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Aula Penal Especial II Parte II

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TÍTULO VII DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA
CAPÍTULO II DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO
1. REGISTRO DE NASCIMENTO INEXISTENTE
Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Esse crime também é conhecido como “suposição de fato”.
Pode acontecer 3 formas:
- A mulher nunca engravidou
- A mulher está grávida, mas se antecipou.
- A criança nasceu morta – natimorto. 
Nas duas primeiras formas, o nascimento não aconteceu. Se tiver havido um nascimento, não haverá o crime. 
Na terceira hipótese, o procedimento é diverso, e não chegar no cartório e registrar como se ela não tivesse morrido. Diferente é você enganar, como o cara não saber que o procedimento era outro – erro de tipo.
Assim como bigamia requer uma falsidade, esse crime também vem acompanhado de algum tipo de falsidade. 
Esse crime é uma espécie de falsidade ideológica, isso porque essa falsidade necessariamente tem que ser promovida no cartório de “registro civil”. É uma falsidade específica nesse registro civil. Esse é um crime especial em relação ao 299 e em relação ao 297. 
O elemento subjetivo é o DOLO, que é a vontade livre e consciente de fazer o registro de nascimento inexistente, e NÃO REQUER UM FIM ESPECIAL DE AGIR. 
Trata-se de um crime MATERIAL: se consuma quando efetivamente acontece o registro. 
Admite coautoria. Ex.: testemunhas, médico que admite óbito etc.
Sujeito passivo: Estado, e de forma secundária a pessoa que foi diretamente afetada com aquela conduta. 
Bem jurídico: estado de filiação; a ordem familiar; a fé pública (veracidade dos documentos).
2. SONEGAÇÃO DE ESTADO DE FILIAÇÃO
Art. 243 - Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Crime COMISSIVO. Necessariamente, para que haja esse crime, eu tenho que deixar essa criança nesses locais indicados. 
Esse crime pode ser cometido pelos pais, mas também pode ser cometido por outra pessoa: “filho próprio ou alheio”. 
Necessariamente, para a existência desse crime, tem que ser um asilo de expostos. Se você abandona no mato, ou em outro lugar, não configura esse crime, pois é o caso de abandono de incapaz (art. 133�) ou de recém-nascido (art. 134�). 
“Ocultando-lhe a filiação”: se eu deixar uma criança num asilo de expostos e colocar toda a identificação – nome, filiação etc. – não há que se falar desse crime. É necessário ocultar a filiação, ou então atribuir outra. 
O elemento subjetivo é o DOLO, que é a vontade livre e consciente de deixar. Além do dolo, há um FIM ESPECIAL DE AGIR: prejudicar qualquer direito inerente ao estado civil. 
É um crime COMUM: pode ser cometido pelos pais ou por qualquer outra pessoa. 
É um crime FORMAL: se consuma no momento em que há o abandono, ainda que não prejudique qualquer direito inerente ao estado civil. Mas há divergências: há autores que entendem que esse crime é material. Sendo material, só vai se consumar quando o direito ao estado civil for violado – essa posição é minoritária.
Trata-se de um crime plurissubsistente, então admite tentativa. 
3. PARTO SUPOSTO. SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE DIREITO INERENTE AO ESTADO CIVIL DE RECÉM-NASCIDO
Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil:  
Pena - reclusão, de dois a seis anos.  
Como se percebe, são múltiplos os comportamentos previstos pelo tipo penal que podem se configurar no delito em estudo. 
Trata-se de um TIPO MISTO CUMULATIVO. Dessa forma, não há fungibilidade entre as condutas, o que implica, em caso de se realizar mais de uma, a aplicação do cúmulo material. 
Assim, de acordo com a redação legal, podemos apontar os seguintes elementos: 
a) conduta de dar parto alheio como próprio; 
Ao contrário do que ocorre com o delito de registro de nascimento inexistente, na infração tipificada pelo art. 242, na modalidade de dar parto alheio como próprio, existe, efetivamente, o nascimento de uma criança. No entanto, o agente atribui como próprio o filho nascido de outra mulher. 
Sujeitos 
Ativo: Para Greco, no que diz respeito à conduta de dar parto alheio como próprio, somente a mulher poderá configurar como sujeito ativo do delito, tratando-se, pois, de crime próprio. Nos demais comportamentos, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. 
Passivo: Para Greco, é o Estado, bem como as pessoas que foram prejudicadas com a conduta levada a efeito pelo sujeito ativo. 
Consumação e tentativa
Consumação: Para Greco, verifica-se quando criada a situação duradoura que realmente implique alteração do status familiae da criança.
Tentativa: plurissubsistente. 
Elemento subjetivo
Doloso
b) conduta de registrar como seu filho de outrem; 
É conhecida, popularmente, como “adoção à brasileira”, sendo extremamente comum sua ocorrência, praticada, principalmente, por famílias que atuam no sentido de ajudar alguém que não possui condições para criar e cuidar de seu filho. 
Essa é a razão pela qual existe o reconhecimento legal da nobreza do comportamento, criando, assim, nos termos do PU, um tipo derivado privilegiado, permitindo-se, ainda, ao julgador a aplicação do perdão judicial, oportunidade em que deixará de aplicar a pena. 
Sujeitos
Ativo: Para Greco, comum
Passivo: mesmas considerações
Consumação e tentativa
Consumação: para Greco, com o efetivo registro de filho alheio como se fosse próprio. 
Tentativa: plurissubsistente.
Elemento subjetivo
Doloso
c) a ocultação de recém-nascido ou sua substituição, mediante supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil. 
“Ocultação”
No primeiro caso, o agente oculta o recém-nascido, não levando a efeito o seu registro, com a finalidade de suprimir ou alterar direito inerente ao estado civil. 
Greco entende que essa finalidade, vale dizer, a supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil, deve fazer parte do dolo do agente ou, para a doutrina dominante, cuida-se de um elemento subjetivo especial constante do tipo penal, sem o qual não se poderá reconhecer a infração penal. Veja-se, por exemplo, a hipótese, muito frequente, em que os pais, dado o estado de miserabilidade em que se encontram, não registram o filho recém-nascido, acreditando, erroneamente, terem de pagar algum valor para a efetivação do registro. Embora, para o Estado, ocorra uma ocultação do nascimento de uma criança, não podemos entendê-la como típica, pois ausente essa finalidade de suprimir ou alterar direito inerente ao estado civil. 
A lei menciona, expressamente, a figura do recém-nascido, não se podendo incluir, consequentemente, por meio dessa expressão, o natimorto. 
“Substituição”
Na segunda hipótese, ocorre a troca de recém-nascidos. É o intercâmbio de duas crianças, que veem alterada, dessa forma, seu estado civil ao serem introduzidas em famílias que não são suas. 
Sujeitos
Ativo: Para Greco, crime comum
Passivo: mesmas considerações.
Consumação e tentativa
Consumação: Para Greco, com a supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil. Logo, se da ocultação ou da supressão não resultou privação de direito do neonato, haverá unicamente tentativa.
Tentativa: plurissubsistente.
Elemento subjetivo
Segundo a doutrina dominante, além do dolo, o agente ainda terá de atuar com um fim especial de agir, no sentido de suprimir ou alterar direito inerente ao estado civil. Assim, por exemplo, aquele que, por engano, sai da maternidade com filho de outrem, supondo-se tratar-se do próprio filho, não comete o delito em estudo. 
 
MODALIDADE PRIVILEGIADA
Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza:  
Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.  
CAPÍTULO III DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR
1. ABANDONOMATERIAL
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo:  
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.  
MISTO: esse crime pode ser cometido de três formas diferentes.
Nas primeira e segunda condutas, temos um tipo misto ALTERNATIVO. 
Na segunda e terceira, e primeira e terceira, temos um tipo misto CUMULATIVO. 
Trata-se de um crime próprio, tanto em relação ao sujeito ativo quanto em relação ao sujeito passivo.
É doloso, e não existe nenhum fim especial de agir. 
A doutrina diz que consuma-se a partir de um tempo juridicamente relevante, independentemente da vitima ter realmente sofrido um prejuízo, isto é, seria um crime formal, mas há divergências. Par outra corrente é material: só vai se consumar o crime quando dessas ausências houver efetivamente um perigo para o sujeito passivo. 
Admite tentativa? Não. É um crime omissivo, e crime omissivo é UNISSUBSISTENTE – não admite tentativa. 
Bem jurídico: assistência material à família
a) Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência 
Trata-se de um crime OMISSÍVO PRÓPRIO. 
Considera-se subsistência a alimentação, a habitação, a saúde etc. 
Mas quem tem esse dever de assistência? O legislador enumerou, e esse rol é taxativo, e não exemplificativo. Só cometem os crimes essas pessoas que estão elencadadas – numerus claus.
- Cônjuge: não é possível ampliar o rol de cônjuge para companheiro, porque seria analogia in malam partem. 
- Menor de 18 anos
- Inapto para trabalho: aqui não há idade nenhuma. Também inclui doença física/psicológica
- Ascendente inválido ou maior de 60 anos: mas não é o simples fato de os nossos pais serem inválidos e nós não provermos essa subsistência que este crime estará configurado. 
 OBSERVAÇÃO: se um dos 5 filhos prover, está tudo ok, porque os pais não estão mais passando necessidades. 
“Não lhes proporcionando os recursos necessários”: se provi pouca comida, cometo esse crime? Paulo José da Costa Júnior diz que não haveria esse crime se prover de forma parcial. Só haveria se eu deixasse de levar totalmente alimentação para os meus filhos. Essa posição não é pacífica: existem autores que dizem que, se ele tem condição de levar mais comida e não leva, há esse crime.
“Sem justa causa”: elemento normativo. 
 OBSERVAÇÃO: tenho filhos e pais precisando, mas meu salário não dá para os dois. Se eu der para os filhos, e não para os pais, estarei praticando esse crime? Haveria uma justa causa, mas nenhum autor se manifestou sobre isso. 
Consumação: com a falta de assistência, observado o tempo juridicamente relevante no caso concreto. 
b) Faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente 
Na primeira conduta, não há nenhuma sentença me obrigando a prestação desses recursos. Aqui na segunda só haverá o crime se eu não pagar uma pensão que foi judicialmente fixada. 
Entretanto, já há a prisão do CC. Se já existe a presença do direito diante dessa conduta, porque o CP ainda tipifica como crime? 
Podemos abater os dias que ele ficou preso administrativamente daqui? NÃO. Independência das instancias. 
Consumação: com o não pagamento, observado o tempo juridicamente relevante no caso concreto.
c) Deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo. 
Omissivo também. 
 OBSERVAÇÃO: o legislador não colocou cônjuge  
Consumação: com a ausência do socorro, observado o tempo juridicamente relevante no caso concreto.
Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.  
2. ENTREGA DE FILHO MENOR A PESSOA INIDÔNEA
Art. 245 - Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo:  
Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.  
Doutrina: essa entrega tem que ser por um tempo razoável. 
Trata-se de um crime de perigo, e não de um crime de dano. Não é necessário que o menor de 18 anos seja efetivamente exposto a um dano. Basta que ele seja colocado num local que é um perigo, esse crime já estará consumado. 
 DIVERGÊNCIA: crime de perigo concreto ou abstrato? Perigo concreto é quando efetivamente requer a iminência de acontecer, como o incêndio. O perigo abstrato basta ser previsto para existir, como a lei seca. 
- Greco diz que é concreto. 
- Mas Paulo José da Costa diz que é abstrato: não precisa que haja perigo concreto. Basta ter deixado com Mayana, que é inidônea.
Essa inidoneidade pode existir antes da entrega da filha, ou isso pode ser concomitante – ela não sabia, e no momento da entrega tomou conhecimento. Essa inidoneidade pode ser sabia antes, ou ao tempo da entrega.
É um crime DOLOSO, e não admite forma culposa. Isso significa que se você deixou com pessoa inidônea e não sabia direito quem era essa pessoa, você comete esse crime.
Mas a expressão “deva saber” traz divergências: a maioria da doutrina entende que é dolo eventual. Mas existem autores que dizem que isso é sinônimo de culpa. 
Em relação ao sujeito ativo, é um crime próprio. E em relação ao sujeito passivo também: só os filhos e os menores de 18 anos. 
 DIVERGÊNCIA: Consumação 
- FORMAL: A maioria da doutrina diz que se consuma com a entrega, independentemente de o menor ficar exposto a um perigo, logo seria crime formal. 
- MATERIAL: Outros autores entendem que só vai se consumar quando houver perigo.
Admite a tentativa. 
§ 1º - A pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão, se o agente pratica delito para obter lucro, ou se o menor é enviado para o exterior (para morar com pessoa inidônea)
Nesse caso temos uma qualificadora: pena mínima e pena máxima
§ 2º - Incorre, também, na pena do parágrafo anterior quem, embora excluído o perigo moral ou material, auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de obter lucro.  
Aqui você manda o menor para o exterior não para morar com pessoa inidônea, e sim com idônea; mas se for no intuito de obter lucro, responderá pelas mesmas penas do parágrafo anterior. 
Esse § 2º foi automaticamente revogado pelos arts. 138 e 139 do ECA. O ECA É mais específico, e ele que será aplicado. 
ABANDONO MORAL
Art. 247 - Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância:
NÚCLEO: “permitir”, que pode ser concretizado tanto por ação (crime comissivo) como mediante omissão (crime omissivo próprio), equivale a propiciar, consentir, deixar. 
I - freqüente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida;
II - freqüente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza;
III - resida ou trabalhe em casa de prostituição;
IV - mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Concurso de crimes?
Para Masson, NÃO se constitui em tipo misto cumulativo. O núcleo é só um: “Permitir”, que se associa a diversas condutas. 
Cuida-se, na verdade, de crime de condutas conjugadas, pois, se o agente cometer mais de uma delas, ainda que contra a mesma vítima, responderá pela pluralidade de crimes, em concurso material ou formal impróprio , dependendo do caso concreto. 
Sujeito ativo
Crime PRPÓPRIO – somente pode ser cometido pelo titular do poder familiar, ou então pela pessoa de qualquer modo responsável pela guarda ou vigilância da criança ou adolescente, a exemplo do diretor da escola em que o menor estuda.
Sujeitopassivo
É o menor de 18 anos submetido ao poder familiar ou confiado à guarda ou vigilância de alguém
Elemento subjetivo:
I, II, e III: DOLO, independentemente de qualquer finalidade específica. 
IV: Se exige, ALÉM DO DOLO, um FIM especial de agir, representado pela expressão “para excitar a comiseração pública”.
Consumação
(I) freqüente casa de jogo ou mal-afamada e (II) freqüente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor.
Aqui temos condutas que requerem HABITUALIDADE. Logo, não basta um único comparecimento da criança ou adolescente a qualquer dos locais indicados. É imprescindível a reiteração de atos para revelar a intenção de prejudicar a índole moral do menor. 
(I) conviva com pessoa viciosa ou de má vida e (III) resida ou trabalhe em casa de prostituição.
Aqui exige-se a permanência do menor de idade por TEMPO JURIDICAMENTE RELEVANTE (capaz de colocar em risco sua formação moral) no local junto à pessoa apontada pelo tipo penal (crime permanente).
(II) participe de representação capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor e (IV) mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública.
Aqui é suficiente a permissão do sujeito ativo quanto à conduta do menor para a consumação do delito (crime instantâneo)
Em todas as espécies, o crime é FORMAL: consuma-se com a prática de cada uma das condutas, pouco importando se acarretou, efetivamente, a má formação moral da criança ou adolescente. 
[ DIVERGÊNCIA: Perigo concreto ou abstrato? 
- Masson: Trata-se de CRIME DE PERIGO CONCRETO, pois exige comprovação da real exposição do menor a situação de probabilidade de dano à sua formação moral. 
- Regis Prado: Cuida-se de delito de PERIGO ABSTRATO, consumando-se mesmo que no caso concreto não se tenha verificado qualquer perigo para o bem jurídico tutelado (integridade moral do menor). Não se exige que i perigo seja comprovado. 
Tentativa
É possível, nas hipóteses de crime COMISSIVO, nas quais o caráter plurissubsistente do delito mostra-se compatível com o fracionamento do iter criminis.
Mas não será cabível nas modalidades omissivas. 
 OBSERVAÇÃO: Distinção: abandono moral e entrega de filho menor a pessoa inidônea
Muito embora apresentem pontos em comum, não se confundem. Em verdade, o art. 245 no fundo apresenta uma variante do abandono moral, na hipótese em que o menor fica moralmente em perigo. 
No entanto, o crime definido no art. 245 consiste na FORMA ATIVA do abandono moral, na qual o agente ENTREGA o filho menor a pessoa inidônea; por sua vez, o art. 247 representa a FORMA PASSIVA do delito, pois o sujeito se limita a PERMITIR. 
Ex.: Se um pai entrega o filho a uma prostituta para aí ficar durante certo tempo, comete o delito do 245. Se, todavia, o menor está morando com ela e o genitor não age, não se o opõe, pratica o crime do art. 247. 
SUBTRAÇÃO DE INCAPAZES
Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro crime.
Não são todos os tipos de incapazes, mas tão somente os menores de 18 anos e aqueles judicialmente interditados (privados do exercício de certos direitos ou certas funções em virtude de sentença criminal).
NÚCLEO DO TIPO: “Subtrair”, no sentido de retirar o menor de 18 anos de idade ou interdito de quem detém sua guarda. A guarda pode emanar da lei ou de decisão judicial. 
Eventual consentimento do menor de idade ou interdito é juridicamente irrelevante, pois, em decorrência do seu perfil subjetivo, presume-se a incapacidade para anuir à conduta típica. 
Cuida-se de CRIME DE FORMA LIVRE, ou seja, admite qualquer meio de execução. 
Sujeito ativo
É comum ou geral. Pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive pelos pais, tutores ou curadores, se tiverem sido destituídos ou se encontram temporariamente privados do poder familiar, tutela, curatela ou guarda (§1º)
§ 1º - O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito não o exime de pena, se destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda.
Veja-se que o pai ou a mãe separado judicialmente, mas que não foi destituído do poder familiar, não pode ser responsabilizado pelo crime de subtração de incapazes na hipótese em que retém o filho menor de idade por prazo superior ao judicialmente convencionado, mas eventualmente pelo delito de desobediência à decisão judicial. 
Sujeito passivo
É o detentor da guarda do menor de 18 anos ou interdito e, mediatamente, o próprio incapaz. 
Elemento subjetivo
DOLO, independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite a modalidade culposa.
Consumação
É crime MATERIAL ou causal: consuma-se no momento em que o menor de 18 anos ou interdito é retirado da esfera de vigilância da pessoa que detinha sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial. Prescinde-se da posse tranquila da vítima pelo agente, é dizer, o crime estará consumado ainda que o menor de 18 anos ou interdito apresente resistência à conduta legalmente descrita. 
Subsidiariedade expressa
O caput evidencia a natureza expressamente subsidiária do crime de subtração de incapazes. 
PERDÃO JUDICIAL
§ 2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar pena.
Trata-se de causa extintiva de punibilidade (CP, 107, IX).
TÍTULO VIII DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA
Incolumidade é o estado de preservação ou segurança de pessoas ou de coisas em relação a possíveis eventos lesivos. 
Ao utilizar a expressão “incolumidade pública”, o legislador incriminou condutas atentatórias à vida, ao patrimônio e à segurança de pessoas indeterminadas ou não individualizadas.
CAPÍTULO I DOS CRIMES DE PERIGO COMUM
No Direito Penal, o perigo é a probabilidade de dano. Destarte, a consumação dos crimes de perigo NÃO depende da efetiva lesão do bem jurídico; BASTA SUA EXPOSIÇÃO A UMA SITUAÇÃO PERIGOSA, evidenciada pela provável ocorrência de dano. 
No capítulo I do Título I da Parte Especial (arts. 130 a 136), no campo dos crimes contra a pessoa, o CP previu os delitos de perigo individual, nos quais uma pessoa, ou então um número determinado de pessoas, tem sua vida ou saúde submetida a uma situação perigosa. Agora, em seus arts. 250 a 259, inaugurando o rol de crimes contra a incolumidade pública, o legislador elencou um NÚMERO INDETERMINADO DE PESSOAS, ameaçadas não apenas no tocante à VIDA e à SAÚDE, mas também na ESFERA PATRIMONIAL. 
O QUE É PERIGO? 
Perigo é uma GRANDE PROBABILIDADE DA OCORRÊNCIA DE UM DANO. Existem algumas teorias para explicar o perigo: 
A teoria SUBJETIVA diz que perigo não existe, mas sim que é uma criação da imaginação – uma abstração. Um prognóstico de algo que pode acontecer. Cabe à nós dar o devido valor à essa conduta perigosa. É uma expectativa.
Mas será que cabe ao DP criminalizar conduta que foi apenas uma expectativa de um dano? 
A teoria OBJETIVA diz que podemos avaliar o perigo como sendo uma realidade. O perigo existe. Não é uma criação, não é uma expectativa. Corresponde à uma realidade, e que se não for evitado, provavelmente vai acontecer um dano. 
A teoria MISTA diz que não se pode negar que seja uma expectativa ou um prognóstico, mas ele existe. E é plenamente possível identificar o que é uma conduta perigosa ou não, fazendo um juízo mental sobre esse perigo. Esse juízo mental se dá a partir de uma realidade objetiva. Vamos avaliar uma conduta a partir de uma realidade objetiva, e em cima dessa realidade faremos um prognóstico. 
É com base nisso que o legislador criou os crimes que veremos a seguir. 
TIPOS DE PERIGO 
a) Perigo Individual: Ex.: art. 132 CP.
b) Perigo comum/coletivo: São os que estudaremos agora. Requer um numero considerado de pessoas.
c) Concreto: Requer que haja um perigo real. Requer a comprovação do perigo. 
d) Abstrato: Não ha a necessidade de comprovaçãodesse perigo. O legislador presumiu a conduta como sendo perigosa. A diferença em ralação ao crime de perigo concreto se dá no plano normativo. Em regra, está no próprio tipo penal a existência de um perigo real, como “expondo a perigo”. Quando Não houver essa expressão, é porque, geralmente, é um crime de perigo abstrato. 
1. INCÊNDIO
Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
Bem Jurídico: a incolumidade pública. 
Por ser um crime de perigo, é desnecessário que ocorra uma lesão.
A ação nuclear é “causar”, e, portanto, é crime COMISSIVO. Apesar de comissivo, pode ser por omisão. 
Tem que ser um FOGO PERIGOSO – potencialmente lesivo. 
É um crime de perigo CONCRETO: necessariamente TEM QUE SER COMPROVADO pelo perito. Em regra, essa prova do perito não é suprível por outros meios. Só há crime se efetivamente houver um perigo real. Não havendo esse perigo, na há que se falar desse crime. 
A condição elementar é o perigo; mas não basta o perigo: é necessário que seja direcionado a um NÚMERO INDETERMINADO DE PESSOAS. 
Não necessariamente o perigo resulta do fogo, pois pode resultar do pânico, por exemplo. 
A depender da situação, pode se subsumir:
- Dano qualificado (art. 163 PU)
Imaginemos que eu coloco fogo na sua casa e sua casa não tinha vizinhos. Estava localizada em algum lugar sozinha. Eu fui lá e coloquei fogo. Não vou responder por crime de incêndio, ainda que tenha sido um fogo imenso e fora de controle. Não vai ser crime de incêndio porque tem que oferecer perigo a um número indeterminado de pessoas, o que não era o caso. Nesse caso, eu vou responder por DANO QUALIFICADO, pois foi utilizado fogo.
- Perigo para a vida ou saúde de outrem (art. 132) 
Coloquei fogo em algum lugar, e esse fogo resultou perigo para uma única pessoa – perigo individual. 
- Exercício arbitrário das próprias razões (art. 345)
Esse crime consiste na conduta daquela pessoa que faz justiça com as próprias mãos. 
Vamos supor que eu tenha vendido minha casa para alguém, mas a pessoa nunca me pagou. Daí eu incendiei a casa, desde que a casa estivesse isolada e eu não expusesse ninguém a perigo – não tivesse ninguém lá. 
- Conduta atípica. 
Eu ateei fogo na minha casa isolada e vazia, porque recebi minha nota de Processo de Conhecimento I. 
Sujeitos
Ativo: crime comum. 
Passivo: Como a conduta é direcionada a uma quantidade indeterminada de pessoas, é o Estado. Mas Bitencourt diz que o sujeito passivo lesado determinado também o é – cada indivíduo também é sujeito passivo. 
Elemento subjetivo
Dolo – caput 
Culpa - §2º 
Preterdoloso – art. 258. 
INCÊNDIO DOLOSO
Vontade livre e consciente de causar o incêndio.
É imprescindível de, além de querer causar o incêndio, ter a vontade de colocar muitas pessoas em perigo. 
O dolo é de perigo. 
Hungria diz que nesse caso não temos como negar que, embora o dano principal seja perigo, não haja dolo de dano.
Fim especial de agir? Não requer. Entretanto, a depender do que te levou a causar esse incêndio, essa conduta pode mudar de figura ou pode configurar esse incêndio com aumento de pena – poderá agravar o crime de incêndio ou configurar concurso de crimes. 
AUMENTO DE PENA 
§ 1º - As penas aumentam-se de um terço:
São causas de aumento de pena em razão da finalidade (fim especial de agir):
I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;
É uma finalidade específica que tem uma consequência diferente. Mas é irrelevante que consiga ou não tirar essa vantagem pecuniária. 
São causas de aumento de pena em razão da localização: 
II - se o incêndio é:
a) em casa habitada ou destinada a habitação;
Casa habitada: Não precisa que tenha gente dentro. 
Casa destinada a habitação: é aquela que embora seu objetivo principal não seja moradia, funciona como tal – está sendo destinada a habitação. 
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura;
Também não precisa ter gente dentro. 
c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo;
Também não precisa ter gente dentro. 
d) em estação ferroviária ou aeródromo;
E as rodoviárias? Não responde pela alínea d, porque não podemos utilizar analogia in malam partem. Mas ele poderia ter sua pena aumentada em razão da alínea “b”, pois a rodoviária é destinada a uso público. 
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
Embora não estejam sendo usados. 
f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
g) em poço petrolífico ou galeria de mineração;
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.
 DIVERGÊNCIA: em relação a essa alínea “h” existe uma discussão para saber se ela foi revogada ou não em razão dos crimes ambientais. A lei dos crimes ambientais prevê como crime ambiental a conduta de incendiar floresta ou mata. Ela é posterior, e, por conta do princípio da especialidade e por ser uma lei mais nova, ela prevalece? 
- Primeira corrente: não revogou, e as duas prevalevem. Se eu não causei perigo para ninguém, é só crime ambiental. Se eu causei perigo, é penal. 
- Segunda corrente: é uma lei posterior, além do princípio da especialidade – ela derrogou o inciso (só essa alínea).
 DIVERGÊNCIA: Incêndio para recebimento de seguro 
Se ausência de perigo comum – estelionato: se Guto, ao colocar fogo na casa dele, tiver resultado um incêndio, mas se desse incêndio não houver perigo comum, haverá só estelionato. 
Mas se resultou em perigo comum: há concurso de crimes ou um absorve o outro? 
- Primeira corrente: nesse caso, Guto só vai responder pelo incêndio com aumento de pena pela vantagem pecuniária (inciso I). O incêndio com aumento de pena é maior que a pena do estelionato, então aplicaremos o princípio da subsidiariedade. 
- Segunda corrente: há concurso material de crimes, caso ele receba a vantagem. São bens jurídicos diferentes: incolumidade pública e patrimônio da seguradora. São duas ações – daí porque material –, então a pena será somada. 
INCÊNDIO CULPOSO 
§ 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Negligência, imperícia ou imprudência. É aquela conduta que uma pessoa que se preocupa com as outras não cometeria. 
Enfatizando: tanto no doloso quanto no culposo é necessário que resulte perigo; que seja perigo para muitas pessoas; e que seja comprovado esse perigo. 
 OBSERVAÇÃO: Possibilidade de coautoria em crime culposo: possível. Desde que os dois hajam com dolo ou os dois hajam com culpa. Ex.: Santa Maria. 
 DIVERGÊNCIA: Aceiros – Lufada de vendo. 
- Primeira corrente: ele tomou as medidas e não foi negligente. 
- Segunda corrente: ele responde pelo crime na forma culposa, porque o principal elemento da culpa é a “previsibilidade”. É a culpa inconsciente: você não previu, mas é previsível. Rajadas de vento são previsíveis. 
 OBSERVAÇÃO: Incêndio culposo na casa habitada?
Não pode ser causa de aumento de pena em função da coisa atingida. Localização topográfica do CP. 
INCENDIO QUALIFICADO PELO RESULTADO (INCÊNDIO PRETERDOLOSO) – art. 258
Formas qualificadas de crime de perigo comum
Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.
Doloso: 
- Se do incêndio doloso resulta lesão corporal grave 
- Se do incêndio doloso resulta morte
 OBSERVAÇÃO: se a morte ou lesão corporal forem dolosos, haverá concurso de crimes. O resultado não pode ser doloso. 
 OBSERVAÇÃO: não haverá crime se terceiro morre ou sofre lesão corporal comparecendo ao local para salvamento. 
 DIVERGÊNCIA: se no incêndio doloso, com resultado doloso, porqual crime ele responderá?
- Primeira corrente: responderá por concurso formal. A conduta foi uma só – joguei o fogo na casa da pessoa, com dois resultados. Incêndio + homicídio qualificado. A qualificadora aqui não poderia ser usada nos dois, pois configuraria bis in idem. 
- Segunda corrente: O homicídio qualificado vai absorver o crime de incêndio. Além disso, deve ser observado o principio da proporcionalidade. Embora sejam bens jurídicos diferentes, se você somar essas duas penas, talvez fira o princípio da proporcionalidade. Mas essa absorção só se da no homicídio, porque se do incêndio doloso resultar lesão corporal dolosa, haverá concurso, pois só a pena de lesão corporal dolosa, ainda que seja por conta do fogo – mais uma vez princípio da proporcionalidade, mas aqui, ao invés, ficaria muito leve. 
Então, para essa corrente: 
Se houver morte: homicídio qualificado absorve o crime de incêndio. 
Se houver lesão corporal: haverá concurso formal impróprio – somam as penas. 
Consumação do crime de incêndio 
Se consuma quando houver efetiva situação de perigo, e não quando coloco o fogo, independentemente de qualquer dano. Mas isso é muito difícil de identificar. 
 DIVERGÊNCIA: Material ou Formal? 
- Primeira corrente: formal, pois e consuma no momento em que é perigoso 
- Segunda corrente: esse perigo já é o resultado naturalístico, logo, ele é meterial. 
Tentativa
É plurissubsistente 
É plenamente na tentativa ocorrer um erro de tipo.
Também é possível um arrependimento eficaz. 
 OBSERVAÇÕES:
Se você pratica o crime de incêndio com inconformismo político, será a Lei de Segurança Nacional – 170/80
Se é em Mata ou Floresta – crimes ambientais. 
Casa de outrem isolada – dano qualificado
Sua casa ocasionando perigo comum – incêndio. Sua casa isolada sem perigo nenhum – não há crime. 
2. EXPLOSÃO
Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
O legislador se antecipa a um resultado mais gravoso, que seria a explosão, incriminando condutas que poderiam ser consideradas atos preparatórios. 
Ação nuclear: expor a perigo. 
O perigo integra o tipo como elemento normativo.
É um crime de CONDUTA VINCULADA�: explosão, arremesso e colocação. 
Engenho de dinamite: fórmula casuística – nitroglicerina com substâncias sólidas. 
Substâncias de efeitos análogos: TNT, gelatinas explosivas, trotil etc. 
É um crime de PERIGO COMUM.
É um crime de PERIGO CONCRETO: o perigo tem que ser provado. 
Como perigo comum e concreto é elementar desse crime, se não houver, não há que se falar desse crime. 
O objetivo da perícia é dizer se resultou perigo e também para dizer, no caso de não ser dinamite, se aquela substancia que foi utilizada para aquela bomba tem ou não efeitos análogos ao da dinamite. 
 OBSERVAÇÃO: bomba caseira poderia estar aqui incluída como uma substância de efeito análogo? Sim, poderia, a depender de seu poder de destruição. Então é preciso analisar qual foi a substancia analisada na bomba e averiguar com o perito qual foi o seu poder de destruição, que deve ser equiparado ao da dinamite. 
Formas
Simples – Dolosa
Privilegiada
Aumento de pena
Culposa 
Qualificada pelo resultado 
SIMPLES – DOLOSA
Caput
É a vontade livre e consciente de praticar explosão, arremesso ou colocação, consciente do perigo comum – dolo de perigo. 
 OBSERVAÇÃO: Se eu pratiquei o crime de explosão querendo um resultado diverso (além do resultado do perigo), como, por exemplo, homicídio, temos as mesmas considerações do crime de incêndio. 
PRIVILEGIADA
§ 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Tem pena mínima e máxima – é o inverso da qualificadora.
Essas substancias, por serem de menor perigo, têm uma pena menor, em razão do princípio da proporcionalidade. 
Ex.: pólvora. 
AUMENTO DE PENA
§ 2º - As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I, do artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo.
São os mesmos casos do incêndio. É a mesma coisa, as mesmas considerações. 
MODALIDADE CULPOSA
§ 3º - No caso de culpa, se a explosão é de dinamite ou substância de efeitos análogos, a pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos; nos demais casos, é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
- inobservância das regras objetivas de cuidado 
- Só na modalidade explosão. Arremesso e colocação não. 
O que são esses “demais casos”? Seria arremesso e colocação? Poderia ser arremesso e colocação. Mas pensar isso seria meio incoerente. Esses demais casos, na verdade, são que se da explosão culposa a substancia não for dinamite ou efeito análogo, a pena será menor. Conclusivamente, podemos afirmar que o crime do art. 251, na forma culposa, só admite a explosão. Se eu praticar um arremesso ou uma colocação de forma negligente ou imprudente não há crime, porque sabemos que só há forma culposa aquilo que o legislador claramente previu.
 OBSERVAÇÃO: as causas de aumento de pena não se aplicam nesta modalidade. 
EXPLOSÃO QUALIFICADA PELO RESULTADO
Mesma coisa que incêndio. Art. 258
Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.
Sujeitos
Ativo: Comum
Passivo: Crime vago – coletividade
Consumação
Criação de situação de perito comum – material. 
Ex.: sujeito espalhar dinamite em área que vai ser usada. 
Tentativa
É possível devido ser plurissubsistente. 
- Arremesso: agente interrompido no momento em que vai arremessar. 
- Explosão: difícil constatação. Isso porque tudo que poderia configurar tentativa da explosão vai se encaixar ou na colocação ou no arremesso. Em outras palavras, o legislador já puniu os atos anteriores à explosão como crime consumado. 
- Colocação: não há tentativa, pois seriam apenas atos preparatórios. 
 OBSERVAÇÕES
- Se eu provocar uma explosão de dinamite numa casa, e essa casa estiver num local isolado e não criar uma situação de perigo para as pessoas, responderei por dano qualificado.
- Se eu pratico explosão como um ato de terrorismo, essa conduta está prevista na Lei de segurança nacional. Por conta do princípio da especialidade, será a lei específica. 
- Se você utilizar explosivo em atividade de pesca, vai responder pela lei 7669/88, que regulamenta a pesca no Brasil.
- O uso de foguetes em local público ocasionando perigo – Lei das contravenções penais 
- Se da minha explosão resultar perigo de uma pessoa determinada, vai ser crime de perigo individual (arr. 132 CP).
- Se eu quis a explosão querendo a morte ou lesão corporal: concurso formal de explosão com homicídio ou lesão corporal. Obs.: existe outra posição, que vimos no crime de incêndio. 
CAPÍTULO III DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA
São crimes que só existirão se colocarem em perigo um número considerável de pessoas. 
1. EPIDEMIA
Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:
Pena - reclusão, de dez a quinze anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
BEM JURÍDICO: incolumidade pública
OBJETO MATERIAL: germe patogênico 
NÚCLEO DO TIPO: “causar”, no sentido de produzir ou dar origem. A conduta, portanto, consiste em dar origem à epidemia, mediante propagação de tais micro-organismos. A propagação pode ser efetuada direta ou indiretamente.
EPIDEMIA: doença contagiosa que surge rapidamente em um local e atinge simultaneamente um grande número de pessoas. Não se confunde com endemia e pandemia. 
SUJEITO ATIVO: comum
SUJEITO PASSIVO: coletividadeELEMENTO SUBJETIVO: dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Admite a modalidade culposa. 
 OBSERVAÇÃO: Transmissão de doença a pessoa determinada e dolo de dano: a epidemia é delito contra a saúde pública. Destarte, o sujeito tem a intenção de ofender o corpo social, e não de atingir uma pessoa individualmente considerada. Nesse contexto, se o propósito do agente consistir na transmissão a alguém da doença grave de que está contaminado, será forçoso reconhecer o delito de perigo de contágio de moléstia grave (art. 131). Além disso, se o sujeito possuir o dolo de matar ou de ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem, a ele será imputado o crime de homicídio qualificado pelo meio de que possa resultar perigo comum (121, §2º, III), ou de lesão corporal (art. 129), consumado ou tentado, conforme o caso. 
Crime MATERIAL: consuma-se com a produção do resultado naturalístico, ou seja, com a superveniência da epidemia. 
Crime de PERIGO COMUM e CONCRETO, razão pela qual se exige a comprovação do risco efetivo à saúde de pessoas indeterminadas. Não se pode conceber a epidemia como delito de perigo abstrato, pois há necessidade de demonstração da eficácia dos germes patogênicos.
CAUSA DE AUMENTO DE PENA
§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro.
A epidemia agravada pela morte é crime hediondo. 
Basta uma única morte.
Se ocorrer mais de uma morte, será imputado ao agente um único crime de epidemia circunstanciada, não se podendo falar em concurso de delitos. Contudo, a pluralidade de mortes deve ser utilizada pelo magistrado como circunstancia judicial desfavorável (art. 59). 
Cuida-se de crime preterdoloso.
MODALIDADE CULPOSA
§ 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos.
2. OMISSÃO DE NOTIFICAÇÃO DE DOENÇA
Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
BEM JURÍDICO: saúde pública 
NÚCLEO DO TIPO: “deixar” de denunciar. A omissão diz respeito ao dever do médico de comunicar à autoridade pública doença cuja notificação seja compulsória. 
Trata-se, portanto, de um crime OMISSIVO PRÓPRIO ou PURO, uma vez que a omissão está descrita expressamente no tipo penal. 
E quais são as doenças de notificação compulsória? O art. 269 constitui-se em LEI PENAL EM BRANCO, pois seu preceito primário é incompleto, dependendo de outras leis e atos da Administração Pública. 
Trata-se de CRIME PRÓPRIO, pois só o médico poderá cometer.
 OBSERVAÇÃO: Confronto entre omissão de notificação de doença e violação do segredo profissional: O médico que comunica a notificação de doença, atendendo ao comando normativo, comete o delito de violação do segredo profissional? NÃO. Somente se verifica o crime de violação de segredo profissional quando a revelação é efetuada sem justa causa. E na comunicação de doença de notificação compulsória o médico atua no estrito cumprimento do dever legal. 
SUJEITO PASSIVO: Coletividade (crime vago)
ELEMENTO SUBJETIVO: DOLO, independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite a modalidade culposa. 
CRIME DE MERA CONDUTA: consuma-se com a omissão do médico em denunciar à autoridade pública doença de notificação compulsória.
CRIME DE PERIGO COMUM E ABSTRATO.
TENTATIVA: não admite, por ser omissivo. 
FORMA QUALIFICADA PELO RESULTADO: 
Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos crimes previstos neste Capítulo, salvo quanto ao definido no art. 267.
3. EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA, ARTE DENTÁRIA OU FARMACÊUTICA
Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
É um crime de PERIGO COMUM 
O exercício de profissões é livre, mas é limitado, exatamente pela minha formação naquela profissão que eu quero exercer. 
Aqui é um rol taxativo.
 OBSERVAÇÃO: medicina veterinária não, porque seria fazer uma interpretação in malam partem – aqui são só pessoas. 
É um crime COMISSIVO: exercer. 
É HABITUAL. Assim, se uma pessoa uma única vez se fizer passar por médico, não há que se falar desse crime.
“Sem autorização legal?”. É um elemento normativo. 
A autorização legal é o registro. Não basta o diploma. É o registro que habilita a pessoa a exercer essas profissões. 
Se a pessoa não frequentou a faculdade, falta pra ela capacidade profissional, mas se ela frequentou a faculdade mas não obteve o registro, aí sim há falta de capacidade legal – há capacidade profissional mas não há legal. 
Para Greco é um crime de PERIGO CONCRETO. Se fosse abstrato, feriria o princípio da lesividade. Se o sujeito é formado, e um bom profissional, mas não se registrar, há uma Irregularidade administrativa 
“Excedendo os limites”: é o caso de uma profissão exercer o que é da outra profissão. É uma norma penal em branco, porque esses limites estão na legislação específica.
Ex.: ortopedista realizar uma cirurgia cardíaca. 
 OBSERVAÇÃO: estado de necessidade não configura esse crime. Contudo, crimes habituais não comportam estado de necessidade com frequência. 
 OBSERVAÇÃO: mães? Permitimos que uma mãe pratique pequenos auxílios. Não há dolo, e esse crime só admite a forma dolosa. 
Sujeitos
Ativo: é comum em relação à primeira parte. Mas na segunda parte (“excedendo os limites”) é próprio. 
Passivo: vago. 
Elemento subjetivo
Dolo, e não requer nenhuma finalidade específica. 
Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa.
 OBSERVAÇAO: suspensão judicial: se um profissional tem suas atividades suspensas por sentença judicial, mas continua praticando, há o criem de desobediência (art. 359)
 OBSERVAÇÃO: se a suspensão é administrativa, o crime é o do art. 205. 
Consumação
Como é um crime habitual, se consuma com a reiteração das condutas. 
É um crime FORMAL: não está condicionado à pluralidade de pacientes. Se a pessoa ficar atendendo só uma, mas várias vezes, estará configurado este crime. Embora ele seja um crime contra um número indeterminado de pessoas, o que se avalia aqui é o perigo dele estar exercendo a medicina. Por isso, ainda que tenha atendido só um, estará configurado esse crime.
Tentativa
Crimes habituais são incompatíveis com a tentativa. No entanto, Greco discorda disso (como no crime da casa de prostituição). Para Greco, generalizar que não há tentativa em crimes habituais é um raciocínio muito simplista. 
 OBSERVAÇÃO: O exercício de qualquer outra profissão que não estas vai ser contravenção penal (art. 47). 
 OBSERVAÇÃO: Parteiras? Alguns doutrinadores diz que há crime, mas é uma posição minoritária. Prevalece o entendimento de que o parto é algo natural. Há autorização para elas. 
 OBSERVAÇÃO: E os práticos? Não há autorização para eles. Prático comete sim este crime. 
 OBSERVAÇÃO: Diploma cassado: comete este crime. 
 OBSERVAÇÃO: se a pessoa prescrever dolosamente ao seu paciente uma substancia que causa dependência psíquica, responderá por este crime em concurso formal pelo crime de tráfico de drogas. 
Qualificado pelo resultado: art. 285. 
4. CHARLATANISMO
Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Alguns doutrinadores denominam esse crime como “estelionato da saúde”.
Necessariamente têm que estar presentes os seguintes elementos: não divulgar a substancia utilizada e dizer que é infalível.
Mas não basta só isso: quando é anunciada a cura, o charlatanismo SABE que o que ele está recomendando é mentira, isto é, que não vai fazer efeito nenhum. Daí porque é um estelionatário. 
Esse crime, por ter dois núcleos do tipo, é classificado como crime MISTO ALTERNATIVO. Então a pessoa pode, fazendo as duas coisas, responder por crime único.
Não precisa que seja feito com habitualidade: NÃO É CRIME HABITUAL. Basta que a pessoa uma única vez anunciea cura de uma doença que ele sabe que não tem cura. 
É um crime de PERIGO: ninguém precisa usar o produto. Basta a possibilidade de as pessoas acreditaram que a cura é verdadeira , então é um perigo ABSTRATO (exceto para Greco, que acha que alguém deve efetivamente seja colocado num perigo real para que o crime exista). 
Só admite a forma DOLOSA, e o dolo consiste exatamente em saber que aquela cura é mentirosa. Não requere nenhuma finalidade específica. 
 DIVERGÊNCIA: Vantagem econômica: Se a pessoa quer obter algum tipo de vantagem, há uma finalidade específica. 
- Por conta dessa finalidade específica, alguns autores dizem que sempre que o charlatão quiser obter alguma vantagem econômica, configurara o crime de estelionato. 
- Já outros autores dizem que não: nesse caso, obter vantagem econômica, ele responderia pelos dois crimes em concurso formal impróprio – charlatanismo (porque o bem jurídico é a saúde pública) e por estelionato (no caso de vender algum produto, porque está lesando outro bem jurídico). 
A CONSUMAÇÃO se da no momento em que a pessoa anuncia ou inculca – é, portanto, crime FORMAL. 
Ainda que haja efeito placebo, há crime. 
Quando você anuncia a cura de uma doença, corre o risco de as pessoas se tratarem com aquele produto que está sendo divulgado – perigo para a saúde.
TENTATIVA: depende da forma que é cometido. 
5. CURANDEIRISMO
Art. 284 - Exercer o curandeirismo: 
Trata-se de um crime de conduta vinculada (que é o contrário de crime de ação livre), pois o curandeirismo só existe se for cometida uma das três tipos de conduta descritas nos incisos. 
Mas quem são os curandeiros? A marca do principal do curandeiro, e o que o difere do exercício ilegal da medicina, é que no exercício ilegal da medicina a pessoa tem um certo conhecimento da medicina. O curandeiro, a seu turno, tem conhecimento rude e é inabilidoso. 
O perigo reside no fato da própria substancia que é utilizada, mas muitas vezes é também por conta do abandono do tratamento tradicional. 
A diferença pro charlatão é que o charlatão anuncia a cura sabendo que não funciona. O curandeiro acredita fielmente que cura as pessoas. 
É crime de PERIGO ABSTRATO – não precisa que efetivamente alguém seja exposto a um perigo concreto. 
É um crime FORMAL – se consuma no momento da realização das condutas.
Por ser crime habitual, não admite tentativa. 
 OBSERVAÇÃO: Até onde algumas condutas podem ser consideradas atos característicos da religião e a partir de que momento isso já passa a configurar curandeirismo? O que não pode é substituir o tratamento médico pelo curandeirismo. É plenamente possível sim você querer se curar pela fé sem que isso configure crime. Mas tudo tem limites. 
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
Pode ser qualquer substancia, ainda que não seja uma substancia nociva. 
Embora a habitualidade esteja só nesse primeiro inciso, a doutrina é pacífica no sentido de que em todos os três deve haver habitualidade. 
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
É a benzedeira 
III - fazendo diagnósticos:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa.
Existe uma discussão se existiria crime de estelionato quando o curandeiro realiza qualquer uma dessas condutas com o objetivo de auferir lucro para enganar as pessoas. Parece meio incompatível com o de estelionato, porque o curandeiro acredita que cura, e no estelionato você induz alguém a erro para obter vantagem. Então esses crimes não se confundem. 
Forma qualificada
Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos crimes previstos neste Capítulo, salvo quanto ao definido no art. 267.
TÍTULO IX DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA
1. INCITAÇÃO AO CRIME
Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
A conduta consiste em “incitar”, ou seja, induzir, instigar alguém a cometer um crime.
É um tipo COMISSIVO – requer a ação de incentivar alguém. 
Pensem: vamos supor que alguém esteja instigando a quebrar a UNDB. Pelo que sabemos pela parte geral do DP, a instigação ao crime só será punido se ele chegar ao menos a ser tentado. Então se eu instigar vocês a quebrarem a UNDB e vocês efetivamente quebrarem, pera parte geral serei partícipe – porque na fui quebrar pra ser coautor, mas instiguei. Mas se da instigação ninguém me der ouvidos e o crime não for tentado, essa minha instigação não será punida. Contudo, AQUI HÁ UMA EXCEÇÃO: aqui é crime autônomo a conduta de incentivar alguém a praticar um crime. 
Aqui se consuma na incitação, independentemente de alguém fazer alguma coisa. 
Essa incitação, que em princípio seria partícipe, o legislador previu como crime autônomo. Assim sendo, para que exista esse crime, essa incitação tem que ser de forma SÉRIA. 
Além de a incitação ter que ser séria, é necessário, também, que seja CLARA. 
É também um crime de AÇÃO LIVRE – posso incitar de várias maneiras. 
Esse “PUBLICAMENTE” é ELEMENTAR DO CRIME. E esse publicamente tem que se não só em relação ao local, mas também requer um número indeterminado de pessoas, já que se trata de um crime contra a paz pública. 
Deve-se incitar alguém a PRÁTICA DE UM CRIME. Se eu incitar alguém a fazer uma contravenção penal eu não cometerei esse crime. Necessariamente tem que ser incitação à prática de crime. 
Só admite FORMA DOLOSA; dolo que NÃO REQUER FINALIDADE ESPECÍFICA. 
 OBSERVAÇÃO: não confundir esse crime com a defesa de opinião. Defender aborto e uso de drogas não é esse crime. 
 OBSERVAÇÃO: As exceções a esse tipo de instigação a crime que não se aplicam esse tipo penal são: instigação ao suicídio (e nem poderia estar aqui, pois suicídio não é crime); e prostituição (que também não é crime).
O dolo requer que eu o faça de forma séria, como vimos. E também requer que eu tenha consciência de que aquilo que estou falando está sendo ouvido por muitas pessoas. Só haverá esse crime se for ouvido por um numero indeterminado de pessoas, pois atinge a paz pública.
É um crime FORMAL: se consuma no momento em que eu incitar as pessoas contra a prática do crime, independentemente delas realizarem o crime ou não. No momento da incitação, o bem jurídico “paz pública” já foi atingido. 
Regis Prado classifica esse crime não como formal, mas sim como crime de “Mera Conduta” (não existe nenhum resultado a ser alcançado). 
É crime de PERIGO ABSTRATO para a paz pública.
 DIVERGÊNCIA: E se o crime incitado acontecer? Se eu incitar vocês a quebrar a UNDB, vou responder pelo crime de dano junto com vocês? 
- Primeira acorrente: vejamos o art. 29 do CP. Eu concorri: se nunca tivesse instigado, vocês não teriam quebrado. Assim, vou responder por esse crime (atingindo a paz pública) e também por dano como partícipe (atingindo o patrimônio) em CONCURSO MATERIAL.
- Segunda corrente: outros autores entendem que NÃO: havendo o delito instigado acontecendo eu responderia só por ele – como partícipe. 
2. APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO
Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
Fazer apologia é enaltecer. Eu posso cometer esse crime ou enaltecendo a figura do criminoso (Fernandinho Beiramar) ou enaltecendo o próprio crime (tráfico de drogas). 
Detalhe: não significa que eu não possa elogiar Fernandinho; posso elogiar, desde que o elogio não tenha relação com sua figura criminosa. 
 OBSERVAÇÃO: diferença entre o 286 e o 287: no primeiro, você vai incentivar as pessoas a cometerem um crime que ainda não ocorreu. No 287, o crime já ocorreu e você fica enaltecendo o ou o crime ou o criminoso. 
É de AÇÃO LIVRE, e a forma mais comum é em letra de música. 
É crime de PERIGO – por conta de eu estar enaltecendo, as pessoas podem praticar também.
Só admite o DOLO, SEM FINALIDADE ESPECÍFICA.
É crime FORMAL: se consuma no momento em que faço a apologia, independentemente de aspessoas praticarem ou não. Só Regis Prado que diz que é crime de mera conduta. 
E se o crime enaltecido vier a ocorrer? Mesmas considerações do crime anterior. 
3. QUADRILHA OU BANDO
Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes:
Pena - reclusão, de um a três anos. (Vide Lei 8.072, de 25.7.1990)
O crime de quadrilha ou bando é necessariamente é um crime PLURISSUBJETIVO – tem que ter, no mínimo 4 pessoas. 
É um crime de CONCURSO NECESSÁRIO. 
Mas imaginemos que 5 amigos se reuniram e, depois do planejamento, partiram para executar o crime de sequestro. A simples associação já configura esse crime? Eu não poderia dizer que eles agiram em concurso de pessoas? Sim, poderia. Mas eu poderia dizer também que houve o sequestro E o crime de quadrilha ou bando. Assim, precisamos saber qual é a diferença.
	Quadrilha ou bando.
	Concurso de pessoas
	Habitualidade de reuniões 
	Reunião eventual
	Grupo estável
	Grupo aleatório / não estável 
	O crime planejado não precisa ocorrer: Consuma-se com a simples associação estável e permanente, ainda que nenhum delito seja efetivamente praticado.
	O crime planejado tem que ocorrer: Consuma-se com a prática de atos de execução da empreitada criminosa.
	Independentemente de o crime planejado ocorrer, a reunião por si só já é o bastante para a existência do crime. 
	Caso não ocorra, a reunião será apenas um ato preparatório.
	Estão o tempo todo vinculados. O vínculo não desmancha após cada crime.
	Quando o crime planejado acontece, esse vínculo entre as pessoas acaba.
	Começa com crimes indeterminados. Não planejam um crime determinado, mas a prática reiterada do crime. 
	O crime a ser realizado tem que ser um crime definido. É AQUELE crime. Sequestrar AQUELA pessoa.
	Necessariamente tem que ser 4 pessoas
	A partir de duas pessoas
Consiste na conduta de associarem mais de três pessoas com o fim de cometer crimes. 
NÃO precisa que os crimes planejados ocorram. A conduta ilícita consiste unicamente na ASSOCIAÇÃO ILÍCITA.
Então ainda que aquelas pessoas se reúnam com frequência, e que nenhum crime aconteça, o crime de quadrilha ou bando já restou consumado.
A rigor, seria apenas um ato preparatório. Mas como o legislador se antecipou, não os crimes planejados não precisam ocorrer.
Só admite a forma DOLOSA, com o FIM ESPECIAL DE AGIR, que é planejar crimes. 
Por ser um crime HABITUAL - tem que ter várias reuniões – só se consuma com a habitualidade das reuniões. Noronha diz que a partir de duas reuniões já está consumado. Por ser habitual, NÃO ADMITE TENTATIVA. 
É um crime FORMAL: pune-se a conduta, independentemente do resultado. 
É um crime de PERIGO ABSTRATO.
Mas e se ocorrerem os crimes planejados? Como já vimos, quadrilha ou bando são crimes formais: a consumação se verifica no momento em que quatro ou mais pessoas se associam para a prática de crimes, ainda que nenhum delito venha a ser efetivamente praticado. A justificativa é simples: quadrilha e bando são crimes de perigo abstrato, e com o momento associativo já se apresenta suficientemente grave para alardear a população e tumultuar a paz no âmbito da coletividade. Portanto, quadrilha ou bando são crimes juridicamente independentes daqueles que venham a ser cometidos.
Entretanto, os membros que praticarem os delitos para cuja execução foi constituída a quadrilha ou bando sujeitam-se, nos termos do art. 69 do CP, à regra do CONCURSO MATERIAL. 
Ex.: A, B, C e D formam uma quadrilha destinada ao cometimento de roubos. Deverão ser responsabilizados pelo delito do art. 288 do CP, ainda que não executem nenhum crime de índole patrimonial. Mas se eles concretizarem algum roubo, terão imputados contra si os crimes contra o patrimônio e contra a paz pública, em concurso material. 
 DIVERGÊNCIA: Quadrilha ou bando e crimes agravados pelo concurso de pessoas: concurso material e análise de eventual bis in idem: Existem crimes cujas penas são exasperadas, mediante previsão de qualificadoras ou causas de aumento de pena, quando praticados em concurso de pessoas. É o que corre, dentre outros, com o furto, roubo e extorsão. Se os membros da quadrilha ou bando cometem um delito dessa natureza, quais crimes deverão ser a ele imputados? 
- STF e STJ Furto qualificado pelo concurso de pessoas e quadrilha ou bando em concurso material: Não há que se falar em bis in idem, pois a pluralidade de pessoas é aferida em dois momentos distintos. Além disso, os crimes são autônomos e independentes entre si, ofendem bens jurídicos diversos e consumam-se em momentos diferentes. 
- Doutrina: A pluralidade de pessoas envolvidas na empreitada criminosa já foi punida a título de quadrilha (ou bando), motivo pelo qual o reconhecimento da qualificadora do furto (concurso de pessoas) caracterizaria bis in idem. 
 OBSERVAÇÃO: Se tiver, dentre essas pessoas, 1 inimputável? Ainda existe quadrilha ou bando, sendo que menor vai responder pelo ECA. Greco chama atenção para o seguinte: havendo o inimputável é preciso que ele tenha certo discernimento. Se não tiver discernimento, não haveria quadrilha ou bando. Isso deveria ser analisado no caso concreto. 
 OBSERVAÇÃO: Necessariamente os associados têm que se conhecer? Não. Mas é preciso que saibam que existem, pois, caso contrário, seria erro de tipo. 
 OBSERVAÇÃO: Quadrilha ou bando são palavras sinônimas? Para alguns autores, quadrilha é aquela associação de pessoas em que há um líder, ao contrário do bando. Mas alguns doutrinadores dizem que são sinônimos. 
 OBSERVAÇÃO: Quadrilha ou bando e a prática de crimes somente por alguns dos seus integrantes: Pensemos em uma quadrilha constituída para a prática de estelionatos e composta de 4 integrantes: A, B, C e D. Somente 3 (A, B e C) deles praticaram o crime abrangido pela quadrilha, e D ficou de fora. 
A, B e C devem ser responsabilizados pela quadrilha, em CONCURSO MATERIAL com estelionato, pois apenas eles executaram ou de qualquer modo concorreram pra o crime contra o patrimônio. 
D terá contra si imputado unicamente o delito contra a paz pública, pois o fato de pertencer à quadrilha não acarreta automaticamente a sua responsabilidade por todo e qualquer crime cometido pelos demais integrantes do agrupamento, na hipótese em que se encontra alheio à sua determinação ou execução, sob pena de configuração da responsabilidade penal objetiva. 
Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.
A respeito da arma, pode ser considerado como tal qualquer instrumento. Não só aqueles instrumentos cuja destinação específica é servir de arma, mas também uma faca. Se uma quadrilha ou bando esta se reunindo com frequência e portando faca, ou um pedaço de pau, é quadrilha armada.
Pode ser qualquer objeto, desde que usado com a finalidade de ser usado como uma arma.
 DIVERGÊNCIA: Quantas pessoas precisam estar armadas?
- Alguns doutrinadores dizem que basta 1 estar armado para que consideremos esta quadrilha ou bando armado – Luis Regis Prado
- Mas outros entendem que não: para que eu considere como quadrilha armada, a maioria tem que estar armada.
- Há ainda quem afirme que dependerá da periculosidade da arma. É possível que nessa quadrilha uma única pessoa portando uma escopeta, possa ser considerado quadrilha armada. 
 OBSERVAÇÃO: E a responsabilidade das pessoas pela quadrilha ou bando armado? Imaginemos que apenas três pessoas é que estejam vindo para as reuniões armadas. As demais vão responder por quadrilha ou bando armado ou só elas?
Depende.
Eu posso muito bem não estar armada, mas se eu sei que os demais componentes estão armados, e ainda assim não me manifesto contra, eu vou responder por quadrilha ou bando armado.
Agora claro que se algum dos componentes omite essa arma, não responderei por quadrilha ou bando armado. Pensar diferente seria adotar a responsabilidade penal objetiva.
Uma outra situação seria a seguinte:Determinadas pessoas participaram com frequência em quadrilha ou bando, e depois partiram para praticar o crime de furto. Concurso de crimes já está na cara que existe – furto e quadrilha ou bando (bens jurídicos diferentes, crimes autônomos, momento de consumação totalmente diferente). 
No dia de executar o furto, os 5 praticaram o furto. Sabendo que existe a figura do furto simples e do furto qualificado, e que uma das qualificadoras do furto é ter cometido em concurso de pessoas. Eu vou responder pelo crime de quadrilha ou bando em concurso com o crime de furto simples OU em concurso com o crime de furto qualificado em razão desse crime ter praticado em concurso de pessoas?
 DIVERGÊNCIA 
- O STF DIZ QUE vou responder por quadrilha ou bando em concurso com furto qualificado, porque nesse furto várias pessoas foram juntas. Para o STF, os crimes aconteceram em momentos diferentes, são bens jurídicos diferentes, a consumação é em momento diferente, um crime não depende de outro. Considerar essa associação não é bis in idem porque os crimes são autônomos. 
- A doutrina discorda disso. A doutrina diz que não pode ser furto qualificado pelo concurso de pessoas, porque seria bis in idem. Uma determinada situação não pode ser considerada duas vezes no mesmo processo. a doutrina diz que se o crime de quadrilha ou bando é um crime que necessariamente requer o concurso de pessoas, então querer que essas pessoas respondam por quadrilha ou bando em concurso com o furto qualificado seria usar uma determinada circunstancia duas vezes. Para a doutrina, é furto simples. 
Outro exemplo para fixar melhor:
Vamos imaginar uma quadrilha ou bando armada, que parte para praticar o crime de roubo armados. Concurso de crimes?
STF: seria quadrilha ou bando armado e roubo qualificado pelo uso de arma. Ir para as reuniões armados é uma coisa, e roubar armado é outro. a arma vai ser utilizada para qualificar os dois crimes. 
Doutrina: considerar a arma nos dois crimes é bis in idem. Para a doutrina seria quadrilha ou bando armado em concurso com roubo simples; ou o contrário. 
DELAÇÃO PREMIADA
Se encontra no art. 8º, PU da lei dos crimes hediondos (8072/90). Antes de 90, então, não havia a figura da delação premiada.
A delação premiada estende-se ao crime de quadrilha ou bando. 
De nada vai adiantar se aquelas informações de um dos membros da quadrilha não forem suficientes a ponto da justiça desmontar aquela quadrilha ou bando. É por isso que a delação premiada não é muito fácil de acontecer. As informações têm que ter sido suficientes.
Para que haja essa redução de pena, a delação tem que ser eficaz: desmantelar o bando. Além disso tem que ser espontânea. 
Imaginemos que Guto fez parte da quadrilha ou bando e foi realizar o roubo. Por algum motivo, resolveu delatar os companheiros. O art. 8 diz que a pena vai ser reduzida. Qual será? 
 DIVEREGÊNCIA
- Primeira corrente: só vai diminuir a pena do crime de quadrilha ou bando. Essa corrente diz que se o legislador quisesse estender o benefício também para o roubo, por exemplo, teria deixado de forma clara. Como ele nada falou, então só vai ser diminuída a pena da quadrilha ou bando.
- Segunda corrente: qual o fundamento da delação premiada? Incentivar as pessoas a se arrependerem e colaborarem com a justiça. Se eu for diminuir só a pena da quadrilha ou bando não iria servir de incentivo. A pena diminuída tem que ser dos dois crimes. 
Detalhe interessante: sabemos que o legislador não deve colocar nos tipos penais nenhuma palavra a toa. O que ele quis dizer com “associado e o participante”. Quem é associado? Quem é o participante? Com certeza devem ser pessoas diferentes. 
 DIVERGÊNCIA
- Primeira corrente: 
Associado: é o cara que praticou o crime de quadrila ou bando. É o cara que só fez parte do crime de quadrilha ou bando. Se ele passou o tempo todo se reunindo na quadrilja ou bando, mas na hora não participou do crime, ele vai fazer jus a diminuição de pena por delação premiada. 
Participante: é o cara que participou dos crimes planejados pela quadrilha ou bando. 
- Segunda corrente:
Para a segunda corrente, a delação premiada só se refere ao crime de quadrilha ou bando, e não ao crime praticado.
Associado: são os caras que efetivamente participam da quadrilha ou bando
Participante: é o partícipe da quadrilha ou bando. Embora não esteja praticando ativamente das reuniões, estimula. Tem uma participação menos importante, mas tem. 
TÍTULO X DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
O que é fé pública? É a presunção de veracidade que gozam os documentos e a nossa moeda. Se não fosse assim, a nossa vida seria um caos – eterna insegurança. Não gozando de presunção de veracidade, iria achar o tempo todo que tudo era falso. 
Ela é tão importante que alguns autores dizem que ela é um imperativo de conveniência de uma vida em sociedade. 
Aqui trataremos de crimes que, de alguma forma, envolvem a falsidade. 
CAPÍTULO I DA MOEDA FALSA
MOEDA FALSA
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
Crime COMISSIVO – falsificar.
Essa falsificação pode se dar de duas formas:
- Fabricando (ou contrafação): cria uma moeda do nada – partindo do 0. 
Para que essa falsificação configure crime, ela tem que ter POTENCIALIDADE LESIVA: a falsificação tem que ser tão bem feita que seja capaz de enganar um grande número de pessoas – pois é um crime contra a fé pública.
Para que um dinheiro falso circule e engane muitas pessoas, ele tem que estar muito bem feito. 
Ele tem, então, que ter capacidade de circular e enganar muitas pessoas.
E a falsidade grosseira?
De outro modo, se eu falsificar dinheiro, e daí resultar uma célula mal feita, mas ainda assim enganar alguém, estaremos diante do crime de estelionato. Enganei alguém e obtive uma vantagem indevida. 
Pode ser também que eu falsifique uma moeda e não seja crime nenhum: uma moeda rosa. 
- Alterando: o dinheiro já existe, mas é transformado. 
Tem que ter potencialidade lesiva. 
Hungria acha que alterara valor maior para valor menor não configuraria esse crime. Embora o bem jurídico seja fé pública, ninguém pode negar o caráter econômico ou pecuniário ligado à falsificação, e, nesse caso, não haveria prejuízo. 
De forma contrária, não interessa. Se o bem jurídico é a veracidade da moeda, no momento em que eu transformei eu não tenho mais o dinheiro verdadeiro. 
E aquela pessoa que alterou só a numeração? Da mesma forma, para Hungria, não haveria esse crime. A corrente contrária, pela mesma fundamentação, diz que há sim. 
Curso legal no país ou no estrangeiro: Hoje só é crime falsificar real. Se eu pego uma nota de cruzeiro e altero, pode haver outro crime – estelionato. 
O princípio da insignificância NÃAAAAAAAO se aplica neste crime. 
NAO admite a forma culposa. Mas apenas o DOLO, genérico ou eventual. 
NÃO requer fim especial de agir
É FORMAL - não precisa que o dinheiro falsificado entre em circulação. 
Mas tem que ter potencialidade ofensiva. 
TENTATIVA: a maioria da doutrina nada questiona sobre a tentativa – é plurissubsistente. Para outra parte da doutrina, se a moeda falsa tem que ter potencialidade lesiva, se eu for interrompida, quem me garante que, das fases seguintes, resultaria uma moeda potencialmente ofensiva? Não há como garantir. Se a moeda sair mal feita, nem crime é.
CONDUTAS EQUIPARADAS:
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.
É plenamente possível que uma pessoa falsifique, mas não seja a mesma que colocará em circulação. Se eu falsifiquei e outrem colocou em circulação, eu vou responder pelo caput, porque falsifiquei, e quem colocou em circulação responderá pelo §1º. 
Mas também é plenamente possível que a mesma pessoa que tenha falsificado também tenhacolocado em circulação. Não podendo responder pelo caput e pelo §1º, a segunda conduta – colocar em circulação – seria um PÓS FACTUM IMPUNÍVEL. 
FORMA PRIVILEGIADA:
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
A pessoa que recebe de boa fé, e depois que receber percebe que é falsa restitui à circulação depois de reconhecer a falsidade. Embora seja reprovável, o legislador coloca uma pena menor. De qualquer forma é ilícita porque ela teve a chance de devolver para a circulação, mas não o fez. DETALHE: se ela receber de má fé, não será privilegiada. 
FIGURAS QUALIFICADAS: 
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:
Aqui há um crime próprio Só é praticado pelo gerente da casa de emissão de moeda.
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
Cada moeda tem um peso específico. Se for emitida com peso inferior, há esse crime. Se for emitida com peso superior, não há esse crime, pois seria analogia in malam partem. Entretanto, existem sanções administrativas para esta. 
Além disso, cada moeda, na sua composição, tem metais específicos – título específico. 
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.
Para efeito de controle da economia do país, não pode haver um despejo de dinheiro no mercado, pois gera inflação. 
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada.
CAPÍTULO III DA FALSIDADE DOCUMENTAL
USO DE DOCUMENTO FALSO
Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302:
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
Nem sempre a pessoa que esta usando o documento falso foi a mesma pessoa que falsificou. Aqui é quem não falsificou, e apenas está fazendo uso de documento falso. 
Esse tipo penal é chamado de "crime vassalo" (existe em função dos outros crimes) ou “crime remetido" (temos que nos remeter a outro crime). 
Aqui, o resultado lesivo vai ocorrer a partir do momento do uso, e não da falsificação em si. 
Da mesma forma que na falsificação da moeda, se eu falsifiquei e usei, só vou responder pela falsificação, e o uso vai ser um PÓS FACTUM IMPUNÍVEL. 
Crime COMUM em relação ao sujeito ativo; e o passivo é a COLETIVIDADE. 
O bem jurídico é a FÉ PÚBLICA.
Só admite a forma DOLOSA, que pode ser direta (sei que é falsa e uso) ou eventual (estou em dúvida se é falso ou não). 
 OBSERVAÇÃO: Se eu falsifiquei e Dennis usou, eu repondo só pelo meu crime de falsificação; ou respondo também pelo crime de Dennis? Art. 29 do CP: quem, de alguma forma concorre para um crime, responde por ele na medida da sua culpabilidade. Se eu nunca tivesse falsificado, Dennis nunca teria usado. Assim, de alguma forma, sou responsável pelo crime dele. 
Mas o que é usar documento falso? É a APRESENTAÇÃO. NÃO há crime se eu estiver tão somente portando. 
Além de apresentar, é necessário que essa apresentação seja numa oportunidade JURIDICAMENTE RELEVANTE. 
 DIVERGÊNCIA: A apresentação tem que ser espontânea?
- Para o STF e o STJ, se eu for obrigada a apresentar meus documentos, haverá esse crime, porque eu poderia não apresentar o falso.
- Para a doutrina, há de ser espontânea, EXCETO se for a CNH, pois ela é de porte obrigatório. Neste caso, o porte por si só já configura o crime, ainda que não haja apresentação. 
CAPÍTULO IV DE OUTRAS FALSIDADES
	FALSA IDENTIDADE
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
Tem que ser numa situação juridicamente relevante e para obter vantagem. 
Mas o que é identidade? Atribuir a mim uma profissão diversa – como engenheira – configura esse crime?
 DIVERGÊNCIA. 
- Parte da doutrina entende que identidade é um conjunto de caracteres. É um conjunto de elementos que caracterizam uma pessoa. Assim, eu só cometeria o crime se eu apresentasse todos os elementos que caracterizam uma pessoa.
- Por outro lado, a outra corrente diz que basta atribuir falsamente um desses elementos, como a profissão, que o crime estaria cometido. 
E necessário também, para a existência desse crime, que haja POTENCIALIDADE LESIVA. E o que significa a potencialidade lesiva aqui nesse crime? Significa que, para eu atribuir a mim uma falsa identidade, a identidade que estou atribuindo a mim tem uma potencialidade lesiva. Se eu falar que sou a Xuxa, ninguém vai acreditar. 
É um crime COMISSIVO, então, ainda que alguém diga que eu sou a Cinderela – e sou mesmo -, e eu ficar calada – porque eu sou -, não cometerei esse crime. 
Aqui há uma SUBSIDIARIEDADE EXPRESSA. É um soldadinho de reserva. Assim, na existência de crime mais grave que possa subsumir, é o mais grave que será usado. Na maioria das vezes, vai incorrer em estelionato. 
DOLO + elemento subjetivo especial (obter vantagem ou causar dano a alguém)
Se consuma no momento da atribuição, independentemente de obter ou não a vantagem. Assim sendo, como não precisa receber a vantagem, se isso ocorrer, será exaurimento. 
Tentativa? Aquele mesma discussão de always. 
 OBSERVAÇÃO: Falsificação de documentos – folha em branco. Que tipo de falsidade é essa? Falsidade material (297 e 298) ou falsidade ideológica (299)? 
Se aquela folha de papel em branco foi conseguida de forma ilícita – eu assinei uma folha de papel em branco e esqueci e alguém pegou de forma ilícita e colocou nela um conteúdo que é falso -, seria falsidade material. Mas se fosse conseguida de forma lícita seria falsidade ideológica. 
Mas qual a diferença de falsidade material com falsidade ideológica? 
- Falsidade material: se dá no corpo do documento, ou seja, na matéria do documento. Eu peguei o documento original e alterei. Se a falsidade está no corpo do documento, se eu mandar esse documento para a perícia, eles vão descobrir. A falsificação material é identificada através de perícia. O perito é que vai dizer se o documento está ou não está falsificado.
- Falsidade ideológica: não se altera o corpo do documento. A falsidade está no conteúdo do documento – nas ideias. Ex.: Dennis trabalha na secretaria de segurança tirando carteira de identidade. Eu, amiga dele, perdi minha carteira de identidade propositalmente para conseguir outra falsa. Daí eu digo pra Dennis que preciso urgentemente, mas que estou sem a certidão de nascimento. Ele concorda. Na hora, eu digo meus dados errados. Vejam: Dennis é o funcionário competente para isso. O corpo do documento é totalmente verdadeiro, pois não houve alteração na matéria. Ninguém apagou nada, ninguém mudou nada. A aparência do documento é legítima. O que está falo é o conteúdo, as ideias. Se eu mandar a minha carteira de identidade falsa para a perícia, ela vai descobrir? Não. falsidade ideológica se descobre com investigação, e não com perícia. 
� Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.
� Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
� É o oposto de crime de ação livre. O crime de ação livre pode ser cometido de qualquer forma. Crimes de conduta vinculada são aqueles que efetivamente só pode ser cometido através daquelas condutas descritas pelo legislador no tipo penal.

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