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Superior Tribunal de Justiça RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 60.251 - SC (2015/0130035-0) RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR RECORRENTE : CRISTIANO AMORIM (PRESO) ADVOGADO : FRANKLIN JOSÉ DE ASSIS RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA EMENTA RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS . TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO, PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO COM NUMERAÇÃO SUPRIMIDA E RECEPTAÇÃO. PROVA PRODUZIDA EM AÇÃO CONTROLADA SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. NÃO OCORRÊNCIA. PROVA VÁLIDA. 1. No caso dos autos, o momento que antecedeu a prisão do recorrente não significou retardo da atuação policial, muito pelo contrário, nessa fase, a polícia se limitou a obter informações precisas acerca de seu paradeiro. 2. Uma vez que a investigação policial não almejava identificar outros traficantes que possivelmente atuassem com o réu, mas, apenas, obter informações mais concretas acerca das condutas praticadas por ele, não há falar em desrespeito aos art. 53 da Lei n. 11.343/2006 e 8º da Lei n. 12.850/2013, não sendo o caso, portanto, de desentranhamento dessas provas. 3. Recurso em habeas corpus improvido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEXTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP) e Maria Thereza de Assis Moura votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 17 de setembro de 2015 (data do julgamento). Ministro Sebastião Reis Júnior Relator Documento: 1444369 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2015 Página 1 de 11 Superior Tribunal de Justiça RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 60.251 - SC (2015/0130035-0) RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR: Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus com pedido liminar interposto por Cristiano Amorim contra acórdão prolatado pela Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Santa Catarina no HC n. 2015.022887-9 (fl. 33). Infere-se dos autos que o recorrente foi denunciado pela suposta prática dos crimes previstos nos arts. 33, caput , e 35 da Lei n. 11.343/2006; 14, caput , e 16, parágrafo único, IV, da Lei n. 10.826/2003; e 180, caput , do Código Penal. Infere-se, ainda, que a defesa do recorrente requereu o desentranhamento de provas produzidas ilicitamente, pedido que foi indeferido pelo magistrado de piso. Contra essa decisão foi impetrado writ na origem, o qual teve a ordem denegada nos termos desta ementa (fl. 34): HABEAS CORPUS . PACIENTE DENUNCIADO PELA PRÁTICA DOS DELITOS DE TRÁFICO DE ENTORPECENTES, ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO, PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO, PORTE ILEGAL DE ARMA COM NUMERAÇÃO SUPRIMIDA E RECEPTAÇÃO (ART. 33, CAPUT, E ART. 35, AMBOS DA LEI 11.343/06, ART. 14, CAPUT, E ART. 16, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO IV, AMBOS DA LEI 10.826/03 E ART. 180, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL). AVENTADA ILICITUDE DA PROVA INDICIARIA POR CARACTERIZAR "AÇÃO CONTROLADA" NÃO AUTORIZADA JUDICIALMENTE. NÃO OCORRÊNCIA. ATUAÇÃO DA POLÍCIA QUE SE PAUTOU NOS LIMITES DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. RECEBIMENTO DE INFORMAÇÕES, ACOMPANHAMENTO DO PACIENTE E COLETA DE DADOS JÁ CONSTANTES NOS REGISTROS DA POLÍCIA QUE NÃO PODEM SER CONSIDERADOS AÇÃO CONTROLADA. ATUAÇÃO DA POLÍCIA QUE OCORREU ASSIM QUE VERIFICADO O ESTADO DE FLAGRÂNCIA. ART. 53 DA LEI N. 11.343/06 QUE FALA DA INFILTRAÇÃO E DA NÃO-ATUAÇÃO POLICIAL. HIPÓTESES NÃO VERIFICADAS NO CASO. DESNECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. PROVA VÁLIDA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. ORDEM CONHECIDA E DENEGADA. Documento: 1444369 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2015 Página 2 de 11 Superior Tribunal de Justiça 1. Inexiste ilegalidade na prova indiciária quando constatado que as informações foram adquirida por meio de registros anteriores da Polícia Militar (boletins de ocorrência e prisões envolvendo outros agentes do tráfico de drogas), ao passo que as novas informações colhidas, com a coleta de fotografias e acompanhamento do paciente, não extrapolaram o limite de atuação da Polícia Militar, que tem por objetivo precípuo o zelo pela segurança e a ordem pública. 2. Nesse contexto, vê-se que a atuação aos milicianos não ultrapassou a mera coleta de dados e o compêndio de informações já existentes em seu sistema, não caracterizando propriamente a chamada "ação controlada" prevista no art. 53 da Lei n. 11.343/06. Neste recurso, sustenta a defesa, em síntese, que são ilícitas todas as provas originadas da investigação efetuada pelo policial militar Marco Aurélio Thompson, por decorrerem de ação controlada sem prévia autorização judicial, violando, então, o art. 53, caput , da Lei n. 11.343/2006. Alega o defensor que a Lei n. 12.850/2013 (Lei das Organizações Criminosas) não menciona sobre a necessidade de autorização judicial para a ação controlada. Todavia, observa-se que referida norma está em contradição com o previsto pela Lei n. 11.343/2006 - Lei de Drogas (fl. 55). Pede, em liminar e no mérito, o desentranhamento das provas produzidas sem autorização judicial. Requer, ainda, quando do julgamento do mérito deste recurso, sua prévia intimação para que possa fazer a sustentação oral. Indeferida a liminar, prestadas as informações, o Ministério Público Federal opinou, pelas palavras do Subprocurador-Geral da República Mário José Gisi, pelo conhecimento e pelo desprovimento do recurso. Esta, a ementa do parecer (fl. 153): RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS . PENAL. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES, ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO, PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO COM NUMERAÇÃO SUPRIMIDA E RECEPTAÇÃO. ALEGAÇÃO DE ILICITUDE DE PROVA INDICIÁRIA PRODUZIDA EM "AÇÃO CONTROLADA" DESPROVIDA DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. INOCORRÊNCIA. HIPÓTESE QUE MELHOR SE ADÉQUA AO Documento: 1444369 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2015 Página 3 de 11 Superior Tribunal de Justiça "FLAGRANTE ESPERADO". DESNECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PRÉVIA. - Parecer pelo conhecimento e pelo desprovimento do recurso. É o relatório. Documento: 1444369 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2015 Página 4 de 11 Superior Tribunal de Justiça RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 60.251 - SC (2015/0130035-0) VOTO O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR (RELATOR): Com o presente recurso, busca-se o desentranhamento das provas produzidas sem autorização judicial. Acerca do alegado pelo recorrente, ficou consignado no acórdão impugnado o seguinte (fls. 37/41 – grifo nosso): [...] O cerne do pedido diz respeito à alegada ilicitude da prova produzida pela polícia, decorrente de ação controlada, prevista no art. 53 da Lei n. 11.343/06, porém não autorizada judicialmente, conforme alegações do impetrante. Da análise do trâmite processual e das ações que permearam a atuação da polícia, tenho que razão não assiste ao impetrante, não se verificando na produção da prova qualquer irregularidade. Colhe-se dos autos que o paciente foi denunciado pela prática, em tese, dos delitos descritos no art. 33, caput , e art. 35, ambos da Lei n. 11.343/2006, art. 14, caput , e art. 16, parágrafo único, inciso IV, ambos da Lei n. 10.826/2003 e art. 180, caput , do Código Penal, porque teria se associado com Nilson Palenski e Tiago Esequiel Costa Lourenço para auxiliarem-se mutuamente no comércio de tóxicos na cidade de Indaial. Nesse contesto foi que, no dia 16/10/2014, Thiago foi flagrado pela polícia enquanto dispensava em via pública três pedras grandes de crack e 24 pedras pequenas de crack , uma porçãode maconha e certa quantia em dinheiro, drogas que eram fornecidas pelo paciente e eram revendidas por Nilson a usuários de drogas, que também foram encontrados no local. A denúncia narra, ainda, que em determinado dia do mês de novembro de 2014, o paciente foi encontrado transportando em seu veículo revólveres, pistola e munições de calibres variados, que iriam ser ocultadas na residência de seu conhecido Tiago de Andrade. Por fim, a exordial descreve que o paciente, entre os dias 03 e 11 de novembro de 2014, recebeu de terceiros produtos de crime, consistentes em um tablet, cinco rodas e o volante integrantes de determinado veículo, objetos pertencentes à empresa Black Sul Indústria e Comércio de Peças e Fixação Ltda., que foram apropriados indevidamente por Valcir Matiello. A denúncia veio escorada nos elementos angariados no inquérito policial instaurado para apurar a prática de crimes envolvendo o paciente (fls. 355/543), não se verificando na aludida documentação qualquer ilegalidade na atuação dos agentes estatais. Documento: 1444369 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2015 Página 5 de 11 Superior Tribunal de Justiça Os elementos indiciários foram colhidos pela polícia civil, que instaurou inquérito policial em desfavor do paciente "considerando que no decorrer do IP n° 791/2014, instaurado para a apuração de possível crime de apropriação indébita por parte de VALCIR MATIELO, surgiram indícios da prática dos crimes de tráfico de drogas, porte e posse irregular de arma de fogo por parte de CRISTIANO AMORIM, vulgo Potó (fl. 355). A contribuição da Policia Militar na coleta dos indícios do crime ocorreu através do Serviço de Inteligência que, diante da prisão do paciente, encaminhou à Polícia Civil relatório contendo informações acerca de Cristiano, elaborado por meio de informações adquiridas por denúncias anônimas e diligências policiais (fls. 470/479), não se verificando na atuação dá Polícia Militar qualquer ilegalidade, mormente porque a função precípua dos milicianos é a de zelar pela segurança e a ordem pública, comando que decorre ao art. 144, § 5o, da Constituição Federal e que, na hipótese, foi devidamente observado pelos militares atuantes na apuração dos crimes. Da análise minuciosa do relatório de fls. 470/479, vê-se que as informações ali existentes retratam pequenas diligências policiais envolvendo o paciente, dados que aos poucos foram sendo coletados pelos milicianos diante da notícia recebida pela Subagência de Inteligência de Indaial "que um masculino conhecido como 'POTÓ' seria o responsável por abastecer pontos de venda de drogas" (fl. 470). As informações foram coletadas dos registros já existentes nos cadastros da Polícia Militar, relativos a prisões anteriores envolvendo outros autores do tráfico de drogas e a veículos que costumeiramente eram vistos nas chamadas "bocas de fumo", efetuando-se também diligências exclusivamente dirigidas ao paciente, a exemplo da oportunidade em que a Polícia Militar realizava o acompanhamento de seu veículo e em determinado ponto da perseguição o paciente efetuou disparo de arma de fogo. Note-se que algumas das informações foram adquiridas através de registros anteriores da Polícia Militar (boletins de ocorrência e prisões envolvendo outros agentes do tráfico de drogas), ao passo que as novas informações colhidas, com a coleta de fotografias e acompanhamento do paciente não extrapolaram o limite de atuação da Polícia Militar, que tem por objetivo precípuo o zelo pela segurança e a ordem pública. Das fotografias existentes nos autos, aliás - embora de baixa qualidade, o que não permite sua completa visualização -, é possível extrair que a captação da imagem ocorreu em via pública e, portanto, poderiam ser feitas por qualquer cidadão, nos termos do art. 5o, § 3o, do Código de Processo Penal, que assegura a qualquer pessoa do povo que tiver conhecimemo da existência de infração penal em que caiba ação pública o direito de comunicá-la à autoridade policial. Nesse contexto, vê-se que a atuação das milicianos não ultrapassou a mera coleta de dados e compêndio de informações já Documento: 1444369 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2015 Página 6 de 11 Superior Tribunal de Justiça existentes em seu sistema, não caracterizando propriamente a chamada "ação controlada" prevista no art. 53 da Lei n. 11.343/06. Essa, registre-se, diz respeito à "infiltração por agentes de polícia. em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes" (inciso I) e à "não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção" (inciso II), situações não evidenciadas na hipótese em tela, em que não se verifica a infiltração policial, tampouco a não-atuação da Polícia Militar, que, repita-se, apenas repassou à Polícia Civil os registros de prisões anteriores de outros agentes e de acompanhamentos envolvendo o paciente. Os elementos retratados no relatório encaminhado à Polícia Civil, pelo contrário, deixam claro que, na primeira oportunidade em que se materializou um crime por parte do paciente, com a notícia de que portava arma de fogo e o disparo contra a guarnição, a Polícia Militar efetuou sua prisão em flagrante, encaminhando-o à delegacia de polícia, não estando configurada, assim, qualquer ação controlada. [...] Nas palavras do douto Procurador de Justiça, "a prisão em flagrante de Cristiano foi, então, realizada quando confirmada a localização correta do reeducando e no instante em que a polícia recebeu notícias concretas de que o paciente estava nas imediações do sítio onde é arrendatário portando uma arma de fogo, hipótese que configura o flagrante esperado, cuja ocorrência independe de autorização judicial. Dessa forma, evidente que não há falar em ação controlada, porquanto os policiais não pretendiam com a investigação prolongada revelar a identidade de outros possíveis traficantes que atuassem em conjunto com o paciente, mas sim, tão somente, encontrar informações mais precisas a respeito das supostas condutas ilícitas perpetradas por Cristiano para obterem maior êxito durante sua abordagem" (fls. 25/26). E, uma vez inexistente ação controlada, desnecessária se mostra a autorização judicial para atuação policial, esta que, no caso, ocorreu nos limites previstos pela Constituição Federal, com a prisão do acusado quando verificado o estado de flagrância e a notificação ao juízo competente da prisão. Assim, porque os dados angariados pela Polícia Militar e especialmente pelo policial Marco Aurélio Thompsom não são ilegais, incabível a declaração de nulidade e o seu desentranhamento. [...] Dispõe a Lei n. 12.850/2013 o seguinte: Art. 8º - Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no Documento: 1444369 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2015 Página 7 de 11 Superior Tribunal de Justiça momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações. [...] A Lei n. 11.343/2006, por sua vez, disciplina a matéria da seguinte forma (grifo nosso): [...] Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: [...] II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidadede identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível. Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores. [...] Pois bem. Não obstante os argumentos do recorrente, a investigação efetuada pela Polícia Militar não se assemelha à referida ação controlada. Bem ilustrada pelo doutrinador Guilherme de Souza Nucci, ação controlada consiste no retardamento da intervenção policial, dando voz de prisão e lavrando-se o auto de prisão em flagrante, como já fora previsto no art. 2º II, da Lei 9.034/95, com a meta de atingir o peixe graúdo, sem que se dissemine a prisão dos meros carregadores de drogas ilícitas, atuando por ordem dos verdadeiros comandantes da operação, traficantes realmente perigosos. Aliás, justamente por isso, a lei menciona a ação retardada em relação aos portadores de produtos, substâncias ou drogas ilícitas (vulgarmente chamados de mulas). O sucesso da operação pode ser aferido pela efetiva prisão de traficantes de atuação nacional ou internacional. Do contrário, não havendo comunicação eficiente entre as Documento: 1444369 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2015 Página 8 de 11 Superior Tribunal de Justiça polícias (federal, estadual e internacional), a não atuação dos agentes estatais pode levar à impunidade de muitos carregadores de drogas ilícitas, sem qualquer utilidade à segurança pública. Nesse sentido, o parágrafo único deste artigo exige autorização judicial para tanto, com os requisitos nele fixados (Leis penais e processuais penais comentadas. 7ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, pág. 368, Coleção leis penais e processuais penais comentadas, vol. 1.). Na espécie dos autos, infere-se que o próprio recorrente seria o chamado peixe graúdo , pois, segundo informações passadas à Polícia, ele seria o responsável pelo abastecimento de diversos pontos de drogas. E, em momento algum, deixou-se de tomar providências em relação aos traficantes próximos ao réu como forma de retardar a ação policial. Contudo, para que fosse feita a abordagem ao ora recorrente, foi necessário obter notícias sobre seu paradeiro. Assim, como bem delineado no parecer do Ministério Público Federal, com o qual estou de acordo, o Cabo da Polícia Militar, Marco Aurélio Thompson, empreendeu investigação por conta do Serviço de Inteligência daquela instituição, fato que conduziu à constatação de que o recorrente seria o líder da organização criminosa (e-STJ 134/143). Nesse período, não houve o retardo da atuação policial, mas tão somente a obtenção de maiores informações acerca do cotidiano e do paradeiro do recorrente, até o momento de concretização do flagrante esperado, ato que independe de autorização judicial (fl. 160). Dessa forma, não há falar em desrespeito aos art. 53 da Lei de Drogas e 8º da Lei n. 12.850/2013, uma vez que a investigação policial não almejava identificar outros traficantes que possivelmente atuassem com o ora recorrente, mas, apenas, obter informações mais concretas acerca das condutas praticadas pelo réu. Não prospera, portanto, o pedido de desentranhamento das provas Documento: 1444369 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2015 Página 9 de 11 Superior Tribunal de Justiça produzidas pelo Cabo da Polícia Militar Marco Aurélio Thompson, visto que desnecessária, para o caso concreto, a autorização judicial. Ante o exposto, nego provimento ao recurso. Documento: 1444369 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2015 Página 1 0 de 11 Superior Tribunal de Justiça CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEXTA TURMA Número Registro: 2015/0130035-0 RHC 60.251 / SC MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: 00051088320148240031 00269239820158240000 20150228879 20150228879000100 20150230434 269239820158240000 EM MESA JULGADO: 17/09/2015 Relator Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. MOACIR MENDES SOUSA Secretário Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA AUTUAÇÃO RECORRENTE : CRISTIANO AMORIM (PRESO) ADVOGADO : FRANKLIN JOSÉ DE ASSIS RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de Tráfico Ilícito e Uso Indevido de Drogas - Tráfico de Drogas e Condutas Afins CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Sexta Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP) e Maria Thereza de Assis Moura votaram com o Sr. Ministro Relator. Documento: 1444369 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09/10/2015 Página 1 1 de 11
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