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Monografia Investigação Criminal Realizada pelo Ministério Público no âmbito do Crime Organizado (2)

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Agda Zorzan

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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UNC 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
AGDA ZORZAN 
 
 
 
 
 
 
 
 
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
ÂMBITO DO CRIME ORGANIZADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CANOINHAS 
2013 
1 
 
AGDA ZORZAN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
ÂMBITO DO CRIME ORGANIZADO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
como exigência para obtenção do título de 
Bacharel, do Curso de Direito, ministrado pela 
Universidade do Contestado – UnC, sob a 
orientação do professor Rafael Theodoro Kuyavski 
Rangni. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CANOINHAS 
2013 
2 
 
 
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
ÂMBITO DO CRIME ORGANIZADO 
 
 
 
 
AGDA ZORZAN 
 
 
Este Trabalho de Conclusão de Curso, Monografia foi submetido ao processo 
de avaliação para a obtenção do Título de: 
 
Bacharel em: Direito 
 
 
E aprovado na sua versão final em ___________________ (data), atendendo 
às normas de legislação vigentes da Universidade do Contestado e Coordenação do 
Curso de Direito. 
 
 
_____________________________________ 
Terezinha Elisabete Padilha 
 
Avaliadores: 
 
Rafael Theodoro Kuyavski Rangni 
 
Simara Sá de Souza Ern 
 
Tércio Pangratz de Paula e Silva 
3 
 
 
 
DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
 
 
Através deste instrumento, isento meu Orientador e a Banca Examinadora de 
qualquer responsabilidade sobre o aporte ideológico conferido ao presente trabalho. 
 
 
 
 
____________________________ 
AGDA ZORZAN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
DECLARAÇÃO DE REVISÃO 
 
 
 Declaro, para os devidos fins, que a monografia da graduanda: AGDA 
ZORZAN, do Curso de Direito da Universidade do Contestado – UnC, Campus 
Canoinhas (SC), intitulada: INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO 
MINISTÉRIO PÚBLICO NO ÂMBITO DO CRIME ORGANIZADO, recebeu a 
correção de Língua Portuguesa, em 06 /11/2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 E, por ser a expressão da verdade, firmo a presente declaração. 
 
 
São Mateus do Sul (PR), 06 de novembro de 2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta conquista aos meus pais, Lourdes e Ineldo e a 
meu irmão Agnes. 
6 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço primeiramente a Deus, pois ele é o governador da vida, que sempre guiou 
e iluminou meus passos. Agradeço aos meus pais Lourdes e Ineldo e a meu irmão 
Agnes pelo auxílio e exemplo de vida, por construírem a base sólida, fortaleza 
inviolável munida dos mais puros sentimentos vertentes da natureza humana. 
Sempre estiveram ao meu lado nas horas boas ou ruins, mostrando que a pessoa 
que acredita nos seus objetivos sempre os alcança. MUITO OBRIGADA. A uma 
pessoa especial que não poderia deixar de agradecer: Edilson você foi um dos 
pilares em minha vida, muito obrigada. A todos os professores do curso que foram 
tão importantes no desenvolvimento da vida acadêmica e em especial um 
agradecimento ao meu orientador Rafael Theodoro K. Rangni. A minha segunda 
família, 2ª Promotoria de São Mateus do Sul, meus sinceros agradecimentos pelo 
apoio. Aos amigos e colegas, exemplos de dedicação, pela colaboração ininterrupta 
durante a realização deste trabalho e, em especial aos meus grandes amigos Ana 
Júlia Bertolin e Telmo Roberto Ossowski, que, com toda a certeza se não 
estivessem ao meu lado o caminho seria muito mais árduo. 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
―As raízes do estudo são amargas, mas seus frutos são doces.‖ 
(Aristóteles) 
8 
 
 
RESUMO 
O Ministério Público, instituição essencial à justiça, ganhou maior respeito no 
ordenamento jurídico brasileiro a partir da Constituição Federal de 1988, órgão 
autônomo e indivisível, que possui autonomia funcional e não está atrelado a 
nenhum dos outros poderes. Tema que gera polêmica no meio jurídico é quanto aos 
atos investigatórios do Ministério Público, sua legalidade e constitucionalidade para 
realizá-los e a precariedade que norteia o inquérito policial, que na maioria das 
vezes chega ao titular da ação penal incompleto, necessitando maiores diligências, o 
que acaba por deixar o procedimento moroso e prejudica, a futura ação penal. 
Verificar-se-á as normas de proteção do Ministério Público, entre elas, a Lei 
Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei nº. 8.625/93, Resolução 13/2006, bem 
como o atual Projeto de Emenda Constitucional nº. 37/2011. Abordar-se-á os 
primórdios do crime organizado, bem como os problemas enfrentados com as 
organizações criminosas brasileiras, trazendo as características das duas principais 
organizações criminosas brasileiras. Ainda será abordada a possibilidade de 
investigação direta pelo Ministério Público, principalmente no que se refere ao 
combate das organizações criminosas, que acarretam prejuízos enormes a máquina 
estatal, bem como a corrupção que norteia o sistema estatal envolvendo agentes 
que deveriam coibir a prática criminosa mas que integram as organizações 
criminosas, fortalecendo de forma relevante estas organizações. 
Palavras-chaves: Ministério Público; Investigação criminal pelo Ministério Público; 
Crime organizado; Organizações Criminosas; Ministério Público no combate ao 
Crime Organizado. 
9 
 
 
ABSTRACT 
The prosecution institution essential to justice, which gained more respect from the 
The prosecutor, essential institution to justice, gained greater respect in the Brazilian 
legal system from the Constitution of 1988, an autonomous body and indivisible, that 
has functional autonomy and is not linked to any of the other powers. Issue that 
generates controversy is in the legal acts regarding investigative prosecutor, its 
legality and constitutionality to realize them and insecurity that drives the police 
investigation, that most often comes to the holder of the criminal incomplete, 
requiring more steps, the which ultimately let the lengthy procedure and affect the 
future prosecution. Check will be the protection standards of the Public Ministry, 
among them, the Organic Law of the National Public Prosecutor, Law nº. 8.625/93, 
Resolution 13/2006, as well as the current draft Constitutional Amendment. 37/2011. 
Address will be the beginnings of organized crime, as well as the problems faced 
with criminal organizations in Brazil, bringing the characteristics of the two major 
criminal organizations in Brazil. Still be addressed the possibility of direct 
investigation by prosecutors, especially when it comes to combating criminal 
organizations that cause huge losses to the state machine, as well as the corruption 
that guides the state system involving agents that should curb criminal activity but 
part of criminal organizations, strengthening of these organizations significantly. 
 
Key-words: Prosecutor; criminal investigation by prosecutors; Organized Crime; 
Criminal Organizations; prosecutors in combating organized crime. 
10 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade 
ADEPOL – Associação dos Delegados de Polícia do Brasil 
Art. – Artigo 
CF – Constituição Federal de 1988 
CNMP – Conselho Nacional do Ministério Público 
CP – Código Penal 
CPC – Código de Processo Civil 
CPI – Comissões Parlamentaresde Inquérito 
CPP – Código de Processo Penal 
LC – Lei Complementar 
LOMPU – Lei Orgânica do Ministério Público da União 
OAB – Ordem dos Advogados do Brasil 
MP – Ministério Público 
PEC – Projeto de Emenda a Constituição 
STF – Supremo Tribunal Federal 
STJ – Superior Tribunal de Justiça 
IPM – Inquérito Policial Militar 
UnC – Universidade do Contestado 
11 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 
2 O MINISTÉRIO PÚBLICO ...................................................................................... 16 
2.1.1 HISTÓRICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ......................................................... 17 
2.1.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA ESTRUTURA DO ESTADO ............................. 21 
2.1.3 FUNÇÕES E PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
PREVISTOS CONSTITUCIONALMENTE ................................................................. 23 
2.1.4 DEFINIÇÃO DE MINISTÉRIO PÚBLICO ......................................................... 32 
3 O CRIME ORGANIZADO ....................................................................................... 35 
3.1 CONCEITO ......................................................................................................... 36 
3.2 OS PRIMÓRDIOS DO CRIME ORGANIZADO ................................................... 40 
3.3 O CRIME ORGANIZADO NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA E 
DA EUROPA ............................................................................................................. 43 
3.3.1 Argentina .......................................................................................................... 44 
3.3.2 Chile ................................................................................................................. 46 
3.3.3 Cuba ................................................................................................................. 49 
3.3.4 Espanha ........................................................................................................... 50 
3.3.5 Alemanha ......................................................................................................... 52 
3.3.6 França .............................................................................................................. 56 
3.3.7 Itália .................................................................................................................. 58 
3.3.8 Brasil ................................................................................................................ 62 
4 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
COMBATE AO CRIME ORGANIZADO E A CRISE DO INQUÉRITO POLICIAL .... 69 
4.1 PERSECUÇÃO PENAL....................................................................................... 70 
4.2 POLÍCIA JUDICIÁRIA ......................................................................................... 72 
4.3 CONCEITO DE INQUÉRITO POLICIAL, SUA FINALIDADE E SUA 
DISPENSABILIDADE ................................................................................................ 74 
4.3.1 A CRISE DO INQUÉRITO POLICIAL ............................................................... 80 
12 
 
 
4.4 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
COMBATE AO CRIME ORGANIZADO ..................................................................... 81 
4.4.1 ENTENDIMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DOS TRIBUNAIS 
REGIONAIS .............................................................................................................. 92 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 104 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 109 
13 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
O crime organizado é tema de destaque na área de investigação criminal 
presidida pelo Ministério Público, haja vista a preocupação da sociedade com a 
existência de grupos criminosos voltados a prática de crimes de alto potencial 
ofensivo, os quais agem de forma direta em todo o meio social, seja nos prejuízos 
causados com a lavagem de dinheiro, seja angariando seguidores ou destruindo o 
bem jurídico tutelado. 
O crescimento do crime organizado se dá devido aos problemas 
socioeconômicos e a inconstância de valores e princípios, aliados a ineficácia dos 
direitos fundamentais, os quais passam a ofender bens jurídicos fundamentais. 
Com o crescimento e fortificação do crime organizado, os agentes estatais 
passam a ser membros dessas organizações, sendo corrompidos com os altos 
montantes que norteiam as organizações e assim acarretando uma precariedade no 
sistema investigatório estatal. 
Essa precariedade nos dias atuais é evidente, posto que os inquéritos 
policiais são instruídos de forma duvidosa e sem o mínimo de elementos possíveis a 
formar a opinio delicti do titular da ação penal, acarretando assim que um número 
imenso de inquéritos acabe por ser arquivado ainda em sua fase preliminar, haja 
vista a falta de elementos para propositura da ação penal. 
A presente monografia tem por escopo principal debater a legalidade dos atos 
investigatórios do Ministério Público, sua constitucionalidade e sua 
indispensabilidade no âmbito dos crimes organizados. 
Mostrar-se-á os debates entre o Superior Tribunal Federal, os Tribunais 
Regionais, os projetos de Emenda Constitucional e a atual condição que norteia o 
ordenamento brasileiro trazendo a possibilidade de investigação criminal pelo 
Ministério Público. 
No primeiro capítulo abordar-se-á as modificações do Ministério Público no 
decorrer dos tempos, sua indispensabilidade à justiça e a ênfase que a referida 
instituição passou a ter após a vigência da Constituição Federal de 1988, trazendo 
um histórico da instituição e seu desenvolvimento entre as Constituições que 
estiveram em vigência em nosso ordenamento, até sua atual conjuntura no sistema. 
14 
 
 
Trará alguns apontamentos sobre tão importante instituição, conceituação e 
seus pontos fundamentais, a função jurisdicional do Estado e sua autonomia 
funcional não sendo integrante de nenhum órgão do governo como Executivo, 
Legislativo e Judiciário. 
Buscar-se-á, no presente capítulo, traçar um panorama sobre suas funções e 
princípios previstos constitucionalmente, sua definição constitucional e seu destaque 
no ordenamento jurídico como ferramenta essencial na organização do Estado e no 
combate aos crimes. 
No segundo capítulo tratar-se-á do crime organizado, trazendo sua 
conceituação e o panorama histórico do crime organizado dentro do ordenamento 
jurídico, bem como seus primórdios, abordando o surgimento das organizações 
criminosas. 
Com relação ao crime organizado, será tratado das organizações criminosas 
na América Latina e na Europa, trazendo um comparativo de como tais 
organizações são tratadas nos demais Países e como as investigações criminais 
são presididas nos referidos Países. 
Será abordado as organizações criminosas dentro dos ordenamentos 
jurídicos penais dos Países: Argentina, Chile, Cuba, Espanha, Alemanha, França, 
Itália, bem como, de que maneira os ordenamentos jurídicos disciplinam a matéria 
de investigação criminal. 
Terá enfoque especial o crime organizado no Brasil, sua atuação nas favelas 
e morros e trará a forma como as duas das principais organizações criminosas agem 
contra o sistema jurídico penal brasileiro, bem como seu surgimento no Brasil e o 
modelo que foi seguido pelos criminosos para chegar na proporção que se 
encontram. 
Já no terceiro capítulo tratar-se-á do inquérito policial, bem como a 
precariedadeque norteia as investigações criminais realizadas pela polícia judiciária. 
Conceituação de Persecução Penal, sua aplicação no ordenamento jurídico, polícia 
judiciária. Conceituação de inquérito policial, sua finalidade e sua dispensabilidade, 
haja vista os inúmeros problemas que norteiam a fase da investigação criminal 
realizada pela polícia, o índice de corrupção no meio policial e demais fatores que 
acarretam a precariedade desta peça de informação dispensável. 
15 
 
 
E por fim, será tratada a investigação criminal realizada pelo Ministério 
Público, sua constitucionalidade e os entendimentos jurisprudenciais, bem como sua 
função primordial no combate as organizações criminosas, e a recente votação do 
Projeto de Emenda a Constituição nº. 37 de 2011, que trouxe um grande avanço ao 
sistema processual penal brasileiro. 
O objetivo principal é a realização de estudo acerca da investigação criminal 
realizada pelo Ministério Público no âmbito do crime organizado, sua 
constitucionalidade e sua eficácia. 
O presente trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica, sendo 
utilizado o método indutivo que, segundo a lição de Cesar Luiz Pasold, consiste em 
―pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter 
uma percepção ou conclusão geral‖.1 
 
1
 PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica e Metodologia da Pesquisa Jurídica. 10ª. 
Ed. Florianópolis: OAB/SC, 2007. Pág. 104. 
16 
 
 
2 O MINISTÉRIO PÚBLICO 
Verifica-se que no decorrer dos tempos a instituição do Ministério Público foi a 
que mais se fortaleceu e ganhou ênfase no ordenamento jurídico brasileiro, se 
tornando, assim, indispensável à justiça. 
O Ministério Público passou por um longo processo de modificações no 
decorrer do seu desenvolvimento, seja jurídico ou social. Órgão autônomo do 
Estado, indispensável para assegurar a prestação jurisdicional. O qual ao longo dos 
anos passou a ganhar espaço e se tornar a instituição fundamental que é 
atualmente. 
Nas palavras de Hugo Nigro Mazzili2, ―embora não seja um poder de Estado, 
o Ministério Público alcançou na Constituição Federal de 1988 as mesmas garantias 
de Poder.‖ 
Buscar-se-á, no presente capítulo, traçar alguns apontamentos sobre esta tão 
importante instituição, a fim de trazer conceitos e abordar os pontos mais 
interessantes a serem salientados a cerca da instituição do Ministério Público. 
Nesse sentido, tratar-se-á da instituição como ferramenta essencial a função 
jurisdicional do Estado, suas regulamentações no texto Constitucional e em Leis 
esparsas que observam as necessidades sociais e traz a instituição do Ministério 
Público como órgão indispensável na luta pelos direitos individuais e coletivos. 
Ademais, necessário se faz abordar a instituição do Ministério Público na 
estrutura do Estado, os basilares princípios que a Constituição Federal de 1988 
estabeleceu para a instituição e que a norteiam, tratar das garantias e das vedações 
que constituem tal instituição, abordando os pontos mais relevantes que acarretaram 
no desenvolvimento e formação da instituição do Ministério Público. 
Abordar-se-á o plano infraconstitucional e as principais normas 
regulamentadoras que estabelecem as competências da instituição, seja no âmbito 
estadual ou no âmbito federal, suas principais Leis Complementares e Orgânicas 
que definem as competências, funções e repartições das competências, que se 
encontram definidas pela Constituição Federal. 
Buscar-se-á no presente capítulo, estabelecer um alicerce para o 
desenvolvimento do tema no decorrer dos capítulos. 
 
2
 MAZZILI Hugo Nigro. Ministério Público. 2ª Edição – São Paulo: Damásio de Jesus, 2004, pág. 15. 
17 
 
 
2.1.1 HISTÓRICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
Mesmo antes do advento da Constituição Federal de 1988, haviam grandes 
disparidades no Ministério Público nacional, como cita Hugo Nigro Mazzilli3: 
Em alguns Ministérios Públicos, seus membros exerciam a advocacia 
privada e representavam a Fazenda Pública; a instituição não tinha sequer 
a mesma organização básica nos vários Estados; na União e em alguns 
Estados, havia Procuradores-Gerais escolhidos fora da instituição e sem 
mandato, enquanto outros Estados já tinham estatutos locais que garantiam 
que a chefia da instituição fosse necessariamente exercida por integrantes 
da carreira, com investidura por tempo certo. 
De acordo com Hugo Nigro Mazzili4, foi só a partir de 1980 que começou a 
surgir uma consciência nacional de Ministério Público, fruto, em grande parte, dos 
trabalhos da Confederação das Associações Nacionais de Ministério Público. Nesse 
quadro é que foi editada a primeira Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei 
Complementar nº 40/81), que estabeleceu o conceito da instituição, seus princípios, 
suas garantias, vedações e atribuições, bem como sua organização básica. 
Sem óbice aos trabalhos da Confederação das Associações Nacionais do 
Ministério Público para o desenvolvimento da instituição, a análise da história do 
Ministério Público denota que sua atual instituição é fruto do desenvolvimento do 
Estado Brasileiro e da democracia. Tal história é marcada por dois grandes 
processos que culminaram na formalização do Parquet5 como instituição e na 
ampliação de sua área de atuação. 
Antes de tratar de tais processos, entretanto, é necessário traçar a paulatina 
evolução da instituição no direito brasileiro. 
Segundo Hugo Nigro Mazzili6 a evolução do Ministério Público brasileiro 
esteve evidentemente ligada ao Direito Lusitano do Brasil Colônia. Em 1609 foi 
instituído o procurador da Coroa no Tribunal da Relação na Bahia. ―Nesse, período, 
a legislação só fazia referências esparsas ao procurador geral, subordinando-o 
expressamente ao governante.‖ 
 
3
 MAZZILI Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 27. 
4
 MAZZILI Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 27. 
5 Parquet: a palavra parquet, que é utilizada comumente em textos jurídicos e em processos judiciais, 
tem origem francesa e é sinônimo de Ministério Público. O termo remete aos antigos procuradores do 
rei da França, que ficavam em pé sobre o assoalho (parquet) da sala de audiência, e não se 
sentavam ao lado dos magistrados, como ocorre hoje. 
6
 MAZZILI Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 21. 
18 
 
 
Na Constituição de 1824, já sob o Brasil Império foi aludido ao procurador da 
Coroa e Soberania Nacional a acusação dos crimes. Com a implantação do Código 
de Processo Criminal em 1832 trouxe uma seção para os promotores, cuidando de 
sua nomeação e atribuições. 
Em 1841 houve a Reforma processual, passou-se a exigir a condição de 
―bacharel idôneo‖ para a nomeação dos promotores públicos, que eram nada mais 
que os substitutos do procurador geral. 
Somente em 1890 com Campos Salles, Ministro da Justiça no Governo 
Provisório da República, que o Ministério Público passou a ser tratado como uma 
instituição. Por essa razão, Campos Salles é considerado o patrono do Ministério 
Público brasileiro. 
A Constituição Federal de 1891 cuidou da escolha do Procurador Geral da 
República dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal e aludiu a uma única 
atribuição: a impetração de revisão criminal pro reo. 
Em 1934 institucionalizou-se efetivamente o Ministério Público. O Código de 
Processo Penal de 1941 trouxe poderes requisitórios ao Ministério Público, 
transformando em regra o princípio da titularidade ativa da ação penal pública. 
A Constituição Federal de 1946 inseriu o Ministério Público em título próprio, 
previu sua organização,forma de ingresso e conferiu garantias a seus membros. 
Foi com a primeira Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei 
Complementar Federal nº. 40 de 14 de dezembro de 1981, que a instituição passou 
a ter perfil nacional, com conceituação, princípios, funções, garantias, instrumentos e 
organização básica, conforme ensinamentos de Hugo Nigro Mazzili7. 
O primeiro processo inicia-se no período colonial, o Brasil foi orientado pelo 
direito lusitano. Não havia o Ministério Público como instituição, mas as Ordenações 
Manuelinas de 1521 e as Ordenações Filipinas de 1603 já faziam menção aos 
promotores de justiça, atribuindo a eles o papel de fiscalizar a lei e de promover a 
acusação criminal. Existia ainda o cargo de procurador dos feitos da Coroa 
(defensor da Coroa) e o de procurador da Fazenda (defensor do fisco). 
O segundo processo se deu só no Império em 1832, com o Código de 
Processo Penal do Império iniciou-se a sistematização das ações do Ministério 
Público. Contudo, apenas em janeiro de 1838, teve-se a notícia da função de fiscal 
 
7
 MAZZILI Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 27. 
19 
 
 
da lei do representado do Ministério Público, sendo este o marco inicial das 
modernas atribuições do Ministério Público. Para Sauwen Filho8: 
Foi somente em 16 de janeiro de 1838, que o Governo deu mostras da 
feição que reservava ao futuro Ministério Público, estabelecendo pelo Aviso 
Imperial daquela data que os Promotores de Justiça eram ―fiscais da lei‖, 
referindo-se aos curadores como ―verdadeiros advogados‖, destacando 
assim os papéis que estavam reservados àqueles membros do Ministério 
Público na futura lei que regularia a Instituição. 
Na República, o decreto nº 848 de 11/09/1890, ao criar e regulamentar a 
Justiça Federal, dispôs, em um capítulo, sobre a estrutura e atribuições do Ministério 
Público no âmbito federal. Neste decreto destacam-se dois pontos principais a 
saber: a indicação do procurador geral pelo Presidente da República e a função do 
procurador de "cumprir as ordens do Governo da República relativas ao exercício de 
suas funções" e de "promover o bem dos direitos e interesses da União." (artigo 24, 
alínea c). 
Mas foi o processo de codificação do Direito nacional que permitiu o 
crescimento institucional do Ministério Público, visto que os códigos (Civil de 1916, 
de Processo Civil de 1939 e de 1973, Penal de 1940 e de Processo Penal de 1941) 
atribuíram várias funções à instituição. 
Além dos códigos, algumas leis merecem destaque na evolução do Ministério 
Público. Dentre estas destacam-se, conforme nos ensina Alexandre de Moraes9, a 
lei federal nº 1.341 de 1951, que criou o Ministério Público da União, que se 
ramificava em Ministério Público Federal, Militar, Eleitoral e do Trabalho. O Ministério 
Público da União - MPU pertencia à época ao Poder Executivo. 
Em 1981, a Lei Complementar nº 40 dispôs sobre o Estatuto do Ministério 
Público, instituindo garantias, atribuições e vedações aos membros do órgão. 
Em 1985, a lei nº. 7.347 de Ação Civil Pública ampliou consideravelmente a 
área de atuação do Ministério Público, ao atribuir a função de defesa dos interesses 
difusos e coletivos. Antes da ação civil pública, o Ministério Público desempenhava 
basicamente funções na área criminal, possuindo na área cível, apenas uma 
atuação interveniente como fiscal da lei em ações individuais. Com o advento da 
 
8
 SAUWEN, Filho, J. F. O Ministério Público brasileiro: e o Estado Democrático de Direito. Rio de 
Janeiro: Renovar, 1999, pág. 120. 
9
 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2000, pág. 20. 
20 
 
 
ação civil pública, a instituição passa a ser agente tutelador dos interesses difusos e 
coletivos. 
Quanto aos textos constitucionais, deve-se lembrar que nem todas as Cartas 
Magnas trataram do Ministério Público, decorrendo tal inconstância das oscilações 
entre regimes democráticos e regimes autoritário-ditatoriais. Veja-se a evolução do 
Ministério Público frente às Constituições Brasileiras, segundo o Histórico do 
Ministério Público no Brasil, elaborado pelo Ministério Público da União10: 
Constituição de 1824: não faz referência expressa ao Ministério Público. 
Estabelece que "nos juízos dos crimes, cuja acusação não pertence à 
Câmara dos Deputados, acusará o procurador da Coroa e Soberania 
Nacional". 
Constituição de 1891: não faz referência expressa ao Ministério Público. 
Dispõe sobre a escolha do Procurador-Geral da República e a sua iniciativa 
na revisão criminal. 
Constituição de 1934: faz referência expressa ao Ministério Público no 
capítulo "Dos órgãos de cooperação". Institucionaliza o Ministério Público. 
Prevê lei federal sobre a organização do Ministério Público da União. 
Constituição de 1937: não faz referência expressa ao Ministério Público. 
Diz respeito ao Procurador-Geral da República e ao quinto constitucional. 
Constituição de 1946: faz referência expressa ao Ministério Público em 
título próprio (artigos 125 a 128) sem vinculação aos poderes. 
Constituição de 1967: faz referência expressa ao Ministério Público no 
capítulo destinado ao Poder Judiciário. 
Emenda constitucional de 1969: faz referência expressa ao Ministério 
Público no capítulo destinado ao Poder Executivo. 
Constituição de 1988: faz referência expressa ao Ministério Público no 
capítulo "Das funções essenciais à Justiça". Define as funções 
institucionais, as garantias e as vedações de seus membros. Foi na área 
cível que o Ministério Público adquiriu novas funções, destacando a sua 
atuação na tutela dos interesses difusos e coletivos (meio ambiente, 
consumidor, patrimônio histórico, turístico e paisagístico; pessoa portadora 
de deficiência; criança e adolescente, comunidades indígenas e minorias 
ético-sociais). Isso deu evidência à instituição, tornando-a uma espécie de 
Ouvidoria da sociedade brasileira. 
Com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o Ministério 
Público alcançou grande relevância no cenário nacional. Passou-se a dar mais 
importância a este órgão estatal, que vem ganhando força e justificando, cada vez 
mais, o fato de ser indispensável à justiça. Se tornou órgão autônomo e 
indispensável a prestação jurisdicional. 
Nesse sentido, destaca Edílson Gonçalves11: 
 
10
 BRASIL, Histórico do Ministério Público no. Disponível em: 
http://www.mpu.gov.br/navegacao/institucional/historico. 
11
 GONÇALVES, Edílson Santana. O Ministério Público no Estado Democrático de Direito. 
Curitiba: Jaruá, 2000, pág. 61. 
21 
 
 
É cediço afirmar que o Ministério Público traduz um ofício integrante da 
essência do Estado, exercendo parcela da soberania, imprescindível à 
própria sobrevivência da sociedade, dada a sua tamanha importância no 
atual momento histórico. 
O Ministério Público deixou de ser um apêndice do Poder Judiciário para se 
transformar num defensor da sociedade em todos os aspectos, com funções 
primordiais e indispensáveis, as quais buscam a aplicação do ordenamento 
constitucional, visando o bem social. Passa-se a ver o Ministério Público como 
instituição desvinculado a outro órgão, com independência funcional para lutar em 
prol da justiça social. 
2.1.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA ESTRUTURA DO ESTADO 
Muito se tem discutido em doutrina sobre qual o posicionamento ideal para o 
Ministério Público na Constituição Federal, como denota Hugo Nigro Mazzili12: 
a) Se dentro do Poder Legislativo (já que fiscaliza a aplicação da lei); 
Se dentro do Poder Judiciário (já que preponderantemente atua junto a ele 
quando da aplicação contenciosa da lei);Se dentro do Poder Executivo (pelo critério residual, já que o Ministério 
Público não faz a lei nem presta jurisdição); 
Se como um quarto Poder de Estado (como já foi sugerido em doutrina); 
Se em título ou capítulo à parte, com garantias de efetiva autonomia 
funcional. 
A posição que prevaleceu na Constituição Federal de 1988 foi a de ficar o 
Ministério Público inserido em capítulo à parte: ―Das funções essenciais à 
Justiça‖, solução semelhante às das Constituições de 1934 e 1946, ou seja, 
na Constituição Federal atual, o Ministério Público não foi erigido 
formalmente à condição de quarto Poder de Estado, mas alcançou 
efetivamente as garantias de Poder. 
A natureza jurídica do Ministério Público é a de órgão do Estado, não de 
Governo. No Brasil sua posição no Estado é muito clara, como visto acima: não faz 
parte do Poder Judiciário, nem tampouco do Poder Legislativo ou Executivo. 
É uma instituição permanente, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do 
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. 
A instituição do Ministério Público é considerada autônoma no meio jurídico, 
eis que não está inserido nem no poder judiciário, tampouco no poder executivo. O 
Ministério Público é uma instituição independente, essencial à função jurisdicional do 
 
12
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 29. 
22 
 
 
Estado, que ganhou maior força após a promulgação da Constituição de 1988, 
Constituição esta conhecida como Constituição Cidadã. 
Nas palavras de Hugo Nigro Mazzili13: 
A Constituição Federal de 1988, denominada de ―Constituição cidadã‖, e de 
nítido caráter democrático, eis que rompe com o regime político anterior, 
deu nova feição ao Ministério Público, estruturando-o com uma série de 
garantias e prerrogativas destinadas a propiciar desempenho satisfatório na 
defesa dos interesses da sociedade, inclusive contra os próprios órgãos do 
Estado. Há certo distanciamento dessa função, na medida em que o Texto 
Constitucional trata do Ministério Público em capítulo próprio, qual seja, 
―Das funções essenciais da justiça‖, com a advocacia defensoria pública e a 
advocacia pública. O Ministério Público passa a ser uma instituição 
permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, desfrutando 
deposição ímpar no sistema constitucional pátrio. 
Se a instituição do Ministério Público estivesse relacionada ao Poder 
Executivo, poderia acarretar alguns problemas no tocante a sua independência 
política e funcional. Saliente-se que essa independência constitui-se em um 
pressuposto da objetividade e da imparcialidade de sua atuação no mister de 
defensor da ordem jurídica. Aplica-se tanto à instituição como aos seus membros. 
Na hipótese de o Ministério Público estar relacionado ao Poder Legislativo 
tem-se que ele poderá ser concebido como um defensor do princípio da legalidade. 
Legalidade essa oriunda do próprio Poder Legislativo, ao qual se encontra vinculado. 
No entanto, aqui o perigo reside na defesa de uma legalidade socialista. 
Se o Ministério Público se encontra dentro da estrutura do Poder Judiciário, 
ele se torna sua dependente ou integrante, o que pode comprometer a sua atuação. 
Hugo Nigro Mazzili14 assevera que: 
Os Estados democráticos preferem relacionar o Ministério Público à 
estrutura constitucional do Poder Judiciário, por conceberem-no como 
função essencial ao desempenho da justiça. No sistema constitucional 
brasileiro o Ministério Público integra as funções essenciais à justiça e é 
erigido ao status de instituição permanente, desvinculada dos demais 
Poderes, constituindo-se em crime de responsabilidade do Presidente da 
República os atos que atentem contra o livre exercício do Ministério Público, 
conforme o disposto no art. 85, II, da Constituição Federal de 1988. De igual 
modo restam vedadas a edição de medida provisória e a delegação 
legislativa em matéria relativa à organização do Ministério Público. 
 
13
 MAZZILLI, Hugo Nigro. MARTINS, Ives Gandra; REZEK, Francisco. O Ministério Público depois 
da Constituição de 1988. Constituição Federal anotada. São Paulo: Revista dos Tribunais e 
Centro de Extensão Universitária, 2008, pág. 411. 
14
 MAZZILLI, Hugo Nigro. MARTINS, Ives Gandra; REZEK, Francisco. O Ministério Público depois 
da Constituição de 1988. Constituição Federal anotada. Pág. 411. 
23 
 
 
Com a Constituição Federal de 1988 o Ministério Público passou a ter 
autonomia e foi erigido como condição de instituição. A circunstância de elencar o 
Ministério Público no rol das funções essenciais à justiça, portanto não submetido ao 
Poder Executivo, lhe conferiu autonomia e independência para exercer o mister 
livremente e se legitimar como defensor da sociedade e dos valores democráticos. 
Ao ser conferido uma série de garantias à própria instituição do Ministério 
Público e aos seus membros, conferiu-se liberdade necessária à sua atuação, 
submetendo-o somente aos limites Constitucionais e às leis. Com a liberdade 
prevista pela Constituição Federal, foi conferida autonomia e os instrumentos e 
garantias necessários para cumprir a sua missão em prol da justiça. 
A instituição do Ministério Público possui autonomia na estrutura do estado e 
não pode ser extinto ou modificado, como já visto não pertence a nenhum dos outros 
poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário. 
A atuação do Ministério Público acabou por legitimá-lo perante a sociedade 
representando hoje a instituição um dos grandes esteios do próprio regime 
democrático. 
2.1.3 FUNÇÕES E PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
PREVISTOS CONSTITUCIONALMENTE 
A atual instituição do Ministério Público possui definição jurídica prevista no 
artigo 127 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, in verbis: 
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função 
jurisdicional do Estado, incumbindo‑lhe a defesa da ordem jurídica, do 
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. 
Como já referido anteriormente, o Ministério Público vem ocupando lugar 
cada vez mais destacado dentro da organização do Estado, dado o alargamento de 
suas funções de proteção de direitos (coletivos, difusos e individuais indisponíveis), 
que ganha realce na Constituição de 1988, tornando esta instituição um dos pilares 
do ordenamento jurídico pátrio. 
Os princípios constituem o alicerce do sistema jurídico ou de uma instituição, 
designam a estruturação de um sistema ou normas por um significado chave, o qual 
conduz o ordenamento e são subordinados. 
24 
 
 
A Constituição Federal disciplinou, em seu artigo 127, §1º, os princípios nos 
quais se alicerça a Instituição do Ministério Público, quais sejam a unidade, a 
indivisibilidade e a independência funcional. 
Como se infere, o Ministério Público possui, entre os demais princípios, 
independência funcional, que significa dizer, de acordo com Hugo Nigro Mazzili15 
que o Ministério Público exerce suas funções de forma livre e sem ingerências de 
qualquer outro órgão Estatal. 
Ressalta, nesse sentido, José Afonso da Silva16 para quem: 
Independência funcional (artigo 127, § 1º) quer dizer que, no exercício de 
sua atividade-fim, o membro do Ministério Público, assim como seus órgãos 
colegiados, têm inteira liberdade de atuação, não ficam sujeitos a 
determinações superiores e devem observância à Constituição e as leis. 
Por sua vez, os princípios da unidade e indivisibilidade, se referem à 
―características‖ da instituição permitindo que os membros do Ministério Público se 
substituam dentro de uma mesma jurisdição ou que atuem de forma conjunta. 
Neste sentidoAcordão Habeas Corpus nº. 132544/PR17: 
HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA POR 
PROMOTOR ATUANTE EM VARA CRIMINAL QUE NÃO A DO TRIBUNAL 
DO JÚRI. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO PRINCÍPIO DO PROMOTOR 
NATURAL. NÃO OCORRÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE 
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DENEGADA. 1. A instituição do 
Ministério Público é una e indivisível, ou seja, cada um de seus membros a 
representa como um todo, sendo, portanto, reciprocamente substituíveis em 
suas atribuições. Conforme se extrai da regra do art. 5º, LIII, da Carta 
Magna, é vedado pelo ordenamento pátrio apenas a designação de um 
"acusador de exceção", nomeado mediante manipulações casuísticas e em 
desacordo com os critérios legais pertinentes - isto é, considera-se violado o 
princípio se e quando violado o exercício pleno e independente das funções 
institucionais. Precedente da Sexta Turma. 2. A ocorrência de opiniões 
colidentes - manifestadas em momentos distintos por promotores de Justiça 
que atuam na área penal e após a realização de diligências - não traduz 
ofensa ao princípio do promotor natural. 3. No caso, quando encaminhado o 
feito para outro Juízo, não existiam elementos, sob a ótica do promotor de 
Justiça responsável pela Vara do Tribunal do Júri, da existência de crime 
doloso contra a vida, restando evidenciada, posteriormente, no curso das 
investigações, a prática de homicídio doloso, o que ensejou a denúncia 
oferecida pelo promotor atuante na vara criminal comum e a remessa dos 
autos ao Juízo competente. 4. Ordem denegada. Rel. Ministro SEBASTIÃO 
REIS JÚNIOR (1148). DJe 04/06/2012. T6 - SEXTA TURMA. 17/05/2012. 
 
15
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 35. 
16
 SILVA, José Afonso da. O Constitucionalismo brasileiro – evolução institucional. São Paulo, 
Malheiros, 2011, pág. 386. 
17
 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 132.544/PR, 6ª Turma. Rel. Ministro 
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, julgado em 17/05/2012, DJe 04/06/2012. 
25 
 
 
Ainda, com relação à indivisibilidade, Pedro Roberto Decomain18 traz que: 
A indivisibilidade resulta em verdadeiro corolário do princípio da unidade. O 
Ministério Público não se pode subdividir em vários outros Ministérios 
Públicos autônomos e desvinculados uns dos outros. Ao sentir mais uma 
vez de Manoel Gonçalves Ferreira Filho, indivisível quer dizer a ―instituição 
não pode ser duplicada, de modo a que suas funções sejam cometidas a 
estruturas diferentes e paralelas.‖ 
A concepção de promotor natural, assim como juiz natural, remete a uma 
ideia de isenção e imparcialidade inconciliável com a atividade do Ministério Público, 
que é de parte, embora haja sob o critério de legalidade. 
Por tudo isso, pode-se afirmar que o princípio do promotor natural não tem 
fundamento constitucional e os princípios da unidade e indivisibilidade foram 
inadequadamente importados pela Constituição, não correspondendo na prática ao 
contexto brasileiro. 
Aliás, no Superior Tribunal de Justiça - STJ a questão tem sido tratada nos 
seguintes termos, conforme traz Fernando da Costa Tourinho Filho19: 
Constitucional e Processual Penal. ―Habeas corpus‖. Peculato. Princípio do 
Promotor Natural. Garantia constitucional inexistente (art. 127, §1ª, a 
contrário sensu). I – A Constituição, diferentemente do que faz com os 
Juízes, tudo em prol dos jurisdicionados, não garante o ―Princípio do 
Promotor Natural‖. Ao contrário, consagra no §1º do art. 127 os princípios 
da ―Unidade‖ e da ―Indivisibilidade‖ do Ministério Público, dando maior 
mobilidade à instituição, permitindo avocação e substituição do órgão 
acusador, tudo, evidentemente, nos termos da Lei Orgânica. (STJ, RHC º. 
3.061). 
 
Recurso em Habeas Corpus. Violação ao princípio do Promotor Natural. 
Inexistência. 1. A possibilidade de designação de outros membros do 
Ministério Público para atuar em conjunto com o promotor titular é 
expressamente permitida pelo art. 24 da Lei 8.625/1993, não havendo que 
se falar em violação do princípio do promotor natural. (STJ, RHC nº. 
17.035). 
Tendo em vista os entendimentos acima explanados, tem-se que é garantido 
aos membros do Ministério Público a unidade e indivisibilidade, portanto o órgão do 
Ministério Público é uma única instituição, representada por seus Promotores de 
Justiça, os quais exercem suas funções pertinentes, não sendo assegurado o 
princípio do promotor natural, com ressalvas em casos específicos. Como bem 
 
18
 DECOMAIN, Pedro Roberto. Comentários à Lei orgânica nacional do Ministério Público: Lei 
8.625, de 12.02.1993. Florianópolis: Obra Jurídica, 1996, pág. 19. 
19
 FILHO, Fernando da Costa Tourinho. Processo Penal. 12ª Ed. 1990, Saraiva, pág. 308. 
26 
 
 
assevera Hugro Nigro Mazzili20, ―o princípio do promotor natural comporta diversas 
aplicações práticas‖. 
Pode-se dizer que, em tese, o princípio do promotor natural é equiparado ao 
do Juiz, posto que o membro do Ministério Público é quem oficia em um processo ou 
inquérito policial. Visa garantir tanto ao membro do Ministério Público quanto ao 
processado, que seja assegurado o exercício pleno e independente de seu ofício. 
Sobre os princípios institucionais o Constitucionalista Pedro Lenza21 definiu-os 
da seguinte forma: 
Unidade: sob a égide de um só Chefe, o Ministério Público deve ser visto 
como uma instituição única, sendo a divisão existente meramente funcional. 
Importante notar, porém, que a unidade se encontra dentro de cada órgão, 
não se falando em unidade entre o Ministério Público da União (qualquer 
deles) e o dos Estados, nem entre os ramos daquele. 
Indivisibilidade: corolário do princípio da unidade, em verdadeira relação 
de logicidade, é possível que um membro do Ministério Público substitua 
outro, dentro da mesma função, sem que, com isso, exista qualquer 
implicação prática. Isso porque quem exerce os atos, em essência, é a 
instituição ―Ministério Público‖, e não a pessoa do Promotor de Justiça ou 
Procurador. 
Independência funcional: trata-se de autonomia de convicção, na medida 
em que os membros do Ministério Público não se submetam a qualquer 
poder hierárquico no exercício de seu mister, podendo agir, no processo, da 
maneira que melhor entenderem. A hierarquia existente restringe-se às 
questões de caráter administrativo, materializada pelo Chefe da Instituição, 
mas nunca, como dito, de caráter funcional. Tanto é que o art. 85, II da 
CF/88 considera crime de responsabilidade qualquer ato do Presidente da 
República que atentar contra o livre exercício do Ministério Público. 
Responsabilidade: qualquer ato do Presidente da República que atentar 
contra livre-exercício do Ministério Público. 
Os princípios institucionais elencados acima tem a função estruturante da 
instituição, os quais devem ser observados e aplicados no ordenamento jurídico, sob 
pena de se considerar violação ao texto constitucional. Os princípios trazem 
garantias ao sistema jurídico e aos membros do Ministério Público, garantindo que o 
Ministério Público exerça de forma livre e sem pressões e influências a sua missão 
constitucional, de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses 
sociais e individuais indisponíveis. 
Essas garantias asseguradas ao Ministério Público visam afirmar ainda mais 
as funções desta tão importante instituição, coibindo de forma fundamental os 
crimes sem envolvimentos de outras instituições. 
 
20
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 37. 
21
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2010, 
pág.672. 
27 
 
 
Hugo Nigro Mazzili22 traz as garantias do Ministério Público:―Garantias são 
atributos que se destinam a assegurar o livre exercício das funções: a) do próprio 
Ministério Público, como instituição; b) de seus órgãos e membros, como agentes.‖ 
A Constituição Federal de 1988 estabelece três tipos de garantias para o 
Ministério Público, quais sejam em relação à instituição, aos seus órgãos e aos seus 
membros. 
Preliminarmente deve-se estabelecer a distinção entre impedimentos e 
vedações. 
Impedimentos, nos ensinamentos de Hugo Nigro Mazzili23, são 
impossibilidades materiais ou jurídicas para que um membro do Ministério Público 
exerça suas funções. As vedações do Ministério Público são semelhantes às da 
Magistratura, conforme estabelecido no artigo 128, §5º, inciso II da Constituição 
Federal de 1988. 
Ainda no código de processo penal no artigo 104 prevê a possibilidade da 
arguição de exceção de suspeição contra membros do ministério público e em seu 
artigo 258 do mesmo diploma legal prevê que a eles se estendem, no que lhes for 
aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes, 
sendo-lhes vedado atuar em processos que sejam partes, seu cônjuge, ou parente, 
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau. 
Nas palavras de Hugo Nigro Mazzili24: 
a) Vedações (de caráter absoluto), ou seja, são impedimentos éticos ou 
jurídicos que geram incompatibilidades (por exemplo: não atuar no processo 
em que ele próprio seja parte); 
b) Causas de suspeição (de caráter relativo), em cuja ocorrência o 
legislador presume haja parcialidade do membro do Ministério Público 
(amizade íntima ou inimizade capital com a parte). 
Ainda sobre vedações assevera o citado autor: 
a) Receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, 
percentagens ou custas processuais (se o Ministério Público for vitorioso na 
ação, seus membros não podem receber honorários; se sucumbir, os ônus 
da sucumbência ficarão a cargo do Estado); 
b) Exercer a advocacia (aos membros do Ministério Público veda-se 
qualquer forma de postulação ou consultoria jurídica fora das atividades 
próprias à instituição ministerial, quer essa postulação se dê perante o 
Poder Judiciário ou não; além de vedar-se a consultoria jurídica, veda-se 
 
22
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 49. 
23
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 49. 
24
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 57. 
28 
 
 
também a representação das entidades públicas pelos membros do 
Ministério Público); 
c) Participar de sociedade comercial, na forma da lei (entende-se que o 
membro do Ministério Público pode participar de sociedades de capital, 
como sociedades anônimas ou de responsabilidade limitada, mas não de 
sociedades de pessoas; com maior razão, os membros do Ministério 
Público não podem exercer o comércio individual); 
d) Exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, 
salvo uma de magistério; 
e) Exercer atividade político-partidária, salvo exceções previstas em lei. 
Tais fundamentos encontram respaldo para que se preserve sua função, 
visando garantir a independência, a isenção ou a dedicação dos membros do 
Ministério Público. Visa ainda evitar causas de nulidade no processo em que for 
arguida a suspeição do membro do Ministério Público, podendo causar interposição 
de recurso, sendo reconhecida a nulidade dos atos por ofensa ao princípio 
constitucional. 
Ainda no artigo 129 da Constituição da República Federativa do Brasil, estão 
elencadas as funções institucionais do Ministério Público: 
Art. 129. São funções institucionais do ministério Público: 
I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; 
II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de 
relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, 
promovendo as medidas necessárias a sua garantia; 
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do 
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos 
e coletivos; 
IV – promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins 
de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta 
Constituição; 
V – defender judicialmente os direitos e interesses das populações 
indígenas; 
VI – expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua 
competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na 
forma da lei complementar respectiva; 
VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei 
complementar mencionada no artigo anterior; 
VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito 
policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações 
processuais; 
IX – exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que 
compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial 
e a consultoria jurídica de entidades públicas. 
[...] 
Destaca-se que a Constituição Federal enumera de forma exemplificativa tais 
funções, neste sentido Pedro Lenza25 assevera que: 
 
25
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Pág. 677. 
29 
 
 
Trata-se de rol meramente exemplificativo, uma vez que seu inciso IX 
estabelece que compete, ainda, ao Ministério Público exercer outras 
funções que lhes forem conferidas, desde que compatíveis com sua 
finalidade. 
Da análise do texto constitucional se pode auferir que o legislador constituinte 
atribuiu ao Ministério Público a defesa da sociedade, tanto no campo penal quanto 
no campo cível, trazendo a instituição à titularidade da ação penal pública de forma 
exclusiva, bem como a titularidade do inquérito civil e da ação civil pública. 
De acordo com o entendimento de Hugo Nigro Mazzili26: 
Embora o art. 129 da CF diga estar referindo-se às funções institucionais do 
Ministério Público, na verdade, refere-se antes a seus instrumentos de 
atuação institucional (ação penal pública, ação civil pública, inquérito civil, 
requisições, notificações etc.). Funções institucionais do Ministério Público 
são aquelas previstas no art. 127, caput, ou seja, aqueles fins para os quais 
existe e para cujo adimplemento o Ministério Público emprega os 
instrumentos de atuação que a lei lhe conferiu; assim, estão entre suas 
funções institucionais a defesa do regime democrático, a defesa dos 
interesses sociais e dos individuais indisponíveis. 
Assim, o Ministério Público é instituição que visa garantir e defender os 
interesses coletivos ou individuais indisponíveis, dentre outras funções que lhe são 
asseguradas no texto constitucional, bem como em Leis Complementares. Para 
tanto, existem garantias que buscam criar condições para se efetuar tais objetivos, 
sem influência de conflitos internos ou externos à instituição ou mesmo 
subordinação. 
Segundo o mesmo autor, a melhor distinção já feita entre funções e 
instrumentos foi feita pela Lei Complementar nº. 75/93 (LOMPU), em seus artigos 5º 
e 6º, respectivamente. 
Com efeito, considera a Lei como função institucional do Ministério Público da 
União o seguinte: 
Art. 5º São funções institucionais do Ministério Público da União: 
 I - a defesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses 
sociais e dos interesses individuais indisponíveis, considerados, dentre 
outros, os seguintes fundamentos e princípios: 
a) a soberania e a representatividade popular; 
b) os direitos políticos; 
c) os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil; 
d) a indissolubilidade da União; 
e) a independência e a harmonia dos Poderes da União; 
f) a autonomia dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;26
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 64. 
30 
 
 
g) as vedações impostas à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos 
Municípios; 
h) a legalidade, a impessoalidade, a moralidade e a publicidade, relativas à 
administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos 
Poderes da União; 
II - zelar pela observância dos princípios constitucionais relativos: 
a) ao sistema tributário, às limitações do poder de tributar, à repartição do 
poder impositivo e das receitas tributárias e aos direitos do contribuinte; 
b) às finanças públicas; 
c) à atividade econômica, à política urbana, agrícola, fundiária e de reforma 
agrária e ao sistema financeiro nacional; 
d) à seguridade social, à educação, à cultura e ao desporto, à ciência e à 
tecnologia, à comunicação social e ao meio ambiente; 
e) à segurança pública; 
III - a defesa dos seguintes bens e interesses: 
a) o patrimônio nacional; 
b) o patrimônio público e social; 
c) o patrimônio cultural brasileiro; 
d) o meio ambiente; 
e) os direitos e interesses coletivos, especialmente das comunidades 
indígenas, da família, da criança, do adolescente e do idoso; 
IV - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos da União, dos serviços 
de relevância pública e dos meios de comunicação social aos princípios, 
garantias, condições, direitos, deveres e vedações previstos na Constituição 
Federal e na lei, relativos à comunicação social; 
V - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos da União e dos serviços 
de relevância pública quanto: 
a) aos direitos assegurados na Constituição Federal relativos às ações e 
aos serviços de saúde e à educação; 
b) aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e da 
publicidade; 
VI - exercer outras funções previstas na Constituição Federal e na lei. 
Noutro aspecto, o artigo 6º traz uma série de instrumentos necessários para 
que o Ministério Público possa dar consecução nos seus objetivos institucionais, 
dentre as quais se destacam: 
Ação direta de inconstitucionalidade, respectivo pedido de medida cautelar, 
ação direita de inconstitucionalidade por omissão, arguição de descumprimento de 
preceito fundamental, representação para intervenção federal, ação penal pública, 
habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção, inquérito civil e ação 
civil pública, defender direitos e interesses das populações indígenas, ação civil 
coletiva para defesa de interesses individuais homogêneos, ações necessárias ao 
exercício de suas funções institucionais, ações cabíveis, representar, 
responsabilidade. 
Ademais, cabe o exercício de outras atribuições pelo Ministério Público que 
lhe forem respaldadas por lei, desde que compatíveis com sua finalidade, cm intuito 
de valorizar a instituição, além de assegurar o benefício da comunidade. 
31 
 
 
Destaca-se, também, a atuação do Ministério Público como custus legis o 
fiscal da lei, visando à aplicação da lei de forma correta, bem como a titularidade 
exclusiva da ação penal pública (dominis litis em tal matéria), sendo o titular 
exclusivo da referida ação. 
Hugo Nigro Mazzili27 nos ensina que o Ministério Público tem dois tipos de 
função, devendo atuar sempre com observância aos requisitos constitucionais, quais 
sejam: 
Típicas são as funções intrinsecamente próprias do Ministério Público, ou 
seja, aos do que apenas compatíveis, são funções às quais o Ministério 
Público está diretamente votado (o combate ao crime, a defesa do meio 
ambiente, a defesa de interesses difusos e coletivos etc.). Naturalmente, 
nem todas as funções típicas são privativas do Ministério Público. 
Atípicas são as funções que o Ministério Público ainda exerce, mas que 
estão fora de sua atual destinação geral (como a defesa cível da vítima 
pobre ou do reclamante trabalhista, na ação civil ex delicto ou na 
reclamação trabalhista, hipóteses estas de atuação transitória, enquanto 
não sejam criados e estejam em efetivo funcionamento os órgãos próprios 
de assistência judiciária). 
Cumpre destacar com a discussão existente quanto às atuações do Ministério 
Público em ações de usucapião e divórcio que tenham nos polos ativos e passivos 
pessoas maiores e capazes: embora atualmente a lei prevê tal atuação por parte do 
Ministério Público, mas está se formando uma tendência de se limitar referida 
atuação, encaixando dentro do próprio texto constitucional, artigo 127, caput, e 
artigo 129, IX da Constituição Federal, nos quais o interesse de agir do Ministério 
Público só se dá em casos específicos como, por exemplo, em ações que envolvam 
menores e incapazes ou em interesses sociais e interesses individuais indisponíveis. 
Pode-se concluir, de acordo com o até aqui exposto, que o Ministério Público, 
após a promulgação da Constituição Federal de 1988, ganhou grande relevância no 
ordenamento jurídico, se tornando instituição essencial à justiça, que busca defender 
os interesses coletivos e individuais, que possui atribuições, garantias e vedações 
previstas no texto constitucional e que ainda, possui um amplo leque de meios, 
previstos em Leis Complementares, que visam adicionar a instituição. Instituição de 
papel fundamental, que visa combater crimes organizados, hediondos, dentro outros 
que a própria policial judiciária não obtenha meios de fazer. 
A par de tais conceitos, é possível a busca de uma definição de Ministério 
Público, objeto do próximo item deste capítulo. 
 
27
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 64. 
32 
 
 
2.1.4 DEFINIÇÃO DE MINISTÉRIO PÚBLICO 
Verificou-se no capítulo anterior que de acordo com o texto constitucional, o 
Ministério Público é instituição permanente, una e indivisível, essencial à função 
jurisdicional do Estado, com a incumbência de defender os interesses da sociedade 
e os interesses sociais e individuais indisponíveis. Além disso, cumpre destacar que 
a instituição possui autonomia para organizar as suas funções administrativas e 
independência para gerir e executar o seu orçamento, estando sujeito unicamente à 
Constituição Federal e à legislação vigente. 
Com fundamento no até aqui exposto, oportuno o entendimento de Hugo 
Nigro Mazzili28 para quem o Ministério Público: 
Trata-se de um órgão autônomo do Estado, indispensável para assegurar a 
inércia do Poder Judiciário e para garantir efetivo acesso à jurisdição, 
quando da ocorrência de lesões a interesses públicos ou coletivos, tomados 
estes em seu sentido lato. 
A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público – Lei 8.625/1993, definiu a 
instituição com a mesma redação dada no artigo 127 da Constituição Federal, citado 
acima. 
De acordo com Pedro Lenza29 foram editados diplomas legais, visando a 
complementação da Constituição Federal de 1988, trazendo formas de organizações 
da instituição do Ministério Público e conceituando outros procedimentos utilizados 
por tal instituição, quais sejam: 
Lei nº. 8.625, de 12/02/1993: Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, 
dispondo sobre normas gerais para a organização do Ministério Público dos 
Estados; 
Lei Complementar nº. 75, de 20/05/1993: Lei Orgânica do Ministério Público 
da União (de caráter federal e não nacional, como a Lei Orgânica Nacional 
do Ministério Público), dispondo sobre a organização, atribuições e estatuto 
do Ministério Público da União (Ministério Público Federal – arts. 3-82; 
Ministério Público Militar – arts. 116-148; Ministério Público do Trabalho – 
arts. 83-115 e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios – arts. 149-
181, todos independentes entre si). Leis complementares estaduais: cada 
Estado elabora a sua; para se ter um exemplo, a Lei Complementar nº. 74, 
de 26/11/1991, Lei Orgânica do Ministério Público do Estadode São Paulo. 
O Ministério Público exerce a atividade de controle, verificando e fiscalizando 
as notícias crime, instrumento de registro de ocorrências, as providências cabíveis, 
 
28
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 17. 
29
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Pág. 667. 
33 
 
 
andamento de investigação, tramitação de inquéritos policiais e procedimentos 
judiciais e extrajudiciais, o cumprimento de decisões judiciais, cumprimento de 
requisições do próprio Ministério Público, a detenção de presos e execução de pena 
de condenados. 
Também estão inseridas nas atividades de controle externo do Ministério 
Público as de prevenção e repressão que afetem o cidadão e a sociedade. Atua em 
prol da saúde pública, do meio ambiente, da criança e do adolescente, das famílias, 
do idoso, das pessoas portadoras de necessidades especiais, do patrimônio público, 
dos direitos do consumidor, enfim atua em todas as áreas do direito, os quais são 
previstos constitucionalmente, sempre visando a proteção dos cidadãos. 
Para Hugo Nigro Mazzili30, no caput do artigo 127 da Constituição Federal 
pode-se encontrar os seguintes conceitos: 
a) Instituição permanente: Diz a Constituição que o Ministério Público é 
instituição permanente. A assertiva, que já constava do art. 1° da Lei 
Complementar federal n. 40, de 14 de dezembro de 1981, e que agora foi 
consagrada na Constituição da República de 1988 (art. 127), parte do 
pressuposto de que o Ministério Público é um dos órgãos pelos quais o 
Estado atual manifesta sua soberania; ora, entre as instituições públicas, 
caracterizadas por um fim a realizar no meio social, o Ministério Público tem 
a destinação permanente de defender a ordem jurídica, o próprio regime 
democrático e ainda os interesses sociais e individuais indisponíveis, 
inclusive e principalmente perante o Poder Judiciário, junto ao qual tem a 
missão de promover a ação penal pública. 
b) Zelo das principais formas de interesse público: Destina-se o Ministério 
Público à defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses 
sociais e individuais indisponíveis: em última análise, trata-se do zelo do 
interesse público. Ainda que muito criticada a expressão ―interesse público‖, 
por sua imprecisão, parece-nos preferível à enumeração falha, porque 
casuística, de outros textos que, na busca de cobrir todo o campo de 
atuação ministerial, elencam interesses sociais, interesses indisponíveis do 
indivíduo e da coletividade, interesses coletivos, difusos, transindividuais 
etc. Num sentido lato, portanto, até o interesse individual, se indisponível, é 
interesse público, cujo zelo é cometido ao Ministério Público (CR, art. 127); 
a defesa do próprio interesse coletivo também pode coincidir com o zelo do 
interesse público empreendido pela instituição (CR, art. 129, III). 
c) O Ministério Público e a função jurisdicional: A referência a ser ―essencial 
à função jurisdicional do Estado‖, que já se achava presente no art. 1º da 
Lei Complementar n. 40/81, bem como constava do art. 308 do Anteprojeto 
Afonso Arinos, não deixa de ser incorreta: diz menos do que deveria (o 
Ministério Público tem inúmeras funções exercidas independentemente da 
prestação jurisdicional, como na fiscalização de fundações e prisões, nas 
habilitações de casamento, na homologação de acordos extrajudiciais, no 
atendimento ao público), como, paradoxalmente, diz mais do que deveria 
(pois o Ministério Público não oficia em todos os feitos submetidos à 
prestação jurisdicional, e sim, normalmente, naqueles em que haja algum 
interesse indisponível, difuso ou coletivo, ligado à qualidade de uma das 
partes ou à natureza da própria lide — cf. art. 82 do CPC). 
 
30
 MAZZILI, Hugo Nigro. Manual do Promotor de Justiça. 2010. Versão Eletrônica, pág. 42 
34 
 
 
Entretanto, lançando a própria Constituição a assertiva de que o Ministério 
Público é essencial à atividade jurisdicional do Estado, por certo agora abre 
caminho para maior ou quiçá integral participação do Ministério Público 
junto à tarefa da prestação jurisdicional, podendo-se cogitar, de lege 
ferenda, de sua intervenção em todos os feitos, ad instar do que ocorre com 
o procurador-geral da República perante o Supremo Tribunal Federal. 
d) A defesa da ordem jurídica: O novo texto constitucional menciona a 
defesa da ordem jurídica como objetivo da atuação ministerial (art. 127). Há 
muito consagrado o Ministério Público como instituição fiscal da lei, essa 
sua destinação constitucional deve ser compreendida à luz dos demais 
dispositivos da Lei Maior que disciplinam sua atividade, e, em especial, à luz 
de sua própria finalidade tuitiva de interesses sociais e individuais 
indisponíveis. Além disso, não se pode olvidar que o art. 129, IX, lhe veda 
exercer outras funções que não sejam compatíveis com sua finalidade, 
como, por exemplo, a representação judicial e a consultoria jurídica de 
entidades públicas. 
e) Ministério Público e democracia: Há estreita ligação entre democracia e 
um Ministério Público forte e independente. Já na Exposição de Motivos do 
primeiro texto legal que deu organicidade à instituição, na abertura da 
República, dizia Campos Salles: ―O Ministério Público é instituição 
necessária em toda organização democrática e imposta pelas boas normas 
da justiça, à qual compete: velar pela execução das leis, decretos e 
regulamentos que devem ser aplicados pela Justiça Federal e promover a 
ação pública onde ela convier‖ (Dec. n. 848, de 11-10-1890). 
O Ministério Público é instituição que só atinge sua destinação última em 
meio essencialmente democrático. Em parecer ofertado sob instâncias da 
Associação Paulista do Ministério Público, Eurico de Andrade Azevedo 
assegurou, com razão, que ―a manutenção da ordem democrática e o 
cumprimento das leis são condições indispensáveis à existência de respeito 
e ao estabelecimento da paz e da liberdade entre as pessoas. Há, pois, 
uma íntima relação, delimitada em lei, entre o equilíbrio da vida social e o 
fiel exercício das funções próprias do Ministério Público‖. Ao reconhecer-se 
o papel da instituição em defesa do regime democrático, retomou-se ideia 
que já vinha do Anteprojeto Afonso Arinos e da Carta de Curitiba, inspiração 
haurida da Constituição portuguesa de 1976, que atribui ao Ministério 
Público a defesa da ―legalidade democrática‖ (art. 224, 1). 
A atuação do Ministério Público pressupõe a indisponibilidade de um 
interesse ligado a uma pessoa (ex. incapaz), indisponibilidade de um interesse 
ligado a uma relação jurídica (ex. estado) e a presença de uma questão de 
abrangência social (ex. interesses transindividuais). Ainda a Constituição Federal de 
1988 trouxe ao Ministério Público o encargo de defesa do regime democrático, 
visando que o Ministério Público mantenha a ordem democrática e o cumprimento 
das leis que são condições para manter a liberdade das pessoas e a paz social.
35 
 
 
3 O CRIME ORGANIZADO 
No presente capítulo buscar-se conceituar e traçar o panorama histórico do 
crime organizado dentro do ordenamento jurídico, bem como a precariedade que 
acompanha as investigações criminais realizadas pela polícia judiciária. 
O crime organizado é tema de destaque nesta área, em razão da 
preocupação da sociedade mundial com a existência de grupos criminosos 
organizados voltados a uma gama de crimes de alto potencial ofensivo. 
Nas palavras de Luiz Roberto Ungaretti de Godoy31, os problemas 
socioeconômicos e a instabilidade de valores e princípios, aliados a ineficácia dos 
direitos fundamentais, acarretam um crescimento do crime organizado, ofendendo 
bens jurídicos fundamentais, tais como a vida, liberdade, paz pública,probidade 
administrativa, liberdade sexual, meio ambiente, dentre tantos outros bens que são 
afetados por estas organizações criminosas que vêm se formando com mais 
frequência e se aprimorando cada vez mais, como se tratará a seguir. 
Em razão deste constante aprimoramento, bem como das características 
inerentes a esse tipo de criminalidade, nem sempre o Inquérito Policial é ferramenta 
adequada para a persecução penal. 
Neste diapasão, pode-se entender-se que o inquérito policial, ferramenta de 
captação de provas para formar a opinio delicti, é dispensável para a propositura da 
ação penal. Em todo caso, abordar-se-á o tema sob o viés de sua inoportunidade 
para a persecução penal dos atos de organização criminosa. 
Será abordado a problemática do crime organizado no Brasil, suas 
características e forma de agir, bem como as duas das principais organizações 
criminais que atuam em nosso País. A corrupção dos agentes estatais em prol do 
crime organizado e a evolução que o crime organizado teve com o passar dos 
tempos. 
Abordar-se-á ainda o crime organizado em determinados Países da América 
Latina e Europa, trazendo suas formas de organização, bem como a forma de 
combate utilizado pelos ordenamentos jurídicos dos referidos países. 
 
31
 GODOY, Luiz Roberto Ungaretti. Crime organizado e seu tratamento jurídico penal. Rio de 
Janeiro: Elsevier, 2011. Pág. 16. 
36 
 
 
3.1 CONCEITO 
A doutrina e jurisprudência atualmente divergem sobre a conceituação de 
crime organizado. O artigo 2º do Projeto de Lei nº. 3.516, de 24 de agosto de 1989, 
de autoria do Deputado Federal Michel Temer, assim definia organização criminosa: 
Art. 2º. Para efeitos desta Lei, considera-se organizações criminosas 
aquelas que, por suas características, demonstrem a exigência de estrutura 
criminal, operando de forma sistematizada, com atuação regional, nacional 
e/ou internacional. 
Desde a definição proposta por Michel Temer, a sociedade se modificou e 
evoluiu, vindo a proclamar modificações, eis que a legislação encontrava-se 
obsoleta e superada, haja vista que primava não só as organizações criminosas, 
mas o direito de ir e vir do cidadão, os quais pleiteavam mudanças na forma de 
combate as organizações criminosas. 
Nos ensinamentos de Luiz Roberto Ungaretti de Godoy32, somente no dia 06 
de abril de 1995, após longos anos de tramitação no Congresso Nacional, foi 
apresentado o substitutivo do Senado Federal ao Projeto de Lei nº. 3.516 de 1989, 
que modificava o aludido artigo 2º do Projeto de Lei nº. 3.516, passando a ter a 
seguinte redação: 
Art. 2º. Considera-se crime organizado o conjunto de atos delituosos que 
decorrem ou resultem das atividades de quadrilha ou bando, definidos no 
§1º do art. 288 do Decreto Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – 
Código Penal. 
Após diversas alterações no texto legal, a fim de se encontrar uma 
conceituação adequada de crime organizado ou organização criminosa, só em 12 de 
março de 2004, após a promulgação da Convenção das Nações Unidas contra o 
Crime Organizado, também conhecida como Convenção de Palermo, é que no 
ordenamento jurídico brasileiro passou a dispor de conceituação de crime 
organizado. 
Através do artigo 2º do Decreto nº. 5.015, de 12/03/04, foi inserido no sistema 
penal brasileiro o conceito de organização criminosa, qual seja: 
"Grupo criminoso organizado" - grupo estruturado de três ou mais pessoas, 
existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de 
 
32
 GODOY, Luiz Roberto Ungaretti. Crime organizado e seu tratamento jurídico penal. Pág. 54. 
37 
 
 
cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente 
Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício 
econômico ou outro benefício material. 
Para Carlo Velho Masi33, recentemente a jurisprudência respaldada na 
Recomendação nº. 03 do CNJ, de 30 de maio de 2006, vinha adotando a definição 
de "grupo criminoso organizado" da Convenção de Palermo, nos moldes do artigo 1º 
da Lei 9.034/95 (redação dada pela Lei 10.217/01), com a tipificação do artigo 288 
Código Penal, in verbis: 
Para efeitos da presente Convenção, entende-se por: a) ‗Grupo Criminoso 
Organizado‘ - grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há 
algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma 
ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a 
intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro 
benefício material. 
A verdade é que, após sucessivas discussões, ainda não se encontrou a 
conceituação adequada de organização criminosa, havendo, como se disse no 
início, divergência entre doutrina e jurisprudência a respeito do tema. 
A conceituação mais utilizada recentemente era a prevista no artigo 2º do 
Decreto nº. 5.015, de 12/03/04 cumulada com o conceito de associação presente no 
artigo 288 do Código Penal Brasileiro: ―Associarem-se mais de três pessoas, em 
quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: pena – reclusão de 01 (um) a 03 
(três) anos‖. 
Houve ainda a promulgação da Lei nº. 12.694/2012 a qual conceituava 
organização criminosa dispondo que a associação de 03 (três) ou mais pessoas, 
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que 
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer 
natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 
(quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional. 
Atualmente entrou em vigor a Lei nº. 12.850, de 02 de agosto de 2013, com 
vacacio legis de 45 dias, trazendo a definição de organização criminosa, dispondo 
sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais 
 
33
 MASI, Carlo Velho. A inconsistência do conceito jurisprudencial de organização criminosa e 
sua influência no combate efetivo ao crime organizado. Disponível em: 
http://jus.com.br/artigos/19917/a-inconsistencia-do-conceito-jurisprudencial-de-organizacao-criminosa-
e-sua-influencia-no-combate-efetivo-ao-crime-organizado#ixzz2fXvNSxMe 
38 
 
 
correlatas e o procedimento criminal, bem como revogando a Lei nº. 9.034, de 3 de 
maio de 1995 (antigo diploma regulador de tais práticas). 
Nas palavras de Guilherme de Souza Nucci34, organização criminosa: 
É a associação de agentes, com caráter estável e duradouro, para o fim de 
praticar infrações penais, devidamente estruturada em organismo pré-
estabelecido, com divisão de tarefas, embora visando ao objetivo comum de 
alcançar qualquer vantagem ilícita, a ser partilhada entre os seus 
integrantes. O conceito adotado pela nova Lei 12.850/2013 não é muito 
diferente, prevendo-se, no art. 1º, § 1º, o seguinte: ―considera-se 
organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas 
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que 
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de 
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas 
máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter 
transnacional‖. 
Com o advento desta lei, percebe-se que esta nova definição de organização 
criminosa difere, ainda que sutilmente, da primeira (prevista na Lei nº. 12.694/2012) 
em três aspectos, conforme nos ensina Rômulo de Andrade Moreira35: considera-se 
organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas [...]; mediante a 
prática de infrações penais [...] e penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos 
[...]. 
Nesse sentido Rômulo de AndradeMoreira36 pondera que: 
O primeiro conceito contenta-se com a associação de três ou mais pessoas, 
aplicando-se apenas aos crimes (e não às contravenções penais), além de 
abranger os delitos com pena máxima igual ou superior a quatro anos. A 
segunda exige a associação de quatro ou mais pessoas (e não três) e a 
pena deve ser superior a quatro anos (não igual). 
A nova definição trazida ao ordenamento jurídico, mesmo que traga mudança 
pouca significativa da anteriormente utilizada, traz penas mais severas aos 
infratores. Pela primeira vez no ordenamento jurídico, bem como ensina Luiz Flavio 
Gomes37, houve a tipificação das condutas de organizações criminosas, 
 
34
 NUCCI, Guilherme de Souza. Organização criminosa – comentários à Lei 12.850/2013. 
Disponível em: https://www.facebook.com/guilhermenucci2?hc_location=timeline. 
35
 MOREIRA, Rômulo de Andrade. A nova lei de organização criminosa – lei nº. 12.850/2013. 
Disponível em: http://atualidadesdodireito.com.br/romulomoreira/2013/08/12/a-nova-lei-de-
organizacao-criminosa-lei-no-12-8502013/ 
36
 MOREIRA, Rômulo de Andrade. A nova lei de organização criminosa – lei nº. 12.850/2013. 
Disponível em: http://atualidadesdodireito.com.br/romulomoreira/2013/08/12/a-nova-lei-de-
organizacao-criminosa-lei-no-12-8502013/. 
37
 GOMES, Luiz Flavio. Análise Jurídica da Nova Lei de Organizações Criminosas. Disponível em: 
http://atualidadesdodireito.com.br/lfg/2013/09/17/analise-juridica-das-novas-leis-de-organizacoes-
criminosas/ 
39 
 
 
transformando-as em crimes autônomos, conforme se denota do artigo 2º da citada 
lei: 
Art. 2º - Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por 
interposta pessoa, organização criminosa: Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 
(oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais 
infrações penais praticadas. 
Assim, as organizações criminosas encontram-se tipificadas no ordenamento 
jurídico brasileiro com penas mais severas, trazendo todos os elementos 
caracterizadores do tipo penal culpável. 
Nesse diapasão, pode-se dizer que a ação das organizações criminosas 
afetam pessoas indeterminadas e indetermináveis, ligadas entre si por 
circunstâncias do fato, bem como que os prejuízos na maioria das vezes, não são 
detectados e, quando detectados, já decorreram anos e se tornaram irreparáveis. 
Outra característica marcante é que os danos causados pelas organizações 
criminosas permanecem, na maioria das vezes, invisíveis, conforme leciona Mauro 
Zaque de Jesus38: 
Nesse diapasão, desnecessário salientar que o prejuízo financeiro causado 
por tais organizações criminosas é altíssimo, ressaltando-se, por oportuno, 
que não obstante serem elevados os danos, estes não são visualizados em 
um primeiro momento, ou seja, apesar de enormes os danos, permanecem 
invisíveis por considerável período. 
Diante dos diversos empecilhos que rondam as investigações das 
organizações criminosas, várias dificuldades surgem ao enfrentá-las. São 
necessários meses ou até anos de investigações para que se consiga colher dados 
e mapear as ações das organizações. 
Com efeito, outra dificuldade que o Estado enfrenta é o fato de que as 
organizações criminosas vivem em mutação, ou seja, trabalham com pessoas de 
fachada (laranjas), empresas clandestinas, contas bancárias em nome de terceiros, 
tudo a fim de evitar sua descoberta pelos métodos de investigação utilizados pelo 
Estado. Utilizam-se de diversos métodos a fim de burlar o sistema estatal para que 
não sejam descobertos e não venham a levantar desconfiança sobre os ilícitos 
praticados. Para que sejam descobertas são dispensados anos de investigação para 
 
38
 JESUS, Mauro Zaque de. Crime Organizado, a Nova Face da Criminalidade. Disponível em: 
http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud6/crimorg.htm. Pág. 03. 
40 
 
 
que se possa encontrar os autores, coautores e todos os envolvidos com o propósito 
de serem punidos. 
Neste sentido Mauro Zaque de Jesus39: 
Assim, uma investigação que caminhava há alguns meses e já tinha um 
custo considerável para o Estado, de hora para outra torna-se prejudicada 
em face da alteração do ―modus operandi‖ da organização, fato que muito 
contribui para dificultar o fiel levantamento da estrutura criminosa. 
O Brasil não dispõe de um sistema eficaz no combate ao crime organizado, 
atraindo, em razão disso, os criminosos para atuarem no País, conforme 
ensinamentos de Mauro Zaque de Jesus. 
3.2 OS PRIMÓRDIOS DO CRIME ORGANIZADO 
Neste capítulo será abordado os primórdios do crime organizado, trazendo de 
forma sintetizada o surgimento das organizações criminosas. 
O crime organizado surgiu há centenas de anos, com as organizações 
mafiosas e atua de forma distinta em diversas regiões, passando por modificações 
até tomar a estrutura na qual se encontra nos dias atuais. 
Segundo Igor Koiti Endo e Mario Coimbra40: 
O início das primeiras associações para o crime se deu há cerca de dois mil 
e trezentos anos atrás. Entrementes, agiam secretamente e não eram em 
nada parecidas com a máfia atual, seu escopo era opor-se à tirania do 
império. Mais adiante, durante a Idade Média, já se constatava o interesse 
econômico dos criminosos, pelos atos de contrabando marítimo e pirataria 
(assaltos a navios). 
Tais grupos se formavam visando obter lucro através de práticas criminosas, 
associando-se diversas pessoas e movimentando quantias enormes de dinheiro, 
buscando poder social frente aos menos favorecidos e poder econômico aos 
envolvidos. 
De acordo com os citados autores, a primeira máfia surgiu em 1860 na Itália, 
chamada de La Cosa Nostra, na região da Sicília. Tal máfia consistia em grupos 
 
39
 JESUS, Mauro Zaque de. Crime Organizado, a Nova Face da Criminalidade. Disponível em: 
http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud6/crimorg.htm. Pág. 04. 
40
 ENDO, Igor Koiti; COIMBRA, Mario. O crime organizado e os procedimentos para sua 
investigação no Brasil. Disponível em: 
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1242/1184. Pág. 2. 
41 
 
 
formados por 03 ou 04 pessoas que se denominavam homens de honra, garantindo 
a justiça onde a lei não alcançava. Eram assim denominados por passarem a 
enfrentar a burguesia através de seus grupos, sempre rodeados de fiéis que lhes 
auxiliavam, fazendo valer os ideais que acreditavam ser os corretos. Seu modus 
operandi era realizar ataques ao patrimônio dos grandes latifundiários que, para que 
não tivessem suas propriedades destruídas e saqueadas, deveriam fazer um 
―acordo‖ com o grupo mafioso. 
Surge, ainda na Itália, na mesma época, outras organizações criminosas 
como a ―Camorra‖ das prisões napolitanas, a ―N‘drangheta Calabresa‖, e a ―Sacra 
Corona Pugliesa‖, chegando à cerca de 3.564 mafiosos na região da Sicília no ano 
de 1990. Alguns anos depois, em meados do século XIX, nos Estados Unidos, surge 
a ―Mano Nera‖, formada por imigrantes italianos. Na Rússia a máfia é conhecida 
como ―Organizatsiya‖. No Japão destacam-se o ―Boryokudan‖ e a ―Yakusa 2‖ com as 
ramificações ―Yamaguchi-gumi‖ da cidade de Kobe, ―Sumiyoshi-kai‖ e ―Inagawa-kai‖ 
de Tóquio. 
Ainda no século XIX se desenvolve nos Estados Unidos a máfia conhecida 
como ―Sindicato do Crime‖, marcando efetivamente a atuação do crime organizado 
na sociedade de consumo. 
Em 1929 o mafioso Al Capone promove uma reunião que simboliza o começo 
do crescimento exacerbado da máfia norte americana, nas palavras de Igor Koiti 
Endo e Mario Coimbra41: 
Pouco antes de ser preso e recolhido na prisão de Alcatraz [AlCapone], 
promove uma reunião que simboliza o começo do crescimento exacerbado 
da máfia norte-americana, seguida das organizações da Europa e da Ásia, 
quando passam a atuar como verdadeiras empresas. Após as duas grandes 
guerras os lucros dos mafiosos passam a crescer desproporcionalmente, 
chegando a ponto de levá-los a aplicar seus lucros maciçamente em 
negócios lícitos. 
Diante da situação, o Estado se vê obrigado a enfrentar a máfia criando 
operações de combate como a italiana ―Operação Mãos Limpas‖ e a ação do FBI 
denominada ―Operação Abscam‖, que visavam investigar a corrupção de 
funcionários estatais e as ações conjuntas das máfias. 
 
41
 ENDO, Igor Koiti; COIMBRA, Mario. O crime organizado e os procedimentos para sua 
investigação no Brasil. Disponível em: 
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1242/1184. Pág. 3. 
42 
 
 
Como retaliação à ação do Estado, as organizações mafiosas reagem com 
assassinatos, iniciando uma onda de homicídios, como cita Igor Koiti Endo e Mario 
Coimbra42, como exemplo, o assassinato do primeiro ministro Aldo Moro, o 
procurador chefe da República Pietro Scaglione, os juízes Giangiacomo Ciaccio 
Montalvo, Giovanni Falcone, Paolo Boresellino, Giorgio Ambrosoli, o chefe de polícia 
Palermo Boria Gigliano, todos da Itália, o ministro da justiça colombiano Rodrigo 
Lara Bonilha, além de muitos outros servidores públicos. 
A reação criminosa tem um objetivo simples: livrar-se dos ―incômodos‖, 
descartar seus desafetos, para que suas operações criminosas não sejam 
combatidas e para que possam obter sucesso na conclusão de seus planos. 
Com a eliminação de seus desafetos, as organizações criminosas passam a 
ganhar mais poder, haja vista que acabam por amedrontar os que deveriam 
combater esta instituição criminosa. 
Conforme Igor Koiti Endo e Mario Coimbra43: 
São consideradas como as maiores, a máfia ítalo-americana, seguidas das 
tríades chinesas e das associações criminosas japonesas, dada as suas 
características empresariais; a quantidade de agentes públicos 
corrompidos; o poder de persuasão; a estrutura e a hierarquia bem 
definidas; a existência de normas a serem seguidas; e os lucros obtidos na 
casa dos trilhões de dólares. 
Pode-se concluir pelo exposto, que o crime organizado surge das máfias e 
milícias italianas. Com efeito, tais organizações se desenvolviam em torno do poder 
financeiro, angariando seguidores atraídos pelo poder inerente a tais organizações 
criminosas. Ademais, obtinham poder econômico sobre a sociedade, corrompiam as 
pessoas que deveriam combater sua ação, comprando-as ou intimidando-as ou, se 
não fosse possível, exterminando-as para que a associação criminosa continuasse a 
crescer e obter vantagens ilícitas, angariando e movimentando vultuosas somas de 
dinheiro dentro da máquina criminosa. 
Os criminosos são motivados pelo lucro. A ganância move o criminoso a atuar 
em ilícitos para alcançar seu resultado final, que é o lucro, o dinheiro. Após atingir o 
lucro desejado, para esconder o valor conseguido de forma ilícita e disfarçar sua 
 
42
 ENDO, Igor Koiti; COIMBRA, Mario. O crime organizado e os procedimentos para sua 
investigação no Brasil. Disponível em: 
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1242/1184. Pág. 4. 
43
 ENDO, Igor Koiti; COIMBRA, Mario. O crime organizado e os procedimentos para sua 
investigação no Brasil. Disponível em: 
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1242/1184. Pág. 04. 
43 
 
 
procedência, utilizam-se de meios escusos, como a lavagem de dinheiro, por 
exemplo. Esse processo traz consequências sociais e econômicas devastadoras 
para todo o sistema, posto que a sonegação de valores pelos quais o dinheiro ilícito 
passa traz aos cofres públicos prejuízos inestimáveis. 
A sonegação fiscal também gera outros efeitos prejudiciais para toda a 
sociedade, de acordo com os ensinamentos de Igor Koiti Endo e Mario Coimbra44, 
como a falta de investimento em infraestrutura, saúde, educação, que afeta o 
crescimento do país, e, principalmente, o aumento da carga tributária. Há um 
acréscimo na carga tributária haja vista que o Estado precisa fazer a gestão de seus 
gastos e para isso necessita de dinheiro para o adimplemento de suas obrigações e 
para os investimentos que são necessários à sociedade. Quando ocorre a 
sonegação fiscal e há um acréscimo na carga tributária, quem arca com esse 
acréscimo é a própria população. Assim o prejuízo que é causado à máquina estatal 
atinge de forma direta o contribuinte, ou seja, o cidadão. 
3.3 O CRIME ORGANIZADO NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA E 
DA EUROPA 
Neste item tratar-se-á das organizações criminosas em diferentes países, de 
forma a abordar a estruturação das organizações, bem como apresentar a 
diferenciação do método utilizado para investigação criminal e combate de tais 
organizações criminosas, apresentando as diversas associações criminosas do 
mundo voltadas para o cometimento de ilícitos. 
Buscar-se-á traçar a forma efetiva e as falhas nos sistemas penais no 
combate as organizações criminosas, mostrando a forma como são conceituadas e 
tratadas nos diferentes países. A forma como as organizações criminosas se 
articulam para praticar seus crimes, as principais organizações criminosas de Países 
como a Itália, Alemanha e as duas das principais organizações criminosas que 
atuam nos morros e favelas do Brasil, trazendo a forma como agem, sua 
estruturação e organização, bem como seu surgimento nas favelas paulistas e 
cariocas. 
 
44
 ENDO, Igor Koiti; COIMBRA, Mario. O crime organizado e os procedimentos para sua 
investigação no Brasil. Disponível em: 
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1242/1184. Pág. 4. 
44 
 
 
Abordar-se-á as organizações criminosas nos países como: Argentina, Chile, 
Cuba, Espanha, Alemanha, França, Itália e principalmente no Brasil, conforme 
explanado a seguir. 
3.3.1 Argentina 
Conforme ensinamentos de Roberto Gurgel de Oliveira Filho45, na Argentina a 
tipificação de crime organizado encontra respaldo na Lei 11.179 – Código Penal de 
La Nación Argentina, adotando o conceito de associação ilícita. Há uma grande 
semelhança com a conceituação penal prevista no artigo 288 do Código Penal 
Brasileiro. O crime de ―associação ilícita‖ vem disposto no artigo 21046 do Capítulo 2 
- Associación ilícita, Título VIII - Delitos contra el orden público, do Livro Segundo - 
De los crímenes, nos seguintes termos: 
Será reprimido con reclusión o prisión de tres a diez años, que participan en 
una asociación o banda de tres o más personas para cometer delitos por el 
solo hecho de ser miembro de la asociación. Para los organizadores o 
dirigentes de la asociación será la pena mínima de cinco años de prisión o 
reclusión.
47
 
As associações criminosas argentinas devem possuir entre seus membros 
certo grau de organização e coesão, ou seja, hierarquia e divisão de funções. 
Ainda segundo citado autor, no sistema jurídico argentino existe uma forma 
qualificada de organizações criminosas, disposta no artigo 21048 bis que cuida das 
associações cuja finalidade é a prática de crimes que ameacem a vigência da 
Constituição. Para tanto, referido dispositivo penal enumera diversas características, 
bastando para a sua configuração a existência de apenas duas delas: 
Articulo 210 Bis - Se impondrá reclusión o prisión de cinco a veinte años al 
que tomare parte, cooperare o ayudare a la formación o al mantenimientode una asociación ilícita destinada a cometer delitos cuando la acción 
 
45
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações criminosas 
no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
46
 Codigo penal de la nacion argentina ley 11.179 (1984 actualizado). Disponível em: 
http://www.oas.org/juridico/spanish/mesicic3_arg_codigo_penal.htm 
47
 Será reprimido com prisão ou reclusão de três a dez anos aquele que tomar parte de uma 
associação ou bando de três ou mais pessoas destinado a cometer delitos pelo único fato de ser 
membro da associação. Para os chefes ou organizadores da associação o mínimo da pena será de 
cinco anos de prisão ou reclusão. 
48
 Codigo penal de la nacion argentina ley 11.179 (1984 actualizado). Disponível em: 
http://www.oas.org/juridico/spanish/mesicic3_arg_codigo_penal.htm 
45 
 
 
contribuya a poner en peligro la vigencia de la Constitución Nacional, 
siempre que ella reúna por lo menos dos de las siguientes características: 
a) Estar integrada por diez o más individuos; 
b) Poseer una organización militar o de tipo militar; 
c) Tener estructura celular; 
d) Disponer de armas de guerra o explosivos de gran poder ofensivo; 
e) Operar en más de una de las jurisdicciones políticas del país; 
f) Estar compuesta por uno o más oficiales o suboficiales de las fuerzas 
armadas o de seguridad; 
g) Tener notorias conexiones con otras organizaciones similares existentes 
en el país o en el exterior; 
h) Recibir algún apoyo, ayuda o dirección de funcionarios públicos.
49
 
Este tipo é qualificado, não necessitando o preenchimento de todos os 
elementos formadores do tipo penal; basta que esteja presente somente um para ser 
caracterizada a associação ilícita, como é denominada no direito argentino. 
Em sua obra Derecho Penal Argentino, Sebastian Soler50 acaba por dissecar 
o artigo 210 e dispor os seus elementos: participação em uma associação ou bando; 
número mínimo de participantes e finalidade coletiva de cometer delitos, 
encontrando-se estes elementos claramente dispostos no artigo 210 do código penal 
argentino. 
No modelo argentino, como nos ensina Marcelo Lessa Bastos51, é abordado 
pelo ordenamento o Juizado de Instrução, no qual o Juiz Instrutor é auxiliado pela 
Polícia Judiciária, assumindo todos os atos de investigação, visando apurar os 
ilícitos penais e decidindo a situação do imputado nessa etapa da persecução 
criminal. A investigação a cargo do Ministério Público só ocorre de maneira 
excepcional, quando lhe for delegada pelo Juiz Instrutor. 
Cabe ao Ministério Público requisitar ao Juiz Instrutor a abertura da 
investigação criminal quando tiver conhecimento de um delito de ação penal. Sendo 
o Juiz Instrutor, em conjunto com a polícia judiciária, quem irá realizar a 
 
49
 Artigo 210 Bis - será imposta reclusão ou prisão de cinco a vinte anos, para quem participa, 
colabora ou auxilia na formação ou manutenção de uma conspiração visando o cometimento de 
crimes quando a ação irá comprometer a validade da Constituição, desde que se reúne pelo menos 
duas das seguintes características: a) é composto por dez ou mais indivíduos; b) Mantenha uma 
organização militar ou de cunho militar; c) uma estrutura celular; d) Dispor de armas de guerra ou 
explosivos de grande poder ofensivo; e) operar em mais de um dos distritos administrativos; f) ser 
composto de um ou mais oficiais ou suboficiais das forças armadas ou de segurança; g) as conexões 
conhecidas com organizações similares no país ou no exterior; h) Para receber algum apoio, ajuda ou 
endereço funcionários públicos. 
50
 SOLER, Sebastian. Derecho penal argentino. Argentina, 1951. Pág. 19. 
51 
BASTOS, Marcelo Lessa. A investigação dos crimes de ação penal de iniciativa pública. 
Papel do ministério público. Uma abordagem à luz do sistema acusatório e do garantismo. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2004. Pág. 78. 
46 
 
 
investigação, o que ocorre em muitos casos é que a investigação fica a cargo 
unicamente da polícia, com insignificante participação do Juiz Instrutor. 
Nesse sistema, de acordo com Marcelo Lessa Bastos52, o Juiz Instrutor tem 
autonomia sobre o órgão do Ministério Público, podendo obrigar que este inicie a 
fase da ação penal, mesmo que entenda ser possível o arquivamento do 
procedimento preliminar. Da mesma forma, são assegurados ao Juiz Instrutor 
diversos poderes, não sendo só o titular da fase preliminar, mas também, em última 
instância, da própria ação penal. 
Nesta senda, verifica-se que o ordenamento argentino adota o juizado de 
instrução, sendo a investigação presidida pela polícia judiciária sob supervisão do 
Juiz Instrutor, o qual pode obrigar o órgão do Ministério Público, devido aos poderes 
conferidos a tal magistrado, a iniciar a ação penal. 
3.3.2 Chile 
No ordenamento Chileno, conforme Roberto Gurgel de Oliveira Filho53, 
mesmo sendo o Código Penal de 1875, as associações ilícitas já vinham previstas, 
estando inseridas no Livro II - Crímenes y simples delitos y sus penas, Título VI - De 
los crímenes y simples delitos contra el orden y la securidad públicos cometidos por 
particulares, 10 - De las associaciones ilícitas. As associações ilícitas são 
disciplinadas do artigo 29254 até o artigo 295 bis: 
Art. 292. Toda asociación formada con el objeto de atentar contra el orden 
social, contra las buenas costumbres, contra las personas o las 
propiedades, importa un delito que existe por el solo hecho de 
organizarse.
55
 
A associação criminosa chilena é disposta pela associação de pessoas, não 
sendo necessário estar presentes os demais requisitos, bastando única e 
 
52
 BASTOS, Marcelo Lessa. A investigação dos crimes de ação penal de iniciativa pública. 
Papel do ministério público. Uma abordagem à luz do sistema acusatório e do garantismo. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2004. Pág. 78. 
53
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações 
criminosas no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
54
 Codigo Penal Chileno. Disponível em: http://www.leychile.cl/Navegar?idNorma=1984 
55
 Qualquer associação formada com o objetivo de minar a ordem social, contra a moralidade, contra 
pessoas ou bens, importa um crime que só existe por causa de organizar. 
47 
 
 
exclusivamente que seja formado por grupo de pessoas e esteja praticando ações 
contra o ordenamento jurídico. 
O artigo 293 da referida legislação traz as penas aplicadas aos membros das 
associações ilícitas que desempenham função de liderança: 
Art. 293. Si la asociación ha tenido por objeto la perpetración de crímenes, 
los jefes, los que hubieren ejercido mando en ella y sus provocadores, 
sufrirán la pena de presidio mayor en cualquiera de sus grados. Cuando la 
asociación ha tenido por objeto la perpetración de simples delitos, la pena 
será presidio menor en cualquiera de sus grados para los individuos 
comprendidos en el acápite anterior.
56
 
O artigo 294, por sua vez, traz a punição para os demais integrantes da 
associação criminosa que de qualquer forma auxiliam e apoiam de forma consciente 
as condutas e ações das associações: 
Art. 294. Cualesquiera otros individuos que hubieren tomado parte de la 
asociación y los que a sabiendas y voluntariamente le hubieren 
suministrado medios e instrumentos para cometer los crímenes o simples 
delitos, alojamiento, escondite o lugar de reunión, serán castigados, en el 
primer caso previsto por el artículo precedente, con presidio menor en su 
grado medio, yen el segundo, con presidio menor en su grado mínimo.
57
 
O artigo 294 bis dispõe sobre as penas a serem aplicadas pela prática do 
crime de associação criminosa, as quais serão aplicadas independentemente das 
penas dos crimes perpetrados pela mesma associação: 
Art. 294 bis. Las penas de los artículos 293 y 294 se impondrán sin perjuicio 
de las que correspondan, por los crímenes o simples delitos cometidos con 
motivo u ocasión de tales actividades. Cuando la asociación se hubiere 
formado a través de una persona jurídica, se impondrá además, como 
consecuencia accesoria de la pena impuesta a los responsables 
individuales, la disolución o cancelación de la personalidad jurídica.
58
 
 
56
 Artigo 293. Se a associação tem sido voltada a prática de crimes, chefes, que ocuparam o cargo 
em seu favor, sofrerão a pena de prisão, em qualquer grau. Quando a associação for voltada a 
prática de delitos, a pena é de reclusão, em qualquer grau, para os indivíduos, incluídos na seção 
anterior. 
57
 Seção 294. Quaisquer outras pessoas que tenham participado na associação e aqueles que 
consciente e voluntariamente teria fornecido os meios e ferramentas para cometer crimes ou 
contravenções, hospedagem, esconderijo ou local de encontro, será punido, no primeiro caso, nos 
termos do artigo acima, com a prisão em seu grau médio, e no segundo, com a prisão em seu grau 
mínimo. 
58
 Seção 294 bis. As penalidades previstas nos artigos 293 e 294 serão impostas, sem prejuízo das 
demais que se aplicam, por crimes ou delitos cometidos pela razão ou por ocasião de tais atividades. 
Quando qualquer associação for formada através de uma pessoa jurídica, também deve ser imposta 
como resultado da condenação imposta para a responsabilidade individual, a dissolução ou a 
anulação da personalidade jurídica. 
48 
 
 
O artigo 295 traz a causa de isenção da aplicação de pena ao membro da 
associação criminosa que comunique as autoridades competentes sobre a 
existência da associação criminosa e seus planos e objetivos, antes da prática de 
qualquer infração ou atentado: 
Art. 295. Quedarán exentos de las penas señaladas em los artículos 
anteriores aquellos de los culpables que, antes de ejecutarse alguno de los 
crímenes o simples delitos que constituyen el objeto de la asociación y 
antes de ser perseguidos, hubieren revelado a la autoridad la existencia de 
dichas asociaciones, sus planes y propósitos. Podrán sin embargo ser 
puestos bajo la vigilancia de la autoridad.
59
 
Por fim, o artigo 295 bis, assevera que: 
Art. 295 bis. Se aplicarán las penas de prisión em su grado máximo a 
presidio menor en su grado mínimo al que, habiendo tenido noticias 
verosímiles de los planes o de las actividades desarrolladas por uno o más 
miembros de una asociación ilícita, omite ponerlas oportunamente en 
conocimiento de la autoridad. Quedará exento de las penas a que se refiere 
este artículo el cónyuge, los parientes legítimos por consanguinidad o 
afinidad en toda la línea recta y en la colateral hasta el segundo grado 
inclusive, y el padre, hijo natural o ilegítimo de alguno de los miembros de la 
asociación. Esta exención no se aplicará si se hubiere incurrido en la 
omisión, para facilitar a los integrantes de la asociación el aprovechamiento 
de los efectos del crimen o simple delito.
60
 
 Este artigo prevê uma causa de absolvição ao membro que for cônjuge, 
parente ou casamento legítimo (que não tenha impedimentos para o matrimônio 
civil) em qualquer linha reta, na colateral até o segundo grau e criança. Segundo 
referido dispositivo, é uma forma de proteger uma pessoa que não tenha meios de 
evitar pertencer ou ter conhecimento da existência de uma associação criminosa por 
ter grau de parentesco. Mesmo que não deseje, obriga-se a pertencer, haja vista o 
vínculo que envolve o membro da associação criminosa e seu parente ou cônjuge. 
Esta isenção não se aplica se a omissão visar facilitar membros da associação do 
uso de efeitos de crime ou contravenção. 
 
59
 Artigo 295. Serão isentos das penalidades mencionadas artigos anteriores os culpados que, antes 
de executar qualquer um dos crimes ou delitos que são objeto da associação criminosas, antes de 
serem perseguidos pela autoridade tenham divulgado a existência de tais associações, seus planos e 
propósitos. Pode, contudo, ser colocados sob a supervisão das autoridades. 
60 Artigo 295 bis. Será aplicada prisão em seu grau máximo ao qual, depois de ouvir os planos ou 
atividades realizadas por um ou mais membros de uma conspiração, omiti-los prontamente à atenção 
das autoridades. Será isenta das penalidades previstas neste artigo o cônjuge, os parentes por 
sangue ou casamento legítimo em qualquer linha reta na colateral até o segundo grau, e ilegítimo, a 
criança ou qualquer membro da associação. Esta isenção não se aplica se a omissão incorrida para 
facilitar membros da associação do uso de efeitos de crime ou contravenção. 
49 
 
 
No ordenamento chileno é adotado o sistema do Juiz Instrutor, sendo que 
este preside de forma direta a investigação preliminar, a qual é realizada pela polícia 
judiciária. Participa de forma direta da investigação e quando concluir que este 
procedimento deve ser encerrado, poderá o fazer, ofertando em seguida a acusação 
e ao final, também julgará a ação. 
O Ministério Público tem papel insignificante no modelo Chileno, como nos 
explica Marcelo Lessa Bastos61, uma vez que não tem função de acusador, a qual 
foi extinta em 1927. Na época se avaliou que sua função tinha relevância 
insignificante para o sistema. 
Seguindo ainda os ensinamentos do citado autor, a atuação do Ministério 
Público na persecução criminal restringe-se a elaborar pareceres; somente em 
casos restritos e mediante requerimento ao Juiz pode iniciar a ação penal. Os 
Promotores de Justiça no Chile são considerados funcionários do Poder Judiciário. 
Assim, tem-se que a fase investigatória fica a cargo da polícia judiciária sob 
supervisão do Juiz Instrutor, cabendo ao Ministério Público elaborar pareceres, 
sendo-lhe vedado participar da fase investigatória, não lhe sendo atribuída a função 
de órgão acusador. 
3.3.3 Cuba 
A Lei nº. 62 de 27 de dezembro de 1987, se trata do Código Penal cubano, 
modificado pelo Decreto-Lei nº. 140 de 13/08/1993 e Decreto-Lei nº. 150 de 
06/06/1994, trata-se de um compêndio com claras influências socialistas e que 
disciplina as ―associações para delinquir‖, no Livro II (Parte Especial. Delitos), Título 
IV (Delitos contra el orden público), Capítulo VII (Associação para delinquir). 
O Código Penal Cubano não traz uma definição ou punição relacionada ao 
crime organizado ou às organizações criminosas. 
No direito cubano, o artigo 207.1 do código penal traz os requisitos de 
associação à pratica criminosa, se assemelhando ao previsto no artigo 288 do 
Código Penal brasileiro: 
 
61
 BASTOS, Marcelo Lessa. A investigação dos crimes de ação penal de iniciativa pública. 
Papel do ministério público. Uma abordagem à luz do sistema acusatório e do garantismo. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2004. Pág. 82. 
50 
 
 
Artículo 207.1: Los que, en número de tres o más personas a unirse a una 
pandilla para cometer delitos creados por el solo hecho de la asociación, 
incurre en una pena de prisión de uno a tres años.
62
 
Neste ordenamento a quantidade de membros da associação exige apenas 
três pessoas e, como nos ensina Roberto Gurgel de Oliveira Filho63, trabalha com a 
hipótese de consumação antecipada, bastando a reunião de três pessoas para fins 
da prática de crimes. 
No ordenamentocubano64 existe a fase de instrução que é presidida pela 
Polícia, passando a seguir a fase intermediária, que é presidida pelo Ministério 
Público, o que denota certa semelhança com o ordenamento jurídico brasileiro, haja 
vista que existe a figura da polícia na fase preliminar e a seguir passa-se a acusação 
presidida pelo Ministério Público. 
O estágio chamado de intermediário fica a cargo do Ministério Público, que, 
nessa fase, pode dar por concluída a investigação criminal e, caso considere 
necessário, pode retornar o inquérito ao instrutor (polícia) para novas diligências. Ao 
órgão do Ministério Público incumbe a preparação da ata de acusação com os 
requisitos legais e a solicitação ao tribunal competente da abertura do julgamento. 
3.3.4 Espanha 
Nas palavras de Roberto Gurgel de Oliveira Filho65, no direito Espanhol, a 
previsão das organizações criminosas no ordenamento jurídico é uma das mais 
novas, inserida pela Lei nº. 10 de 23 de novembro de 1995. Tal ordenamento não 
traz uma conceituação de organização criminosa. O referido tratamento jurídico-
penal encontra-se na Seção 1 - De los delitos cometidos con ocasión del ejercicio de 
los derechos fundamentales y de las libertades públicas garantizados por la 
Constituición, Capítulo IV - De los delitos relativos al ejercício de los derechos 
 
62
 Artigo 207.1: Aqueles que, em número de três ou mais pessoas, se associem em um bando criado 
para cometer delitos, pelo único fato de se associar, incorrem em sanção de privação de liberdade de 
um a três anos. 
63
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações 
criminosas no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
64
 O novo sistema de direito penal cubano. Disponível em: 
http://www.monografias.com/trabajos61/nuevo-derecho-penal-cubano/nuevo-derecho-penal-
cubano2.shtml#xprocedim 
65
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações 
criminosas no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
51 
 
 
fundamentales y libertades públicas, Título XXI - Delitos contra la Constituición, Livro 
II - Delitos y sus penas. 
As organizações criminosas vieram dispostas no artigo 51566: 
Artículo 515. Son punibles las asociaciones ilícitas, teniendo tal 
consideración: 
1.º Las que tengan por objeto cometer algún delito o, después de 
constituidas, promuevan su comisión, así como las que tengan por objeto 
cometer o promover la comisión de faltas de forma organizada, coordinada 
y reiterada. 
2.º ... Apartado 2.º del artículo 515 suprimido por el apartado centésimo 
trigésimo sexto del artículo único de la L.O. 5/2010, de 22 de junio, por la 
que se modifica la L.O. 10/1995, de 23 de noviembre, del Código Penal. 
3.º Las que, aun teniendo por objeto un fin lícito, empleen medios violentos 
o de alteración o control de la personalidad para su consecución. 
4.º Las organizaciones de carácter paramilitar. 
5.º Las que promuevan la discriminación, el odio o la violencia contra 
personas, grupos o asociaciones por razón de su ideología, religión o 
creencias, la pertenencia de sus miembros o de alguno de ellos a una etnia, 
raza o nación, su sexo, orientación sexual, situación familiar, enfermedad o 
minusvalía, o inciten a ello. 
6.º ... Apartado 6.º del artículo 515 derogado por el apartado centésimo 
quincuagésimo primero del artículo único de la L.O. 15/2003, de 25 de 
noviembre, por la que se modifica la L.O. 10/1995, de 23 de noviembre, del 
Código Penal.
67
 
Já as penas para o crime de organização criminosa estão dispostas nos 
artigos 516 a 521. 
 Nos ensinamentos do citado autor, a definição legal de organização 
criminosa para o direito penal espanhol acabou sendo feita não pelo Código Penal, 
mas sim pela Ley de Enjuiciamento Criminal, que corresponde ao Código de 
Processo Penal Brasileiro. O artigo 282 bis regulamenta o trabalho de agentes 
infiltrados em organizações, chamados de agente encubierto. Este dispositivo 
assevera ser organização criminosa: “la associación de tres o más personas para 
 
66
 Ley Orgánica 10/1995, de 23 de noviembre, del Código Penal Espanhol. Disponível em: 
http://noticias.juridicas.com/base_datos/Penal/lo10-1995.html 
67
 Artigo 515. São puníveis as associações ilícitas, tendo as seguintes considerações: 1º. A que visa a 
cometer um crime ou depois de constituída , promover a sua comissão , bem como visando cometer 
ou promover a prática de crimes de forma organizada , coordenada e consistente. 2º. Seção 2. º do 
artigo 515 parágrafo revogado pelo artigo 100306 ª LO única º 5/2010 , de 22 de Junho , através da 
alteração da LO 10/1995 , de 23 de Novembro , o Código Penal. 3º. O que, tendo uma finalidade 
legal, empregar meios violentos ou alteração ou controle da personalidade para alcançá-los. 4º. As 
organizações paramilitares. 5º. Aqueles que promovem a discriminação, ódio ou violência contra 
pessoas, grupos ou associações por causa de sua ideologia, religião ou crença, a adesão dos seus 
membros ou qualquer um deles para um grupo étnico, raça ou nação, gênero, orientação sexual, 
situação familiar, doença ou deficiência, ou incitá-lo. 6º. Seção 6. º do artigo 515 revogado pela seção 
100.501 º artigo único da LO 15/2003, de 25 de Novembro, que altera a LO 10/1995, de 23 de 
Novembro, o Código Penal. 
52 
 
 
realizar, de forma permanente ou reiterada, conductas que tengan como fin cometer 
alguno o algunos de los delitos siguientes”. 
Ainda no entendimento do referido autor, o modelo espanhol adota o Juizado 
de Instrução, sendo que a investigação criminal fica a cargo do Juiz Instrutor ou são 
conduzidas por órgãos do Poder Judiciário, sendo que a função do Ministério 
Público se limita apenas a função acusatória e nunca a instrutória. 
A fase investigatória fica a cargo da Polícia Judiciária e do Juiz Instrutor e o 
Ministério Público atua somente como fiscal da lei. 
Neste sentido, Nereu José Giacomolli68 ensina que: 
O Ministério Público, figura como coadjuvante do Juiz Instrutor, é 
cientificado e ouvido a respeito das investigações, podendo estar presente 
na prática dos atos, inspecionar todo o desenvolvimento da persecutio 
criminis, bem como solicitar diligências. 
Após, o Juiz Instrutor determina o encerramento da investigação criminal, 
remetendo as peças colhidas ao Ministério Público e defesa, tendo ambos o prazo 
de 10 (dez) dias para tomar ciência e requerer diligências a serem apresentadas em 
audiência. 
Nesta etapa, pode o chamado sumário, o que para o direito brasileiro seria o 
inquérito policial, ser arquivado; do contrário, dar-se-á início a fase oral, o que para o 
ordenamento brasileiro é a ação penal propriamente dita. 
Verifica-se que no modelo espanhol quem conduz a investigação criminal é a 
Polícia Judiciária sob a direção do Juiz Instrutor, sendo o receptor das provas 
colhidas o Ministério Público. 
3.3.5 Alemanha 
No direito Alemão não houve a conceituação de organização criminosa nem 
no Código Penal nem em Leis Extravagantes. Em tal direito não existe uma 
definição de crime organizado, indo de encontro com a carência existente a respeito 
do tema em diversas legislações em todo mundo. 
O parágrafo 129 do Código Penal alemão é o aplicável às hipóteses de crime 
organizado, cuja titulação é ―formação de associações criminais‖. Este artigo 
 
68
 GIACOMOLLI, Nereu José. Reformas do Processo Penal: considerações críticas. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2008. Pág. 158. 
53 
 
 
encontra-se na Parte Especial, SeçãoSétima (Straftaten gegen die öffentliche 
Ordnung). Na verdade, trata-se do modelo tradicional mudando apenas a 
nomenclatura conforme o país: ―associações ilícitas‖, ―associação para delinquir‖, 
―associação criminal‖, ―associação de malfeitores‖ e ―associação criminosa‖. 
O nº. 1 do §129 dispõe da seguinte forma: 
Wer bläst eine Vereinigung, deren Zwecke oder deren Tätigkeit sich auf die 
Begehung von Straftaten gerichtet ist, oder wer in einer solchen Vereinigung 
als Mitglied beteiligt, tragen sie oder legen, wird mit Freiheitsstrafe bis zu 
fünf Jahren oder mit Geldstrafe bestraft.
69
 
Para Roberto Gurgel de Oliveira Filho70, a análise do texto da lei demonstra 
certa similaridade com a figura do crime de quadrilha ou bando do direito penal 
brasileiro, previsto no artigo 288 do Código Penal. Ocorre que, diversamente do 
direito pátrio, no direito alemão é possível a tentativa, conforme previsão no nº. 3 do 
§129. 
Assim como em diversos ordenamentos, inclusive o brasileiro, o direito 
alemão trouxe a previsão de causa de diminuição da pena ou perdão judicial para as 
hipóteses de colaboração do autor com os órgãos da justiça e segurança pública. 
Roberto Gurgel de Oliveira Filho71 nesse sentido, traz que no direito alemão existe 
previsão legal para a desistência voluntária, arrependimento eficaz e não 
punibilidade para o autor que colabore para que a associação não se perpetraia no 
tempo. 
Nas palavras do referido autor72: 
Cabe aqui ressaltar que, assim como no direito brasileiro, no direito alemão 
não se aplica a norma do §129 para as associações com escopos lícitos 
que acabam também praticando atos legais e ilegais. Isto porque, em 
ambos os casos o legislador visou punir as associações criadas para a 
prática de crimes. 
 
69
 Quem funde uma associação cujos fins ou atividade estejam direcionados para o cometimento de 
delitos, ou quem participe de uma tal associação como membro, recrute para ela ou a apoie, será 
punido com pena privativa de liberdade de até cinco anos ou multa. 
70
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações 
criminosas no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
71
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações 
criminosas no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
72
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações 
criminosas no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
54 
 
 
No direito alemão ainda existe a previsão de associações terroristas e 
associações criminais e terroristas no exterior, sendo elas disciplinadas nos § 129a e 
129b. 
Roberto Gurgel de Oliveira Filho73 nos explica a disposição jurídica dos 
artigos supracitados. O primeiro dispositivo traz a punição para os agentes que 
fundam, integram ou apoiam uma associação cuja finalidade é a pratica de atos 
terroristas. Já o segundo dispositivo traz a punição às associações criminais e 
terroristas que possuam base territorial também no exterior, uma vez que, antes 
desta inovação, somente se punia no direito alemão as associações que, de alguma 
forma, tivesse existência dentro da Alemanha. Assim, se tratava de requisito do 
crime a existência da associação em algum sentido no território alemão. 
Nos ensinamentos de Roberto Gurgel de Oliveira Filho74, estes dispositivos 
foram acrescentados ao Código Penal Alemão após os atos terroristas praticados 
pela Al Qaeda, chefiada por Osama Bin Laden, ao Pentágono e ao World Trade 
Center, em 11 de setembro de 2001. 
Ainda conforme referido autor, no sistema alemão a denúncia da prática de 
infrações pode ser levada diretamente ao Ministério Público ou a Polícia, sendo que 
qualquer um dos dois órgãos poderá iniciar a investigação. Nesse contexto, pode o 
Ministério Público instaurar procedimento investigatório próprio ou requisitar a 
instauração de procedimento próprio à Polícia. Note-se que o Ministério Público 
poderá instaurar o procedimento investigatório não sendo obrigado a informar ou 
requisitar a instauração por parte da polícia. 
Vale ressaltar que tem semelhança com o ordenamento brasileiro atual, 
sendo que é assegurado ao Ministério Público iniciar a investigação criminal com as 
chamadas peças de informação instaurando procedimento próprio. 
Segundo Marcos Kac, citado por Gerri Adriani Mendes75: 
O modelo de Processo Penal na Alemanha, em termos de procedimento, 
está dividido, basicamente, em três etapas: a) a preparatória (das 
Voverrefahren), b) intermediária (das Zwischenverfaharen); e c) juízo (das 
Hauptverfahren). Na preparatória, ocorre a investigação para apurar-se o 
autor do fato típico. A fase intermediária é utilizada comumente na função 
 
73
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações 
criminosas no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
74
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações 
criminosas no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
75
 MENDES, Gerri Adriani. O paradigma constitucional de investigação criminal. Disponível em: 
http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2806 
55 
 
 
de controle judicial sobre o exercício da ação penal. Finalmente, na do juízo, 
acontecem os debates e a decisão sobre a culpa e a pena a ser imposta ao 
réu. 
Seguindo os ensinamentos dos citados autores, neste sistema o Ministério 
Público é incumbido de dirigir a investigação criminal e zelar por sua legalidade. 
Quando chegar ao conhecimento da polícia a prática de crimes, esta deverá 
encaminhar a informação ao Ministério Público, órgão que é encarregado da 
investigação criminal e ordenará as diligências cabíveis. 
É assegurado ao Ministério Público a investigação criminal destinando ao 
próprio órgão a investigação preliminar realizada, quando da sua conclusão. O órgão 
do Ministério Público é vinculado ao Poder Executivo, embora suas funções 
extrapolem somente a fase de acusação, sendo mais amplas a demais atos, como 
presidir a investigação. 
Ainda conforme bem ensina Marcos Kac, citado por Gerri Adriani Mendes76, 
embora o Ministério Público presida a investigação preliminar, a função da polícia 
não é desnecessária, eis que depende o órgão ministerial da polícia para efetivar a 
investigação. A polícia é subordino ao Ministério Público. 
O poder de decidir se iniciará a ação penal ou arquivará o procedimento 
preliminar fica a cargo do Ministério Público, tendo este poder discricionário 
semelhante ao do Juiz. Neste sentido Fauzi Hassan Choukr, citado por Gerri Adriani 
Mendes77 afirma: 
A decisão sobre o arquivamento da investigação preliminar, por exemplo, no 
sistema alemão não há controle judicial sobre ela, pois o sistema processual 
penal, § 153a do Código Processual Penal, daquele país possibilita que o 
Ministério Público decida diretamente sobre iniciar ou não a ação penal, 
com um poder de decisão similar ao do Juiz. Ou seja, não há norma no 
sentido de que o parquet possa ser obrigado a exercer a ação penal pelo 
Judiciário, principalmente nos crimes de bagatela, naqueles em que a pena 
mínima é de até um ano, vigendo o princípio da oportunidade, ou melhor, de 
uma discricionariedade limitada pela lei. 
Deste modo, o Ministério Público no ordenamento Alemão pode presidir de 
forma direta a investigação preliminar, tendo autonomia para decidir se instalará a 
ação penal ou arquivará o procedimento, e possuio auxílio da polícia, que é 
subordinada a este órgão, para realizar as investigações. 
 
76
 MENDES, Gerri Adriani. O paradigma constitucional de investigação criminal. Disponível em: 
http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2806 
77
 MENDES, Gerri Adriani. O paradigma constitucional de investigação criminal. Disponível em: 
http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2806 
56 
 
 
3.3.6 França 
No Código Penal Francês já havia previsão da associação dos malfeitores 
(association de malfaiteurs), como era denominado naquele país. As organizações 
criminosas estavam disciplinadas no artigo 450-1 do Código Penal Francês. Este 
artigo encontra-se disposto no Título V - De la participation à une association de 
malfaiteurs, Livro IV - Des crimes et délits contre la nation, l`État et la paix publique. 
Assim dispõe o texto legal: 
Constitue une association de malfaiteurs ou de tout regroupement formé 
comprendre établi en vue de la préparation, caractérisée par un ou plusieurs 
faits matériels, d'un ou plusieurs crimes ou d'un ou plusieurs délits punis 
d'au moins cinq ans de prison. Lorsque les infractions préparées sont des 
crimes ou délits punis de dix ans d'emprisonnement, la participation à une 
association de malfaiteurs est passible de dix ans d'emprisonnement et 
150.000 euros d'amende. Lorsque des infractions sont préparés infractions 
passibles d'au moins cinq ans de prison, la participation à une association 
de malfaiteurs est punie de cinq ans de prison et 75.000 euros d'amende.
78
 
Conforme se denota da redação do artigo acima, de acordo com os 
ensinamentos de Roberto Gurgel de Oliveira Filho79, a finalidade das associações 
criminosas pode ser tanto a prática de crimes como a de delitos. Estes são mais 
graves que as contravenções penais e menos graves que os crimes. Assim, 
percebe-se, inicialmente, uma diferença quanto à legislação penal brasileira que 
utiliza os termos ―crime‖ e ―delito‖ como sinônimos. 
Nos ensinamentos de Roberto Gurgel de Oliveira Filho80, a finalidade das 
associações criminosas pode ser tanto a prática de crimes como a de delitos. 
O direito francês, como os demais ordenamentos jurídicos, adota causas 
absolutórias. É o caso do artigo 450-2, que prevê este instituto ao membro da 
associação que, antes da prática de qualquer crime ou delito, comunicar às 
 
78
 Constitui uma associação de malfeitores todo agrupamento formado ou entendimento estabelecido 
em vista da preparação, caracterizada por um ou vários fatos materiais, de um ou vários crimes ou de 
um ou vários delitos punidos com pelo menos cinco anos de prisão. Quando as infrações preparadas 
são crimes ou delitos punidos com dez anos de prisão, a participação em uma associação de 
malfeitores é punida com dez anos de prisão e 150.000 euros de multa. Quando as infrações 
preparadas são delitos punidos com pelo menos cinco anos de prisão, a participação em uma 
associação de malfeitores é punida com cinco anos de prisão e com 75.000 euros de multa. 
79
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações 
criminosas no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
80
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações 
criminosas no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
57 
 
 
autoridades a existência do grupo, assim como a identidade dos outros membros da 
associação. 
Em seu artigo 321-6-1 prevê uma qualificadora para as hipóteses em que o 
crime perpetrado envolva associação criminosa e o tráfico ilícito de drogas. Ambos 
os artigos encontram-se na Seção II (Des infractions assimilées au recel ou voisines 
de celui-ci), o Capítulo Primeiro (Du recel et des infractions assimilées ou voisines), 
Título II (Des autres atteintes aux biens), Livro III (Des crimes et délits contre les 
biens). 
Na França houve a criação dos Juizados de Instrução, disciplinando a função 
de Juiz Instrutor, com prazo limitado para o exercício do cargo de três anos. 
Sobre as funções do Juiz de Instrução na fase preparatória, vale trazer os 
ensinamentos de Mireille Marty Delmas81: 
Le coroner a un double rôle d'enquêteur et de juge. En tant que chercheur 
est responsable de la collecte des preuves de violations, de trouver les 
auteurs et de préparer le procès, doit éduquer pour et contre l'accusé. 
Comme le juge peut exiger l'aide de la police, et décide de la mise en 
accusation de l'accusé - mise en examen - après éventuellement être mis en 
garde à vue ou libéré du contrôle judiciaire.
82
 
Na França, o Juiz pode investigar diretamente os crimes, mas não possui 
titularidade exclusiva para realizar a investigação criminal, que é dividida com o 
Ministério Público. 
Sobre a divisão na investigação criminal entre Juiz Instrutor e Promotor de 
Justiça, Mireille Marty Delmas83 nos ensina que: 
Essa divisão na direção da fase investigatória, entre o Juiz Instrutor e o 
Promotor, acontece em face da espécie da gravidade da infração criminal a 
ser apurada. Na França, as infrações (gênero) penais são divididas, 
gradativamente, em crimes, delitos e contravenções (espécie), de acordo 
com a gravidade. Os crimes são as infrações punidas com pena de reclusão 
e detenção; os delitos com pena de prisão e multa; e as contravenções, 
apenas com multa. 
 
81
 DELMAS, Mireille Marty. Os grandes sistemas de política criminal. Tradução de Denise 
Radanovic Vieira. 2004. Pág. 273. 
82
 O legista tem um duplo papel como investigador e juiz. Como pesquisador é responsável pela 
coleta de evidências de violações, para encontrar os responsáveis e preparar o processo de 
julgamento, deve educar a favor e contra o acusado. Como o juiz pode exigir a ajuda da polícia, e 
decidir sobre o indiciamento do acusado - mise en examen - depois de, eventualmente, ser colocado 
em custódia ou lançado em revisão judicial. 
83
 DELMAS, Mireille Marty. Pág. 273. 
58 
 
 
Existem dois procedimentos investigatórios, um é a instrução preparatória 
(instruction préparatoire) a qual é conduzida pelo denominado Juiz Instrutor e 
destinada à investigação das infrações mais graves (crimes), e o outro procedimento 
é a enquete ou enquete preliminar (enquête préliminaire), que é utilizado para 
apuração das infrações menos graves, ou seja, delitos e contravenções. 
 Desse modo, conforme o modelo francês, nos crimes existe a 
obrigatoriedade de atuação do Juiz de Instrução como responsável pela 
investigação. No caso do delito, a atuação do magistrado investigador é facultativa, 
igualmente com o que ocorre na contravenção, na qual a sua intervenção somente 
ocorrerá por requerimento do Ministério Público. 
Na França, como assevera Paulo Rangel84, o Ministério Público faz parte do 
Poder Executivo, hierarquicamente subordinado ao Ministro da Justiça. Por outro 
lado, o ministère public é considerado uma espécie de magistratura especial. Os 
magistrados e os promotores compõem um único corpo de juristas de carreira e são 
formados pela Escola Nacional da Magistratura. 
Além da função investigatória, o Ministério Público Francês tem como 
atribuições o exercício da ação penal e a representação da sociedade para postular 
aplicação das leis e guardar a observância delas, tendo ainda como funções, 
executar as decisões judiciais, quando se relacionarem à ordem pública, e defender 
os interesses daqueles que não tiverem capacidade de fazê-lo. 
Ao Ministério Público cabe, ainda, fiscalizar o trabalho da polícia judiciária, 
instruindo-apara que atue de acordo com suas orientações, ou seja, exerce a 
função de controle externo da atividade policial, haja vista que é responsável pela 
segurança e presar pela regularidade e pela Justiça da repressão. 
Conclui-se assim, que o modelo de investigação francês é a atuação em 
conjunto do Ministério Público com o Juiz Instrutor, sendo a polícia judiciária 
hierarquicamente subordinada ao Ministério Público. 
3.3.7 Itália 
No Código Penal Italiano as organizações criminosas encontram-se previstas 
nos artigos 416 a 421. Estes artigos encontram-se no Livro Segundo - Dei delitti in 
 
84
 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002. Pág. 273. 
59 
 
 
particolare do Título V - Dei delitti contro l`ordine pubblico. Nestes dispositivos 
penais encontram-se as associações para delinquir (associazione per delinquere), 
expressão tradicional no direito europeu como um todo, oriunda da associação dos 
malfeitores e a associação de tipo mafioso (associazione di tipo mafioso). 
O artigo 416, conforme preleciona Roberto Gurgel de Oliveira Filho85, mostra 
que o crime se caracteriza com a união de forma permanente e voluntária de pelo 
menos três pessoas, sendo que estas têm conhecimento da conduta dos outros 
agentes, tendo como único objetivo a pratica de delitos, nestes termos: 
Articolo 416: Quando tre o più persone si associano allo scopo di 
commettere ulteriori reati, coloro che promuovono o forniscono o dispone 
l'associazione sono puniti, per cui solo con la reclusione da tre a sette anni. 
Il solo fatto parte dell'associazione, la pena è della reclusione da uno a 
cinque anni. 
Le teste sono soggetti alla stessa pena stabilita per i promotori. Se i membri 
viaggiano in materia di armi o di strade pubbliche, si applica la reclusione da 
cinque a quindici anni. La pena è aumentata se il numero degli associati è di 
dieci o più. Se l'associazione è diretta alla commissione di un reato inserti in 
articoli 600, 601 e 602, si applica la reclusione da cinque a quindici anni nei 
casi previsti dal primo comma e da quattro a nove anni nei casi previsti dal 
secondo comma.
86
 
O bem jurídico tutelado pelo artigo 416 é a ordem pública. Tal fato não gera 
discussão, tendo em vista o referido artigo encontrar-se disposto no título do Código 
Penal italiano que trata dos delitos contra a ordem pública. 
Ainda no direito italiano foi acrescentado o artigo 416 bis que disciplina as 
organizações do tipo mafiosa, in verbis: 
Chiunque fa parte di un'associazione di tipo mafioso formata da tre o più 
persone, è punito con la reclusione 7-12. 
Coloro che promuovono , diretti o organizzano l'associazione sono puniti 
solo per questo motivo , con la reclusione 9-14. 
L'associazione è di tipo mafioso quando coloro che ne fanno parte si basano 
sulla forza del legame intimidazione e la condizione di assoggettamento e di 
silenzio la solidarietà che ne deriva per commettere delitti associativi , per 
acquisire in modo diretto o indiretto la gestione o comunque controllo di 
attività economiche , di concessioni , di autorizzazioni, appalti e servizi 
 
85
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações 
criminosas no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
86
 Artigo 416: Quando três ou mais pessoas se associam com o escopo de cometer mais delitos, 
aqueles que promovem ou constituem ou organizam a associação são punidos, por isso somente, 
com reclusão de três a sete anos. Pelo único fato de participar da associação, a pena é de reclusão 
de um a cinco anos. Os chefes estão sujeitos à mesma pena estabelecida para os promotores. Se os 
associados percorrem em armas o campo ou as vias públicas, aplica-se a reclusão de cinco a quinze 
anos. A pena é aumentada se o número dos associados é de dez ou mais. Se a associação é 
dirigida à prática de algum dos delitos insertos nos artigos 600, 601 e 602, aplica-se a reclusão de 
cinco a quinze anos nos casos previstos pelo primeiro parágrafo e de quatro a nove anos nos casos 
previstos pelo segundo parágrafo. 
60 
 
 
pubblici o per realizzare profitti o vantaggi ingiusti per sé o per altri, o un 
bene al fine di impedire od ostacolare il libero esercizio del voto o di ottenere 
voti per se stessi o ad altri in occasione di consultazioni elettorali. 
Se l'associazione è armata si applica la reclusione da nove a quindici anni 
nei casi previsti dal primo comma e 12-24 anni per i casi previsti dal 
secondo comma. 
L'associazione si considera armata quando i partecipanti hanno la 
disponibilità, per il conseguimento delle finalità dell'associazione , armi o 
materie esplodenti, anche se nascosto o preso in deposito. 
Se le attività economiche che i membri intendono assumere o mantenere il 
controllo sono finanziate in tutto o in parte con il prezzo, il prodotto o il 
profitto di delitti , le pene stabilite nei commi precedenti sono aumentate da 
un terzo alla metà. 
Per quanto riguarda il condannato , è sempre obbligatoria la confisca delle 
cose servirono o furono destinate a commettere il reato e delle cose che è il 
prezzo, il prodotto , o il vantaggio che esse costituiscono l'occupazione . 
Le disposizioni del presente articolo si applicano anche alla camorra e alle 
altre associazioni , o come vengono chiamati localmente , anche stranieri , 
che , sfruttando la forza del vincolo associativo intimidire , perseguitare scopi 
corrispondenti a quelli delle associazioni di tipo mafioso.
87
 
Devido à impunidade que rondava os italianos, haja vista que não estava 
surtindo o efeito esperado no combate às organizações criminosas, se acrescentou 
um dispositivo que traz uma forma mais branda de punição. A reunião de três ou 
mais pessoas, isto é, a associação do tipo mafiosa, trata-se de um crime 
permanente em que se torna possível a prisão em flagrante enquanto perpetrada a 
conduta. 
Roberto Gurgel de Oliveira Filho88 defende que: 
 
87
 Qualquer pessoa que faz parte de uma associação de tipo mafioso formada por três ou mais 
pessoas é punida com reclusão de sete a doze anos. Aqueles que promovem, dirigem ou organizam 
a associação são punidos, apenas em razão disso, com reclusão de nove a catorze anos. A 
Associação é de tipo mafioso quando aqueles que dela fazem parte se valem da força da intimidação 
do vínculo associativo e da condição de sujeição e de silêncio solidário que dela deriva para cometer 
delitos, para adquirir direta ou indiretamente a gestão ou, de qualquer modo, o controle de atividades 
econômicas, de concessões, de autorizações, empreitadas e serviços públicos, ou para realizar 
proveitos ou vantagens injustas para si ou para outrem, ou bem para o fim de impedir ou obstaculizar 
o livre exercício do voto ou de obter votos para si ou para outrem em ocasião de consultas eleitorais. 
Se a associação é armada, aplica-se a pena de reclusão de nove a quinze anos nos casos previstos 
pelo primeiro parágrafo e de doze a vinte e quatro anos nos casos previstos pelo segundo parágrafo. 
A associação é considerada armada quando os participantes têm a disponibilidade, para a 
consecução da finalidade da associação, de armas ou materiais explosivos, mesmo se ocultados ou 
tidos em depósito. Se as atividades econômicas de que os associados pretendem assumir ou manter 
o controle são financiadas no todo ou em parte com o preço, o produto ou o proveito de delitos, as 
penas estabelecidas nos parágrafos precedentes são aumentadas de um terço até a metade. No 
relativo ao condenado, é sempre obrigatório o confisco das coisas que serviram ou foram destinadas 
a cometer o crime e das coisasque dele são o preço, o produto, o proveito ou que desses constituam 
o emprego. As disposições do presente artigo se aplicam também à camorra e às outras 
associações, seja como forem denominadas localmente, mesmo estrangeiras, que, valendo-se da 
força intimidadora do vínculo associativo, perseguem escopos correspondentes àqueles das 
associações de tipo mafioso. 
88
 OLIVEIRA FILHO, Roberto Gurgel de. O tratamento jurídico penal das organizações 
criminosas no Brasil. Disponível em: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/21215/21215_4.PDF 
61 
 
 
Cabe ainda ressaltar que no histórico judiciário italiano, poucos processos 
instaurados com fulcro no tradicional artigo 416 tiveram um desfecho de 
condenação aos seus autores. Esta realidade passou a mudar a partir do 
surgimento do artigo 416 bis. O bem jurídico tutelado pelo mencionado 
artigo é a ordem pública. Não poderia ser diferente uma vez que tal 
dispositivo encontra-se situado no título que leva o mesmo nome. Já o 
sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, se tratando, portanto, de um crime 
comum. No entanto, exige-se a reunião de pelo menos três pessoas. 
Na Itália existia um grande número de mafiosos, os quais deram origem a 
outras organizações criminosas em todo o mundo, e que passaram a ser combatidos 
de forma eficaz com o advento do artigo 416 bis, que tornou a punição mais branda, 
tornando possível a prisão em flagrante, quando a reunião de três ou mais pessoas 
em associações mafiosas, trazendo ainda punição aos inimputáveis que praticarem 
o crime. 
Contemplou ainda, a forma qualificada das organizações do tipo mafiosa, as 
quais encontram-se dispostas no quinto parágrafo do artigo 416 bis, no caso da 
associação mafiosa ser composta de dez pessoas ou mais. 
Na Itália a partir de 1988, o sistema processual penal foi alterado, sendo 
extinto o Juizado de instrução e a figura do Juiz Instrutor, passando a atribuição da 
investigação preliminar para o órgão do Ministério Público. 
Cabe ao Órgão do Ministério Público presidir de forma direta a investigação 
preliminar ou pode delegar à Polícia Judiciária, a qual é coordenada e dirigida pelo 
Ministério Público. 
Insta salientar nas palavras de Nereu José Giacomolli citado por Gerri Andri 
Mendes89: 
Ressalta-se que o Ministério Público na Itália foi concebido como integrante 
da magistratura requerente. No desempenho das suas funções o Ministério 
Público, deve também averiguar as provas atinentes à defesa, e não 
somente a acusação. 
O sistema italiano visa carrear as provas não somente de acusação, mas de 
defesa também, a fim de se encontrar a verdade real. O procedimento preliminar 
investigatório é secreto, sendo vedada sua publicidade a qualquer pessoa e ao 
investigado. O investigado toma ciência das provas colhidas somente quando a 
investigação preliminar se finalizar. 
 
89
 MENDES, Gerri Adriani. O paradigma constitucional de investigação criminal. Disponível em: 
http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2806 
62 
 
 
Não é assegurado o contraditório ao investigado no sistema investigatório 
italiano, mas em determinados atos realizados pelo Ministério Público, é exigida a 
presença do defensor, como no caso da realização de perícias, as quais são 
realizadas na investigação preliminar e não são refeitas em juízo. O defensor do 
investigado participa também de seu interrogatório. 
As peças colhidas na fase investigatória são aptas a embasar a denuncia, 
sendo que são aproveitadas as mesmas durante a fase investigatória. 
O Ministério Público é o titular da ação penal e com a investigação preliminar 
visa carrear as provas aptas a embasar a ação penal e exercer sua titularidade. 
Cabe ressaltar que a atividade investigativa pelo Ministério Público não exclui a 
atividade da polícia. 
Nesta senda Fauzi Hassan Choukr, citado por Gerri Adriani Mendes90 
sustenta que: 
Cabe ressaltar que a condução das investigações pelo MP não exclui a 
atividade investigativa desenvolvida pela Polícia Judiciária, esta atuando 
sob a coordenação do Ministério Público, mas podendo realizar atos 
tendentes a colher meios de prova para a formação do juízo de convicção 
pelo legitimado ativo, e desenvolvendo, ainda, atividades que lhe são 
típicas, v.g., a identificação criminal. 
 Portanto, o Ministério Público tem o poder de comandar ou realizar 
diretamente as investigações criminais, podendo ainda delegá-las à Polícia 
Judiciária. Em outras palavras, o Ministério Público tem livre disposição sobre a 
maneira como serão conduzidas as investigações preliminares. Observa-se, ainda, 
que atualmente a legislação permite, inclusive, que a Polícia Judiciária realize, por 
sua própria iniciativa, os atos investigatórios que entenda necessários ao 
esclarecimento da infração penal, desde que comunique imediatamente o Ministério 
Público sobre o conhecimento da notícia crime e a instauração do procedimento 
pertinente. 
3.3.8 Brasil 
No Brasil, o crime organizado atua principalmente nas favelas e nos morros, 
em especial nas favelas cariocas, ao se verificar o tráfico ilícito de entorpecentes, 
 
90
 MENDES, Gerri Adriani. O paradigma constitucional de investigação criminal. Disponível em: 
http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2806 
63 
 
 
roubos e favorecimento à prostituição. O crime organizado está presente também no 
contrabando de produtos, tráfico de seres humanos e no desvio de verbas públicas, 
estes últimos controlados dentro dos grandes centros e por pessoas com poder 
político. 
As organizações criminosas brasileiras não tem a proporção gigantesca como 
na Itália e em outros Países, como visto no item anterior, mas se percebe a atuação 
dos grupos organizados em diversos centros, núcleos ou focos distintos, que as 
vezes não têm relação alguma entre si. 
Muitas vezes há uma organização criminosa, como por exemplo organizações 
que se utilizam do tráfico ilícito de entorpecentes, que age em determinado estado 
ou país, não tendo qualquer ligação com outra organização criminosa que esteja 
agindo naquele mesmo estado. 
Há uma divisão não só das tarefas a serem feitas pelos integrantes das 
associações criminosas, como também há divisão entre as cidades, estados, bairros 
de determinados municípios, para que as organizações criminosas se estabeleçam e 
explorem o comércio ilegal, seja de que conteúdo ilícito for. 
Nas palavras de Grinover, citado por Igor Koiti Endo e Mario Coimbra91 em 
sua obra: 
É grave a situação do crime organizado no Brasil, sobretudo no que diz 
respeito ao narcotráfico, à indústria dos sequestros, à exploração de 
menores a aos denominados ―crimes de colarinho branco‖, com evidentes 
conexões internacionais, principalmente no que tange ao primeiro, que 
também envolve, com o último, a ―lavagem de dinheiro‖ (Grinover, 1995, p. 
61). 
De acordo com Igor Koiti Endo e Mario Coimbra92, as organizações 
criminosas brasileiras ganham mais força quando começam a oferecer em favor da 
sociedade onde estão estabelecidas, vantagens, se tornando paternalistas sociais. 
Isso ocorre quando o Estado deixa de agir, ou age de forma insuficiente, e os 
cidadãos que estão em contato direto com as organizações percebem vantagens em 
auxiliar o crime organizado, se tornando aliados das organizações. 
 
91
 ENDO, Igor Koiti; COIMBRA, Mario. O crime organizado e os procedimentos para sua 
investigação no Brasil. Disponível em: 
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1242/1184. Pág. 05. 
92
 ENDO, Igor Koiti; COIMBRA, Mario. O crime organizadoe os procedimentos para sua 
investigação no Brasil. Disponível em: 
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1242/1184. Pág. 05. 
64 
 
 
No Brasil não há a modalidade mafiosa propriamente dita, mas há 
organizações criminosas regionais, a exemplo das facções criminosas intraprisionais 
no Estado de São Paulo, denominada de PCC – Primeiro Comando da Capital, e no 
Estado do Rio de Janeiro denominada de Comando Vermelho – CV. 
Com efeito, é notório que existem quadrilhas especializadas em variadas 
infrações penais, a maioria com colaboradores infiltrados no Poder Público, no meio 
político ou policial. 
 Porém, não são todos os casos em que se encontra uma única associação 
criminosa que atua em diversos delitos independes, mas sim grupos organizados 
que se especializam em determinados delitos ou grupos criminosos com vasto 
número de seguidores; como exemplo os chefes de tráficos nas favelas, que 
comandam não só o tráfico, mas também os sequestros, favorecimento à 
prostituição, assaltos, dentre outros crimes. Há também os chefes de organizações 
criminosas que comandam de dentro dos presídios os crimes, bem como planejam 
resgates, fornecem informações e táticas para que seus comparsas efetuem roubos, 
tráfico e outros ilícitos 
Neste sentido Igor Koiti Endo e Mario Coimbra93 destacam que: 
Existem inúmeros comandos independentes baseados em diversos pontos 
do país. Não se fala numa organização, suficientemente grande a ponto de 
atuar em todas as regiões e que desafie por si só o Estado Democrático de 
Direito, como a ―Cosa Nostra‖ ítalo-americana ou a japonesa ―Yakusa‖. 
No entanto, há facções criminosas brasileiras que estão espalhadas por 
inúmeras capitais e praticam desde o tráfico de entorpecentes, até fugas, 
sequestros, resgates, assaltos, assassinatos, comandando de dentro e fora dos 
presídios, ações contra o Estado-Polícia. 
As facções criminosas brasileiras, conforme ensinamentos dos citados 
autores, foram criadas supostamente com o objetivo de criar rebeliões dentro dos 
presídios, visando intimidar o Estado. Atualmente, a realidade das facções 
existentes no Brasil mudou: Com o passar do tempo, começaram a crescer e 
criaram uma união de ―irmãos‖, com o único objetivo de cometer desde pequenos 
crimes, até os que envolvam grande quantia em dinheiro e poder, passando por 
 
93
 ENDO, Igor Koiti; COIMBRA, Mario. O crime organizado e os procedimentos para sua 
investigação no Brasil. Disponível em: 
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1242/1184. Pág. 06. 
65 
 
 
cima, se for necessário para a conclusão de seus crimes, de diversas pessoas, 
sejam pessoas relacionadas ao poder, sejam inocentes que tentam coibir tal ação. 
Em busca de poder e domínio de área, começaram a surgir mais facções, o que 
gerou uma ―guerra criminosa‖ entre os ―sindicatos do crime‖, principalmente quando 
envolvia disputas relacionadas ao tráfico de drogas. 
Segundo Igor Koiti Endo e Mario Coimbra94: 
Apesar de não ser grande produtor de drogas, o Brasil tem sido utilizado 
para o refinamento e distribuição aos maiores traficantes dos Estados 
Unidos e da Europa, dada a enorme zona fronteiriça a diversos países 
produtores desses entorpecentes, como Peru, Bolívia e Colômbia. 
Frise-se ainda, que o Brasil é o terceiro maior consumidor de drogas do 
mundo, segundo informações da ONU. 
Discorrendo acerca do tema Igor Koiti Endo e Mario Coimbra95, ressaltam que 
o enorme crescimento dessas organizações criminosas no Brasil nos últimos anos, 
beneficiadas pelo desenvolvimento da tecnologia, fez com que o prejuízo gerado ao 
Estado aumentasse de forma substancial. Dessa forma, o Estado viu-se obrigado a 
tomar providências, a criar mecanismos de repressão a tais delitos. As autoridades 
brasileiras têm demonstrado mais interesse nas organizações criminosas e se 
debruçado a estudar tais facções, visando combate-las de forma eficaz. 
Neste sentido, cabe destacar que há auxílio de agentes estatais nas 
organizações criminosas, fazendo com que estes obtenham maior poder financeiro e 
abrindo uma fresta no sistema estatal de combate as organizações criminosas. Os 
agentes estatais envolvidos com as organizações criminosas não permitem que a 
organização seja desmantelada, seja por fazerem as investigações tomarem rumos 
diferentes, seja porque avisam as organizações sobre a ação da polícia. Essa 
atuação traz diversos prejuízos à sociedade, como emprego inadequado de verbas 
públicas, descrença nas instituições de repressão ao crime, prejuízo na busca da 
verdade real, entre outros. Pode parecer contraditório que tais facções sejam 
comandadas de dentro dos presídios, entretanto, tal fato apenas denota a falha do 
sistema repressivo da criminalidade brasileira. 
 
94
 ENDO, Igor Koiti; COIMBRA, Mario. O crime organizado e os procedimentos para sua 
investigação no Brasil. Disponível em: 
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1242/1184. Pág. 06. 
95
 ENDO, Igor Koiti; COIMBRA, Mario. O crime organizado e os procedimentos para sua 
investigação no Brasil. Disponível em: 
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1242/1184. Pág. 06. 
66 
 
 
De acordo Mauro Zaque de Jesus96: 
O alto poder de corrupção do crime organizado, fazendo com que pessoas 
do Estado participem da atividade, causa inércia, ou melhor, paralisação 
estatal no combate ao crime. Pior, a participação de agentes estatais cria 
uma falsa sensação de segurança, vez que continuam a ―agir‖ em 
detrimento de outros casos, mas com relação àquele específico, daquela 
organização a qual pertence o agente, a ação estatal permanece 
completamente inerte, permitindo que aquela organização perpetue em 
seus lucros e se fortaleça ainda mais. 
Cumpre destacar, no contexto nacional, as duas principais organizações 
criminosas brasileiras: Primeiro Comando da Capital – PCC e Comando Vermelho – 
CV. 
Nas palavras de Luiz Roberto Ungaretti de Godoy97, o denominado PCC, é 
uma organização criminosa paulista que surgiu em meados do ano de 1990, durante 
uma rebelião na Casa de Custódia de Taubaté, e leva o nome de primeiro comando 
inspirado no time de futebol do presídio. 
Inicialmente, de acordo com o citado autor, o PCC só se manifestava dentro 
dos presídios com os próprios confinados, os quais eram contra o sistema 
penitenciário brasileiro, se organizando assim em rebelião convocando todos os 
custodiados para pedir melhoria e até mesmo para fugir do sistema prisional. 
Posteriormente começaram a surgir os atentados praticados por membros do PCC, 
demonstrando um crescimento da organização. 
Contudo, o PCC não era considerado pelos membros da segurança pública 
como um grupo que oferecesse risco a sociedade, e sim uma pequena organização 
que visava cometer pequenos delitos, conforme leciona Luiz Roberto Ungaretti de 
Godoy98. 
Com as mutações que ocorriam de ano para ano, o PCC foi se fortalecendo e 
começou a atuar não só em delitos pequenos, mas em comandar práticas 
criminosas descentralizadas, através do controle territorial e político. 
Luiz Roberto Ungaretti de Godoy99 leciona que: 
O PCC não só coordena rebeliões, atentados e práticas criminosas 
localizadas, mas também, através do controle territorial e político, alimenta 
 
96
 JESUS, Mauro Zaque de. Crime Organizado, a Nova Face da Criminalidade. Disponível em: 
http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud6/crimorg.htm. Pág. 02. 
97
 GODOY, Luiz Roberto Ungaretti. Crime organizado e seu tratamentojurídico penal. Rio de 
Janeiro: Elsevier, 2011. Pág. 102. 
98
 GODOY, Luiz Roberto Ungaretti. Crime organizado e seu tratamento jurídico penal. Pág. 102. 
99
 GODOY, Luiz Roberto Ungaretti. Crime organizado e seu tratamento jurídico penal. Pág. 103. 
67 
 
 
todo um setor terciário ligado a atividades econômicas controladas direta ou 
indiretamente pelo Estado, como por exemplo, o transporte público e a 
distribuição de combustíveis. Também não podemos deixar de destacar a 
lavagem de dinheiro decorrente dos benefícios materiais e econômicos das 
atividades ilícitas do ―Partido‖. 
Ressalte-se que o PCC movimenta um sistema financeiro milionário. 
Conforme nos ensina Luiz Roberto Ungaretti de Godoy100, segundo informações do 
Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF, entre o mês de novembro 
de 2005 e setembro de 2006, o PCC movimentou pelo menos 36,6 milhões no 
sistema financeiro. Entre novembro de 2005 e julho de 2007 a movimentação 
financeira do PCC entrou para a casa dos 63 milhões de reais, por meio de 
movimentações de 686 contas correntes. 
Atualmente, o PCC continua agindo dentro e fora dos presídios e tem 
membros espalhados em diversos estados como Mato Grosso, Paraná, Santa 
Catarina, dentre outros. Segundo Luiz Roberto Ungaretti de Godoy101, dentro da 
organização criminosa há uma rígida hierarquia entre os ―irmãos‖, além de um 
estatuto contendo normas rígidas sobre condutas, contribuições, bem como as 
respectivas penalidades em caso de descumprimento delas. O membro, após 
―batizado‖ deve respeitar as regras impostas pela organização criminosa. Ainda, os 
integrantes da organização criminosa devem contribuir com uma mensalidade, que é 
destinada ao fundo de reserva utilizado para o pagamento de honorários 
advocatícios, compra de celulares, manutenção das famílias dos integrantes e, 
principalmente, para o financiamento do tráfico de drogas e armas. 
Já a organização criminosa denominada Comando Vermelho surgiu na Baixa 
Fluminense, no Rio de Janeiro, em meados do ano de 1979, na prisão de Cândido 
Mendes. Era composto por presos comuns e presos políticos, e tinha como 
finalidade distribuir drogas e armas nas cidades do Rio de Janeiro. 
A organização criminosa Comando Vermelho e o PCC tinham ligações, sendo 
que uma facção criminosa auxiliava a outra na entrada de drogas nas favelas, 
conforme afirma o delegado de Polícia Civil, Marcos Vinícius Braga102: 
A entrada do crack nas favelas cariocas foi a condição imposta pela facção 
criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para continuar a vender 
cocaína para o Comando Vermelho. 
 
100
 GODOY, Luiz Roberto Ungaretti. Crime organizado e seu tratamento jurídico penal. Pág. 104. 
101
 GODOY, Luiz Roberto Ungaretti. Crime organizado e seu tratamento jurídico penal. Pág. 104. 
102
 BRAGA. Marcos Vinícius. O Estado de São Paulo: Caderno Metrópole. São Paulo, 2008. Pág. 04. 
68 
 
 
Não há subordinação entre as duas organizações criminosas, mas um 
intercâmbio de rotas para o tráfico de entorpecentes e armas, bem como havia a 
utilização comum das organizações criminosas para guardar e estocar produtos 
ilícitos comuns. 
Cumpre destacar que o crime organizado desenvolveu novas tecnologias e 
novos canais de atuação, diversificando nesse processo, adentrando pontos 
vulneráveis da infraestrutura do Estado, principalmente no meio financeiro. 
Além disso também merece relevo a relação das organizações criminosas 
com a macrocriminalidade, com o narcotráfico e com o tráfico internacional de 
drogas. Trata-se de crimes que envolvem meios conexos, bem estruturados e 
estudados, que são cometidos de forma disfarçada e visam à obtenção ilícita de 
grandes somas de valores. 
Conclui-se que existem fortes organizações criminosas no Brasil, agindo com 
o intuito único de obter lucros e vantagens. Impõe-se, dessa forma, uma ação 
enérgica, de forma imediata e eficaz por parte do Estado para que se possa 
combater de forma efetiva o avanço das ações das organizações criminosas. 
 
69 
 
 
4 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
COMBATE AO CRIME ORGANIZADO E A CRISE DO INQUÉRITO POLICIAL 
Neste capítulo abordar-se-á a questão da investigação criminal ser realizada 
pelo Ministério Público e seus precedentes jurisprudenciais e doutrinários, bem 
como sua constitucionalidade e possibilidade em realizar tal ato. 
Trará a conceituação de investigação criminal e de persecução penal, bem 
como suas finalidades, destacando ainda as duas fases da persecução penal e de 
forma sucinta trará à titularidade da ação penal. 
 Com efeito, se abordará a problemática do inquérito policial como ferramenta 
de captação de provas, sua precariedade em cumprir com a função que lhe é 
conferida, sua dispensabilidade para iniciar a persecução penal, e o sistema falho 
que gera a necessidade/possibilidade para o Ministério Público investigar, 
principalmente no que se refere ao crime organizado. 
O sistema falho que a polícia judiciária e o Estado enfrentam no combate as 
organizações criminosas, o despreparo e a corrupção dos agentes estatais que 
deveriam combater o crime e acabam por fazer parte das organizações criminosas. 
É notória a dificuldade enfrentada pela polícia em proceder investigações 
criminais que envolvam organizações criminosas, haja vista que tem por alvo 
pessoas poderosas na sociedade e com influentes no meio político ou até mesmo 
relacionadas diretamente ao meio político. 
A falta de confiabilidade que norteia o inquérito policial ou os materiais 
incompletos gerados pela polícia e a desídia que afeta o sistema, acarretando uma 
morosidade no combate aos crimes. 
Tratar-se-á da conceituação de polícia judiciária, suas previsões no texto 
constitucional e suas funções. Os prejuízos causados pelas organizações criminosas 
e como afetam a sociedade como um todo. 
O recente julgamento da PEC 37/2011 que só confirmou a possibilidade de 
investigação criminal realizada pelo Ministério Público, sendo norteada de 
constitucionalidade e legalidade, não havendo qualquer inconsistência ou 
incongruência acerca desta legitimidade. 
70 
 
 
4.1 PERSECUÇÃO PENAL 
A persecução penal consiste na ação de perseguir o crime, perseguir o autor 
da infração penal. Seu intuito é a aplicação da sanção penal àquele que praticou um 
crime ou uma contravenção penal. 
Para aplicar a sanção (penas ou eventuais medidas de segurança), o Estado 
deve inicialmente desenvolver uma série de atividades persecutórias. Nesse sentido, 
a persecução penal, ou persecutio criminis in judicio, nas palavras de André 
Nicolitt103: 
É a atividade do Estado que busca a repressão das infrações penais. O 
Estado, enquanto titular do direito de punir, só pode exercê-lo mediante o 
devido processo legal, por vigorar entre nós o princípio nulla poema sine 
judice. A toda evidência, para o Estado exercer o ius puniendi, deve saber 
quem é o possível autor da infração penal e submetê-lo a um processo. 
Sendo assim, essa atividade de persecução penal se desenvolve em duas 
vertentes: 1) a apuração da autoria e a materialidade do fato criminoso 
(investigação criminal) e 2) a propositura da ação penal. 
Ainda nesse sentido as palavras de Julio Fabbrini Mirabete104: 
Persecução penal significa, portanto, a ação de perseguir o crime. Assim, 
além da ideia da ação da justiça para punição ou condenação do 
responsável por infração penal, em processo regular, inclui ela os atos 
praticados para capturar ou prender o criminoso, a fim de que se veja 
processar e sofrer a pena que lhe for imposta. 
Conforme ensinamentos do referido autor, praticado um fato definido comoinfração penal, surge para o Estado o ius puniendi, que só pode ser concretizado 
através do processo. É na ação penal que deve ser deduzida em juízo a pretensão 
punitiva do Estado, a fim de ser aplicada à sanção penal adequada. Para que se 
proponha a ação penal, entretanto, é necessário que o Estado disponha de um 
mínimo de elementos probatórios que indiquem a ocorrência de uma infração penal 
e de sua autoria. O meio mais comum, embora não exclusivo, para a colheita desses 
elementos é o inquérito policial. Tem este por objeto, assim, "a apuração de fato que 
configure infração penal e respectiva autoria, para servir de base à ação penal ou às 
providências cautelares". 
 
103
 NICOLITT, André. Manual de Processo Penal. 2ª Edição – Rio de Janeiro: Elsevier. 2010, pág. 
71. 
104
 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 21ª Edição – São Paulo: Atlas, 2004. Pág. 73. 
71 
 
 
Nos termos do artigo 4º do Código de Processo Penal, cabe à polícia 
judiciária, exercida pelas autoridades policiais, a atividade destinada à apuração das 
infrações penais e da autoria por meio do inquérito policial, preliminar ou 
preparatório da ação penal. A soma dessa atividade investigatória com a ação penal 
promovida pelo Ministério Público ou ofendido se dá o nome de persecução penal 
(persecutio criminis). 
Com ela se procura tornar efetivo o jus puniendi resultante da prática do crime 
a fim de se impor ao seu autor a sanção penal cabível. Abrange, além da ideia da 
ação da justiça para punição ou condenação do responsável por infração penal, em 
processo regular, os atos praticados para capturar ou prender o criminoso, a fim de 
que se veja processar e sofrer a pena que lhe for imposta. 
Assim, a persecução penal (ou persecutio criminis) possui duas fases, de 
acordo com André Nicolitt105: 
a) inquérito policial – que consiste na reunião de elementos que demonstrem 
a existência de indícios de autoria e prova de materialidade da infração penal 
(denominada persecução penal extrajudicial); 
b) ação penal – que tem início pela denúncia ou queixa-crime (recebida pelo 
juiz) e o seu fim com a sentença condenatória ou absolutória transitada em julgado 
(denominada persecução penal judicial). 
Nas palavras do Ministro Cezar Peluso106, em julgamento do Habeas Corpus 
nº. 88.190-4: 
A persecução penal, nessa primeira fase, compõe-se de atos de 
investigação e atos de instrução. Quem investiga ―só rastreia‖, pesquisa, 
indaga, segue vestígios e sinais, busca informações para elucidação de um 
fato. Uma vez documentada a diligência, passa-se da investigação à 
instrução, que pode dar-se mediante atos transitórios – suscetíveis de ser 
renovados – ou definitivos, como é o caso da juntada de documentos, os 
quais se incorporam ao bojo de eventual ação penal e, salvo falsidade, 
escusam repetição. 
É este cunho de definitividade inerente a certos atos que exige garantia ao 
exercício do direito de defesa já na fase preliminar da persecução penal: 
‗diante da prática de atos de instrução de caráter definitivo, que não mais se 
repetem, deve-se reconhecer a possibilidade de exercício do direito de 
defesa no inquérito policial‘. 
 
105
 NICOLITT, André. Manual de Processo Penal. Pág. 71. 
106
 PELUSO, Cezar. Habeas Corpus nº. 88.190-4 Rio De Janeiro. Segunda Turma, Supremo 
Tribunal Federal. 
72 
 
 
Nos crimes de ação penal pública, a ação penal será promovida pelo Estado, 
por meio do Ministério Público. Haverá ações penais que serão exercidas por 
particular, por representação do ofendido ou por requisição do Ministro da Justiça, 
sempre sendo respeitado o direito de ampla defesa e contraditório a ser exercido 
pelo denunciado, através de seu defensor. 
4.2 POLÍCIA JUDICIÁRIA 
Conforme nos ensina Julio Fabbrini Mirabete107 ―a Polícia é uma instituição de 
direito público destinada a manter a paz pública e a segurança individual‖. 
Conforme André Nicolitt108, a primeira questão que se coloca é que a polícia 
judiciária não é uma corporação como a Polícia Federal ou a Polícia Militar. Quando 
fala-se em polícia judiciária estamos tratando de uma função e não de uma 
corporação. 
Nas palavras de André Nicolitt109: ―Também não podemos confundir polícia 
judiciária com guarda judiciária, esta sim um grupo de servidores que trabalha na 
segurança dos tribunais, exercendo funções de polícia administrativa.‖ 
O poder de polícia do Estado está dividido em duas funções: a polícia 
administrativa e a polícia judiciária. 
Conforme ensinamentos do referido autor, verifica-se, claramente, a diferença 
entre elas: enquanto a polícia administrativa tem a função de fiscalização (vigilância 
ostensiva com o intuito preventivo) a polícia judiciária atua de forma determinada na 
apuração de uma fato que já ocorreu. O papel de polícia administrativa é amplo e 
pode ser exemplificado pela atividade de vigilância sanitária, fiscalização de 
posturas municipais, urbanísticas e ambientais, bem como pelo papel de prevenção 
da criminalidade, geralmente realizado pelas polícias militares. 
A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 144, estabelece que a 
segurança pública é dever do Estado, sendo exercida por diversos órgãos: 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade 
de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da 
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
 
107
 MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de Processo Penal Interpretado. 2ª Edição, Atlas 1994, pág. 
35. 
108
 NICOLITT, André. Manual de Processo Penal. Pág. 72. 
109
 NICOLITT, André. Manual de Processo Penal. Pág. 72. 
73 
 
 
I – polícia federal; 
II – polícia rodoviária federal; 
III – polícia ferroviária federal; 
IV – polícias civis; 
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
[...] 
Devido à estrutura federativa da nossa Constituição, onde os Estados-
membros gozam de autonomia, adotou-se a forma de distribuição de atribuições. 
Nela, não pode haver usurpação de funções, sob pena de se violar a autonomia dos 
Estados. Sendo assim, cada polícia atua dentro de sua jurisdição. 
Fernando Capez110 traz a divisão da polícia judiciária da seguinte forma: 
a) Quanto ao lugar de atividade: terrestre, marítima ou aérea; 
b) Quanto à exteriorização: ostensiva e secreta; 
c) Quanto à organização: leiga e de carreira; 
d) Quanto ao objeto: administrativa e judiciária. 
Cumpre destacar e conceituar a forma administrativa e judiciária, adotando o 
conceito de Fernando Capez111, quanto à administrativa ou de segurança: ―Caráter 
preventivo; objetiva impedir a prática de atos lesivos a bens individuais e coletivos; 
atua com grande discricionariedade, independentemente de autorização judicial.‖ 
Quanto a Judiciária: 
Função auxiliar à justiça (daí a designação); atua quando os atos que a 
polícia administrativa pretendia impedir não foram evitados. Possui a 
finalidade de apurar as infrações penais e suas respectivas autorias, a fim 
de fornecer ao titular da ação penal elementos para propô-la. Cabe a ela a 
consecução do primeiro momento da atividade repressiva do Estado. 
Atribuída no âmbito estadual às policias civis, dirigidas por delegados de 
polícia de carreira, sem prejuízo de outras autoridades. [...] 
Assim pode-se dizer que, apesar da distribuição das atribuições, todas as 
polícias, seja federal, civil ou militar, exercem de uma forma ou de outra tanto o 
caráter administrativo quando o judiciário, posto que diante de hipóteses de flagrante 
delito, a prisão ou captura deverá ser efetuada por qualquer agentedo Estado, até 
porque poderá ser feita por qualquer um do povo. A diferença é que a lavratura do 
auto, e por consequência o inquérito, será conduzido pela autoridade policial que 
tenha a respectiva atribuição. 
 
110
 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 18ª Edição. Saraiva, 2011, pág. 109. 
111
 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. Pág. 109. 
74 
 
 
4.3 CONCEITO DE INQUÉRITO POLICIAL, SUA FINALIDADE E SUA 
DISPENSABILIDADE 
O inquérito policial é um procedimento preparatório da ação penal, de caráter 
administrativo, conduzido pela Polícia Judiciária e voltado à colheita preliminar de 
provas para apurar a prática de uma infração penal e sua autoria. 
Segundo Fernando Capez112: ―É o conjunto de diligências realizadas pela 
polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua autoria, a fim de 
que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (CPP art. 4º).‖ 
Nos ensinamentos do referido autor, trata-se de um procedimento 
administrativo instaurado pela autoridade policial de caráter persecutório. Tendo 
como destinatário imediato o Ministério Público, o qual é titular exclusivo da ação 
penal pública, conforme regra insculpida no artigo 129, I da Constituição Federal, e o 
ofendido no caso de ação penal privada, conforme regra do artigo 30 do Código de 
Processo Penal. Por outro lado, seu destinatário mediato é o juiz, que se utilizará 
dos elementos de informação constantes do inquérito para o recebimento da peça 
acusatória e para formação do seu convencimento quanto à necessidade de 
decretação de medidas cautelares. 
O objetivo do inquérito policial é a formação da convicção do representante do 
Ministério Público, titular da ação penal pública, ou a vítima, nas ações penais 
privadas, e ainda a colheita de provas urgentes necessárias ao esclarecimento dos 
fatos investigados. 
Cumpre ressaltar que o inquérito policial é peça dispensável, não é obrigatória 
e nem necessária para o desencadeamento da ação penal. Neste sentido Alexandre 
Cebrian Araújo Reis e Victor Eduardo Rios Gonçalves113 afirmam: 
Ora, como a finalidade do inquérito é justamente colher indícios, torna-se 
desnecessária sua instauração quando o titular da ação já possui peças que 
permitam sua imediata propositura. 
Há diversos dispositivos no Código de Processo Penal permitindo que a 
denúncia ou queixa sejam apresentadas com base nas chamadas peças de 
informação que, em verdade, podem ser quaisquer documentos que 
demonstrem a existência de indícios suficientes de autoria e de 
materialidade da infração penal. 
 
112
 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. Pág. 109. 
113
 REIS, Alexandre Cebrian Araújo e GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Coordenador LENZA, 
Pedro. Direito Processual Penal Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2012. Pág. 52. 
75 
 
 
O Supremo Tribunal Federal já se posicionou a esse respeito: 
O inquérito policial qualifica-se como procedimento administrativo, de 
caráter pré-processual, ordinariamente vocacionado a subsidiar, nos casos 
de infrações perseguíveis mediante ação penal de iniciativa pública, a 
atuação persecutória do Ministério Público, que é o verdadeiro destinatário 
dos elementos que compõe a informatio delicti. Precedentes. A investigação 
penal, quando realizada por organismos policiais, será sempre dirigida por 
autoridade policial, a quem igualmente competirá exercer, com 
exclusividade, a presidência do respectivo inquérito. A outorga 
constitucional de funções de polícia judiciária à instituição policial não 
impede nem exclui a possibilidade de o Ministério Público, que é o dominus 
litis, determinar a abertura de inquéritos policiais, requisitar esclarecimentos 
e diligências investigatórias, estar presente e acompanhar, junto a órgãos e 
agentes policias, quaisquer atos de investigação penal, mesmo aqueles sob 
regime de sigilo, sem prejuízo de outras medidas que lhe pareçam 
indispensáveis à formação da sua opinio delicti, sendo-lhe vedado, no 
entanto, assumir a presidência do inquérito policial, que traduz atribuição 
privativa da autoridade policial. Precedentes. 
É PLENA A LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO PODER DE 
INVESTIGAR DO MINISTÉRIO PÚBLICO, POIS OS ORGANISMOS 
POLICIAS (EMBORA DETENTORES DA FUNÇÃO DE POLÍCIA 
JUDICIÁRIA) NÃO TÊM, NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO, O 
MONOPÓLIO DA COMPETÊNCIA PENAL INVESTIGATÓRIA. – O poder 
de investigar compõe, em sede penal, o complexo de funções institucionais 
do Ministério Público, que dispõe, na condição de dominus litis e, também, 
como expressão de sua competência para exercer o controle externo da 
atividade policial, da atribuição de fazer instaurar, ainda que em caráter 
subsidiário, mas por autoridade própria e sob sua direção, procedimentos 
de investigação penal destinados a viabilizar a obtenção de dados 
informativos, de subsídios probatórios e de elementos de convicção que lhe 
permitam formar a opinio delicti, em ordem a propiciar eventual ajuizamento 
da ação penal de iniciativa pública. Doutrina. Precedentes.
114
 
 
É por essa razão que o Supremo Tribunal Federal, por mais de uma vez 
(RTJ 64/342), já decidiu que "Não é essencial ao oferecimento da denúncia 
a instauração de inquérito policial, desde que a peça acusatória esteja 
sustentada por documentos suficientes à caracterização da materialidade 
do crime e de indícios suficientes da autoria" (RTJ 76/741, Rel. Min. CUNHA 
PEIXOTO)
115
 
É uma peça investigatória que é preparatória da ação penal. Não se pode 
entender, entretanto, o inquérito policial como necessário à ação penal. Com efeito, 
é tal procedimento dispensável para o exercício da ação penal. 
Nas palavras de Aury Lopes Junior116: 
Há unanimidade sobre o inquérito policial: ―não satisfaz o titular da ação 
penal pública, tampouco à defesa e resulta de pouca utilidade para o juiz 
 
114
 BRASIL, Jus. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/diarios/54813792/djba-caderno2-27-05-
2013-pg-325. 
115
.RTJ 76/741, Rel. Min. CUNHA PEIXOTO. Disponível em: 
http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo393.htm 
116
 LOPES JUNIOR, Aury. Sistemas de Investigação Preliminar no Processo Penal. 4ª 
edição. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, pág. 70. 
76 
 
 
(principalmente pela pouca qualidade e confiabilidade do material 
fornecido).‖ 
O inquérito policial é peça de informação, sendo dispensável para a 
propositura da ação penal, podendo esta ser embasada em outras provas que 
formem a opinio delicti do titular da ação penal, bem como quando o Ministério 
Público já dispuser de elementos capazes de formar sua opinio delicti. 
Nesse sentido colaciona-se as jurisprudências a seguir: 
Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. Jurisprudência do 
Supremo Tribunal pacífica no sentido de que o inquérito policial é peça 
meramente informativa e dispensável e, com efeito, não é viável a anulação 
do processo penal em razão das irregularidades detectadas 
no inquérito, porquanto as nulidades processuais dizem respeito, tão 
somente, aos defeitos de ordem jurídica que afetam os atos praticados 
durante da ação penal. 4. Ausência de argumentos suficientes para infirmar 
a decisão recorrida. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (ARE 
654192 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado 
em 22/11/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-093 DIVULG 11-05-2012 
PUBLIC 14-05-2012).
117
 
 
PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. 
ALEGAÇÃO DE NULIDADE DAS PROVAS QUE EMBASARAM A 
DENÚNCIA. INOCORRÊNCIA. DESNECESSIDADE DE INQUÉRITO 
POLICIAL PARA OFERECIMENTO DA DENÚNCIA. EXISTÊNCIA DE 
ELEMENTOSDE CONVICÇÃO TRAZIDOS AO MINISTÉRIO PÚBLICO. 
LEGITIMIDADE DO PARQUET PARA OITIVA DE OUTRAS PESSOAS 
PARA FORMAÇÃO DE SUA OPINIO DELICTI. ORDEM DENEGADA. I – O 
inquérito policial é dispensável quando o Ministério Público já dispuser de 
elementos capazes de formar sua opinio delicti. II – O fato de o Ministério 
Público ter oferecido ação penal com base nos elementos de convicção a 
ele trazidos por outro meio que não o inquérito policial não significa dizer 
que ingressou em seara reservada à Polícia Judiciária, nem mesmo que 
tenha presidido inquérito policial. III - Não houve parte do Ministério Público 
a presidência de inquérito policial, esse, sim, exclusivo das autoridades 
policiais, mas apenas a realização de diligências complementares para 
formação da opinião do órgão acusador, consubstanciada na notificação e 
oitiva de pessoas que tiveram conhecimento dos fatos relatados, 
espontaneamente, por um dos corréus. IV - O homicídio pelo qual os 
pacientes são acusados já havia sido investigado por meio de inquérito 
policial, que resultou no oferecimento de denúncia contra corréu. Assim, os 
elementos referentes ao crime, em sua maioria, já haviam sido apurados, 
surgindo novos fatos apenas em relação a suposta coautoria. IV - Ordem 
denegada. (HC 96638, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, 
Primeira Turma, julgado em 02/12/2010, DJe-020 DIVULG 31-01-2011 
PUBLIC 01-02-2011 EMENT VOL-02454-02 PP-00264 RT v. 100, n. 906, 
2011, p. 435-443).
118
 
 
117
 BRASIL. Superior Tribunal Federal. ARE 654192 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, 
julgado em 22/11/2011. 
118
 BRASIL. Superior Tribunal Federal. Habeas Corpus 96638, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 
Primeira Turma, julgado em 02/12/2010. 
77 
 
 
O Ministro Celso de Melo119 também reconhece a dispensabilidade do 
inquérito policial: 
HABEAS CORPUS. CRIME DE TORTURA IMPUTADO A DELEGADO DA 
POLÍCIA CIVIL. INVESTIGAÇÃO REALIZADA PELO MINISTÉRIO 
PUBLICO. COLHEITA DE DEPOIMENTOS. INEXISTENCIA DE 
NULIDADE. INQUERITO POLICIAL PRESCINDIBILIDADE. 
1. A teor do disposto no art. 129, VI e VIII da Constituição Federal, e no art. 
8º, II e IV da lei Complementar nº. 75/93, o Ministério Publico como titular da 
ação penal pública, pode preceder a investigações, inclusive colher 
depoimentos, sendo-lhe vedado, tão somente, presidir o inquérito policial, 
que é prescindível para a propositura da ação penal. 
2. Precedentes desta Corte e do Supremo Tribunal Federal. 
3. Ordem denegada 
As provas carreadas através de investigações criminais efetuadas pelo 
Ministério Público são objetivadas através de meios legais, plenamente previstos no 
ordenamento jurídico, tendo o condão de formar a opinio delicti do magistrado, o 
qual é recebedor das provas. 
Alexandre Cebrian Araújo Reis e Victor Eduardo Rios Gonçalves120 
conceituam a finalidade da prova da seguinte forma: 
O objetivo da atividade probatória é convencer seu destinatário: o juiz. Na 
medida em que não presenciou o fato que é submetido a sua apreciação, é 
por meio das provas que o juiz poderá reconstruir o momento histórico em 
questão, para decidir se a infração, de fato, ocorreu e se o réu foi seu autor. 
Assim, tem-se que o inquérito policial é peça dispensável, e em sendo o 
Ministério Público titular da ação penal, deve o mesmo carrear as provas para formar 
a convicção do destinatário final da ação que é o Juiz, não se verificando qualquer 
causa de nulidade ou impossibilidade para presidir a investigação criminal. 
O inquérito policial possui algumas características basilares, como bem 
observa André Nicolitt121: 
a) Inquisitorial: é considerado um procedimento inquisitivo, haja vista não 
haver contraditório. 
b) Informativo: por ser procedimento inquisitivo, desprovido de contraditório, 
não pode o inquérito policial servir como fundamentação da sentença, tendo a 
 
119
 MELO, Celso. Habeas Corpus nº. 89873. Distrito Federal, Segunda Turma, Supremo Tribunal 
Federal. 
120
 REIS, Alexandre Cebrian Araújo e GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Coordenador LENZA, 
Pedro. Direito Processual Penal Esquematizado. Pág. 247. 
121
 NICOLITT, André. Manual de Processo Penal. Pág. 80. 
78 
 
 
finalidade única de peça informativa a autorizar a propositura da ação penal pelo 
órgão competente, já que esta não pode ser promovida sem justa causa. 
Paulo Rangel122 ensina que: ―O valor do inquérito é meramente informativo e 
direcionado exclusivamente ao MP, portanto, alguns autores sustentam que o 
inquérito tem por característica ser unidirecional.‖ 
c) sigiloso: no Código de Processo Penal em seu artigo 20 estabelece que: 
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à 
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. 
Tendo como função preservar o indiciado (função garantista) e assegurar a 
eficácia da investigação (função utilitarista). 
De acordo com André Nicolitt123 a doutrina classifica o sigilo em: 
Sigilo externo e sigilo interno. O primeiro refere-se a todas as pessoas 
estranhas ao procedimento, designadamente a mídia. É fácil perceber que a 
exposição do inquérito aos meios de comunicação além de ferir a dignidade 
do indiciado, em nada contribui para apuração dos fatos, muito ao contrário. 
Já o sigilo interno abrange aqueles que possuem envolvimentos com o 
procedimento. É óbvio que não faz qualquer sentido falar em sigilo para o 
juiz e para o Ministério Público. A discussão do sigilo refere-se ao indiciado 
e seu advogado. Fala-se então em sigilo interno parcial e total. O primeiro é 
o que vigora entre nós, por poder o advogado prestar assistência ao preso 
(art. 5º, LXIII, CRF/1988) e examinar os autos do inquérito policial, ex vi do 
art. 7º, XIV, da Lei 8.906/1994 (EOAB). No sigilo interno total nem mesmo o 
advogado tem acesso aos autos, é o que ocorre, por exemplo, no sistema 
português (art. 86 do CPP português). 
O inquérito policial seria uma maneira de carrear as provas a fim de obter a 
prestação jurisdicional, mas, atualmente, pode-se colher provas através de outros 
métodos, como nos ensina Eugênio Pacelli124: 
A formação do convencimento do encarregado da acusação, pode decorrer 
também de atividades desenvolvidas em procedimentos administrativos 
levados a cabo por outras autoridades administrativas e até mesmo por 
atuação de particular, isto é, pelo encaminhamento de documentação ou 
informação suficiente à formação da opinio delicti. 
Conforme o parágrafo único do artigo 4º do Código de Processo Penal, o 
inquérito realizado pela polícia judiciária não é a única forma de investigação 
criminal, in verbis: 
 
122
 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 11ª Edição – Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, pág. 
85. 
123
 NICOLITT, André. Manual de Processo Penal. Pág. 82. 
124 
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 17ª Edição – São Paulo: Atlas S.A. 2013, pág. 54. 
79 
 
 
 Art. 4º. [...] 
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de 
autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função. 
Há outras formas de investigação, como bem destaca Fernando Capez125: 
O inquérito realizado pelas autoridades militares para a apuração de 
infrações de competência da justiça militar (IPM); as investigações 
efetuadas pelas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), as quais 
terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de 
outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, e serão criadas 
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou 
separadamente, mediante requerimento de 1/3 de seus membros, para a 
apuraçãode fato determinado, com duração limitada no tempo (CF, art. 58, 
§3º); o inquérito civil público, instaurado pelo Ministério Público para a 
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros 
interesses difusos e coletivos (CF, art. 129, III), e que, eventualmente, 
poderá apurar também a existência de crime conexo ao objeto da 
investigação; o inquérito em caso de infração penal cometida na sede ou 
dependência do Supremo Tribunal Federal (RISTF, art. 43); o inquérito 
instaurado pela Câmara dos Deputados ou Senado Federal, em caso de 
crime cometido nas suas dependências, hipótese em que, de acordo com o 
que dispuser o respectivo regimento interno, caberá à Casa a prisão em 
flagrante e a realização do inquérito (Súmula 397 do STF); a lavratura de 
auto de prisão em flagrante presidida pela autoridade judiciária, quando o 
crime for praticado na sua presença ou contra ela (CPP, art. 307). 
A essa obtenção de provas o código de processo penal denomina de peças 
de informações, sendo estas suficientes a contribuir para a investigação criminal e 
determinar de forma coesa seu autor, admitidas desde que não tenham sido obtidas 
por modos ilícitos. 
Nesse sentido Fernando Capez126: ―A finalidade do inquérito policial é a 
apuração de fato que configure infração penal e a respectiva autoria para servir de 
base à ação penal ou às providências cautelares.‖ 
Destarte, se houver a comunicação da infração penal por outro meio, é 
dispensável a instauração do inquérito policial, haja vista que sua finalidade única é 
a apuração da infração penal e a respectiva autoria, conforme já visto no item 
anterior. 
Segundo Fernando Capez127, no tocante ao inquérito judicial presidido por juiz 
de direito, cumpre destacar que, com o advento da nova (Lei de Falências nº. 
11.101) que revogou o Decreto Lei nº. 7.661/45, foi abolido do nosso ordenamento 
 
125
 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. Pág. 113. 
126
 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. Pág. 112. 
127
 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. Pág. 112. 
80 
 
 
jurídico as investigações presididas por juiz de direito nos crimes falimentares, sendo 
que o diploma legal aboliu o inquérito judicial. 
De acordo com o citado autor, com o novo diploma legal, o juiz, em qualquer 
fase processual, surgindo indícios da prática de crime falimentar, cientificará o 
Ministério Público. 
4.3.1 A CRISE DO INQUÉRITO POLICIAL 
O ordenamento jurídico brasileiro é norteado por um problema que afeta o 
processo penal: a crise do inquérito policial e a necessidade do controle externo da 
atividade policial por parte do Ministério Público. A investigação/instrução preliminar, 
que no Brasil é denominado de inquérito policial, é fundamental para o processo 
penal, mas não indispensável, pois não se deve julgar de imediato sem haver uma 
investigação preliminar para que se reúnam elementos que justifiquem o processo 
penal ou seu arquivamento na fase inquisitorial. 
Nesta senda, os Promotores de Justiça, titulares da ação penal, sofrem com a 
falta de coordenação entre a investigação e as necessidades de quem em juízo irá 
acusar, bem como a falta de confiabilidade nas peças de informações geradas na 
instrução do inquérito policial. Conforme nos ensina Aury Lopes Junior128: ―O 
inquérito demora excessivamente e, nos casos mais complexos, é incompleto, 
necessitando novas diligências, com evidente prejuízo à celeridade e à eficácia da 
persecução.‖ 
Conforme o entendimento de Aury Lopes Júnior, quando citado por Arthur 
Pinto de Lemos Junior129: 
O inquérito policial, de uma forma geral, está ―em crise‖, da seguinte forma: 
―O inquérito policial brasileiro é um bom exemplo de sistema de 
investigação preliminar policial, inclusive porque reflete os graves problemas 
e desvantagens do sistema, a tal ponto que se pode falar em crise do 
inquérito policial e na urgente necessidade de modificações. Esta crise está 
materializada no fato de que as imperfeições do nosso sistema são de tal 
monta que sobre o inquérito policial só existe uma unanimidade: não 
satisfaz ao titular da ação penal pública, tampouco à defesa e resulta de 
 
128 JUNIOR, Aury Lopes. A crise no inquérito policial e a investigação controlada pelo Ministério 
Público. Disponível em: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5828. 
129
 LEMOS JUNIOR, Arthur Pinto de. A investigação criminal diante das organizações criminosas 
e o posicionamento do Ministério Público. Disponível em: 
http://www.justitia.com.br/artigos/95za30.pdf. 
81 
 
 
pouca utilidade para o juiz (principalmente pela pouca qualidade e 
confiabilidade do material fornecido)‖. 
Assim, é notório os problemas que afetam o modelo de inquérito policial 
brasileiro, sendo que este necessita de modificações. Neste diapasão, tem-se que é 
fato a dificuldade enfrentada pela polícia em realizar a investigações criminais contra 
organizações criminosas, quando tem por alvo pessoas poderosas na sociedade e 
com influentes poderes no meio político. 
4.4 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
COMBATE AO CRIME ORGANIZADO 
A investigação criminal pode ser definida, segundo André Nicolitt130 como o 
conjunto de atos do Estado voltados à apuração da autoria e materialidade de uma 
infração penal. Em regra, essa função é desempenhada pela polícia judiciária 
através de um instrumento chamado entre nós de inquérito policial. Não obstante, a 
investigação criminal não se limita à atividade de polícia judiciária, tampouco fica 
adstrita ao inquérito policial. 
A investigação criminal visa colher informações a fim de identificar o autor da 
infração penal, cuja pratica encontra respaldo em nossa legislação vigente. 
No âmbito do crime organizado, o sistema inquisitivo do inquérito policial não 
é suficiente para o fim a que se destina. Tendo em vista que aos delegados de 
polícia não é assegurada a inamovibilidade, e por, infelizmente, serem norteados por 
poderes políticos nas investigações de crimes contra a administração pública e os 
denominados crimes do colarinho branco, muitas vezes deixam de investigar ou 
investigam de forma precária, não tendo elementos suficientes para a propositura da 
ação penal. 
Por tais questões, se mostra fundamental a investigação criminal realizada 
pelo Ministério Público, sendo que tornaria mais eficaz e garantiria à sociedade a 
funcionalidade social adequada. Por não estar atrelado a nenhum poder e nem a 
meios políticos, não sofrerá o Ministério Público represália nenhuma em realizar 
investigações e processar os culpados. 
 
130
 NICOLITT, André. Manual de Processo Penal. Pág. 71. 
82 
 
 
Neste sentido colhe-se o ensinamento de Aury Lopes Junior131: 
Desde um ponto de vista técnico, deixando de lado interesses políticos e 
corporativistas, o controle externo da atividade policial e do próprio 
inquérito, por parte do Ministério Público, representa uma grande evolução 
no combate eficaz da criminalidade e também, na proteção dos direitos e 
garantias individuais. A polícia judiciária deve ser um imprescindível órgão 
técnico, a serviço da administração da justiça e não o titular absoluto do 
poder de investigar. Afinal, se é uma ―polícia judiciária‖ é porque está a 
serviço deste poder. 
Assim, tem-se que, com a ação de investigação criminal por parte do 
Ministério Público, muitos pontos desfavoráveis à investigação criminal, 
principalmente no âmbito dos crimes organizados, seriam suplantados e o resultado 
da investigação atingiria seu objetivodireto, que é encontrar e processar seus 
verdadeiros envolvidos. 
Já quanto à celeuma acerca da legitimidade do Ministério Público para 
realizar a investigação criminal e instaurar a ação penal respectiva, destaca-se 
entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça: 
STJ - Súmula nº 234
132
 
Membro do Ministério Público - Participação na Fase Investigatória - 
Impedimento ou Suspeição - Oferecimento da Denúncia. 
A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória 
criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento 
da denúncia. 
Nesta linha, o Supremo Tribunal Federal reconheceu por unanimidade que 
existe previsão constitucional de que o Ministério Público tem poder investigatório. 
Nos ensinamentos da relatora do Habeas Corpus, Ministra Ellen Gracie133: 
É perfeitamente possível que o órgão do MP promova a coleta de 
determinados elementos de prova que demonstrem a existência da autoria 
e materialidade de determinado delito. [...]. Não há óbice a que o Ministério 
Público requisite esclarecimentos ou diligencie diretamente à obtenção da 
prova de modo a formar seu convencimento a respeito de determinado fato, 
aperfeiçoando a persecução penal. 
 
131 JUNIOR, Aury Lopes. A crise no inquérito policial e a investigação controlada pelo Ministério 
Público. Disponível em: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5828. 
132
 BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Disponível em: 
http://www.stj.jus.br/docs_internet/VerbetesSTJ_asc.txt 
133
 BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº. 91661. Segunda Turma. Rel. Elen 
Gracie. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=104441 
83 
 
 
Não há que se falar em exclusividade da polícia em proceder à investigação 
criminal, sendo que o Ministério Público, que é o titular da ação penal e o receptor 
das provas, pode também investigar os crimes, a fim de formar sua opinio delicti, 
bem como coletar informações concretas e firmes a fim de comprovar o ilícito penal, 
sem desvio de funções ou de provas, sem envolvimentos políticos e sem mandantes 
que visem o poder sem respeitar as normas legislativas. 
Discorrendo acerca do tema, Pedro Lenza134 assevera que: 
A grande questão que se coloca, então, é se o poder de investigação seria 
exclusivo ou não da polícia. Em importante julgado, a 2ª Turma do STF, ao 
analisar a temática dos poderes investigatórios do MP, entendeu que a 
denúncia poderia ser fundamentada em peças de informação obtidas pelo 
próprio Parquet, não havendo necessidade de prévio inquérito policial. 
Nesse sentido, não se reconheceu violação ao art. 144, §1º, I e IV, que, 
segundo o STF, deve ser harmonizado com as funções atribuídas ao MP, 
nos termos do art. 129, I, VI, VIII, IX, CF/88. A atuação do MP, dessa forma, 
aperfeiçoaria a persecução penal. 
Em seu voto, a Ministra Ellen Gracie estabeleceu: ―... é princípio basilar da 
hermenêutica constitucional o dos ‗poderes implícitos‘, segundo o qual, 
quando a Constituição Federal concede os fins, dá os meios, se a atividade 
fim – promoção da ação penal pública – foi outorgada ao parquet em foro de 
privatividade, não haveria como não lhe oportunizar a colheita de prova para 
tanto, já que o CPP autoriza que ‗peças de informação‘ embasem a 
denúncia. Assim, reconheço a possibilidade de, em algumas hipóteses, ser 
reconhecida a legitimidade da promoção de atos de investigação por parte 
do Ministério Público, mormente quando se verifique algum motivo que se 
revele autorizador de tal investigação‖. 
O membro do Ministério Público, ao receber notícia ou informação de prática 
delituosa, poderá colher as provas que achar convenientes para dar início à ação 
penal, sem estar adstrito ao inquérito policial ou as investigações realizadas pela 
polícia judiciária. Para iniciar a ação penal o Ministério Público pode colher as provas 
necessárias, bem como pode utilizar-se de meios para identificar os autores do 
delito, seja através de interceptações telefônicas devidamente autorizadas pelo 
poder judiciário, seja por expedições de notificações para que pessoas que tenham 
conhecimento sobre o delito prestem declarações a este respeito, bem como com 
determinação de diligências ou a atuação direta do membro do Ministério Público. 
Marcellus Polastri Lima135, citado na obra de Romulo de Andrade Moreira, 
assevera que: 
 
134
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Pág.679. 
135
 MOREIRA, Romulo de Andrade. A investigação criminal e o Ministério Público. Disponível em: 
http://www.migalhas.com.br/arquivo_artigo/a_investiga%C3%A7%C3%A3o_criminal_e_o_mini%202.
7.htm 
84 
 
 
Trata-se, à saciedade, de coleta direta de elementos de convicção pelo 
promotor para elaborar opinio delicti e, se for o caso, oferecimento de 
denúncia, uma vez que, como já asseverado, não está o membro do 
Ministério Público adstrito às investigações da Polícia Judiciária, podendo 
colher provas em seu gabinete ou fora deste, para respaldar a instauração 
da ação penal. 
Portanto, recebendo o promotor notícia de prática delituosa terá o poder-
dever de colher os elementos confirmatórios, colhendo declarações e 
requisitando provas necessárias para formar sua opinio delicti.‖ 
Um dos pontos mais favoráveis à investigação criminal realizada pelo membro 
do Ministério Público é que este não poderá ser removido ou privado de suas 
funções por questões políticas, bem como o fato deste não estar ligado a nenhuma 
organização política, tendo garantias constitucionais para tanto. 
Neste sentido Paulo Rangel136: 
A investigação criminal direta pelo Ministério Público é garantia 
constitucional da sociedade que tem o direito subjetivo público de exigir do 
Estado as medidas necessárias para reprimir e combater as condutas 
lesivas à ordem jurídica. 
Sendo assim, como o Ministério Público é o titular da ação penal, tem 
expressa previsão de poder colher as provas que achar pertinente para formar a 
opinião do magistrado, não tendo o que se falar quanto a legitimidade e legalidade 
de o fazer. 
O papel de investigar do Ministério Público decorre da função institucional, 
posto que o órgão ministerial não só pode conduzir a investigação criminal, mas 
fazê-la quando entender necessária, mediante procedimento administrativo próprio, 
sem estar obrigado a requisitar à autoridade policial as diligências investigatórias ou 
a instauração de inquérito e como já ressaltado acima, o inquérito é peça 
dispensável não tendo o condão de elidir o procedimento investigatório. 
Ferrajoli137 foi expresso (e textual) no sentido de que: 
[...] Não existem contradições entre o papel de investigação, de defesa da 
segurança e o papel garantista em relação aos direitos. No sentido em que 
somente a aplicação das garantias em relação aos direitos. No sentido em 
que somente a aplicação das garantias processuais, somente os vínculos 
garantias impostas também ao Ministério Público e à Polícia, que a meu ver 
deveria depender do Ministério Público, não somente no plano 
 
136
 RANGEL, Paulo. Investigação Criminal Direta pelo Ministério Público, Visão Crítica. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 257. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/12453/o-mais-recente-
entendimento-do-supremo-tribunal-federal-e-a-investigacao-criminal-pelo-ministerio-
publico/3#ixzz2datwAmNI 
137
 FERRAJOLI, Luigi. Poder de Investigação. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2013-mai-
13/thiago-avila-pensamento-ferrajoli-nao-combina-restricao-mp. 
85 
 
 
constitucional,mas no plano de investigação. Somente o respeito às 
garantias de defesa, de garantias processuais, muito rígidas, as provas, as 
contraprovas, podem assegurar a verificação da verdade, uma verificação 
plausível, da verdade, e das funções de segurança. Porque a segurança 
depende da aplicação da eficiência e, esta, por sua vez, existe e é válida 
quando possui condições de verificar a verdade processual. A ausência de 
garantias, a violação das garantias, priva no âmbito jurisdicional também as 
funções de segurança [...]‖ 
Ainda, o Ministério Público não age somente como parte na ação, seja ela de 
natureza criminal, civil, etc., mas age também como fiscal da lei, na condição de 
custus legis, visando garantir a eficácia aplicação da lei, buscando não só o direito 
de punir do Estado, mas também a observância e aplicação dos direitos e garantias 
constitucionalmente reconhecidas a todos. 
Denílson Feitoza Pacheco138 esclarece com grande propriedade as vantagens 
de uma investigação criminal ser realizada por quem seja o titular da ação penal: 
O drama e a tragédia da persecução criminal transcorrem cotidianamente 
num cenário formado por duas forças diretivas que colidem tensamente, 
acarretando a contrariedade fundamental da persecução criminal: quanto 
mais intensamente se procura demonstrar a existência do fato delituoso e 
sua autoria (princípio instrumental punitivo), mais se distância da garantia 
dos direitos fundamentais, e quanto mais intensamente se garantem os 
direitos fundamentais (princípio instrumental garantista), mais difícil se torna 
a coleta e a produção de provas que poderão demonstrar a existência do 
fato delituoso e sua autoria. 
Tanto os órgãos investigativos em geral, na investigação criminal, quanto o 
Ministério Público, no processo penal, enquanto órgãos estatais que 
também estão sujeitos aos objetivos fundamentais da República, têm o 
dever constitucional de perseguir também a efetividade dos direitos 
fundamentais, o que significa que devem buscar as provas que tanto 
demonstrem a existência quanto a inexistência do fato delitivo e autoria, 
bem como devem lutar tanto pela condenação quanto pela absolvição 
plena, se esta corresponde à verdade processual e à Justiça. Assim, 
independentemente da solução final do conflito de opiniões, grandes 
consequências sofrerão toda a sociedade brasileira, sendo estas benéficas 
ou não para a administração da justiça. 
O Conselho Nacional do Ministério Público editou a Resolução 13/2006139, 
que disciplina a instauração e a tramitação de procedimento investigatório criminal 
presidido por membro do Ministério Público. Denota-se que, com a edição da 
resolução, ocorreu uma formalização para os procedimentos investigatórios criminais 
presididos pelo Ministério Público. 
 
138
 PACHECO, Denilson Feitoza. O princípio da proporcionalidade no Direito Processual Penal 
Brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. Pág. 3. 
139
 Conselho Nacional do Ministério Público. Resolução 13/2006. Disponível em: 
http://2ccr.pgr.mpf.mp.br/legislacao/recomendacoes/docsresolucoes/resolucao_13_instauracao_e_tra
mitacao_do_procedimento_investigatorio_criminal.pdf 
86 
 
 
Nesta senda preleciona ainda o artigo 47140 do Código de Processo Penal: 
Se o Ministério Público julgar necessário maiores esclarecimentos e 
documentos complementares ou novos elementos de convicção, deverá 
requisitá-los, diretamente, a quaisquer autoridades ou funcionários que 
devam ou possam fornecê-los. 
Vale, igualmente, e por fim, referir três outros lavores, ostentando 
diversificada focalização do tema versado, Edison Miguel da Silva Júnior, Paulo 
Gustavo Guedes Fontes e Marcellus Polastri Lima141: 
Assere o primeiro que a falta de independência funcional do Delegado de 
Polícia [...] prejudica a persecução penal quando o investigado não é um 
cidadão comum – quando o investigado tem poderes, ou pode influenciar, 
na hierarquia policial. Assim, nesses casos, enquanto não se assegurar ao 
delegado independência funcional, o Ministério Público deve investigar. 
Fontes, por sua vez, afirmando que, tendo a Lei 8.439, de 02.06.1992, 
conferido ao Ministério Público a condução de inquéritos civis, para 
apuração de atos de improbidade administrativa, e existindo milhares deles 
espalhados pelo país, constituiria um absurdo jurídico e prático, com 
afronta, inclusive, ao princípio constitucional da eficiência, que deve pautar 
a atuação de todas as esferas estatais, a sua não aproveitação, para fins 
penais, quando, na sua realização, venha a ser apurada a prática de 
infração penal. E o último, assevera que [...] uma vez que não se defende 
aqui que o Ministério Público deva substituir a polícia em seu papel 
investigatório. Não. A polícia é que deve, primordialmente, investigar, 
quando tal se faça necessário, em nome, sobretudo, do princípio da 
obrigatoriedade que norteia o processo penal pátrio. 
Sendo assim não há que se falar em nulidade na investigação criminal 
realizada pelo Ministério Público, de modo que qualquer alegação em contrário se 
torna inócua diante de tantos entendimentos favoráveis a este instituto. 
O Desembargador Walter Guilherme em julgado do Habeas Corpus de São 
Paulo assevera que: 
[...] não havendo impedimento constitucional e nem legal, avulta a 
conveniência que, em certos casos, a investigação fique a cargo do 
Ministério Público, dada a maior eficiência que, presumivelmente, possa 
emprestar na busca da verdade material, em face das autoridades policiais 
que, por não possuírem o predicamento constitucional da inamovibilidade, 
 
140
 Código de Processo Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del3689.htm 
141
 SILVA JÚNIOR, Edison Miguel da; FONTES, Paulo Gustavo Guedes; LIMA, Marcellus Polastri. 
Investigação policial desenvolvida pelo Ministério Público e a Constitucionalidade. Disponível 
em: http://textolivre.com.br/artigos/8789-investigacao-policial-desenvilvida-pelo-ministerio-publico-e-a-
constitucionalidade 
87 
 
 
poderão ficar sujeitas a pressões e injunções de natureza pública ou de 
outra ordem [...].
142
 
Recentemente com a votação de rejeição da PEC 37/2011143, se confirmou o 
que a doutrina e jurisprudência já vinha consolidando. Hoje não se discute mais a 
constitucionalidade ou não da investigação criminal ser realizada pelo Ministério 
Público, sendo esta de suma importância para o combate ao crime e sendo 
reconhecida expressamente constitucional. 
Segundo Barroso144 em seu parecer sobre investigação criminal: 
Diversas situações recomendam a intervenção do Ministério Público por sua 
independência em relação aos Poderes estatais. Além disso, não é raro 
apurar-se o envolvimento de policiais em episódios de corrupção ou mesmo 
com o crime organizado. 
Devido ao deficiente sistema que ronda a polícia judiciária, leia-se polícia civil, 
o Ministério Público diante de crimes que envolvam organizações criminosas como, 
tráfico de drogas, crimes de colarinho branco, sequestros, roubos de carros, etc., 
tem o dever e a previsão de realizar investigações criminais. 
As organizações criminosas não estão só nas favelas ou no envolvimento 
com o tráfico de drogas, mas chegaram aos governantes, aos policiais, o 
envolvimento dos agentes públicos. Quando não participam efetivamente do grupo, 
são corrompidos para que a organização criminosa possa viabilizar a execução dos 
atos ilícitos, como já explanado no capítulo anterior. 
Nas palavras de Arthur Pinto de Lemos Junior145, citando Mingardi ao invocar 
a expressão de Paul Castelano, líder da Máfia de New York: ―Eu já não preciso mais 
de pistoleiros, agora quero deputados e senadores‖.Tal frase torna-se um ícone, eis 
que mostra que as organizações criminosas estão presentes dentro dos órgãos 
estatais, assim muitas vezes a investigação policial não identifica os ―chefões‖ do 
crime organizado. 
 
142
 Julgamento do Habeas Corpus 394.150-3/5 da Comarca de Santo André, em 05.11.2002, pela 
Terceira Câmara criminal do TJ-SP, rel. Desembargador Walter Guilherme. 
143
 Projeto de Emenda à Constituição nº. 37 de 2011. Disponível em: 
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=C43522BF9DD60913E10
BCDCE0B3BB254.node2?codteor=969478&filename=PEC+37/2011 
144
 BARROSO, Luís Roberto. Investigação pelo Ministério Público. Argumentos contrários e a 
favor. A síntese possível e necessária. Disponível em: 
http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/7/docs/parecer_barroso_-_investigacao_pelo_mp.pdf 
145
 LEMOS JUNIOR, Arthur Pinto de. A investigação criminal diante das organizações criminosas 
e o posicionamento do Ministério Público. Disponível em: 
http://www.justitia.com.br/artigos/95za30.pdf. 
88 
 
 
Nas palavras de Arthur Pinto de Lemos Junior146: 
[...] a Polícia Civil não instrui inquéritos policiais voltados a identificar 
responsáveis por organizações criminosas. 
Graves delitos são investigados e, muitas vezes, perigosos criminosos são 
surpreendidos e detidos. Contudo, a investigação policial, na maioria das 
vezes, não transcende da pessoa que está sendo surpreendida. E, assim, a 
organização criminosa atuante no crime acaba não sendo identificada. 
Assim, mesmo que seja preso o envolvido com a organização criminosa, 
outro integrante irá continuar com a atuação no crime. Se não for extinta a 
organização criminosa como um todo, esta continuará a agir e cada vez terá mais 
força e um número maior de integrantes. 
O combate ao crime organizado pelas polícias esta longe de ser um modelo 
para outros ordenamentos jurídicos, pois há a falta de confiabilidade no material 
gerado pela polícia, pela existência de organizações criminosas dentro dos sistemas 
estatais e pela falta de preparo na atuação contra tais organizações. 
Quando há o envolvimento de poder econômico ou político na investigação 
criminal, este acaba por abalar a investigação policial. 
Neste sentido, Arthur Pinto de Lemos Junior147: 
Não há como negar que o poder político ou econômico do investigado 
acaba abalando o sucesso da investigação policial. A uma porque a 
autoridade policial não goza da inamovibilidade e, assim, pode ser 
transferida a qualquer momento por designação de seu superior hierárquico, 
em face da investigação realizada. A duas, os agentes policiais são muito 
mais acessíveis à corrupção, não só pelo menor nível cultural, 
nomeadamente os carcereiros e investigadores de polícia, como também 
pelo baixo salário existente. 
Por todas essas razões, tem-se que há um profundo vazio nas investigações 
criminais realizadas pela polícia, gerando absoluta impunidade aos grandes 
criminosos. A Polícia Judiciária não possui o direito exclusivo de presidir a 
investigação criminal. O poder investigatório do Ministério Público decorre de sua 
própria função de Órgão Ministerial, titular exclusivo da ação penal pública, sendo 
amplamente previsto a possibilidade de proceder à realização de diligências 
 
146
 LEMOS JUNIOR, Arthur Pinto de. A investigação criminal diante das organizações criminosas 
e o posicionamento do Ministério Público. Disponível em: 
http://www.justitia.com.br/artigos/95za30.pdf. 
147
 LEMOS JUNIOR, Arthur Pinto de. A investigação criminal diante das organizações criminosas 
e o posicionamento do Ministério Público. Disponível em: 
http://www.justitia.com.br/artigos/95za30.pdf. 
89 
 
 
investigatórias pertinentes ao respectivo âmbito de atuação, a fim de elucidar a 
materialidade do crime e os indícios de autoria. 
Assim sendo, o Ministério Público é órgão legítimo para realizar investigações 
criminais, visando o combate ao crime organizado. 
De acordo com Arthur Pinto de Lemos Junior148: 
Com efeito, cabe ao Promotor de Justiça propor a ação penal, em 
decorrência da regra prevista no artigo 129, inciso I, da Constituição Federal 
e artigo 24 e seguintes do CPP. Diante dessa legitimidade exclusiva para a 
propositura da ação penal, será o Promotor de Justiça quem poderá indicar 
as provas necessárias para a formação de sua opinio delicti, além de poder 
antever, desde o início da investigação, quais serão as futuras teses 
defensivas dos acusados, o que é muito importante para o sucesso da 
pretensão acusatória do Estado. 
Dentre tantas investigações criminais já realizadas ao longo dos anos pelo 
Ministério Público, através de suas promotorias de justiça, forças tarefa ou em 
conjunto com a polícia militar, a grande maioria restou frutífera o combate as 
organizações criminosas, seja no combate ao tráfico de drogas ou nos crimes que 
envolviam políticos, resultando a prisão de muitos e até de policiais e agentes 
estatais que faziam parte da associação criminosa. 
Como bem ressalta Arthur Pinto de Lemos Junior: ―outrossim, como é cediço, 
a atuação de organizações criminosas compreende a corrupção de funcionários 
públicos e, com muita ênfase, a de policiais civis e militares.‖ 
As investigações criminais realizadas pelo Ministério Público visam à 
prevenção e repressão do crime organizado. 
Quando chegar ao conhecimento do membro do Ministério Público, prática de 
crime, este poderá instaurar procedimento administrativo, visando confirmar os fatos 
e para dar mais transparência ao seu trabalho. Após a instauração do procedimento, 
poderá coletar em gabinete as demais provas que achar pertinente, como a oitiva de 
testemunhas e envolvidos no fato, bem como requisitar diligências, requerer prisão 
cautelar ou outros meios de prova, a fim de localizar os demais envolvidos, como 
exemplo, no crime de tráfico de drogas e associação ao tráfico, muitas vezes 
necessário se faz a interceptação telefônica para se localizar todos os envolvidos, 
visando abolir a associação criminosa por completo. 
 
148
 LEMOS JUNIOR, Arthur Pinto de. A investigação criminal diante das organizações criminosas 
e o posicionamento do Ministério Público. Disponível em: 
http://www.justitia.com.br/artigos/95za30.pdf. 
90 
 
 
Cumpre ressaltar que é função do Ministério Público a manutenção da 
segurança pública, a qual não é só questão de polícia. Se é certa a existência de 
policiais nas organizações criminosas, não há dúvidas que se coloca em risco a 
segurança pública da sociedade, exigindo por parte do Ministério Público 
providências urgentes e rigorosas na repressão ao crime organizado. 
Nas palavras de Hugo Nigro Mazzili149: 
Se não se admitisse a possibilidade de apuração autônoma de crimes, por 
outros meios que não a polícia judiciária, haveria grave risco de inviabilizar-
se em certos casos a apuração administrativa de algumas infrações penais. 
Nota-se que se não houvesse a possibilidade de investigação criminal por 
parte do Ministério Público, haveria um crescimento das organizações criminosas, 
posto que não haveria meios concretos de investigar, deixando ainda mais falho o 
sistema penal brasileiro, acarretando com isso um crescimento exacerbado da 
criminalidade. 
Tem reconhecido a jurisprudência inexistir impedimento do promotor que 
investigou os fatos ou oficiou no inquérito policial, quando da ação penal (RT, 
580:433 — STF; RTJ, 107:98; JSTF, Lex, 56:328; Jurispenal, 46:94; JTACrimSP, 
Lex, 58:66): ―É pacífico o entendimento segundo o qual a atuação do Ministério 
Público, na fase do inquéritopolicial, tem justificativa na sua própria missão de titular 
da ação penal, sem que se configure usurpação da função policial ou venha a ser 
impedimento a que ofereça a denúncia‖ (RHC 61.110-9-RJ, STF, P T., j. 5-8-1983, 
Rel. Min. Rafael Mayer, DJU, 16 ago. 1983, p. 12714; JSTF, Lex, 58:365).150 
Com propriedade, Valter Foleto Santin151, conclui a respeito do assunto: 
Portanto, o Ministério Público tem o direito de efetuar investigações 
criminais autônomas, seja por ampliação da privatividade da ação penal, 
pelo principio da universalização das investigações ou do acesso à Justiça 
ou do direito humano da pessoa ser cientificada e julgada em tempo 
razoável (arts. 7º. e 8º. Da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, 
Pacto de San José), ou até por força do princípio do poder implícito, tudo 
em consonância com o ordenamento constitucional, O Estado Democrático 
de Direito, os fundamentos e objetivos fundamentais da República 
Federativa do Brasil. 
 
149
 MAZZILI, Hugo Nigro. Manual do Promotor de Justiça. Pág. 215. 
150
 MAZZILI, Hugo Nigro. Manual do Promotor de Justiça. Pág. 216. 
151
 SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na Investigação Criminal. 2ª. Edição, São Paulo, 
Ed. Edipro, 2007, pág. 249. 
91 
 
 
Nesta senda, conclui-se que não há impossibilidade ou inconstitucionalidade 
alguma na investigação criminal realizada pelo Ministério Público, ainda mais 
quando se tratar de crime organizado, posto que este se reveste de complexidade e 
envolto em vultuosas somas de dinheiro e conta com a participação de agentes 
estatais, os quais deveriam coibir a ação e acabam por se tornar um dos integrantes 
da organização criminosa, trazendo assim um enfraquecimento ao sistema jurídico 
penal, não se alcançando a punição adequada ao crime de gravidade social. 
Insta salientar as Ações Diretas de Inconstitucionalidade – ADI, que 
encontram-se em trâmite perante o Supremo Tribunal Federal. Conforme consta 
perante o Supremo Tribunal Federal152, a primeira foi interposta pela Associação dos 
Delegados de Polícia do Brasil – ADEPOL-BRASIL, impetrada em data de 10 de 
outubro de 2006, ADI nº. 3806, tendo como matéria a inconstitucionalidade dos 
artigos 7º, incisos I, II e III; 8º, incisos I, II, IV, V, VI, VII e IX; 38. I, II e III e 150, I, II e 
III, todos da Lei Complementar (LC) nº 75, de 20 de maio de 1993, que dispõe sobre 
a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União. A 
ADEPOL impugna, também, o artigo 26, inciso I, alíneas a, b e c, da Lei 8.625/1993, 
que institui a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, dispõe sobre normas 
gerais para a organização do Ministério Público dos Estados, entre outras 
providências. Por fim, pede que seja declarada a inconstitucionalidade total da 
Resolução nº 13/2006, do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que 
regulamenta a investigação criminal pelo Ministério Público. 
A ADEPOL-BRASIL argumenta que os poderes de investigação são 
atribuição exclusiva dos delegados de polícia e que, portanto, as normas atacadas 
afrontariam a Constituição Federal, sobretudo os seus artigos 2º; 5º, incisos II, LIII e 
LIV; 22, inciso I; 24, inciso XI; 129, incisos I, II, VI , VII e VIII e 144, parágrafo 1º, 
incisos I, II e IV e parágrafo 4º. 
A segunda ADI foi interposta pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, 
impetrada em data de 20 de dezembro de 2006, ADI nº. 3836, tendo como matéria a 
inconstitucionalidade da Resolução nº 13/2006, do CNMP, sob o fundamento de que 
o dispositivo, ao legislar sobre matéria processual penal, confronta a Constituição 
Federal em seu artigo 22, inciso I. Na ação, consta que a resolução confere poderes 
 
152
 Supremo Tribunal Federal. ADI nº. 3806. Disponível em: 
http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.j
sf?seqobjetoincidente=2425006 
92 
 
 
ao Ministério Público de conduzir investigações criminais, denominando tais 
investigações de ―procedimento investigatório criminal‖, matéria de competência 
privativa da União, conforme o inciso I, do artigo 22 da Constituição153. 
A OAB afirma ainda, segundo notícia publicada no Supremo Tribunal Federal, 
que as investigações criminais devem ser conduzidas, com exclusividade, pela 
polícia judiciária (polícia federal e polícias civis estaduais), nos termos no artigo 144 
combinado com o artigo 129, inciso VIII, da CF. ―Não está dentre as funções 
constitucionais do Ministério Público aquelas atinentes à polícia judiciária‖, deduz a 
OAB154. 
4.4.1 Entendimento do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais regionais 
Quanto ao entendimento dos tribunais sobre a investigação criminal realizada 
pelo Ministério Público, a Corte Paranaense pacificou tal questão: 
CRIMINAL. RECURSO DE APELAÇÃO. CONDENAÇÃO PELOS CRIMES 
DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA OU BANDO ARMADO (ART. 288, PAR. 
ÚNICO, DO CP) E DE ROUBO "CIRCUNSTANCIADO" (ART. 157, § 2º, 
INCISOS I E II, DO CP). APELO MINISTERIAL. INTERPOSIÇÃO 
EXTEMPORÂNEA. INOBSERVÂNCIA DA REGRA CONTIDA NO ARTIGO 
593 DO CPP. INTEMPESTIVIDADE CONFIGURADA. RECURSO NÃO 
CONHECIDO. APELO DA DEFESA. ARGUIÇÃO DE PRELIMINARES, 
VISANDO A NULIDADE AB INITIO DO PROCESSO-CRIME. MÉRITO QUE 
SE REPORTA À FRAGILIDADE PROBATÓRIA E PLEITEIA A 
ABSOLVIÇÃO DO RÉU. PRETENSÃO ALTERNATIVA DE 
RECONHECIMENTO DA PRÁTICA DOS CRIMES NAS FORMAS 
SIMPLES, BEM COMO DE REDUÇÃO DE PENA. INÉPCIA DA 
DENÚNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. CONDUTA DELITIVA PLENAMENTE 
DESCRITA NA PEÇA ACUSATÓRIA. OBSERVÂNCIA À REGRA DO 
ARTIGO 43 DO CPP. SUSPEIÇÃO DE PROMOTOR DE JUSTIÇA 
SUBSCRITOR DA DENÚNCIA. INICIAL ACUSATÓRIA SUBSCRITA POR 
VÁRIOS PROMOTORES. VÍCIO NÃO IDENTIFICADO. IMPARCIALIDADE 
DO ÓRGÃO ACUSADOR RESPEITADA. INOBSERVÂNCIA ÀS REGRAS 
DO ARTIGO 513 E SEGUINTES, DO CPP. RÉU QUE RESPONDEU AO 
PROCESSO NA QUALIDADE DE 'FUNCIONÁRIO PÚBLICO'. 
IRRELEVÂNCIA. PROCEDIMENTO ESPECIAL SOMENTE APLICÁVEL 
AOS CASOS EM QUE SE APURA CRIME FUNCIONAL (ART. 312 E 
SEGUINTES, DO CP). RECEBIMENTO DA DENÚNCIA CARENTE DE 
MOTIVAÇÃO. AVENTADA INOBSERVÂNCIA AO ART. 93, INCISO IX, DA 
CF. NÃO OCORRÊNCIA. NATUREZA DO DESPACHO QUE DISPENSA A 
FUNDAMENTAÇÃO. INVESTIGAÇÃO REALIZADA EM PROCESSO 
ADMINISTRATIVO INSTAURADO PELO MINSTÉRIO PÚBLICO, E POR 
ELE CONDUZIDO. ADMISSIBILIDADE. ATRIBUIÇÕES CONFERIDAS AO 
 
153
 Supremo Tribunal Federal. ADI nº. 3836. Disponível em: 
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=68740&caixaBusca=N 
154
 Supremo Tribunal Federal. ADI nº. 3836. Disponível em: 
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=68740&caixaBusca=N 
93 
 
 
MP PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E POR SUA LEI ORGÂNICA. 
PARTICIPAÇÃO DO ÓRGÃO ACUSADOR NAS INVESTIGAÇÕES QUE 
NÃO ACARRETA SUA SUSPEIÇÃO OU IMPEDIMENTO. INTELIGÊNCIA 
À SÚMULA 234 DO STJ. CERCEAMENTO DE DEFESA POR NEGATIVA 
DE DESENTRANHAMENTO DO PROCEDIMENTO DE INTERCEPTAÇÃO 
TELEFÔNICA. VÍCIO INEXIXTENTE. LEGALIDADE DA PROVA. PLENA 
CIÊNCIA ÀS PARTES QUANTO AO CONTEÚDO DAS GRAVAÇÕES. 
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS RESPEITADOS. DILIGÊNCIA 
REALIZADA DENTRO DOS PARÂMETROS CONSTITUCIONAIS E 
LEGAIS, AUTORIZADO POR JUÍZO COMPETENTE, PARA A 
INSTRUÇÃO DE PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO CRIMINAL, 
FUNDAMENTADA EM RAZÃO DA NECESSIDADE EXPLICITADA. 
PRELIMINARES REJEITADAS. MÉRITO RECURSAL. PRETENSA 
ABSOLVIÇÃO QUANTO AOS CRIMES DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA E 
DE ROUBO. AVENTADA INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. TESE 
PARCIALMENTE ACATADA. DO CRIME DE ROUBO. AUSÊNCIA DE 
PROVA NOS AUTOS QUE APONTE PARA O RÉU COMO CO-AUTOR OU 
PARTÍCIPE DO ILÍCITO. AUSÊNCIA DE EVIDÊNCIAS QUANTO ÀPRÁTICA DE ATOS PREPARATÓRIOS OU EXECUTÓRIOS DO CRIME. 
AUXÍLIO DO RÉU AOS AUTORES DO CRIME NÃO NARRADO NA PEÇA 
ACUSATÓRIA INICIAL, E OCORRIDO DEPOIS DE JÁ CONSUMADO O 
ROUBO. CONDUTA QUE CARACTERIZA O FAVORECIMENTO REAL 
(ART. 349 DO CP), IMPUNÍVEL ANTE A INEXISTÊNCIA DE DESCRIÇÃO 
FÁTICA NA DENÚNCIA. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 384 DO CPP 
EM SEGUNDA INSTÂNCIA. ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE, NOS 
TERMOS DO ARTIGO 386, VI, DO CPP. DO CRIME DE FORMAÇÃO DE 
QUADRILHA OU BANDO. SUFICIÊNCIA PROBATÓRIA A ENSEJAR A 
CONDENAÇÃO. DECISÃO MONOCRÁTICA ACERTADAMENTE 
BASEADA NO CONTEÚDO DAS CONVERSAS TELEFÔNICAS, 
CORROBORADAS PELA PROVA ORAL PRODUZIDA EM JUÍZO. 
ABSOLVIÇÃO INVIABILIZADA. APENAMENTO. DESCONSIDERAÇÃO DA 
PENA REFERENTE AO CRIME DE ROUBO. READEQUAÇÃO QUANTO À 
APLICAÇÃO DO CRITÉRIO TRIFÁSICO. MANUTENÇÃO DA PENA 
DEFINITIVA REFERENTE AO CRIME DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA 
OU BANDO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 3ª C.Criminal 
- AC 404741-0 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de 
Curitiba - Rel.: Sonia Regina de Castro - Unânime - J. 17.01.2008).
155
 
Nesse sentido também é o entendimento da Corte Catarinense: 
 HABEAS CORPUS - ARGUIÇÃO DE NULIDADE DA INVESTIGAÇÃO 
CRIMINAL POR TER SIDO REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO - 
NÃO OCORRÊNCIA - COMPETÊNCIA MINISTERIAL GARANTIDA PELA 
CF/88 - PROCESSO COM INSTRUÇÃO CONCLUÍDA - SUPOSTA 
ILEGALIDADE SUPERADA - ORDEM DENEGADA. (TJSC, Habeas Corpus 
n. 2003.019054-6, de Blumenau, rel. Des. Torres Marques, j. 09-09-
2003).
156
 
APELAÇÕES CRIMINAIS - CRIMES DE CORRUPÇÃO PASSIVA 
CIRCUNSTANCIADA EM CONTINUIDADE DELITIVA (CP, ART. 317, §1º 
C/C ART. 71) E QUADRILHA (CP, ART. 288), AMBOS EM CONCURSO 
MATERIAL (CP, ART. 69) - NULIDADES - POSSIBILIDADE DE 
INICIATIVA INVESTIGATÓRIA POR PARTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO - 
 
155
 TJPR - 3ª C.Criminal - AC 404741-0 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de 
Curitiba - Rel.: Sonia Regina de Castro - Unânime - J. 17.01.2008. 
156
 SANTA CATARINA, Tribunal de Justiça do Estado de. Habeas Corpus n. 2003.019054-6. Rel. 
Des. Torres Marques. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/busca.do 
94 
 
 
ATRIBUIÇÃO NÃO EXCLUSIVA DA POLÍCIA JUDICIÁRIA - AMPLO 
PAPEL DO PARQUET EM INSTAURAR A INVESTIGAÇÃO - 
POSSIBILIDADE DE OFERECIMENTO DA AÇÃO PENAL SEM PRÉVIO 
INQUÉRITO POLICIAL INSTAURADO - PRECEDENTES DO STF - 
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA REALIZADA - ALEGADA VIOLAÇÃO AO 
DISPOTO NO ART.5º, DA LEI N. 9.269/96 - INOCORRÊNCIA - DECISÃO 
QUE DECRETOU A QUEBRA DO SIGILO TELEFÔNICO DEVIDAMENTE 
FUNDAMENTADA E EM ESTRITA OBSERVÂNCIA AOS REQUISITOS 
LEGAIS - RENOVAÇÃO DO ATO POR SUCESSIVAS VEZES - 
POSSIBILIDADE - ALEGADO CERCEAMENTO DE DEFESA ANTE O 
INDEFERIMENTO DE PERÍCIA CONTÁBIL - INOCORRÊNCIA - 
ELEMENTOS NOS AUTOS DANDO CONTA DA ORDEM CRONOLÓGICA 
DE PAGAMENTO - EXAME DISPENSÁVEL (CPP, ART. 184) - PROVA 
EMPRESTADA - ADMISSIBILIDADE - TERMO DE DEPOIMENTOS DOS 
CORRÉUS PRESTADOS EM PROCESSO CINDIDO E ANEXADOS AOS 
PRESENTES AUTOS - PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA 
DEFESA RESPEITADOS - AUSÊNCIA DE PREJUÍZO - CONDENAÇÃO 
QUE NÃO SE BASEIA EXCLUSIVAMENTE NOS ALUDIDOS 
DOCUMENTOS - PREFACIAIS RECHAÇADAS - MÉRITO - AUTORIA E 
MATERIALIDADE DO DELITO DE CORRUPÇÃO PASSIVA 
CIRCUNSTÂNCIADA COMPROVADA - CONFISSÃO PARCIAL EM JUÍZO 
DE UM DOS CORRÉUS CORROBORADAS PELOS DEMAIS ELEMENTOS 
DE PROVAS, NOTADAMENTE DIANTE DAS PALAVRAS DE 
TESTEMUNHAS E DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS REALIZADAS 
- CONDENAÇÃO MANTIDA - FORMAÇÃO DE QUADRILHA - AUSÊNCIA 
DE ELEMENTO OBJETIVO DO TIPO - NÃO COMPROVAÇÃO DA 
EXISTÊNCIA DE NO MÍNIMO QUATRO AGENTES - ESTABILIDADE E 
PERMANÊNCIA NÃO DEMONSTRADAS - ABSOLVIÇÃO DECRETADA - 
DOSIMETRIA - PENA-BASE - PLEITO DE REDUÇÃO AO MÍNIMO LEGAL 
- INVIABILIDADE - CONSEQUÊNCIAS DO CRIME - AUMENTO 
PROCEDIDO EM DESCONFORMIDADE COM A ORIENTAÇÃO ADOTADA 
POR ESTE ÓRGÃO JULGADOR - READEQUAÇÃO DEVIDA - 
CULPABILIDADE E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME - INCONGRUÊNCIAS 
VERIFICADAS - EXCLUSÃO - PENA-BASE REDUZIDA - CONTINUIDADE 
DELITIVA (CP, ART. 71) - MAJORAÇÃO DA REPRIMENDA EM 2/3 - 
IMPOSSIBILIDADE - PRECEDENTES DA CÂMARA - ADEQUAÇÃO DO 
PATAMAR APLICADO - MAJORAÇÃO PROPORCIONAL AO NÚMERO DE 
DELITOS. I - Não há falar-se em impossibilidade de iniciativa investigatória 
do Ministério Público, haja vista que a outorga constitucional de funções de 
polícia judiciária à instituição policial não impede nem tampouco exclui a 
possibilidade de o Ministério Público de determinar a abertura de inquéritos 
policiais, bem como de requisitar esclarecimentos e diligências 
investigatórias, até porque, ainda que inexista qualquer espécie de 
investigação penal promovida pela Polícia Judiciária, o Parquet, ainda 
assim, pode fazer instaurar, validamente, a pertinente ação penal, desde 
que disponha de elementos mínimos de informação, de modo que o 
disposto no art. 144, § 1º, IV, da CF/88, de fato, não impede a atividade de 
investigação criminal do Ministério Público II - Não há falar em nulidade da 
decisão que decretou a interceptação telefônica dos acusados, quando 
esta, além de ser devidamente fundamentada, obedece os requisitos legais 
previstos no art. 2º, da Lei n. 9.296/96, notadamente "se, naquele momento, 
à cognição sumária do juiz a quebra do sigilo da comunicação telefônica 
pareceu ser o único meio disponível para a obtenção da prova, a 
autorização terá sido lícita e não perderá essa característica se se 
constatar, depois, a possibilidade de utilização de provas colhidas por 
outros meios.". (Ada Pellegrini Grinover, O regime brasileiro das 
interceptações telefônicas, Revista Forense, v. 338, 1997, p.10). 
Outrossim, ainda que o art. 5º, da Lei n. 9.296/96 determine que a 
interceptação telefônica "[...] não poderá exceder o prazo de quinze dias, 
renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do 
95 
 
 
meio de prova", vale frisar que o Supremo Tribunal Federal já assentou 
entendimento de que "persistindo os pressupostos que conduziram à 
decretação da interceptação telefônica, não há obstáculos para sucessivas 
prorrogações, desde que devidamente fundamentadas, nem ficam 
maculadas como ilícitas as provas derivadas da interceptação." (RHC n. 
85575/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, j. em 28-3-2006). III - Com relação à 
produção da prova no âmbito criminal, ao magistrado, condutor do 
processo, é conferida a faculdade de apreciar a sua pertinência ao deslinde 
da questão, conferindo-lhe a lei a faculdade de indeferir aquela que julgar 
meramente irrelevante, impertinente ou protelatória (CPP, art. 400, §1º), e, 
haja vista a premissa legal de que "o juiz não ficará adstrito ao laudo, 
podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte" (CPP, art. 182), o 
próprio julgador, por meio de decisão devidamente fundamentada, poderá 
negar a diligência requerida quando não for necessária ao esclarecimento 
da verdade (CPP, art. 184)", mormente quando há nos autos elementos 
probatórios dando conta do conteúdo que resultaria de eventual perícia 
realizada. IV - Revela-se plenamente admissível a juntada de prova 
emprestada de feito criminal coincido em relação ao réu, quando, além de 
sua condenação não ter se baseado exclusivamente em tais documentos, é 
oportunizado o exercício do contraditório e da ampla defesa, não havendo, 
portanto, prejuízo a defesa. V - A consumação do delito de corrupção 
passiva (CPP, art. 317) opera-se no instante em que ocorre o recebimento 
ou solicitação da vantagem indevida, ao passo que se em consequência de 
tal vantagem ou promessa, o agente deixa de praticar ato de ofício ou o 
pratica infringindo dever funcional, tal circunstância apenas possui reflexos 
na fase de aplicação da pena, por constituir causa especial de aumento, 
sem contudo implicar na alteração do momento consumativo do delito.Assim sendo, não há óbices para ensejar o decreto condenatório pela 
prática do crime de corrupção passiva quando os elementos que compõem 
o substrato probatório conduzirem à autoria do delito, consubstanciado em 
declarações firmes de um dos acusados confessando em juízo a prática 
delitiva, aliadas aos dizeres do corréu e dos depoimentos testemunhais, 
além do conteúdo minucioso das conversas telefônicas interceptadas, 
dando conta das condutas ilícitas praticadas. De outro norte, para a 
configuração do crime de formação de quadrilha ou bando é preciso, além 
da prova cabal da existência de no mínimo quatro agentes, que entre eles 
exista vínculo associativo permanente e estável, visando à prática delituosa. 
No caso, além de inexistir prova escorreita do elemento objetivo do tipo, não 
restou devidamente comprovado o vínculo associativo permanente para fins 
criminosos, o que conduz, inarredavelmente, à absolvição do réu por 
ausência de provas. IV - Diante da comprovação das circunstâncias 
judiciais desfavoráveis, não há óbices para fixação da pena acima do 
mínimo legal. Ademais, não obstante inexista na legislação penal qualquer 
indicação específica da fração a ser agregada ou reduzida da pena frente à 
constatação de circunstâncias legais, a orientação predominante deste 
egrégio Tribunal de Justiça é no sentido de adotar-se, no cálculo, a quantia 
de 1/6 (um sexto), a incidir sobre sobre a pena-base. Contudo, em não 
havendo nos autos elementos que atestem como grave a culpabilidade do 
réu, haja vista não restar demonstrado que as circunstâncias pessoais e 
fáticas assim devem fazer presumir, não se justifica a majoração de pena 
em relação a esta circunstância judicial. Da mesma forma, a circunstância 
do crime, reconhecida pelo magistrado a quo como desfavorável ao 
acusado, não deve assim ser considerada, pois trata-se de elemento 
inerente ao tipo penal. V - A majoração decorrente do reconhecimento do 
crime continuado deve levar em conta o número de delitos praticados, 
procedendo-se ao acréscimo, que varia de um sexto até dois terços, sobre a 
pena prevista mais grave. Neste sentido, para dois crimes, aumenta-se a 
pena em um sexto; para três delitos eleva-se em um quinto; para quatro 
crimes, aumenta-se em um quarto; para cinco crimes, eleva-se em um 
terço; para seis delitos, aumenta-se na metade; para sete ou mais infrações, 
96 
 
 
eleva-se em dois terços. (TJSC, Apelação Criminal n. 2010.038000-2, de 
Joinville, rel. Des. Salete Silva Sommariva, j. 18-10-2011).
157
 
Ainda nessa mesma senda colaciona-se os entendimentos a seguir: 
EMENTA: HABEAS CORPUS - ARTIGO 1º, INCISO I, DA LEI Nº - 8176/91 
E QUADRILHA - PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO CRIMINAL 
INSTAURADO E CONDUZIDO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO - 
POSSIBILIDADE - ILEGALIDADE DAS ESCUTAS TELEFÔNICAS - 
AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO - VIOLAÇÃO DOS ARTS. 5º, DA LEI 
9296/96 E 93, IX, DA CR/88 - INOCORRÊNCIA - PRISÃO TEMPORÁRIA 
CONVERTIDA EM CUSTÓDIA PREVENTIVA - DECISÃO 
FUNDAMENTADA - PROVA DA MATERIALIDADE E INDÍCIOS 
SUFICIENTES DA AUTORIA DELITIVA - PRESENÇA DOS 
PRESSUPOSTOS DO ART. 312 DO CPP - NECESSIDADE DE GARANTIA 
DA ORDEM PÚBLICA - APLICAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES 
DIVERSAS DA PRISÃO - INADEQUADAS - PRISÃO DOMICILIAR - 
INVIABILIDADE - PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E PRISÃO 
PROCESSUAL - COMPATIBILIDADE - CONDIÇÕES PESSOAIS 
FAVORÁVEIS - INSUFICIÊNCIA - AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO 
ILEGAL - CASSADA A LIMINAR. ORDEM DENEGADA. 1. Admitida, 
implicitamente, pela Constituição Federal de 1988, a qual, em momento 
algum, restringiu a investigação preliminar à polícia civil, bem como 
fulcrada em farta legislação infraconstitucional e regulamentada pela 
Resolução nº 13/06 do Conselho Nacional do Ministério Público, a 
investigação criminal, realizada diretamente pelo Parquet, encontra 
guarida em nosso ordenamento jurídico. 2. A Teoria dos Poderes 
Implícitos, de origem norte - americana, autoriza que o órgão 
Ministerial extraia do constitucional poder de promoção da ação penal 
pública a possibilidade de conduzir suas próprias investigações, com 
o fito de formar a sua opinio delicti (art. 129, I, da CF/88). 3. Se o 
Ministério Público realiza o controle externo da atividade - fim da 
polícia, tem a mencionada instituição, essencial à garantia da ordem 
jurídica, logicamente, competência para conduzir investigações 
criminais motu próprio (art. 129, VII, da CF/88). 4. Se o órgão Ministerial 
pode o mais, ou seja requisitar a instauração de inquérito e diligências 
investigatórias, logicamente poderá o menos, ou seja, di spensá-lo e 
realizar, diretamente, a colheita da prova, devendo-se aplicar aqui o 
brocardo latino do qui potest maius, potest et minus (art. 129, VIII, da 
CF/88). 5. A decisão do Magistrado Singular, que acolhe os argumentos 
exarados exaustivamente pelo Parquet, a fim de deferir pedido de 
interceptação telefônica, não carece de fundamentação, se os motivos 
levados a cabo pelo Representante do Ministério Público se harmonizam 
com as exigências legais vigentes. 6. O evidente acolhimento dos 
fundamentos exarados no requerimento Ministerial, por parte do decisum 
que defere a interceptação telefônica, não traduz, por si só, ofensa ao artigo 
93, inciso IX, da Constituição Federal. 7. Persistindo os pressupostos que 
conduziram à decretação da interceptação telefônica, não há óbice legal 
para sucessivas prorrogações, desde que devidamente fundamentadas. 8. 
A decisão que convolou a prisão temporária em custódia preventiva 
encontra-se devidamente fundamentada, uma vez que observou as 
exigências dispostas nos artigos 93, inciso, IX, da Constituição Federal e 
312, 313, inciso I e 315, todos do Código de Processo Penal. 9. A presença 
nos autos de prova da materialidade e indícios suficientes da autoria dos 
delitos imputados ao Paciente apontam para a necessidade da sua custódia 
cautelar, especialmente, para garantir a ordem pública, nos termos do 
 
157
 TJSC, Apelação Criminal n. 2010.038000-2, de Joinville. Rel. Des. Salete Silva Sommariva. 
97 
 
 
estatuído no artigo 312 do Código de Processo Penal. 10. A prisão 
preventiva se justifica pela presença dos requisitos do artigo 312, do Código 
de Processo Penal, além da aplicação do artigo 313, caput e inciso I, do 
mesmo diploma legal, já que o delito tipificado no artigo 1º, inciso I, da Lei nº 
8176/91 é doloso e punido com pena privativa de liberdade máxima superior 
a quatro (04) anos. 11. As medidas cautelares diversas da prisão preventiva 
revelam-se inadequadas e insuficientes em face das circunstâncias do caso 
e do modus operandi do delito. 12. Inexistindo comprovação inequívoca da 
gravidade da doença do Paciente e do estado real. (Habeas Corpus 
 1.0000.12.091489-0/000, Relator(a): Des.(a) Rubens Gabriel Soares , 6ª 
CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 08/11/2012, publicação da súmula em 
14/11/2012)
158
 
Ementa: REVISÃO CRIMINAL. CONCUSSÃO. (ART. 316, CP). 
INVESTIGAÇÃO PRESIDIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. 
POSSIBILIDADE. Sendo o Ministério Público o titular da ação penal, é 
evidente que poderá proceder investigações, tendo em vista 
oferecimento da denúncia. É lícita a gravação ambiental de diálogo 
realizada por um dos interlocutores. A revisão criminal não pode ser 
utilizada para reexame de questões enfrentadas em segundo grau como se 
fosse segunda apelação. Pedido indeferido. (Revisão Criminal Nº 
70032311730, Segundo Grupo de Câmaras Criminais, Tribunal de Justiça 
do RS, Relator: Aristides Pedroso de Albuquerque Neto, Julgado em 
12/03/2010)
159
 
Precedentes do Supremo Tribunal Federal: 
E M E N T A: "HABEAS CORPUS" - CRIME DE PECULATO ATRIBUÍDO A 
CONTROLADORES DE EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS 
PÚBLICOS, DENUNCIADOS NA CONDIÇÃO DE FUNCIONÁRIOS 
PÚBLICOS (CP, ART. 327) - ALEGAÇÃO DE OFENSAAO PATRIMÔNIO 
PÚBLICO - POSSIBILIDADE DE O MINISTÉRIO PÚBLICO, FUNDADO EM 
INVESTIGAÇÃO POR ELE PRÓPRIO PROMOVIDA, FORMULAR 
DENÚNCIA CONTRA REFERIDOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS (CP, 
ART. 327) - VALIDADE JURÍDICA DESSA ATIVIDADE INVESTIGATÓRIA 
- LEGITIMIDADE JURÍDICA DO PODER INVESTIGATÓRIO DO 
MINISTÉRIO PÚBLICO, NOTADAMENTE PORQUE OCORRIDA, NO 
CASO, SUPOSTA LESÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO - MONOPÓLIO 
CONSTITUCIONAL DA TITULARIDADE DA AÇÃO PENAL PÚBLICA 
PELO "PARQUET" - TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS - CASO 
"McCULLOCH v. MARYLAND" (1819) - MAGISTÉRIO DA DOUTRINA 
(RUI BARBOSA, JOHN MARSHALL, JOÃO BARBALHO, MARCELLO 
CAETANO, CASTRO NUNES, OSWALDO TRIGUEIRO, v.g.) - OUTORGA, 
AO MINISTÉRIO PÚBLICO, PELA PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO DA 
REPÚBLICA, DO PODER DE CONTROLE EXTERNO SOBRE A 
ATIVIDADE POLICIAL - LIMITAÇÕES DE ORDEM JURÍDICA AO PODER 
INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO - "HABEAS CORPUS" 
INDEFERIDO. NAS HIPÓTESES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA, O 
 
158
 MINAS GERAIS, Tribunal de Justiça do Estado de. Habeas Corpus nº. 1.0000.12.091489-0/000. 
Relator(a): Des.(a) Rubens Gabriel Soares. Disponível em: 
http://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/ementaSemFormatacao.jsp 
159
 RIO GRANDE DO SUL, Tribunal de Justiça do Estado de. Revisão Criminal Nº 70032311730. 
Relator: Aristides Pedroso de Albuquerque Neto. Disponível em: 
http://www.tjrs.jus.br/busca/?q=investiga%E7%E3o+criminal+realizada+pelo+Minist%E9rio+P%FAblic
o+possibilidade&tb=jurisnova&pesq=ementario&partialfields=tribunal%3ATribunal%2520de%2520Jus
ti%25C3%25A7a%2520do%2520RS.%28TipoDecisao%3Aac%25C3%25B3rd%25C3%25A3o%7CTip
oDecisao%3Amonocr%25C3%25A1tica%7CTipoDecisao%3Anull%29&requiredfields=&as_q=&ini=20 
98 
 
 
INQUÉRITO POLICIAL, QUE CONSTITUI UM DOS DIVERSOS 
INSTRUMENTOS ESTATAIS DE INVESTIGAÇÃO PENAL, TEM POR 
DESTINATÁRIO PRECÍPUO O MINISTÉRIO PÚBLICO. - O inquérito 
policial qualifica-se como procedimento administrativo, de caráter pré-
processual, ordinariamente vocacionado a subsidiar, nos casos de infrações 
perseguíveis mediante ação penal de iniciativa pública, a atuação 
persecutória do Ministério Público, que é o verdadeiro destinatário dos 
elementos que compõem a "informatio delicti". Precedentes. - A 
investigação penal, quando realizada por organismos policiais, será sempre 
dirigida por autoridade policial, a quem igualmente competirá exercer, com 
exclusividade, a presidência do respectivo inquérito. - A outorga 
constitucional de funções de polícia judiciária à instituição policial não 
impede nem exclui a possibilidade de o Ministério Público, que é o "dominus 
litis", determinar a abertura de inquéritos policiais, requisitar esclarecimentos 
e diligências investigatórias, estar presente e acompanhar, junto a órgãos e 
agentes policiais, quaisquer atos de investigação penal, mesmo aqueles sob 
regime de sigilo, sem prejuízo de outras medidas que lhe pareçam 
indispensáveis à formação da sua "opinio delicti", sendo-lhe vedado, no 
entanto, assumir a presidência do inquérito policial, que traduz atribuição 
privativa da autoridade policial. Precedentes. A ACUSAÇÃO PENAL, PARA 
SER FORMULADA, NÃO DEPENDE, NECESSARIAMENTE, DE PRÉVIA 
INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL. - Ainda que inexista qualquer 
investigação penal promovida pela Polícia Judiciária, o Ministério Público, 
mesmo assim, pode fazer instaurar, validamente, a pertinente "persecutio 
criminis in judicio", desde que disponha, para tanto, de elementos mínimos 
de informação, fundados em base empírica idônea, que o habilitem a 
deduzir, perante juízes e Tribunais, a acusação penal. Doutrina. 
Precedentes. A QUESTÃO DA CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DE 
EXCLUSIVIDADE E A ATIVIDADE INVESTIGATÓRIA. - A cláusula de 
exclusividade inscrita no art. 144, § 1º, inciso IV, da Constituição da 
República - que não inibe a atividade de investigação criminal do 
Ministério Público - tem por única finalidade conferir à Polícia Federal, 
dentre os diversos organismos policiais que compõem o aparato 
repressivo da União Federal (polícia federal, polícia rodoviária federal e 
polícia ferroviária federal), primazia investigatória na apuração dos 
crimes previstos no próprio texto da Lei Fundamental ou, ainda, em 
tratados ou convenções internacionais. - Incumbe, à Polícia Civil dos 
Estados-membros e do Distrito Federal, ressalvada a competência da 
União Federal e excetuada a apuração dos crimes militares, a função 
de proceder à investigação dos ilícitos penais (crimes e 
contravenções), sem prejuízo do poder investigatório de que dispõe, 
como atividade subsidiária, o Ministério Público. - Função de polícia 
judiciária e função de investigação penal: uma distinção conceitual 
relevante, que também justifica o reconhecimento, ao Ministério 
Público, do poder investigatório em matéria penal. Doutrina. É PLENA 
A LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO PODER DE INVESTIGAR DO 
MINISTÉRIO PÚBLICO, POIS OS ORGANISMOS POLICIAIS (EMBORA 
DETENTORES DA FUNÇÃO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA) NÃO TÊM, NO 
SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO, O MONOPÓLIO DA COMPETÊNCIA 
PENAL INVESTIGATÓRIA. - O poder de investigar compõe, em sede 
penal, o complexo de funções institucionais do Ministério Público, que 
dispõe, na condição de "dominus litis" e, também, como expressão de 
sua competência para exercer o controle externo da atividade policial, 
da atribuição de fazer instaurar, ainda que em caráter subsidiário, mas 
por autoridade própria e sob sua direção, procedimentos de 
investigação penal destinados a viabilizar a obtenção de dados 
informativos, de subsídios probatórios e de elementos de convicção 
que lhe permitam formar a "opinio delicti", em ordem a propiciar 
eventual ajuizamento da ação penal de iniciativa pública. Doutrina. 
Precedentes: RE 535.478/SC, Rel. Min. ELLEN GRACIE - HC 91.661/PE, 
99 
 
 
Rel. Min. ELLEN GRACIE - HC 85.419/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO - 
HC 89.837/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO. CONTROLE 
JURISDICIONAL DA ATIVIDADE INVESTIGATÓRIA DOS MEMBROS DO 
MINISTÉRIO PÚBLICO: OPONIBILIDADE, A ESTES, DO SISTEMA DE 
DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS, QUANDO EXERCIDO, PELO 
"PARQUET", O PODER DE INVESTIGAÇÃO PENAL. - O Ministério 
Público, sem prejuízo da fiscalização intra--orgânica e daquela 
desempenhada pelo Conselho Nacional do Ministério Público, está 
permanentemente sujeito ao controle jurisdicional dos atos que 
pratique no âmbito das investigações penais que promova "ex propria 
auctoritate", não podendo, dentre outras limitações de ordem jurídica, 
desrespeitar o direito do investigado ao silêncio ("nemo tenetur se 
detegere"), nem lhe ordenar a condução coercitiva, nem constrangê-lo 
a produzir prova contra si próprio, nem lhe recusar o conhecimento 
das razões motivadoras do procedimento investigatório, nem submetê-
lo a medidas sujeitas à reserva constitucional de jurisdição, nem 
impedi-lo de fazer-se acompanhar de Advogado, nem impor, a este, 
indevidas restrições ao regular desempenho de suas prerrogativas 
profissionais (Lei nº 8.906/94, art. 7º, v.g.). - O procedimento 
investigatório instaurado pelo Ministério Público deverá conter todas 
as peças, termos de declarações ou depoimentos, laudos periciais e 
demais subsídios probatórios coligidos no curso da investigação, não 
podendo, o "Parquet", sonegar, selecionar ou deixar de juntar, aos 
autos, quaisquer desses elementos de informação, cujo conteúdo, por 
referir-se ao objeto da apuração penal, deve ser tornado acessível 
tanto à pessoa sob investigação quanto ao seu Advogado. - O regime 
de sigilo, sempre excepcional, eventualmente prevalecente no 
contexto de investigação penal promovida pelo Ministério Público, não 
se revelará oponível ao investigado e ao Advogado por este 
constituído, que terão direito de acesso - considerado o princípio da 
comunhão das provas - a todos os elementos de informação que já 
tenham sidoformalmente incorporados aos autos do respectivo 
procedimento investigatório. (HC 94173, Relator(a): Min. CELSO DE 
MELLO, Segunda Turma, julgado em 27/10/2009, DJe-223 DIVULG 26-11-
2009 PUBLIC 27-11-2009 EMENT VOL-02384-02 PP-00336)
160 
E M E N T A: "HABEAS CORPUS" - CRIMES DE TRÁFICO DE DROGAS E 
DE CONCUSSÃO ATRIBUÍDOS A POLICIAIS CIVIS - POSSIBILIDADE DE 
O MINISTÉRIO PÚBLICO, FUNDADO EM INVESTIGAÇÃO POR ELE 
PRÓPRIO PROMOVIDA, FORMULAR DENÚNCIA CONTRA REFERIDOS 
AGENTES POLICIAIS - VALIDADE JURÍDICA DESSA ATIVIDADE 
INVESTIGATÓRIA - CONDENAÇÃO PENAL IMPOSTA AOS POLICIAIS - 
LEGITIMIDADE JURÍDICA DO PODER INVESTIGATÓRIO DO 
MINISTÉRIO PÚBLICO - MONOPÓLIO CONSTITUCIONAL DA 
TITULARIDADE DA AÇÃO PENAL PÚBLICA PELO "PARQUET" - TEORIA 
DOS PODERES IMPLÍCITOS - CASO "McCULLOCH v. MARYLAND" 
(1819) - MAGISTÉRIO DA DOUTRINA (RUI BARBOSA, JOHN MARSHALL, 
JOÃO BARBALHO, MARCELLO CAETANO, CASTRO NUNES, OSWALDO 
TRIGUEIRO, v.g.) - OUTORGA, AO MINISTÉRIO PÚBLICO, PELA 
PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, DO PODER DE CONTROLE 
EXTERNO SOBRE A ATIVIDADE POLICIAL - LIMITAÇÕES DE ORDEM 
JURÍDICA AO PODER INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO - 
"HABEAS CORPUS" INDEFERIDO. NAS HIPÓTESES DE AÇÃO PENAL 
 
160
 BRASIL, Superior Tribunal De Justiça. Habeas Corpus nº. 94173. Relator(a): Min. Celso de 
Mello. Disponível em: 
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28investiga%E7%E3o+crimin
al+realizada+pelo+Minist%E9rio+P%FAblico%29&pagina=2&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.co
m/czy35vh 
100 
 
 
PÚBLICA, O INQUÉRITO POLICIAL, QUE CONSTITUI UM DOS 
DIVERSOS INSTRUMENTOS ESTATAIS DE INVESTIGAÇÃO PENAL, 
TEM POR DESTINATÁRIO PRECÍPUO O MINISTÉRIO PÚBLICO. - O 
inquérito policial qualifica-se como procedimento administrativo, de caráter 
pré-processual, ordinariamente vocacionado a subsidiar, nos casos de 
infrações perseguíveis mediante ação penal de iniciativa pública, a atuação 
persecutória do Ministério Público, que é o verdadeiro destinatário dos 
elementos que compõem a "informatio delicti". Precedentes. - A 
investigação penal, quando realizada por organismos policiais, será sempre 
dirigida por autoridade policial, a quem igualmente competirá exercer, com 
exclusividade, a presidência do respectivo inquérito. - A outorga 
constitucional de funções de polícia judiciária à instituição policial não 
impede nem exclui a possibilidade de o Ministério Público, que é o "dominus 
litis", determinar a abertura de inquéritos policiais, requisitar esclarecimentos 
e diligências investigatórias, estar presente e acompanhar, junto a órgãos e 
agentes policiais, quaisquer atos de investigação penal, mesmo aqueles sob 
regime de sigilo, sem prejuízo de outras medidas que lhe pareçam 
indispensáveis à formação da sua "opinio delicti", sendo-lhe vedado, no 
entanto, assumir a presidência do inquérito policial, que traduz atribuição 
privativa da autoridade policial. Precedentes. A ACUSAÇÃO PENAL, PARA 
SER FORMULADA, NÃO DEPENDE, NECESSARIAMENTE, DE PRÉVIA 
INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL. - Ainda que inexista qualquer 
investigação penal promovida pela Polícia Judiciária, o Ministério Público, 
mesmo assim, pode fazer instaurar, validamente, a pertinente "persecutio 
criminis in judicio", desde que disponha, para tanto, de elementos mínimos 
de informação, fundados em base empírica idônea, que o habilitem a 
deduzir, perante juízes e Tribunais, a acusação penal. Doutrina. 
Precedentes. A QUESTÃO DA CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DE 
EXCLUSIVIDADE E A ATIVIDADE INVESTIGATÓRIA. - A cláusula de 
exclusividade inscrita no art. 144, § 1º, inciso IV, da Constituição da 
República - que não inibe a atividade de investigação criminal do Ministério 
Público - tem por única finalidade conferir à Polícia Federal, dentre os 
diversos organismos policiais que compõem o aparato repressivo da União 
Federal (polícia federal, polícia rodoviária federal e polícia ferroviária 
federal), primazia investigatória na apuração dos crimes previstos no próprio 
texto da Lei Fundamental ou, ainda, em tratados ou convenções 
internacionais. - Incumbe, à Polícia Civil dos Estados-membros e do Distrito 
Federal, ressalvada a competência da União Federal e excetuada a 
apuração dos crimes militares, a função de proceder à investigação dos 
ilícitos penais (crimes e contravenções), sem prejuízo do poder 
investigatório de que dispõe, como atividade subsidiária, o Ministério 
Público. - Função de polícia judiciária e função de investigação penal: uma 
distinção conceitual relevante, que também justifica o reconhecimento, ao 
Ministério Público, do poder investigatório em matéria penal. Doutrina. É 
PLENA A LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO PODER DE 
INVESTIGAR DO MINISTÉRIO PÚBLICO, POIS OS ORGANISMOS 
POLICIAIS (EMBORA DETENTORES DA FUNÇÃO DE POLÍCIA 
JUDICIÁRIA) NÃO TÊM, NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO, O 
MONOPÓLIO DA COMPETÊNCIA PENAL INVESTIGATÓRIA. - O poder 
de investigar compõe, em sede penal, o complexo de funções institucionais 
do Ministério Público, que dispõe, na condição de "dominus litis" e, também, 
como expressão de sua competência para exercer o controle externo da 
atividade policial, da atribuição de fazer instaurar, ainda que em caráter 
subsidiário, mas por autoridade própria e sob sua direção, procedimentos 
de investigação penal destinados a viabilizar a obtenção de dados 
informativos, de subsídios probatórios e de elementos de convicção que lhe 
permitam formar a "opinio delicti", em ordem a propiciar eventual 
ajuizamento da ação penal de iniciativa pública. Doutrina. Precedentes: RE 
535.478/SC, Rel. Min. ELLEN GRACIE - HC 91.661/PE, Rel. Min. ELLEN 
GRACIE - HC 85.419/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO - HC 89.837/DF, 
101 
 
 
Rel. Min. CELSO DE MELLO. CONTROLE JURISDICIONAL DA 
ATIVIDADE INVESTIGATÓRIA DOS MEMBROS DO MINISTÉRIO 
PÚBLICO: OPONIBILIDADE, A ESTES, DO SISTEMA DE DIREITOS E 
GARANTIAS INDIVIDUAIS, QUANDO EXERCIDO, PELO "PARQUET", O 
PODER DE INVESTIGAÇÃO PENAL. - O Ministério Público, sem prejuízo 
da fiscalização intra--orgânica e daquela desempenhada pelo Conselho 
Nacional do Ministério Público, está permanentemente sujeito ao controle 
jurisdicional dos atos que pratique no âmbito das investigações penais que 
promova "ex propria auctoritate", não podendo, dentre outras limitações de 
ordem jurídica, desrespeitar o direito do investigado ao silêncio ("nemo 
tenetur se detegere"), nem lhe ordenar a condução coercitiva, nem 
constrangê-lo a produzir prova contra si próprio, nem lhe recusar o 
conhecimento das razões motivadoras do procedimento investigatório, nem 
submetê-lo a medidas sujeitas à reserva constitucional de jurisdição, nem 
impedi-lo de fazer-se acompanhar de Advogado, nem impor, a este, 
indevidas restrições ao regular desempenho de suas prerrogativas 
profissionais (Lei nº 8.906/94, art. 7º, v.g.). - O procedimento investigatório 
instaurado pelo Ministério Público deverá conter todas as peças, termos de 
declarações ou depoimentos, laudos periciais e demais subsídios 
probatórios coligidos no curso da investigação, não podendo, o "Parquet", 
sonegar, selecionar ou deixar de juntar, aos autos, quaisquer desses 
elementos de informação, cujo conteúdo, por referir-se ao objeto da 
apuração penal, deve ser tornado acessível tanto à pessoa sob investigação 
quanto ao seu Advogado. - O regime de sigilo, sempre excepcional, 
eventualmente prevalecente no contexto de investigação penal promovida 
pelo Ministério Público, não se revelará oponível ao investigado e ao 
Advogado por este constituído, que terão direito de acesso - considerado o 
princípio da comunhão das provas - a todos os elementos de informação 
que já tenham sido formalmente incorporados aos autos do respectivo 
procedimento investigatório. (HC 87610, Relator(a): Min. CELSO DE 
MELLO, Segunda Turma,julgado em 27/10/2009, DJe-228 DIVULG 03-12-
2009 PUBLIC 04-12-2009 EMENT VOL-02385-02 PP-00387)
161 
Quanto à condução dos trabalhos de investigação criminal pelo Ministério 
Público, apresenta-se sustentada de legalidade, legitimidade, lisura e adequação, 
conforme visto acima através de doutrina e jurisprudência. Tanto razoável que se 
possa conduzir os trabalhos, posto que é o titular da ação penal sendo a 
investigação atividade totalmente compatível com as finalidades institucionais. Se 
trata de celeuma vencida a questão da investigação criminal realizada pelo 
Ministério Público. 
Hugo Nigro Mazzilli162 assevera: 
[...] seria um contrassenso negar ao único órgão titular da ação penal 
pública, encarregado de formar a opinio delicti e promover em juízo a 
 
161
 BRASIL, Superior Tribunal De Justiça. Habeas Corpus nº. 87610. Relator(a): Min. Celso De 
Mello. Disponível em: 
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28investiga%E7%E3o+crimin
al+realizada+pelo+Minist%E9rio+P%FAblico%29&pagina=2&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.co
m/czy35vh 
162
 MAZZILI, Hugo Nigro. O controle externo da atividade policial. Revista dos Tribunais vol. 664, 
pág. 392. 
102 
 
 
defesa do jus puniendi do Estado soberano [...], a possibilidade de efetivar 
[...] investigação direta de infrações penais, quando isto se faça necessário. 
Quando o legislador resolveu permitir que o Ministério Público atuasse na 
investigação, ele propôs uma forma a mais de se defender a sociedade, se 
buscando de forma concreta e pertinente a justiça. 
Ao contrário do que se pensa e que é pregado em algumas doutrinas, o órgão 
do Ministério Público não se veste de órgão investigatório visando à substituição da 
polícia judiciária, muito pelo contrário visa a eficaz aplicação da lei, amparado por 
princípios previstos na Constituição Federal. A investigação pelo Ministério Público 
tem um caráter subsidiário e será empregada apenas quando for necessário, de 
modo que a competência da Polícia não é subtraída. 
Visa somar para que o crime, principalmente as organizações criminosas que 
são palcos de crimes muito complexos, sejam combatidas de forma eficaz e que não 
tenham um fortalecimento e um acréscimo. 
Neste sentido leciona Pedro Lenza163: 
Quando o artigo 144, §1º, I e IV da Constituição Federal, estabelece ser 
exclusividade da polícia federal exercer as funções de polícia judiciária da 
União, parece-nos tenha o texto objetivado afastar essa atividade de outros 
órgãos policias. 
A possibilidade de investigação pelo MP decorreria de sua atribuição de 
promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei (art. 129, I), 
assim como das atribuições estabelecidas nos incisos VI e VIII do art. 129, 
CF/88, apresentando-se como atividade totalmente compatível com as suas 
finalidades institucionais. 
O Ministério Público tem legitimidade conferida constitucionalmente para 
realizar de forma direta a investigação criminal, conforme visto acima por todos os 
argumentos já mencionados. 
Em se tratando de organizações criminosas, as quais são formadas por um 
grande número de pessoas e que envolvem agentes estatais, mais do que provável 
o seu combate através dos mecanismos de investigação obtidos pelo órgão 
ministerial, haja vista o sistema falho que norteia o inquérito policial, as 
investigações efetuadas pela polícia, aliado ao fato de muitos agentes estatais 
serem corrompidos por tais organizações, acarretando com isso uma condução do 
procedimento investigatório de forma descentralizada, muitas vezes pegando o 
 
163
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2010, 
pág.680. 
103 
 
 
pequeno integrante e deixando o ―poderoso chefão‖ agir de forma isolada 
controlando toda a ação da organização criminosa, ações contra a sociedade e o 
Estado. 
104 
 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Através do presente estudo buscou-se demonstrar os relevantes pontos que 
norteiam a instituição do Ministério Público, bem como seu histórico. Importante 
salientar que, na medida em que o Ministério Público evoluiu ganhando espaço no 
ordenamento jurídico brasileiro, ganhou mais ênfase e funções, se tornando 
atualmente, instituição indispensável à justiça, ampliando-se garantias, princípios 
institucionais, formando-se instituição a níveis federais e estaduais. 
Verificou-se através da explanação, que o Ministério Público possui poderes 
investigatórios assegurados constitucionalmente, sendo este titular da ação penal 
tendo plena previsão de poder carrear as provas necessárias a formação da opinio 
delicti. O Órgão Ministerial a partir da Constituição de 1988 ganhou ênfase e maior 
destaque em nosso ordenamento, passando a ser indispensável a prestação 
jurisdicional à sociedade. 
Restou comprovado que a Constituição Federal de 1988 destinou ao 
Ministério Público a importante missão de fiscal da lei, bem como é instituição 
autônoma indispensável à função essencial da justiça. 
Verificou-se a luz do estudo as finalidades do inquérito policial, conceituação 
e sua dispensabilidade, sendo peça meramente informativa, podendo o membro do 
Ministério Público substituí-las por peças angariadas por ele próprio, já que possui 
autonomia para tanto. 
O inquérito policial é norteado por um grande problema que afeta a fase 
preliminar da investigação criminal, sendo que suas peças muitas das vezes não são 
confiáveis ou são remetidas ao Ministério Público sem o mínimo de elementos 
básicos para a propositura da ação penal. 
Diante da precariedade que cerca o sistema inquisitorial da Polícia Judiciária, 
mostra-se mais que provável ser o Ministério Público incumbido de investigar, 
principalmente no que se refere às organizações criminosas, que agem de forma 
direta no sistema corrompendo os agentes do Estado. 
Sendo o inquérito policial um procedimento preparatório da ação penal, o qual 
visa à apuração de uma infração penal e de sua autoria, de caráter administrativo, 
que tem como destinatário imediato o Ministério Público, não há que se falar em 
indispensabilidade, haja vista que sendo um procedimento para apuração e o 
105 
 
 
Ministério Público, conforme se verificou na resolução 13/2006 abordada neste 
trabalho, tem poderes para instaurar procedimentos, expedir notificação, entre 
outros. Portanto, se chegar ao conhecimento do Ministério Público a prática de 
infrações, pode ele instaurar procedimento próprio para apurar a infração, não tendo 
que necessariamente requisitar a instauração por parte da polícia. 
Os problemas enfrentados durante a fase inquisitorial acarretam um prejuízo 
enorme ao sistema acusatório. A falta de coordenação entre a investigação e as 
necessidades de quem irá se acusar em juízo, a falta de confiabilidade nas peças de 
informação geradas na instrução do inquérito policial, bem como a demora 
excessiva e nos casos mais complexos, o inquérito policial é incompleto, 
necessitando de novas diligências, trazendo evidente prejuízo à celeridade e à 
eficácia da persecução. 
O Ministério Público como órgão autônomo dos poderes, possui autonomia 
funcional, estando mais preparado para presidir a investigação de casos complexos, 
tendo ferramentas muito mais efetivas e por dispor da inamovibilidade, pode de 
maneira mais efetiva investigar, principalmente quando se diz respeito as 
organizações criminosas. 
Tais atribuições dadas ao Ministério Público para presidir a investigação 
criminal, são resultados da incompetência das polícias em realizar a investigação de 
forma coesa, visando identificaro autor do ilícito. 
O crime organizado cresceu de forma exorbitante nos últimos tempos, 
passando a ter mais força no meio social e estatal. Por diversas vezes os crimes 
praticados por tais organizações ficam sem solução ou acabam por ser absolvidos 
por falta de provas e elementos. 
Com o crescimento das organizações criminosas, trouxe junto a corrupção 
dos agentes estatais os quais deveriam combate-lo e acabam por fortalecer. Deve 
ser considerado ainda, que é a minoria dos crimes praticados pelas organizações 
criminosas que acabam sendo investigados de forma efetiva e que acabam 
resultando em condenações, a maioria se quer chega ao conhecimento, devido o 
alto índice de agentes estatais envolvidos que acabam por dispor de meios que 
resultam na inaplicabilidade da lei. 
Conforme se observou, no presente trabalho foram abordados duas das 
tantas organizações criminosas que agem em nosso País, as quais têm forte poder 
106 
 
 
no meio social, comandando uma facção criminosa que age em todos os níveis 
sociais, o que acarreta um grande prejuízo ao sistema estatal. 
As organizações criminosas são norteadas pelo objetivo único de angariar 
poder econômico e social, utilizando-se para isso desde pessoas simples que 
residem em favelas ou morros, até agentes estatais que se utilizam de seus cargos 
para auxiliar as organizações criminosas em seus ilícitos. 
Tratou-se também das organizações criminosas em outros países e o método 
investigativo utilizado para o combate das mesmas. Observou-se que muitos dos 
ordenamentos tratados neste estudo diferem do vigente em nosso País, sendo 
possível em alguns dos países que a investigação seja presidida pelo chamado Juiz 
Instrutor o qual assume todos os atos de investigação criminal, sendo auxiliado pela 
Polícia Judiciária. 
A cerca da legitimidade do Ministério Público presidir a investigação criminal 
no âmbito do crime organizado esta é celeuma vencida, haja vista a grande 
complexidade que norteia as organizações criminosas. 
As organizações criminosas se revestem de uma grande estrutura, possuindo 
estatuto e regulamento aos integrantes, visando abalar a estrutura do estado e 
atuam em diversos ilícitos penais, seja com o tráfico ilícito de entorpecentes, 
grandes assaltos e burlam o sistema estatal corrompendo seus agentes, muitas 
vezes se utilizam de agentes do estado encarregados de combate-los para alcançar 
a finalidade em seus ilícitos. 
Nesta senda, como os policias estão mais próximos dessa realidade, tendo 
maior contato com as organizações criminosas acabam se deixando levar pelo auto 
lucro obtido pelas organizações através de seus crimes, e passam a auxiliar as 
organizações criminosas, seja através do descaso em investigar os crimes ou de 
notificar a autoridade competente para que o faça, seja facilitando a entrada de 
equipamentos eletrônicos, drogas, entre outros, dentro dos estabelecimentos 
prisionais, acarretando uma deficiência no sistema prisional e no sistema estatal 
como um todo. 
Parte dos crimes praticados pelas organizações criminosas são comandados 
de dentro dos estabelecimentos prisionais com o auxilio de agentes estatais, sendo 
grave a situação do crime organizado em nosso país, principalmente nos 
107 
 
 
denominados crimes de colarinho branco, os quais acarretam uma defasagem no 
sistema de combate ao crime organizado. 
Ainda, através das organizações criminosas o prejuízo acarretado ao fisco é 
gigantesco, posto que com as grandes somas de dinheiro que são obtidas através 
de meios ilícitos, ocorre a lavagem de dinheiro para que não possa ser descoberta 
as aplicações e as vultuosas somas de dinheiro ilícito que as organizações 
criminosas dispõem. 
Nota-se quão falho é o sistema repressivo da criminalidade brasileira, criando 
uma falsa sensação de segurança, vez que os agentes estatais destinados ao 
combatem passam a agir de dentro do Estado em prol das organizações criminais. 
As organizações criminosas não agem de forma isolada ou em só uma região 
do País, mas passam a agir a nível nacional e internacional, havendo entre elas uma 
reciprocidade para que possam realizar seus crimes. Não há subordinação entre as 
organizações criminosas, mas sim há uma troca produtos comuns utilizados para os 
ilícitos, sejam eles armas, drogas ou auxilio para que seja realizado um assalto, 
sequestro, tráfico de entorpecentes ou estocagem de produtos. 
Nesse mesmo sentido, insta salientar que por muitas vezes os próprios 
ofendidos, leia-se vítimas, procuram diretamente o Ministério Público para informar 
práticas criminosas ou pedir auxilio para situações que estejam passando, 
mostrando assim que o Ministério Público tem muito mais estrutura para abraçar 
determinadas causas, bem como transmite maior segurança à sociedade em geral, 
estando mais preparado para enfrentar causas que exijam um combate maior e mais 
rígido, de forma rápida e eficaz. 
O que se busca não é a substituição da Polícia Judiciária, nem a subtração de 
suas funções, mas sim uma união de forças para que possa se dar o resultado 
esperado à população, bem como um combate efetivo a essas organizações 
criminosas punindo com rigor os criminosos e os agentes estatais envolvidos. 
Conclui-se pelo presente trabalho que a instituição do Ministério Público tem 
legitimidade para presidir a investigação criminal, como titular do jus puniendi, pois 
nada impede que o Ministério Público, além de requisitar informações e documentos 
para instruir procedimentos promova os atos de investigação, além disso, nos 
termos da Constituição Federal, o Ministério Público pode exercer outras funções 
108 
 
 
que lhe sejam conferidas desde que compatíveis com sua finalidade (CF, artigo 129, 
IX). 
Ainda, cumpre ressaltar que recentemente houve o julgamento do Projeto de 
Emenda a Constituição nº. 37/2011, o qual pacificou tal questão, sendo plenamente 
aceito que o Órgão Ministerial realize investigações criminais, não existindo mais 
controvérsias sobre o tema em comento, estando a matéria pacificada junto ao 
Supremo Tribunal Federal – STF. 
109 
 
 
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