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DESENVOLVIMENTO DA ANTROPOLOGIA É no século XX que a Antropologia se constituiu numa disciplina autônoma, caracterizada por técnicas de trabalho próprias e por um domínio específico de pesquisa: as sociedades denominadas primitivas. O aparecimento desta nova ciência do homem assinalou então o resultado de uma evolução bem mais antiga: a descoberta progressiva pela Europa de sociedades não industriais A diversidade de raças e de formas de organização social tinha sido posta em evidência já no século XIII, quando os primeiros grandes exploradores deram a conhecer a Europa oriental à Ásia central. O mais famoso destes, Marco Polo (1254 1324), visitou a China, onde permaneceu dezesseis anos, e iniciou a moda das narrativas de viagem com o livro As Maravilhas do Mundo, que conheceu um êxito perdurável. O interesse pelas sociedades “exóticas” era alimentado e reforçado a partir da Renascença pela expansão mercantil e pela política do capitalismo nascente. Com as expedições militares e comerciais multiplicaram-se as crônicas memórias e narrativas que atraíam a curiosidade dos europeus para os outros continentes No século XVIII prosseguiram. e foram sobretudo coordenados, estes esforços de investigação. As sociedades da Oceania foram descobertas e incluídas na carta do mundo. O Noroeste da Ásia foi explorado metodicamente. Viajantes mergulharam no interior da África para efetuar uma exploração sistemática de regiões desconhecidas Aparição do “bom selvagem” As informações assim reunidas sobre as sociedades não européias renovaram o campo da reflexão filosófica. O tema do “bom selvagem» fez a sua aparição na obra de Diderot (Supplement au voyage de Bougainville), de Bernardin de Saint-Pierre (Paulo e Virgínia), de Rousseau, levando este a uma denúncia do luxo e da civilização moderna (Discours sur l'origine et les fondements de l'inegalité). No mesmo contexto ideológico despontou a nova idéia de uma evolução da humanidade que se teria desenvolvido a partir de um estado natural original até às formas mais complexas da sociedade industrial. Encontravam-se vestígios de tal concepção em Bayle, Condorcet, Montesquieu e nos filósofos ingleses Hobbes e Locke. Entre os principais representantes de um pensamento pre-antropológico em vias de constituir-se terá de se citar igualmente Voltaire, que, pela sua sensibilidade ao pluralismo da cultura, estabeleceu os fundamentos de um verdadeiro relativismo cultural. A palavra “Antropologia” era aliás empregada desde os fins do século XVIII para designar o conjunto das questões relativas à origem, às semelhanças e às diferenças das diversas sociedade então recenseadas. O século XIX prolongou e acelerou o movimento de descoberta das sociedades primitivas. A medida que o Ocidente estendeu o seu domínio sobre zonas cada vez mais vastas do planeta, exploradores, missionários, comerciantes e administradores coloniais acumularam observações sobre os povos recentemente conhecidos ou submetidos. 2 O interesse dedicado à Antropologia levou à criação de sociedades cientificas em Paris (1838) e em Londres (1843). Os primeiros antropólogos eram juristas (como o suíço Johann Jacob Bachofen e o americano Lewis Henry Morgan), médicos (como o alemão Adolf Bastian). administradores ( como os ingleses Henry Sulner-Maine e J. F, Mac Lennan ) . Toda esta geração de investigadores, cujas obras foram publicadas depois de 1850, interpretou à distância os materiais reunidos por outros, colocados como observadores em contato com populações exóticas. Quer dizer que num primeiro período o antropólogo foi essencialmente um compilador, um homem de gabinete, que comparava entre si as informações de que dispunha, de origens diversas, sobre as etnias que se propunha estudar. Esta concepção resultava, por um lado, das teorias do Evolucionismo que dominavam então a reflexão científica. Com base no modelo daquilo que Charles Darwin propunha em Biologia, os antropólogos do século XIX esforçavam-se por estabelecer uma escala das civilizações, cujo escalão mais baixo seria constituído pelas “tribos selvagens” e o escalão mais elevado pelas “nações civilizadas”. Foi a obra de Lewis Henry Morgan que marcou mais profundamente este período da investigação. Este jurista americano demonstrou pela primeira vez a importância das relações de parentesco na organização das sociedades não ocidentais. A partir da análise das formas de filiação entre os índios iroqueses, definiu o casamento como uma troca, cujas funções políticas, econômicas e ideológicas entreviu. Dotou assim a Antropologia de uma problemática (o estudo dos sistemas de parentesco) que permanece ainda hoje no âmago desta disciplina. O quadro da evolução humana que conseguiu estabelecer ao utilizar as nomenclaturas de parentesco como uma sobrevivência de regimes sociais desaparecidos, seduziu Friedrich Engels, que fundamentou a Antropologia marxista na adesão crítica às principais teses de Morgan: evolução contínua da comunidade primitiva ate à família restrita, universalidade do matriarcado. Encontram-se os mesmos pressupostos nas obras do inglês Edward B. Tylor, que atribuiu como tarefa à Antropologia “estabelecer pelo menos uma escala grosseira da civilização”, colocando as sociedades européias “numa extremidade das séries sociais e as tribos selvagens na outra” e dispondo “o resto da humanidade entre estes dois limites”. Apesar do esquematismo das suas idéias, Tylor enriqueceu consideravelmente a reflexão antropológica. Evolucionismo Do ponto de vista evolucionista, a humanidade conheceu, em todos os tempos e em todos os lugares, as mesmas formas e as mesmas fases de desenvolvimento. Lewis Morgan distinguiu assim três fases principais na evolução de qualquer sociedade: selvageria, barbárie, civilização. Corrente de pensamento mais que doutrina constituída, o Evolucionismo dominou a Filosofia de Auguste Comte. A sua teoria dos “três estádios” fez recordar a das “três idades” do italiano Giovanni Batista Vico (1663-1744). Foi nos meados do século XIX que Lamarck (1744 - 1829) e Darwin fizeram definitivamente triunfar o ponto de vista evolucionista em Biologia: após as suas 3 descobertas, a teoria da fixação das espécies foi abandonada. As especulações de Rousseau ou de Condorcet, no século anterior, sobre os progressos da humanidade receberam, assim, uma caução científica. A substituição do conceito de primitivo pelo de selvagem marcou o próprio nascimento da Antropologia. Os filósofos evolucionistas, como o alemão Gustav Klemm (1802 – 1867), ou o inglês Herbert Spencer (1820 – 1903), herdaram em compensação dos séculos XVII e XVIII a crença no homem universal. À semelhança de Pascal, que comparava já a humanidade ä um homem que aprendesse continuamente”, Sigmund Freud não hesitou em aproximar o psiquismo do primitivo do da criança. As pesquisas evolucionistas em Antropologia dedicavam-se sobretudo às sobrevivências das formas sociais anteriores. O costume do levirato (obrigação de uma viúva de casar com um irmão do defunto marido) era interpretado como um indício de um regime anterior de poliandria. Freud em “Totem e Tabu” apresentou a exogamia como uma sobrevivência do rapto de mulheres. Morgan não hesitou em explicar a estrutura de uma sociedade antiga. a “gens” grega, graças ao estudo das comunidades iroquesas do século XIX. Recorreu sistematicamente aos termos de parentesco para reconstituir as estruturas de filiação desaparecidas. No momento de elaborar as primeiras análises marxistas da família, Friedrich Engels (1820-1895) retomou os métodos de Morgan. Os primeiros evolucionistas apoiavam-se em inquéritos de campo minuciosos. O cuidado de fazer reconstituiçõesperfeitamente coerentes suscitava em compensação um grande número de descrições simplistas e esquemáticas. James Frazer sustentou assim que a magia precedeu por todo o lado a religião, sendo esta mesma seguida pelo pensamento científico. Para Edward Tylor, o regime matriarcal constituiu em todas as civilizações uma fase necessária anterior ao modo patriarcal de filiação. Do mesmo modo, John Mac Lennan comparava a prática do totemismo com uma fase constante da evolução religiosa. Inquéritos de campo mais escrupulosos desmentiram em seguida estas hipóteses e o descrédito que daqui resultou incidiu sobre o conjunto das pesquisas evolucionistas. Segundo Louis Bolk (1866-1930} foi a paragem do desenvolvimento fisiológico em determinada fase (fetalizacão) que distinguiu a espécie humana das diversas categorias de primatas. O homem apareceu, assim, como uma espécie de macaco prematuro e o desenvolvimento geral da espécie corresponde a uma regressão. As raças humanas mais “evoluídas” foram assim, segundo Bolk, as mais próximas da desaparição final. Tal teoria deu por conseguinte, acerca da evolução humana, uma explicação bastante matizada de racismo. Crítica do Evolucionismo Com excepção de alguns investigadores, a maior parte dos antropólogos da segunda metade do século XIX inspirava-se em postulados evolucionistas. Assistia-se a uma generalização do método comparativo: bastava um elemento de semelhança entre duas sociedades para que elas fossem situadas numa mesma fase de desenvolvimento. Reciprocamente, considerava-se como equivalentes elementos provenientes de duas culturas anteriormente consignados a um mesmo escalão da evolução. 4 Por outro lado, tinha-se verificado um esforço para delinear seqüências evolutivas completas relativamente a certas instituições. Acontecia isto com a família conjugal moderna, cuja origem Morgan situava num estado de promiscuidade primitiva, ainda que nenhuma observação real pudesse verificar essa hipótese. Tinha-se consciência do risco de tais construções sintéticas, marcada sobretudo pelas lacunas da documentação. Assim, a geração dos antropólogos que publicaram as suas obras entre 1900 e 1930 reagiu contra estas especulações. Nos fins do século XIX, um antropólogo americano de origem alemã, Franz Boas, criticou a escola evolucionista e estabeleceu os fundamentos de um novo método antropológico. Físico e geógrafo de formação, Boas considerou que o conhecimento exato dos fatos sociais só podia resultar de uma indução prudente a partir da observação concreta de grupos bem localizados no tempo e no espaço. Esta concentração sobre tarefas menos exaltantes mas mais rigorosas traduzia-se por um renovamento dos principais conceitos da Antropologia. Era salientada doravante a noção de difusão cultural, a qual se encontrava na origem de uma reflexão levada simultaneamente a efeito tanto na Alemanha como nos Estados Unidos. Assim, designava-se comumente pelo termo Difusionismo o conjunto de trabalhos da escola alemã e dos antropólogos americanos dos anos 1900-1930. Boas (Franz) Principal animador da investigação antropológica nos Estados Unidos durante a primeira metade do século XX. Franz Boas (1858 – 1942) foi sobretudo um teórico. Durante quarenta anos ensinou estatística e etnolingüística na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Partidário dos estudos rigorosos mas restritos, desconfiou sempre das generalizações. Especialista das sociedades esquimós, das línguas e das culturas indígenas, Boas realizou um enorme trabalho de inquérito e de compilação. Escreveu mais de seiscentos artigos sobre Etnologia, além das suas obras fundamentais: “The Mind of Primitive Man” (1911); “Primitive Arts” (1926); “General Anthropology” (1938); “Race, Language and Culture” (1940). Nascido em Minden (Vestefália), Franz Boas fez estudos de física, de geografia e de matemática em universidades alemãs: Heidelberg, Bonn, Kiel. Foi como geógrafo que fez, em 1883, uma viagem a Terra de Baffin, no Árctico; a descoberta das sociedades esquimós despertou o seu interesse pela Etnologia. Após uma primeira estada em Nova Iorque, Boas tornou-se professor de geografia na Universidade de Berlim. O seu segundo périplo conduziu-o à Colúmbia Britânica (Canadá). No regresso, em 1887, fixou-se nos Estados Unidos e adotou a nacionalidade americana. Foi a um dos seus alunos da Universidade de Clarke, A.F. Chamberlain, que foi atribuído o primeiro doutoramento em Antropologia. Conservador do Field Museum de Chicago, depois do American Museum, tornou-se professor em Columbia em 1899. Dirigiu nesta época grande número de expedições, que permitiram estabelecer o célebre “Guia das Línguas dos Índios da América” (1901). Fundador do “Journal of American Linguistics” (1917), diretor do “Journal of American Folklore” (1909-1925), Boas presidiu a partir de 1910 a Academia das Ciências de Nova Iorque. 5 Até a sua morte em 1942, Boas manifestou pelo trabalho, segundo a sua própria expressão, um “entusiasmo de gelo”. Ruth Benedict atribuiu a Boas a fundação da Antropologia como disciplina. As suas notas de viagem, pela exatidão, apresentavam certa relação com o material de laboratório. Geógrafo e físico de formação, Boas rejeitou todas as teorias especulativas sobre as sociedades: assim, a abordagem psicanalítica da vida dos grupos jamais lhe pareceu séria. Denunciou igualmente muito cedo, sob a influência do seu mestre Rudolf Vischow, certos aspectos, demasiado rígidos na sua opinião, das teorias de Darwin. Boas não rejeitou contudo a idéia de uma evolução de características físicas humanas: levou-a pelo contrário ao seu termo. Os seus estudos estatísticos sob a forma da cabeça de milhares de cidadãos americanos revelaram uma tendência para a uniformização, independente da origem racial e nacional. Boas desenvolveu assim uma tese que tornava vãs as controvérsias sobre a hereditariedade do meio: segundo ele, o homem não herda características fixas, mas potencialidades genéticas, destinadas a desenvolver-se segundo um meio ambiente físico e social determinado. A influência deste relativismo foi determinante para a Etnologia e a lingüística americanas dos princípios do século. As investigações ganharam com isso em exatidão e em riqueza documental, mas a renúncia a qualquer interpretação especulativa podia reduzir, em certa medida, a Antropologia ao folclore. Difusionismo O Difusionismo é uma corrente da ciência antropológica que faz do fenômeno da difusão de elementos culturais o princípio do desenvolvimento das civilizações. Inspirados em técnicas museográficas de classificação dos objetos e de análises das afinidades de estilo, os métodos difusionistas foram definidos na Alemanha no começo do século XX e conheceram depois de 1918 uma larga audiência nos Estados Unidos. Salientando os fenômenos de aquisição, de contato e de trocas culturais, os trabalhos de Franz Boas e dos seus discípulos traçaram a via para as investigações etnológicas sobre a aculturação e a transculturação. O alemão Fritz Graebner (1877-1934) formulou em 1911 os grandes conceitos do Difusionismo: os traços culturais, concebidos como os mais pequenos fragmentos discerníveis em determinada cultura, deviam ser situados pela análise nos complexos culturais (Kulturkomplex) formados pela reunião de diversos destes traços. A identificação de complexos culturais idênticos em diferentes regiões do mundo levava a investigar a sua área cultural (Kulturkreis), quer dizer, a ilhota da cultura original a partir da qual se difundiram. O método assim definido encorajava investigações de Etnologia comparativa. Wilhelm Schmidt, continuador de Graebner (e fundador darevista “Anthropos”), organizou um grande número de expedições para traçar a carta da difusão cultural. Porém, apesar de certos resultados positivos, a escola difusionista alemã só dificilmente conseguiu analisar na sua complexidade as trocas entre culturas. Coube aos etnólogos americanos afinar o método difusionista. Em “Man and Culture” Clark Wissler aprofundou, em 1923, a noção de complexo cultural, incluindo nele dados geográficos. Franz Boas, por seu lado, encarou a difusão, na totalidade, das dimensões que definem as relações de dois sistemas culturais em presença 6 um do outro. Ao definir a noção de modelo cultural (cultural pattern), os difusionistas americanos precisavam as condições nas quais se efetuava toda a aquisição e mostrava que as suas modalidades dependiam ao mesmo tempo do grupo difusor e do grupo receptor. Pode-se censurar ao Difusionismo ter menosprezado as faculdades de invenção do homem ao admitir que as inovações se propagam mais do que se repetem. O grande mérito do Difusionismo reside no entanto no fato de salientar a importância dos contatos entre culturas e de tentar (antes dos estruturalistas, que lhe devem muito) organizar os seus elementos em conjuntos coerentes e significantes. A introdução do Difusionismo na França foi relativamente tardia. Só em 1934 Georges Montandon retomou as teses difusionistas no seu “Traite d'Etnologie cyclo-culturalle et d'Ergologie systématique”. Embora certos etnólogos franceses como Andre Leroi-Gourhan se tenham inspirado em métodos elaborados pela escola difusionista americana, o estudo dos fenômenos de difusão não conheceu da parte dos antropólogos franceses o favor que lhe reservaram os seus confrades alemãos e italianos. A escola de Graebner e Schmidt, constituída por reação a certas análises evolucionistas, não soube evitar o excesso: para G. Elliot-Smith todas as civilizações teriam uma origem única: o Egito. Difusionismo e aculturação A escola denominada "histórico-cultural" ou “ciclo-cultural" alemã é representada nomeadamente por Fritz Graebner (1877-1934). Conservador do Museu de Colônia em 1900, inspirou-se em técnicas museográficas de classificação dos objetos e dos estilos para formular os principais conceitos difusionistas: um complexo cultural (Kulturkomplex) constitui um conjunto de traços unidos por um elo orgânico. A identificação em diversas regiões do mundo de complexos culturais idênticos levou à definição do círculo cultural (Kulturkreis) a partir dos quais estes complexos foram repartidos. O círculo cultural é considerado como a forma mais complexa de uma instituição, enquanto os complexos culturais resultam de migrações e de aquisições a partir deste centro comum. A difusão é o processo que gera os contatos entre as diferentes culturas e a circulação de características culturais. Assim definido, o método histórico-cultural conduz a vastas acumulações de materiais (empreende-se o levantamento de uma carta mundial de difusão a partir de alguns centros originais). Em alguns casos permite descobrir parentescos culturais entre sociedades muito afastadas. Nos Estados Unidos, são forjadas definições que completam a terminologia difusionista. A área cultural é uma área no centro da qual se encontram as características dominantes de uma sociedade; na sua periferia estas características misturam-se com características provenientes de áreas vizinhas. Esta noção visa dotar as características culturais ao avaliar a distância que as separa do seu centro de produção. Do mesmo modo é definido o “modelo cultural” (cultural pattern) que designa o conjunto dos mecanismos pelos quais dada sociedade se adapta às suas condições gerais de existência. Estas distinções feitas por investigadores como Alfred Louis Kroeber atraíram a atenção dos antropólogos para a maneira como se efetuam os 7 contatos entre culturas. Em particular sublinham a importância no processo de aculturação do grupo receptor que seleciona e reinterpreta os elementos culturais estranhos em função das suas necessidades. Nota-se o interesse de tais concepções que excluem qualquer interpretação mecanicista da difusão cultural. Mais contestáveis parecem hoje os trabalhos da escola hiperdifusionista inglesa, denominada também por vezes heliocêntrica ou pan-egípcia. Ela situa no Egito o foco único de todas as culturas existentes. As viagens dos Egípcios (os “Filhos do Sol”, segundo o título de uma obra de William James Perry, um dos fundadores dessa escola) teriam difundido as características da cultura egípcia em todas as regiões do mundo. Considera-se hoje que esta teoria constitui apenas uma caricatura do Difusionismo. No Campo O desenvolvimento das investigações de inspiração difusionista foi acompanhado de uma ,redefinição das tarefas da Antropologia. Com o recenseamento de características culturais ganha crédito a idéia de que a acúmulo de materiais, até agora efetuada por não especialistas, constituiu uma fase importante do trabalho cientifico. Enquanto na época evolucionista as informações sobre as sociedades não industriais provinham, salvo raras excepções, de observadores não formados na disciplina, os antropólogos difusionistas organizavam campanhas de investigação para verificar e completar os conhecimentos já adquiridos, Em 1899, Alfred Cort Haddon conduziu uma expedição inglesa aos confins da Austrália e da Nova Guiné. Entre os seus colaboradores, encontrava-se Charles Gabriel Seligman, que efetuou, cerca de 1909, um inventário étnico das populações nilóticas, e William Haise Rivers, que em seguida fez uma estada na Índia e elaborou as primeiras técnicas modernas de pequisa de campo. O continente americano foi dividido em áreas culturais que os antropólogos percorriam: foi assim que Franz Boas acumulou um volume enorme de informações sobre os Kwakiutl, população da costa ocidental dos Estados Unidos. Robert Lowie fez uma estada entre os índios das planícies do centro. Alfred Kroeber entre as tribos do Sudoeste. Depois de 1918 as expedições de campo multiplicaram-se na África. Entre 1900 e 1930 os difusionistas reuniam uma documentação de riqueza excepcional. Porém, a abundância desta recolha levantou numerosas dificuldades teóricas: a noção de “característica” cultural foi difícil de definir e levou alguns antropólogos a estudar as sociedades apenas sob o aspecto das realizações materiais (habitat, costumes, etc.). Outros fizeram listas intermináveis de traços heteróclitos e estabeleceram entre eles relações puramente formais. Enfim, o estudo descritivo parece ser um fim em si quando nenhuma tentativa de síntese o acompanha, como acontece no caso de Franz Boas. É contra esta atomização da realidade social que reagiram os fundadores ingleses do funcionalismo. Funcionalismo A corrente funcionalista em Antropologia é inseparável do nome de Bronislaw Malinowski (1884-1942), que definiu assim o seu princípio: cada cultura representa um sistema de que todos os elementos são solidários. Por conseguinte não são 8 estudados separadamente, fora do seu contexto, esquecendo o papel desempenhado por um rito, uma característica cultural ou uma técnica no funcionamento global de uma sociedade. “Em todos os tipos de civilização, cada costume, objeto e crença desempenha qualquer função vital, tem qualquer tarefa a realizar, representa uma parte indispensável do aparelho”. A teoria funcionalista apoia-se inteiramente na noção de necessidade: Malinowski recorda sem cessar que os homens constituem uma espécie animal. No âmago de qualquer instituição propõe investigar o organismo humano, vivente, palpitante, feito de carne e de sangue. As necessidades fisiológicas (alimentação.reprodução, metabolismo, proteção, etc.) determinam imperativos fundamentais. A sua satisfação não deixa contudo o indivíduo isolado face ao meio ambiente: a cultura é um verdadeiro meio secundário. Assim, surgem imperativos derivadas (Malinowski denomina-os também do instrumentais). O conjunto das instituições regulamenta as impulsões primarias e orienta a sua satisfação: a família, nomeadamente, verdadeira placenta social, nutre o indivíduo biológico com qualquer aquisição cultural do grupo e modela-o à sua imagem. A um terceiro nível, Malinowski considera a magia, a religião, a ciência como imperativos integrantes, cuja função consiste em manter a coesão do grupo. Reconhecendo neste ponto a contribuição do bahaviourismo, Malinowski recusa-se a abandonar o campo dos fatos observáveis. Censura aos evolucionistas no seu desejo de reconstituir o passado das instituições, a sua explicação da realidade pelo imaginário. As investigações difusionistas de Fritz Graebner, Leo Frobenius e Wilhelm Schmidt sobre a difusão das características culturais suscitam a zombaria de Malinowski. Segundo ele, o seu método eqüivale a investigar, em determinada cultura, as técnicas ou as instituições que se acomodam mal com a estrutura de conjunto e parecem assim adquiridas a uma civilização vizinha. Malinowski considera um erro de base cingir-se assim, para cada objeto, às qualidades que nada tem de comum com o seu fim e os seus empregos. Segundo Malinowski. a ciência do comportamento humano começa com a organização. A Antropologia, disciplina comparativa por excelência, deve portanto encarar, não praticas arbitrariamente isoladas devido ao seu caracter exótico, mas instituições: sistema de educação, de produção, costumes, e regras jurídicas, poder político. Malinowski declara ter-se limitado a introduzir na Etnologia o termo “função”, já utilizado em matemáticas por Leonhard Euler no século XVIII, depois no século XIX por Claude Bernhard em fisiologia, bem como em direito a em Economia Os mais célebres funcionalistas são Tylor, quando correlaciona as relações de parentesco e a vida econômica, Durkheim na sua análise das funções da vida religiosa, e Frazer quando substitui a crença e os ritmos totêmicos no contexto e na organização social de cada tribo. Malinowski mostra-se pelo contrário muito severo com Ruth Benedict, que se satisfaz com noções sumárias no que se refere ao gênio tribal dos grupos ou com Lewis Morgan, que trata as nomenclaturas de parentesco como sobrevivências, desdenhando do seu papel funcional. 9 Malinowski e Radcliffe-Brown Ao termo funcionalismo esta ligado o nome do antropólogo inglês de origem polaca Bronislaw Malinowski. A análise funcional que ele enceta salienta as interferências entre diversos setores da realidade. A explicação dos fatos antropológicos consiste em esclarecer a maneira como eles estão ligados uns aos outros e a sua função relativamente ao conjunto de uma cultura. A fecundidade do método está plenamente ilustrada numa obra de Malinowski publicada em 1922, “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”. Estudando uma instituição particular das ilhas Trobriand denominado “kula” na língua dos indígenas (trata-se da troca de objetos preciosos em vasta escala), Malinowski demonstrou que não se poderia compreender o funcionamento do “kula” sem ter em conta a tecnologia (pesca, industria de conchas, etc.), o sistema de organização social, a ideologia e a magia. A acumulação de dados, que designa o termo etnografia, deve levar à elaboração de documentos como genealogias, quadros de termos de parentesco, cartas, etc. Ao lado destas regras. normas e instituições que correspondem à imagem oficial que uma sociedade faz de si mesma, o antropólogo deve estudar o funcionamento real do sistema social através dos “imponderáveis da vida autentica”, comportamentos e atitudes dos indígenas. Esta espécie de análise exige que o investigador se dedique à “observação participante”, no sentido físico mas sobretudo psicológico da expressão. Trata-se com efeito de se libertar de qualquer forma de referência à cultura ocidental. a fim de compreender do interior as mentalidades e os valores estudados. Só esta recusa do etnocentrismo pode permitir uma investigação global e científica. Pela sua concepção da análise funcional concebida como uma verificação empírica incessante e multidimensional Malinowski renova numerosos setores de estudo da Antropologia. Mas apesar da originalidade da sua contribuição, foi alvo de numerosas críticas devido ao seu biologismo. O seu esforço para construir uma “teoria científica da cultura” (título de uma das suas obras. publicada em 1944) levou-o a afirmar a primazia das exigências fisiológicas (supostamente universais) do homem. Qualquer sistema cultural seria uma resposta a algumas necessidades fundamentais, de que Malinowski elaborou uma lista pouco convincente. Adquirindo uma certa tendência para o dogmatismo, que se afirmou nos últimos anos da sua vida, Malinowski chegou por outro lado a descurar a existência de conflitos na vida das sociedades primitivas. Este optimismo o fez menosprezar os elementos internos, isto é, não funcionais, de que é portadora qualquer cultura. “Os Argonautas do Pacífico Ocidental” A obra publicada por Bronislow Malinowski em 1922. intitulado “Argonauts of the Western Pacific” (Os Argonautas do Pacífico Ocidental), inicia uma nova era da etnografia. Renunciando as descrições livrescas. o autor relata as observações que pode fazer no decurso de uma longa estada nas ilhas Trobriand, arquipélago situado a nordeste da Nova Guine. Nesta relação, Malinowski conseguiu evitar os dois escolhos que então ameaçavam a Antropologia: dizer tudo com a sobrecarga de uma enorme compilação a maneira de Franz Boas; fazer uma seleção arbitrária ao ceder como Edward 10 Westermarck e James Frazer, às atracões do exotismo. Malinowski desenvolveu a sua descrição em torno de uma prática de comércio simbólico o “kula”. Os chefes trobriandeses deslocam-se periodicamente de um “atoll” para outro para trocar bugigangas sem valor mercantil: braceletes de cobre, conchas, colares. Os objetos seguem assim um trajeto circular, indo alguns de oeste para este, seguindo os outros o caminho inverso A única proibição consiste em receber sem dar. Pode-se dar diversas interpretações a este estranho comportamento. bem distinto das trocas verificadas num mercado real. Observando que um sexo simbólico é atribuído aos objetos trocados, certos etnólogos pensaram numa sobrevivência de casamentos por rapto. Nota-se, com efeito, que os rituais do “kula” se assemelham em todos os pontos às cerimônias que selam as alianças entre tribos ou o restabelecimento da paz entre elas. O sistema parece aliás ligado à estabilidade das chefaturas, dependendo o poder político em cada uma das ilhas do arquipélago do sucesso alcançado por esta troca simbólica. O estudo minucioso feito por Malinowski sobre a natureza das dádivas das contradádivas, da equivalência aos presentes, dos prazos concedidos para quaisquer reciprocidade, etc. fez do “Kula” um dos clássicos da descrição etnográfica, do mesmo modo que os ritos de iniciação dos Bambara, o totemismo dos Arunta ou a incubação dos índios Caribe. Malinowski opera um verdadeiro “corte transversal na sociedade trobriandesa” ao analisar em torno do “Kula” a repartição das colheitas, as relações de parentesco, a organização da chefatura, o papel da magia, etc. O inquérito forneceu a Marcel Mauss o assunto de “Essai sur le don”. O papel capita1 da magia constitui o segundo polo da monografia de Malinowski. Como Bergson. o autor de “Os Argonautas do Pacífico Ocidental” vê na magia ummeio de preencher as lacunas do saber prático A vida trobriandesa está impregnada de rituais diversos: a construção das pirogas, a navegação, a pesca, a dança, a cultura de inhames, etc., eram acompanhados de cerimônias e de cantos. Dois fatores explicariam esta atmosfera mística: o medo do perigo, por um lado, pois contrariamente as saídas para o mar alto, a pesca na laguna não suscita qualquer ritual particular: os dados sociais por outro. Segundo Malinowski, que a sua chegada encontrou apenas doze europeus no arquipélago, a sociedade trobriandesa no início do século XX teria sido fortemente protegida de influencias ocidentais. No entanto, por mais diminuta que seja, a presença de estrangeiros bastava para provocar um fenômeno de aculturação ao encorajar a pesca de pérolas, pouco praticada até aí pelos indígenas O mesmo anti-historicismo caracterizou o pensamento de outro grande antropólogo, Altred Radcliffe-Brown. Este também salientou sobretudo a noção de função, mas definiu-a independentemente de qualquer teoria das necessidades biológicas e num sentido estritamente sociológico A sua obra esclarece de maneira original os problemas antropológicos do parentesco, no qual vê um sistema de relações de oposição e de complementaridade. As próprias atitudes familiares só podem ser compreendias umas em relação às outras, em 11 função dos princípios estruturais que as organizam: princípio de equivalência dos irmãos (o que explica os costumes do levirato ou casamento de uma viuva com o irmão do marido defunto), da unidade da linhagem, de cumplicidades estabelecidas segundo a alternância das gerações. Este último princípio permite explicar que a atitude de respeito filia! de que dão testemunho as crianças nas numerosas. sociedades se opõe uma atitude de familiaridade, até mesmo de troca relativamente aos avós e a toda a geração anterior à dos pais. A novidade destas análises conduziu a Antropologia às suas vias mais modernas. Cultura e personalidade Paralelamente ao funcionalismo inglês desenvolveu-se nos Estados Unidos uma viva reação antidifusionista. Começou em 1936 com os trabalhos de Edward Sapir (1884-1939). Na escolha de artigos que forma a sua “Antropologia”, este adverte os investigadores contra o próprio conceito de difusão. O estudo da distribuição geográfica da cultura deve ter em conta, segundo ele, fatos como a migração, descurada pelos difusionistas, e índices fornecidos pela lingüistica . A língua de um povo oferece, com efeito, um campo de investigarão particularmente favorável tanto no seu vocabulário como na sua sintaxe a língua contém as marcas dos acontecimentos que modelaram a história do grupo Sapir abriu assim caminho a uma verdadeira etnolingüística. A questão que abordou, relativa às relações entre o indivíduo e as normas culturais, aparece como fio condutor de um conjunto de estudos que integram na Antropologia as aquisições da Psicologia e, depois de 1930, da psicanálise. Trata-se de rodear os “patterns", ou configurações características de uma cultura, e de as fazer corresponder a um tipo de personalidade: Este método é ilustrado como uma certa fantasia poética pelos trabalhos de Ruth Benedict ( 1887 1948). Na sua obra “Padrões de Cultura” (Patterns of Culture), publicada em 1934. esta opõe duas civilizações: uma “apolínea”, que se observa entre os índios Pueblos, é marcada pela moderação e pela paz: a outra, qualificada de “dionisíaca”, encontra-se entre os índios das planícies dos Estados Unidos e está baseada na luta e na competição A primeira corresponde a um tipo de homem conformista e equilibrado: a segunda a um tipo agressivo e ávido de emoções Com mais rigor, Margaret Mead tenta uma demonstração comparável na Nova Guine, onde fez uma estada de 1925 a 1933. O estudo de três tribos permite-lhe estabelecer o seguinte fato: os papéis sociais do homem e da mulher (e os temperamentos que daí resultam) variam segundo a organização cultural própria de cada grupo. Os resultados deste inquérito foram publicados sob os títulos “Growing up in New Guinea” (1930) e “Sex and temperament in three Primitive Societies” (1935). Coube a Ralph Linton a elaboração de uma teoria completa das relações entre personalidade e cultura. Desde 1936, no seu livro “The Study of Man”, analisou os mecanismos que integram o indivíduo ao sistema social: uma série de modelos, de que o indivíduo médio não tem consciência, dita os comportamentos em função do estatuto social. Cada indivíduo adquire assim, por meio da educação, uma personalidade 12 estatutária que assegura a sua inserção social com maior ou menor êxito. Em 1946, em resultado da sua colaboração com o psicanalista Abraham Kardiner e com Cora Du Bois, Linton propos o conceito de personalidade de base, tipo social julgado normal numa sociedade e relativamente ao qual se definem os comportamentos de inadaptação ou de desvio (a loucura não tem o mesmo rosto em todas as sociedades). Linton salienta que diversas personalidades de base podem coexistir no interior do mesmo sistema de normas. Ele liga esta noção à de classe social. Por não terem conservado estas distinções alguns dos seus discípulos culturalistas não têm feito outra coisa senão reiterar com novas palavras, os lugares comuns mais tradicionais sobre a "alma" ou o "gênio" dos povos A Etnologia francesa O estudo das sociedades não industriais seguiu em França uma via própria. O próprio termo “Antropologia” foi utilizado para designar os trabalhos de descrição e de classificação dos grupos raciais, esforço que constituiu a preocupação máxima na segunda parte do século XIX (Paul Broca, Armand Quatrefages, Josepha Deniker) Foi sob o termo “Etnologia” e em relação bastante estreita com a Sociologia que se constituiu uma ciência do homem primitivo nos primeiros anos do século XX. Os fundadores da Etnologia francesa foram sociólogos que integraram a documentação acumulada sobre os povos primitivos numa reflexão global sobre a sociedade. A obra de Emile Durkheim é particularmente representativa de tal orientação. Este apresentou o princípio da especificidade do fato social, que não se poderia reduzir às suas repercussões psicológicas, e definiu um método de trabalho assente na comparação dos fatos sociais num meio homogêneo. O interesse deste método está claramente patente em “Les Formes élementaires de la vie religieuse” (1912) Estudando o totemismo na Austrália, Durkheim demonstrou que ele tem como efeito recrear periodicamente os elos de coesão e de continuidade que constituem a sociedade. A religião tem, neste caso, uma função de integração de grupo e uma finalidade comunitária. Estas idéias foram retomadas e exploradas pelos funcionalistas, e, em particular. por Radcliffe-Brawn. Toda uma corrente da Antropologia britânica, com Evans-Pritchard em primeiro plano encara doravante as tribos primitivas como microssociedades, cujas instituições podem ser facilmente analisadas. Esta Antropologia social é definida como uma “microsociologia” Em França, foi dada ainda durante muito tempo preferência à paleontologia e à pré-história. Paul Rivet (1876-1958), fundador do Musée de l'Homme, deplorava que os seus contemporâneos assimilassem a sua disciplina apenas ao estudo dos crânios A escola durkheimiana não estabeleceu qualquer dissociação entre a cultura primitiva e as mentalidades contemporâneas (que julgava diferentes sem dúvida, mas sem oposição de natureza). Ao contrário, Lucien Lévy-Bruhl (1875 – 1939), autor de “La Mentalite primitive”, mais filosofo do que sociólogo ou etnólogo, opunha o pensamento primitivo “místico e pre-lógico” à mentalidade moderna, que seria racional e lógica. O valor cientifico daobra é bastante contestado hoje, mas o seu método parece ter influenciado duradouramente os etnólogos franceses, que se apaixonaram pelos aspectos 13 mais exóticos da vida primitiva, como o xamanismo os ritos da magia ou as cerimônias de iniciação. Estruturas e sociedades Marcel Mauss é geralmente considerado como o verdadeiro iniciador da Antropologia francesa moderna. Sobrinho e discípulo de Durkheim formou toda uma geração de investigadores: Denise Paulme, que publicou em 1947 o essencial do curso de Mauss sob o título “Manuel d'ethnographie”; Claude Lévi-Strauss, que reeditou em 1950 alguns estudos do mestre sob o título de “Socialogie et Anthropologie”; Marcel Griaule, que organizou entre 1931 e 1933 uma primeira grande expedição antropológica de Dacar a Djibuti (o que dá uma idéia do atraso da Antropologia francesa de campo) e está na origem do livro de Michel Leiris “L'Afrique fantôme” diário de viagem da missão No seu “Essai sur le don”, Marcel Mauss põe em evidencia o princípio de reciprocidade que é a própria base da economia primitiva. A instituição do potlatch, que se observa na Polinésia, na Melanésia e no Noroeste americano, ilustra a importância da troca na vida social. A obrigação de dar e de receber afeta o conjunto das representações e dos comportamentos. O fato social deve por conseguinte ser estudado como um “fato total”, e os valores só tem significado em função uns dos outros. Neste emprego, o termo “função” tem um sentido matemático, e não empírico, como em Malinowski: com ele designa os serviços prestados pelas instituições à sociedade. O nome de Claude Lévi-Strauss domina a Antropologia francesa contemporânea. A sua obra constitui um esforço ininterrupto para enunciar as leis de funcionamento das sociedades primitivas. Desde a sua primeira obra de síntese, “Les Structures élémentaires de la parenté”, sistematiza a teoria da reciprocidade já enunciada por Marcel Mauss. A lógica do dom explica em particular a regra de proibição do incesto, universalmente confirmada: a proibição de desposar a mãe, filha ou a irmã é o “inverso de uma prescrição positiva”, que é a obrigação de dar a outrem filhas e irmãs com a obrigação de reciprocidade (lei da exogamia). O mesmo princípio permite a Claude Levi-Strauss reduzir a extrema diversidade das regras de casamento e de parentesco a alguns tipos de troca de mulheres. Contrariamente à utilização que dela fez Alfred Radcliffe-Brawn, a noção de estrutura na Antropologia estrutural de Lévi-Strauss não corresponde a qualquer realidade empírica. A estrutura aplica-se a modelos, construídos a partir de relações sociais diretamente observáveis e constituídas em sistemas. As leis de transformação de modelos são previsíveis, de modo que a Antropologia pode desprender uma espécie de arquitetura lógica que constitui a própria ordem das coisas. Trata-se de “fazer um inventário dos limites mentais, de reduzir os dados aparentemente arbitrários a uma ordem, de alcançar um nível em que uma necessidade se revela imanente nas ilusões da liberdade". As próprias instituições são tidas como a expressão de uma lógica, de um pensamento selvagem; a análise estrutural faz aparecer curiosas complementaridades entre dois sistemas considerados como opostos: o culto dos totens e a organização em castas, Os trabalhos de Claude Lévi-Strauss não renovaram apenas o estudo dos 14 fenômenos. Com a colaboração de outros estruturalistas, como Lucien Sebag, tenta reconstituir o conjunto do sistema analógico em que se situam os mitos. Antropologia estrutural As figuras pintadas com que os índios Caduveo do Brasi1 ornam o rosto sugeriram a Claude Lévi-Strauss uma comparação com os jogos de cartas. Esta analogia ilustra a hipótese fundamental da Antropologia estrutural: cada cultura representa uma aplicação original de regras universais à maneira de um jogo que permite uma infinidade de combinações. Assim, na sua variedade, os sistemas de parentesco explicam-se por todo o lado pela proibição do incesto. Nenhuma sociedade é exatamente semelhante a outra, mas todas se constroem segundo as mesmas leis. A sua efetivação suscita o aparecimento de estruturas elementares, que o antropólogo pode reconstruir: os regimes matrimoniais organizam-se em conformidade com um numero limitado de modelos. Para lá da diversidade de civilizações desenha-se um repertório ideal. Claude Lévi-Strauss serve-se, no que toca a lingüistica, dos seus métodos e dos seus princípios de análise. Do mesmo modo que Ferdinand de Saussure recusava procurar fora da língua as leis do seu funcionamento, Lévi-Strauss critica vigorosamente o determinismo de Malinowski que pretende explicar as estruturas sociais pelas necessidades biológicas. Compara, quanto a ele, os diferentes aspectos da vida social a sistemas autônomos de símbolos. estruturados sobre o modelo da linguagem. O casamento é uma comunicação de mulheres, como a linguagem é uma comunicação de mensagens ou a Economia uma comunicação de bens. O método estrutural quer libertar o antropólogo de um antigo dilema: a descrição minuciosa das sociedades proíbe as generalizações, mas as analises comparativas sacrificam os pormenores específicos. Para Lévi-Strauss é a própria riqueza dos pormenores etnográficos que autoriza a explicação coerente. Na análise dos mitos ou dos sistemas de parentesco as estruturas são reconstituídas graças aos desvios significativos. Tal abordagem não fundamenta a universalidade dos símbolos no seu conteúdo, como no caso dos arquétipos de Carl Gustav Jung. De um modelo para outro é pelo contrario a variação que merece ser estudada. Duas versões de uma narrativa são interpretadas como a transformação de um mito segundo regras a determinar Os trabalhos de Georges Duméril sobre a estrutura tripartida das religiões indo-europeias ou a análise do sistema de castas na Índia por Louis Dumont participam da mesma tendência. Paradoxalmente, a escola estruturalista reconhece a sua dívida para com os nominalistas americanos (Boas, Lowie) cujas descrições, exatas mas atomizadas, privilegiam as características específicas de cada cultura. O método de Lévi-Strauss caracteriza-se por um movimento constante do vivido para o racial. Os modelos abstratos. distintos da realidade de que dão conta, apoiam-se num respeito meticuloso dos fatos. Etnólogos como D. Sperber, Robin, Fox ou Edmond Ronald Leach admiram, na análise estrutural a fecundidade das formalizações matemáticas. Leach preconiza o desenvolvimento da Antropologia numa verdadeira álgebra das relações (topologia) totalmente liberta das categorias clássicas de descrição. Os trabalhos de Malinowski ou de Radclifffe-Brown não passam, diz ele, de tipologias estéreis. Mas Leach censura a Lévi-Strauss a falta de gosto pela pesquisa de campo. que o impede de apreender os conflitos latentes em cada sociedade. Do mesmo modo Jean-Paul Sartre 15 acusou algumas vezes o estruturalismo de afastar a História das suas descrições. Antropologia social A Antropologia social analisa as instituições que regem o comportamento humano: família, parentesco, sistema de culturas, regime político, culto religioso. Distingue-se nitidamente da Antropologia física que estuda o homem unicamente sob o seu aspecto biológico. A primeira cadeira de Antropologia social é atribuída a James Frazer, em Liverpool (em 1908). Porem, só em 1950 Ralph Piddington, Siegfried Frederick Nadel e Edward Evan Evans-Pritchard deram a esta disciplina a sua autonomia científica. Diferentemente do sociólogo, que no estudo das sociedades modernas deve encarar separadamente os fenômenos (divorcio, criminalidade, lazeres), o antropólogo dedica-se ao fato socialglobal. A sua análise tem como objeto de preferência. as populações primitivas, de pequenas dimensões. A Antropologia britânica pode ser definida como uma microsociologia. De resto, Evans-Pritchard introduziu uma distinção entre os objetivos fundamentais da Antropologia social, que analisa os sistemas de instituições, e a Etnologia cuja missão consiste em classificar as populações segundo as suas características raciais e culturais. Um etnólogo reconstitui a História dos contatos e das migrações, um antropólogo compara tipos de sociedade. Tradicionalmente os antropólogos britânicos (Malinowski, Fortes, Evans- Pritchard, Radclffe-Brown) especializaram-se no estudo de um pequeno numero de sociedades, graças a estadas prolongadas no campo. Este método intensivo levou-os a encarar as estruturas sociais como sistemas perfeitamente integrados e em seguida a estabelecer tipologias. Seguindo o exemplo de Franz Boas, os investigadores americanos adotaram um ponto de vista mais enciclopédico. Longe de fazer abstração do pormenor dos costumes, preferiram os grandes inquéritos as analises estruturais. A ignorância dos idiomas vernaculares e a falta de trabalho de campo explicam, segundo Evans-Pritchard, o fato de a escola americana se dedicar sobretudo às manifestações culturais (idiomas, costumes, utensílios, “habitat”) em prejuízo da organização social. Assim se encontra definida uma Antropologia cultural a que Melville Jean Herskovits deu os seus fundamentos teóricos. Confunde-se em França, sob o termo único de “Etnologia”, a Antropologia social britânica e a Antropologia cultural americana. Evans-Pritchard definiu paradoxalmente a Antropologia social como uma arte, mais próxima das humanidades que das ciências naturais. O antropólogo. diz, não é um físico: ele não poderia pôr em evidência verdadeiras leis, pois as sociedades definem- se mais como sistemas simbólicos do que como sistemas orgânicos. Não deve por conseguinte, como exigem os funcionalistas, limitar-se a uma descrição sincrônica: o conhecimento do seu passado é indispensável para compreender uma comunidade. O trabalho da Antropologia tem como finalidade interpretar, de preferência a explicar, dedica-se mais às estruturas do que às leis. As sociedades sem escrita constituem o domínio de estudo privilegiado, mas não exclusivo, da Antropologia social. É bem um olhar de etnólogo que lançam Oscar Lewis, Michel Croce Spinelli ou James Perry sobre certas camadas sociais, ao 16 analisarem os fenômenos de aculturação nas nossas sociedades industriais contemporâneas. A Antropologia política Pode-se censurar a Lévi-Strauss, embora ele o tenha sempre negado, a exclusão da história do campo da Antropologia. Foi também em parte como reação à sua obra que se constituiu uma Antropologia política, que coloca os abalos históricos no próprio âmago da disciplina. Toda a Antropologia tem uma dimensão política. Isto é evidente no que se refere à Antropologia “aplicada”, que se generaliza quando as administrações coloniais utilizam (sobretudo nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha) os conhecimentos antropológicos no desejo de manter eficazmente a sua tutela. Mas isto parece ser verdadeiro também no que toca à personagem do antropólogo, que é (como o colonizador ou o missionário) um produto da expansão mundial do capitalismo. Assim, é através da mera convenção de linguagem que se usa exclusivamente à denominação de Antropologia política para designar uma corrente de investigação que se desenvolve por volta de 1940. É nessa data que se publica a obra dos ingleses Mayer Fortes e Edward Evan Evans-Pritchard, “African Political Systems” Uma primeira tentativa de classificação dos sistemas políticos primitivos encontra ai expressão. Na mesma altura, Evans-Pritchard publica o seu livro “The Nuer”, em que descreve a organização social como um estado de “anarquia ordenada". Esta análise, que dá um lugar prioritário aos fenômenos de dinamismo (entre os Nuer um grupo só existe na sua relação de oposição a outros grupos) devia encontrar largo eco em numerosos antropólogos ingleses. Isto acontece nomeadamente com Edmund Leach. Segundo ele, a ilusão funcionalista, que faz que se encare qualquer sociedade primitiva como um conjunto harmoniosamente equilibrado, é proveniente das próprias condições de trabalho do antropólogo. Durante uma estada de um ano ou dois no máximo entre determinada população, este não tem tempo de conhecer nem o passado nem aspectos ocultos e conflituais da sociedade que estuda. Assim, é levado, para disfarçar as lacunas da sua informação, a insistir nas considerações de equilíbrio e a valorizar as formas de solidariedade. As mesmas insuficiências estão na origem de todos os trabalhos que apresentam as sociedades primitivas como sociedades sem história. Contra esta simplificação, Leach incita a jamais descurar a instabilidade dos equilíbrios sociopoliticos. O método adotado por Leach tem como objetivo fazer sobressair o dinamismo inerente às estruturas. Por este motivo é qualificado de dinamista. Na França, é aplicado por Georges Balandier (nascido em 1920) ao domínio africano. Tudo se passa como se a problemática tradicional da Antropologia fosse reinterpretada por estes investigadores em função de uma variável fundamental, durante muito tempo ignorada, o poder político, que existe igualmente nas sociedades sem Estado e que é base real das relações de parentesco, de ficções míticas ou religiosas. Daqui resulta uma abordagem nova de todas as práticas indígenas: estas já não são consideradas como atitudes de 17 conformismo com regras preestabelecidas, mas como estratégias que põem em jogo o capita! econômico e social dos agentes em presença. A Antropologia econômica Ao postular a necessidade de uma Antropologia econômica Maurice Godelier não tem a intenção de fundar uma nova disciplina: tenta pelo contrario superar os compartimentos, “fetiches” e as divisões arbitrárias entre ciências humanas: História, Sociologia, Antropologia e Economia. Refere-se aos fundadores do Evolucionismo. Edward Tylor e Lewis Morgan que estenderam uma ponte entre os dois domínios específicos da Antropologia: as sociedades sem escrita e o folclore regional da Europa, onde se exprimem igualmente sobrevivências de modos de produção pre-capitalistas. E esta diversidade de formações socioeconomicas que os antropólogos, segundo Godelier, devem analisar adotando resolutamente uma perspectiva histórica. Toma a sua conta a tese de Marx, segundo a qual o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e intelectual; propõe nesta base uma avaliação geral do campo da Antropologia Os etnólogos mostraram sempre um certo interesse pelos fatores econômicos. É o caso em especial de Bronislaw Malinowski relativamente aos Trobriandeses (1922), de Raymond Firth, aos Polinésios (1939), de Edward Evans- Pritchard, aos Nuer do Sudão (1940) ou de Louis Dumont, no seu estudo sobre as castas hindus (l966). Mas no total, salienta Andre Leroi-Gourhan, conhece-se melhor as trocas de prestigio que as trocas quotidianas, as prestações rituais que os serviços banais. No capitulo final da sua obra “Horizons, Trajets marxistes en Anthropolagie” (1973). Maurice Godelier critica o método funcional, inaugurado por Malinowski, retomado por Evans-Pritchard Firth ou Nadel. Com efeito estes separam cuidadosamente o estudo da Economia do da organização social das tribos primitivas. Mas tal distinção fundamenta-se, segundo ele, num duplo erro. Primeiro do que tudo dissecar assim as comunidades indígenas eqüivale a projetar sobre as comunidades indígenas as categorias próprias da nossa civilização:é uma marca de etnocentrismo. Em seguida, observa Godelier, o seu método traduz uma confusão entre as relações sociais visíveis e as estruturas reais subjacentes que só um estudo cientifico global pode revelar. Este empirismo leva os funcionalistas a considerar a produção e a circulação de bens materiais como subordinadas ao quadro institucional: parentesco, sistema político, religião Entre os economistas americanos duas escolas defrontam-se relativamente às sociedades primitivas. Para os formalistas. o homem deveria em toda a parte superar a penúria dos meios de vida disponíveis. Concordam assim com Malinowski a difícil satisfação das necessidades fisiológicas determinaria constantes no comportamento humano Os substantivistas são sensíveis pelo contrario à diversidade dos sistemas econômicos. Godelier patrocinou a publicação de uma antologia de textos “Un domaine conteste l’Anthropologie économique” (1974). Dois outros volumes deviam abordar o estudo de fenômenos como o “potlach”, as moedas primitivas, a organização do Estado Inca. A ambição de Maurice Godelier era apagar as fronteiras entre a História e a 18 Antropologia. Durante muito tempo relegada para segundo plano, a análise dos fatos econômicos é objeto após uma vintena de anos de uma atenção cada vez maior, em particular da parte dos antropólogos marxistas, que se esforçam por transpor os esquemas do materialismo histórico para o estudo das sociedades primitivas. Os principais métodos desta Antropologia econômica estão expostas na obra de Maurice Godelier “Horizon, Trajets marxistes en Anthropologie” (1973). Através do estudo da divisão social do trabalho, das formas de produção, da troca e do consumo, esta escola propõe-se analisar o papel determinante, em última inst3ncia, da economia sobre a formação de estruturas sociais e de ideologias. E ao salientar a subordinação de todo o cultural ao econômico que este cometimento difere da Antropologia anterior. Com ela desenvolve-se o inquérito no campo, que se torna um trabalho coletivo e recorre a análises quantificáveis. A relação das terras e dos tempos de trabalho, a pesagem das colheitas, o exame dos modos de consumo exigem o auxilio de disciplinas afins como a pedagogia, a agronomia, a botânica No plano teórico, o estudo das economias primitivas faz sobressair a importância das preocupações culturais (procura de prestigio social, de bem-estar coletivo) nos comportamentos econômicos. Observa-se com efeito que os investimentos simbólicos- são tão necessários em inúmeras sociedades como os investimentos materiais, de que constituem uma forma transposta. Tais análises ultrapassam o campo especifico da Antropologia. Alguns economistas esperam que resulte dai um renovamento da economia clássica, que se constituiu unicamente com os materiais fornecidos pelas sociedades ocidentais. Para uma Antropologia geral No entanto, a própria validade de uma Antropologia foi posta em questão na interpretação do marxismo por Louis Althusser e na obra filosófica de Michel Foucault. Duvidando do valor epistemológico do conceito de homem, estes autores vêem na Antropologia não uma ciência mas uma ideologia. As obras críticas de antropólogos como Robert Jaulin traduzem um mal- estar que se explica nomeadamente pela desaparição rápida das tribos primitivas que entraram em contato com o mundo ocidental. Apesar (e por vezes por causa) da organização de organismos de proteção como o I. N. I. no México, ou o F. U. N. A. I., no Brasil, as etnias amazônicas, e muitas outras, foram eliminadas pela chacina ou pelo etnocídio que triturou a sua cultura. Os Ona da Terra do Fogo constituem exemplo de uma civilização que desapareceu diante dos nossos olhos. Ameaçada pela desaparição progressiva das sociedades que foram inicialmente o objeto do seu estudo, a Antropologia tende então a relacionar com as sociedades modernas uma problemática elaborada em contato com povos arcaicos. Tal era nos princípios deste século o objetivo de Arnold Van Gennep (1873-1957). Uma dezena de anos depois, na mesma perspectiva, multiplicaram-se os trabalhos que incidiam sobre o folclore, o artesanato, a literatura oral, tão significativos tanto nos campos da Europa como nas savanas africanas ou nos gelos da Groenlândia. Disciplinas constituídas, como a história ou a Sociologia, começam assim a tirar partido dos métodos antropológicos. 19 Procedentes de uma informação nas raízes, aquelas implicam com efeito uma abordagem direta e qualitativa da realidade. É também cada vez mais freqüente o fato de a observação etnográfica completar uma informação de natureza estatística, até mesmo de fornecer os elementos de uma interpretação original dos dados. A isso não se limita no entanto o interesse do método antropológico relativamente ao conjunto das ciências do homem: uma vez que incidiu exclusivamente, durante séculos, sobre civilizações estranhas, o olhar do antropólogo pode romper o etnocentrismo, o hábito da nossa própria cultura, e libertar-se de um condicionamento incompatível com a imparcialidade da análise científica. O interesse da atitude intelectual, que consiste em ver a realidade familiar com o olhar de um estranho, foi pressentido no século XVIII por Voltaire (Le Huron) e Montesquieu (Les Lettres persannes). Após um parêntese de dois séculos de expansão, no decurso dos quais a figura do outro se tornou a do primitivo, do exótico e do inferior, parece ter chegado o momento de as sociedades industrializadas voltarem este olhar crítico para si mesmas.
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