
entre o aprofundamento da pobreza feminina e a crise do modo de produção capitalista no 
pós-1970. 
 Por tudo isso, é necessário (re) atualizar o debate sobre “feminização da pobreza” e a 
relação do movimento feminista com Estado, numa perspectiva de totalidade. Até para não se 
aderir ao pensamento pós-moderno, conservador e (neo)liberal, próprios de um movimento 
feminista de direita. 
 
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A ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO ESTRATÉGIA DE INCLUSÃO: O PROJETO 
REVIVER DO CARIRI (CEARENSE) E A (RE)INTEGRAÇÃO SOCIAL DE 
DEPENDENTES QUÍMICOS. 
 
ÁREA TEMÁTICA: JUSTIÇA, DIREITOS HUMANOS E INCLUSÃO SOCIAL 
 
 
Camila Pereira Brígido Rodrigues
10
 
Maria Aline Pereira de Brito
11
 
Izak Batista de Araújo
12
 
 Francisca Laudeci Martins Souza
13
 
 
 
Resumo: A Economia Solidária propõe uma forma diferenciada de qualidade de vida e de consumo, a 
partir da integração e da solidariedade entre os cidadãos de todo o mundo. Seus valores centrais são o 
trabalho, o conhecimento e o atendimento das necessidades sociais da população, a partir de uma 
gestão responsável dos recursos públicos. Ademais, a Economia Solidária é tida como um instrumento 
de combate à exclusão social, apresentando assim, alternativas viáveis para a geração de trabalho e 
renda, os quais promovam a satisfação direta das necessidades humanas, e dessa forma, eliminar as 
desigualdades materiais, bem como difundir os valores da ética e da solidariedade. Em termos 
discursivos, no que tange a reabilitação social, diz-se então, que o trabalho que segue, tratar-se-á de 
uma abordagem analítica, através de um estudo de caso do Projeto Reviver Cariri em Juazeiro do 
Norte (CE), haja vista que o objetivo central do Projeto é recuperar e (re)integrar os dependentes 
químicos, utilizando a economia solidária como estratégia de inclusão. 
 
Palavras-Chaves: Projeto Reviver Cariri, Reabilitação Social, Economia Solidária. 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
10
 Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Bolsista de Iniciação 
Científica CNPQ. E-mail: camilabrigido@hotmail.com 
11
 Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Bolsista PIBIC-CNPq. E-
mail: linny_brito@hotmail.com 
12
 Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Email: izak-
b@hotmail.com 
13. Doutora em Educação, professora do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri – 
URCA e Coordenadora do Grupo ECOS de estudos em Economia Solidária e Sustentabilidade. 
laudecimartins@yahoo.com.br 
 
 
 
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As modificações estruturais, de ordem econômica e social, ocorridas no mundo nas 
últimas décadas, fragilizaram o modelo tradicional da relação capital - trabalho, de modo que 
é crescente o aumento da informalidade e precarização das relações formais. Nesse contexto, 
a economia solidária procura resgatar as lutas históricas dos trabalhadores que tiveram origem 
no início do século XIX, sob a forma de cooperativismo, como uma das formas de resistência 
contra o avanço avassalador do capitalismo industrial. No Brasil, a mesma ressurge no final 
do Século XX como resposta dos trabalhadores às novas formas de exclusão e exploração no 
mundo do trabalho. 
Novos modos de existência econômica, que se pautem em princípios diferentes 
daqueles propagados pela economia tradicional, ganham corpo e se fortalecem no século XXI. 
Isto por que, os tempos que correm são marcados por crises que se justificam menos na 
conjuntura do que na estrutura da economia clássica. Ou seja, é crescente o movimento que 
cada vez mais questiona os objetivos de maximização da produção, minimização dos custos e 
maximização dos lucros como alternativa única de produção e consumo. Neste cenário, 
partilha, comunhão e consumo consciente são apenas alguns dos conceitos que emergem a 
partir dos princípios da solidariedade e sustentabilidade. 
Muito embora a economia solidária emirja no século XIX com o surgimento e avanço 
de outras formas de organização do trabalho, conseqüência, em grande parte, da necessidade 
dos trabalhadores encontrarem alternativas de geração de renda, no século XXI a 
intensificação da destrutividade ambiental, por exemplo, tem colocado a humanidade em face 
de um conjunto de problemáticas que impactam direta ou indiretamente as condições de 
reprodução da vida planetária. 
 
O aumento exponencial do lixo, a contaminação e redução das fontes de água 
potável, o aquecimento global, o desmatamento, a descartabilidade e a redução da 
biodiversidade são alguns dos fenômenos cada vez mais evidentes, afetando as 
possibilidades de reprodução do sistema do capital, além de impactarem as múltiplas 
formas de vida orgânica, sobretudo, a dos segmentos mais pauperizados das classes 
trabalhadoras. As alternativas, hegemonicamente presentes no debate ambiental, 
apontam para um conjunto de iniciativas de ordem técnica e comportamental, 
caucionadas na defesa do aprimoramento e da ecologização do capital: trata-se de 
um discurso que propala a capacidade do sistema de compatibilizar 
“desenvolvimento econômico e preservação ambiental”, desde que os indivíduos 
adotem posturas mais respeitosas para com a natureza. Sob o manto da 
responsabilidade socioambiental, os meios de comunicação enfatizam, 
cotidianamente, experiências bem sucedidas, iniciativas empresariais “sustentáveis”, 
 
 
 
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revelando uma ofensiva ideológica sem par, cujo fim é convencer a todos de que é 
possível superar a degradação ambiental sob o signo do capital. (SANTOS, et al, 
2012, p. 96) 
 
Ou seja, as crises em curso no século XXI são transversais e interdisciplinares na 
medida em que suas causas e consequências não se assentam somente no mundo da economia 
uma vez que perpassam o mundo da cultura, do ambiente, da educação e da justiça social, 
entre outros. Assim o são por que menos do que advindas das relações históricas estabelecidasentre trabalho e capital, são questionamentos à própria estrutura do capital e suas 
externalidades crescentemente negativas. 
O aprofundamento dessa crise abriu/abre espaço para o surgimento e avanço de outras 
formas de organização do trabalho, consequência, em grande parte, da necessidade dos 
trabalhadores encontrarem alternativas de geração de renda. Experiências coletivas de 
trabalho e produção vêm se disseminando nos espaços rurais e urbanos, através das 
cooperativas de produção e consumo; as associações de produtores; redes de produção, 
consumo e comercialização; instituições financeiras voltadas para empreendimentos 
populares solidários; empresas de autogestão; entre outras formas de organização. 
 
No Brasil, a economia solidária se expandiu a partir de instituições e entidades que 
apoiavam iniciativas associativas comunitárias e pela constituição e articulação de 
cooperativas populares, redes de produção e comercialização, feiras de 
cooperativismo e economia solidária, etc. Atualmente, a economia solidária tem se 
articulado em vários fóruns locais e regionais, resultando na criação do Fórum 
Brasileiro de Economia Solidária. Hoje, além do Fórum Brasileiro, existem 27 
fóruns estaduais com milhares de participantes (empreendimentos, entidades de 
apoio e rede de gestores públicos de economia solidária) em todo o território 
brasileiro. Foram fortalecidas ligas e uniões de empreendimentos econômicos 
solidários e foram criadas novas organizações de abrangência nacional. (MTE, 
2013) 
 
A temática da economia solidária, aos poucos, se torna uma realidade no cenário 
econômico brasileiro. Seus conceitos de solidariedade e participação se espalham gerando 
novas iniciativas e afetando as antigas, buscando assim, um mercado mais humanizado e 
menos utilitarista. Mesmo estando diante de um sistema competitivo e individualista, essas 
iniciativas solidárias vêm ganhando seu espaço de forma significativa (ADDOR, 2006). 
Em 1994, Laville caracterizava a economia solidária como um conjunto de atividades 
econômicas, no qual sua lógica é diferente tanto da lógica do mercado capitalista quanto da 
 
 
 
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lógica do Estado. Ao contrário da economia capitalista, que visa o capital a ser acumulado, 
funcionando a partir das relações competitivas com objetivos de sempre buscar os interesses 
individuais, a economia solidária é estabelecida a partir de fatores humanos, o que favorece a 
valorização do laço social através da reciprocidade, adotando formas comunitárias de 
propriedade. Ela se difere também da economia estatal que exibe uma autoridade central e 
formas de propriedade institucional (LAVILLE, 1994 apud LECHAT, 2002). 
O Fórum Brasileiro de Economia Solidária define a Economia Solidária como sendo 
“fruto da organização de trabalhadores e trabalhadoras na construção de novas práticas 
econômicas e sociais fundadas em relações de colaboração solidária”. Neste contexto, 
destaca-se a importância dos valores culturais, que apresentam o ser humano como sujeito e 
também finalidade da atividade econômica. 
Nascimento (2006) afirma que as ciências econômicas através da economia solidária 
devem buscar o bem estar da população: 
 
Independentemente do sistema produtivo e das relações políticas da sociedade, as 
ciências econômicas devem buscar o bem estar da população. Não fariasentido que 
todo esforço empreendido pelo Estado visasse apenas reduzir arelação dívida/PIB ou 
mesmo aumentar o superávit primário das contas públicas.Aparentemente, esses 
parâmetros buscam em sua essência criar expectativaspositivas para a economia, 
buscando pavimentar o caminho para os investimentos produtivos (NASCIMENTO, 
2006, p. 04). 
 
A Economia Solidária pode apresentar várias características, se tratando de ideologia, 
a Economia Solidária apresenta uma forma diferente de qualidade de vida e de consumo, 
partindo da integração e da solidariedade de toda a população mundial. O trabalho, o 
conhecimento e o atendimento das necessidades sociais da população são apontados como os 
calores centrais da Economia Solidária, iniciando com uma gestão com responsabilidade 
perante os recursos públicos (NASCIMENTO, 2006). 
A Economia Solidária pode representar uma importante ferramenta de combate à 
exclusão social conforme se apresentam alternativas viáveis para a geração de trabalho e 
renda para satisfazer às necessidades humanas, colocando fim as desigualdades materiais e 
propagando os valores da ética e da solidariedade. A Economia Solidária mostra-se também 
como um grande projeto de desenvolvimento integral visando a sustentabilidade, a 
democracia participativa, a justiça econômica e social, além da preservação do meio ambiente 
através do uso racional dos recursos naturais, estabelecendo o compromisso dos poderes 
 
 
 
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públicos em democratizar o poder, a riqueza e o saber, instigando uma formação estratégica 
de alianças entre organizações populares para que vigore ativamente os direitos e deveres da 
cidadania (NASCIMENTO, 2006). 
Segundo Nascimento (2006, p.09), “A Economia Solidária propõe uma atividade 
econômica enraizada no seu contexto mais imediato, e tem a territorialidade e o 
desenvolvimento local como marcos de referência. Consumidores de diversos países definem 
conscientemente seus níveis de consumo com base em princípios éticos, solidários e 
sustentáveis.” 
 É muito provável, que o significado mais preciso acerca de Economia Solidária é 
apresentado quando ela é formada por um conjunto de organizações econômicas, que se 
caracterizam pela propriedade coletiva dos meios de produção, pela própria gestão do trabalho 
através de mecanismos para a tomada de decisões coletivas e pela formação comunitária. A 
partir desta definição, a unidade mais simplificada de Economia Solidária é o 
Empreendedorismo Econômico Solidário, que pode apresentar-se como uma cooperativa, uma 
associação ou até mesmo um grupo informal. Com isso, não se confunde com as práticas de 
solidariedade assistencial, de caridade ou até de responsabilidade social e ambiental, mas, 
antes de tudo está interligada a uma concepção de solidariedade social fundamentalmente 
associada às condições de organização e ima (auto) gestão do trabalho relacionando-se 
também com a repartição de benefícios (BERTUCCI, 2010). 
A partir desta concepção, podemos tomar quatro variações, que dizem respeito à 
forma com que se analisa o potencial desses empreendedorismos. Para os mais 
otimistas, o crescimento desse tipo de empreendimento econômico mostraria um 
caminho evidente que, através de uma prática socialista, levaria à superação do 
capitalismo. Isso quer dizer que, neste ponto de vista, a organização da produção 
através de empreendimentos autogestionários se tornaria hegemônica (BERTUCCI, 
2010, p. 52). 
 
Para Nascimento (2006), “A Economia Solidária busca fundamentalmente a unidade 
entre produção e reprodução, evitando a contradição fundamental do sistema capitalista, que 
desenvolve a produtividade, mas exclui crescentes setores de trabalhadores do acesso aos seus 
benefícios, gerando crises recessivas, hoje de alcance global.” 
A economia solidária compreende quaisquer práticas econômicas populares que se 
posicionam aquém do assalariamento formal, e que englobam ações individuais ou de grupos, 
resultado a solidariedade como fator da produção econômica. Essa ideia remete ao termoIII Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 
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economia popular, que antecede ao da economia solidária. Mesmo que se entenda a 
solidariedade como um elemento essencial, compreende-se o movimento da economia 
solidária para além da produção popular (BARBOSA, 2007 apud GONÇALVES, 2010). 
A Economia Solidária é também um projeto de desenvolvimento integral que visa a 
sustentabilidade, a justiça econômica e social e a democracia participativa, além da 
preservação ambiental e a utilização racional dos recursos naturais. Ademais, a Economia 
Solidária exige o compromisso dos poderes públicos com a democratização do poder, da 
riqueza e do saber, e estimula a formação de alianças estratégicas entre organizações 
populares para o exercício pleno e ativo dos direitos e responsabilidades da cidadania. 
Ainda nesse âmbito, IRION (1997, p. 39), contribui para o presente trabalho 
salientando que a compreensão do termo Economia Solidaria está em entendermos por 
economia solidária: 
 
[...] aquela que se fundamenta na organização dos trabalhadores em empresas que 
tenham por base a pessoa e não o capital, a democracia, a autogestão, o livre acesso 
e a solidariedade entre os atuais participantes e a solidariedade para os que virão no 
futuro depois dos primeiros associados. Empreendimentos deste tipo se caracterizam 
por individualizar o capital de cada sócio e por gerarem fundos indivisíveis entre os 
sócios, como solidariedade futura (IRION, 1997, p. 39). 
 
Para melhor compreensão e entendimento dos termos conceituais supracitados, diz-se 
que a economia solidária é a resposta organizada à exclusão pelo mercado, por parte dos que 
não querem uma sociedade movida pela competição, da qual surgem incessantemente 
vitoriosos e derrotados. É antes de qualquer coisa uma opção ética, política e ideológica, que 
se torna prática quando os optantes encontram os de fato excluídos e juntos constroem 
empreendimentos produtivos, redes de trocas, instituições financeiras, escolas, entidades 
representativas, etc., que apontam para uma sociedade marcada pela solidariedade, da qual 
ninguém é excluído contra vontade. 
De acordo com GAIGER (2003), os empreendimentos de economia solidária (EES) 
constituem a célula básica da economia solidária. Uma de suas características é a 
preexistência de alguma relação social entre seus trabalhadores, ou pelo menos entre uma boa 
parte deles, seja por já dividirem outros ambientes de trabalho seja por serem camponeses de 
uma mesma localidade, ou vizinhos, familiares, ou até mesmo por pertencerem a grupos 
étnicos afins. No caso brasileiro, os EES se organizam das mais variadas formas, como 
 
 
 
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empresas recuperadas e administradas pelos próprios trabalhadores, cooperativas, associações 
ou grupos informais de produção, de caráter suprafamiliar e comunitário, caracterizando um 
verdadeiro “polimorfismo” que não necessariamente está relegado à parcela mais pobre da 
população. 
Concomitante ao exposto, devemos salientar que além dos EES, existem no país 
diversas organizações que atuam no plano do fomento e fortalecimento das formas de 
expressão da economia solidária, tais como: Organizações Não Governamentais (ONG’s), 
movimentos sociais, fóruns nacionais e estaduais, entre outros, tanto no meio urbano como no 
meio rural (SILVA, 2010). 
Nesta pesquisa constituímos como exemplo dessas organizações solidárias, o Projeto 
Reviver em Juazeiro do Norte (CE). O Projeto surgiu através da verificação da forte 
incidência de dependência química entre jovens e adultos trabalhadores na Região Integrada 
do Cariri Araripe
14
, bem como na constatação da inexistência de unidades que promovam o 
tratamento e reestruturação dos dependentes químicos da região. 
O objetivo central do Projeto Reviver é recuperar dependentes químicos, pessoas 
“esquecidas” pela sociedade e pela própria família, haja vista que em muitos casos, tais 
dependentes estão na marginalidade para sustentar o vício e assim provocando grandes 
impactos familiares e sociais. Desta feita, o trabalho de cunho associativo com foco de 
solidariedade requer uma série de capacidades que não estão necessariamente inseridas na 
dinâmica capitalista de produção. Portanto, esse tipo de organização do trabalho é tido como 
experiência coletiva de organização econômica, na qual os indivíduos se associam para 
produzir e reproduzir meios de vida, através de relações de reciprocidade e igualdade, 
partindo assim do princípio conceitual da economia solidária. 
A partir disso, a grande questão desta pesquisa é indagar de que maneira o princípio da 
solidariedade que deve perpassar as iniciativas de Economia Solidária constitui estratégia de 
 
14
 A RICA é constituída pelos municípios de Abaiara, Altaneira, Antonina do Norte, Araripe, Assaré, Aurora, 
Baixio, Barbalha, Barro, Brejo Santo, Campos Sales, Caririaçu, Cedro, Crato, Farias Brito, Granjeiro, 
Ipaumirim, Jardim, Jati, Juazeiro do Norte, Lavras da Mangabeira, Mauriti, Milagres, Missão Velha, Nova 
Olinda, Penaforte, Porteiras, Potengi, Salitre, Santana do Cariri, Tarrafas, Umari, Várzea Alegre, no Ceará; 
Araripina, Bodocó, Cedro, Exu, Granito, Ipubi, Moreilândia, Ouricuri, Santa Cruz, Santa Filomena, Serrita, 
Trindade, em Pernambuco; Acauã, Alegrete, Belém do Piauí, Betânia do Piauí, Caldeirão Grande, Campo 
Grande, Caridade do Piauí, Curral Novo, Francisco Macedo, Fronteiras, Marcolândia, Padre Marcos, Paulistana, 
Pio IX, São Julião, Simões, Vila Nova, no Estado do Piauí; Bom Jesus, Bonito de Santa Fé, Cachoeira dos 
Índios, Cajazeiras, Conceição, Guarabira, Monte Horebe, Santa Inês, São José de Piranhas, na Paraíba. 
 
 
 
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superação da marginalidade vivenciada pelos dependentes químicos. Ou seja, a instituição de 
um modo de existência que contemple a inclusão social como objetivo principal de uma 
Economia Solidária, ou seja, mais preocupada com o ser humano do que com as empresas, 
com a relação entre os povos do que com os meios de produção. 
 Para dar conta da questão central e tomando o Projeto Reviver como campo da 
pesquisa, objetivamos identificar na Economia Solidária estratégias de superação da 
marginalidade produzida pela dependência química. Especificamente, objetivamos conceituar 
Economia Solidária; discorrer a cerca da utilização da Economia Solidária como combate à 
marginalidade, e compreender o processo de superação da marginalidade através do Projeto 
Reviver, a fim de construir um quadro característico dos beneficiados pelo projeto. 
 2. A INSTITUIÇÃO DE UM CAMINHO METODOLÓGICO 
2.1 Sobre o projeto 
O Projeto Reviver do Cariri, criado em 2006, é uma instituição privada que cuida da 
recuperação para dependentes químicos cujo princípio fundamental é a solidariedade a partir 
da fé. Conforme o Pastor Fernandito, coordenador da instituição: 
 
A base é a palavra de Deus (...). Temos as terapias operacionais e a parte médica, 
que é a parte da saúde, como enfermeiro, psicólogo e psiquiatra. Assistente social, 
nós temos essa parte que completa o tratamento e a desintoxicação. Nós temos 
cursos, oficinas, cursos que são ministrados como relações humanas e outros cursos 
que são ministrados aqui, mas, o que, o que forma, o que muda o caráter, é o que ele 
vai aprenderdentro da palavra de Deus. 
 
Presentemente o Projeto atende homens e mulheres – jovens e idosos - distribuídos em 
três unidades em conformidade com processo de desintoxicação química. O processo tem uma 
duração que varia de nove a doze meses de internamento onde se trabalha com terapias 
ocupacionais, esportes, palestras, estudos bíblicos, artes, musica, acompanhamentos medico e 
espiritual. 
 
 
 
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Figura 01: Faixada do Projeto Reviver Cariri 
Fonte: dados da pesquisa (2013) 
 
O projeto se destina a todos àqueles que por livre vontade ou por ordem judicial 
buscam o Projeto Reviver do Cariri, não importando variáveis como: condições financeiras, 
gênero, raça, partido politico entre outras. 
Segundo o próprio site da instituição
15
 alguns dos objetivos do projeto são amparar os 
adolescentes, adultos e idosos em situação de risco, estendendo a assistência social à suas 
famílias; desenvolver programas beneficentes de inclusão, proteção, prevenção; articular e 
integrar ações públicas e privadas em rede comprometer-se com a promoção da comunidade 
local, incentivando o trabalho comunitário e participativo e a integração na sociedade; 
oferecer o espaço para o lazer sadio, oficinas criativas em socialização e desenvolvimento 
humano, cultural e social. favorecer aos alunos uma formação profissional para integrá-los no 
mundo do trabalho e na família; oferecer e desenvolver a educação básica familiar; difundir a 
importância da cultura através da expressão artística e desportiva; promover, oferecer e 
 
15
 projetoreviverdocariri.com.br 
 
 
 
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desenvolver a educação para o exercício da cidadania por meio da educação moral, cívica e 
religiosa. 
Aos dependentes que aderem ao projeto, é oferecido um tratamento adequado 
viabilizando o acompanhamento dos internos no primeiro mês, estes permanecem inclusos até 
o nono ou duodécimo mês, completando a desintoxicação e retornando a sociedade. 
 
2.2 Sobre os dados e os procedimentos 
 Para atender os objetivos deste trabalho utilizou-se uma base primária de dados 
constituídos a partir de entrevistadas. 
A pesquisa de campo utilizou como método a pesquisa-participante que segundo 
Soares e Ferreira (2006, p. 92), “[...] implica necessariamente a participação, tanto do 
pesquisador no contexto, grupo ou cultura que está a estudar, quanto dos sujeitos que estão 
envolvidos no processo da pesquisa”. 
Segundo Garjado (1986) apud Carvalho (2013) os aspectos da pesquisa participante 
são: 
 a) o objetivo é o de trabalhar com os grupos excluídos, em situações comuns de 
trabalho e estudo e trocar informações para colaborar na mudança das condições de 
dominação. 
b) o ponto de partida, o objeto e a meta da pesquisa participante são o processo de 
aprendizagem dos que fazem parte da pesquisa. 
c) ao invés de se manter distância entre o pesquisador e o grupo que vai ser 
examinado, tal como se exige nas ciências sociais tradicionais, propõe-se a interação. 
Trabalhar, talvez viver, no grupo escolhido, a fim de elaborar perspectivas e experimentar 
ações que perdurem, inclusive depois de terminado o projeto. 
d) no desenrolar do estudo, aspira-se a uma comunicação o mais possível horizontal 
entre todos os participantes. 
e) utiliza o dialogo como meio de comunicação mais importante no processo conjunto 
de estudo e coleta de informação. 
 
 
 
 
 
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3. A ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO ESTRATÉGIA DE SUPERAÇÃO DA 
EXCLUSÃO SOCIAL PRODUZIDA PELA DEPENDÊNCIA QUÍMICA: O CASO DO 
PROJETO REVIVER CARIRI 
3.1 Dependência química: Uma Abordagem Conceitual 
Em pleno século XXI, a dependência química é vista como resultado de uso e abuso 
de substâncias psicoativas, quer dizer, drogas lícitas e ilícitas vêm a ter um crescimento 
progressivo, o que traz graves consequências a saúde física, psíquica e social do ser humano 
refletindo na família e na sociedade (SANTOS, 2008). 
Conforme a Organização Mundial da Saúde, citado por Santos (2008) as substâncias 
psicoativas consistem em: 
 
Substâncias que ao entrarem em contato com o organismo, sob diversas vias de 
administração, atuam no sistema nervoso central produzindo alterações de 
comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora 
sendo, portanto, passíveis de auto-administração. 
 
 A dependência química pode ser considerada como sinônimo de escravidão, pois a 
pessoa chega a perder o amor próprio, o respeito por si mesmo e também se distanciar de tudo 
que faz ou poderia lhe fazer bem, é considerada uma doença grave e até mesmo incurável, 
porém pode ser controlada. Visualizando-se como doença, trata-se de um transtorno, em que a 
pessoa que porta esse distúrbio perde total controle do uso da substância, acabando assim com 
sua vida emocional, psíquica, espiritual e física. Ela é considerada doença química, visto que 
o que provoca a dependência é uma reação química no metabolismo do corpo; a circunstância 
básica e única dessa “doença interna” é o uso do produto, existindo aspectos internos 
relacionados ao organismo que atuam ao mesmo tempo direta e indiretamente que colaboram 
para a alocação da doença, causando uma predisposição física e emocional para a 
dependência; é considerada como uma doença progressiva; trata-se de uma doença crônica 
que se apresenta como incurável, que atinge de certa forma toda a família (SANTOS, 2008). 
 Conforme Silveira (2003), citado por Santos (2008, p. 17), a dependência química é: 
 
O impulso que leva a pessoa a usar droga de forma contínua (sempre) ou 
periodicamente (frequentemente) para obter prazer. Alguns indivíduos podem 
também trazer o uso constante de uma droga para aliviar tensões, ansiedades, medos, 
 
 
 
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sensações físicas desagradáveis, etc. O dependente caracteriza-se por não conseguir 
controlar o consumo de drogas, agindo de forma impulsiva e repetitiva. 
 
Quando o indivíduo sente um impulso indomável, é a dependência psicológica 
impondo a ele a necessidade de fazer o uso das drogas a fim de evitar o mal-estar. A 
dependência psicológica mostra várias mudanças psíquicas favorecendo a obtenção do hábito. 
O hábito por sua vez, é um dos aspectos mais importantes que se considera na toxicomania, 
pois a tolerância juntamente com a dependência psíquica significa que se faz necessária o 
aumento das doses para adquirir os efeitos desejados. E essa tolerância é o fenômeno 
responsável pela necessidade constante do indivíduo aumentar o uso da droga. E em estado de 
dependência psíquica, o desejo repetitivo de tomar várias doses é transformado em 
necessidade, que se não satisfeita, o indivíduo fica em um estado de profunda angústia, 
(estado depressivo). Esse estado de angústia por falta da droga é bastante comum em 
praticamente todos os dependentes e viciados (SANTOS, 2008). 
 
Entender e ver como uma doença vem amenizar para o dependente o fato na esfera 
moral e social, embora para muitos seja desconhecido ainda este fator doença. 
Reconhecer, como doença, aceitar principalmente

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