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Aula VI Crisedosanos80

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Aula VI – A crise dos anos 80 - A interrupção do financiamento externo e as políticas de ajuste.
1. O segundo choque do petróleo e o choque de juros americano
Em 1979, a revolução islâmica no Irã causou forte redução da oferta de petróleo por parte daquele país, um dos principais produtores da commoditie. Como resultado, o preço do petróleo mais que dobrou, no que ficou conhecido como o segundo choque do petróleo, o primeiro havia sido em 1973.
Nos Estados Unidos, nos anos após o primeiro choque do petróleo, a inflação subiu e chegou a ficar acima de 10%. Além, disso, o dólar vinha perdendo valor em relação a outras moedas desde a adoção do câmbio flutuante, em 1973. No final de 1979, a reação do novo presidente do FED, Paul Volcker, foi elevar fortemente as taxas de juros.
Assim, o Brasil que vinha acumulando volumosa dívida externa nos anos anteriores, para sustentar o crescimento econômico e os investimentos no segundo PND, enfrentou dois choques externos conjuntos que acabaram com décadas de crescimento rápido da economia brasileira.
2. As tentativas de sustentar o crescimento em 1979 e 1980
Em 1979, Mário Henrique Simonsen assumiu o ministério da Fazenda, e procurou centrar-se em mecanismos de controle da demanda agregada, tanto para reduzir as taxas de inflação quanto o déficit externo, porém, em poucos meses, perdeu o apoio político para implantar medidas restritivas e foi substituído, no comando da economia, por Delfim Netto.
Delfim defendeu a idéia de combater a inflação, mas mantendo o crescimento econômico. Assim, foram adotados:
. Controle sobre as taxas de juros
. a expansão do crédito para a agricultura
. aceleração dos reajustes das tarifas públicas
. estímulos à captação externa.
. maxidesvalorização cambial de 30%, em dezembro de 1979.
. prefixação da correção monetária em 50% e da correção cambial em 45%, para 1980.
. Instituição da semestralidade dos reajustes salariais, bem como reajustes diferenciados por faixas de salários.
Como resultado, a taxa de inflação quase dobrou de 1979 a 1980, chegando a perto de 100%, cresceu o déficit em transações correntes e houve perda de reservas cambiais.
3. As políticas econômicas restritivas de 1981 a 1983
Devido às restrições externas, a política econômica foi direcionada para a redução das necessidades de divisas estrangeiras, através do controle da demanda interna. 
Utilizou-se então de contenção salarial, maior para os salários mais altos, controle dos gastos públicos, aumento da arrecadação, elevação das taxas de juros internas e contração da liquidez real. Mantendo-se incentivos às exportações, energia, agricultura e pequenas empresas.
Em 1981 e 1982, não houve desvalorização real do câmbio, nem se recorreu ao FMI.
Apesar da recessão de 1981, com a primeira queda do PIB desde a segunda guerra mundial, a taxa de inflação não caiu. Isso reforçou a tese inercialista da inflação, que defendia que o mecanismo de correção monetária fazia com que a inflação de um período fosse repassada ao período seguinte, independentemente das condições de demanda.
A balança comercial passou de deficitária, em 1980, para um superávit em 1981, ainda pequeno. O saldo negativo nas transações correntes manteve-se elevado, devido aos gastos com juros da dívida externa.
Em agosto de 1982, o México decretou a moratória de sua dívida externa, com isso os fluxos de capitais privados para a América Latina praticamente desapareceram.
No final de 1982, o governo brasileiro conseguiu levantar recursos externos de emergência, com a participação do governo americano, do BIS e credores privados. Em troca, foi acertado com o FMI um programa de redução das necessidades de divisas externas.
A partir daí o FMI passou a monitorar a condução da política econômica brasileira. O objetivo era conseguir apoio daquela instituição e, assim, dos credores privados, para algum tipo de reestruturação das condições da dívida externa.
Em 1982, o PIB ficou praticamente estagnado, a taxa de inflação manteve-se próxima de 100%, o resultado da balança comercial foi um pequeno superávit, com a queda das exportações sendo compensada pela retração das importações, o resultado das transações correntes piorou.
Em fevereiro de 1983, houve desvalorização do cruzeiro de 30%. 
A política salarial foi alterada para impor reajustes salariais abaixo da taxa de inflação.
Em 1983, o PIB caiu, completando o terceiro ano de recessão econômica, a balança comercial melhorou, com pequena melhora nas exportações e grande queda nas importações. O saldo das transações correntes, ainda negativo, melhorou consideravelmente. A taxa de inflação subiu, aproximando-se de 200%.
A maturação dos investimentos do II PND ajuda a explicar parte da queda nas importações.
4. Recuperação econômica com inflação, em 1984
Em, 1984, a economia dos Estados Unidos começa a recuperar-se. Isso ajuda as exportações brasileiras, principalmente manufaturados.
Houve forte aumento da produção nacional de petróleo, o que, junto com a queda da cotação do barril, ajudou a reduzir as importações do óleo. 
Os impulsos iniciais da recuperação industrial foram a demanda externa e a de insumos para o setor agrícola. Pela primeira vez desde 1977, os termos de troca melhoraram.
A balança comercial teve um grande superávit que permitiu um pequeno resultado positivo nas transações correntes.
O PIB cresceu perto de 6% e a inflação aumentou, chegando aos 200%.
5. Conclusões
O ajuste externo da economia brasileira, dee 1981 a 1984, foi baseado na redução da demanda interna, desvalorização cambial e compressão dos salários. Assim, conseguiu-se elevados superávits comerciais, com grande queda das importações e limitado crescimento das exportações. Em 1984, chegou-se ao equilíbrio nas transações correntes.
A inflação cresceu no período, apesar do quadro recessivo. Ganhou força a tese da inflação inercial.
O setor público reduziu despesas, principalmente investimentos, aumentou receitas e conseguiu reduzir o déficit público, considerando-se o conceito de déficit operacional. Entretanto as despesas financeiras e a dívida interna cresceram consideravelmente.
As grandes empresas brasileiras evitaram grandes perdas financeiras com os efeitos da desvalorização cambial sobre o valor das dívidas contraídas no exterior. Isso ocorreu devido ao processo de estatização da dívida externa e a colocação pelo governo de títulos corrigidos pela variação cambial.

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