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Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 1 de 13 DAS PESSOAS JURÍDICAS: Conceito: são entidades em que a Lei empresta personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações. Segundo Fabio Ulhoa Coelho, pessoa jurídica é a entidade abstrata com existência e responsabilidade jurídicas como, por exemplo, fundações, Cooperativas, Sociedades, Organização religiosas, associação, empresas, companhias, legalmente e juridicamente organizadas e devidamente registradas. Não são apenas as pessoas naturais que podem ser sujeitos de direito, pois, entes formados pelo agrupamento de pessoas, para fins determinados, também podem ser sujeitos de direito. Estes entes são as pessoas jurídicas, que se constituem pela unidade de pessoas ou de patrimônios, que visam a execução de determinadas finalidades, que passam a ter personalidade jurídica distinta dos seus componentes, reconhecidas pelo ordenamento jurídico como sendo sujeitos de direitos e obrigações. NATUREZA JURÍDICA: Existem algumas teorias que visam explicar a existência da pessoa jurídica e a razão da sua capacidade de direito. 1. Teoria da Ficção (Windscheid/Savigny) – “Só o homem é capaz de ser sujeito de direito” (capacidade de direito), e conclui que a pessoa jurídica é uma ficção legal, uma criação artificial da Lei, para exercer direitos patrimoniais. Vareilles-Sommiéres, varia um pouco ao dizer que a pessoa jurídica tem existência apenas na inteligência dos juristas, apresentando-se como mera ficção da doutrina. Estas são inaceitáveis, posto que o Estado é uma pessoa jurídica, que se for considerado como ficção, o Direito que dele emana também o será. 2. Teoria da Equiparação (Brinz) – “Pessoa Jurídica é o patrimônio equiparado, no tratamento jurídico, com as pessoas naturais.” Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 2 de 13 É inaceitável por elevar os bens a categoria de sujeito de direitos e obrigações, confundindo coisas com pessoas. 3. Teoria da Realidade Objetiva ou Orgânica (Gierke e Zitelmann) – “Juntamente com as pessoas naturais (organismos físicos), existem as pessoas jurídicas (organismos sociais), que possuem vontade própria distinta de seus membros, tendo por finalidade realizar o objetivo social. Este teoria cai por terra quando afirma que a pessoa jurídica tem vontade própria, posto que o fenômeno volitivo é peculiar do ser humano, e não do ente coletivo. 4. Teoria da Realidade Técnica (Saleilles) – Como a personalidade humana decorre do direito (os escravos por exemplo eram privados de sua personalidade), este (o Direito) pode também conceder personalidade jurídica ao agrupamento de pessoas ou bens, que tenham objetivo de realizar determinados interesses. Esta teoria é admitida pelo nosso ordenamento jurídico. A pessoa jurídica é, portanto, um atributo que o Estado defere a certas entidades, que se enquadram nos requisitos legais de constituição. REQUISITOS PARA A CONSTITUIÇÃO DA PESSOA JURÍDICA: a) vontade humana – “affectio societatis”; b) licitude do objeto; c) observância das condições legais para a sua instituição (registro do ato constitutivo no órgão competente e, quando necessário, autorização governamental, ex: seguradoras, bancos e outros que precisam de autorização governamental); Surgimento da Pessoa Jurídica (artigo 45 do Código Civil): A personalidade da pessoa natural se dá com o nascimento com vida, quando passa a ser sujeito de direito e obrigações. Já a pessoa jurídica surge com o registro de seu Ato Constitutivo, Contrato Social (sociedades), Estatuto (associações), e Escritura Pública ou Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 3 de 13 Testamento (fundações), no órgão competente, no caso das Sociedades, na Junta Comercial, e no caso das associações e fundações, o Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas. Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando- se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Em alguns casos exige-se também a autorização do Poder Executivo, como no caso de seguradoras, factoring, financeiras, bancos, administradoras de consórcio, administradoras de planos de saúde etc. Algumas pessoas jurídicas serão registradas em órgãos especiais como os partidos políticos no Tribunal Superior Eleitoral-TSE. CF artigo 17 § 2º - Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. CLASSIFICAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA: Pode-se classificar a pessoa jurídica quanto a sua Nacionalidade, quanto a sua Estrutura Interna, quanto as Funções e Capacidade. 1. Quanto a Nacionalidade: se nacional ou estrangeira, tendo em vista sua articulação, e subordinação ao ordenamento jurídico que lhe conferiu personalidade – artigos 1.126 e 1.134 do Código Civil. Art. 1.126. É nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua administração. Art. 1.134. A sociedade estrangeira, qualquer que seja o seu objeto, não pode, sem autorização do Poder Executivo, funcionar no País, ainda que por estabelecimentos subordinados, podendo, todavia, ressalvados os casos expressos em lei, ser acionista de sociedade anônima brasileira. 2. Quanto a Estrutura Interna: “Universitas Personarum” – Conjunto de pessoas que coletivamente goza de certos direitos e os exerce por meio de uma vontade única. Exemplos: Sociedades e Associações. “Universitas Bonorum” – É o patrimônio personalizado, destinado a um fim que lhe dá unidade. Exemplo: Fundações. Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 4 de 13 3. Quanto as Funções e Capacidade: (artigos 40, 41, 42 e 44 do Código Civil): As pessoas jurídicas são de direito público interno ou externo e de direito privado. Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado. Veja o organograma abaixo: 1. Pessoa Jurídica de Direito Público Interno: Da administração direta (artigo 41, incisos I, II e III do Código Civil) – União, Estados, Município, Distrito Federal, Territórios, e Municípios. Da administração indireta – (artigo 41, incisos IV e V do Código Civil) – Autarquias, inclusive as associações públicas, e demais entidades de caráter público criadas por Lei. Estas são órgãos descentralizados criados por Lei, com personalidade jurídica própria para o exercício de atividades de interesse público. Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 5 de 13 Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno: I - a União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III - os Municípios; IV - as autarquias; IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005) V - as demais entidades de caráter público criadas por lei. Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno da Administração Indireta: Parágrafo único do artigo 41 do Código Civil. Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código. Autarquias: São entidades autônomas, auxiliares e descentralizadas da administração pública, sujeitas à fiscalização e à tutela do Estado, seu patrimônio é constituído de recursos próprios, e seu objetivo é executar serviços de caráter estatalou interessantes à coletividade, como, entre outros, caixas econômicas e institutos de previdência. Exemplos: INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social; INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária; IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Associações Públicas: São Consórcios Públicos com personalidade de Direito Público, que conjugam esforços para a execução de objetivos de interesse público. Exemplo: Consórcio COPATI formado por Municípios banhados pelo Rio Tabagí no Estado do Paraná, com a finalidade de preservação do Rio. Fundações Públicas: Possuem o patrimônio voltado para a execução de fins de interesse público. Exemplos: FUNASA – Fundação Nacional de Saúde; e FUNARTE – Fundação Nacional de Arte. Agências Reguladoras: Autarquias Federais especiais, incumbidas de fiscalizar e normatizar a prestação de certos bens e serviços públicos. Exemplos: ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária; ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações; ANP – Agência Nacional de Petróleo. Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 6 de 13 2. Pessoas Jurídicas de Direito Público Externo: São regidas pelo Direito Internacional. Exemplos: Nações estrangeiras; Santa Sé; Uniões Aduaneiras (Mercosul – União Européia), e Organismos Internacionais (ONU – OEA – FMI). 3. Pessoas Jurídicas de Direito Privado: artigo 44, incisos I a VI do Código Civil. • Fundações Particulares; • Associações; • Sociedades; • Organizações Religiosas; • Partidos Políticos; • Empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI) Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos; VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência) FUNDAÇÕES PARTICULARES - artigo 62 parágrafo único do Código Civil, e Enunciados no’s 08 e 09 aprovados na 1a Jornada de Direito Civil promovida pelo Centro de Estudos Jurídicos do Conselho da Justiça Federal. Conceito: Fundações constituem-se por um acervo de bens (propriedades, crédito ou dinheiro), ao qual o Direito atribui personalidade jurídica, e seus objetivos são estipulados por seu Fundador, que a institui por meio de Instrumento Público (Escritura ou Testamento), com a finalidade religiosa, moral, cultural ou assistencial. Exemplo: Fundação Roberto Marinho – finalidade cultural. Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. Enunciado 8 – Art. 62, parágrafo único: a constituição de fundação para fins científicos, educacionais ou de promoção do meio ambiente está compreendida no CC, art. 62, parágrafo único. Enunciado 9 – Art. 62, parágrafo único: o art. 62, parágrafo único, deve ser interpretado de modo a excluir apenas as fundações com fins lucrativos. Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 7 de 13 Constituição da Fundação – 4 fases: 1a. Ato de Dotação ou de Instituição, que compreende a destinação de bens livres, com indicação dos fins a que se destinam e a maneira de administrá-los. Far-se-á por ato “inter vivus” através de Escritura Pública, ou “causa mortis” através de Testamento, ambos lavrados em Tabelionato de Notas. Este acervo de bens há de ser apto para produzir rendas ou serviços que possibilitem a execução dos fins desejados pelo seu instituidor, sob pena de se frustrar sua iniciativa. Caso o Patrimônio disponibilizado pelo Fundador seja insuficiente para a execução dos objetivos pretendidos, os bens destinados à Fundação, serão incorporados em outra Fundação com a finalidade semelhante, caso o Fundador não tenha estipulado outro destino ao patrimônio, previsto no instrumento público de constituição da Fundação – artigo 63 do Código Civil. Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante. 2a. A elaboração do Estatuto da Fundação, poderá ser direta – pelo próprio instituidor; ou fiduciária – por pessoa de sua confiança, por ele designada (artigo 65 do Código Civil). Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz. Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público. 3a. A aprovação do Estatuto pelo Ministério Público, que é a autoridade competente a que se refere o artigo 65 acima. Para a aprovação do Estatuto o M.P. verificará a licitude do objeto, se foram observadas as bases fixadas pelo instituidor, e se os bens são suficientes. 4a. O Registro do Estatuto que se faz no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas conforme artigo 114 inciso I da Lei 6.015/73 L.R.P. Art. 114-LRP. No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão inscritos: I - os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, bem como o das fundações e das associações de utilidade pública; ASSOCIAÇÕES - artigo 53 do Código Civil, e, artigo 5 inciso XVII da Constituição Federal. Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos. Art. 5, inciso XVII da CF – É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 8 de 13 Conceito: Associações são a união de pessoas que se organizam para fins não econômicos, voltadas a atividades culturais, sociais, pias, religiosas, e recreativas. Renda: A associação, embora não persiga lucro, não está impedida de gerar renda para manter-se. O que se observa é que seus membros não pretendem partilhar lucros ou despesas, como ocorre nas sociedades. A receita gerada é revertida em benefício da associação. O Ato Constitutivo: Sua existência legal surge com o Registro de seu Estatuto, representado por documento público ou particular, junto ao Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme artigo 114 inciso I da Lei 6.015/73 L.R.P. Art. 114-LRP. No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão inscritos: I - os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, bem como o das fundações e das associações de utilidade pública; O Estatuto consiste em um conjunto de cláusulas que vinculam os Fundadores aos novos Associados, que ao ingressar, se submetem aos seus comandos. Após o Registro do Estatuto, a Associação passa a ter capacidade de direito. A Associação sem o devido Registro será considerada Associação Irregular ou não Personificada (sem personalidade jurídica), sendo que mesmo irregular a Associação será representada ativa e passivamente pela pessoa que a administrar. Elementos essenciais para elaboração do Estatuto: artigo 54, incisos I a VII do Código Civil , e artigo 120 incisos I a IV da Lei 6.015/73 L.R.P. Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá: I - a denominação,os fins e a sede da associação; II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; III - os direitos e deveres dos associados; IV - as fontes de recursos para sua manutenção; V - o modo de constituição e funcionamento dos órgãos deliberativos e administrativos; V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005) VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução. VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. (Incluído pela Lei nº 11.127, de 2005) Os Associados não possuem obrigações recíprocas entre si (artigo 53 § único do Código Civil). Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos. Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 9 de 13 A Assembléia Geral: O Estatuto designará o quorum necessário para a convocação da Assembléia Geral, contudo a Lei assegura que um quinto (1/5) dos Associados tem o direito de promovê-la (art. 60 do Código Civil). Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um quinto) dos associados o direito de promovê-la. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005). Compete privativamente a Assembléia Geral: • A destituição dos Administradores; • A alteração do Estatuto. Exemplos de Associações: Associações Pias Beneficentes ou Filantrópicas: Tem por finalidade a caridade; Associações de Assistência Social: hospitais beneficentes, Santas Casas, creches, azilos; Associações de Utilidade Pública: Presta serviços sócio-assistenciais ou educacionais; Associações Secretas com fins lícitos: São humanitárias, educacionais, filosóficas, Morais, Religiosas, Científicas. Ex: Maçonaria; Associações Estudantis: São representadas por Grêmios, Centros acadêmicos, UNE, Associações de Pais e Mestres – visam atender ao corpo discente (alunos); Associações Recreativas: visam o entretenimento e divertimento de seus associados. Exemplo: clubes recreativos; Cooperativas: São associações em forma de sociedade, com número aberto de membros, sem fins lucrativos, visando estimular a poupança, a aquisição e a economia dos associados, mediante atividade econômica comum. Desconsideração da personalidade jurídica: (art. 50 do Código Civil). Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. A Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, foi desenvolvida pelos Tribunais Norte Americanos, chamada de “disregard doctrine” tendo em vista casos em que o controlador/administrador desviava a pessoa jurídica de suas finalidades. Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 10 de 13 Tem como objetivo impedir a fraude contra credores, levantando o véu corporativo da pessoa jurídica, desconsiderando assim sua personalidade, para alcançar as pessoas e os bens que utilizam da pessoa jurídica para fins ilícitos ou abusivos. Existe uma repressão por meio do ordenamento jurídico, ao uso indevido da personalidade jurídica, mediante desvio de seus objetivos ou confusão do patrimônio social para a prática de atos abusivos ou ilícitos, possibilitando assim a transferência da responsabilidade para aqueles que a utilizarem indevidamente. Responsabilidade civil das pessoas jurídicas: O Código Civil, no seu artigo 43 trata da responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito público interno: União, Estados, Distrito Federal, Territórios, Município, Autarquias Públicas, inclusive Associações Públicas, e demais entidades de caráter público criadas por lei. Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. Nos artigos 931, 932 inciso III, e 933, o Código Civil trata da Responsabilidade Civil das Pessoas Jurídicas que tem finalidade lucrativa ou empresarial, ou seja as Sociedades Empresárias, ao dispor que: “...respondem independentemente de culpa pelos danos causados por produtos postos em circulação.” Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação. Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. O artigo 37 § 6o da Constituição Federal trata da Responsabilidade Civil das Pessoas Jurídicas de Direito Público, e das Pessoas Jurídicas de Direito Privado prestadora de serviços públicos: Art. 37/CF. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 11 de 13 Cláusula Geral de Tutela da Responsabilidade Civil: O artigo 927, conjugado com os artigos 186 e 187 do Código Civil, trazem em linhas gerais, o Titular da Responsabilidade Civil. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Extinção da pessoa jurídica: Assim como a pessoa natural, a pessoa jurídica completa o seu ciclo existencial, extinguindo- se. A extinção da pessoa jurídica, poderá ser: • Convencional – é aquela deliberada entre os próprios sócios, respeitando o estatuto ou o contrato social; • Administrativa – resulta da cassação da autorização de funcionamento, exigida para determinadas sociedades se constituírem e funcionarem; • Judicial – observadas as hipóteses de dissolução previstas no estatuto ou no contrato social, o juiz, por iniciativa de qualquer dos sócios, poderá, por sentença, determinar sua extinção. Dissolução da Pessoa Jurídica: O artigo 51 do Código Civil trata dos casos da dissolução da pessoa jurídica, ou cassação da autorização de seu funcionamento: Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua. Dissolução das Associações: O artigo 54 inciso VI do Código Civil, tratada dissolução convencional das Associações. Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá: VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução. A extinção das Fundações: artigo 69 do Código Civil. Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante. AS ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS: artigo 44 inciso IV § 1o do Código Civil: Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 12 de 13 As Organizações Religiosas são pessoas jurídicas de direito privado, tem fins pastorais, de evangelização, de culto, de adoração e outros, que envolvem uma complexa questão de fé. Portanto, são livres a forma de criação, organização, estruturação interna e funcionamento. Representam o Direito à liberdade de crença, garantido pela Constituição Federal. Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) § 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) Enunciado 143 aprovado na III Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos do Conselho da Justiça Federal-CJF: Art. 44: A liberdade de funcionamento das organizações religiosas não afasta o controle de legalidade e legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de reexame pelo Judiciário da compatibilidade de seus atos com a lei e com seus estatutos. OS PARTIDOS POLÍTICOS: artigo 44 inciso V § 3o do Código Civil, e artigo 17 da Constituição Federal: Os Partidos Políticos tem natureza própria, seus fins são políticos. São regidos pela Lei 9.096/95, que regulamenta o artigo 17 da Constituição Federal. Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) § 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) CF - Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. AS EMPRESAS INDIVIDUAIS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRELI). Uma novidade no rol das pessoas jurídicas de direito privado constantes do artigo 44 do Código Civil, a EIRELI – Empresa individual de responsabilidade limitada, criada pela Lei 12.441 de 11 de Julho de 2011, possibilitou que antes não era autorizado, a constituição de uma pessoa jurídica de responsabilidade limitada composta por apenas uma pessoa. A criação desta lei certamente foi motivada pela necessidade de coibir uma prática muito comum na sociedade, a constituição de pessoas jurídicas de responsabilidade limitada compostas Direito Civil I Aula 6 – Pessoas Jurídicas. Prof. Luiz Felipe. Página 13 de 13 por sócios detentores de cotas muito desiguais, ou seja, um dos sócios detém a maioria esmagadora das cotas, e o outro, normalmente parente ou amigo, é titular de insignificante parte do capital social, sem qualquer interesse real no negócio. A grande vantagem da EIRELI sobre o empresário individual é a responsabilidade pelas dívidas contraídas. O empresário individual responde com todo o seu patrimônio pessoal (pessoa natural), no caso da EIRELI a responsabilidade é limitada ao capital integralizado. Só que nem tudo são vantagens, para proteção de terceiros e por segurança jurídica, ao constituir uma EIRELI é necessário um capital mínimo de cem (100) vezes o maior salário mínimo vigente no país. Caso não houvesse tal limitação, certamente significaria o fim do empresário individual, pois não haveria sentido permanecer nesta condição se fosse possível criar livremente uma pessoa jurídica com responsabilidade patrimonial limitada. Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário- mínimo vigente no País. § 1º O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada. § 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. § 3º A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração. § 4º ( VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência) § 5º Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional. § 6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas.
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