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GESTAO DEMOCRÁTICA


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GESTAO DEMOCRÁTICA ESCOLAR: Desafios e perspectivas.
 * Vanuza Cecilia de Oliveira
vanuzaceclia@yahoo.com.br
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* Mestranda em Ciências da Educação ULARE – Universidad La República
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RESUMO: 
O objetivo deste artigo é discutir sobre os processos de gestão democrática no âmbito escolar. Por meio da análise de produções bibliográficas o trabalho traz alguns conceitos básicos sobre modelos de gestão escolar, bem como analisar o seu desenvolvimento organizacional. Apresenta ainda breves considerações sobre a gestão democrática como um princípio de gestão garantido pela legislação brasileira que procura desenvolver a participação e a democratização, contribuindo significativamente no processo educativo. Verifica-se que é possível desenvolver uma gestão democrática pelo meio de ações que possibilitem a descentralização de poder e a participação efetiva de todos que fazem parte da escola no processo educacional, mesmo diante de diversos entraves encontrados.
PALAVRAS CHAVE: Gestão democrática. Modelos de gestão. Desenvolvimento organizacional.
INTRODUÇÃO
	A gestão democrática tem sido alvo de discussões atualmente nos meios acadêmicos e principalmente em diversos sistemas de ensino pelo país. Embora muitas vezes interiorizada uma gestão pautada no tradicionalismo, no conservadorismo. No cenário contemporâneo, a escola é vista como uma organização social, cultural e humana, o que demanda que cada sujeito envolvido tenha o seu papel definido num processo de participação efetiva para o desenvolvimento das propostas a serem executadas. Diante desse pressuposto, o gestor é um dos principais responsáveis pela execução de uma política que promova o atendimento às necessidades e anseios dos que fazem a comunidade escolar.
	Assim, é necessário rever o papel do gestor, cabendo a todos os envolvidos no processo educativo buscar mecanismos de mudança frente às novas perspectivas educacionais no que diz respeito à efetivação da gestão democrática.
	Sabe-se que imprimir um novo modelo de gestão implica uma ruptura de paradigmas tradicionais e desenvolver ações que democratizem a gestão da escola não é tarefa fácil. Tudo isso traz questionamentos e dúvidas quanto ao papel do gestor. Já que um trabalho participativo, autônomo e democrático, envolve todos os segmentos sociais que compõe a escola, e deste modo contribui para o rompimento do autoritarismo que ainda permanece no interior das escolas. 
	É neste contexto que apresento o tema, como relevante aos interessados em fazer uma educação voltada para a integração de todos os atores do ambiente escolar através de uma gestão participativa e democrática.
GESTÃO ESCOLAR: tecnicista ou orgânica?
A gestão escolar está relacionada à atuação dos gestores no processo de organização de todas as condições materiais e humanas de forma a garantir o avanço da efetiva promoção do ensino-aprendizagem. Morgan (1996) afirma que as organizações podem ser classificadas de acordo com o tipo de relações que desenvolvem com os seus empregados. Deste modo, modelo de gestão escolar é a maneira de se conduzir este processo, podendo ser mecanicista ou orgânico. O primeiro refere-se às organizações mais rígidas de gerir, enquanto a orgânica descentraliza a maneira de administrar.
A gestão escolar tecnicista, hoje muito criticada, utiliza-se da racionalização para chegar aos resultados desejados, próprio do capitalismo. A centralização do poder é característica deste modelo, cujo administrador detém o poder centralizador da instituição, na qual não é permitida a participação do corpo escolar. Nesse caso, as especificidades não são consideradas, pois as decisões podem sobrepor as necessidades de todos os envolvidos e opor-se aos reais interesse da educação: a qualidade do ensino. De acordo com Saviani (2008, p. 383), a educação, nesse período, era “concebida como um subsistema cujo funcionamento eficaz é essencial ao equilíbrio do sistema social de que faz parte”. Isto é, uma política de controle e ordem reforça a administração escolar.
A partir dessa concepção, a maneira mecânica de pensar, corroborou com o caráter burocrático, no intuito de promover uma organização de gestão mais eficiente no trabalho. Perpetuando suas raízes e dificultando a entrada de novas percepções organizacionais. Assim, “a forma burocrática de organização foi vista como uma sociedade como um todo, enfatizando a importância das relações meiosfins”. (MORGAN, 1996. P.355).
No modelo de gestão orgânica as organizações e os seus membros são analisados como diferentes conjuntos de necessidades com diferentes padrões de relacionamento permitindo a eles se adaptarem ao ambiente os quais estão inseridos. Nos sistemas orgânicos existe um continuo processo e trocas necessárias com o seus ambientes. E é nesse processo de troca e de interação que há a manutenção da vida e da forma de sistemas. 
Este tipo de organização se autorregulam conforme o ambiente, daí a metáfora de que se comportam como seres vivos. Por serem abertos e flexíveis se adaptam de acordo a situação do momento. Deste modo, apresentam ações mais eficazes e inovadoras, fortalecendo a dinâmica de relacionamento entre as decisões. 
Uma das características marcante é o alto grau de flexibilidade e capacidade de continuar o processo de gestão mesmo com a perda dos membros ou mudança externa, pois todos possuem conhecimento geral do processo produtivo, já que o espírito de equipe prevalece no planejamento estratégico. Nesses moldes a vantagem modifica e melhora totalmente os ambientes e o funcionamento das organizações.
Diante do exposto, as práticas administrativas das organizações mecânicas (burocrática, permanente, rígida, definitiva e baseada na hierarquia e no comando) e orgânicas (flexível, mutável, adaptativa, transitória e baseada no conhecimento e na consulta) vêm sendo adotada nas escolas. Embora, a gestão participativa esteja em voga, a burocrática ainda se sobressai, já que implica uma ruptura nos moldes tradicionais de todos os atores da comunidade escolar. Para melhor entendimento o quadro abaixo apresenta as diferentes características dessas organizações:
	Organizações mecânicas
	Organizações orgânicas
	Estrutura burocrática organizada a partir de uma minuciosa divisão de trabalho;
Centralização das decisões;
Hierarquia de autoridade rígida;
Sistemas rígidos de controle;
Sistema simples de comunicação;
Predomínio da interação vertical: entre superior e subordinado;
Ênfase nas regras, nas normas e nos procedimentos;
	Estrutura organizacional flexível e adaptável;
Os cargos são continuamente modificados e redefinidos;
Descentralização das decisões;
Hierarquia flexível;
Maior confiabilidade nas comunicações informais;
Predomínio da interação lateral e horizontal;
Ênfase nos princípios do bom relacionamento humano;
Fonte: Silva (2005)
Assim sendo, tendo mostrado as semelhanças e diferenças da organização da gestão escolar, destacarei os mecanismos pelos quais se pode construir e consolidar um projeto de gestão democrática na escola.
GESTÃO DEMOCRÁTICA ESCOLAR: garantia de autonomia na escola.
No âmbito educacional, a gestão democrática tem sido defendida como dinâmica a ser efetivada nas unidades escolares, tendo em vista a garantia dos processos coletivos de participação e decisão. É entendida como a participação ativa dos diversos segmentos da comunidade escolar (pais, professores, estudantes e funcionários) na organização e administração dos recursos da escola, ou seja, incide diretamente nos processos decisórios da escola. 
A Gestão democrática deve ser compreendida na administração escolar como atividade de exclusivamente coletiva para promoção de uma educação de qualidade, bem como a compreensão e aceitação da emancipaçãohumana. Deste modo, devemos resaltar que:
A democratização dos sistemas de ensino e da escola implica aprendizado e vivência do exercício de participação e de tomadas de decisão. Trata-se de um processo a ser construído coletivamente, que considera a especificidade e a possibilidade histórica e cultural de cada sistema de ensino: municipal, distrital, estadual ou federal de cada escola. (BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Gestão da educação escolar. Brasília: UnB, CEAD, 2004 vol. 5. p. 25).
	Pensar em democratização implica compreender a cultura e os processos da escola. Além de articular as relações sociais, seus valores, atitudes e comportamento. Isso significa dizer que a escola tem suas contradições e diferenças. Nesse sentido, desenvolver na escola um processo pautado na participação, cooperação e na descentralização poder (decisão partilhada), é necessário exercitar a pedagogia do diálogo, garantindo a liberdade de expressão e respeitando às diferenças numa convivência democrática.
Nesse cenário, rever o papel do gestor é imprescindível. Quem se propõe a assumir a direção escolar precisa desenvolver competências e habilidades no gerenciamento da instituição. Apoiar, manter bom relacionamento, incentivar e administrar os recursos físicos, materiais e patrimoniais são algumas das atribuições de um gestor democrático. Nesse modelo de gestão não se restringe apenas a dimensão técnica, mas também como ato político, pois implica em tomada de decisões de todos os envolvidos, pois o diretor deve dirigir, coordenar e assumir o compromisso para que a escola funcione numa construção coletiva. 
No entanto, PARO (2001) destaca:
Há pessoas trabalhando na escola, especialmente em postos de direção, que se dizem democratas apenas porque são “liberais” com alunos, professores, funcionários ou pais, porque lhes “dão abertura” ou “permitem” que tomem parte desta ou daquela decisão. Mas o que esse discurso parece não conseguir encobrir totalmente é que, se a participação depende de alguém que dá abertura ou permite sua manifestação, então a prática em que tem lugar essa participação não pode ser considerada democrática, pois democracia não se concede, se realiza: não pode existir “ditador democrático”. (p. 18-19)
É imperativo que a comunidade participe de forma efetiva da gestão da escola e assim ganhar autonomia nas discussões e participação nas tomadas de decisões. Para que isso aconteça o gestor deve possibilitar que todos tenham vez e voz, primando pela decisão coletiva. Não basta, entretanto, ter presente a necessidade de participação da população na escola. É preciso verificar em que condições essa participação pode tornar-se realidade (PARO, 2005, p.40).
Deste modo, o papel e a atuação do diretor no contexto educacional não são fáceis, pois é de responsável legal pela instituição, seja ela de competência técnica ou política. Mas sem perder sua competência mediadora para que fortaleça a participação efetiva da comunidade. Somente assim, poderá efetivar a tão sonhada e utópica gestão escolar democrática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No âmbito educacional, a gestão democrática é defendida como mecanismo a ser efetivado nas unidades escolares, tendo em vista a garantia dos processos na participação e decisão coletiva. “A democratização dos sistemas de ensino e da escola implica aprendizado e vivência do exercício de participação e de tomadas de decisão..” (BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Gestão da educação escolar. Brasília: UnB, CEAD, 2004 vol. 5. p. 25). Isto é, um processo construído coletivamente com as especificidades de cada escola.
Nesse sentido, é uma possibilidade de melhoria na qualidade pedagógica das escolas. Por meio dela, a participação e a descentralização do poder passa ser responsabilidade de todos os sujeitos envolvidos com a formação emancipadora da sociedade contemporânea.
Deste modo, diante os inúmeros modos de se gerir uma escola, sem dúvidas onde exista a participação coletiva na tomada de decisões pertinentes à comunidade escolar é a mais valiosa de todas, pois garante a plena autonomia da escola, bem como um espaço adequado para a efetivação de uma educação com qualidade.
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Gestão da educação escolar. Brasília: UnB, CEAD, 2004 vol. 5.
MORGAN, Gareth. Imagens da organização. Trad. C. W. Bergamini, R. Cola. São Paulo: Atlas, 1996.
PARO, Vitor Henrique. Gestão Democrática da Escola Pública. 3.ed. São Paulo, Ática, 2005.
SAVIANI, D. História das idéias pedagógicas no Brasil. 2ª ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2008.
SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira Thonson Learning, 2005.
Artigo de pesquisa apresentado em cumprimento às exigências do Mestrado em Ciências da Educação da Universidad La República - ULARE, para obtenção da nota avaliativa da disciplina Modelo de Gestão Educativa e Desenvolvimento Organizacional, sob a ministração da Profª. Drª. Natalina Ferreira de Souza.

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