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LIPÍDEOS Apresentação: Márcio Diniz Prof° Marcello Leite| Química dos Alimentos – Licenciatura em Química INTRODUÇÃO Os lipídeos desempenham uma grande variedade de funções celulares, algumas delas apenas recentemente reconhecidas. Eles são a principal forma de armazenamento de energia na maioria dos organismos e os principais constituintes das membranas celulares. Lipídeos especializados atuam como pigmentos (retinal, caroteno), cofatores (vitamina K), detergentes (sais biliares), transportadores (dolicóis), hormônios (derivados da vitamina D, hormônios sexuais), mensageiros extracelulares e intracelulares (eicosanoides, derivados do fosfatidilinositol) e âncoras para proteínas de membrana (ácidos graxos covalentemente ligados, grupos prenila e fosfatidilinositol). LIPÍDEOS DE ARMAZENAMENTO As gorduras e os óleos utilizados de modo quase universal como formas de armazenamento de energia nos organismos vivos são derivados de ácidos graxos. Os ácidos graxos são derivados de hidrocarbonetos, com estado de oxidação quase tão baixo (ou seja, altamente reduzido) quanto os hidrocarbonetos nos combustíveis fósseis. Os ácidos graxos são ácidos carboxílicos com cadeias hidrocarbonadas de comprimento variando de 4 a 36 carbonos (C4 a C36). LIPÍDEOS DE ARMAZENAMENTO Os pontos de fusão também são muito influenciados pelo comprimento e grau de insaturação da cadeia hidrocarbonada. À temperatura ambiente (25°C), os ácidos graxos saturados de 12:0 a 24:0 têm consistência de cera, enquanto os ácidos graxos insaturados de mesmo comprimento são líquidos oleosos. Essa diferença nos pontos de fusão deve-se a diferentes graus de empacotamento das moléculas dos ácidos graxos. LIPÍDEOS DE ARMAZENAMENTO Os lipídeos mais simples construídos a partir de ácidos graxos são os triacilgliceróis, também chamados de triglicerídeos, compostos por três ácidos graxos, cada um em ligação éster com uma molécula de glicerol. Como as hidroxilas polares do glicerol e os carboxilatos polares dos ácidos graxos estão em ligações éster, os triacilgliceróis são moléculas apolares. Em alguns animais, os triacilgliceróis armazenados sob a pele servem tanto de estoques de energia quanto de isolamento contra baixas temperaturas. LIPÍDEOS DE ARMAZENAMENTO Os triacilgliceróis também são armazenados como óleos nas sementes de vários tipos de plantas, fornecendo energia e precursores biossintéticos durante a germinação da semente. Os adipócitos e as sementes em germinação contêm lipases, enzimas que catalisam a hidrólise dos triacilgliceróis armazenados. As vantagens em se usar triacilgliceróis para o armazenamento de combustível é que um grama de triacilgliceróis libera mais do que o dobro de energia do que a oxidação de um grama de carboidratos e por serem hidrofóbicos, o organismo não precisa carregar o peso extra da água da hidratação (2 g por grama de polissacarídeo). GORDURAS TRANS Quando alimentos ricos em lipídeos são expostos por muito tempo ao oxigênio do ar, eles podem estragar e tornarem-se rançosos devido a clivagem oxidativa das ligações duplas em ácidos graxos insaturados, que produz aldeídos e ácidos carboxílicos de menor comprimento de cadeia. Para aumentar o prazo de validade de óleos vegetais e a sua estabilidade às altas temperaturas, esses são preparados por hidrogenação parcial. GORDURAS TRANS Esse processo converte muitas das ligações duplas cis dos ácidos graxos em ligações simples. A hidrogenação parcial tem outro efeito indesejado, algumas ligações duplas cis são convertidas em ligações duplas trans. Hoje existem fortes evidências de que o consumo de ácidos graxos trans pela dieta leva a uma maior incidência de doenças cardiovasculares. Os ácidos graxos trans da dieta aumentam o nível de triacilgliceróis e de colesterol LDL no sangue e diminuem o nível de colesterol HDL. ESTERÓIS (COLESTEROL) Os esteróis têm quatro anéis fusionados e um grupo hidroxila. O colesterol, o principal esterol em animais, é tanto um componente estrutural das membranas quanto um precursor para uma ampla variedade de esteroides. Os ácidos biliares são derivados polares do colesterol que atuam como detergentes no intestino, emulsificando as gorduras da dieta para torná-las mais acessíveis às lipases digestivas. ESTEROIDES Os esteroides são derivados oxidados dos esteróis, possuem o núcleo esterol, mas não a cadeia alquila ligada ao anel D do colesterol. Os hormônios esteroides circulam pela corrente sanguínea , ligam-se a receptores proteicos altamente específicos no núcleo e causam mudanças na expressão gênica e, portanto, no metabolismo. Os principais grupos de hormônios esteroides são os hormônios sexuais masculinos e femininos e os hormônios produzidos pelo córtex suprarrenal, cortisol e aldosterona. VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS Durante o primeiro terço do século XX, um grande foco de pesquisa em química fisiológica foi a identificação das vitaminas, que não podem ser sintetizados por esses animais e devem, portanto, ser obtidos da dieta. Os primeiros estudos nutricionais identificaram duas classes gerais desse tipo de composto: vitaminas lipossolúveis e vitaminas hidrossolúveis. Posteriormente, o grupo lipossolúvel foi dividido nos quatro grupos das vitaminas A, D, E e K, sendo que as vitaminas D e A servem como precursores de hormônios. VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS Vitamina A1, seu precursor e derivados. Quando a molécula de rodopsina é excitada pela luz visível, o 11-cis-retinal passa por uma série de reações fotoquímicas que o convertem em retinal todo-trans. Essa transformação no bastonete da retina dos vertebrados emite um sinal elétrico para o cérebro que é a base da transdução visual. VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS A vitamina E é o nome coletivo para um grupo de lipídeos relacionados chamados tocoferóis. Os tocoferóis são antioxidantes biológicos, o anel aromático reage com as formas mais reativas de radicais de oxigênio e outros radicais livres e as destrói, protegendo os ácidos graxos insaturados da oxidação e impedindo o dano oxidativo aos lipídeos de membrana, o que pode causar fragilidade celular. O anel aromático da vitamina K passa por um ciclo de oxidação e redução durante a formação da proteína do plasma sanguíneo essencial na coagulação. CATABOLISMO DE ÁCIDOS GRAXOS Antes que os triacilgliceróis possam ser absorvidos através da parede intestinal, eles precisam ser convertidos de partículas de gordura macroscópicas insolúveis em micelas microscópicas finamente dispersas. Essa solubilização é realizada pelos sais biliares. Os triacilgliceróis absorvidos no intestino ou mobilizados dos tecidos de armazenamento devem ser carregados no sangue ligados a proteínas que neutralizam a sua insolubilidade. CATABOLISMO DE ÁCIDOS GRAXOS A oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa à acetil-CoA é uma via central de geração de energia em muitos organismos e tecidos. No coração e no fígado de mamífero ela fornece até 80% das necessidades energéticas. Os elétrons retirados dos ácidos graxos durante a oxidação passam pela cadeia respiratória, levando à síntese de ATP. No fígado, a acetil-CoA pode ser convertida em corpos cetônicos, combustíveis solúveis em água exportados para o cérebro e para outros tecidos quando glicose não está disponível. OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS Na primeira etapa – β-oxidação –, os ácidos graxos sofrem remoção oxidativa de sucessivas unidades de dois carbonos na forma de acetil-CoA, começando pela extremidadecarboxílica da cadeia acil-graxo. As duas primeiras etapas da oxidação dos ácidos graxos produzem os transportadores de elétrons reduzidos NADH e FADH2. OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS Na segunda etapa da oxidação de ácidos graxos, os grupos acetil da acetil- CoA são oxidados a CO2 no ciclo do ácido cítrico, que também ocorre na matriz mitocondrial. A acetil-CoA derivada dos ácidos graxos então entra em uma via de oxidação final comum com a acetil-CoA derivada da glicose precedente da glicólise e da oxidação do piruvato. OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS Na terceira etapa doam elétrons para a cadeia respiratória mitocondrial, por meio da qual os elétrons passam para o oxigênio com a fosforilação concomitante de ADP a ATP. A energia liberada pela oxidação dos ácidos graxos é, portanto, conservada como ATP. CORPOS CETÔNICOS O acetil-CoA formado no fígado durante a oxidação dos ácidos graxos pode entrar no ciclo do ácido cítrico ou sofrer conversão a “corpos cetônicos”, acetona, acetoacetato e D-β-hidroxibutirato, para exportação a outros tecidos. A acetona, produzida em menor quantidade do que os outros corpos cetônicos, é exalada. O acetoacetato e o D-β-hidroxibutirato são transportados pelo sangue para outros tecidos que não o fígado (tecidos extra-hepáticos), onde são convertidos a acetil-CoA e oxidados no ciclo do ácido cítrico, fornecendo muito da energia necessária para tecidos como o músculo esquelético e cardíaco e o córtex renal. CORPOS CETÔNICOS O cérebro, que usa preferencialmente glicose como combustível, pode se adaptar ao uso de acetoacetato ou D-β-hidroxibutirato em condições de jejum prolongado, quando a glicose não está disponível. A produção e exportação dos corpos cetônicos do fígado para tecidos extra-hepáticos permite a oxidação contínua de ácidos graxos no fígado quando acetil-CoA não está sendo oxidada no ciclo do ácido cítrico. O aumento dos níveis sanguíneos de acetoacetato e D-β-hidroxibutirato diminui o pH do sangue, causando a condição conhecida como acidose. A acidose extrema pode levar ao coma e em alguns casos à morte. O ESTADO DE JEJUM O fígado usa os ácidos graxos como seu combustível principal, e o excesso de acetil-CoA é convertido em corpos cetônicos exportados para outros tecidos; o cérebro é particularmente dependente deste combustível quando há deficiência de fornecimento de glicose. Após algumas horas sem alimento, o fígado torna-se a principal fonte de glicose para o cérebro. O glicogênio hepático é degradado em glicose livre, que é liberada para a corrente sanguínea. O ESTADO DE JEJUM As reservas de combustível de um adulto humano saudável são de três tipos: glicogênio armazenado no fígado e, em menor quantidade, no músculo; grandes quantidades de triacilgliceróis no tecido adiposo; e proteínas teciduais que podem ser degradadas, quando necessário, para fornecer combustível. Duas horas após uma refeição, o nível de glicose sanguínea está levemente diminuído, e os tecidos recebem glicose liberada a partir do glicogênio hepático. Há pequena ou nenhuma síntese de triacilgliceróis. Quatro horas após a refeição, a glicose sanguínea está mais reduzida, a secreção de insulina diminuiu e a secreção de glucagon está aumentada. Esses sinais hormonais mobilizam os triacilgliceróis do tecido adiposo, que agora se tornam o principal combustível para o músculo e o fígado. O ESTADO DE JEJUM AÇÃO INIBIDORA DA GLICOSE BIOSSÍNTESE DE ÁCIDOS GRAXOS Após a descoberta de que a oxidação dos ácidos graxos ocorre pela remoção oxidativa e sucessiva de unidades com dois átomos de carbono (acetil-CoA), os bioquímicos pensaram que a biossíntese dos ácidos graxos poderia ocorrer pela simples inversão dos mesmos passos enzimáticos. No entanto, a biossíntese requer a participação de um intermediário de três carbonos, a malonil-CoA, que não está envolvido na degradação dos ácidos graxos. BIOSSÍNTESE DE ÁCIDOS GRAXOS A cadeia acila graxo cresce em unidades de dois carbonos doadas pelo malonato ativado, com perda de CO2 a cada adição. Após a adição de cada unidade de dois carbonos, reduções convertem a cadeia em crescimento em ácido graxo saturado de quatro, seis e, em seguida, oito carbonos, e assim por diante. O produto final é o palmitato. BIOSSÍNTESE DE TRIACILGLICERÓIS Os humanos estocam apenas algumas centenas de gramas de glicogênio no fígado e nos músculos, quantidade suficiente apenas para suprir as necessidades energéticas do corpo por 12 horas. Por outro lado, a quantidade total de triacilglicerol armazenado em um homem de 70 kg de constituição média é de cerca de 15 kg, o suficiente para suprir as necessidades energéticas basais por aproximadamente 12 semanas. Os triacilgliceróis são formados pela reação de duas moléculas de acil-CoA graxo com glicerol-3-fosfato, formando ácido fosfatídico; esse produto é desfosforilado a um diacilglicerol e, então, acilado por uma terceira molécula de acil-CoA graxo para gerar um triacilglicerol. BIOSSÍNTESE DE TRIACILGLICERÓIS BIOSSÍNTESE DE TRIACILGLICERÓIS Em mamíferos, as moléculas de triacilglicerol são degradadas e ressintetizadas em um ciclo do triacilglicerol durante o jejum. Parte dos ácidos graxos liberados pela lipólise dos triacilgliceróis no tecido adiposo passa para a corrente sanguínea e o restante é utilizado para ressintetizar triacilglicerol. Parte dos ácidos graxos liberados no sangue é utilizada para fornecer energia (p. ex., no músculo), e parte é captada pelo fígado e utilizada para a síntese de triacilgliceróis. BIOSSÍNTESE DE TRIACILGLICERÓIS O tecido adiposo gera glicerol-3-fosfato por meio da gliceroneogênese, partindo de piruvato a DHAP, seguindo-se a conversão de DHAP em glicerol-3-fosfato pela enzima citosólica glicerol-3-fosfato-desidrogenase ligada ao NAD) Depois, o glicerol-3-fosfato é utilizado na síntese de triacilglicerol. Nos seres humanos em jejum, a gliceroneogênese no fígado, sozinha, responde pela síntese de glicerol-3- fosfato suficiente para a reesterificação de até 65% dos ácidos graxos em triacilglicerol. A síntese e a degradação dos triacilgliceróis são reguladas por hormônios glicocorticoides, como o cortisol. REFERÊNCIAS David L. NELSON | Michael M. COX. PRINCÍPIOS DE BIOQUÍMICA DE LEHNINGER. ARTMED. 6 ed. 2014 Disponível em http://www.sobiologia.com.br/conteudos/bioquimica/bioquimica2.php. Acessado em 18 out. 2017 Disponível em https://educacao.uol.com.br/disciplinas/biologia/membrana-celular-a-pele-que- envolve-a-celula.htm. Acesso em 18 out. 2017
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