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CLASSIF. CRIMES



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Atualizado em 05/12/2016
CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA DOS CRIMES[1: Este material foi produzido pelos coaches com base em anotações pessoais de aulas, referências e trechos de doutrina, informativos de jurisprudência, enunciados de súmulas, artigos de lei, anotações oriundas de questões, entre outros, além de estar em constante processo de atualização legislativa e jurisprudencial pela equipe do Ciclos R3.]
CRITÉRIO: FIGURA DO SUJEITO ATIVO
Crime comum: é aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa; 
Crime próprio: é aquele que somente pode ser cometido por uma determinada categoria de pessoas. Ex.: crimes funcionais
Crime de mão própria: é o crime próprio cujo agente precisa agir pessoalmente. 
Ex: crime de falso testemunho. O STF, porém, a admitiu a participação, em caso em que envolvia advogado. HC 81.327-SP, rel. Ministra Ellen Gracie, 11.12.2001. STF também admite coautoria RHC 81327 / SP.
CRITÉRIO: MOMENTO CONSUMATIVO
Crime instantâneo: é aquele cujo momento consumativo ocorre num momento determinado.
Crime permanente: é aquele cujo momento consumativo se prolonga no tempo até quando queira o agente. Implicações: prescrição, flagrante.
Crime instantâneo de efeitos permanentes: é o delito instantâneo cujos efeitos deixados após a consumação são visíveis, gerando dúvida em relação à própria consumação. Ex: crime de bigamia: no momento que a pessoa casa pela 2ª vez o delito já se consumou, o que permanece são os efeitos. 
Estelionato contra a previdência social: 2 posicionamentos. Há julgados do STF e do STJ no sentido de que se trata de crime instantâneo de efeitos permanentes. Para Abel Gomes (TRF2), é crime permanente, com uma primeira fase comissiva (fraude para a concessão e início do pagamento) e uma segunda fase omissiva (sujeito ativo permanece mantendo em engano o sujeito passivo). Há de se observar que em decisão mais recente a 1ª Turma do STF entendeu que (entendimento confirmado em 2011, 2012 e 2013): 
O denominado estelionato contra a Previdência Social (CP, art. 171, § 3º), quando praticado pelo próprio beneficiário do resultado do delito, é crime permanente. (...) Consignou-se que o STF tem distinguindo as situações: a do terceiro que implementa fraude para que uma pessoa diferente possa lograr o benefício — em que configurado crime instantâneo de efeitos permanentes — e a do beneficiário acusado pela fraude, que comete crime permanente enquanto mantiver em erro o INSS. Precedentes citados: HC 75053/SP (DJU de 30.4.98); HC 79744/SP (DJU de 12.4.2002) e HC 86467/RS (DJU de 22.6.2007). HC 99112/AM, rel. Min. Marco Aurélio, 20.4.2010. (HC-99112) 
TRF4:
PENAL. ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO. ART. 171, § 3º, DO CÓDIGO PENAL. CRIME PERMANENTE. TIPICIDADE. COMPROVADA. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. NÃO VERIFICADO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMINIDADE. SUBSTITUIÇÃO POR PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA. NÃO CABIMENTO. O estelionato praticado para a obtenção de beneficio previdenciário de trato sucessivo, segundo assentado pelo Supremo Tribunal Federal, tem natureza binária, distinguindo-se o comportamento de quem comete uma falsidade para permitir a outrem a obtenção da vantagem indevida daquele que se beneficia diretamente do embuste. Na primeira hipótese, a conduta, a despeito de produzir efeitos permanentes em prol do beneficiário, perfectibiliza os elementos do tipo instantaneamente. Na segunda, em que a conduta é renovada mensalmente, tem-se entendido que o crime assume a natureza permanente. Restam preenchidos os elementos típicos do crime de estelionato quando verificada a obtenção de vantagem patrimonial indevida pelo agente que mantém a Administração Pública em erro. Diante da comprovação da potencial consciência da ilicitude por parte do réu, bem como pela comprovação do meio fraudulento utilizado par manter em erro a autarquia, resta afastada a alegação de culpa exclusiva da vítima. A substituição da pena privativa de liberdade por duas prestações pecuniárias importa em ofensa à segunda parte do § 2° do artigo 44 do Código Penal, uma vez que restaria fixada apenas uma restritiva de direitos, consistente em prestação pecuniária, porém de valor mais elevado. (TRF4, ACR 5011338-16.2010.404.7200, Oitava Turma, Relator p/ Acórdão Luiz Fernando Wowk Penteado, D.E. 10/05/2013)
CRITÉRIO: CARACTERIZAÇÃO DA CONSUMAÇÃO
- Crime de dano: é aquele que somente se consuma com a efetiva lesão ao bem jurídico.
- Crime de perigo: é aquele que se consuma com a mera possibilidade do dano.
- Crime de perigo concreto: delito cujo perigo deve ser investigado e provado.
- Crime de perigo abstrato: delito cujo perigo é presumido pelo tipo penal, não precisa ser provado. Há doutrinadores que pregam a inconstitucionalidade desses crimes, pois violariam o princípio da ofensividade. Ex.: Súmula 575, STJ.
*- Crimes de perigo atual: o perigo está ocorrendo, como no abandono de incapaz (CP, art. 133);
- Crimes de perigo iminente: o perigo está prestes a ocorrer;
- Crimes de perigo futuro ou mediato: a situação de perigo decorrente da conduta se projeta para o futuro, como no porte ilegal de arma de fogo de uso permitido ou restrito (Lei 10.826/2003, arts. 14 e 16), autorizando a criação de tipos penais preventivos.
#NOVIDADE #SÚMULA #MP #MAGISTRATURA
Súmula 575-STJ: Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo.
# OBS. DIZER O DIREITO – COMENTÁRIOS À SÚMULA 575-STJ: Para o STJ, o delito previsto no art. 310 do CP é crime de perigo ABSTRATO. Assim, não é exigível, para o aperfeiçoamento do delito, a ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na conduta de quem permite, confia ou entrega a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou ainda a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança. O art. 310, mais do que tipificar uma conduta idônea a lesionar, estabelece um dever de garante ao possuidor do veículo automotor. Neste caso, estabelece-se um dever de não permitir, confiar ou entregar a direção de um automóvel a determinadas pessoas, indicadas no tipo penal, com ou sem habilitação, com problemas psíquicos ou físicos, ou embriagadas, ante o perigo geral que encerra a condução de um veículo nessas condições. STJ. 3a Seção. REsp 1.485.830-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 563).
STJ. 6a Turma. REsp 1.468.099-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/3/2015 (Info 559). 
Este entendimento foi materializado na Súmula 575 do STJ.[1: Mais comentários em: http://www.dizerodireito.com.br/2016/08/nova-sumula-575-do-stj-comentada.html]
CRITÉRIO: QUANTIDADE DE PESSOAS NECESSÁRIAS PARA A PRÁTICA DO DELITO
- Crime unissubjetivo: é aquele que pode ser praticado por uma só pessoa, embora nada impeça a coautoria ou participação. Concurso eventual
- Crime plurissubjetivo: é aquele que, por sua conceituação típica, exige dois ou mais agentes para a prática da conduta criminosa. Pode haver condutas paralelas (mesmo fim), convergentes (condutas diferentes que se completam, ainda que uma não seja culpável) ou divergentes (dirigidas umas contra as outras).
*#ATENÇÃO: Não se devem confundir, todavia, os crimes plurissubjetivos com os de participação necessária. Estes podem ser praticados por uma única pessoa, nada obstante o tipo penal reclame a participação necessária de outra pessoa, que atua como sujeito passivo e, por esse motivo, não é punido (ex: rufianismo – CP, art. 230).
CRITÉRIO: QUANTIDADE DE ATOS PARA A CONSUMAÇÃO
- Crime unissubsistente: é aquele que se consuma com a realização de um só ato. Não admitetentativa nem fracionamento.
- Crime plurissubsistente: é aquele cuja consumação é composta de vários atos. Admite tentativa e fracionamento.
CRITÉRIO: EXISTÊNCIA DE VESTÍGIOS [classificação do processo penal]
Delito de fato permanente: é aquele que deixa vestígios ou não transeunte. 
Delito de fato transeunte: é aquele que não deixa vestígios.
	OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
Crime progressivo: corresponde à consideração de que um tipo abstratamente considerado contém, de forma implícita, outro, sendo que este deve, necessariamente, ser realizado para se alcançar o resultado. Ex.: homicídio – implicitamente está a lesão corporal.
Crime progressivo x progressão criminosa: Crime progressivo: o agente, desde o início, pretende praticar o crime mais grave e para tanto, por meio de atos sucessivos, praticas gradativas e crescentes violações o bem jurídico. Há uma só infração penal. Desde o início, há a intenção de praticar o crime “maior”. Progressão criminosa: o agente deseja inicialmente produzir um resultado menos grave, porém, após atingi-lo, decide prosseguir e reiniciar a sua agressão e produzir um resultado mais grave. Haverá mais de 1 infração penal. No início da conduta a intenção do agente é a prática do crime “menor”. Posteriormente sua intenção se altera para a prática do crime de maior gravidade. 
	
Crime complexo: crime que prevê, de forma explícita, 2 ou mais tipos penais em uma única descrição legal (SENTIDO ESTRITO), ou aquele que abrange um tipo simples acrescido de fato não típico (SENTIDO AMPLO).
Crime complexo em sentido amplo: é formado pela conjugação de conduta penalmente tipificada acrescida de um fato atípico. Ex: estupro = violência ou ameaça (conduta típica) + conjunção carnal (figura atípica).
Crime complexo em sentido estrito: é formado pela conjugação de 2 ou mais figuras típicas.
*OUSESABER: O que se entende por crime ultracomplexo? Segundo Rogério Sanches, ocorre o crime ultra complexo "quando um crime complexo é acrescido de outro, este servindo como qualificadora ou majorante daquele. Imaginemos um roubo (crime complexo) praticado com emprego de arma de fogo. Temos, na hipótese, uma unidade jurídica ultra complexa formada pela reunião do crime de roubo (nascido da fusão do constrangimento ilegal + furto) e do crime de porte ilegal de arma de fogo. Em outras palavras, percebemos um crime complexo (roubo) acrescido de outro (porte ilegal de arma de fogo), que serve como causa de aumento de pena do crime patrimonial". (CUNHA Rogério Sanches, Manual de Direito Penal: Parte Geral, 4. Ed. Salvador: juspodivm, 2016, pág. 167). Nesse caso, sendo todos os crimes praticados no mesmo contexto fático, o autor deverá responder apenas pelo roubo majorado pelo emprego de arma de fogo (em razão da aplicação do princípio da consunção), que, como vimos, pode ser chamado de crime ultra complexo.
Crime habitual: delito que busca punir um conjunto de condutas praticadas pelo agente. Tipo penal criado para punir um estilo de vida. Ex: curandeirismo, casa de prostituição.
	- Crime habitual e tentativa: a doutrina majoritária é pela impossibilidade de tentativa.
	- Crime habitual e flagrante: a doutrina majoritária é pela possibilidade.
	- Crime habitual impróprio: basta um único ato para a configuração do delito, porém a prática de mais de um ato constitui crime único. Ex: gestão temerária ou fraudulenta (Lei 7.492).
	Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado: é aquele que contém várias modalidades de condutas (núcleos no preceito primário) em sua descrição legal. Pode ser alternativo (prática de mais de uma conduta constitui crime único) ou cumulativo (prática de mais de uma conduta constitui mais de um crime). Ex: art. 22, parágrafo único, da Lei 7.492 (evasão de divisas) – proteção de bens jurídicos diversos.
	Crime vago: é aquele em que o sujeito passivo é uma coletividade de pessoas destituída de personalidade jurídica.
	Crime condicionado: é aquele que tem punibilidade condicionada a um fato exterior e posterior à consumação. Ex: sonegação fiscal. [constituição do crédito é condição objetiva de punibilidade].
	
CRIME X CONTRAVENÇÃO
	
Crime: conduta para a qual é cominada pena de reclusão ou detenção e multa, sendo esta última alternativamente ou cumulativamente.
	
Contravenção: conduta para a qual é cominada pena de prisão simples e/ou multa.
		Art. 28 da Lei 11.343: o STF entendeu que a natureza jurídica do crime vai além da pena aplicada. Não é pelo fato de se aplicar pena diferente de detenção ou reclusão que haveria descaracterização do delito. (preocupação com as condutas praticadas por menores).
CRIME de tendência intensificada x crime de intenção
 
Delitos de intenção: requerem um agir com ânimo, finalidade ou intenção adicional de obter um resultado ulterior ou uma ulterior atividade, distintos da realização do tipo penal. Gera os delitos de resultado cortado (ex: extorsão mediante sequestro) e os mutilados de dois atos (ex: quadrilha).
a) De resultado cortado: em que o resultado naturalístico (dispensável por se tratar de delito formal) depende, para sua configuração, de comportamento advindo de terceiros estranhos à execução do crime. Ex: art. 159, CP - extorsão mediante sequestro - a obtenção da vantagem (o resgate) depende dos familiares da vítima.
b) Atrofiado de 2 atos: o resultado naturalístico (também dispensável) depende de um novo comportamento do agente. Ex: art. 291 - na modalidade adquirir petrecho - precisa-se de outro ato para a falsificação da moeda com prejuízo a alguém (resultado naturalístico).
	
Delitos de tendência: nesses crimes, não é a vontade do autor que determina o caráter lesivo do acontecer externo, mas outros extratos específicos, inclusive inconscientes. Ex: crimes contra a honra (propósito de ofender); crime do art. 212 (propósito de ultrajar).
Os delitos de tendência são aqueles que só podem ser compreendidos presente uma especial finalidade, diferente do de intenção porque neste a lei narra uma especial finalidade e nos delitos de tendência a lei não narra nenhuma especial finalidade, exemplo crimes contra honra, pois não basta atribuir uma qualidade negativa a vítima, mas sim ter a intenção de macular a honra com esta qualidade. 
*#EXTRA: Sabe-se que atualmente nomenclatura é “questão de sobrevivência” em concurso público. Assim, vejamos algumas classificações adicionais para não errar mais em prova:[2: Por Bruna Daronch (baseado no livro de Cleber Masson).]
Crimes à distância: também conhecidos como “crimes de espaço máximo”, são aqueles cuja
conduta e resultado ocorrem em países diversos. Como analisado na parte relativa ao lugar do crime, o art. 6.º do Código Penal acolheu a teoria mista ou da ubiquidade.
Crimes plurilocais: são aqueles cuja conduta e resultado se desenvolvem em comarcas diversas, sediadas no mesmo país. No tocante às regras de competência, o art. 70 do Código de Processo Penal dispõe que, nesse caso, será competente para o processo e julgamento do crime o juízo do local em que se operou a consumação. Há, contudo, exceções (ex: júri, juizado especial criminal – momento da ação/omissão).
Crimes em trânsito: são aqueles em que somente uma parte da conduta ocorre em um país, sem lesionar ou expor a situação de perigo bens jurídicos de pessoas que nele vivem. Exemplo: “A”, da Argentina, envia para os Estados Unidos uma missiva com ofensas a “B”, e essa carta passa pelo território brasileiro.
Crimes de mínimo potencial ofensivo são os que não comportam a pena privativa de liberdade. No Brasil, enquadra-se nesse grupo a posse de droga para consumo pessoal, tipificada no art. 28 da Lei 11.343/2006, ao qual são cominadas as penas de advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
Crimes de menor potencial ofensivo, por sua vez, são aqueles cuja pena privativa de liberdade em abstrato não ultrapassa dois anos, cumulada ou nãocom multa. São assim definidos pelo art. 61 da Lei 9.099/1995, e ingressam na competência do Juizado Especial Criminal, obedecendo ao rito sumaríssimo e admitindo a transação penal e a composição dos danos civis. O art. 98, I, da Constituição Federal faz menção às “infrações penais de menor potencial ofensivo”, expressão que também abrange todas as contravenções penais.
Crimes de médio potencial ofensivo, de seu turno, são aqueles cuja pena mínima não ultrapassa um ano, independentemente do máximo da pena privativa de liberdade cominada. Tais delitos admitem a suspensão condicional do processo, na forma delineada pelo art. 89 da Lei 9.099/1995.
Crimes de elevado potencial ofensivo são os que apresentam pena mínima superior a um ano, ou seja, pelo menos de dois anos, e, consequentemente, pena máxima acima de dois anos. Tais delitos não se compatibilizam com quaisquer dos benefícios elencados pela Lei 9.099/1995.
Crimes de máximo potencial ofensivo os que recebem tratamento diferenciado pela Constituição Federal. São os hediondos e equiparados – tráfico de drogas, tortura e o terrorismo (CF, art. 5.º, XLIII), bem como os delitos cujas penas não se submetem à prescrição, quais sejam, racismo (CF, art. 5.º, XLII) e ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (CF, art. 5.º, XLIV).
Crime gratuito é o praticado sem motivo conhecido, porque todo crime tem uma motivação. Não se confunde com o motivo fútil, definido como aquele de menor importância, desproporcional ao resultado provocado pelo crime.
#ATENÇÃO: Com efeito, a ausência de motivo conhecido não deve ser equiparada ao motivo fútil. Destarte, o desconhecimento acerca do móvel do agente não deve ser colocado no mesmo nível do motivo de somenos importância. Há, todavia, adeptos de posição contrária, os quais alegam que, se um motivo ínfimo justifica a elevação da pena, com maior razão deve ser punida mais gravemente a infração penal imotivada.
Crime de ímpeto é o cometido sem premeditação, como decorrência de reação emocional repentina, tal como no homicídio privilegiado, cometido pelo agente sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima (CP, art. 121, § 1.º). Esses crimes são, normalmente, passionais (movidos pela paixão).
Crime exaurido é aquele em que o agente, depois de já alcançada a consumação, insiste na agressão ao bem jurídico. Não caracteriza novo crime, constituindo-se em desdobramento de uma conduta perfeita e acabada. Em outras palavras, é o crime que, depois de consumado, alcança suas consequências finais, as quais podem configurar um indiferente penal, como no falso testemunho (CP, art. 342), que se torna exaurido com o encerramento do julgamento relativo a este crime, ou então condição de maior punibilidade, como ocorre na resistência (CP, art. 329), em que a não execução do ato dá ensejo à forma qualificada do crime.
Crime de circulação é o praticado com o emprego de veículo automotor, a título de dolo ou de culpa, com a incidência do Código Penal ou do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/1997).
Crime atentado é aquele em que a lei pune de forma idêntica o crime consumado e a forma tentada, isto é, não há diminuição da pena em face da tentativa. É o caso do crime de evasão mediante violência contra a pessoa (CP, art. 352: “Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa”).
Crime de opinião ou de palavra é o cometido pelo excesso abusivo na manifestação do pensamento, seja pela forma escrita, seja pela forma verbal, tal como ocorre no desacato (CP, art. 331).
Crime multitudinário é aquele praticado pela multidão em tumulto. A lei não diz o que se entende por “multidão”, razão pela qual sua configuração deve ser examinada no caso concreto. Exemplo: agressões praticadas em um estádio por torcedores de um time de futebol. No Direito Canônico da Idade Média, exigiam-se ao menos 40 pessoas.
Crime vago é aquele em que figura como sujeito passivo uma entidade destituída de personalidade jurídica, como a família ou a sociedade. Exemplo: tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art. 33, caput), no qual o sujeito passivo é a coletividade.
Crime de mera suspeita, sem ação ou de mera suposição é aquele em que o agente não realiza conduta penalmente relevante. Ao contrário, ele é punido em razão da suspeita despertada pelo seu modo de agir. Essa modalidade, idealizada na Itália por Vicenzo Manzini, não encontrou amparo seguro na doutrina. No Brasil, pode ser apresentada como exemplo a contravenção penal tipificada pelo art. 25 do Decreto-lei 3.688/1941 – Lei das Contravenções Penais (posse não justificada de instrumento de emprego usual na prática de furto).
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: Recurso extraordinário. Constitucional. Direito Penal. Contravenção penal. 2. Posse não justificada de instrumento de emprego usual na prática de furto (artigo 25 do Decreto-Lei n. 3.688/1941). Réu condenado em definitivo por diversos crimes de furto. Alegação de que o tipo não teria sido recepcionado pela Constituição Federal de 1988. Arguição de ofensa aos princípios da isonomia e da presunção de inocência. 3. Aplicação da sistemática da repercussão geral – tema 113, por maioria de votos em 24.10.2008, rel. Ministro Cezar Peluso. 4. Ocorrência da prescrição intercorrente da pretensão punitiva antes da redistribuição do processo a esta relatoria. Superação da prescrição para exame da recepção do tipo contravencional pela Constituição Federal antes do reconhecimento da extinção da punibilidade, por ser mais benéfico ao recorrente. 5. Possibilidade do exercício de fiscalização da constitucionalidade das leis em matéria penal. Infração penal de perigo abstrato à luz do princípio da proporcionalidade. 6. Reconhecimento de violação aos princípios da dignidade da pessoa humana e da isonomia, previstos nos artigos artigos 1º, inciso III; e 5º, caput e inciso I, da Constituição Federal. Não recepção do artigo 25 do Decreto-Lei 3.688/41 pela Constituição Federal de 1988. 7. Recurso extraordinário conhecido e provido para absolver o recorrente nos termos do artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal. (RE 583523, Relator(a):  Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 03/10/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-208 DIVULG 21-10-2014 PUBLIC 22-10-2014)
Crime inominado é aquele delineado pelo uruguaio Salvagno Campos, é o que ofende regra ética ou cultural consagrada pelo Direito Penal, embora não definido em lei como infração penal. Não pode ser aceito, haja vista que o princípio da reserva legal veda a analogia in malam partem em âmbito criminal.
Crime profissional é o crime habitual, quando cometido com finalidade lucrativa. Exemplo: rufianismo (CP, art. 230).
Quase-crime é o nome doutrinário atribuído ao crime impossível (CP, art. 17) e à participação impunível (CP,art. 31). Na verdade, inexiste crime.
Crime subsidiário é o que somente se verifica se o fato não constitui crime mais grave. É o caso do dano (CP, art. 163), subsidiário em relação ao crime de incêndio (CP, art. 250). Para Nélson Hungria, o crime subsidiário funciona como “soldado de reserva”.
Crime de expressão é o que se caracteriza pela existência de um processo intelectivo interno do autor. Exemplo: falso testemunho (CP, art. 342), no qual a conduta tipificada não se funda na veracidade ou na falsidade objetiva da informação, mas na desconformidade entre a informação e a convicção pessoal do seu autor.
Crime de intenção ou de tendência interna transcendente é aquele em que o agente quer e persegue um resultado que não necessita ser alcançado para a consumação, como se dá na extorsão mediante sequestro (CP, art. 159).
Crime detendência é aquele em que a tendência afetiva do autor delimita a ação típica, ou seja, a tipicidade pode ou não ocorrer em razão da atitude pessoal e interna do agente. Exemplos: toque do ginecologista na realização do diagnóstico, que pode configurar mero agir profissional ou então algum crime de natureza sexual, dependendo da tendência (libidinosa ou não), bem como as palavras dirigidas contra alguém, que podem ou não caracterizar o crime de injúria em razão da intenção de ofender a honra ou de apenas criticar ou brincar.
Crime de ação astuciosa é o praticado por meio de fraude, engodo, tal como no estelionato (CP, art. 171).
Crime falho é a denominação doutrinária atribuída à tentativa perfeita ou acabada, ou seja, aquela em que o agente esgota os meios executórios que tinha à sua disposição e, mesmo assim, o crime não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade. Exemplo: “A” desfere os seis tiros do revólvercontra “B”, que mesmo ferido consegue fugir e vem a ser eficazmente socorrido.
Crime putativo, imaginário ou erroneamente suposto é aquele em que o agente acredita realmente ter praticado um crime, quando na verdade cometeu um indiferente penal. Exemplo: “A” vende um pó branco, acreditando tratar-se de cocaína. Na verdade, era talco. Trata-se de um “não crime”, que se divide em três espécies: a) crime putativo por erro de tipo; b) crime putativo por erro de proibição, também conhecido como “delito de alucinação”; e c) crime putativo.
Crime remetido é o que se verifica quando sua definição típica se reporta a outro crime, que passa a integrá-lo, como no uso de documento falso (“fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302” – CP, art. 304).
Crime obstáculo é aquele que retrata atos preparatórios tipificados como crime autônomo pelo legislador. É o caso da associação criminosa (CP, art. 288) e dos petrechos para falsificação de moeda (CP, art. 291).
Crime de impressão provoca estado de ânimo na vítima, podendo ser: crimes de inteligência: são praticados mediante o engano, como o estelionato (CP, art. 171); crimes de vontade: recaem na vontade do agente quanto à sua autodeterminação, como o sequestro (CP, art. 148); e crimes de sentimento: são os que incidem nas faculdades emocionais, tal como a injúria (art. 140).
Crimes militares são aqueles tipificados no Código Penal Militar, podendo ser: crimes militares próprios (ou puramente militares) são os definidos exclusivamente pelo Código Penal Militar. Exemplo: deserção (CPM, art. 187) e crimes militares impróprios são os que encontram previsão legislativa tanto no Código Penal Militar como também no Código Penal comum, tais como furto, roubo, estupro e homicídio.
Crimes funcionais são aqueles cujo tipo penal exige seja o autor funcionário público. Dividem-se em próprios e impróprios: Crimes funcionais próprios são aqueles em que a condição de funcionário público, no tocante ao sujeito ativo, é indispensável à tipicidade do fato. A ausência desta condição conduz à atipicidade absoluta, tal como ocorre na corrupção passiva e na prevaricação (CP, arts. 317 e 319, respectivamente); Crimes funcionais impróprios, ou mistos, se ausente a qualidade funcional, opera-se a desclassificação para outro delito. Exemplo: no peculato-furto (CP, art. 312, § 1.º), se desaparecer a condição de funcionário público no tocante ao autor, subsiste o crime de furto (CP, art. 155).
Crimes parcelares são os crimes da mesma espécie que compõem a série da continuidade delitiva, desde que presentes os demais requisitos exigidos pelo art. 71, caput, do Código Penal. Com efeito, o ordenamento penal brasileiro filiou-se, no campo do crime continuado, à teoria da ficção jurídica, razão pela qual os diversos delitos (parcelares) são considerados, para fins de aplicação da pena, como um único crime.
Crimes de hermenêutica são os que resultam unicamente da interpretação dos operadores do Direito, pois na situação concreta não existem provas, nem sequer indícios consistentes, da prática de um fato legalmente descrito como criminoso. Esta expressão – “crimes de hermenêutica” – foi idealizada por Rui Barbosa.
Crimes de rua ou crimes de colarinho azul são os praticados pelas pessoas de classes sociais desfavorecidas, a exemplo dosfurtos executados por miseráveis, andarilhos e mendigos. Esses delitos são cometidos aos olhos da sociedade, em locais supervisionados pelo Estado (praças, parques, favelas etc.), e por essa razão são frequentemente objeto das instâncias de proteção (Polícia, Ministério Público e Poder Judiciário). Quando ficam alheios ao conhecimento do Poder Público, integram as cifras negras do Direito Penal.
Crimes do colarinho branco (white collar crime) são cometidos por aqueles que gozam e abusam da elevada condição econômica e do poder daí decorrente, como é o caso dos delitos contra o sistema financeiro nacional (Lei 7.492/1986), de lavagem de capitais (Lei 9.613/1998) e contra a ordem econômica (Lei 8.176/1991), entre tantos outros. Nesses crimes socioeconômicos, surgem as “cifras douradas do Direito Penal”, indicativas da diferença apresentada entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida e enfrentada pelo Estado. Raramente existem registros envolvendo delitos dessa natureza, inviabilizando a persecução penal e acarretando a impunidade das pessoas privilegiadas no âmbito econômico.
Crime de catálogo diz respeito aos delitos compatíveis com a interceptação telefônica, disciplinada pela Lei 9.296/1996, como meio de investigação ou de produção de provas durante a instrução em juízo.
Crime de acumulação ou crime de dano cumulativo: Esta classificação tem origem na Dinamarca (“kumulations delikte”), e parte da seguinte premissa: determinadas condutas são incapazes, isoladamente, de ofender o valor ou interesse protegido pela norma penal. Contudo, a repetição delas, cumulativamente consideradas, constitui crime, em face da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico. Exemplo: Embora o comportamento seja imoral e ilícito, quem joga lixo uma única vez e em quantidade pequena às margens de um riacho não comete o crime de poluição. Contudo, se esta conduta for reiterada, surgirá o delito tipificado no art. 54 da Lei 9.605/1998 – Lei dos Crimes Ambientais.
Crimes de plástico são aquelas situações típicas das sociedades modernas, em que o direito penal aparece como (falsa) solução para todos os males, contribuindo fundamentalmente para a proliferação e ampliação do “cardápio” de tipos penais, com nenhuma ou pouca efetividade. Em situações determinadas, sobretudo quando há uma movimentação e pressão popular ou midiática, o Estado traz novas (?) soluções e alterações legislativas, seja para recrudescer o tratamento a alguns delitos, seja para criar efetivamente novos crimes no ordenamento jurídicos. Ex: Lei Carolina Dieckman (Lei 12.737/12).[3: Contrapõem-se aos crimes naturais, que são previstos no passado, sendo punidos hoje, e certamente, serão objetos de censura no futuro. Ex: homicídio. Mais informações em: http://blog.ebeji.com.br/o-que-sao-crimes-de-plastico/. ]
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO