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dimensao especial temporal da norma processual

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Dimensão especial e temporal da norma processual 
 
Como se vê, determinar a extensão da competência concorrente dos Estados é tarefa 
extremamente complexa. 
 
Veja-se, nessa linha de raciocínio, o caso da Lei n. 1.504/89, do Estado do Rio de 
Janeiro, que regula a homologação judicial de acordo sobre a prestação de alimentos 
firmada com a intervenção da Defensoria Pública. 
 
Nesse caso, o Tribunal (Informativo STF, 2014) afastou a alegação de que a norma 
impugnada estaria eivada de inconstitucionalidade formal, por invasão da 
competência privativa da União para legislar sobre direito civil e processual civil (art. 
22, I, da CF). 
 
Afirmou, no ponto, que seu conteúdo versaria sobre critérios procedimentais em 
matéria processual e estaria subsumido à competência concorrente, nos termos do 
art. 24, XI e XII, da CF. 
 
Por outro lado, o STF julgou procedente pedido formulado em ação direta para 
declarar a inconstitucionalidade da Lei n. 7.716/2001, do Estado do Maranhão, que 
estabelecia prioridade na tramitação processual, em qualquer instância, para as 
causas que tenham, como parte, mulher vítima de violência doméstica. 
 
O Tribunal (Informativo STF, 2014) esclareceu que a competência para normatizar 
tema processual seria da União e, por isso, a lei estadual impugnada teria afrontado o 
art. 22, I, da CF. 
 
Além disso, ao lado das normas processuais (art. 22, I, da CF) e das procedimentais 
(art. 24, XI, da CF), existem as normas de organização judiciária, que também podem 
ser ditadas concorrentemente pela União, pelos Estados e pelo Distrito Federal 
(CF/88, arts. 92 e s., merecendo especial destaque os arts. 96, I, a, e 125, § 1º). 
 
 
 
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No tocante à eficácia temporal, aplica-se o art. 1.211, 2ª parte, do CPC/1973 e o art. 14 
do CPC/2015. Fica definido, assim, que a lei processual tem aplicação imediata, 
alcançando os atos a serem realizados e sendo vedada a atribuição de efeito retroativo, 
para não violar o ato jurídico perfeito.1 
 
Na hipótese dos chamados atos complexos, ou seja, aqueles que dependem da soma 
de diversos atos simples, é necessário assegurar a incidência da mesma norma a todos 
os atos “menores” que, juntos, compõem o ato “maior”. 
 
Como exemplo, podemos citar a audiência de instrução e julgamento: imagine que o 
Juiz inicia o ato, colhe os esclarecimentos do perito, facultando indagações aos 
assistentes técnicos. Em razão do adiantado da hora, suspende o ato e designa a 
continuação para a semana seguinte, oportunidade em que ouvirá as testemunhas 
arroladas pelas partes. 
 
Nesse meio tempo, surge nova lei, alterando a ordem e a mecânica dos atos na 
audiência. Uma vez que o ato complexo se iniciou sob a vigência da primeira lei, deve 
ser finalizado dessa forma, pois, caso contrário, haveria a combinação de leis. Isso 
levaria à aplicação involuntária de uma terceira, não prevista pelo legislador, bem 
como surpreenderia as partes e seus advogados que não haviam se preparado para 
aquela situação. 
 
No que tange ao início de sua vigência, no entanto, de acordo com o art. 1º da Lei de 
Introdução às Normas do Direito Brasileiro, nome atualmente conferido à Lei de 
Introdução ao Código Civil, a lei processual começa a vigorar quarenta e cinco dias 
após a sua publicação. Salvo disposição em contrário (na prática, é comum que se 
 
1 O legislador brasileiro, ao tratar da eficácia da norma processual no tempo, optou pelo sistema do isolamento dos atos 
processuais, segundo o qual a lei nova se aplica imediatamente a todos os atos que forem subsequentes à sua entrada em vigor. 
Todavia, devem ser mencionados dois outros sistemas importantes. O primeiro é o da unidade processual, segundo o qual o 
processo, por ser uma cadeia unitária, só pode ser regulado por uma lei do início ao fim, devendo prevalecer então a anterior, 
para evitar a retroatividade da posterior. Já o sistema das fases processuais permite que se aplique uma lei diferente em cada 
uma delas, por serem autônomas. 
 
 
 
 
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estabeleça a vigência imediata), respeitando-se, todavia, o direito adquirido, o ato 
jurídico perfeito e a coisa julgada, em conformidade com o art 5º, XXXVI, da Magna 
Carta e art. 6º da LINDB. 
 
Não custa lembrar que, caso haja republicação do texto da Lei durante o período de 
sua vacatio,2 por motivo de correção, novo prazo deve ser computado (interrupção); 
é a regra do art. 1º, § 3º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. 
 
Importante mencionar que o referido art. 1.211 do CPC/1973 foi alterado pela Lei n. 
12.008/2009. Ele passou a incorporar as letras A, B e C, que tratam da figura da 
prioridade de tramitação dos processos em que sejam interessadas pessoas com 60 
anos ou mais, ou ainda portadoras de graves doenças. 
 
No novo CPC, a matéria vem regulada no art. 1.048, que traz a seguinte redação: 
 
Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os 
procedimentos judiciais: 
 
I – em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior 
a 60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim compreendida 
qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei n. 7.713, de 22 de 
dezembro de 1988; 
II – regulados pela Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e 
do Adolescente). 
§ 1º A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua 
condição, deverá requerê-lo à autoridade judiciária competente para decidir o 
feito, que determinará ao cartório do juízo as providências a serem cumpridas. 
§ 2º Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que 
evidencie o regime de tramitação prioritária. 
 
2 É o período em que a lei já foi publicada, mas ainda não entrou em vigor. 
 
 
 
 
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§ 3º Concedida a prioridade, essa não cessará com a morte do beneficiado, 
estendendo-se em favor do cônjuge supérstite ou do companheiro em união 
estável. 
§ 4º A tramitação prioritária independe de deferimento pelo órgão jurisdicional 
e deverá ser imediatamente concedida diante da prova da condição de 
beneficiário. 
 
 
Por fim, devemos ressaltar que a vigência de um novo Código sempre traz um grande 
número de questões de direito intertemporal. 
 
Buscando prevenir os problemas já previsíveis, o novo CPC dedica diversos dispositivos 
ao tema, que serão tratados no volume 2 dessa obra. Apenas para exemplificar, 
transcrevemos o art. 1.046, que traz as regras básicas: 
 
Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo 
aos processos pendentes, ficando revogada a Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. 
 
§ 1º As disposições da Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao 
procedimento sumário e aos procedimentos especiais que forem revogadas 
aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início da vigência 
deste Código. 
§ 2º Permanecem em vigor as disposições especiais dos procedimentos 
regulados em outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código. 
§ 3º Os processos mencionados no art. 1.218 da Lei n. 5.869, de 11 de janeiro 
de 1973, cujo procedimento ainda não tenha sido incorporado por lei, 
submetem-se ao procedimento comum previsto neste Código. 
§ 4º As remissões a disposições do Código de Processo Civil revogado, existentes 
em outras leis, passam a referir-se às que lhes são correspondentes neste 
Código. 
§ 5º A primeira lista de processos para julgamento em ordem cronológica 
 
 
 
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observará a antiguidade da distribuição entre os já conclusos na data da 
entradaem vigor deste Código.

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