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Obstetrícia veterinária

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO 
DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA 
ÁREA DE REPRODUÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
OBSTETRÍCIA VETERINÁRIA 
 
 
 
 
ROTEIRO DE ESTUDO 1 
 
FISIOLOGIA OBSTÉTRICA 
 
 
 
 
 
Profa. Aurea Wischral 
 
 
 
 
 
 
Recife/2010 
 
2 
 
 
 
OBSTETRÍCIA VETERINÁRIA 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ALLEN, W.E. Fertilidade e obstetrícia equina. São Paulo: Livraria Varela, 1994. 
207p 
ALLEN, W.E. Fertilidade e obstetrícia no cão. São Paulo: Livraria Varela, 1995. 
197p. 
ALMEIDA, J. M. Embriologia Veterinária Comparada. Rio de Janeiro: Guanabara 
Koogan, 1999. 176p. 
ARTHUR, G.H. Reprodução e Obstetrícia em Veterinária, 4ª ed. Rio de Janeiro: 
Guanabara Koogan, 1979. 573p. 
ARTHUR, G.H.; NOAKES, D.E.; PEARSON, H.; PARKINSON, T.J. Veterinary 
reproduction and obstetrics. (7ª ed.) London: W.B. Saunders, 1996. 726p. 
GRUNERT, E.; BIRGEL, E.H. Obstetrícia veterinária. Porto Alegre: Sulina, 1982. 
323p. 
GRUNERT, E.; BIRGEL, E. H.; VALE, W.G. Patología e clínica da reprodução dos 
animais domésticos – Ginecologia. São Paulo: Varela, 2005. 551p. 
GRUNERT, E.; EBERT, J.J. Obstetrícia del bovino. Buenos Aires : Hemisferio Sur, 
1992 (1ª reimpressão) 240p. 
HAFEZ, E.S.E.; HAFEZ, B. Reprodução animal. 7ª ed. São Paulo: Manole, 2004. 
513p. 
JAGKSON, P.G.G. Handbook of veterinary obstetrics. London : W.B. Saunders, 
1995. 221p. 
MOORE, K. L. Embriologia básica. Rio de Janeiro: Interamericana, 1984. 264p. 
NOAKES, D.E. Fertilidade e obstetrícia em bovinos. São Paulo: Livraria Varela, 
1991. 139p. 
PRESTES, N.C.; LANDIM-ALVARENGA, F.C. Obstetrícia Veterinária. Rio de 
Janeiro: Guanabara-Koogan, 2006. 241p. 
ROBERTS, S.J. Obstetrícia veterinária y patologia de la reproduccion. Buenos 
Aires: Hemisferio Sur, 1983. 1021p. 
SANTOS, M.H.B.; OLIVEIRA, M.AL.; LIMA, P.F. Diagnóstico da gestação na cabra 
e na ovelha. São Paulo: Varela, 2004. 157p. 
TONIOLLO, G.H.; VICENTE, W.R.R. Manual de obstetrícia veterinária. São 
Paulo:Livraria Varela, 1995. (1ª reimpressão) 124p 
 
3 
INTRODUÇÃO À OBSTETRÍCIA 
 
A princípio a obstetrícia era considerada como um ramo da cirurgia que 
tratava dos cuidados com a fêmea gestante e o parto. Atualmente a obstetrícia 
ganhou importância e o status de disciplina isolada. 
Para o obstetra já não basta entender os fenômenos da gestação e parto 
especificamente, é preciso conhecer todo o processo fisiológico da reprodução, 
associando a isto as afecções que acometem o aparelho reprodutivo das fêmeas. 
Portanto a obstetrícia depende de várias outras disciplinas: anatomia, fisiologia, 
endocrinologia, nutrição, genética, microbiologia, cirurgia, patologia clínica e 
anatomopatologia. 
 
APARELHO GENITAL FEMININO 
 
Para o melhor entendimento dos eventos gestacionais e obstétricos faremos 
agora uma breve revisão dos órgãos genitais femininos. 
 
a- Ovários: consistem em um par de glândulas com dupla função. A função 
endócrina é secretora de hormônios – principalmente estrógeno e 
progesterona, enquanto que a exócrina produz óvulos que poderão ser 
fertilizados dando origem ao novo indivíduo. São de forma ovalada na maioria 
das espécies, compostos de tecido conjuntivo (estroma) com vasos sanguíneos, 
nervos e tecido germinativo. Este apresenta diferentes estruturas conforme a 
fase do ciclo estral: Folículos primordiais, secundários, terciários e de Graaf, 
folículos atrésicos, corpo lúteo e corpo albicans. 
 
b- Ovidutos (tubas ou trompas de Falópio): estruturas tubulares tortuosas com 
consistência cartilaginosa ao tato. Comunicam os ovários ao útero. 
Anatomicamente são divididos em 3 porções: 
a. infundíbulo: segmento que se comunica com o ovário, apresenta forma de 
funil com franjas em sua abertura denominadas fímbrias, que durante o 
período de ovulação projetam-se em direção ao ovário. Na gata, rata e 
camundonga, o infundíbulo envolve totalmente o ovário formando uma 
bolsa denominada de bursa ovariana. 
b. ampola: segmento médio do oviduto, possui como característica o fato de 
neste local ocorrerem as fertilizações. 
c. istmo: segmento com parede mais espessa que se liga ao útero pela junção 
útero - tubárica. 
 
c- Útero: órgão músculo-membranoso que se destina a receber o concepto, nutrí-
lo e protegê-lo durante a gestação. Além disso, participa das contrações do 
parto e produz prostaglandina F2α durante a vida cíclica do animal e parto. 
Sua forma varia conforme a espécie e depende do grau de fusão dos ductos 
paramesonéfricos (Müller) durante a embriogênese. Nas espécies domésticas, o 
útero é bicornuado, as vacas e pequenos ruminantes apresentam cornos 
paralelos com tendência a se enovelar, geralmente repousando sobre o 
assoalho pélvico. A égua possui cornos mais curtos, perpendiculares ao corpo 
uterino e suspensos na cavidade abdominal pelos ligamentos largo do útero 
que se fixam na parede dorsal do abdômen e são mais curtos nesta espécie. 
 
4 
Na porca, os cornos uterinos são longos, com ligamento largo do útero 
flexível proporcionando grande mobilidade aos cornos que chegam a se 
enovelar durante a gestação, inclusive possibilitando torções uterinas. Os 
carnívoros apresentam cornos uterinos longos, porém retos e suspensos na 
cavidade abdominal. 
A estrutura da parede uterina é dividida em três camadas: uma serosa, 
contínua ao ligamento largo do útero e que também se denomina de 
perimétrio, uma muscular denominada de miométrio, e uma mucosa e 
glandular denominada de endométrio. O corpo uterino compreende a junção 
dos cornos uterinos. Em ruminantes esta junção parece ocorrer mais 
cranealmente do que realmente o é, devido ao ligamento intercornual ser mais 
estreito, isto faz com que os fetos se desenvolvam intercornualmente. Já na 
égua, pode haver gestação no corpo uterino, que poderá evoluir para uma 
gestação bicornual. A cerviz separa a luz uterina do ambiente externo e é mais 
desenvolvida nos ruminantes onde apresenta anéis fibrosos transversais (de 3 
a 5). Na égua corresponde a um esfincter muscular com pregas longitudinais 
que pode ser dilatado com facilidade. Nos carnívoros, a cerviz é bem simples e 
pouco definida, constituindo-se em parede grossa com pregas transversais. Na 
porca a cerviz é longa com pregas internas, em espiral, semelhantes à 
anatomia da glande do cachaço. 
 
d- Vagina: tubo músculo-membranoso, muito dilatável com luz que em 
condições normais encontra-se totalmente colabada. É considerado o órgão 
copulador feminino além de servir de passagem para o feto durante o parto. 
 
e- Vestíbulo: região de transição entre a vagina e vulva e corresponde à região 
himenal, tendo no seu assoalho a abertura uretral e o divertículo suburetral 
na vaca. Também nesta região desembocam os condutos de Gartner que são 
resquícios dos ductos mesonéfricos (Wolf). Na cadela esta região contém um 
músculo circular mais desenvolvido que é responsável pela fixação do bulbo 
peniano durante a cópula. 
 
f- Vulva: formada por dois lábios justapostos, com comissura ventral e dorsal. 
Na parte ventral encontra-se o clitóris que corresponde à glande peniana e se 
constitui de tecido erétil. 
Por ocasião do parto, são obstáculos para a passagem do feto as seguintes 
estruturas: cerviz, anel himenal e vulva, por serem pontos de estreitamento e 
constituídos de tecido mais denso. 
 
g- Períneo: é a região compreendida entre a vulva e o ânus, a qual 
frequentemente se rompe por ocasião dos partos forçados. 
 
Irrigação: as artérias mais importantes são a. ovárica, a. uterina média e a. 
vaginal, sendo que a a. uterina média aumenta seu calibre durante a gestação 
apresentando o frêmito característico que pode ser palpado por via retal. 
 
Inervação: além do sistema nervoso autônomo, é feita pelo nervo pudendo e anal 
que inervatambém a vulva. Passam pelo canal pélvico: o n. obturador, n. femural 
e n. pudendo os quais frequentemente são envolvidos nos partos distócicos. 
 
 
5 
ANATOMIA OBSTÉTRICA 
 
Este assunto é uma parte introdutória e indispensável ao estudo da obstetrícia 
porque, para que ocorra uma gestação e parto normais, é necessário que os 
órgãos genitais e conduto pélvico apresentem conformação anatômica normal. 
Por outro lado, ao obstetra é fundamental o conhecimento da anatomia obstétrica 
para que possa intervir adequadamente tanto no tratamento quanto na profilaxia 
das distocias. 
 
1. Conduto Pélvico: corresponde ao canal ósteo-ligamentoso pelo qual o feto 
passa na ocasião do parto. Compõe-se de 2 partes, no que se refere a 
constituição: 
a. dura ou óssea 
b. mole 
A parte óssea é representada pela pelve (latim pelvis = bacia), cujos 
componentes ósseos são o coxal, vértebras sacras e as três primeiras coccígeas. O 
sacro corresponde à fusão de vértebras que são em número de 5 na vaca e égua, 
4 na porca e ovelha e 3 na cadela, formando o teto da pelve. O coxal é formado 
pela fusão dos ossos ísquio, íleo e púbis em número par que formam a 
circunferência pélvica, a qual se solda na região ventral através da sínfise 
pubiana. 
 
As articulações presentes na pelve correspondem a: 
 
- Sacroilíaca: é o elo de ligação entre a pelve e a coluna vertebral. Trata-se de 
articulação sinovial plana, fixada por tecido fibroso e ligamentos sacroilíaco 
dorsais e ventrais. No momento do parto esta articulação se afrouxa permitindo 
uma maior mobilidade da pelve. 
- Sínfise pubiana: rica em tecido fibrocartilaginoso, pode se calcificar em animais 
velhos e se afrouxa no parto para permitir a abertura pélvica e passagem do feto. 
 
Os três ossos do coxal são unidos por anfiartroses, articulações fixas, que 
se encontram no ponto de articulação com o fêmur, o acetábulo. Este ponto 
transmite as forças do peso corpóreo para os membros pélvicos e também 
absorve a tração destes membros para o corpo. 
 
- Articulações intervertebrais: a lombosacra permite o arqueamento da pelve 
facilitando a insinuação do feto no momento do parto. Nos suínos e carnívoros o 
espaço desta articulação é utilizado para infiltração epidural de anestésico, nos 
ruminantes e equídeos o local de infiltração é o espaço intercoccígeo ou 
sacrococcígeo. Esta diferença se deve ao filum terminal da medula ocorrer mais 
cranealmente nos suínos e carnívoros. 
 
A parte mole do conduto pélvico é representada principalmente pelos 
ligamentos: 
 
- sacroilíaco dorsal e lateral: formam o teto e região latero-dorsal da pelve, 
ligando o sacro ao íleo. 
 
 
6 
- Sacro-isquiático (sacrotuberal): é maior e liga o sacro à ponta do ísquio 
formando uma parede lateral. Este ligamento é sensível à ação hormonal do parto 
(estrógeno e relaxina) e torna-se mais flácido, sendo um indicativo da 
proximidade do parto, especialmente em ruminantes. Nos suínos e equinos a 
espessura gordurosa e muscular da região impede a visualização do ligamento 
relaxado. 
 
- Tendão pré-púbico (aponeurose do músculo reto-abdominal): fixa-se na face 
craneal ventral da pelve, na região pubiana, nas vacas a inserção é mais baixa, 
enquanto que nas éguas, porcas e carnívoros é mais alta, esta diferença pode 
acarretar diferenças no grau de inserção que poderão alterar a conformação do 
assoalho abdominal e permitir a ocorrência de distocias. 
 
A forma do conduto pélvico é normalmente cônica, sendo a base maior 
voltada cranealmente e a menor caudalmente. Em relação ao eixo vertebral, 
forma um ângulo obtuso cuja amplitude varia com a espécie (Fig. 1 e 2). Por 
ocasião do parto e decorrente da ação hormonal, o diâmetro interno da pelve 
aumenta devido ao afrouxamento dos ligamentos pélvicos, deslocamento dorsal 
do sacro e lateral dos íleos, bem como a abertura da sínfise pubiana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 - Canal pélvico de bovinos mostrando seu ângulo em relação à espinha 
dorsal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 2 - Canal pélvico de equinos mostrando seu ângulo em relação à espinha 
dorsal. 
 
 
PELVIMETRIA 
 
A pelvimetria determina as dimensões da pelve afim de que o obstetra 
possa prever as dificuldades do parto e tomar medidas para solucioná-las. É 
importante notar que conforme a espécie, a pelve apresenta forma diferenciada. 
A medida da pelve pode ser direta ou indireta, a primeira corresponde a 
medida interna do tamanho da pelve, que pode ser feita, através do reto, com as 
mãos do obstetra, ou com aparelhos específicos (compassos). 
As medidas a serem tomadas para estudar a pelve são (Fig. 3): 
a- diâmetro sacro-pubiano ou conjugado verdadeiro: mede a distância do 
púbis a articulação lombo sacra (promontório ), determina a altura da pelve. 
b- Diâmetro bi-ilíaco: este pode ser tomado na linha média, distância entre as 
tuberosidades do psoas no corpo do íleo. Ou também podem ser tomadas as 
medidas superiores e inferiores da distância entre os íleos. Mede a largura da 
pelve. 
 
Com estas medidas as pelves são classificadas em: (Fiq. 4 e 5) 
 
- Mesatipélvicas: quando os diâmetros sacro-pubiano e bi-ilíacos são 
semelhantes. Pelve circular. 
- Dolicopélvicas: quando o diâmetro sacro-pubiano é maior do que o bi-ilíaco. 
- Platipélvicas: quando o diâmetro bi-ilíaco é maior do que o sacro-pubiano. 
 
Indiretamente as medidas da pelve podem ser inferidas a partir de medidas 
externas, no entanto podem ocorrer erros devido às variações entre as raças e 
idade dos animais. Estas medidas foram concebidas a partir de um estudo com 
animais abatidos em que se fez a relação de medidas externas com os diâmetros 
 
8 
pélvicos (Saint-Cyr, 1875). A somatória das medidas externas dividida pela 
somatória das medidas internas gerou um coeficiente que seria utilizado para 
converter cada medida externa em uma interna. Por exemplo: medida da altura 
da cernelha multiplicada pelo coeficiente resulta na medida do diâmetro sacro-
pubiano. A medida da distância entre as protuberâncias ilíacas multiplicada pelo 
respectivo coeficiente resulta no diâmetro bi-ilíaco superior e assim em diante. 
Em termos práticos, a relação existente entre a conformação da garupa e a 
pelve pode ser exemplificada pela garupa em forma de trapézio invertido, 
característica de bovinos de corte, que está associada à redução do diâmetro 
pélvico e maior índice de distocias em certas raças. A égua apresenta abertura 
circular (mesatipélvica) enquanto a vaca a tem quase retangular (dolicopélvica), 
daí a maior freqüência de distocias nesta espécie. Os suínos apresentam pelve 
semelhante a da vaca e os carnívoros podem apresentar diferentes tipos conforme 
a raça (Pequinês tem forma específica com a pelve mais larga do que alta -
platipélvica). 
Em relação aos machos a pelve feminina é mais ampla e larga, com 
ossatura mais delicada e assoalho com concavidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3 – Medidas internas da Pelve bovina. A-B= diâmetro sacro-pubiano. C-D= 
diâmetro bi-ilíaco superior e E-F= diâmetro bi-ilíaco inferior. 
 
 
 
 
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Figura 4- Representação da pelve das espécies bovina, eqüina e caprina. 
 
 
 
 
Pelve da vaca 
Pelve da égua 
Pelve da cabra 
 
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Figura 5- Representação da pelve das espécies suína e canina. 
Pelve da porca 
platipélvica 
 
Pelve da cadela dolicopélvica mesatipélvica 
 
11 
FISIOLOGIA DA CONCEPÇÃO 
 
Concepto: designação genérica para o produto da fecundaçãodo óvulo, 
após a primeira clivagem até o nascimento. A ovulação geralmente ocorre quando 
os ovócitos se encontram em metáfase, envolvidos pela zona pelúcida e células da 
corona radiata. A segunda parte da meiose é completada após a fecundação. Nas 
cadelas os ovócitos são ovulados em metáfase I, terminando a meiose na tuba 
uterina (2 a 3 dias). Na maioria das espécies, o local da fecundação é a porção 
craneal do oviduto (tuba uterina), chamada de ampola (terço médio do oviduto). O 
transporte do concepto pelo oviduto se deve aos movimentos dos cílios presentes 
nas células da parede e também de contrações do tecido muscular. O tempo 
decorrido para o concepto chegar ao útero varia conforme a espécie: porca- 52hs, 
ovelha- 72hs, vaca- 90hs, égua - 98hs, gata - 148hs e cadela-168hs. 
Durante a permanência do concepto no oviduto, suas necessidades são 
supridas pela secreção das células tubáricas, cuja constituição difere da secreção 
uterina, indicando que as necessidades do concepto neste período precoce são 
específicas. 
A fecundação se processa pela entrada do espermatozóide no ovócito de 
forma a propiciar o encontro dos pró-núcleos masculino e feminino e restabelecer 
o número diplóide de cromossomos. Para que ocorra a fusão dos dois gametas, 
são necessárias a capacitação do espermatozóide e a reação do acrossoma em 
contato com a zona pelúcida. A reação de zona irá impedir que outros 
espermatozóides penetrem o óvulo e provoquem número excessivo de 
cromossomos (trissomia). 
A gestação caracteriza-se pelo período decorrente desde a fecundação até o 
nascimento do concepto. Costuma-se dividi-la em fases: de ovo ou zigoto, embrião 
e fetal. 
A fase de ovo ou zigoto (ou ainda blástula) compreende desde a 
fecundação, seguida pela primeira clivagem, até a formação de tecidos 
diferenciados que darão origem ao embrião e aos anexos fetais. Neste período 
ocorrem várias mitoses e cada célula filha denomina-se de blastômero. O zigoto 
tem a forma esférica proporcionada pela zona pelúcida. Quando atinge 32 
células a estrutura denomina-se mórula, em seguida forma-se um vacúolo entre 
as células, determinando uma cavidade que será chamada de blastocele e o 
zigoto então é denominado de blastocisto. Neste ponto do desenvolvimento já é 
possível reconhecer uma massa celular polarizada e interna, que dará origem ao 
corpo do embrião (embrioblasto) e uma outra laminar e externa que formará os 
anexos fetais (trofoblasto). O concepto chega ao útero em fase de mórula ou 
blastocisto e ao final desta fase a zona pelúcida se rompe (8-12 dias nos 
ruminantes, suínos e equinos, e mais tardiamente nos carnívoros) e o blastocisto 
se expande perdendo a forma esférica e adquirindo a forma do corno uterino, 
exceto nos equinos e carnívoros (Fig. 6 e 7). 
 
 
12 
 
 
Figura 6- Esquemas ilustrando a clivagem do concepto e a formação do 
blastocisto. Observe o desaparecimento da zona pelúcida no estádio de 
blastocisto. Moore, 1984. 
 
 
 
 
13 
 
 
Figura 7- Comparação do blastocisto equino com o bovino, após eclosão da 
zona pelúcida. 
 
A migração do concepto de um corno para o outro se dá nesta fase em que 
o concepto está solto na cavidade uterina e principalmente nas duas ou três 
primeiras semanas de gestação. Nas fêmeas pluríparas esta movimentação 
permite que os cornos uterinos sejam ocupados de forma mais homogênea. Nas 
uníparas, a migração é menos freqüente, mas quando ocorre, o corno adjacente 
ao ovário com corpo lúteo é invadido pela placenta de forma que neste também 
ocorra placentação não permitindo a produção de prostaglandinas que 
interromperiam a gestação. 
A fase de embrião ou organogênese compreende intensas modificações 
(Fig. 8). O embrioblasto se organiza em forma de lâminas (trilaminar) e sofre 
enrolamento formando uma estrutura tubular, ao mesmo tempo os órgãos 
começam a ser formados (Fig. 9). O trofoblasto também se organiza para formar 
os anexos fetais e promover a comunicação entre o feto e a mãe. 
 
14 
 
Figura 8- Embrião humano/primata no útero, fase de embrião. Moore, 1984. 
 
 
No período que precede a formação da placenta, a progesterona tem a 
importante função de estimular as glândulas uterinas a produzir a secreção 
histotrófica (leite uterino) que garantirá a nutrição do embrião até que se 
estabeleça a nutrição hemotrófica (através de trocas via sanguínea). Além disso 
a progesterona é imunossupressora e juntamente com prostaglandinas do tipo 
E1, E2, A e F1, irá evitar que o embrião seja reconhecido como um ser estranho à 
mãe e seja rejeitado. 
Este período é crítico para o desenvolvimento do concepto, pois é nele que 
podem ocorrer defeitos congênitos ou ainda os provocados por agentes 
teratogênicos. A aderência dos anexos fetais ao útero termina por volta de 14-22 
dias na ovelha, 13-18 dias na porca, 16-18 dias na cadela, 13-14 dias na gata, 
30-35 dias na vaca e 35-60 dias na égua. 
A fase fetal é a mais longa e se caracteriza pelo crescimento fetal, 
alterações uterinas e placentárias. É um período de maior exigência nutricional 
pelo feto, comparada à fase anterior. 
 
 
 
15 
 
Figura 9- Embrião humano com 4 semanas, fase de embrião, demonstrando o 
dobramento nos planos longitudinal e transversal. Moore, 1984. 
 
16 
ANEXOS FETAIS – PLACENTA 
 
 
Enquanto o embrião inicia o seu desenvolvimento passando da forma 
laminar para a tubular, o trofoblasto sofre modificações fundamentais para a 
formação dos envoltórios fetais. 
Como envoltórios fetais devemos entender as bolsas amniótica e 
alantoideana e a membrana coriônica que envolve todo o conjunto e se adere ao 
útero. 
Como placenta entende-se a união do tecido fetal (alantocórion) com tecido 
materno (endométrio) estabelecendo uma comunicação pela qual são trocados 
nutrientes, metabólitos, gases (CO2 e O2) e anticorpos. 
A seguir descreveremos cada um dos anexos fetais: 
 
1. Âmnio: é a vesícula mais interna que envolve diretamente o embrião e contém 
o líquido amniótico. Este líquido aumenta progressivamente (nas espécies de 
grande porte até o 5° ou 6° mês da gestação) e representa o meio ambiente do 
feto. No início é de cor clara e resulta da secreção das paredes do próprio 
âmnio, à medida que o feto se desenvolve, é acrescida das secreções salivar e 
nasal do feto. Torna-se esbranquiçada devido ao acúmulo de substâncias 
sebáceas provenientes do feto, além de células de descamação e pêlos. Nos 
fetos em sofrimento de parto, pode-se encontrar mecôneo (fezes fetais). 
A composição química deste líquido compreende: sais de cálcio, sódio, 
potássio, cloretos, carbonato, uréia, creatinina, hidratos de carbono, lipídeos e 
proteínas, enzimas, mucina, estrógenos e prostaglandinas. A quantidade de 
líquido varia conforme a espécie: 3 - 4 litros no bovino (amarela parda), 3 - 7 
no equino (amarelo escuro), 0,5 -1,2 litros/feto nos pequenos ruminantes (cor 
clara e transparente), 40- 150ml/feto no suíno (amarelada) e 8 - 30ml/feto no 
carnívoro (clara com turvação branca). Em condições normais este líquido é 
inodoro. 
As funções do líquido amniótico compreendem: proteção do feto, permitir a 
movimentação do feto adquirindo a postura correta para o parto, nutrição (já 
que é deglutido pelo feto e passa a ser incorporado aos líquidos extra e 
intracelulares), ajuda nas contrações uterinas (prostaglandina?), impede 
aderências dos tecidos moles do feto como, principalmente, tubo digestivo e 
vias respiratórias. 
A parede amniótica interna apresenta papilas esbranquiçadas denominadas 
de "pústulas amnióticas" que são ricas em glicogênio. São abundantes nos 
ruminantes e desaparecem com a progressão da gestação. 
A formação do âmnio é diferenciada conforme a espécie, em primatas o 
surgimento do âmnio se dá pelo destacamento entre o trofoblasto e o 
embrioblasto laminar;nas espécies domésticas isto acontece a partir de 
projeções do trofoblasto (Fig. 10, 11 e 12). 
 
17 
 
 
Figura 10- Esquema de embrião humano em processo de formação da vesícula 
amniótica, na fase em que o embrioblasto é laminar. 
 
 
Figura 11- Membranas extra-embrionárias do feto equino. A= 15 dias, B= 18 dias 
e C= 30 dias de gestação. 
 
18 
 
Figura 12- Membranas extra-embrionárias do feto suíno. A até D= 16 a 20 dias 
de gestação. E= período médio da gestação (55-60 dias). 
 
 
2. Alantóide: é um saco de parede fina que se comunica com a bexiga fetal 
através do canal do úraco. Uma parte do alantóide se adere ao âmnio 
(alantoamnio) enquanto que a outra se adere ao córion (alantocórion). Nos 
ruminantes e suínos o alantóide não se interpõe totalmente entre o âmnio e o 
córion, ficando o córion em contato direto com o âmnio (amniocorion) em 
aproximadamente 1/5 da superfície amniótica. 
O líquido alantoideano é proveniente do rim fetal, portanto é composto 
basicamente: de urina, ácido úrico, uréia, alantoína e glucose com pH 
variando de 6,5 a 7,5. Soltos neste líquido, pode-se encontrar corpos ovalados 
ou discóides, homogêneos sem características teciduais, originados do 
histotrofo (leite uterino) que quando não utilizados ou reabsorvidos 
permanecem na bolsa coriônica e são incorporados ao líquido alantoideano ou 
até mesmo ao amniótico, formando cálculos onde se depositam sais e mucina. 
Estes corpos são conhecidos como boomanes na vaca ou hipomanes na égua. 
A quantidade de líquido alantoideano é maior do que o amniótico: ± 9,5 litros 
na vaca (amarelo ambar), 4-10 litros na égua (marrom clara), 0,5-1,5 litros nos 
pequenos ruminantes (amarelado), 10-50ml/feto nos carnívoros (amarelo ou 
 
19 
esverdeado), nos suínos alguns autores citam a inexistência do líquido e 
outros admitem 100 ml/ feto. 
De modo geral, o líquido alantoideano é aquoso enquanto o amniótico é 
viscoso. Suas funções básicas são: proteção mecânica (traumas), mobilidade 
para o feto, nutrição, dilatação do canal do parto (vias fetais moles), 
lubrificação do canal do parto, bactericida e antiaderente. 
 
3. Vesícula ou saco vitelino: estrutura primitiva que se desenvolve no período 
embrionário e desaparece rapidamente nos ruminantes e suínos, 
permanecendo por 6 semanas nos equinos e por toda a gestação nos 
carnívoros (Fig. 13). É a primeira bolsa a se formar participando da nutrição 
embrionária absorvendo o histotrofo. Também participa da excreção 
embrionária já que se comunica com o intestino fetal através do anel 
umbilical. 
 
 
Figura 13- Membranas extra-embrionárias do cão. No gato a disposição é similar, 
porém a vesícula vitelina é menos proeminente. 
 
 
4. Córion: estrutura externa, totalmente fechada que acompanha a forma do 
útero nas grandes espécies. No início da gestação sua face externa é lisa, 
posteriormente adquire vilosidades, a princípio difusas, mas com a progressão 
da gestação estas se agrupam de forma característica para cada espécie. Estas 
vilosidades são irrigadas pelos capilares dos vasos umbilicais que se ramificam 
pelo alantocórion e são as responsáveis pela aderência ao útero. 
Na porca, a princípio, cada feto está envolto pelo seu córion, com o 
aumento de volume e contato do córion de um feto com o de outro, ocorre 
necrose neste ponto e o conjunto de fetos passa a ser englobado por um único 
córion. Nos bovinos com gestação gemelar, também ocorre este contato 
inclusive com anastomose dos vasos placentários, misturando sangue dos 
fetos, que quando de sexos diferentes resulta em uma patologia denominada 
de free-martin. 
 As vilosidades coriônicas são difusas na égua e porca, em focos circulares 
(cotilédones) na vaca e em faixa equatorial nos carnívoros. Primatas e roedores 
apresentam vilosidades em forma de disco polarizado. 
 
 
20 
CIRCULAÇÃO FETAL 
 
Durante o período de permanência dentro do útero as funções digestivas e 
respiratórias são bem diferentes das encontradas no animal adulto. Para 
sobreviver no sistema placentário, o aparelho circulatório do feto é modificado. 
Inicialmente a formação do cordão umbilical, que é responsável pelo transporte 
do sangue fetal até a placenta, depois a formação de desvios que conduzirão o 
sangue oxigenado e rico em nutrientes para todos os órgãos. Estes desvios se 
caracterizam pelos ductos venoso e arterioso e a comunicação atrial que é o 
foramen oval (Fig.14). 
 
 
Figura 14- Esquema da circulação fetal pré-(A) e pós-natal (B). 
 
 
 
Cordão umbilical 
 
Estrutura funicular que conecta o feto à placenta, presente desde cedo no 
desenvolvimento. É dividido em região amniótica e alantoideana sendo composto 
por: úraco, vestígio do saco vitelino, duas artérias anastomosadas (ramos das 
ilíacas internas), duas veias provenientes do alantocórion e uma substância 
gelatinosa denominada geléia de Wharton. Na região alantoideana permanecem 
as artérias e veias além da abertura do úraco. 
Nos carnívoros o cordão umbilical é bem resistente e geralmente é cortado 
pelos dentes da mãe. O comprimento varia conforme a espécie: nos bovinos e 
ovinos é aproximadamente ¼ do tamanho do feto, nos equinos e caninos ½ do 
tamanho do feto e nos suínos em torno de 25 cm, o que é bastante longo para a 
espécie. 
Semelhante à circulação pulmonar, o cordão umbilical apresenta condução 
de sangue rico em O2 e nutrientes pelas veias e o retorno para a placenta rico em 
CO2 e metabólitos é feito pelas artérias. 
A B 
 
21 
Ducto Venoso 
 
Caracteriza-se por ser um desvio da veia umbilical para a veia cava caudal, 
evitando que o sangue recém chegado ao organismo do feto seja logo 
metabolizado no fígado sem ter atingido os outros órgãos. 
 
Foramen Oval 
 
Comunicação entre os átrios do coração caracterizando-se por uma 
abertura membranosa que cede à pressão do sangue que chega ao coração direito 
pelas veias cavas. Desta forma o sangue é desviado, em parte para o lado 
esquerdo e consequentemente para a circulação geral. 
 
Ducto Arterioso 
 
Comunica a artéria pulmonar à aorta de forma a desviar da circulação 
pulmonar parte do sangue que passou pelo coração direito. O aparelho 
respiratório na vida intrauterina não apresenta função de hematopoiese e, 
portanto só necessita do sangue para ser nutrido. 
 
 
 
PLACENTAÇÃO 
 
A placenta é um órgão comum a mãe e ao feto, onde ocorrem trocas 
metabólicas de substâncias nutritivas, enzimas, síntese de hormônios e enzimas, 
excreção fetal e termoregulação. A comunicação placentária se deve ao íntimo 
contato entre os tecidos fetal (alantocórion) e materno (endométrio) que aproxima 
as duas circulações sanguíneas sem, no entanto, haver contato direto entre elas. 
Desta forma podemos resumir as funções da placenta em: 
1. respiração 
2. nutrição 
3. proteção (filtro de substâncias tóxicas e traumas) 
4. secreção hormonal 
5. imunoproteção (carnívoros) 
6. preparação do parto e lactação (hormônios) 
 
O processo de aderência é lento e se caracteriza pela inserção das vilosidades 
coriônicas no endométrio. É necessário que a mãe reconheça o seu estado de 
prenhêz precocemente, caso contrário ao final do ciclo estral haverá lise do corpo 
lúteo e a gestação terminará (Fig. 15). 
 
22 
 
Figura 15 -Mecanismo de luteólise que deve ser vencido para evitar a perda 
embrionária e retorno ao cio. CL = corpo lúteo, R-P = receptor de progesterona, R-
E = receptor de estrógeno,R-O = receptor de ocitocina 
 
 
Para que isso não ocorra, o embrião sinaliza para o útero a sua presença e 
evita que seja produzida a prostaglandina F2α. Esta sinalização é feita de forma 
mecânica, enquanto o embrião se movimenta dentro da luz uterina (equinos) ou 
quimicamente, através de secreções do trofoblasto. 
Nos suínos, os blastocistos secretam estrógenoque sequestra a PGF2α para 
o útero impedindo que atinja o ovário, pela circulação sanguínea. 
Proteínas trofoblásticas (bTP, oTP, cTP) já foram reconhecidas nos 
ruminantes as quais são responsáveis por esta sinalização. As TPs, hoje 
conhecidas como interferons, são responsáveis pela estabilização de receptores 
para progesterona no útero, bem como pela inibição de receptores para estrógeno 
e ocitocina. Desta forma o estrógeno e a ocitocina liberadas pelo corpo lúteo, não 
conseguem atuar na produção de PGF2α. Além de inibir a enzima prostaglandina 
sintetase, evitando a conversão de ácido aracdônico em prostaglandina. 
Outra forma de reconhecimento materno da gestação é através da PGE2 
que é luteotrófica. Ela atua estimulando a síntese de ocitocina do corpo lúteo, 
numa fase anterior ao estímulo dos receptores uterinos para estrógeno e 
ocitocina. Assim esta ocitocina estimulada pela PGE2 não encontra receptores 
para atuar e não estimula a síntese de PGF2α. Ocorre assim uma depleção da 
ocitocina luteal e no período em que estaria ocorrendo a luteólise não haverá 
ocitocina suficiente para desencadear o processo de síntese de PGF2α. 
À medida que as vilosidades se aderem ao endométrio as redes capilares, 
tanto do lado fetal quanto do materno, se organizam de forma a estabelecer um 
contato mais íntimo possível entre as circulações materno e fetal (Fig. 16). A 
barreira placentária, ou seja, os tecidos que se interpõe entre as circulações 
materna e fetal pode ser maior ou menor conforme a espécie, No entanto quanto 
 
23 
maior for a intimidade existente entre as duas circulações menor será a barreira 
para as substâncias que devem ou não transitar pela placenta. 
 
 
Figura 16- Plano de circulação placentária na ovelha. A= vasos fetais na 
extremidade da vilosidade coriônica. B= vasos maternos que circundam a 
vilosidade inserida no endométrio. 
 
 
CLASSIFICAÇÃO DAS PLACENTAS 
 
1. Quanto à aderência ao endométrio: 
Ao contrário do que acontece na espécie humana, o embrião dos mamíferos 
domésticos não invade o endométrio e sim apenas adere à mucosa uterina. 
Esta característica determina a classificação das placentas em deciduada 
ou adeciduada, a qual se baseia na aderência entre o embrião e o útero e 
na perda de tecido materno por ocasião do parto. 
 
1.1 – Placentas deciduadas (placentas verdadeiras ou completas): são 
assim chamadas porque a invasão do endométrio é intensa e ao parto é 
perdida uma porção de tecido materno juntamente com a placenta 
(primatas, roedores e carnívoros). 
1.2 - Placentas adeciduadas (incompleta ou semi-placenta): o trofoblasto 
não invade o endométrio, havendo apenas uma aderência entre o 
alantocórion e o endométrio que se destacam no momento do parto 
(ruminantes, suínos e eqüídeos). 
 
 
2. Quanto à disposição das vilosidades coriônicas: 
A distribuição das vilosidades coriônicas varia entre as espécies e 
caracteriza as placentas. 
2.1 Cotiledonária: As vilosidades coriônicas se concentram em regiões 
circulares espalhadas pela sua superfície que se denominam cotilédones, 
cada uma destas regiões irá se colocar sobre uma proeminência uterina 
denominada carúncula. Ao conjunto de cotilédone e carúncula denomina-
 
24 
se placentoma (placentônio). Os pontos de aderência são apenas estes 
placentomas, o restante do córion é liso (Fig. 17), embora possa ocorrer 
algumas vezes a placenta adventícia, que são vilosidades entre os 
cotilédones que se aderem ao endométrio. 
2.2 Difusa: as vilosidades estão espalhadas por todo o córion, desta forma 
todo o endométrio participa da aderência. Em equinos observa-se que as 
vilosidades, apesar de difusas, formam pequenos aglomerados 
caracterizando microcotilédones. Nas porcas, as vilosidades se espalham 
por todo o córion, exceto nos pontos referentes às glândulas uterinas, onde 
se formam pequenos pontos arredondados de cor acinzentada, 
denominados de auréolas (Fig. 17). 
2.3 Zonária: neste tipo de placenta, as vilosidades se concentram na faixa 
equatorial ao redor do córion, nas margens desta região há um hematoma 
de sangue materno característico e mais evidente na cadela do que na gata. 
Neste hematoma há metabolização da hemoglobina e formação de um 
pigmento esverdeado (uteroverdina) tipicamente observado no parto destes 
animais. A implantação das vilosidades se dá de forma lamelar 
intercalando vilosidades com lóbulos uterinos, daí considerar-se a placenta 
dos carnívoros como labiríntica (Fig. 18). 
2.4 Discoidal: no caso dos primatas e roedores, as vilosidades se 
concentram em um dos pólos do córion na forma de um disco. Em alguns 
macacos este disco é duplo, sendo que o cordão umbilical irriga um que se 
comunica com o outro através de vasos sanguíneos. 
 
OBS: Placenta labiríntica é uma denominação dada às placentas que formam 
lamelas de tecido fetal e tecido materno interpostos, formando algo semelhante a 
um labirinto. Ocorre nas cadelas, gatas, ratas, coelhas, cobaias e morcegos (Fig. 
19). 
 
 
 
 
Figura 17 – Placentoma de ruminantes (A e B) e microcotilédone da égua (C). 
 
25 
 
 
 
 
Figura 18 – Placenta zonária canina, destacando o hematoma marginal. 
 
Figura 19 – Placenta labiríntica da cadela, mostrando as lamelas de tecido 
materno e fetal intercaladas. 
 
 
3. Quanto à estrutura histológica -Refere-se às camadas de tecido que se 
interpõe entre o sangue materno e fetal (Fig. 20). 
 
3.1 Epitéliocorial: é a placenta que mantém todos os tecidos intactos 
separando o sangue materno do fetal, ou seja, endotélio do capilar fetal, 
tecido conjuntivo, epitélio do córion, epitélio do endométrio, tecido 
conjuntivo e endotélio do capilar. Típica dos equinos, suínos e ruminantes 
(Fig. 21). 
3.2 Endotéliocorial: neste caso o tecido fetal invade o endométrio 
ficando em contato com o endotélio dos capilares. Típico de carnívoros. 
3.3 Hemocorial: típico de primatas e roedores. O tecido fetal invade o 
endométrio e os capilares sanguíneos de forma que as vilosidades 
coriônicas são banhadas pelo sangue materno. 
 
26 
 
OBS: A classificação SINDESMOCORIAL/SINEPITELIOCORIAL estabelecida por 
Grosser (1909), embora ainda seja encontrada em muitos livros como sendo 
característica de ruminantes, foi descartada por Bjorkman (1968) quando 
realizou um estudo das placentas sob microscopia eletrônica. Atualmente 
considera-se como uma placenta transitória nas vacas e persistente em cabras e 
ovelhas, caracterizada pela formação de um sincício de células binucleadas no 
lado materno do placentoma. Nas vacas, este sincício é substituído por células do 
epitélio uterino com a evolução da gestação. 
 
 
 
 
 
Figura 20 - Esquema dos tipos histológicos da placenta dos animais domésticos. 
 
 
 
27 
 
 
Figura 21 – Esquema ilustrativo da placenta epitéliocorial. 
 
 
FUNÇÕES DA PLACENTA 
 
1- Nutrição: talvez esta esteja entre as principais funções da placenta, uma vez 
que o feto possui apenas a fonte sanguínea para sua nutrição. 
2- Respiração: outra função de suma importância para o feto, pois seu pulmão 
não realiza as trocas gasosas, e é na placenta que ocorrem as trocas de O2 e CO2. 
3- Excreção: a maior parte da excreção fetal é realizada pelo sangue, já que o 
intestino fetal não realiza esta função na vida intrauterina. Os rins ainda fazem 
uma parte da excreção através do líquido alantoideano. 
4- Termoregulação: o aparelho termoregulador do feto só vai terminar seu 
desenvolvimento após o nascimento, a manutenção da temperatura fetal se deve 
a placenta e às trocas metabólicas que nela ocorrem. 
5- Síntese Hormonal: várias substâncias são sintetizadas na placenta, entre as 
mais importantes destacamos os hormônios esteróides e as gonadotrofinas. 
5.1 A progesterona passa a ser produzida por volta do início do segundo terço 
da gestação (120 dias na vaca, 150dias na égua e 55-60 dias na ovelha), 
porém algumas espécies ainda dependem do corpo lúteo para a síntese de 
progesterona até o final da gestação, porque a síntese placentária não é 
suficiente para mantê-la (porca, cadela e cabra). 
5.2 O estrógeno tem produção mais tardia, exceto nos suínos que é precoce, e 
tem função de atuar como anabolizante sobre a musculatura uterina, sobre o 
crescimento das mamas, a síntese de proteínas, o estímulo da adrenal e da 
tireóide fetal. 
5.3 A gonadotrofina coriônica equina (eCG), anteriormente conhecida como 
PMSG, é característica da égua sendo produzida pelas células trofoblásticas 
nos cálices endometriais entre 40 e 140 dias de gestação. Tem função 
semelhante a do FSH e, portanto, causa crescimento folicular; por ter alguma 
função de LH também, provoca a ovulação ou luteinização dos folículos, 
gerando corpos lúteos secundários, que manterão a gestação até que a 
placenta esteja apta a produzir a progesterona necessária. 
5.4 Prostaglandinas F2a e E2: são fundamentais no processo de 
reconhecimento materno da gestação e também no parto. 
 
 
28 
O transporte de substâncias pela placenta aumenta com o desenvolvimento da 
placenta e com a idade gestacional. 
-Água, CO2, O2 e eletrólitos são absorvidos por difusão simples. 
-Aminoácidos, vitaminas hidrossolúveis e carboidratos dependem de transporte 
ativo. 
-Hormônios passam por difusão lenta. 
-Drogas, anestésicos também passam por difusão rápida. 
-Imunoglobulinas (nas espécies em que esta passagem ocorre, placentas 
hemocoriais e epitéliocoriais) se dá por pinocitose. 
 
 
FISIOLOGIA DA GESTAÇÃO 
 
TIPOS DE GESTAÇÃO: 
 
1- Uníparas: gestação com 1 feto (monotocos) 
2- Multíparas: gestação com vários fetos (politocos) 
3- Nulípara: fêmea que nunca gestou 
4- Primípara: fêmea na primeira gestação 
5- Plurípara: fêmea com várias gestações 
6- Gestação gemelar: fêmea normalmente unípara que gesta mais de um feto 
7- Sobrecarga gestacional: fêmeas multíparas que gestam número excessivo de 
fetos 
8- Superfecundação: fêmeas com cio longo que podem ser acasaladas com 
diferentes machos e gestar filhotes de pais diferentes, numa mesma gestação. 
9- Superfetação: fêmeas que apresentam cio durante a gestação e ao serem 
acasaladas podem conceber novamente e então apresentar fetos em idades 
diferentes. Ao parto, todos os fetos podem nascer ou os mais novos podem ficar 
retidos para desencadearem outro parto no período apropriado. 
 
DURAÇÃO DA GESTAÇÃO: Entre as espécies existem períodos definidos de 
gestação 
 
Égua: 320 -355 dias 
Jumenta: 348 -377 dias 
Vaca: 275- 285 dias 
Cabra e ovelha: 144 -156 dias 
Porca: 110 -128 dias 
Cadela: 60 -66 dias 
Gata: 56 -60 dias 
Coelha: 30 -33 dias 
Rata: 21 dias 
 
FATORES QUE INFLUENCIAM A DURAÇÃO DA GESTAÇÃO: 
 
1- Maternos: 
1.1- idade: primíparas tem gestação encurtada em até 5 dias 
1.2- raça: raças mais precoces com as leiteiras (Holandês e Jersey- 279 dias) 
têm gestação mais curta do que as mais tardias como as de corte (Hereford e 
Zebuínos -285 dias) 
 
29 
2- Fetais: 
2.1- sexo: machos tem gestação mais demorada (1 a 3 dias) – controverso! 
2.2- peso: fetos mais pesados têm gestação mais curta 
2.3- número de fetos: maior número de fetos encurta a gestação (exceto 
suíno), o mesmo ocorrendo nas gestações gemelares. 
2.4- Híbridos: no caso de eqüídeos, os híbridos irão acompanhar a gestação 
característica da espécie paterna. 
3- Ambientais: 
3.1- Estação do ano: nutrição favorável poderá encurtar a gestação, enquanto 
que períodos desfavoráveis podem prolongá-la. 
3.2- Subnutrição: prolonga a gestação na vaca e cabra, mas encurta na 
ovelha. 
3.3- Lactação: as éguas acasaladas no cio do potro podem atrasar sua 
gestação em até 7 dias, devido ao retardo na aderência do blastocisto. 
 
 
OBSERVAÇÕES: 
ABORTO é o caso de um feto sem condições de sobrevivência extra-uterina. 
PREMATURO é o feto que nasceu precocemente, mas tem possibilidade de 
sobrevida. 
GESTAÇÃO PROLONGADA PATOLÓGICA: pode ser provocada por várias 
patologias, como problemas genéticos ou congênitos ou ainda nutricionais, nos 
quais não há sinais de parto apesar do período gestacional ter acabado. 
 
 
FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO FETAL: 
 
1- raça: tamanhos inerentes ao genótipo 
2- número de fetos: quanto maior menor será o tamanho dos fetos 
3- genética paterna 
4- nutrição materna 
5- tamanho da fêmea (genética) 
6- estado de desenvolvimento da fêmea: quando a fêmea está ainda em 
desenvolvimento, haverá competição entre ela e o feto pelos nutrientes. 
7- Tamanho da placenta: diretamente proporcional ao desenvolvimento do feto. 
8- Hormônios fetais: tiroxina, insulina, GH e somatomedina. 
 
 
DETERMINAÇÃO DA IDADE FETAL 
(CRL = Medida da nuca a base da cauda) 
 
BOVINO: Idade em dias = 2,5 x (CRL cm + 21 ) 
CAPRINO: Idade em dias = 28,8 + (CRL cm x 0,37 ) 
 
 
MODIFICAÇÕES OCORRIDAS DURANTE A GESTAÇÃO: 
As fêmeas gestantes sofrem inicialmente a ação da progesterona, ou seja: o 
temperamento fica mais dócil, há diminuição da atividade física, aumento da 
glândula mamária, ganho de peso, aumento da secreção uterina, aumento da 
irrigação uterina, ocorre a placentação, aparece o frêmito da artéria uterina 
 
30 
média, há adelgaçamento da parede uterina, a mucosa vaginal torna-se pálida e 
seca, formam-se edemas nas regiões inferiores (abdome e patas). 
 
CUIDADOS DURANTE A GESTAÇÃO: 
-exercícios: para redução dos edemas e melhorar a ingestão de alimentos. 
-Alimentação balanceada. 
-Evitar trabalho extenuante 
-Evitar estresse de transporte 
-Vacas leiteiras devem ser submetidas ao período seco, interrupção da lactação 
60 dias antes do parto. 
-Isolar animais que abortam até o diagnóstico (possibilidade de infecção) 
-Precauções ao aplicar medicamentos (abortivos ou teratogênicos) 
 
 
DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO 
 
Em geral, fêmeas em bom estado de saúde e que forem acasaladas com 
machos férteis, estarão presuntivamente prenhes se não retornarem ao cio no 
período normal do ciclo estral, mas o manejo de criações especializadas exige que 
cada vez mais as técnicas de diagnóstico de gestação sejam precoces e precisas. 
Os métodos até agora desenvolvidos baseiam-se em pesquisa direta do feto ou 
útero ou indiretamente pela pesquisa de hormônios típicos da gestação. 
 
1- Métodos diretos: 
1.1- Palpação retal: mais utilizada em grandes animais (vacas e éguas), 
consiste na análise da estrutura uterina e ovariana, manualmente através do 
reto. 
 
BOVINOS 
Período Útero Assimetria Flutuação Beliscamento Líquido 
ml 
Feto cm 
Até 5 sem Sem 
sintomas 
 
5 –6 sem Peq. Bolsa 
Inicial 
+ leve 30-100 2 - 3 
7 – 8 sem Peq. Bolsa 
Característica 
+ + + 80 - 300 4 - 6 
9 – 10 sem Grande Bolsa 
Inicial 
+ (útero 
contornável) 
Grande 
Balotamento 
+ 300 - 700 8 – 10 
11 – 14 
sem 
Grande Bolsa 
Característica 
Útero não 
contornável 
+ + 700 - 2000 10 – 20 
15 – 20 
sem 
Balão, 
placentomas 
completa Frêmito a. 
uter. média 
+ 24 
5 – 6 m Funil, pouco 
palpável 
completa Frêmito a. 
uter. média 
 
7 – 9 m Feto palpável, 
movimentos 
Abdomem 
assimétrico 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
EQUINOS 
Período Útero Assimetria Flutuação Ovários 
Até 50 dias Tônus, sensibilidade, 
Pequena Bolsa Inicial 
- - 
60 dias Peq. Bolsa Característica + Próxima ao 
corpo uterino 
Com folículos 
90 dias Grande Bolsa, útero 
contornável 
+ + 
4 – 5 m Balão + Balotamento + 
6 – 7 m No assoalho abdominal, 
parede fina, não 
contornável 
+ Frêmito da art. 
Uter. média 
 
7m - final Feto palpável, 
movimentos 
Abdome 
assimétrico 
 
 
1.2- Palpação abdominal: usada em médios e pequenos animais. Nos 
carnívoros a melhor época é entre 28e 30 dias quando as vesículas fetais 
ainda estão separadas em formas arredondadas. A partir deste período, as 
vesículas preenchem o útero dificultando o diagnóstico. Nos ruminantes e 
suínos a palpação só é eficiente muito tardiamente. 
 
1.3- Raio X: mais utilizado como diagnóstico diferencial, só é eficiente quando 
os fetos são radiopacos (45 dias em carnívoros e 90 dias em ruminantes e 
suínos). 
 
1.4- Ultrassom: mais utilizado atualmente, permite o diagnóstico precoce da 
gestação além de outras aplicações como sexagem, diagnóstico de patologias 
fetais, etc. 
 
2- Indiretos: 
2.1- Progesterona: dosada por radioimunoensaio ou ELISA, mais usada em 
ruminantes, tem período ótimo de dosagem entre 21 e 24 dias quando uma 
concentração maior do que 2 ng/ml é considerada indicativo de prenhêz. 
 
2.2- Estrógeno: mais tardio, pode ser dosado aos 4 meses na vaca e 6 meses 
na égua. Pode ser feito pelo teste de Cuboni (bioquímico) ou biológico com uso 
de ratas pré-púberes, analisando o esfregaço vaginal após aplicação de urina 
de animais suspeitos (teste de Allen Dolsy). 
 
2.3- eCG: testes biológicos já foram muito empregados utilizando 
camundongas (teste de Aschheim, Zondek e Küst) ou coelhas (teste de 
Friedman) pré-púberes onde o soro da égua suspeita causaria 
desenvolvimento de folículos nos ovários. O teste do sapo (Galli-Mainini) já foi 
utilizado inclusive para diagnóstico da gestação humana e se baseia na ação 
do hormônio FSH sobre a espermatogênese do sapo. 
 
2.4- Histologia vaginal: a espessura do epitélio aumenta no período 
estrogênico e diminui no progesterônico. 
 
 
32 
2.5- Muco vaginal: em pequenos ruminantes, o muco vaginal é fluido durante 
o ciclo e espesso durante a fase progesterônica. Quando colocado em contato 
com água morna, o muco de um animal prenhe deve coagular enquanto o de 
um animal ciclando deve dissolver-se. 
 
 
 
PARTO FISIOLÓGICO 
 
Preparativos nas proximidades do parto: 
1- Observação: sempre necessária desde que não seja estressante para a 
fêmea gestante. Especialmente quando se trata de pessoas estranhas ao local. 
 
2- Higiene: tanto o ambiente quanto a gestante devem apresentar algum grau 
de higiene. Nas suinoculturas industriais este tópico é de crucial importância, 
a maternidade é o ambiente mais asséptico da criação. Em animais de criação 
extensiva, como bovinos, este problema é pouco considerado, no entanto os 
piquetes maternidade devem os mais controlados quanto a contaminações. As 
éguas que parem em baias também devem ter um ambiente higienizado. 
 
3- Tranqüilidade: o momento do parto depende de grande concentração por 
parte da fêmea e qualquer intromissão inadequada pode causar estresse e 
bloqueio de liberação hormonal (ocitocina, p.ex.). 
 
4- Segurança: o ambiente do parto deve ser o mais seguro possível tanto para 
a fêmea quanto para o feto, evitando possíveis traumatismos. 
 
5- Ninhos: os carnívoros costumam arrumar um ninho para o parto. Deve-se 
colocar a disposição destas fêmeas uma caixa adequada e jornal ou panos 
limpos para que a gestante se acomode como achar melhor. 
 
6- Tosquia: ovelhas lanudas devem ter seu posterior tosquiado na 
proximidade do parto a fim de diminuir sujidades. 
 
 
Modificações da fêmea próximo ao parto: 
 
1- edema progressivo da vulva: resultado da retenção de líquidos 
2- vagina úmida e hiperêmica: ação estrogênica 
3- maior fluxo de sangue para o aparelho genital 
4- relaxamento dos ligamentos pélvicos e da sínfise pubiana: relaxina e 
estrógeno 
5- hipotermia de 1°C nas horas que precedem o parto, resultante da queda de 
progesterona, que é termogênica. A porca tem um acréscimo de 1°C. 
6- Comportamento de isolamento, anorexia, inquietação, gotejamento de leite, 
dificuldade respiratória (cadela). 
 
 
 
 
 
33 
MECANISMO DO PARTO 
 
Desde muito tempo tem se tentado entender os mecanismos pelos quais o 
feto é expulso do útero. Muitas teorias foram desen12volvidas, desde a hipótese 
de que o útero seria o único responsável pela expulsão fetal, até a hipótese mais 
aceita de que o feto é quem dispara o processo de parto. Entre as espécies, 
existem algumas peculiaridades no que diz respeito ao mecanismo de parto, 
sendo que a ovelha foi utilizada como um modelo de estudo e parece que os 
eventos detectados nesta espécie se aplicam aos outros ruminantes (Fig. 22). Nos 
carnívoros pouco se tem estudado a respeito e em suínos e equinos o mecanismo 
parece diferir em alguns pontos. 
 
Fatores que determinam o parto (modelo ovino): 
Provavelmente o feto sofre estresse ao final da gestação envolvendo 
aspectos nutricionais e ambientais como, por exemplo, a incapacidade da 
placenta nutrir um feto de tamanho demasiado grande sendo que o espaço 
uterino já lhe é pequeno. Esta condição estressante pode promover um estímulo 
ao hipotálamo que libera CRF (fator liberador de corticotrofina), este atua sobre a 
hipófise estimulando a liberação de ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) cuja 
função é estimular a adrenal a produzir corticóides, entre eles os principais são 
estrógenos e cortisol. Para que não ocorra um feedback negativo sobre ACTH, o 
feto apresenta uma capacidade de ligação ao cortisol aumentada impedindo que 
ele atue no hipotálamo ou hipófise para diminuir a produção do próprio cortisol. 
O cortisol tem funções fundamentais no parto. Atua no amadurecimento 
fetal estimulando a substância surfactante para os pulmões, dentre outras 
funções. Na placenta, o cortisol é o estimulador de enzimas da esteroidogênese 
(17alfa- hidroxilase e 17-20-liase) que são responsáveis pelo desvio da síntese de 
progesterona para estrógeno, desta forma diminuindo a produção de um e 
aumentando a de outro. Isto tanto pode ocorrer na placenta quando no corpo 
lúteo (espécies que dependem do corpo lúteo para manter a produção de 
progesterona). 
O aumento estrogênico tem distintas implicações: aumentar receptores 
para ocitocina no miométrio, estimular a liberação de relaxina, alterar a estrutura 
das fibras de colágeno da cerviz para promover sua abertura e atuar nos 
placentomas para estimular a síntese de PGF2α. Esta prostaglandina por sua vez 
dá início às contrações do miométrio, provoca luteólise, relaxamento cervical e 
aumento das junções "gap", que aumentam a comunicação entre as células e 
permitem a passagem dos impulsos elétricos com maior facilidade. 
Essas contrações uterinas iniciais são determinantes, uma vez que 
começam a empurrar o conteúdo uterino contra a cerviz forçando, como uma 
cunha, a sua abertura. O contato do feto com o canal pélvico, especialmente a 
cerviz, provoca o estímulo nervoso que desencadeia a liberação de ocitocina 
neurohipofisária (reflexo de Ferguson) que causa as contrações uterinas mais 
fortes. 
Além deste estímulo o útero sofre a ação do sistema nervoso autônomo 
simpático (SNA) através de receptores no miométrio que são alfa-adrenérgicos 
(contração) e beta-adrenérgicos (relaxamento). A adrenalina liberada por ocasião 
do parto provoca a contração uterina atuando nos receptores alfa-adrenérgicos. 
Os relaxantes uterinos (p.ex. clembuterol) atuam nos receptores beta-
adrenérgicos. 
 
34 
 
 
Figura 22- Esquema do mecanismo do parto em ovinos, adaptado de Arthur et al. 
(1996). 
 
 
As contrações abdominais ocorrem através de um arco reflexo provocado 
pelo estímulo do feto sobre o nervo pudendo. Os centros motores da medula são 
estimulados e efetuam as contrações da musculatura abdominal (reflexo de 
evacuação). 
 
35 
No momento da passagem do feto pelo canal pélvico, ele toma a forma de 
um arco, com distensão dos músculos dorsais e pélvicos e relaxamento dos 
ventrais diminuindo o diâmetro pélvico do feto (inclinação da pelve) e facilitando a 
passagem do mesmo pela pelve materna. 
Em equinos observa-se que o aumento do cortisolé um pouco mais tardio 
(1-3 dias antes do parto) do que nos ruminantes (7-10 dias pré-parto). Este 
atraso se deve ao retardo no amadurecimento da adrenal que não responde ao 
ACTH. Outro fator de diferença é que a placenta eqüina não possui a enzima 
17alfa-hidroxilase, portanto não altera a síntese de progesterona em favor da de 
estrógeno pelo estímulo do cortisol como acontece no ruminante. A gonadectomia 
fetal diminui os níveis maternos de estrona e DHEA (diidroepiandrostenediona), 
sugerindo que, como no primata, o equino tenha uma unidade feto-placentária, 
onde os estrógenos são sintetizados a partir de precursores oriundos da gônada 
fetal. O principal precursor neste caso seria a DHEA, produzida e liberada pela 
gônada fetal, sendo transformada em estrona na placenta. É possível que as 
gonadotrofinas FSH e/ou LH estimulem a síntese de esteróides gonadais (DHEA e 
equilin) no feto. A aplicação de corticosteróide não afeta a gestação de forma tão 
dramática quanto a que ocorre nos ruminantes. 
Embora ainda existam poucos estudos sobre o mecanismo do parto nos 
equinos, suínos e carnívoros, parece que o fator determinante é a PGF2α 
estimulada pelos estrógenos. Nas cadelas, o corpo lúteo da gestação tem quase a 
mesma duração do corpo lúteo de um ciclo estral, devendo, portanto, se 
autoregular através da síntese de PGF2α, além disso, não há aumento significativo 
de estrógenos no parto desta espécie. 
 
 
FASES DO PARTO 
 
Apesar do parto ser um processo contínuo, pode-se caracterizá-lo em fases 
conforme as ocorrências principais. No entanto, existe uma controvérsia entre os 
autores no que se refere a divisão destas fases; muitos consideram que a 
expulsão da placenta seja a última fase do parto e outros que o parto encerra com 
a expulsão do feto. De fato, em algumas espécies, a expulsão da placenta é quase 
imediata, quando não concomitante com a expulsão fetal, é o caso do equino e 
das espécies multíparas. Nestas é realmente difícil deixar de considerar a 
expulsão da placenta no contexto do parto. No entanto os ruminantes que 
liberam a placenta mais tardiamente, podem ter o encerramento do parto 
considerado na expulsão fetal. 
Para efeitos didáticos iremos considerar as seguintes fases: 
 
1- Fase preparatória ou prodrômica: compreende as modificações 
morfofisiológicas que a fêmea sofre nas proximidades do parto. Os bovinos 
apresentam esta fase bem caracterizada com pronunciado edema e flacidez de 
vulva e ligamentos, com elevação da base da cauda; pode haver desconforto 
abdominal, inapetência, irregularidade dos movimentos ruminais e secreção 
vaginal mucosa (tampão mucoso). As ovelhas e cabras também apresentam 
micção freqüente. As éguas iniciam o gotejamento do leite que pode endurecer 
formando um tampão no teto (sinal de parto iminente). As porcas apresentam 
intenso edema de vulva e mamário. As cadelas mostram-se inapetentes, 
 
36 
inquietas, lambem a vulva com freqüência e podem ocorrer vômitos. As gatas 
em geral se isolam. 
 
2- Fase de dilatação (1o. estágio do parto): esta fase se caracteriza pelo 
início das contrações uterinas e, portanto, ocorre a presença de grandes 
quantidades de actinomiosina no miométrio. As contrações são rítmicas e o 
feto bem como seus envoltórios atuam como cunha na cerviz, forçando sua 
dilatação, por isso os tecidos devem estar flácidos e relaxados (ação do 
estrógeno e relaxina) para não representarem resistência a esta abertura. Nas 
espécies em que a expulsão da placenta é mais rápida já começa a haver o seu 
descolamento. Útero e vagina se transformam em um único canal e as bolsas 
fetais já começam a aparecer pela vulva. Esta fase pode demorar de 6 a 16 
horas e é mais demorada em primíparas. 
 
3- Fase de expulsão (2° estágio do parto): A insinuação dos anexos fetais e 
feto no canal pélvico estimulam contrações mais efetivas (reflexo de Ferguson e 
contrações abdominais). Nas uníparas, que geralmente se deitam em decúbito 
lateral, quando o tórax fetal passa pela pelve materna, há diminuição das 
contrações e um retardamento na expulsão dos membros pélvicos, não 
havendo ruptura do cordão umbilical, este retardamento propicia que o feto 
receba maior afluxo de sangue placentário, diminuindo o risco de asfixia. Os 
movimentos maternos e/ou fetais terminam a expulsão e rompimento do 
cordão umbilical. Nos carnívoros, o cordão umbilical é rompido pelos dentes 
da mãe que geralmente come a placenta. A duração desta fase varia conforme 
as espécies: é demorada nos bovinos (1-6 horas), principalmente em 
primíparas, e rápida nas éguas (30 minutos), nas multíparas é muito variável 
já que depende do número de fetos, no entanto, o intervalo entre fetos não 
deve exceder 2 horas. 
 
4- Secundinação ou delivramento (3° estágio do parto): nas multíparas e 
nas éguas, a expulsão da placenta se dá logo em seguida ao feto. Nos suínos, 
devido a um córion único para vários fetos, pode ocorrer o nascimento de 
alguns fetos e depois as placentas são expulsas em conjunto. 
 
 
ESTÁTICA FETAL 
 
Para que o parto transcorra normalmente, especialmente a fase de 
expulsão, é necessário que o feto esteja localizado na pelve de forma a não 
impedir sua própria passagem. A relação do feto com o canal do parto recebe o 
nome de estática fetal (Fig. 23). 
 
Para caracterizar a estática, lançamos mão de três parâmetros: 
 
1- APRESENTAÇÃO FETAL: relaciona o eixo longitudinal do feto com o da mãe, 
ou seja, a relação da coluna vertebral do feto com a da mãe, podendo ser: 
 
1.1 Longitudinal: quando as colunas são paralelas. Neste caso, a apresentação 
longitudinal pode ser anterior, quando o feto se apresenta com a cabeça, ou 
posterior, quando o feto se apresenta com o traseiro. Esta apresentação é 
 
37 
fisiológica, na maioria das espécies a apresentação longitudinal posterior não 
causa distocia, mas, eventualmente nos grandes animais, os partos são mais 
demorados. 
1.2 Transversal: quando as colunas são transversais. Neste caso pode ainda 
ser dorsal, quando o dorso do feto se apresenta para o canal pélvico ou ventral, 
quando o ventre do feto é que se apresenta (Fig. 24). 
 
1.3 Vertical: quando a coluna do feto é perpendicular ou oblíqua em relação à 
coluna da mãe. Também poderá ser dorsal ou ventral dependendo da parte que 
se apresente ao canal pélvico. 
 
 
Figura 23- Estática fetal fisiológica do potro durante a fase de expulsão do parto. 
Apresentação longitudinal anterior, posição lombo-sacra e atitude estendida. 
 
 
 
Figura 24 – Apresentação transversal dorsal em equino 
 
2- POSIÇÃO FETAL: relaciona a pelve materna com o corpo do feto (dorso ou 
lombo), pode ser: 
 
2.1- Dorsal, superior ou dorso-sacra: quando o dorso do feto se relaciona com o 
sacro materno, ou seja, o dorso do feto está na parte superior da pelve. Podemos 
também considerar a nomenclatura lombo-sacra, se a feto estiver em 
apresentação posterior. Posição fisiológica. 
 
38 
 
2.2- Ventral, inferior ou dorso-pubiana: quando o dorso do feto se relaciona 
com o púbis materno, ou seja, o dorso do feto está voltado para a parte inferior da 
pelve. Da mesma forma poderá ser lombo-pubiana nas apresentações posteriores. 
 
2.3- Lateral ou dorso-ilíaca: quando o dorso do feto se relaciona com o íleo 
materno, ou seja, o dorso do feto está voltado para a parte lateral da pelve, 
podendo ser direito ou esquerdo conforme o lado. Da mesma forma poderá ser 
lombo-ilíaca nas apresentações posteriores. 
 
3- ATITUDE FETAL: relaciona o corpo do feto com suas partes móveis (cabeça e 
membros), suas variações são: 
3.1- Estendida: quando os membros e cabeça estão estendidos em direção ao 
canal pélvico. Esta atitude é fisiológica. 
 
3.2- Flexionada: quando alguma articulação do pescoço ou dos membros estiver 
flexionada impedindo a passagem do feto pelo canal pélvico. Nas porcas, écomum os fetos nascerem com os membros voltados para trás sem que isso 
caracterize uma distocia (Fig. 25). 
 
Figura 25- Estática fisiológica no parto suíno 
 
OBS: Durante o parto, a observação é de fundamental importância, 
especialmente nas espécies que apresentam descolamento rápido da placenta. Na 
estática normal, as primeiras partes a aparecer na vulva são os membros 
anteriores e o focinho. Nas éguas, um atraso de progressão fetal na fase expulsão 
pode resultar na morte do feto, por isso, nesta fase deve-se aguardar até 10 
minutos para intervir no parto. Os bovinos podem aguardar um pouco mais, 
sendo que 1 hora sem progressão na fase de expulsão pode significar uma 
distocia. 
 
 
 
INDUÇÃO DO PARTO 
 
Em veterinária não é muito comum o uso de indução de parto, no entanto, 
algumas indicações podem ser consideradas: 
-disponibilidade de alimentos, casos de subnutrição. 
-Proporcionar um parto assistido, quando o veterinário não está disponível 
diariamente. 
 
39 
-Diminuição do peso fetal, já que ele cresce muito nos últimos dias da gestação. 
-Abreviar a gestação em casos patológicos como cetose, hidropisia dos anexos 
fetais, etc. 
Na égua, melhores resultados são obtidos a partir de 320 dias. Quando a 
cerviz já se encontra com algum grau de relaxamento, a ocitocina pode ser usada 
na dose de 120 UI (360-600 Kg de peso vivo), com o parto ocorrendo em 15 a 60 
minutos. Se a cerviz não está relaxada, deve-se aplicar estrógeno (estilbestrol- 
30mg) 12 a 24 h antes da ocitocina. A distocia é comum devido à rotação fetal 
incompleta. 
 
Corticóides não funcionam muito bem na égua e a prostaglandina (PGF2a) 
deve ser dada na dose de 1,5 a 2,5 mg ou 1000µg de fluprostenol, também o risco 
de distocia é alto. A égua costuma reagir à prostaglandina na forma de sudorese, 
taquicardia e hiperpneia. 
Na vaca a indução do parto ocorre a partir de 270 dias e responde bem aos 
corticóides. Os corticoides de curta ação dão resultado positivo após 1 a 6 dias do 
tratamento, no entanto o índice de retenção de placenta é alto. A associação de 
PGF2alfa e corticóide tem dado bom resultado: dexametasona seguida, após 8-12 
dias, de PGF2alfa, provoca o parto ocorre em 72 horas. 
Em geral o uso de corticóides de curta ação resulta em maior índice de 
retenção de placenta. Além disso, deve-se lembrar que corticóides são 
imunosupressores e que diminuem a concentração de imunoglobulinas no 
colostro. 
Na porca a utilização da indução do parto é mais uma técnica de manejo de 
maternidade e desmame. A PGF2alfa tem boa eficiência (10mg de PG ou 175µg de 
cloprostenol) resultando em parto após 28 h. O benzoato de estradiol pode ser 
usado 24 h antes da PG (10mg) ou 5-6 h após o cloprostenol (1 mg). 
Nas cadelas e gatas não se conhecem medicamentos eficientes que sejam 
disponíveis no mercado. A PGF2alfa também proporciona reação forte na cadela, 
inclusive com a apresentação de vômitos. 
 
 
Quando o parto já iniciou e apresenta alguma demora que não é devida a 
distocia fetal ou do canal do parto, pode-se administrar ocitocina que promoverá 
aumento das contrações uterinas. Isto é mais comum em porcas e cadelas. 
Animais excitados podem liberar adrenalina em excesso e estimular os 
receptores beta-adrenérgicos do útero causando relaxamento. Beta-bloqueadores 
podem ser utilizados neste caso (carazolol). 
Ao contrário, se houver necessidade de retardar o parto, seja para aguardar 
alguma assistência especializada ou para permitir a correção de alguma distocia 
fetal com mais tranquilidade, pode-se usar estimuladores beta-adrenérgicos, 
como o clembuterol (0,3mg e após 4 horas mais 0,21 mg), que retarda o parto em 
até 8 horas na vaca. 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
FISIOLOGIA DO RECÉM NASCIDO 
 
Ainda dentro do ambiente uterino, o feto sofre modificações para enfrentar 
a vida extra-uterina. Pouco antes do nascimento, o pulmão fetal começa a 
apresentar movimentos respiratórios que embora descontínuos ocorrem durante 
as 24 horas do dia, com absorção do líquido aspirado. Há também produção de 
surfactante pulmonar para manter os alvéolos distendidos. 
Após a expulsão fetal os movimentos respiratórios são ativados em 
aproximadamente 60 segundos. Durante o parto a pressão de O2 (pO2) e o pH do 
sangue diminuem com aumento da pCO2, devido ao início da separação da 
placenta e estrangulamento do cordão umbilical, o que restringe as trocas 
gasosas. Isto provoca a estimulação de quimioreceptores cerebrais que ativam a 
respiração. Estímulos tácteis (lambidas) e térmicos (frio) também são 
importantes. 
Seu aparelho circulatório, antes adequado à circulação placentária, passa a 
se preparar para a respiração pulmonar, com fechamento de ductos como o 
venoso, arterioso e também do forame oval no coração. A prostaglandina E2 tem 
importante papel neste processo. Após o nascimento, a veia umbilical transforma-
se no ligamento redondo do fígado e o ducto venoso é obstruído rapidamente (5- 
30 minutos) passando a ser um ligamento inserido no parênquima hepático. 0 
ducto arterioso também se obstrui formando o ligamento arterioso e o forame oval 
é obstruído por uma membrana devido a inversão da pressão sanguínea nos 
átrios. Por fim as artérias umbilicais passam a constituir os ligamentos redondo e 
lateral da bexiga. 
O sistema termoregulador fetal é ativado para que ele possa manter a 
temperatura do corpo, para isto o feto acumula gordura marron e glicogênio no 
final da gestação, além de estimular a função da tireóide através do aumento de 
cortisol. A adrenal também sofre maturação para produzir catecolaminas, 
especialmente adrenalina, que juntamente com ACTH e cortisol, estimula a 
maturação pulmonar. A recuperação da temperatura corporal após o parto nos 
cordeiros é de poucas horas, enquanto que os leitões podem demorar até 24 
horas ou mais. Os cães e gatos podem demorar até 7 a 9 dias para restaurar a 
temperatura semelhante àquela do parto. 
 
 
CUIDADOS COM O RECÉM NASCIDO 
 
RESPIRAÇÃO: a sobrevivência do recém nascido depende do início rápido da 
respiração espontânea e normal. Deve-se averiguar se após a expulsão do feto, 
suas vias respiratórias superiores se encontram desobstruídas de muco, fluido ou 
membranas. Para limpar as narinas utiliza-se os dedos, pano seco ou 
preferencialmente um aparelho de sucção. A elevação do posterior fetal propicia 
que a ação da gravidade determine a limpeza das vias aéreas. Esfregar o dorso do 
feto pode ser uma estimulação táctil importante. Se a respiração espontânea não 
ocorre em 2 a 3 minutos, a chance de sobrevivência é bastante reduzida. 
 
TERMOREGULAÇÃO: o controle da termoregulação no recém nascido pode ser 
feita de duas formas: aumentando o ritmo metabólico através de alimentação 
adequada, ou reduzindo a perda de calor. A gordura subcutânea é reduzida 
 
41 
nestes casos e a superfície corporal úmida resulta em perda de calor pela 
evaporação, além de que espécies como a suína tem pouca proteção de pelos. A 
perda de calor é maior em indivíduos pequenos porque têm maior área de 
superfície por unidade de peso corporal. 
A termoregulação do recém nascido pode ser mantida pelo controle da 
temperatura ambiente, 30-33°C nas primeiras 24 horas e depois 26-30°C nos 3 
dias seguintes (cães). Providenciar que a pelagem e o ninho estejam secos é uma 
forma de evitar a perda de calor. 
 
UMBIGO: em geral o umbigo se rompe quando o feto é expelido ou então a 
própria mãe se encarrega de cortá-lo com os dentes (carnívoros). Dessa forma 
raramente será necessário cortar o cordão umbilical, mas se for necessário, o 
ideal é rompê-lo com as mãos mimetizando o rompimento fisiológico. As infecções 
umbilicais podem ser evitadas proporcionando ambiente limpo para o parto e 
profilaticamente, pode-se lançar mão de anti-sépticos (solução de iodo a 10%) que 
devem ser aplicadosde forma generosa inclusive na parte interna do cordão. 
 
SINAIS DE MATURAÇÃO FETAL 
BOVINO: pêlos abundantes e mais longos na região umbilical, presença dos 
dentes pinças e primeiros médios. Peso entre 6 e 8% da mãe, cascos bem 
formados. 
EQUINOS: pêlos longos e abundantes, dentes molares presentes, as pinças 
superiores podem estar ausentes. Peso entre 6 e 9% da mãe, cascos bem 
formados. 
 
 
PUERPÉRIO FISIOLÓGICO 
 
Compreende as modificações ocorridas no aparelho genital feminino após o 
parto quando o útero se recupera das alterações sofridas durante a gestação e se 
organiza para um novo período reprodutivo. 
Pode-se considerar que há 4 áreas principais de atuação no puerpério: 
a) útero sofre atrofia, revertendo a hipertrofia característica da gestação; 
b) restauração do endométrio e de camadas mais profundas da parede 
uterina; 
c) retomada da função ovariana e atividade cíclica; 
d) eliminação dos lóquios e da contaminação bacteriana no lúmen uterino. 
 
Há uma controvérsia entre escolas com relação às etapas que compõe esta 
fase. A escola americana entende que a expulsão dos anexos fetais corresponde à 
terceira fase do parto e que o puerpério estaria restrito ao período de recuperação 
uterina. Por outro lado, a escola alemã trata o delivramento, ou seja a expulsão 
dos anexos fetais ou ainda secundinas, como sendo a primeira fase do puerpério 
que é seguida pela involução uterina. Na prática, em se tratando de animais 
multíparos a expulsão dos anexos fetais ocorre de forma alternada com a 
expulsão dos fetos, portanto, para estes a classificação americana parece ser 
mais adequada. Quanto aos uníparos, especialmente ruminantes, a expulsão 
mais tardia parece se adequar ao conceito alemão. 
 
42 
Por uma questão didática estaremos considerando a escola alemã 
ressaltando que, independente da classificação utilizada, o que realmente importa 
é o entendimento da seqüência de eventos. 
1) Delivramento, Secundinação ou Expulsão dos Anexos Fetais: 
Compreende a eliminação das membranas fetais. O descolamento da placenta 
não é um processo imediato, à medida que o parto se aproxima vão ocorrendo 
modificações que caracterizam o amadurecimento do órgão, o qual é importante 
para a separação dos tecidos. Conforme a espécie, o tempo de expulsão das 
membranas após o feto é variável: 
bovinos: até 12 horas 
égua: até 6 horas (em geral nos primeiros 30 minutos) 
ovelha e cabra: até 8 horas 
cadela, gata e porca: intercaladas com os fetos, as últimas podem ser expelidas 
com algumas horas após a expulsão do último feto (no máximo 4 horas). 
 
Nos dias que precedem o parto, o placenta sofre alterações endocrinológicas 
relacionadas àquelas que disparam o parto, como produção de cortisol pelo feto, 
redução de progesterona e aumento de estrógeno, aumento de PGF2alfa e PGE2 e 
aumento da sensibilidade uterina à oxitocina. 
Além disso, o tecido placentário sofre alterações histológicas como 
colagenização das carúnculas na vaca, além da migração de leucócitos com 
aumento de sua atividade e redução do número de células binucleadas no 
trofoblasto (tecido fetal). A retirada de proteínas ligantes das células, 
enfraquecendo a área de aderência entre os tecidos materno e fetal também pode 
ser determinante. 
As contrações do miométrio interferem de maneira importante na pressão 
sanguínea da placenta, provocando estados de anemia e hiperemia alternados, no 
lado materno (Fig. 26). O rompimento do cordão umbilical resulta na perda 
sanguínea da parte fetal da placenta com consequente diminuição da turgidez 
das vilosidades coriônicas o que facilita o descolamento, especialmente nos 
ruminantes. A continuação das contrações uterinas após a saída do feto, 
auxiliam a expulsão das membranas fetais. 
Com exceção da égua, as espécies domésticas ingerem as membranas 
expulsas. 
 
 
 
 
43 
Figura 26 – Esquema da vascularização do placentoma ovino. 
 
 
2. Involução uterina 
 
À medida que as contrações uterinas ocorrem, as paredes do órgão tornam-
se espessas e, após a expulsão fetal, já se inicia a redução de seu tamanho. A 
cerviz sofre involução rápida ficando apenas abertura suficiente para a passagem 
das membranas fetais e líquidos remanescentes. 
Os lóquios são constituídos de muco, sangue, restos de tecido placentário, 
epitélio uterino e líquidos fetais. A duração e coloração varia conforme as 
espécies: 
Eqüina: no máximo 1 semana, com coloração amarelo-claro a marrom- 
avermelhado. 
Bovina: até 2 semanas, sendo mais intensa nos primeiros 8 dias, coloração 
avermelhada no início que clareia com o passar dos dias, normalmente não há 
odor desagradável. 
Ovina e Caprina: semelhante à bovina, a duração é de aproximadamente 1 
semana. 
Suína: aproximadamente 3 dias, com coloração amarelada e aspecto viscoso. 
Cadelas: até 10- 12 dias, coloração esverdeada (uteroverdina) até transparente. 
Gatas: até 6-8 dias, coloração avermelhada ou amarelo-âmbar. 
 
A restauração do endométrio varia conforme o tipo da placentação. Nos 
ruminantes, em que a placenta é cotiledonária e epiteliocorial, 48 horas após a 
expulsão do alantocórion já se observa o início de alterações necróticas das 
criptas das carúnculas com constrição e oclusão dos vasos sanguíneos. Aos 5 
dias as carúnculas estão cobertas por uma camada necrótica de 1-2 mm de 
espessura carregada de leucócitos. Esta camada é descamada por volta de 5-10 
dias a qual participa dos lóquios. A partir disso inicia-se a restauração do epitélio 
que se completa por volta dos 25 dias. As áreas intercarunculares, que não foram 
seriamente danificadas por ocasião do parto, iniciam a recuperação 
imediatamente após o parto e se completam em aproximadamente 8 dias. 
Enquanto o epitélio se regenera, as carúnculas vão se tornando menores até que 
aos 40-60 dias consistem de pequenas protusões (Fig. 27). 
Nas placentas difusas, como da égua e da porca, a restauração endometrial 
é mais simples. Pequenas quantidades de debris dos vilos fetais são eliminados 
por autólise e as criptas desaparecem por reposição celular. Aos 14 dias na égua 
e 21 dias na porca, o endométrio já tem voltado ao normal e é capaz de suportar 
outra gestação. 
As cadelas apresentam regeneração do endométrio a cada ciclo, mesmo que 
não tenha havido prenhêz, que se completa em 120 dias. Após uma gestação, este 
período pode ser aumentado em 2 semanas. A descamação do epitélio inicia 6 
semanas pós-parto e se completa em uma semana, com total regeneração em 12 
semanas. 
 
 
 
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Figura 27 – Alterações que ocorrem na placenta da vaca durante o puerpério. 
Fonte: Arthur et al. (1996) 
 
 
A redução do tamanho do trato genital depende das contrações uterinas 
que se mantém após o parto, sendo mais acentuada nos primeiros dias e 
tornando-se progressivamente mais lenta. 
Nos ruminantes, o tamanho uterino se aproxima do estado não grávido 
após 20-25 dias do parto, e a abertura cervical reduz a partir de 10-12 horas pós-
parto, às 96 horas só existe uma abertura correspondente a 2 dedos. 
Nas éguas, apesar da regeneração uterina ser rápida, o tamanho do órgão 
só atinge o normal após 32 dias e a cerviz apresenta leve dilatação até o primeiro 
cio pós-parto. Nas porcas e cadelas o tamanho uterino é recuperado em até um 
mês pós-parto. 
A retomada da atividade ovariana nos animais cíclicos como bovinos e 
equinos depende do restabelecimento das funções endócrinas, ou melhor, do eixo 
hipotálamo-hipófise-adrenal. Na égua o primeiro cio pós-parto é bastante precoce, 
6 –13 dias (cio do potro), podendo ser encontrada atividade folicular já no 2º dia. 
Nas vacas a variação é maior dependendo da raça e mais especificamente da 
aptidão. Animais leiteiros tendem a ser mais precoces (30 a 72 dias) enquanto os 
de corte mais tardios (46 a 104 dias) principalmente devido

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