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Anuario_BRIO_de_Jornalismo_2018.pdf

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Sim, um anuário de jornalismo.
 
Sabemos que você nunca viu algo do gênero na nossa área, e esperamos que seja o 
primeiro de muitos outros que virão nos próximos anos. 
Já era hora de nós, jornalistas, não apenas olharmos em retrospectiva, mas termos um 
guia prático em mãos para saber quais referências acompanhar ao longo do ano, quais ini-
ciativas conhecer mais a fundo para se inspirar, quais habilidades desenvolver para estar 
preparado para os próximos capítulos de nossas jornadas, entre outros pontos. 
O que você vai encontrar nas próximas páginas é uma seleção, fruto de uma curadoria 
feita pela nossa equipe, já dedicada a qualificar jornalistas e a acompanhar tendências que 
ajudem nesse caminho. Profissionais, veículos, novos projetos e outras iniciativas na área 
também têm valor, mas aqui fizemos uma seleção assinada pelo BRIO. 
Isso é o que consideramos que devem ser suas prioridades para o ano de 2018.
Ficamos desde já abertos a sugestões para o Anuário 2019. 
Um grande ano para todos nós! Time BRIO
O que esperar 
do jornalismo e 
dos jornalistas 
em 2018
Jornalistas
estrangeiros 
que você deve 
acompanhar
Dez jornalistas 
brasileiros que 
irão se destacar
neste ano
Cinco veículos 
independentes 
que irão inovar
e voar
As iniciativas que
serão colocadas
em prova
As newsletters que 
mais vale a pena
você assinar
As expressões que
você vai ouvir muito
no jornalismo em 2018
As habilidades que vale
você aprender
Os assuntos que 
certamente serão pauta
Desde 2014, um ano não é aguardado com tanta ansiedade no jornalis-
mo. Depois de sermos pegos de surpresa pela força das manifestações 
de rua de 2013, quatro anos atrás prevíamos cenário de terra arrasada 
com a iminência de uma Copa do Mundo no país, formatada na base 
de muita propina, corrupção e deixando pra trás um legado bem meia 
boca. Sobrevivemos e a tragédia, no fim das contas, ficou essencial-
mente restrita ao campo, com o incrivelmente simbólico 7 a 1.
Este 2018 que acaba de dar a largada traz outros legados como expec-
tativa. A Lava Jato, com “o grande acordo nacional”, vai dar num beco 
sem saída? E a recessão, aprendemos algo com ela?
As eleições têm grande chance de revelar essas respostas e, por 
tabela, tornar mais nítida que sociedade foi o fruto desses últimos 
quatro anos. Teremos mais votos nulos e brancos como expressão 
de um descontentamento e desencanto geral ainda mais amplo? Um 
‘salvador da pátria’ terá vez numa era em que hiperinformação e desin-
formação caminham juntas? Uma candidatura Lula, mesmo com todas 
as questões jurídico-criminais envolvidas, terá sucesso? E a esquerda 
mais raiz conseguirá ocupar espaços após a detonação de uma crise 
material e moral sem precedentes no país? Os movimentos de direita e 
as patrulhas morais têm fôlego para colocar em suas fileiras os que se 
beneficiaram ao longo de anos de uma forte política de transferência 
de renda?
E o jornalismo nisso tudo? Ou melhor dizendo, e nós, jornalistas?
Reportagens bem apuradas, narrativas que mostrem o lado de quem 
está lá no solo, esperando outubro chegar para votar, investigações 
próprias, que não dependam apenas do trabalho de policiais, promo-
tores e procuradores, tudo isso seguirá tendo força para gerar impacto 
no mundo real.
Achamos, aqui no BRIO, que o jornalismo tem tudo para brilhar neste 
ano.
Apesar do cenário que não emite muita confiança diante de tantos 
cortes de vagas em redações, da penúria geral de empresas de mídia 
que buscam reestruturações de forma a evitar fechar as portas, o tra-
balho jornalístico continua, e sempre continuará, essencialmente como 
um poder que pode ser executado individualmente.
Uma redação com menos de 10 pessoas é potencialmente capaz de 
fazer um trabalho tão bom ou melhor do que uma redação de 100 jor-
nalistas. Talvez não seja capaz de cobrir tão bem um acidente aéreo ou 
alcançar milhões de pessoas no momento da publicação, por exemplo, 
mas certamente é capaz de expor contradições e más condutas de 
agentes públicos que buscam comandar o país no futuro bem próximo. 
Ou de dar voz, de maneira crítica, àqueles que são impactados por 
políticas públicas. Ou de levantar dados que revelem ou desconstruam 
nuances sobre a sociedade, a economia, os esportes, a cultura…
Neste ano, teremos eleições presidenciais, e elas são o elemento mais 
importante do ano, é claro. Mas teremos também um ano de provação 
em relação às novas regras trabalhistas, um ano em que provavel-
mente o STF decidirá sobre a descriminalização do aborto, um ano 
em que a tendência é de mais crescimento da violência nas grandes 
cidades, um ano em que o avanço da agenda conservadora tende a ser 
dos mais relevantes das últimas décadas, um ano em que discursos 
de modelos econômicos bem-sucedidos ou fracassados se alternarão, 
cada um puxando a sardinha mais suculenta para o seu lado.
Esse é o rico material que nós, jornalistas, temos em mãos para 
trabalhar a partir de agora. Um computador, um bloco, uma caneta, 
um telefone e um tanto de disposição de enxergar a realidade com os 
olhos profissionais de um repórter ou editor é tudo o que precisamos 
para começar a jogar no tabuleiro de 2018.
A carreira de jornalista seguirá em crise. Dá pouco dinheiro mesmo, há 
pouquíssimas vagas formais dentro dos conformes da CLT, a concorrên-
cia é gigantesca. Grandes grupos estão se reestruturando, como Globo 
e Abril. Outros muito provavelmente anunciarão medidas fortes ao 
longo dos próximos meses, porque tem sido assim nos últimos anos e 
porque não há nenhum sinal de que eles tenham avistado um oásis.
Mas a carreira de jornalista seguirá gerando esperança. Prepare-se 
para ver florescer, neste ano, um jornalismo independente com cada 
vez mais qualidade e incorporando padrões de rigor técnico e tec-
nológico de alto nível, com referências não apenas na mídia brasileira, 
mas também em exemplos incríveis vindo dos Estados Unidos, Europa e América 
Latina. Nexo, JOTA, Agência Pública, Lupa, Aos Fatos, Ponte Jornalismo, Nova Escola, 
Poder360, nós mesmos aqui do BRIO, além dos players estrangeiros ancorados no 
Brasil, como El País, BBC, Buzzfeed e The Intercept. Em 2014, boa parte deles não 
existia. Os que existiam ainda não tinham encontrado sua maturidade.
Mas mesmo os grandes veículos vão buscar fazer, em 2018, o melhor jornalismo 
possível. A sobrevivência deles depende disso, a exemplo da imprensa dos Estados 
Unidos, que, num momento de crise de confiança e com um presidente falando mal 
da mídia de manhã, tarde e noite, produziu em 2017 um jornalismo de alto nível e 
viu suas bases de assinantes (digitais) crescerem. A indústria jornalística no Brasil 
está sendo aspirada, e não tem muito outro jeito de escapar do tubo do aspirador a 
não ser fazendo jornalismo relevante e de impacto.
Para tudo isso, tanto para os repórteres independentes, em seus esforços individ-
uais, quanto para as equipes das redações, não dá para fazer jornalismo relevante 
e de impacto sem saber o caminho das pedras. É preciso saber onde buscar in-
formações, onde levantar dados, como obter fontes e cultivá-las, como se colocar 
para o mercado de forma que seu esforço seja remunerado. É preciso saber como 
aproveitar o potencial de um material jornalístico de qualidade sem se limitar ape-
nas ao texto. É preciso adotar as melhores práticas de organização e planejamento 
para que (falta de) tempo e dinheiro não se tornem tormentos inviabilizadores do 
jornalismo bem feito.
Em resumo, é preciso saber ser jornalista. O repórter precisa ser mais do que sim-
plesmente alguém revoltado com as injustiças do mundo que gosta de escrever e 
está a fim de ajudar a mudar o mundo. O repórter não pode ser apenas alguém que 
gosta de contar boas histórias. Jornalistas não podem se resumir a gostar de fazer. 
A gente tem que saber como fazer e, assim,nos defender e defender o jornalismo.
Boa sorte a todos nós em 2018 (mas que fique registrado: aqui no BRIO, estamos 
nos esforçando para que você, jornalista, não conte apenas com a sorte).
BRENO COSTA
Chefe de 
Desenvolvimento 
Jornalístico
Filipe começou sua carreira na Folha de S.Paulo do jeito que a gente aqui no BRIO 
idealiza para todos os profissionais que fazem parte da nossa base: oferecendo 
uma proposta de pauta. Na época, era uma reportagem batendo no então presi-
dente do Senado, José Sarney. A ousadia de farejar podres envolvendo poderosos 
em geral - no Judiciário, no esporte, na política, no empresariado - é o que levou 
o repórter a avançar muito na carreira e em pouco tempo. Em 2014, foi para a 
revista Época e, no ano passado, foi contratado para ser o repórter de investigação 
do Buzzfeed em Brasília. Ele já ganhou o Prêmio Esso ao revelar junto com outros 
colegas, na Folha, esquemas de corrupção do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira. 
Mais recentemente, deu furos importantes sobre o patrimônio do ex-presidente 
Lula, a operação Lava Jato e sobre figuras como os ministros Gilmar Mendes e 
Henrique Meirelles. Em 2018, ano eleitoral, espere mais revelações.
Como será 2018 para o jornalismo?
Em tempos de fake news e eleições, o 
jornalismo terá papel duplo: informar e 
mostrar ao eleitor o que é relevante e o 
que é enganação.
Como um jornalista deveria se preparar para 
o próximo ano?
Será fundamental saber usar as ferra-
mentas disponíveis na internet, para 
apurar e checar informações, e como usar 
os meios de distribuição para alcançar o 
leitor de maneira mais inteligente. Tudo 
isso, contudo, é apenas uma parte do 
trabalho. O jornalismo continua em sua 
essência: contar boas histórias, com furos 
e informações relevantes. E, para isso, é 
necessário discernimento, fontes e sola 
de sapato.
Quais serão os principais desafios para o 
jornalismo em 2018?
O volume de notícias e a velocidade são 
intensos e, por isso, será decisivo saber se 
comunicar com o leitor. É preciso ouvi-lo e 
entender quais suas demandas, como ele 
acessa o conteúdo e como o material pode 
ser relevante para ele.
Quais as principais oportunidades que os 
jornalistas podem aproveitar em 2018 para 
fazer um bom trabalho?
Em 2018, com eleições, aumenta o 
interesse do leitor e a oportunidade de 
produzir notícias de impacto e relevância.
Como estão as suas expectativas para o 
futuro próximo do jornalismo no Brasil?
As melhores possíveis. O jornalismo nunca 
foi tão necessário e demandado como 
nesses tempos de casos de corrupção, 
crise e fake news.
Se você tivesse que sugerir algo com que um 
jornalista pudesse se preparar para 2018, 
qual seria?
Escute as pessoas. As grandes histórias 
surgem dali.
Como será 2018 para o jornalismo?
Muito difícil. Depois da eleição de 2014, quando a gente viu o tamanho do 
buraco, todo mundo disse que aquela seria a “última eleição da mistifi-
cação”. Mas será que 2018 não será também? Isso será explícito ou os 
candidatos terão medo de se confrontar com o debate que o Brasil pre-
cisa? Eu acho que já tivemos mais certeza de que isso aconteceria. Cabe 
uma responsabilidade aos jornalistas: desmistificar o debate político. As 
redações continuam sem gente suficiente, todos fazendo trabalho em 
tempo real, e as pessoas não têm como ir a fundo nos temas. Os novos 
veículos são iniciativas bem-vindas, mas eu diria que eles ainda não 
contaminaram a cobertura de uma maneira geral. É uma existência ainda 
à parte, isolada do motor da cobertura política. Mais do que a proliferação 
de sites de checagem, o espírito de checar deveria contaminar de maneira 
mais aguda e profunda nosso trabalho. Deveria ser algo que fosse intro-
jetado e absorvido.
Como o jornalista deve se preparar para este ano?
Nesses momentos é que a gente vê que tem que se livrar um pouco do 
complexo de colonizado. Nem olhar para a melhor imprensa do mundo 
a gente pode. A eleição de Trump desautoriza qualquer referência que a 
gente possa ter de lá. Talvez [devêssemos] fazer o contrário do que foi 
feito lá. O jornalista deve estudar muito a biografia, o desempenho e a 
atuação dos candidatos. O que eles fizeram? Que projetos eles apoiaram 
enquanto parlamentares? Aquilo que eles serão nunca se dissociará 
daquilo que já foram. Não tem outro jeito de checar o futuro que não o de 
confrontar o passado.
Quais serão os principais desafios para o jornalismo em 2018?
Ouvir o eleitor. Mais importante do que ouvir candidato é ouvir eleitor. 
Quem é a pessoa que está tão frustrada? Não é só leitura de pesquisa. É ir 
para a rua, passar por campanhas, circular nas plateias, perguntar para os 
eleitores o que seus candidatos disseram. A gente acha que ler pesquisa 
é entender o eleitor, mas não é.
Quais as principais oportunidades que os jornalistas podem aproveitar 
em 2018 para fazer um bom trabalho?
A eleição é o grande tema. O Brasil terá passado os dois últimos anos sob 
um governo que não escolheu. Haverá a oportunidade de se conectar ao 
eleitor. Tem muitos espaços de discussão na sociedade que o jornalista 
não entra e não percebe que pode entrar. Bares, praças, festas, a con-
vivência no dia a dia, perceber como as pessoas interagem com a política 
e com o Brasil que elas querem. É possível descobrir espaços informais de 
convivência em que seja possível entrar e pegar esse pulso do eleitor de 
uma maneira mais informal.
Quais suas expectativas para o futuro próximo do jornalismo no Brasil?
Otimista sempre. A geração que está entrando é melhor que a nossa. Eles 
são mais bem informados, mais curiosos.
Se você tivesse que sugerir algo com que um jornalista pudesse se 
preparar para 2018, qual seria?
Biografias de políticos. Recomendo a trilogia de Getúlio Vargas (Lira Neto), 
“Lula, o Filho do Brasil” (Antonio Candido) e o “Diários da Presidência”, do FHC.
Ela é, hoje, provavelmente o melhor texto que você vai
encontrar na cobertura de política. Embora seu lado 
repórter esteja reservado para momentos mais 
especiais, Maria Cristina já se destaca o suficiente 
para merecer a presença no top 10 do jornalismo de 
qualidade no Brasil pela sua coluna semanal no Valor 
Econômico, devidamente marcada com o DNA de uma 
repórter crítica em relação a qualquer lado do espec-
tro político-ideológico. Num ano decisivo como o de 
2018, acompanhar o que ela tem a dizer e a reportar é 
fundamental. Pioneira, ela fez parte da primeira equipe 
da revista Época e está no Valor desde a fundação do 
jornal, em 2000. Lá, foi editora de política ao longo 
de 15 anos. Formada em jornalismo e em história em 
Pernambuco, é também mestre em política comparada 
pela Universidade de Paris I e em política latinoameri-
cana pela Universidade de Londres. Tá bom, né?
Adriano começou no jornalismo em Belém, no 
Pará. Entrou para a equipe de trainees da Fol-
ha de S.Paulo em 2010, quando se transferiu 
para a Faculdade Cásper Líbero e começou a 
vida como repórter na editoria de esporte. 
Dois anos depois, mudou-se para o UOL, 
onde trabalha desde então. Ele gosta de faz-
er do esporte não somente o centro de sua 
pauta, mas cenário para histórias diferentes, 
e de suas reportagens, narrativas menos 
engessadas e mais bem contadas - um belo 
sopro de ar fresco para o nosso jornalismo.
Como será 2018 para o jornalismo?
Temos ficado muito preocupados com 
demissões. É triste ver jornais cada vez 
mais enxugados, porque o jornalismo 
de qualidade perde muito. É impor-
tante que as redações invistam na 
mescla de dois mundos: o jornalismo 
quente, diário e que gere audiência, 
mas também com uma equipe forte, 
com liberdade para pensar pautas 
mais aprofundadas e maior tempo de 
apuração.
Como um jornalista deveria se preparar 
para o próximo ano?
Eu, por exemplo, vou tentar aproveitar 
o interesse que as pessoas vão terno Mundial [de futebol da Fifa] para 
fazer as pautas que eu gosto e que o 
leitor esteja interessado. Em relação 
às fake news, nós que trabalhamos na 
grande mídia temos uma obrigação em 
combater esse fluxo de notícias falsas. 
Nosso papel é levar ao leitor uma 
notícia mais apurada.
Quais serão os principais desafios para o 
jornalismo em 2018?
Não estamos acostumados a lidar com 
essa produção em larga escala de notí-
cias mentirosas, esse tipo de buzz que 
é causado por agentes novos. É uma 
realidade completamente diferente, 
que a gente não aprende na faculdade. 
Os caras estão pensando muito à 
frente da gente e poucas pessoas nas 
redações estão preparadas para eles. 
Quem vai cobrir política talvez precise 
se especializar em combater fake 
news.
Quais as principais oportunidades que os 
jornalistas podem aproveitar em 2018 
para fazer um bom trabalho?
Existe uma discussão sobre o tamanho 
e a profundidade do texto na internet 
e quanto vale a pena investir numa 
pauta. Os editores geralmente acham 
que vale a pena se for um furo. Mas de 
uns tempos pra cá a gente percebeu 
que vale a pena investir em pautas 
que vão engajar o leitor, e isso vai na 
contramão do que se acreditava que 
era o conteúdo perfeito para a internet. 
O ano que vem é uma oportunidade 
para o repórter que tem interesse 
nesse tipo de história. Pra mim, a 
melhor matéria do ano foi a do Fofão 
da Augusta. Tem pouca gente fazendo 
isso.
Como estão as suas expectativas para o 
futuro próximo do jornalismo no Brasil?
Do ponto de vista das redações, sou 
pessimista. É difícil quando você con-
versa com pessoas que não veem uma 
forma de crescer nas redações onde 
elas estão.
Se você tivesse que sugerir algo 
com que um jornalista pudesse 
se preparar para 2018, qual 
seria?
Você aprende a fazer 
reportagens com boas 
histórias, lendo muito, 
principalmente na impren-
sa estrangeira. Recomen-
do a leitura de um livro 
chamado ‘Storycraft: The 
Complete Guide to Writing 
Narrative Nonfiction’, do 
Jack Hart. Ele conta como 
fez seus repórteres transfor-
marem suas pautas em jornal-
ismo narrativo, já que estavam 
desperdiçando histórias riquíssi-
mas por não fugirem do jornalistês, 
lide, aspas, pirâmide invertida etc. É 
meu livro de cabeceira. Toda vez que 
vou fazer uma pauta eu o consulto.
DANIELA PINHEIRO não é novidade, mas o cargo para o qual ela foi 
incumbida no fim de 2017 despertou interesse e a manterá no centro 
das atenções do jornalismo ao longo deste ano. Após 11 anos em Veja 
e outros 11 na piauí como repórter especial e editora, a renomada 
e premiada jornalista é a nova diretora de redação da revista Época, 
agora com sede no Rio. A publicação sofreu reveses ao longo do último 
ano. Pode ser a primeira grande revista brasileira a abandonar a versão 
impressa. Pinheiro será a responsável pelo êxito dessa metamorfose, 
cujas adversidades nem mesmo ela ou ninguém sabem como se darão.
GUILHERME AMADO colaborou com um dos maiores furos da política bra-
sileira - o principal de todo o noticiário político em 2017, certamente. A 
publicação da gravação de Joesley Batista, dono da JBS, com o pres-
idente Michel Temer trouxe holofotes também à carreira do repórter 
da coluna de Lauro Jardim, no Globo. Também no ano passado, Amado 
representou o jornal em uma rede internacional de jornalistas que co-
laborou para investigar a Lava Jato na América Latina. O Globo e outros 
sei veículos foram os únicos a publicar no continente as delações de 
executivos internacionais da Odebrecht, até hoje em sigilo no STF, e 
descobriram fatos além das investigações do Ministério Público.
LEONÊNCIO NOSSA já é uma lenda viva no jornalismo brasileiro do século 
21. Não tem ninguém que venha lutando, há tantos anos, e com 
êxito, por manter vivo o jornalismo de fôlego. É repórter do Estadão 
há 17 anos. Durante o governo Lula, cobriu o Palácio do Planalto, o que 
rendeu a publicação de um livro com o relato de suas viagens atrás do 
presidente. Mas o destaque que lhe gerou diversos prêmios impor-
tantes foram suas reportagens sobre cantos pouco falados do país, 
invariavelmente publicadas em cadernos especiais. Está finalizando 
um dos maiores projetos da carreira: a biografia de Roberto Marinho. 
ANNA VIRGÍNA BALLOUSSIER é 
dessas repórteres que veem o 
mundo ao redor como algo a ser
descontruído com elegância. 
Suas reportagens na Folha de 
S.Paulo buscam, sempre que 
possível, injetar uma pitada de 
ironia - que nasce, às vezes, 
com a própria escolha da pauta. 
Num ano ‘sério’, vale a leveza.
LUCAS FERRAZ construiu sua 
carreira na Folha de S.Paulo, 
onde vasculhou a ditadura e 
outros assuntos históricos que 
demandam conhecimento amp-
lo conhecimento de contexto e 
acesso a documentos públicos. 
Desde 2016, está em carreira 
independente. Atualmente, 
escreve para a Agência Pública. 
MARINA ROSSI representa um 
modelo de produção jornalística 
que só aportou pra valer no 
Brasil há pouco tempo, via El 
País, onde está desde 2013. 
Seu olhar busca acompanhar os 
movimentos do tecido social do 
país - essencial num ano como 
este. E tem um forte olhar para 
questões feministas. Foi uma 
das criadoras da campanha 
“Jornalistas contra o assédio”.
RENATA AGOSTINI é um dos 
destaques da nova geração de 
repórteres que acompanham 
o mundo dos negócios. Com 
uma alta capacidade de fazer 
fontes bem posicionadas, já 
desenvolveu ótimas reporta-
gens na Exame, Folha de S.Paulo 
e, desde o ano passado, como 
repórter especial no Estadão. 
Mundo corporativo é com ela. 
Se você gosta de ver ousadia no jornal-
ismo, em diferentes níveis, então você 
já sabe para onde olhar em 2018: as 
novas ideias colocadas em prática por 
Elaine Welteroth. Aos 30 anos, ela é a 
editora-chefe mais jovem da história de 
qualquer uma das (prestigiadíssimas) 
publicações da editora Condé Nast. Para 
quem não sabe, além da Vogue, a marca 
é responsável por ícones como a The New 
Yorker e a Vanity Fair, entre outras.
No dia em que este texto era escrito, dois 
dos títulos em destaque no alto da home 
da Teen Vogue eram: “Por que o governo 
controla milhões de hectares de terra - e 
como você pode usá-los” e “Karlie Kloss 
[top model] explica por que as mulheres 
são o futuro da programação”. Daí dá para 
sentir a linha editorial trazida “do nada” 
por Welteroth. 
Se algo nessa linha pode aparecer no 
Brasil? Não muito rápido, mas é possível, 
sim. Elaine segue, não intencionalmente, 
a escola de editoras de moda que quebr-
aram certos padrões ao mesmo tempo em 
que criavam outros. Os exemplos mais 
destacados nesse sentido são Franca 
Sozzani, que radicalizou o approach fo-
tográfico da Vogue Itália, e Anne Wintour, 
editora-chefe da Vogue americana.
Mas a politização de uma revista de moda, 
ainda mais voltada para um público jovem, 
é algo nunca antes visto. Apesar do ap-
proach renovado, a Teen Vogue impressa 
deixou de existir. Elaine segue como 
editora-chefe da publicação em sua 
versão digital, mas deverá ser aprove-
itada, ainda neste ano, de uma maneira 
ainda mais “high level” pela Condé Nast.
Além de sua ousadia como editora de uma 
revista em tese sem conotação política, 
seu valor também está, claro, em sua 
presença feminina e negra numa época de 
recrudescimento de casos de racismo na 
sociedade americana e de revelações de 
assédios nas redações dos EUA.
Ele faz investigações para a revista The 
New Yorker. Isso já seria suficiente para 
um invejável cartão de visita. Mas, mais 
que isso, ele concilia essa atividade banal 
no mundo jornalístico com trabalhos de 
investigação também para a TV. É algo 
como Caco Barcellos tocando o Profissão 
Repórter e ainda dando furos de reporta-
gem na Piauí. 
Ah, mais um detalhe: Farrow tem apenas 
29 anos. Ah, outro: ele ainda se apresentacomo ativista e advogado. 
A história de Farrow fora do jornalismo já 
é jornalística por si só: não se sabe se ele 
é filho de Woody Allen ou de Frank Sinatra. 
Fisicamente, nós do BRIO chutariamos 
Sinatra. É o palpite da mãe, inclusive, a 
atriz Mia Farrow, que foi casada com Sina-
tra antes de se relacionar com o cineasta.
Além disso, participou do governo de 
Barack Obama como conselheiro especial 
para assuntos humanitários relacionados 
ao Afeganistão e ao Paquistão e para 
assuntos globais ligados à juventude. 
Se, aos 29, ele já tem essa folha de 
serviços para mostrar, difícil imaginar 
que agora, entrando nos 30, ele passe 
em branco. Seu trabalho mais recente de 
maior repercussão foi sua participação 
central na revelação do escândalo do 
magnata do cinema nos Estados Unidos 
(portanto, mundial) Harvey Weinstein - 
forte doador do Partido Democrata. Num 
trabalho primoroso, ele não apenas con-
seguiu relatos das vítimas, como revelou 
em detalhes como Weinstein colocou em 
operação um esquema para ocultar suas 
práticas de predador sexual. 
Numa era de ressurgimento do bom 
jornalismo de investigação nos Estados 
Unidos, Ronan Farrow definitivamente é 
alguém que, neste momento, está prepa-
rando algo muito bom. 
Não confundir com Jack Bauer, da série 
24 Horas, embora haja motivos razoáveis 
para isso, como mostraremos. 
Em todos os levantamentos que fizemos, 
não encontramos nos Estados Unidos 
nenhum jornalista especializado em 
métodos de infiltração. Esse tipo de práti-
ca suscita bastante debates éticos, mas o 
resultado final é de extrema qualidade. 
Shane é repórter especial da Mother 
Jones, revista considerada de “esquer-
da” nos Estados Unidos, mas focada em 
reportagens - algo inexistente no Brasil. 
 Os trabalhos mais famosos, e premi-
ados, de Bauer são do seu período de 
quatro meses vivendo como um agente 
penitenciário em uma prisão no estado 
da Louisiana, e de mais uma temporada 
infiltrado como paramilitar numa milícia 
pró-Donald Trump na Geórgia que tinha 
como hobby “caçar” mexicanos - isso an-
tes de Trump virar presidente. Tudo isso 
virou reportagens longform, de leitura 
longa, mas recompensadora para quem 
gosta de jornalismo com J.
Você pode achar trabalhos barra pesada, 
mas nada se compara ao fato de que o 
repórter ficou refém de forças iranianas 
durante mais de dois anos - e aí pra valer 
mesmo, não era truque para reportagem, 
embora o aprisionamento tenha resultado 
em um livro escrito junto com outros dois 
companheiros de cativeiro. 
Para este ano, Bauer está finalizando um 
livro sobre as penitenciárias privadas 
americanas e deverá trazer mais mate-
riais inéditos e ousados para a Mother 
Jones, apostando num método que difi-
cilmente Donald Trump terá condições de 
sequer começar a argumentar tratar-se 
de fake news. 
David era um repórter gente como a gente até 
que Donald Trump resolveu ser candidato a 
presidente do país mais poderoso do mun-
do. Acostumado a coberturas mais locais, 
a eleição foi a primeira experiência mais, 
digamos, relevante de David. Ou seja, ele não 
tinha fontes estrategicamente posiciona-
das. Mas isso vale para o modelo clássico de 
jornalismo. David driblou isso fazendo um dos 
usos mais espertos de redes sociais até hoje 
- ele usou seus seguidores como fonte e, a 
partir disso, coletou literalmente no braço ev-
idências contra Trump e publicou alguns dos 
principais furos que abalaram a campanha do 
republicano - como brinde, faturou o Pulitzer 
do ano passado. Como num círculo virtuoso, 
agora ele tem mais acessos construídos e 
tende a seguir fazendo ótimos trabalhos.
Se tem um assunto que volta e meia parece 
adormecido, mas que volta à tona com força 
literalmente mortal, é o terrorismo. E no 
jornalismo internacional há poucos que en-
tendem mais do assunto, especialmente do 
braço islâmico, do que esta repórter romena 
do The New York Times. Ela foi contratada 
pelo jornal em 2014 para cobrir especifica-
mente Al Qaeda e o extremismo islâmico. An-
tes disso, foi correspondente da Associated 
Press na África, onde produziu reportagens 
não apenas sobre terrorismo, mas também 
sobre as questões sociais da região. Neste 
ano, seguirá como uma voz essencial para 
se captar os meandros de terroristas e seus 
seguidores.
Um repórter que consegue acesso simultâ-
neo ao narcotráfico mexicano e ao homem 
mais rico do mundo tem um valor a ser 
reconhecido. Um escritor de livros de não-
ficção elogiadíssimos pela crítica e que, em 
paralelo, desenvolve também projetos inova-
dores para a televisão e cinema. Esse é Diego, 
o repórter que você mais deve acompanhar 
na América Latina. Ele ainda nem completou 
40 anos, mas já figura como um dos mais 
talentosos e multifacetados jornalistas da 
atualidade. É dele a biografia de Carlos Slim, 
que nós brasileiros conhecemos melhor 
como dono da NET, Claro e Embratel. Também 
escreveu livros sobre os arquirrivais Cartel de 
Sinaloa, do El Chapo, e os Zetas. 
Existe um universo sobre o qual pouco sabe-
mos a fundo, mas que vivenciamos diaria-
mente: as grandes empresas de tecnologia. 
Mas existe um repórter nos Estados Unidos 
que está bons passos à frente dos mortais 
que tentam captar o mundo real humano por 
trás das máquinas e algoritmos. Para tomar 
gosto pelo jornalismo “de negócios” de Nikc, 
sugerimos ler o livro “A eclosão do Twitter”, 
de preferência no original. Você estará lendo 
um thriller com as intrigas e disputas de 
poder entre os fundadores da plataforma 
- e que agora está sendo adaptado para a 
televisão. Um outro trabalho, mais recente, 
foi sobre os bastidores do site ilegal Silk 
Road, que comercializava drogas e armas na 
deep web. Esse está sendo preparado para o 
cinema pelos Irmãos Coen. 
Marty, como é mais conhecido, 
ganhou proeminência para fora do 
mundo jornalístico como o edi-
tor-executivo do Boston Globe e 
responsável pela equipe Spotlight, 
do jornal, no filme ganhador do 
Oscar em 2016. Quando o filme foi 
lançado, ele já estava havia dois 
anos à frente do Washington Post. 
E é nesse posto que vale olhar 
com atenção para ele. O ‘Post’ é 
controlado por um visionário da 
tecnologia, Jeff Bezos, dono da 
Amazon, e Baron é seu represen-
tante mais graduado. O jornal já 
vem experimentando editorial e 
tecnologicamente. Acompanhar 
Baron neste ano é seguir muito do 
que será inovador no jornalismo.
Grande parte das iniciativas jor-
nalísticas recentes mais 
interessantes da América Latina 
estão vindo do Peru. Em paralelo 
a isso, o país também tem ex-
perimentado um salto econômico 
importante na região ao mesmo 
tempo em que vê as figuras mais 
poderosas do país envolvidas em 
um esquema de pagamento de 
propina via Odebrecht. No meio 
disso tudo, um site em especial 
se destaca: o Ojo Público, com 
reportagens ousadas tanto na 
forma quanto no conteúdo sobre 
os poderosos do país. Elizabeth 
está na equipe e é um dos maiores 
destaques investigativos da AL. 
Quer saber de escândalos capaz-
es de derrubar Donald Trump? 
Acompanhe o trabalho de Eric e 
você terá grandes chances de 
ler algo que faça a Trump Tower 
tremer. É dele a reportagem que 
mostrou como os russos con-
seguiram interferir nas eleições 
americanas. Os bastidores que ele 
conta mostram pelo menos duas 
coisas: o uso de um método de 
apuração para histórias de fôlego, 
com muitas e longas entrevis-
tas, e a percepção de que outros 
trabalhos semelhantes virão. 
Entre suas fontes estão lobistas, 
empresários, políticos, e seu alvo 
principal é a administração Trump 
e suas relações privadas.
FAÇA UMA CONTA rápida (mesmo se você for de humanas): 
qual a probabilidade de, em meio a uma crise econômica, um 
negócio de qualquer natureza ver sua receita crescer 40 vezes 
em três anos? Qual a probabilidade deisso acontecer no Brasil? 
Qual a probabilidade de acontecer com um negócio jornalístico? 
Pequena, certo? Ínfima, pode-se dizer. Mas não é a resposta 
que nos dá o Jota, uma das iniciativas jornalísticas brasileiras 
que mais cresceram nos últimos anos.
No final de 2014, quatro meses após seu lançamento, o Jota 
fechou sua receita em R$ 150 mil. Ao final de 2017, a expec-
tativa era de que esse valor alcançasse cerca de R$ 6 milhões. 
Em pouco mais de três anos, uma ideia se transformou em 
um negócio sustentável e lucrativo, que envolve quase 40 
pessoas, entre jornalistas, administradores e especialistas em 
tecnologia de informação.
O Jota nasceu de uma necessidade identificada por jornalistas 
que cobriam a área jurídica no país: os advogados queriam sa-
ber mais sobre determinadas decisões ou assuntos relaciona-
dos à Justiça, mas os veículos jornalísticos não abordavam os 
temas - ou não faziam as análises aprofundadas pelas quais 
essas pessoas tinham interesse. O Jota começa com uma 
conta de Twitter e em um mês é um site de notícias. Três anos 
depois, é um complexo sistema de publicações, reportagens, 
newsletters e projetos especiais, com espaço para branded 
content e eventos, financiado por planos de assinatura para 
pessoas físicas e jurídicas, que têm valores variáveis de acordo 
com a necessidade do leitor - e cliente. Tudo isso, mantendo o 
princípio de cobrir completamente os bastidores de julgamen-
tos, votações e tendências jurídicas no país.
Parte do sucesso do Jota vem do fato de que há uma pessoa 
experiente em negócios à frente da empresa, uma realidade 
diferente da que vivem outras iniciativas jornalísticas que 
surgem no Brasil. O engenheiro de telecomunicações Marc 
Sangarné é o CEO - e é ele quem gerencia os recursos e a 
estratégia de crescimento do Jota. Mas, por princípio, como 
ele mesmo diz, “ninguém acumula muito poder. Em questões 
de gestão, eu sou o único com a votação final, mas ao mes-
mo tempo eu não ousaria dar minha opinião sobre qualquer 
conteúdo”. Integram essa equipe responsável pelas decisões 
os jornalistas Felipe Recondo, Felipe Seligman, Fernando Mello 
e Laura Diniz. 
Para 2018, a expectativa é manter o ritmo de crescimento 
como negócio, apostando sempre na assinatura como principal 
fonte de receita, já que o Jota não tem renda vinda de publicidade. As 
metas são definidas a curto, médio e longo prazos, mas sempre de 
olho nas necessidades dos clientes - e isso vale para lançamento de 
novos produtos dentro do menu que o Jota já oferece, por exemplo. 
Outro objetivo é continuar contratando profissionais em 2018 para 
todas as áreas da empresa, além de oportunizar crescimento para 
os que já integram a equipe - o Jota tem uma área de desenvolvi-
mento para seus profissionais, liderada por Seligman. 
Jornalisticamente, a tendência é de que o conteúdo produzido pela 
empresa ganhe ainda mais espaço dentro da mídia nacional no próx-
imo ano. Decisões jurídicas serão fundamentais no processo eleitoral 
por conta da operação Lava Jato e de todos os seus desdobramen-
tos. Isso deve atrair para o Jota algum público que hoje não consome 
sua informação - um público que vai além dos advogados, juízes e 
outros interessados nas letras frias da lei -, principalmente vindo 
de redes sociais. A estratégia do veículo passa por segmentação e 
impulsionamento de conteúdo no Facebook, o que continuará a ser 
feito: “as opções de segmentação, aliadas à capacidade de atingir o 
público em todos os horários ativos, tornam a rede uma ferramenta 
poderosa e versátil”, diz Iago Bolívar, estrategista digital da empresa. 
Além disso, o Jota contratou em 2017 um profissional específico 
para atuar na área de jornalismo de dados e já trabalha em projetos 
nesse sentido, o que também aparecerá como aposta de conteúdo 
da empresa para o próximo ano. 
Se a polarização é a grande doença atual brasileira, como 
disse o professor Pablo Ortellado, sua causa certamente é a 
desinformação - e aí pode chamar de vírus, bactéria, fungo 
ou do que você quiser. O fato é que teremos um ano eleitoral 
pela frente, e a tendência é que tudo fique ainda mais extremo 
e, por enquanto, não encontramos um remédio certeiro para 
acabar com isso. Mas há algumas esperanças, e o Canal Meio 
se propõe a ser uma delas. 
Lançado em outubro de 2016, esse projeto tem como líderes 
Pedro Doria e Vitor Conceição, ambos com larga experiência no 
mercado digital e de jornalismo no Brasil. Ambos afirmam: o 
objetivo do Meio é solucionar a desinformação. O projeto surge 
a partir da crise do mercado jornalístico ainda em 2014 e vai 
se moldando à medida em que fenômenos culturais e sociais 
surgem baseados nos conceitos de bolhas de informação e 
polarização, como a eleição de Donald Trump e o Brexit.
O Meio é uma startup de tecnologia, nativa digital, da qual 
surge um produto, a newsletter Meio. Ela é enviada de segunda 
a sexta por e-mail, no início da manhã, com uma curadoria cuja 
leitura, em teoria, deve demorar cerca de oito minutos - caso o 
leitor queira mais detalhes, pode olhar as matérias completas 
clicando nos links indicados. Toda a operação é feita por uma 
equipe de quatro pessoas, na qual estão incluídos os dois 
sócios.
Embora nem o formato newsletter nem o conceito de curadoria 
sejam novos, o Meio se diferencia por aplicar alguns funda-
mentos no seu negócio. Ser digital e trabalhar para um público 
digital é o principal deles. Não organizar os assuntos por edi-
torias é outro. No Meio, há apenas macrotemas - Política, Viver, 
Cultura e Cotidiano Digital -, que, segundo os sócios, permitem 
uma cobertura mais coerente. Por último: ainda apostar na 
publicidade como principal fonte de receita (a empresa rece-
beu aportes durante a fase de planejamento e estruturação, 
mas esses valores não são divulgados). 
“Nós acreditamos muito na relação entre jornalismo e publi-
cidade na busca de públicos qualificados. Há uma relação de 
credibilidade aí, que tanto o veículo atribui à marca, quanto, 
cá entre nós, a marca atribui ao veículo quando o casamento 
funciona. É um ganho para ambos”, diz Doria.
O Meio tem um outro diferencial interessante de se acom-
panhar, que é a aposta no desenvolvimento de tecnologias 
próprias, com criação gradual de novos produtos. Esse planejamento 
não é público, mas uma amostra veio da estratégia de ‘member get 
member’ adotada pelo canal, o programa Pioneiros, que cria uma 
espécie de área VIP a partir de indicações do Meio que leitores fazem 
a seus amigos. Esse tipo de estratégia ainda é algo pouquíssimo 
utilizado pelo marketing dos veículos no Brasil, tanto os tradicionais 
como os independentes. 
Para 2018, a expectativa é de que o Meio consolide seu formato de 
rentabilização e se torne sustentável, já que o plano dos fundadores 
é manter a newsletter gratuita para os assinantes. 
Como produção jornalística, é preciso ficar de olho na ferramenta 
“Bolhas”, que identifica os links mais compartilhados pelos públicos 
ligados à esquerda e à direita no espectro político. Esse projeto foi 
lançado pelo Meio no final de 2017 e pode ser um bom indicativo de 
temas relevantes para abordagem durante o processo eleitoral.
como negócio, apostando sempre na assinatura como principal 
Inspiração. Empoderamento. Rede de aprendizado. Mentoria. 
Tudo isso é princípio e realidade no Chicas Poderosas, a ONG 
liderada pela designer portuguesa Mariana Santos que pre-
tende desenvolver iniciativas lideradas por mulheres. Fundada 
em 2013, depois da experiência de Mariana no The Guardian 
- onde ela era a única mulher na equipe de design de inovação 
-, a organização orienta iniciativas ligadas à produção de con-
teúdo, não só jornalístico, e que contem com a tecnologia para 
chegar aos seus públicos-alvo. Mas também trabalha para 
diminuir a diferença entre homens e mulheres em posições de 
liderança eminiciativas digitais.
A ideia inicial era criar uma rede de empoderamento que 
mostrasse às mulheres que elas são capazes de fazer aquilo 
em que acreditam e que também preparasse homens para 
aceitar essas ideias vindas delas. Ou seja: formar lideranças 
femininas e que tenham olhar feminino, independentemente 
do gênero. Desde o surgimento, a ONG já capacitou milhares 
de pessoas e segue presente, com embaixadoras e embaixa-
dores, em 13 países, entre eles o Brasil. 
O Chicas oferece mentoria profissional e também ajuda suas 
integrantes nos processos de bolsas de estudos ao redor do 
mundo, para que elas possam aprender sobre liderança em 
diferentes lugares e ter experiências que auxiliem nos seus 
próprios negócios. “No Chicas não há uma pessoa que manda 
e outras que obedecem. A ideia é que seja um processo colab-
orativo, uma rede social, com a diferença que as pessoas se 
conhecem pessoalmente e fazem projetos juntas. Queremos 
mudar a maneira como se pensa o mundo: tu podes porque 
tu queres, muitas das coisas só dependem de ti e da tua 
vontade”, explica Mariana. 
Embora pareça algo muito simples e, ao mesmo tempo, pouco 
tangível, o trabalho do Chicas Poderosas trata de algo funda-
mental para a mulher nos meios jornalístico e empreendedor: 
a rede de suporte. Redações são ambientes com espaços de 
liderança ocupados, em sua maioria, por homens, assim como 
o campo do empreendedorismo. Ao mesmo tempo, é histórica 
a necessidade de que mulheres criem espaços para apoiarem e inspi-
rarem umas às outras, já que a sociedade, em muitos momentos, 
impõe uma certa agressividade entre elas. Ao aproximar mulheres 
que podem indicar o caminho daquelas que precisam dessa orien-
tação, o Chicas fortalece o jornalismo, e não apenas as mulheres.
“Não podemos forçar ninguém a aumentar a sua ambição, mas as 
Chicas Poderosas inspiram, motivam e são uma rede, uma base 
de apoio para qualquer pessoa. Uma mulher ajuda outra mulher e 
juntas são mais poderosas”, diz Mariana.
Por aqui, a iniciativa lidera um dos programas mais promissores 
desse próximo ano: o New Ventures Lab, uma espécie de incubadora 
de novos negócios digitais liderados por mulheres que vai durar 17 
semanas. Dez projetos foram selecionados entre 42 inscritos, e há 
iniciativas de Brasil, Equador e Peru. Também para este ano, Mariana 
planeja um projeto colaborativo de checagem para o processo eleito-
ral, com formato ainda a ser definido.
Se você pensa que design é para móveis, carros e utensílios 
em geral ou que, no máximo, serve para decorar sua casa, 
senta aqui e vamos conversar um pouquinho. Você está en-
ganado. E Nómada, da Guatemala, é uma prova disso. A revista 
digital fundada por Martín Rodríguez Pellecer em 2014 é um 
dos principais exemplos de iniciativa jornalística inovadora 
e bem sucedida da América Latina, porque alia conteúdo 
relevante em formato pensado de acordo com o impacto 
pretendido e modelo de negócio sustentável - e tudo isso está 
baseado no princípio de que “o design não é apenas estética, 
mas uma forma de ver o mundo”.
A frase é da diretora-executiva de design de Nómada, a 
designer gráfica Lucía Menéndez. Ela é responsável por definir 
qual o melhor formato de apresentação das narrativas que 
a revista digital se dispõe a contar - em geral, ligadas ao 
tema dos direitos humanos. Nómada baseia seu trabalho em 
princípios como independência e transparência, comuns a 
outras organizações jornalísticas, mas também defende que 
seu trabalho seja guiado por valores filosóficos como otimismo 
e feminismo - algo bem inovador para quem está acostumado 
com a mídia brasileira. 
Quanto aos formatos, não há regra: podem ser conteúdos em 
texto, foto, vídeo, posts no Facebook ou mesmo um Stories 
no Instagram, mas o certo é que serão guiados pela estética e 
pela excelência, uma marca da equipe audiovisual de Nómada. 
E para comprovar que “bonitinho, mas ordinário” está muito 
longe de ser uma regra, a revista tem um forte compromisso 
com o jornalismo investigativo: teve papel importante na de-
tenção do presidente guatemalteca por corrupção em 2015 e 
foi reconhecida entre os finalistas do tradicional Prêmio Gabriel 
García Marquez em 2017.
Como modelo de negócio, mais um exemplo positivo: recente-
mente, a revista criou uma espécie de agência, onde produz 
conteúdo para marcas, no qual imprime a qualidade já 
conhecida de seu trabalho em vídeo e em gráficos. Também 
abriu uma campanha de financiamento coletivo. Esses são 
alguns dos formatos de rentabilização do negócio jornalístico, 
que é sustentado, ainda, por eventos - de debates acadêmi-
cos a feiras de rua e festas - e por uma sociedade anônima 
formada por 20 sócios.
Um dos grandes destaques para observar neste ano é a evolução do 
projeto Volcanica, um espaço digital para se discutir feminismo na 
América Latina, idealizado por Nómada, mas gerenciado pela colom-
biana Catalina Ruíz-Navarro, que vive no México. 
O feminismo aliás, é uma das bandeiras mais caras à revista digital 
e faz parte da defesa ferrenha feita por Pellecer de que o princípio de 
Nómada é levar informação a todas as pessoas, no melhor formato 
para elas - sem esquecer da parte lúdica e divertida da vida. 
“Acredito que esta vocação é um aprendizado, e creio que outro 
aprendizado é que a vida pode ser tentar mudar o mundo de segun-
da a sexta-feira, e desfrutar a vida de sexta a domingo.”
Em 2013, em um crowndfunding que durou apenas oito dias, o 
De Correspondent conseguiu arrecadar US$ 1,7 milhão para se 
colocar de pé na Holanda. Neste site, os jornalistas - 21 fixos 
e cerca de 75 freelancers - não escrevem sobre o que está 
acontecendo, mas sim sobre temas pelos quais se interessam. 
Eles compartilham com a rede de associados esses assun-
tos e esperam que os leitores enviem perguntas, sugiram 
abordagens e contribuam para que a reportagem responda às 
dúvidas de quem se interessa por aquele tema. Pode soar es-
tranho, mas é o melhor exemplo do sistema de financiamento 
por associação existente hoje.
O princípio mais atrativo do De Correspondent é essa colabo-
ração baseada em uma relação de confiança construída entre 
o veículo e os leitores. No lugar do apego ao factual entra a 
interação com os associados, que se torna parte do trabalho 
de quem escreve. 
“Transformamos esses leitores em leitores mais leais. Quando 
eles participam, isso leva a um vínculo mais forte entre o jor-
nalista e o leitor”, explica o atual editor do De Correspondent, 
Ernst-Jan Pfauth. 
E no lugar dos anúncios, os valores pagos por quem é sócio do 
site e ajuda nessa tomada de decisões. Hoje, os cerca de 60 
mil associados investem US$ 63 anuais para participar desse 
círculo de confiança. 
O modelo funciona no mercado holandês (que tem 17 milhões 
de pessoas) e, agora, tenta se expandir para o americano 
(com 325 milhões de pessoas), com o auxílio do professor Jay 
Rosen, da New York University, no The Membership Puzzle 
Project. Esse projeto vem mapeando a forma como os america-
nos lidam com programas de associação de todo tipo e pesqui-
sando como eles se adaptam a modelos de contribuição, as 
duas frentes necessárias para o sucesso do De Correspondent 
na Holanda. Além disso, tem estudado os pontos-chave do 
negócio holandês para replicá-lo nos Estados Unidos, o que 
deve acontecer neste ano, no The Correspondent. 
Os princípios editoriais da parte americana do projeto já foram 
compartilhados com o público, que também está sendo convidado a 
contribuir com dúvidas e considerações.
Rosen é um dos professores mais respeitados no meio acadêmico 
ligado ao jornalismo americano e apoia a iniciativa do De Correspon-
dent por crenças pessoais, segundo ele: “Porque eu acho que eles 
sabem o que estão fazendo. Porque eles têm as prioridades certas. 
Porque o jornalismo americano precisa se abrir para o exterior. 
Porquea produção de notícias de interesse público não pode ser 
bem sucedida sem a reprodução da confiança nas pessoas que estão 
criando essa notícia.” Será que ele estará certo?
Não temos nenhum motivo para pensar que a propagação de notícias falsas 
será evitada de alguma forma durante as eleições deste ano no Brasil. Isso é 
uma das preocupações que tomam conta das redações e dos projetos jor-
nalísticos que surgem no país neste momento, porque se sabe o quanto é 
difícil evitar que esse tipo de (má) informação circule e influencie o eleitorado 
em tempos de polarização extrema, como a que vivemos. Por isso é importante 
falar sobre o CrossCheck, o projeto apoiado pelo Google e pelo Facebook que foi 
fundamental no processo eleitoral francês no ano passado.
O consórcio reuniu 37 redações da França e da Inglaterra que checavam infor-
mações sugeridas pelos próprios eleitores - foram mais de 500 sugestões, 60 
delas verificadas e publicadas em um site específico para a eleição. O objetivo 
era conferir se conteúdos que circulavam em redes sociais eram verdade. Boa 
parte deles não era. Por exemplo: em determinado momento, apareceu uma 
história sobre uma pesquisa feita pela esposa de Emmanuel Macron no Twitter 
que teria indicado uma preferência dos eleitores por Marine Le Pen. Equipes 
do CrossCheck verificaram que a imagem tinha sido fabricada. E assim fizeram 
com outras informações que surgiam todos os dias em buscas no Google ou no 
Facebook.
O princípio do CrossCheck está ligado ao fact-checking - e exige que as 
próprias redações envolvidas chequem as informações umas das outras -, 
mas o projeto se difere um pouco das agências de checagem, que costumam 
trabalhar mais com declarações dos políticos ou documentos registrados 
por eles. O grande objetivo do CrossCheck é evitar a propagação dos boatos 
na internet, ou seja, aquela mensagem falsa que chega pelo grupo da família 
ou dos amigos pelo WhatsApp, ou que alguém compartilha e aparece na sua 
timeline no Facebook - a.k.a hoax. O monitoramento dessas histórias também 
é feito com ferramentas como NewsWhip, CrowndTangle e Google Trends, que 
permitem ver o que está sendo mais compartilhado em diferentes plataformas 
e redes sociais.
Ainda que não saibamos exatamente as redações que estarão no CrossCheck 
brasileiro, já é certo que ele existirá. Reuniões têm acontecido com grandes 
veículos do país para que um trabalho semelhante seja desenvolvido por aqui 
a partir da metade do ano. A iniciativa brasileira também será comandada pelo 
First Draft, por meio da jornalista Claire Wardle, e conta com o apoio do Google e 
do Facebook.
O irmão brasileiro do The Trust Project está em gestação. A iniciativa por aqui 
segue os passos da americana, um consórcio de 70 veículos jornalísticos que 
pretende combater as notícias falsas e as bolhas de informação. Para isso, usa 
estratégias e indicadores que norteiam a produção das notícias e que têm 
por objetivo diferenciar o jornalismo de credibilidade da grande quantidade de 
informação que circula nos meios digitais. Esses indicadores serão replicados 
no modelo brasileiro e já estão descritos no Manual da Credibilidade.
O consórcio do Brasil tem cerca de 20 veículos jornalísticos, entre jornais, revis-
tas, sites, agências de checagem e a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo 
Investigativo). Vai desde Folha de S.Paulo e O Globo até as revistas piauí e Nova 
Escola, passando por jornais locais, como Zero Hora e Gazeta do Povo, por sites 
como Nexo e Poder360 e pelas agências de checagem Lupa e Aos Fatos. 
O projeto tem discutido os protótipos para sua implementação, ou seja, as 
marcas visuais que esses publicadores usarão para mostrar que fazem parte 
desse consórcio e que seguem suas indicações em busca de uma 
informação mais qualificada. 
“Tornar a informação qualificada mais visível é a missão do Projeto Credibili-
dade. Dessa forma nós acreditamos também estar contribuindo para a democ-
racia”, diz a jornalista Angela Pimenta, presidente do Projor (Instituto para o 
Desenvolvimento do Jornalismo) e uma das coordenadoras do projeto. Além do 
Projor, a Unesp e a Universidade Santa Clara, dos Estados Unidos, que também 
lidera a versão americana, estão à frente do 
Projeto Credibilidade. O patrocínio é do Google. 
Defender a credibilidade do jornalismo é uma obrigação para qualquer pessoa 
que trabalhe com isso. A grande dúvida aqui é: até que ponto um consórcio 
com veículos escolhidos e que se intitulam realizadores do “jornalismo de 
credibilidade” contribui para a pluralidade da área? De que forma isso não se 
transforma em um monopólio? Como não prejudica iniciativas incipientes ou 
jornalistas em início de carreira? 
Esperamos que as respostas para essas perguntas sejam dadas conforme o 
projeto avança, o que vai acontecer neste ano. Também para se observar é a 
influência que essa certificação terá na cobertura do processo eleitoral nos 
veículos que integram o consórcio.
Um botão pode salvar o jornalismo? Para os criadores do Libre a resposta para 
essa pergunta é sim. O Libre é uma ferramenta adaptável a qualquer site que 
permite que, com um clique, o leitor faça doações de valores a quem produz o 
conteúdo que ele acabou de consumir. 
Como leitor, é preciso fazer um cadastro e pagar um valor mensal, como uma as-
sinatura. Mas essa assinatura não permite que você leia apenas um jornal, ou um 
site, ou uma revista. Com o valor pago, é possível consumir artigos de diferentes 
locais. Para quem produz conteúdo, o sistema pede um cadastro, pelo qual se 
acessa a plataforma e se recebe orientações para utilizar o Libre. A partir daí, os 
valores ganhos são destinados a quem escreve (ou fotografa, ou faz vídeo, ou 
usa de qualquer outro meio jornalístico digital para se comunicar), e é possível se 
cadastrar como veículo ou como jornalista.
O Libre, diferentemente do Blendle, não faz curadoria nem coloca os conteúdos 
dentro de uma plataforma própria. Ele é um botão mesmo, inserido no sistema 
utilizado por quem publica o conteúdo. Isso tem uma vantagem: atrai o público 
para dentro do ambiente do produtor, o que incentiva a navegação dentro do 
próprio site, ainda que o sistema de pagamento não seja proprietário - a tendên-
cia é de que um mesmo usuário consuma mais conteúdos em um determinado 
site em vez de ficar pipocando por conteúdos soltos que aparecem na timeline 
do Facebook, por exemplo. Em termos de métricas, isso aumenta o número de 
páginas consumidas por sessão, um indicativo importante de fidelidade do leitor.
Para quem lê, a vantagem é bem simples: poder consumir conteúdo de vários 
locais com uma única assinatura. Porque por mais baratas que sejam as assi-
naturas digitais dos grandes jornais (o que não é regra) e por menor que seja o 
valor que um leitor se disponibiliza a pagar (ou doar) para quem produz de forma 
independente, é chato ficar gerenciando tudo isso.
Além do dinheiro, o Libre também entrega aos publicadores relatórios completos 
sobre os apoios recebidos. A intenção é criar novas métricas que permitam não 
olhar apenas para pageviews, likes e retuítes, mas sim criar uma relação mais 
próxima com quem lê. “Embora likes e compartilhamentos determinem a nova 
relevância, eles não criam uma relação direta entre audiência e retorno finan-
ceiro”, explicam os coordenadores do projeto Bruno Torturra, do Estúdio Fluxo, 
Ariel Kogan, da Open Knowledge Brasil, e Thiago Rondon, da AppCivico. 
 
Ainda há pouquíssimos publicadores que utilizam o Libre e isso faz parte da 
estratégia da ferramenta. Mas a expectativa é de que em 2018 esse número 
cresça. A equipe já está recebendo pré-cadastros de jornalistas e de veículos e 
também está contatando redações vistas como potenciais clientes do Libre.
O jornalismo se criou em meio a uma cultura de concorrência. Nenhum repórter 
gosta de levarum furo - por isso, e por outros motivos, além de estarmos sempre 
buscando informações inéditas e atualizadas, estamos sempre de olho no que os 
outros estão fazendo. A cultura da concorrência estimula um jornalismo melhor, 
mas, durante anos, impediu que outra cultura ganhasse espaço: a da colaboração.
O Project Facet nasce justamente para facilitar que as redações trabalhem de forma 
colaborativa: é um painel de comunicação on-line, onde se pode agendar reuniões, 
compartilhar arquivos, acompanhar o fluxo de trabalho da equipe e editar conteúdos 
em conjunto. Quem idealizou isso foi a jornalista Heather Bryant. Ela desenvolve 
a ferramenta desde 2015, quando ganhou uma bolsa e investiu todo seu tempo 
pesquisando e conversando com pessoas sobre como trabalhar de forma colaborati-
va no jornalismo.
Heather trabalhava no Alasca, onde não há grandes redações. Isso, de certa forma, 
obrigava os veículos a trabalharem uns com os outros, já que era impossível que 
uma mesma equipe cobrisse todos os acontecimentos. Mas gerenciar as parcerias 
era difícil, ainda que utilizando e-mail, arquivos na nuvem ou mesmo ferramentas 
como Trello e Slack. Além da dificuldade histórica da colaboração, a tecnologia dificul-
tava o processo, porque as ferramentas não se mostravam tão adequadas assim.
Algumas redações se mostraram dispostas a testar uma versão beta, mas ainda há 
ajustes de segurança a serem feitos, segundo Heather. Ela também planeja transfor-
mar o projeto em uma ONG para auxiliar os jornalistas nesse processo de trabalhar 
em parceria e seu foco é facilitar o trabalho para quem efetivamente precisa desen-
volver e tirar proveito da cultura de colaboração. 
“Preferiria que mil pequenas redações pudessem colaborar facilmente a poder 
construir uma grande ferramenta para uma grande redação”, diz ela. Ainda que não 
esteja em uso, é possível especular formatos para os quais o Project Facet seria 
ideal. Investigações como os Panama Papers ou Paradise Papers, que envolvem 
muitas equipes de diferentes locais do mundo, seriam facilitadas em muito com uma 
ferramenta assim. Consórcios para coberturas específicas - eleições, por exemplo, já 
que estamos de olho em 2018 - também. 
A possibilidade de compartilhar arquivos e de editar conteúdos em parceria de forma 
simultânea seria uma mão na roda para quem estivesse produzindo esse conteúdo. 
Vem, Project Facet!
Atire a primeira pedra quem nunca recorreu ao Medium para publicar um textão. 
Desde 2012, o publicador é utilizado por quem não tem um site próprio, mas quer 
falar pro mundo o que pensa mesmo assim. E deu certo. E é lucrativo. Mesmo sem 
espaço para propagandas, o Medium mantém equipes próprias e remunera autores 
para escreverem sobre determinados assuntos. E é possível achar de tudo lá: de 
jornalismo a medicina, de gastronomia a artesanato. 
No ano passado, a empresa anunciou que estava abrindo seu sistema de pay-
wall para quem quisesse usar. A partir daí, qualquer um que use o Medium pode 
colocar uma barreira em seus artigos e cobrar pelo próximo clique. Mas vamos lá: 
a assinatura é para todo o sistema e não para ler os artigos de um único autor. Ela 
custa cerca de R$ 15 e permite acesso a tudo que é publicado e esteja sob esse 
paywall. O valor recebido por quem escreve é calculado sobre uma série de fatores 
(há o “aplauso”, por exemplo, algo como o like, um indicador utilizado pelo Medium 
para medir o quanto os usuários valorizam determinado conteúdo) e todas as 
publicações pelas quais os autores pretendem cobrar devem seguir diretrizes de 
conteúdo - não pode cobrar por artigos patrocinados, por exemplo, ou por cópias 
de conteúdos de outros portais. Ou seja: não é tão simples como pareceu em 
algum momento.
Mas, como tudo, há o lado positivo: para quem se aventura na produção de conteú-
do de forma independente, a facilidade de publicação do Medium é uma vantagem 
enorme, que parece virar um bom negócio aliada à possibilidade de cobrar por esse 
conteúdo. Só o fato de não precisar desenvolver um sistema de publicação (ainda 
que seja uma simples customização do Wordpress) já é um alento - e se você 
alguma vez já chegou nesse ponto no seu negócio, sabe bem do que falamos.
O lado negativo: o Medium não tem uma base grande de assinantes. E restringir 
o seu conteúdo a essa base não parece algo atrativo. É claro que a empresa está 
trabalhando para que essa “carteira de clientes” cresça em 2018, a ponto de tor-
nar o negócio sustentável. O principal objetivo, segundo os fundadores, é manter 
a plataforma sem a necessidade de publicidade, como sempre foi. Essa justificativa 
está muito próxima da utilizada pelos grandes jornais para estabelecer suas 
políticas de cobrança por conteúdo. Estaria o Medium seguindo o mesmo caminho?
Para quem consome o conteúdo do Medium, a vantagem é ter mais publicações de 
qualidade para ler. Mas convenhamos: é mais uma conta - ainda que pequena - a 
se pagar. 
Quem previa 2017 um ano fértil para o jornalismo colabora-
tivo não se decepcionou. Após experiências como a Election-
land e os Panama Papers, outras iniciativas bem-sucedidas 
como o CrossCheck, os Paradise Papers, o Documenting Hate 
e o On The Ground trouxeram ainda mais inspiração para 
o trabalho em rede. No Brasil, vimos nascer o Festival 3i de 
jornalismo independente, resultado da construção coletiva 
entre oito veículos: BRIO, Nexo, Agência Pública, Lupa, Ponte, 
Nova Escola, Jota e Repórter Brasil.
Essa mentalidade vai de encontro ao que as redações his-
toricamente estão acostumadas, principalmente nos jornais: 
competir. A concorrência pela notícia em primeira mão e 
exclusiva, a contagem (e cobrança) interna nas redações dos 
furos dados e tomados e os painéis de flashes das agências 
de notícias disputando por milésimos simbolizam a mental-
idade do “cada um por si”. Empresas jornalísticas não estão 
acostumadas a cooperar por coberturas e investigações.
Parte disso tende a mudar - pelo menos no jornalismo 
menos tradicional. Além de gerar bônus nas forças de cada 
redação, a cooperação tapa buracos e fraquezas. Ela visa 
complementar os recursos de cada organização e maximizar 
o impacto do conteúdo produzido. Parcerias são ainda mais 
efetivas quando capazes de prover algo que não poderia ser 
feito sozinho, ou por apenas uma redação.
Na América Latina, por exemplo, a rede formada por O Globo 
(Brasil), La Nación (Argentina), IDL-Reporteros (Peru), Arman-
do.info (Venezuela), La Prensa (Panamá), Quinto Elemento 
Lab (México) e Sudestada (Uruguai) continua cobrindo a 
Lava Jato no continente de forma colaborativa.
O modelo de consórcio jornalístico formado para investigar 
um tema específico tende a ser ampliar. Temos pela frente 
um “ano par” (megaeventos esportivos seguidos de eleições: 
terror e oportunidade para muitos jornalistas), um prato 
cheio para quem se dispuser a inovar em projetos que pos-
sam ser executados coletivamente. 
Um recurso cada vez mais explorado pelos jornalistas no 
mundo todo, mas ainda pouco compreendido por boa parte 
dos comandos das redações no Brasil. Se por um lado tive-
mos ótimos exemplos recentes de números apresentados 
com criatividade, como nos gráficos da música brasileira da 
Folha ou no mapeamento dos roubos de celular em São Paulo 
do Estadão, por outro, muito conteúdo rudimentar continua 
a ser produzido. 
Mas pode ser que a disposição para integrar mais dados 
ao texto acabe tropeçando na mentalidade do impresso 
ainda relutante em se desligar das redações. Eventualmente 
infografias mais avançadas tornam complicado algo que pode 
ser contado com uma visualização estática. “Quando isso 
acontece, vejo uma prevalência do design sobre a narrativa 
jornalística”, diz Fábio Vasconcellos, um dos jornalistas por 
trás do interativo Mapa das Coligações, publicado pelo O 
Globo em 2016.Numa época em que tempo e recurso são 
escassos, é preciso dosar os esforços. Às vezes, os gráficos 
em pizza servem bem, sim.
O Nexo entendeu que muitas histórias precisam ser dis-
cutidas e trabalhadas também com os próprios designers 
e desenvolvedores, que representam cerca de metade de 
sua equipe. A página inicial do site do veículo revela por si 
o apreço pela infografia. Não à toa, foi o vencedor do Online 
Journalism Awards 2017 na categoria “excelência geral em 
jornalismo on-line – pequenas redações”.
Algumas equipes ainda não conseguiram assimilar a 
diferença de uma reportagem com dados de uma reportagem 
de dados. “Parece algo simples, mas é uma mudança de 180 
graus”, diz Vasconcellos. “Quando isso for compreendido, vão 
perceber o valor e o peso do jornalismo de dados não para 
mobilizar audiências massivas, mas para qualificar a sua 
marca, atrair leitores que de fato estão ou estarão dispostos 
a pagar pela assinatura do veículo.”
Com as redações enxutas e jornalistas tendo que desem-
penhar multifunções, automatizar processos que ninguém 
quer executar repetidamente não é mais um diferencial - é 
quase um imperativo. Em vez de pesquisar diariamente na 
internet sobre qualquer assunto, por que não programar 
o Google Alerts para te mandar um e-mail sempre que o 
determinado termo for citado por aí? Ou otimizar buscas 
e interligar diferentes aplicativos com um único clique no 
Pluga, Zapier ou IFTTT? Existem até mesmo recursos no 
Twitter para te mandar notificações logo que um perfil 
selecionado tuitar qualquer coisa. Parece exagerado? Bem, 
isso talvez seja o suficiente para render um furo.
Com tantas fontes de informação disponíveis e pouco 
tempo para vasculhá-las diariamente, programar robôs 
é capaz de “aumentar as horas” do seu dia. Até mesmo 
repórteres mais analógicos podem encontrar suas próprias 
pautas sem muita familiaridade com o meio digital. Hoje 
em dia, existem muitas possibilidades de automatização 
sem precisar escrever uma única linha de código. 
Organização e planejamento, os melhores amigos da 
entrega no prazo, podem igualmente ser aprimorados 
por meio de plataformas como Slack, Asana e Trello. Além 
de permitirem uma ótima visualização do andamento das 
suas tarefas e serem capazes de se alimentar automati-
camente com outros tipos de conteúdo, são próprios 
para a cooperação, integrando incumbências de toda uma 
equipe. O quadro de post-its no meio da redação respira 
por aparelhos.
A tendência tem sido delegar a robôs tudo o que pode ser 
feito por eles. E essa gama de atividades-meio “tercei-
rizáveis” se amplia na medida em que novos softwares são 
incorporados à rotina jornalística. Além de possibilitar 
fazer mais e melhor em menos tempo, automatizar 
funções abre espaço para que jornalistas se dediquem às 
tarefas mais interessantes e importantes para as quais 
nós, por enquanto (ufa), somos insubstituíveis.
Diversificar as receitas: solução ou sintoma? Para alguns, 
uma decisão estratégica para escapar da crise do 
jornalismo. Para outros, uma experimentação preventiva 
em busca de novos caminhos. O fato é que depender so-
mente da publicidade para o próprio financiamento parece 
ter ficado para trás, proativamente ou não. 
Em 2015, pela primeira vez na história, as receitas dos 
jornais no mundo vieram mais da circulação do que da 
publicidade, de acordo com relatório da Associação Mundial 
de Jornais e Publishers de Jornais. E segundo o estudo 
“Ponte de inflexão”, publicado pela SembraMedia em 2017, 
dois terços dos veículos digitais na América Latina geram 
receitas através de três fontes pelo menos. Eventos, 
crowdfunding, treinamentos, assinaturas, consultorias 
e outros tipos de soluções financeiras são cada vez mais 
presentes. Seja no papel ou na internet, os veículos depen-
dem cada vez menos de exposições de outras marcas.
Existem exemplos de mídias bem sucedidas com ou sem 
publicidade, mas os esforços parecem convergir para 
a ampliação de fontes de financiamento. O americano 
Blendle, por exemplo, cujo slogan é “sem paywall, sem 
publicidade, apenas histórias que você vai amar”, apostou 
na curadoria personalizada de conteúdo e tem tido êxito. 
O Jota e o Poder 360, com newsletters pagas e cobertura 
sob demanda, idem.
Um desses esforços passa pela mudança na mentalidade 
das pessoas sobre conteúdo pago, possivelmente surgida 
com o acesso gratuito a todo tipo de material na internet. 
A adesão quase geral dos veículos jornalísticos ao sistema 
de paywall enfrentou a irritação dos leitores virtuais, mas 
a resistência parece estar se amenizando. A métrica de 
sucesso se deslocou da mera audiência, que era o atrativo 
maior para a publicidade, para a audiência cativa, que tem 
na credibilidade o cerne de sua relação com o veículo. Para 
tal, cliques não serão mais suficientes, e sim o engajamen-
to e a confiança que cada jornal conseguirá criar no leitor. 
Você talvez nunca tenha pensado seriamente em 
iniciar um projeto próprio (ou com outras pes-
soas). Mas você certamente, seja como freelanc-
er ou como funcionário de um veículo de comuni-
cação, já pensou, ainda que sem ter dividido isso 
com ninguém, em algo que o jornal, revista, site, 
televisão, rádio que você trabalha seja melhor. 
Em um outro cenário, a plena execução disso 
passa por um processo de design. E, não importa 
sua posição hoje na profissão, dominar design 
de produto é algo absolutamente negligenciado 
pelas faculdades de jornalismo, mas essenciais 
para você conseguir dar um passo autônomo 
num mercado em crise. 
É natural, diante da ausência do design no dia a 
dia do jornalista clássico, que você imagine que 
tem a ver com saber desenhar, diagramar e out-
ras ações gráficas. Sente-se que lá vem bomba: 
não precisa de nada disso. 
Design, de uma forma geral, é um método para 
solucionar problemas. Claro que, para solucionar 
um problema, é possível que em algum momento 
você tenha a necessidade de uma intervenção visual/
gráfica. O que é melhor para a comunicação humana? Um 
tijolão ou um iPhone de última geração?
De qualquer forma, antes disso - mesmo no caso do 
iPhone - vem todo um processo de pensamento que é 
fundamental para você construir o melhor produto pos-
sível considerando aquilo que é a ‘dor’ do seu público - e 
também, claro, a viabilidade operacional e financeira da 
sua ideia. 
Um produto ou serviço é aquilo que resolve algum prob-
lema específico de quem o consome. Dominar o processo 
de design de produto (ou serviço) é reduzir dramatica-
mente o risco de você fazer algo que soa muito bem 
aos seus ouvidos e de outros conhecidos, mas que 
fracassa ao chegar ao público que efetivamente 
deveria consumi-lo. 
Em termos práticos, fique com o seguinte exercício 
para este ano: como o conteúdo jornalístico que 
você consome (vendo, lendo ou ouvindo) pode-
ria ser entregue de forma mais efetiva e gerando 
receita para quem o produz?
Você deve ter ouvido esse termo em algum 
momento em 2017. Provavelmente, você não 
entendeu nada. Se deu uma pesquisada a 
respeito, deve ter saído ainda mais confuso. 
Realmente, blockchain não é algo simples, 
mesmo para quem é da área de programação. 
Mas saber do que se trata será essencial para 
os próximos anos, conforme 11 em cada 10 
previsões de experts em tecnologia. 
Falou em tecnologia, falou em jornalismo (ou 
ao menos deveria ser assim...). Blockchain hoje 
é associada a bitcoin, a criptomoeda que está, 
neste janeiro em que escrevemos este texto, 
sendo negociada a preço de diamantes. Mas, 
além de a bitcoin ser apenas uma das tantas 
criptomoedas existentes e de eventualmente 
ser uma bolha a ser estourada em breve, o 
sistema de blockchain veio pra ficar. 
Cedo ou tarde, o jornalismo vai mergulhar 
nisso. Alguns já estão de escafandro (veja 
abaixo), mas muitos ainda nem sabem do quese trata. Se você vê valor no jornalismo colabo-
rativo ou no potencial de iniciativas independentes como 
produtoras de conteúdo original... bem, dá uma analisada 
no potencial do blockchain para o jornalismo. 
Pra resumir. Blockchain é uma cadeia de blocos (oooh) 
extemamente segura. Cada bloco é composto por infor-
mações. Qualquer alteração, por mínima que seja, afeta 
todos os outros blocos da cadeia. E essa sequência de 
blocos pode, em tese, ser infinita. 
Abstrato demais, sabemos. As referências ao lado vão 
ajudar a você entender de vez o que diabos é isso. Mas, 
em termos mais práticos para o jornalismo, imagine uma 
reportagem produzida a 300 mãos, em cinco continentes. 
Com blockchain envolvido, isso é possível sem ser nec-
essariamente um pesadelo. Ao eliminar intermediários, 
também torna-se mais viável para iniciativas inde-
pendentes estabelecerem relações mais diretas com 
seus públicos. 
Não se preocupe se você não sabe programar. Neste 
momento, 2018, o essencial é você captar o conceito 
e ser capaz de fazer o design de produtos que even-
tualmente explorem essa tecnologia. 
A aprovação da reforma 
trabalhista gerou barulho, 
mas o problema prático 
começou apenas em novem-
bro passado. Ou seja, ainda há 
muito o que ser acompanhado 
em relação aos abusos (ou 
eventualmente a simples 
aplicação do que agora virou 
lei) na relação entre patrões e 
empregados. No fim de 2017, 
já vieram à tona casos em-
blemáticos de demissões em 
massa e decisões na Justiça 
trabalhista que obrigaram 
ex-empregados a pagarem 
uma fortuna porque perderam 
a ação que moveram contra 
seus ex-patrões. Monitorar 
o mercado de trabalho e os 
novos processos trabalhistas 
será garantia de pauta boa. 
A Lava Jato desacelerou, ao 
menos a parte policial da 
operação. Agora o jogo é na 
Justiça. E ali, com exceção 
da primeira instância, 
o ritmo é lento. O STF já 
mandou arquivar parte das 
denúncias oferecidas contra 
autoridades e a Turma que 
analisa os recursos está 
pendendo para o lado mais 
“garantista”. Há movimen-
tos contra delações pre-
miadas e chance altíssima 
de o STF rever sua decisão 
de autorizar execução de 
pena após condenação em 
segunda instância. Pode ser 
a hora de cobrir o enterro da 
operação. 
O grande acontecimento 
do ano no Brasil são, claro, 
as eleições. Desde 1989, a 
disputa nunca esteve tão 
aberta. É impossível, no 
começo deste ano, cravar 
quem será candidato a 
presidente. E ainda tem 
as disputas estaduais. A 
sociedade está polarizada 
e naturalmente a disputa 
eleitoral irá aprofundar 
isso. As oportunidades 
mais ricas de pauta estão 
relacionadas, além de in-
vestigação sobre os candi-
datos, a entender o eleitor 
brasileiro. Isso vai envolver 
ir para as ruas com colete à 
prova de preconceitos.
Como se diz por aí, a direita 
saiu do armário. O discurso 
conservador ganhou força, com 
respaldo em uma parcela grande 
da sociedade. Além de Jair 
Bolsonaro, que tende a capi-
talizar eleitoralmente boa parte 
desse sentimento, há também 
os movimentos surgidos a partir 
de 2013, com pregação contra o 
PT, mas que estão conquistando 
espaço no Legislativo e no poder 
de uma forma geral. Este ano 
será ainda mais importante 
acompanhar o avanço (ou 
estagnação) do MBL. Em paralelo 
a isso, há também outros mov-
imentos de renovação política - 
via de regra mais progressistas 
- que também serão colocados 
a prova neste ano. Entender o 
que esses atores pretendem é 
obrigação do jornalismo.
O Supremo Tribunal Federal 
tem mais um ano de decisões 
importantes pela frente. A 
atual presidente da corte, Cár-
men Lúcia, já deixou claro que 
vai privilegiar o julgamento de 
temas que tenham impacto 
social. Na lista está a decisão 
sobre eventual descriminal-
ização do aborto no país. O 
caso está em fase avançada e 
tem grandes chances de ir a 
julgamento neste ano. A ex-
pansão dos direitos da mulher 
segue sendo uma questão em 
aberta, em paralelo ao avanço 
de uma onda conservadora. A 
descriminalização das drogas. 
Embora o julgamento tenha 
começado, o caso foi parali-
sado por pedido de vista de 
um ministro que é declarada-
mente contra a liberação.
A velocidade com que você 
baixou este Anuário no seu 
computador pode se tornar 
mais lenta em breve - ou, 
caso queira mantê-la, terá 
de pagar mais por isso. 
Aprovada recentemente nos 
Estados Unidos, o fim da 
chamada neutralidade da 
rede é assunto altamente 
delicado e pode ter impacto 
inclusive sobre o consumo 
de jornalismo nas redes. 
No Brasil, embora o gover-
no diga ser politicamente 
contra mudança de regras 
de cobrança pelo acesso à 
internet, as operadoras já 
avisaram que usarão o caso 
americano como precedente.
E já se foram quatro anos 
desde o 7 x 1. O Brasil 
volta confiante à Copa do 
Mundo, e ainda lidando com 
os resultados de devassas 
recentes aplicadas pela 
polícia na CBF, na Fifa e 
no mundo do futebol em 
geral. Ainda tem água por 
rolar, mas os jornalistas 
que cobrirão o Mundial 
têm o dever de olhar não 
apenas para o campo, mas 
também para o que segue 
acontecendo fora dele. O 
business do futebol segue 
gerando muito dinheiro e, 
no mundo de hoje, não dá 
para ignorar que a seleção 
é brasileira, mas é da CBF.
Que o Brasil é um país violento, 
isso é aula de “brasilidade 101”. 
Mas estamos acompanhando, 
sem saber o que fazer a res-
peito, um crescimento do crime 
organizado. Não que estejamos 
perto de uma cartelização a la 
México, mas o cenário é sombrio 
de qualquer maneira. A violência 
dentro de presídios é apenas a 
ponta ‘confortável’ para quem 
está de fora, mas ela esconde 
uma guerra ainda sem fim 
previsto entre PCC e Comando 
Vermelho, com avanços por 
Estados antes menos confla-
grados. No Rio de Janeiro e São 
Paulo, então, nem se fala. É 
necessário que os jornalistas 
passem a tentar com mais 
afinco examinar a economia do 
crime e entender a linha e cadeia 
de comando dessas facções.

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