Buscar

AMARANTE, SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL PROF. LUIZ LESSA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.: Luiz Lessa 
 
 
 
 
ANO 
2017 
 
 
 
 
AMARANTE, Paulo. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. 2.ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3
 
 O autor propõe um trajeto desde as bases da psiquiatria e do manicômio até os projetos atuais de 
construção de um novo lugar social para as pessoas em sofrimento mental. Para tal, inicialmente, o autor 
faz algumas considerações sobre o SENTIDO DA EXPRESSÃO “SAÚDE MENTAL”: 
 
1) Saúde mental como UM CAMPO OU ÁREA DE CONHECIMENTO E DE ATUAÇÃO TÉCNICA 
NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE: vigorosamente complexo, plural, 
intersetorial e ainda marcado pela transversalidade de saberes. Não se procura afirmar um 
paradigma verdadeiramente único e definitivo dos saberes que efetivamente compõem a natureza 
do campo da saúde mental. Diferentes saberes podem se entrecruzar determinando um espectro 
amplo de conhecimentos: psiquiatria,psicologia, psicanálise, antropologia, sociologia, filosofia, 
história, geografia, e ainda manifestações religiosas, ideológicas, éticas de cada cultura, etc.ESSA 
PERSPECTIVA É TÃO RICA E POLISSÊMICA QUE TORNA DIFÍCIL DELIMITAR AS 
FRONTEIRAS DOS CONHECIMENTOS E SABERES ENVOLVIDOS. Isso leva a uma reflexão 
sobre VERDADE. Paulo Amarante se refere ao uso que Laing faz de uma figura ambígua ou 
equívoca (dois perfis frente a frente) geralmente mencionada para brincar de ilusão de ótica e 
mostrar como “a forma inicial de ver uma coisa determina todas as nossas relações subsequentes 
com ela” (p.16). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2) Trabalhar hoje no campo polissêmico e plural da saúde mental significa estar voltado para o 
estado mental dos sujeitos e das coletividades. ASSIM, QUALQUER TENTATIVA DE 
CATEGORIZAÇÃO NO MODO DE PENSÁ-LO “É ACOMPANHADA DO RISCO DE UM 
REDUCIONISMO E DE UM ACHATAMENTO DAS POSSIBILIDADES DA EXISTÊNCIA HUMANA E 
SOCIAL”, dadas as condições altamente complexas que dizem respeito a esse campo– trabalhar na 
saúde mental não significa mais, como outrora, trabalhar com doença mental e manicômios 
 
 
 
 
 
 
 
3) Há uma grande e importante DIFERENÇA entre A PERSPECTIVA ATUAL e a mais ANTIGA 
SOBRE TRABALHAR NA SAÚDE MENTAl: antes significava trabalhar com doenças mentais, em 
hospícios, ambulatórios e emergências de crise psiquiátrica, isto é, “loucos agressivos, em 
ambientes carcerários, desumanos, de isolamento e segregação”. Essa perspectiva vem se 
modificando radicalmente e vem se consolidando cada vez mais um novo modo de lidar com o 
sofrimento mental, pautado em acolhimento, cuidado efetivo e construção consequente de 
um novo lugar social para a diversidade, para a diferença. 
 
 
 
A natureza do campo da saúde mental vem contribuindo para que comecemos a pensar de forma 
diferente: NÃO MAIS COM UM PARADIGMA DE VERDADE ÚNICA E DEFINITIVA, MAS EM TERMOS 
DE COMPLEXIDADE, SIMULTANEIDADE, DE TRANSVERSALIDADE DE SABERES, DE 
“CONSTRUCIONISMO”, DE “REFLEXIVIDADE”. 
 
 
 
 
Diferentes focos ou perspectivas, permitem: 
diferentes pontos de vista, diferentes descrições, diferentes teorias, diferentes formas de ação 
O QUE É SAÚDE E DOENÇA ? 
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “estado de completo bem-estar físico, 
mental e social”. Não é suficiente dizer que doença é ausência de saúde ou vice-versa, pois esse 
seria um modelo científico dualista-racionalista de ver as coisas (erro X verdade). Esse aspecto 
fica claro quando se pensa a questão da normalidade, dos buracos negros, dos enigmas da 
origem da vida e do universo. 
 
4
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Revisitando o ALIENISMO, ciência pioneira no estudo dos transtornos mentais, a fim de 
caracterizar o processo de apropriação da loucura pela medicina com a constituição do saber 
psiquiátrico e, por conseguinte, de sua principal instituição, o HOSPÍCIO, procurando assim abordar 
os principais conceitos e práticas que fundaram o PARADIGMA PSIQUIÁTRICO. 
Nessa discussão, a REVOLUÇÃO FRANCESA é apontada como um marco na história da 
humanidade pelas muitas transformações econômicas, sociais e políticas que provocou, bem como pela 
introdução do debate em torno dos direitos humanos e do conceito de cidadania que acabaram por 
repercutir enormemente na área da medicina, sobretudo na história da psiquiatria e da loucura. 
 
O AUTOR DISCUTE ESTAS MODIFICAÇÕES A PARTIR DA INSTITUIÇÃO “HOSPITAL”. 
 
A imagem que nos evoca hoje o hospital é a de um lugar por excelência para o exercício da 
medicina, geralmente desenhado com corredores de enfermarias repletas de doentes deitados em camas e 
assistidos por médicos e enfermeiros. 
Entretanto, criado inicialmente na Idade Média com base em ensinamentos religiosos, o hospital 
não foi sempre assim. Desde o hospital pioneiro no século IV, os hospitais eram fundamentados na fé, 
esperança e especialmente na caridade, e tinham, por isso, como OBJETIVO PRINCIPAL oferecer 
abrigo, alimentação e assistência religiosa aos pobres, mendigos, desabrigados e doentes. 
 
 
 
 
 
 
Trabalhando com Foucault para circunscrever o advento do Hospital Geral como A Grande 
Internação ou O Grande Enclausuramento, em função das suas PRÁTICAS SISTEMÁTICAS E 
GENERALIZADAS DE ISOLAMENTO E SEGREGAÇÃO: no Hospital Geral eram internados toda a 
sorte de pessoas que contradiziam a ordem social do momento, particularmente os pobres, não 
importando para tal o gênero, a natalidade, a condição hábil ou não para o trabalho, se doente ou 
convalescente, curável ou incurável.Nesse saco de gatos, estava também o louco. 
� O Hospital Geral foi fundamental para definir um novo lugar social para o louco e 
também para a loucura na sociedade ocidental 
Até aquele momento, a loucura era tomada por explicações religiosas (atribuída aos deuses 
ou demônios) e o seu lugar eram as ruas, florestas, guetos, igrejas e hospitais.A partir daquele 
momento, os hospitais NÃO ERAM MAIS EXCLUSIVAMENTE FILANTRÓPICOS, MAS 
CUMPRIAM FUNÇÃO DE ORDEM SOCIAL E POLÍTICA. As internações no Hospital Geral 
deveriam acontecer por procura espontânea, ou arbitrariamente determinadas por autoridades 
reais e judiciais, ou ainda pelas indicações dos diretores dos estabelecimentos. Com um poder 
absoluto que lhes era delegado, um poder entre a polícia e a justiça, os diretores dos hospitais 
O contexto do campo da saúde mental e da atenção psicossocial proposto 
assume uma perspectiva utópica: 
 
 
 
 TRANSFORMAR A RELAÇÃO ENTRE A SOCIEDADE E A LOUCURA, QUESTIONANDO O MODELO 
DE CUIDADO VIGENTE BEM COMO OS CONCEITOS E SABERES QUE FUNDAMENTAM E 
LEGITIMAM TAIS PRÁTICAS. Trata-se de um objetivo e de um projeto de luta, sobretudo no Brasil, 
onde o autor irá finalmente se ater. 
 
No século XVII, em 1656, com a constituição do Hospital Geral, os hospitais deixaram de ser 
espaços exclusivamente filantrópicos e de assistência social para cumprir uma função de ordem 
social e política mais explícita: A FUNÇÃO DE CONTROLE, DE DISCIPLINA. 
 
 
5
podiam decidir,julgar e executar, sem possibilidade de apelação,toda a população de sua 
abrangência, pois todos, e não apenas os que já estavam internados, eram uma clientela potencial 
da instituição. 
 Entretanto, com a Revolução Francesa, os hospitais passaram aser objeto de profundas mudanças. 
Tendo como lemas revolucionários igualdade/ liberdade/ fraternidade, ideais que sintetizavam a noção de 
cidadania, muitos médicos foram atuar nos Hospitais Gerais a fim de humanizá-los e adequá-los à 
modernidade: todos os espaços sociais deveriam ser democratizados, o que naturalmente incluía os 
hospitais. Com esse intuito, acabaram por transformá-los em instituições propriamente médicas. Assim, 
muitos internos foram libertos, outras instituições assistenciais foram criadas, como orfanatos, reformatórios 
e escolas normais, e a intervenção médica, antes eventual, passou a ser regular e constante. Agrupando 
as doenças e observando seu curso e evolução, produziu-se um saber sobre elas que até então não 
havia sido possível. 
 
 
 
 
 
 
 
A medicalização do hospital ocorreu em fins do século XVIII, operada a partir da DISCIPLINA 
enquanto tecnologia política, e marcou fortemente a natureza do modelo biomédico da medicina 
ocidental. Nesse modelo, a relação do médico é com a doença, pois é a doença o objeto abstrato e 
natural e não o sujeito da experiência da doença. 
A disciplina, no âmbito da instituição, ocorria a partir da rigorosa distribuição espacial dos internos 
seguida do controle sobre o desenvolvimento das ações das pessoas e não sobre o resultado dessas 
ações, que deveriam ser perpetuamente vigiadas (lembrar o Panóptico, de Bentham). Além disso, tudo o 
que ocorria na instituição deveria ser continuamente registrado. O hospital encerrava em si ao mesmo 
tempo um espaço de exame tal como um laboratório de pesquisa, espaço de tratamento (enquadramento 
das doenças e doentes, disciplina do corpo terapêutico e das tecnologias terapêuticas) e espaço de 
reprodução do saber médico (lugar de ensino e aprendizagem).O médico havia enfim subtraído da 
filantropia e do clero o poder administrativo do hospital e se transformou num de seus personagens 
fundamentais, sendo inclusive quem detinha agora o poder máximo no hospital. 
Esse novo modelo produziu um saber original sobre as doenças, mas sobre uma doença que 
já havia sofrido a ação prévia de institucionalização: a doença sobre a qual se produzia um saber já era 
uma doença produzida e transformada pela intervenção médica, ou seja, não se tratava mais de doença 
isolada em estado puro. 
 
Resumindo O HOSPITAL PERDE CADA VEZ MAIS SUAS FUNÇÕES DE CARIDADE E 
FILANTROPIA (IDADE MÉDIA) E DE CONTROLE SOCIAL (HOSPITAL GERAL DO ANTIGO REGIME DO 
SÉCULO XVII) PARA ASSUMIR A FUNÇÃO MEDICALIZADA DO SÉCULO XVIII. O MODELO MÉDICO, 
NESSA PERSPECTIVA, ASSUME UMA POSTURA HOSPITALOCÊNTRICA, ESPECIALÍSTICA, 
VERTICALIZADA E HIERARQUIZADA, CENTRADA NA DOENÇA E NÃO NOS SUJEITOS que têm as 
doenças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Nesse contexto, quatro anos após a Revolução Francesa, Pinel assume a direção do Bicêtre, uma 
das unidades do Hospital Geral de Paris e inicia a fundação da psiquiatria, ou o que é denominado 
MOVIMENTO ALIENISTA. 
Esse processo é chamado de MEDICALIZAÇÃO DO HOSPITAL e engloba duas frentes 
concomitantes: o hospital foi apropriado pela medicina e se tornou a principal instituição 
médica, e a medicina se tornou um saber e uma prática predominantemente hospitalares que 
possibilitaram o nascimento da anatomoclínica. 
 
A substituição da sociedade absolutista (monárquica, totalitária, clerical) pela sociedade 
disciplinar destinou um novo papel às instituições: a disciplina dos corpos, a introjeção das 
normas do pacto social construído entre pares, a normalização dos cidadãos e da própria noção 
de cidadania. Assim é que os hospitais – antes lugar de mortificação e ‘des-historicização’ – 
tornaram-se lugar de verdade, de saber, de positividade. 
 
6
Pinel participava dos Ideólogos, um grupo bastante significativo no pensamento filosófico francês 
daquela época, cujas influências provinham principalmente de Locke e Condillac. As influências de Locke 
orientavam tanto a pressuposição de uma natureza livre e independente dos homens, quanto uma busca 
por uma base verdadeiramente científica para os fenômenos da realidade tendo como referência o modelo 
da História Natural. Segundo esse modelo, o conhecimento depende da observação empírica dos 
fenômenos. Dito de outro modo, o homem objetiva o conhecimento a partir de suas impressões sobre as 
experiências consigo próprio e com o seu exterior – trata-se de um método analítico-filosófico que 
pressupõe que todo conhecimento humano tem sua origem primeiro nas sensações e que somente depois 
formam-se as idéias, primeiro as mais simples e depois as mais complexas.É preciso portanto relacionar o 
ato perceptivo com a linguagem. E é nesse contexto que também se encaixam as influências de Condillac 
na prática pineliana: a ciência encontrará sua ordem e verdade na observação sucessiva da natureza, pois 
ela indica por si mesma as qualidades dos objetos a serem analisados. 
Pinel introduziu muitas inovações na prática dos hospitais lançando o que ficou conhecido 
como as bases da síntese alienista: escreveu o primeiro livro da psiquiatria, elaborou a primeira 
nosografia (classificação das enfermidades), consolidou o conceito de alienação mental,estabeleceu a 
profissão de alienista, fundou os primeiros hospitais psiquiátricos,propôs o tratamento moral como primeiro 
modelo de terapêutica e o isolamento como pré-condição para o tratamento. 
 A ação inicial de Pinel é direcionada para libertar os loucos das correntes e submetê-
los a um tratamento asilar, que por sua vez requer completo ISOLAMENTO. Na sua 
concepção, tal reclusão não implicava em perda de liberdade, mas possibilitava justamente a restituição 
da liberdade que fora subtraída ao homem pela alienação (a idéia da natureza livre do homem pregada por 
Locke).É preciso isolar para conhecer, hospitalizar para observar, estudar, comparar, analisar e classificar: 
o isolamento associado a tratamento e à produção de conhecimento. NA MEDIDA EM QUE A ALIENAÇÃO 
MENTAL SERIA UM DISTÚRBIO NO EQUILÍBRIO DAS PAIXÕES, E QUE O HOSPITAL DE ALIENADOS 
PODERIA REPRESENTAR UM ESTABELECIMENTO ONDE SERIA POSSÍVEL SUBMETER O 
ALIENADO A “REGRAS INVARIÁVEIS DE POLÍCIA INTERIOR”, O HOSPITAL SERIA, ELE PRÓPRIO, 
UMA INSTITUIÇÃO TERAPÊUTICA. 
A ALIENAÇÃO MENTAL era compreendida como um distúrbio no equilíbrio das paixões, um estar 
fora de si, uma alienação das próprias vontades e desejos, cujas causas provinham do meio social. Como 
consequência, produz-se uma desarmonia na mente e na possibilidade objetiva de discernir sobre o erro e 
de perceber a realidade, não se tratando, no entanto, de uma perda absoluta da razão. Justamente por 
esse motivo, por supor ainda uma parcela de razão no alienado, Pinel acreditava que o afastando das 
interferências externas seria possível submetê-lo a um tratamento mais adequado e igualmente a 
observações, comparações, análises e estudos mais apurados para consolidar assim um diagnóstico o 
mais preciso. 
O tratamento mais adequado, na visão de Pinel, era o TRATAMENTO MORAL que, com ordem e 
disciplina, colocaria regras para a mente encontrar de novo uma organização, tanto em relação aos seus 
objetivos,quanto em relação às verdadeiras emoções e pensamentos.Medidas de horários, de condutas, de 
disciplina de modo geral, bem como de trabalho terapêutico (o trabalho tinha um papel bastante singular 
nessas épocas de primórdios do capitalismo), eram então impostos aos alienados no intuito de reeducar-
lhes a mente, afastar os delírios e ilusões e chamar a consciência à realidade. 
 
 
 
 
 
 
Todavia, mesmo que Pinel tenha desacorrentado os loucos, propondo sua liberdade, eles 
permaneceram enclausurados, não mais por caridade (o hospital filantrópico da Idade Média), é verdade, 
ou tampouco por repressão (o Hospital Geral da sociedade disciplinar do século XVII), mas por um 
imperativo terapêutico (o hospitalpsiquiátrico medicalizado do movimento alienista do século XVIII):“o que 
existiu foi uma metamorfose da natureza da instituição” (p.35). 
 
O hospital pineliano (ou sinônimos: casa de alienados, hospital psiquiátrico), 
nesse sentido de instituição disciplinar, é uma instituição terapêutica; 
É ELE PRÓPRIO O REMÉDIO E NÃO UM MEIO PARA TRATAR. 
 
 
7
 Pinel opta pelo termo alienação mental e não doença mental por supor a loucura obscura e 
impenetrável, um processo, portanto, de natureza distinta da doença que se pode procurar a sede 
anatômica. Contudo, sob a condição de perda do juízo ou da capacidade de discernir a realidade, a 
alienação mental passa a ser associada à idéia de periculosidade. Esquirol, discípulo de Pinel, chega a 
listar dentre as funções do hospício “garantir a segurança pessoal do louco e de suas famílias” (p.35). Essa 
associação produziu naturalmente uma atitude social de medo e discriminação para com o louco até os 
dias de hoje (as outras funções do hospício listadas por esquirol: libertá-los das influências externas, 
vencer suas resistências pessoais, submetê-los a um regime médico, impor-lhes novos hábitos intelectuais 
e morais). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 PROBLEMA IMPORTANTE (ATENÇÂO!!!): 
Amarante destaca no movimento alienista a construção, pelos mesmos atores sociais, de DOIS 
CONCEITOS ANTAGÔNICOS: ALIENAÇÃO MENTAL E CIDADANIA. Segundo o autor, na origem do 
conceito, um alienado estaria impedido de ser um cidadão. O conceito de cidadania implica numa 
responsabilidade e possibilidade de conviver e partilhar com os outros de uma mesma estrutura política e 
social. O conceito de alienação mental, por sua vez, considera que o alienado é despossuído de razão 
plena, condição elementar para definir a natureza humana. O alienado perde o livre-arbítrio e, 
consequentemente, a liberdade, e a sua capacidade e possibilidade de exercer a cidadania (o que só 
vem a reforçar a idéia do louco como perigoso). Nessa perspectiva, para ser cidadão, é preciso estar 
em plena posse da razão, o que não é de modo algum suposto ao alienado. Para que o alienado recupere 
a cidadania, é necessário recuperar a razão... e isso seria feito mediante o isolamento e então o tratamento 
moral. 
 
 Nos primeiros anos do alienismo, o hospital psiquiátrico era, sem dúvida, o melhor recurso 
terapêutico para a alienação mental. E o alienismo pineliano se propagou pelo mundo, sobretudo após a 
promulgação da lei francesa de 1838, a primeira lei de assistência aos alienados, levando à criação e à 
reprodução em diferentes países dos princípios e estratégias adotados e estimulados por Pinel. 
 Contudo, é claro que havia críticas dos contemporâneos de Pinel que se estendiam não apenas ao 
alienismo, mas ao próprio modelo positivista da ciência que o originou e legitimou, visto que o isolamento e 
o tratamento moral representavam paradoxos com os ideais libertários da Revolução Francesa.O aparato 
alienista de saber-poder parecia no mínimo estranho ao sequestrar e aprisionar aqueles que 
pretendia libertar. “Como tão pouco saber pode gerar tanto poder?”, é o questionamento de 
Foucault (p.37). 
Em contrapartida ao sucesso inicial dos primeiros asilos para alienados, rapidamente superlotados, 
viu-se uma queda na credibilidade do hospital psiquiátrico e da própria psiquiatria. Isto se deve à 
dificuldade em estabelecer os limites entre a loucura e a sanidade, aos hospícios ainda cumprirem uma 
função de segregação social da população marginalizada e haver, além disso, constantes denúncias de 
violências contra os internos. 
Uma primeira tentativa de resgatar o potencial terapêutico da instituição psiquiátrica: criar 
colônias de alienados. As colônias foram construídas em grandes áreas agrícolas onde os alienados 
podiam ser submetidos ao trabalho terapêutico. Os “nutrícios” eram os seus cuidadores. Nessa proposta, 
acreditava-se no trabalho como o meio terapêutico mais precioso para estimular a vontade e a energia, e 
Tenon aponta a diferença entre: 
Hospital de loucos – o próprio hospital é remédio; 
Hospital de feridos – o hospital é um meio de tratar 
 
João Pinheiro Silva, alienista brasileiro do início do séc. XX: 
Asilos para alienados são análogos a estabelecimentos de educação porque 
se propunham a reeducar comportamentos e mentes desregradas 
 
8
consolidar “a resistência cerebral tentando fazer desaparecer os vestígios do delírio” (p.39). O entusiasmo 
com essa proposta fez com que, no Brasil, por exemplo, fossem criadas dezenas de colônias. A de 
Juquery, em São Paulo, chegou a ter 16 mil internos!!!!!Logo, logo foi possível perceber que as colônias 
eram iguais aos asilos tradicionais: nada de aldeia de pessoas livres, com sua própria história e cultura, 
mas instituições asilares de recuperação pelo trabalho. 
 
A partir da II Guerra Mundial tiveram início os primeiros movimentos de Reforma Psiquiátrica 
 
Esses movimentos são discutidos conforme o objetivo em relação à psiquiatria: 
(1)ou adequando ou ajustando o modelo assistencial asilar; 
(2)ou modernizando-o em direção à saúde mental na comunidade; 
(3)ou rompendo com as bases do modelo científico que inaugurou e legitimou a intervenção psiquiátrica no 
meio social. 
 
A II Guerra teve um papel importantíssimo nesse contexto, pois foi a partir daí que as pessoas 
passaram a refletir mais significativamente sobre a natureza humana, sobretudo no que diz respeito à 
crueldade e solidariedade existentes entre os homens. 
Particularmente os hospícios e as condições de vida oferecida aos internos eram muito 
próximos da realidade dos campos de concentração: constatava-se absoluta ausência de dignidade 
humana. 
 
Nasceram então as primeiras experiências de Reforma Psiquiátrica, sendo algumas mais 
marcantes e de reconhecida influência ainda hoje. 
 
9
Posição 
Quanto à 
instituição 
psiquiátrica 
Experiências 
de Reforma 
Psiquiátrica 
País / 
Fig. de 
destaque 
Contexto Como acontece Objetivo Prerrogativa básica 
1º grupo 
O fracasso do 
modelo 
assistencial 
tradicional 
estava na forma 
de gestão do 
hospital; a 
solução portanto 
é introduzir 
mudanças na 
instituição de 
modo que esta 
possa ser 
efetivamente 
terapêutica 
Comunidade 
Terapêutica 
Grã-
Bretanha 
/ Bion, 
Reichma
n e 
Maxwell 
Jones 
Excesso de jovens 
soldados 
internados p/ tto de 
problemas 
emocionais, 
escassez de 
profissionais; 
necessidade de 
recuperar mão de 
obra para o projeto 
de reconstrução 
nacional. 
O potencial dos 
pacientes é utilizado 
no tto através de 
reuniões de 
discussões de 
dificuldades, projetos 
e planos de cada um, 
bem como da 
instituição, além da 
realização de 
assembléias 
reunindo pcts e 
funcionários. Há 
encorajamento para 
expressão dos 
sentimentos e tb a 
realização de grupos 
operativos e de 
discussões. 
Envolver os pcts no 
tto e debater todos 
os aspectos 
relacionados à 
instituição, c/ ênfase 
na atuação da 
equipe, p/ evitar 
situações de 
abandono, descuido 
e violência, e 
promover 
horizontalidade e 
democratização nas 
relações. 
Todos na instituição 
têm uma função 
terapêutica 
(técnicos, familiares, 
pcts), pois a 
instituição precisa 
lutar contra a 
hierarquização e 
verticalidade dos 
papéis sociais que 
marcavam a 
assistência 
tradicional nas 
instituições 
psiquiátricas. 
Psicoterapia 
Institucional 
(ou Coletivo 
Terapêutico, 
como 
Tosquelles 
preferia 
chamar) 
França / 
Tosquell
es 
Situação social e 
econômica precária 
agravada pela 
ocupação e 
destruição pelos 
exércitos nazistas; 
hospitais psiq. bem 
danificados, s/ 
ideais ou qq 
possibilidade de 
exercer sua 
verdadeira funçãoterapêutica. 
escuta polifônica 
(ampliação de ref. 
teóricos), 
acolhimento (equipe 
e instituição como 
suporte e ref., trab. 
terapêutico 
(possibilidade dos 
pcts participarem e 
assumirem 
responsabilidade), 
clube terapêutico 
(promoção de lazer), 
ateliês ou oficinas de 
trabalho e arte 
(reorg.da dinâmica 
psíquica). 
Promover um 
coletivo terapêutico, 
tal como na exp.da 
comunidade 
terapêutica, e, 
diferentemente, 
promover uma 
transversalidade nas 
relações (encontro e 
confronto dos papéis 
a fim de 
problematizar as 
hierarquias e 
hegemonias 
institucionais). 
O hospital 
psiquiátrico é uma 
escola de liberdade; 
não existe uma 
escola como essa 
na vida social 
corrente. 
Posição Quanto à Experiências País / Contexto Como acontece Objetivo Prerrogativa básica 
 
10
instituição 
psiquiátrica 
de Reforma 
Psiquiátrica 
Fig. de 
destaq
ue 
2º grupo 
O modelo 
hospitalar 
estava 
esgotado e 
deveria tornar-
se obsoleto a 
partir da 
construção de 
serviços 
assistenciais 
alternativos 
mais 
qualificados: 
uma 
desmontagem 
“pelas 
beiradas” 
Psiquiatria 
de Setor 
França 
/ 
Bonnaf
é 
A experiência da 
psicoterapia 
institucional se 
mostrava limitada 
no final dos 50’s, 
início dos 60’s, 
em relação a um 
trabalho externo 
ao manicômio 
- Criação dos Centros de 
Saúde Mental (CSM) 
distribuídos em diferentes 
setores administrativos das 
regiões francesas, conforme o 
contingente populacional 
(houve uma setorização); 
- Trabalho em equipe; 
-O espaço interno do hospital tb 
foi subdividido: uma enfermaria 
como referência para cada 
setor; 
-Acompanhamento terapêutico 
dos pcts por uma mesma 
equipe multiprofissional, tanto 
no hospital qto no local de 
residência (explora 
positivamente o vínculo). 
-Promover 
continuidade 
terapêutica 
após alta 
hospitalar p/ 
evitar 
reinternação ou 
mesmo a 
internação de 
novos casos; 
- Incentivar a 
aproximação 
das pessoas de 
mesmo setor; 
 
O modo de cuidado 
inumano e anti-
social do hospício 
agrava o sofrimento 
mental; é preciso 
promover o cuidado 
fora do manicômio. 
Psiquiatria 
Preventiva 
ou Saúde 
Mental 
Comunitária 
EUA/ 
Caplan 
O país enfrentava 
mts problemas 
sociais e 
políticos. Censo 
de 1955 sobre as 
condições de 
assistência nos 
hosp. psiq: 
precariedade, 
violência e maus-
tratos. 
Pres.Kennedy 
decreta em 1963: 
redirecionamento 
da política de 
assistência psiq. 
nos EUA. 
-Transposição da noção de 
prevenção da medicina preventiva 
p/ a psiq. (1ª, 2ª e 3ª); 
- Busca de suspeitos que poderiam 
desenvolver uma patologia mental; 
-Identif.precoce da doença; 
-Intervenção em situação de crise, 
evolutiva ou acidental, pois pode 
ocasionar desadaptação social 
(desvio ou estado pré-patológico); 
-eq. de saúde mental exercendo 
papel de consultores comunitários 
(identificar e intervir em crises ind, 
fam e sociais; 
-Implantar centros de saúde 
mental, HD’s, leitos psiq. em hosp. 
geral, lares abrigados, etc. 
 
-Reduzir as 
doenças 
mentais nas 
comunidades e 
promover o 
estado de 
saúde mental; 
-Promover a 
desinstitucionali
zação (ainda 
desospitalizaçã
o: reduzir 
tempo de 
internação 
enovas 
hospitalizações,
dar altas). 
A doença mental é 
uma desordem 
linear, isto é, evolui 
conforme a história 
natural da doença: 
qto mais cedo 
identificada, mais 
rapidamente pode 
ser prevenida. E, se 
junto às ações 
preventivas, as 
alternativas extra-
hospitalares forem 
potencializadas, o 
hosp. psiq. pode se 
tornar obsoleto e 
cair em desuso. 
 
11
Posição 
Quanto à 
instituição 
psiquiátrica 
Experiências de 
Reforma 
Psiquiátrica 
País / Fig. 
de 
destaque 
Contexto Como acontece Objetivo Prerrogativa básica 
3º grupo 
A expressão 
“reforma” é 
inadequada, 
pois foram 
experiências 
que iniciaram 
processos de 
rompimento 
com o 
paradigma psiq. 
tradicional; 
colocaram em 
xeque tanto o 
modelo 
científico 
psiquiátrico, 
como suas 
instituições 
assistenciais 
Antipsiquiatria 
Inglaterra/ 
Laing, 
Cooper 
Insuficiência 
transformadora 
das práticas de 
comunidade 
terapêutica e 
psicoterapia 
institucional. 
Perceberam que 
o discurso dos 
pcts denunciava 
conflitos e 
contradições 
tanto na instit. 
psiq. de tto 
como tb na fam. 
e na sociedade 
(ênfase na 
relação). 
Não entendem a doença 
mental como objeto 
natural (tal como o faz a 
psiquiatria tradicional) e 
por isso ñ propõem um tto 
tradicional (remissão de 
sintoma ou readaptação 
social). Preconizam a 
vivência da exp.da 
loucura c/ auxílio, 
acompanhamento e 
proteção do terapeuta: 
entendem que o sintoma 
por si só já expressa uma 
possibilidade de 
reorganização interior. 
Propõem o conceito de 
duplo vínculo no cerne da 
exp. esquiz. 
Implementar de fato 
um projeto crítico à 
psiquiatria 
apontando como um 
equívoco a 
metodologia de 
conhecimento 
baseada nas 
ciências naturais (a 
natureza humana é 
mt mais complexa) e 
complexificando a 
noção de 
desinstitucionalizaç. 
A experiência patológica ñ 
ocorre no ind. enqto corpo 
ou mente doente, mas nas 
relações entre ele e a 
sociedade, e o hosp. psiq. 
reproduz e radicaliza as 
mesmas estruturas 
opressoras e patogênicas 
da organização social. 
OBS:Goffman, crítico da 
instit. e do modelo teórico 
da psiq. ficou mt 
associado à antipsiq.pq 
esmiuça mecanismos de 
carreira moral, 
estigmatização ou 
mortificação do eu, 
decorrentes de 
cronificação institucional 
Psiquiatria 
Democrática 
Itália 
/Basaglia 
Comunidade 
terap.e 
psicot.instituc: 
estratégias 
intermediárias 
de 
desmontagem 
da estrutura 
manicomial. 
Influenciado por 
Foucault e 
Goffman, 
Basaglia inova 
negando a psiq. 
enqto ideologia 
e buscando 
desmontar e 
superar o 
aparato manic. 
tradicional. 
-Desconstruir o 
manicômio 
concomitantemente à 
construção de serviços 
substitutivos (CSM) 
regionalizadose de base 
territorial, pautados na 
tomada de 
responsabilidade(base 
estratégica); 
-Promover possibilidade 
real de reabilitação e 
inclusão social através 
das cooperativas de 
trabalho ou da construção 
de residências; 
-Transcender a reorg. do 
modelo assistencial p/ 
alcançar a sociedade. 
Desconstruir e 
superar o aparato 
manicomial: o 
hospício, e tb a 
estrutura de saberes 
e poderes que 
sustentam a 
existência do 
isolamento, da 
segregação e da 
patologização da 
experiência humana 
(isso incluio modo 
como as sociedades 
lidam c/ as pessoas 
em sofrimento 
mental) 
A instituição psiquiátrica 
com seus processos de 
mortificação e des-
historicização é tal como a 
serpente da fábula “o 
homem e a serpente”. O 
grande erro da psiq. foi 
separar a doença como 
um objeto fictício da 
existência global e 
complexa dos sujeitos e 
do corpo social 
 Após revisar historicamente os movimentos de reforma psiquiátrica mais marcantes, Paulo 
Amarante procura ampliar o entendimento das dimensões e estratégias do campo da saúde mental e 
atenção psicossocial associando-o a um processo social complexo. 
Para tal, o autor lembra Rotelli: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Justamente por essa COMPLEXIDADE as transformações NÃO devem se limitar à 
mudanças SOMENTE NO MODELO DE ASSISTÊNCIA VIGENTE (ou em propostas de 
reformulações de serviços). O QUE PRECISA ESTAR EM QUESTÃO É O MODELO PSIQUIÁTRICO 
CLÁSSICO, NASCIDONO MODELO BIOMÉDICO, QUE TEM UMA TERAPÊUTICA CENTRADA NA 
HOSPITALIZAÇÃO, e que desenha um sistema bastante próximo de instituições correcionais à 
medida que é baseado fundamentalmente na vigilância, controle e disciplina, e por isso repleto 
de dispositivos de punição e repressão. 
Destaca-se que SUPERAR ESSE MODELO NÃO É EXATAMENTE O OBJETIVO EM SI. Essa 
superação é, na verdade, consequência de princípios e estratégias.Sendo assim, as diversas propostas 
e iniciativas apontadas por Amarante nos três grupos de experiência de reforma psiquiátrica (ver 
tabelas), tornam cada vez mais clara a necessidade de um direcionamento para um SISTEMA de saúde 
mental e atenção psicossocial. 
 Amarante propõe quatro dimensões para pensarmos o campo da saúde mental e atenção 
psicossocial, centrando sua discussão sobretudo na experiência brasileira de Reforma Psiquiátrica: 
a)teórico-conceitual; b)técnico-assistencial; c) jurídico-política; d)sociocultural. 
 
 DIMENSÃO TEÓRICO-CONCEITUAL( ou epistêmica) – acreditava-se que o que se 
conseguia saber pela ciência já seria suficiente para determinar uma ação/intervenção. Atualmente não 
é mais assim, pois se entende que há um conjunto de aspectos, até alheios à ciência, que interferem na 
formulação de estratégias (ex: ideologias, religiões, éticas, etc). No contexto epistemológico no qual a 
psiquiatria foi fundada, a realidade era um dado natural capaz de ser apreendido e revelado em sua 
plenitude. Ciência significava produzir um saber neutro, positivo, que seria expressão unívoca de 
verdade. Isso determinou, no caso da psiquiatria, um olhar para a doença mental como um objeto 
natural: ocupar-se das doenças e esquecer-se dos sujeitos. No entanto, sabendo-se hoje que a ciência 
engloba e se entrelaça com diferentes aspectos, pensa-se no seu contexto como estando em plena 
transformação, o que inclui, é claro, a psiquiatria. Nada mais natural do que o processo de Reforma 
Psiquiátrica como efeito das transformações da própria ciência, e não da invenção caprichosa 
de psiquiatras insatisfeitos. Colocar a DOENÇA PSIQUIÁTRICA ENTRE PARÊNTESES, tal como a 
proposta de Basaglia na experiência italiana de reforma, significa colocar um conceito entre 
parênteses, fazer uma “REDUÇÃO ANALÓGICA” ,no conceito inspirado de Husserl. Trata-se de 
uma atitude epistêmica: suspender um determinado conceito para poder entrar em contato com 
a experiência dos sujeitos que estavam coisificados, invisíveis, opacos. Fazer isso é romper de 
fato com o modelo teórico-conceitual da psiquiatria que adotou o modelo das ciências naturais 
(ex. da pct que queria um pente), e, ademais, é possível constatar O DUPLO DA DOENÇA 
MENTAL, isto é, os estigmas e preconceitos relacionados à doença mental (referir-se, por 
exemplo, ao paciente pelo seu sintoma. “Nada mais é do sujeito: tudo se refere à doença”). 
 
Colocar a doença entre parênteses traz conseqüências SOBRE A DIMENSÃO TÉCNICO-
ASSISTENCIAL– nos depararmos com o sujeito em toda a sua complexidade e vicissitudes. Isso 
reverbera no modo como vamos nos referir à sua experiência (“sujeito em sofrimento psíquico”, e não 
“doença mental” ou “transtorno mental” ou “desordem mental”). E também tem efeitos nos serviços que 
serão implantados: dispositivos estratégicos, de acolhimento, de cuidado e de trocas sociais, lugares de 
sociabilidade e de produção de subjetividades que lidam com pessoas e não com doenças. Esse olhar 
O campo da saúde mental e atenção psicossocial é um processo social complexo (e 
não um sistema fechado) que está em constante transformação e movimento; “é algo que 
caminha e se transforma permanentemente” (. 
 
 
 
HÁ NESSE SENTIDO SEMPRE NOVAS SITUAÇÕES A SEREM ENFRENTADAS E NOVOS 
ATORES SOCIAIS A SEREM ENCAMPADOS, POIS DIFERENTES DIMENSÕES ESTÃO SE 
ENTRELAÇANDO SIMULTANEAMENTE, 
 E A TODO MOMENTO. 
 
 
 13 
possibilita ampliar sem dúvida a noção de INTEGRALIDADE no campo da saúde mental e 
atenção psicossocial. 
 
SOBRE A DIMENSÃO JURÍDICO-POLÍTICA– se o paciente é agora percebido como um 
sujeito em sofrimento psíquico, começa-se a poder pensar que loucura não é sinônimo de 
periculosidade, irracionalidade, incapacidade civil ou incapacidade para o exercício de cidadania, e 
torna-se prontamente necessário todo um outro conjunto de desafios e estratégias, como revisar as 
legislações (do código penal, civil, por ex.) que se referem de forma nociva à experiência da loucura. 
Amarante destaca o Loas (Lei Orgânica da Saúde) justamente como um benefício financeiro que 
representa um obstáculo às estratégias de inclusão social, pois o paciente que o recebe não 
pode exercer nenhum tipo de atividade profissional. O autor ressalta por outro lado a expressão 
singular que assume a questão dos direitos humanos e como um passo decisivo nessa direção foi 
dado com a promulgação da lei 10.216 que, embora não tenha assegurado a aspiração mais 
fundamental do projeto original de extinguir progressivamente os manicômios, dispõe sobre os 
direitos dos pacientes, redireciona o modelo de assistência em saúde mental e ainda inclui o 
Ministério Público Estadual nas questões da saúde mental ao colocar que ele deve ser 
comunicado das internações involuntárias no prazo máximo de 72 horas. TODAVIA, PARA FALAR 
DE CIDADANIA E DIREITOS, APONTA AMARANTE, NÃO BASTA APROVAR LEIS: “É PRECISO 
MUDAR MENTALIDADES, MUDAR ATITUDES, MUDAR RELAÇÕES SOCIAIS” (P.71). E TAMBÉM 
NÃO SE TRATA DE TER TOLERÂNCIA, MAS RECIPROCIDADE E SOLIDARIEDADE, DE 
TRANSFORMAR E INOVAR BUSCANDO CONTRIBUIR SEMPRE PARA A CONSTRUÇÃO DE UM 
NOVO IMAGINÁRIO SOCIAL EM RELAÇÃO À LOUCURA E AOS SUJEITOS EM SOFRIMENTO. 
 
 
 
 
 
 
 
Trata-se, por isso, na DIMENSÃO SOCIOCULTURAL, de envolver a sociedade na discussão da 
Reforma Psiquiátrica. Atividades culturais, políticas, acadêmicas, esportivas, dentre outras, promovem o 
debate e instigam os atores sociais a participar e a refletir. São exemplos os eventos que comemoram o 
dia 18 de maio como o Dia da Luta Antimanicomial, as alas de pacientes organizadas em escolas de 
samba no Carnaval, camisetas com frases sobre a loucura, televisões e rádios comunitárias, grupos 
musicais, teatro do oprimido, etc. Todo esse incentivo à participação da sociedade nas discussões 
sobre saúde mental se deu desde os primeiros eventos que marcaram o início do processo de Reforma 
Psiquiátrica no Brasil: Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental; 8ª Conferência Nacional de 
Saúde; Constituição de 1988; Lei 8.080; as três Conferências Nacionais de Saúde Mental (1987,1992, 
2001), entre outros. 
 
 Uma vez associado o campo da saúde mental e atenção psicossocial à ideia de um processo 
social complexo que abrange uma integralidade cada vez maior, Amarante aponta alguns caminhos 
e tendências das políticas a esse respeito no Brasil, indicando a utopia como um objetivo e um 
projeto de luta para A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO LUGAR SOCIAL PARA AS PESSOAS EM 
SOFRIMENTO MENTAL. 
 
Nesse intuito, o autor observa a complexidade e riqueza das ações e inter-relações entre as 
dimensões que analisou anteriormente através de ALGUNS EIXOS FUNDAMENTAIS: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“FRANCO BASAGLIA OBSERVAVA QUE ERA IMPORTANTE QUESTIONAR NÃO SOMENTE “O 
MANICÔMIO NEM A PSIQUIATRIA COMO CIÊNCIA, MAS TUDO O QUE, PARTINDO DO 
TERRITÓRIO REPELIA A DOENÇA E A CONFIAVA À PSIQUIATRIA E AO MANICÔMIO”. 
 
 
 
 14 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eixos Como acontece Prerrogativa Adendo 
Atenção à crise e 
os serviços de 
atenção 
psicossocial 
Em serviços de atençãopsicossocial (CAPS), estruturas 
flexíveis e multiprofissionais, de 
base territorial, que possibilitam 
acolhimento e o cuidado 
organizado em rede (rede de 
relações entre sujeitos), na lógica 
da tomada de responsabilidade. 
-A crise resulta de uma 
série de fatores que 
envolvem terceiros (e não 
uma situação de grave 
disfunção que precisa ser 
“domada”); 
-Qto mais de base 
territorial, mais os serviços 
atuam no espaço social (e 
tb mais precisam 
considerar a 
intersetorialidade). 
-Ver Portaria 336 que institui 
as diferentes modalidades 
de CAPS; 
-Atuar no território significa 
transformar o lugar social da 
loucura. 
Residencialidade 
e processo de 
desinstitucionaliz
ação 
Subsídios financeiros + 
residências em diferentes graus 
de complexidade (depende da 
autonomia das pessoas) + 
acompanhamento de equipes 
multiprofissionais que ajudam na 
construção de autonomia e 
independência. 
-Depois de mts anos 
vivendo institucionalizadas, 
muitas pessoas ñ querem 
sair da instituição, muitas ñ 
têm família ou mesmo suas 
famílias ñ mais as desejam 
em casa; 
-O processo de 
desinstitucionalização 
promove uma 
transformação radical se os 
pacientes são envolvidos e 
implicados. 
Ver Lei 10.708 e Portaria 
106, que versa sobre os 
“serviços residenciais 
terapêuticos”. 
 
OBS: Amarante chama 
atenção p/ o risco de 
institucionalização das 
residências. 
Cooperativas, 
centros de 
convivência e 
empresas sociais 
Projetos de geração de renda 
para pessoas em 
acompanhamento na rede, 
geralmente através de 
cooperativas ou empresas 
sociais. 
O trabalho é uma 
estratégia de cidadania, 
autonomia e de 
emancipação social (e ñ 
uma atividade terapêutica 
prescrita, orientada, ou 
uma forma de recreação p/ 
ocupar o tempo ocioso). 
Ver Lei 9.867, que institui as 
cooperativas sociais. 
 
OBS: é uma iniciativa de 
inclusão pelo trabalho e pela 
geração de renda. 
Estratégia Saúde 
da Família 
Uma equipe (1 médico 
generalista + 1 enfermeiro +1 aux 
enfermagem +4 a 6 agentes de 
saúde) acompanha 800 famílias 
promovendo saúde, defesa da 
vida, educação da comunidade e 
desenvolvendo práticas de 
pensar e de lidar com saúde. P/ 
conduzir casos de saúde mental, 
passam por capacitação e 
recebem “apoio matricial” de 
equipes compostas por 
profissionais de saúde mental. 
Prestar atenção primária 
em saúde promove saúde 
e possibilita reverter o 
modelo assistencial 
predominantemente 
biomédico, centrado na 
doença e no tto. No âmbito 
da saúde mental, a 
estratégia saúde da 
família, alcança a 
radicalidade da 
desinstitucionalização. 
Os problemas de uma 
comunidade não são 
necessariamente 
problemas médico-
sanitários. 
-É tb uma estratégia de 
desmedicalização: 
a) pq oferece alta 
capacidade resolutiva 
(dispensa enc.p/ outros 
dispositivos, desestimulando 
uma carreira de doente); 
b) evita iatrogenias 
causadas por interesses 
médico-industriais 
-Trabalha na lógica de 
complexidade invertida (tem 
dispositivos simples de 
cuidado, mas não por isso 
desqualificados; há portanto 
complexidade na rede 
básica) 
 
 
 16 
 
EXERCÍCIOS 
 
 
1) Assinale a alternativa correta no que diz respeito ao campo da saúde mental e atenção psicossocial, 
tal como proposto por Paulo Amarante: 
(a) é um campo plural marcado por relações profundamente horizontais; 
(b) é um campo polissêmico que se preocupa em não reduzir as possibilidades de existência dos 
sujeitos; 
(c) é um campo que se refere diretamente ao trabalho em hospícios, ambulatórios e emergências 
psiquiátricas; 
(d) é um campo paradigmático que trabalha na lógica de uma verdade única e definitiva. 
 
2) Indique a opção que mais se aproxima da lógica paradigmática da Grande Internação do século XVII: 
(a) humanização dos espaços de enclausuramento; 
(b) medicalização da experiência de loucura; 
(c) controle e disciplina social; 
(d) prestar caridade às pessoas mais necessitadas. 
 
3) A tríade que pode ser corretamente associada ao movimento alienista do final do séc. XVIII é a 
seguinte: 
(a) hospício – alienação mental – isolamento; 
(b) medicalização do hospital – sujeito – tratamento moral; 
(c) segregação – nosografia – caridade; 
(d) médico – filantropia – olhar sobre a doença. 
 
4) Assinale a alternativa que melhor contextualiza o tratamento moral preconizado por Pinel: 
(a) trabalho nas lavouras agrícolas nos moldes das grandes colônias para redimissão dos pecados 
morais; 
(b) isolamento, hábitos disciplinares e regrados para reequilibrar terapêuticamente as paixões; 
(c) institucionalização e trabalho remunerado para reeducação da mente no caminho dos bons 
costumes; 
(d) perda da liberdade, hábitos disciplinares e educativos para refrear a tendência à racionalização 
excessiva. 
 
 5) De modo geral, os desdobramentos que se seguiram às duas guerras mundiais acarretaram uma 
comoção da sociedade frente à situação dos hospícios porque: 
(a) se preconiza a internação em massa 
(b) há uma opção política pela segregação 
(c) se retomam as práticas de bem-estares anteriores 
(d) estes evocam os campos de concentração 
(e) há um consenso na política social e econômica em relação à saúde mental 
 
6) Os movimentos internacionais de Reforma Psiquiátrica atuaram, segundo Paulo Amarante, em três 
frentes. Uma delas visava adequar ou ajustar o modelo assistencial asilar incluindo todos da instituição 
no tratamento englobando então as experiências de comunidade terapêutica na Inglaterra e a 
psicoterapia institucional na França. Uma outra frente procurou modernizar o modelo de assistência 
asilar através da implantação de alternativas extra-hospitalares. Quais foram as experiências que 
caracterizaram essa frente, em particular? 
(a) antipsiquiatria na Inglaterra e psiquiatria democrática na Itália; 
(b) psiquiatria de setor na França e psiquiatria preventiva nos EUA; 
(c) antipsiquiatria na Inglaterra e psiquiatria preventiva, nos EUA; 
(d) antipsiquiatria na Inglaterra e psiquiatria de setor na França. 
 
7)A Psiquiatria Preventiva americana tem como elementos significativos, além da teoria da crise, as 
ideias de: 
(a) intervenção precoce e despotencialização do hospital psiquiátrico; 
 
 
 17 
(b) prevenção e escuta polifônica; 
(c) desordem mental e atendimento centrado no doente; 
(d) padrão de conduta e promoção da saúde. 
 
8) Colocar entre parênteses a doença mental é deixar em suspensão o conceito biomédico 
fundamentado no modelo das ciências naturais que dá sustentação à psiquiatra. Este ato permite entrar 
em contato com a experiência dos sujeitos e constatar: 
(a) de fato uma desordem mental com o sintoma em sua forma pura; 
(b) o duplo da doença mental com os preconceitos e estigmas construídos ao longo da 
institucionalização; 
(c) a baixíssima aderência ou engajamento dos pacientes numa relação transferencial; 
(d) o sujeito que sofre por estar submerso nas iatrogenias institucionais 
 
9) A reorientação do modelo assistencial da saúde mental e atenção psicossocial no Brasil abarca 
diferentes estratégias para melhor circunscrever o campo social complexo em que se dá. Assinale o 
circuito que está em acordo com esta afirmativa: 
(a) ambulatório – emergência – internação – ambulatório – emergência – internação; 
(b) emergência – internação – CAPS – emergência – internação; 
(c) internação –residência terapêutica – emergência – internação; 
(d) internação – residência terapêutica – CAPS 
 
10)A Grande Internação foi uma das respostas do século XVII à seguinte situação: 
(a) valorização do homem e emergência da ordem social medieval 
(b) necessidade de tratamento dos desvalidos sociais 
(c) tendência revolucionária de inclusão social(d) desorganização social e crise econômica 
 
11) Considerando-se os movimentos francês e inglês de reforma psiquiátrica, Psicoterapia Institucional 
e Comunidade Terapêutica, respectivamente, não é correto afirmar que: 
(a) subvertem a lógica da prática sobre a doença mental, que antes era predominantemente de 
especulação sobre a doença 
(b) ambos estavam preocupados com os efeitos nocivos da institucionalização da loucura 
(c) propiciavam a coletivização das atividades, bem como a análise de todos na instituição 
(d) preconizavam um ambiente institucional de tolerância e liberdade de comunicação 
(e) foram dois marcos nos movimentos de reforma psiquiátrica 
 
12) A Psiquiatria de Setor tentou romper com a centralização no hospital psiquiátrico, por meio de: 
(a) deslocamento da atenção para serviços extra hospitalares e prevenção das doenças mentais 
(b) investimento nos serviços psiquiátricos nos hospitais gerais e valorização da continuidade do 
tratamento 
(c) tratamento do hospital psiquiátrico e divisão das equipes de atendimento do paciente em função de 
seu quadro clínico 
(d) busca de uma assistência descentralizada em pequenas zonas e criação de uma multiplicidade de 
serviços comunitários 
 
13) A reforma psiquiátrica, na versão americana do plano de saúde mental do governo Kennedy, 
propicia: 
(a) total eficácia na desinstitucionalização a partir da construção dos Centros de Saúde Mental 
Comunitária 
(b) transformações assistenciais substanciais 
(c) ampliação do território psiquiátrico para a comunidade 
(d) predominância de atividades para cura e reabilitação 
(e) questionamento sobre o arcabouço teórico da psiquiatria 
 
 
 
 
 
 
 18 
14) É correto afirmar que o ato terapêutico da perspectiva da reforma italiana define-se como: 
(a) ruptura da objetivação e cristalização no papel de doente, e no percurso lento e cotidiano da 
restituição da sua subjetividade, através da desinstitucionalização da doença mental 
(b) abordagem biopsicossocial, principalmente no que diz respeito à população de risco 
(c) pedagogia institucional, calcada no modelo das comunidades terapêuticas 
(d) aprimoramento das técnicas institucionais de modo a encarar a realidade dos problemas da loucura 
(e) olhar clínico, ponto de partida de todo o planejamento terapêutico, primordialmente psicanalítico 
 
15) O movimento italiano de reforma, iniciado com Basaglia, diferencia-se do movimento francês e do 
movimento inglês através do seguinte aspecto: 
(a) promove a territorialização 
(b) confronta o hospital psiquiátrico para promover a desospitalização 
(c) defende o princípio da democratização 
(d) atrela o louco à idéia de periculosidade 
(e) critica o paradigma psiquiátrico para promover uma ampla desinstitucionalização 
 
16) Assinale a seqüência mais coerente com a lógica das transformações ocorridas no hospital desde a 
sua criação na Idade Média: 
(a) instituição de caridade – instituição filantrópica – instituição de base territorial; 
(b) instituição de caridade – instituição disciplinar – instituição médica – instituição a ser superada; 
(c) instituição religiosa – instituição de controle social – instituição extra-hospitalar; 
(d) instituição filantrópica – instituição médica – instituição de controle social – instituição a ser negada. 
 
17) No processo de reforma psiquiátrica brasileira os serviços são considerados tanto mais de base 
territorial quanto mais forem capazes de: 
(a) processar atendimentos à clientela que habita e trabalha em sua área de abrangência; 
(b) desenvolver relações com os vários recursos existentes no âmbito de sua comunidade; 
(c) desenvolver habilidades para atuar seu espaço geográfico; 
(d) contribuir para definição dos perfis assistenciais de cada dispositivo da rede. 
 
18)A dimensão estratégica de intervenção para o processo brasileiro de reforma psiquiátrica é: 
(a) terapêutica; 
(b) familiar; 
(c) sociocultural; 
(d) subjetiva. 
 
19)A assunção da integralidade das questões relativas ao cuidado no campo da saúde de cada território 
refere-se: 
(a) à tomada de responsabilidade; 
(b) ao acolhimento terapêutico; 
(c) à escuta polifônica; 
(d) à desinstitucionalização. 
 
20)Um dispositivo de cuidados para efetivar-se como base territorial deve priorizar o princípio 
estratégico de: 
(a) atenção psicossocial; 
(b) eqüidade; 
(c) intersetorialidade; 
(d) residencialidade. 
 
21)Ao considerar a atenção básica em saúde como estratégia de desmedicalização, o autor se refere à 
medicalização como: 
(a) utilização de medicamentos para responder a toda situação entendida como patológica; 
(b) predomínio de profissionais médicos nos dispositivos de saúde; 
(c) intervenções médicas iatrogênicas capazes de produzir ou agravar doenças; 
(d) apropriação por parte do sistema de todos os problemas da comunidade como médico-sanitários. 
 
 
 
 19 
 
22)O princípio de intersetorialidade da política de saúde mental brasileira refere-se às estratégias que 
perpassam: 
(a) setores das políticas de assistência social e da saúde em geral e mental em especial; 
(b) setores sociais tanto do campo da saúde quanto das políticas públicas em geral e da sociedade 
como um todo; 
(c) serviços da rede de saúde em geral e de saúde mental dispostos no território de abrangência; 
(d) serviços comunitários de atenção básica em saúde mental. 
 
23)A utilização de recursos como assembleias, reuniões de equipe, clubes de pacientes, escuta 
polifônica, acolhimento, adotados como desmontagem da lógica manicomial é característica do 
movimento de: 
(a) comunidade terapêutica; 
(b) psicoterapia institucional; 
(c) psiquiatria democrática; 
(d) psiquiatria de setor. 
 
24)O processo de reforma psiquiátrica que continha em si a luta contra a hierarquização ou 
verticalidade dos papéis sociais, imprimindo em todos os atores a verve terapêutica foi: 
(a) comunidade terapêutica; 
(b) psicoterapia institucional; 
(c) saúde mental comunitária; 
(d) coletivo terapêutico. 
 
25)Ao conjunto de estratégias do movimento de reforma da psiquiatria democrática para tomar o lugar 
das instituições clássicas aplica-se a expressão: 
(a) serviços alternativos; 
(b) serviços paralelos; 
(c) serviços estratégicos; 
(d) serviços substitutivos. 
 
26)O conceito de crise construído a partir das noções de adaptação e desadaptação social que 
permitiram a ampliação da ação da psiquiatria para além da noção mais restrita da doença mental foi 
estratégica para o processo da: 
(a) psiquiatria democrática; 
(b) antipsiquiatria; 
(c) psiquiatria preventiva; 
(d) psiquiatria de setor. 
 
27) A psiquiatria, no seu nascimento, postula o isolamento do louco, como: 
(a) punição para a infração por ele cometida; 
(b) garantia jurídica da sua liberdade; 
(c) sequestro da sua cidadania; 
(d) condição para tratá-lo. 
 
28) A antipsiquiatria se afirmou como expressão do movimento de reforma psiquiátrica ao assumir a 
seguinte posição: 
(a) refutar a explicação sociogenética da doença mental; 
(b) questionar a própria doença mental e a psiquiatria; 
(c) propor o fim da psiquiatria; 
(d) postular a divisão do eu. 
 
29) Dentre os eixos propostos por Amarante para circunscrever a riqueza do campo da saúde mental e 
atenção psicossocial no Brasil estão os CAPS, os serviços residenciais terapêuticos, os projetos de 
geração de renda e estratégias de saúde da família, todos direcionados pela territorialização e tomada 
de responsabilidade. Nesse contexto, é correto afirmar que: 
(a) afirmam o trabalho da rede básica na lógica de uma complexidade invertida; 
 
 
 20 
(b) o fato de serem fundamentalmente alternativos ao modelo assistencial tradicional, a lógica de 
cuidado com base nesses eixos incita a participação da sociedade nas estratégias de cuidado 
cotidianas; 
(c) os CAPS são voltados exclusivamente para a recepçãode uma clientela grave em quadro agudo a 
fim de melhor realizar os encaminhamentos para o hospital psiquiátrico de referência; 
(d) incluem de uma vez por todas a diferença subjetiva no corpo social. 
 
30) No que tange à saúde mental e atenção psicossocial, atuar no território hoje, no Brasil, significa: 
(a) Resgatar o potencial terapêutico manicomial também fora dos hospícios; 
(b) Ressignificar o lugar social da loucura; 
(c) Desmistificar a internação psiquiátrica; 
(d) Diminuir a interferência de familiares e amigos de pacientes psiquiátricos na piora de seus quadros 
psicopatológicos. 
31) O objetivo principal de Amarante em seu livro “Saúde mental e atenção psicossocial” é: 
(a) Discutir os efeitos das diferentes experiências de reforma psiquiátrica no mundo ocidental e 
principalmente no Brasil; 
(b) Organizar a história do nascimento da psiquiatria e dos manicômios; 
(c) Construir um percurso que facilite compreender o lugar social almejado hoje para as pessoas em 
sofrimento mental; 
(d) Colocar a doença psiquiátrica entre parênteses a fim de bem compreender e apreender o duplo da 
doença mental. 
 
32) Dentre as estratégias desenvolvidas hoje no Brasil no campo da atenção psicossocial, assinale a 
alternativa que mais se distancia das propostas das políticas de saúde mental: 
(a) Implementação de estratégias de saúde da família; 
(b) A implementação de serviços centralizados e bem especializados; 
(c) As portarias 106 e 336, assim como a Lei 10.216 e a 9.867; 
(d)O trabalho na perspectiva da tomada de responsabilidade. 
 
33) O modelo tradicional de tratamento psiquiátrico resume-se muito bem na seguinte expressão: 
(a) Hospitalocêntrico; 
(b) Descentralizador; 
(c) Complexidade; 
(d) Correicional. 
 
34) Compõem os mecanismos de institucionalização muito criticados e questionados pela 
antipsiquiatria: 
(a) Carreira moral; estigmatização; mortificação do eu; 
(b) Complexidade da existência-sofrimento; trabalho prioritariamente no território; 
(c) Tomada de responsabilidade; trabalho em rede de atenção psicossocial; 
(d) Transversalidade de saberes, uma vez que promovem confrontos e debates inconclusivos. 
 
35) Sobre os princípios da Psiquiatria Preventiva desenvolvida amplamente nos EUA como uma 
experiência de reforma psiquiátrica, assinale a alternativa incorreta: 
(a) Os serviços alternativos aos hospitais psiquiátricos transformaram-se em grandes captadores e 
encaminhadores para os próprios hospitais psiquiátricos; 
(b) Supunha-se que os princípios desenvolvidos e preconizados por Caplan nessa experiência deveriam 
ser tal como uma bíblia; 
(c) O trabalho de base comunitária visava o estabelecimento de equipes funcionando como consultores 
comunitários, devendo intervir, entre outros, em situações de crise; 
(d) Buscavam sempre romper com o paradigma fundante da psiquiatria tradicional. 
 
 
 
 
 
 
 
 21 
36) Assinale uma crítica pertinente à experiência de reforma psiquiátrica conhecida como Psiquiatria 
Preventiva: 
(a) Promoveu a medicalização da ordem social; 
(b) Interrompeu o processo de desinstitucionalização que já vinha ocorrendo há muitos anos, desde 
antes das duas grandes guerras mundiais; 
(c) Priorizou as situações de crise evolutiva em detrimento das situações de crise acidentais; 
(d) Impedia a evolução natural da doença mental ao priorizar a intervenção em situações de crise. 
 
37) O modelo hospitalar da Idade Média pressupunha: 
(a) Ordenação disciplinar do espaço social; 
(b) Isolamento para fins de tratamento; 
(c) Hospedaria filantrópica; 
(d) A necessidade urgente de desinstitucionalização. 
 
38) Pelo que dispõe a Lei 10.216|2001, mais conhecida como Lei Paulo Delgado, a internação 
psiquiátrica involuntária deve ser: 
(a) Decretada pelo Poder Judiciário em anuência com a autoridade sanitária municipal; 
(b) Comunicada ao Ministério Público Estadual no prazo de setenta e duas horas; 
(c) Compreendida pelo usuário e consentida por algum membro de sua família; 
(d) Autorizada por médico inscrito no Conselho Federal de Medicina; 
(e) Vedada a portadores de deficiência mental. 
 
39) Os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) diferenciam-se em CAPS I, II, III, CAPSi e CAPSad e 
devem desenvolver ao máximo uma atuação no território. Nesse sentido não é possível incluir a 
seguinte alternativa: 
(a) Construção de ateliês pelo espaço social, pela cidade afora; 
(b) Promoção de alianças sociais com associações civis, comerciais; 
(c) Disponibilização de leitos para atendimento à crise; 
(d) Normatização da produção terapêutica adequando-a à norma social. 
 
40) Sobre a estratégia de saúde da família, é incorreto afirmar que: 
(a) Comporta como objetivo principal a reversão do modelo assistencial predominantemente biomédico 
que prioriza a doença e o tratamento; 
(b) Trabalha numa lógica de complexidade invertida, pois sustenta uma gama complexa de ações na 
rede básica de atenção à saúde; 
(c) Ter um olhar prioritário para as doenças dos doentes e assim evitar encaminhamentos para níveis 
mais complexos de cuidado; 
(d) Deve desestimular a carreira de doente tanto quanto a medicalização da vida. 
 
41) O processo de reforma psiquiátrica brasileira considera rede de atenção como: 
(a) articulação entre serviços de saúde no território; 
(b) organização espaço-temporal das diferentes ações dos diversos atores; 
(c) sistema sanitário global onde está inserido o dispositivo de atenção psicossocial; 
(d) série de pontos de encontro, de trajetórias, de cooperação entre setores sociais envolvidos na 
atenção. 
 
 
 
 
 
Gabarito: 
1)b; 2)c; 3)a; 4)b; 5)d; 6)b; 7)a; 8)b; 9)d; 10)d; 
11)b; 12)d; 13)c; 14)a; 15)e; 16)b; 17)b; 18)c; 19)a; 20)c; 
21)d; 22)b; 23)c; 24)a; 25)d; 26)c; 27)d; 28)b; 29)a;30)b; 
31)c; 32)b; 33)a; 34)a; 35)d; 36)a; 37)c; 38)b; 39)d; 40)c; 41)d.

Outros materiais