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Supremacia do Interesse Publico sobre o privado


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ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA
PESQUISA DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL SOBRE O PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O INTERESSE PRIVADO.
Introdução
A presente pesquisa doutrinária e jurisprudencial sobre o princípio do interesse público sobre o interesse privado vem apresentar o conceito deste princípio na visão de mestres do direito administrativo, bem como o estudo de caso.
Julgado aplicado na proposta do trabalho
TRF-5 - APELREEX Apelação / Reexame Necessário REEX 76637620114058200 (TRF-5)
Data de publicação: 04/07/2013
Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. REMOÇÃO A PEDIDO, INDEPENDENTEMENTE DO INTERESSE DA ADMINISTRAÇÃO, PARA ACOMPANHAR CÔNJUGE. LEI 8.112 /90. REQUISITOS NÃO ATENDIDOS. OFENSA AO PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO. PRECEDENTES DO STJ EDESTA CORTE. 1. O cerne da presente questão é o reconhecimento ou não, do direito à remoção da apelada, ocupante do cargo de Professora Assistente-RETIDE da Universidade Federal da Paraíba para a Universidade Federal de São Paulo, para acompanhar seu cônjuge. 2. Conforme se observa dos documentos acostados aos autos, a apelada é civilmente casada desde 28.09.2010 e é professora da UFPB, do Departamento de Física, desde 08.08.2008, sendo lotada na Paraíba. O seu cônjuge tomou posse no cargo efetivo na Polícia Federal, antes de contrair matrimônio, sendo lotado, inicialmente, no Pará e depois lotado em São Paulo em 05.11.2010, se encontrando nesta cidade desde então. 3. Infere-se que a situação da apelada se aproximaria a da alínea a, do inciso III do parágrafo único, do art. 36, da Lei nº 8.112 /90. Todavia, veja-se que quando a autora tomou posse na UFPB, já residia em cidade distinta da do seu marido. 4. O interesse da Administração é diametralmente oposto ao do apelado, eis que aquela, dentro da margem de discricionariedade que lhe é outorgada, julgou mais conveniente e oportuno a permanência da servidora na unidade de origem. 5. A UFPB e a UNIFESP possuem quadros de pessoal distintos, o que afastaria, conforme previsão legal, o instituto da remoção. E quanto aos outros pedidos, exer cício provisório ou licença, não restou demonstrado que há anuência dos órgãos envolvidos, o que desconstitui a pretensão da apelada. 6. Ao se submeter às regras do certame, a apelada assumiu conscientemente os riscos de se separar da sua família. Tendo dado causa a esse fato, é inconcebível que venha a tentar atenuar os seus efeitos desfavoráveis, mediante a deformação do Interesse Público. 7. Vislumbra-se o clássico embate entre o interesse privado e o público. Quando se trata de assuntos afetos à Administração Pública, deve-se ter como norte o princípio da supremacia do interesse público, que parte da premissa de que a vontade da comunidade, por ele representada, traz mais benefícios do que a de um só indivíduo. 8. Remessa oficial e apelação providas. Inversão dos ônus sucumbenciais.
Parecer sobre o julgado apresentado
Considero o entendimento o mais correto ao caso concreto, quanto a negar o pedido de remoção de uma Professora Assistente-RETIDE da Universidade Federal da Paraíba para a Universidade Federal de São Paulo, para acompanhar seu cônjuge. O primeiro aspecto que podemos analisar é o fato que quando a autora tomou posse na UFPB, já morava em lugar distinto ao do marido, ou seja, podemos entender que ela já vinha aceitando essa realidade de morar em lugar distinto de seu cônjuge. E mesmo observando o dispositivo legal (art. 36, inciso III da Lei n° 8112/90), que apresenta fazer jus ao caso, a Administração Pública, pode escolher (aqui presente o instituto da discricionariedade), o que é mais conveniente para ela, e se chegando a conclusão que seria prejudicial de algum modo, deve agir como melhor lhe convir com respaldo no princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado. Além disso, o art. 36 caput diz “Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de sede”, e como alegado o quadro são distintos. 
Por tais motivos, considero que a decisão foi correta, pois a situação da apelada, não está seguindo os parâmetros legais, temos a presença de um dos princípios basilares regendo o caso concreto, e o fato da professora em determinado momento já ter aceitado essa situação. 
Interesse público sobre o interesse privado na visão de Maria Sylvia Zanella Di Pietro
Esse princípio, esta presente tanto na elaboração da lei quanto na sua aplicação, vinculando toda a atividade administrativa.
No que diz respeito à sua influência na elaboração da lei, é oportuno lembrar que uma das distinções que se costuma fazer entre o direito privado e o direito público (e que vem desde o direito romano) leva em conta o interesse que se tem em vista proteger; o direito privado contém normas de interesse individual e, o direito público, normas de interesse público. (MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, p. 62)
Este critério tem sido muito criticado segundo a autora, pois existem normas de direito privado que visam defender o interesse público e normas de direito público que defendem interesses de particulares.
E mesmo apesar das discussões sobre o tema, a autora se posiciona dizendo que normas de direito público, mesmo que tenha caráter de interesse individual, o objetivo principal é a sociedade como um todo.
O direito deixou de ser apenas instrumento de garantia dos direitos do indivíduo e passou a ser visto como meio para consecução da justiça social, do bem comum, do bem-estar coletivo. (MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, p.62).
Hoje não mais se pode falar na ideia do homem como um fim único do direito, mas sim na supremacia do interesse público sobre o interesse privado. Isso foi efeito de longas transformações ocorridas na sociedade.
Contudo, cita a autora essas diversas transformações que ocorreram;
Ampliação das atividades assumidas pelo Estado para atender às necessidades coletivas, com a consequente ampliação do próprio conceito de serviço público; o mesmo ocorreu com o poder de polícia do Estado, que deixou de impor obrigações apenas negativas (não fazer) visando a resguardar a ordem pública, e passou a impor obrigações positivas, além de ampliar o seu campo de atuação, que passou a abranger, além da ordem pública, também a ordem econômica e social. Surgem, no plano constitucional, novos preceitos que revelam a interferência crescente do Estado na vida econômica e no direito de propriedade; assim são as normas que permitem a intervenção do poder público no funcionamento e na propriedade das empresas, as que condicionam o uso da propriedade ao bem-estar social, as que reservam para o Estado a propriedade e a exploração de determinados bens, como as minas e demais riquezas do subsolo, as que permitem a desapropriação para a justa distribuição da propriedade; cresce a preocupação com os interesses difusos, como o meio ambiente e o patrimônio histórico e artístico nacional. 
Interesse Público na visão de Celso Antônio Bandeira de Mello.
Quando pensamos em interesse público logo pensamos o contrário do interesse individual, é como o próprio autor em seu livro Curso de Direito Administrativo- VIII cita a p. 59:
Ao se pensar em interesse público, pensa-se, habitualmente, em uma categoria contraposta a de interesse privado, individual, isto é, ao interesse pessoal de cada um. Acerta-se em dizer que se constitui no interesse do todo, ou seja, do próprio conjunto social, assim como acerta- se também, em sublinhar que não confunde com a somatória dos interesses individuais, peculiares de cada qual. Dizer isto, entretanto é dizer muito pouco para compreender-se verdadeiramente o que é interesse público. 
Contudo o autor deixa claro que, não podemos pensar que interesse público não esteja em contra partida composto de um interesse individual, ou melhor, dizendo, de cada um das partes que compõe o todo. 
 Portanto o indispensável,em suma, é prevenir-se contra o erro de, consciente ou inconscientemente, promover uma separação absoluta entre ambos, ao invés de acentuar, como se deveria que o interesse público, ou seja, o interesse do todo, é “função” qualificada dos interesses das partes, um aspecto, uma forma especifica de sua manifestação. Seria inconcebível um interesse do todo que fosse, ao mesmo tempo, contrário ao interesse de cada uma das partes que o compõem, Deveres, corresponderia ao mais cabal contrassenso que o bom para todos fosse o mal de cada um, isto é, que o interesse de todos fosse um anti-interesse de cada um. (CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, p. 60).
A partir disto, consideramos que não se pode falar em uma desvinculação plena dos dois institutos, pois o interesse de cada indivíduo se confunde com o de interesse público (interesse do todo, de coletividade).
Embora seja claro que pode haver um interesse público contraposto a um dado interesse individual, é que na verdade o interesse público, o interesse do todo, do conjunto social, nada mais é que a dimensão pública dos interesses social, ou seja, dos interesses de cada indivíduo enquanto partícipe da sociedade, nisso se abrigando também o deposito intertemporal destes mesmos interesses. (CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, p. 61).
Interesse público na visão de Marçal Justen Filho
Para Marçal Justen filho, a primeira coisa que não pode se confundir é o interesse publico sendo um interesse do Estado, pois aquele é atribuído a este, pois o Estado existe justamente para satisfazer as necessidades da coletividade, se o fosse um interesse do Estado haveria uma incompatibilidade com a Constituição Federal. 
Como diz o autor p. 55 “O interesse é publico não pode ser titularidade do Estado, mas é atributo ao Estado por ser público”.
Uma das características do estado contemporâneo segundo o autor é a fragmentação dos interesses, a afirmação conjunta de posições subjetivas contrapostas e a variação dos arranjos entre diferentes grupos, sobre esse conceito pode se imaginar a seguinte hipótese, suponhamos que o crescimento de um trânsito em uma determinada rodovia criasse um interesse de ampliar tal rodovia, mas para essa hipótese ser concluída precisa ser desmatada uma grande área florestal de grande valor ecológico que será destruído em virtude da ampliação, não seria de bom feito o interesse público vir a avultar essa via, ou seja, as situações demostram a formação de vários interesses públicos, logo a decisão a ser tomada não poderá ser simplesmente “interesse publico”. Não existe um conjunto de homogêneo de interesse, na sociedade moderna há uma pluralidade de sujeitos com interesses diferentes entre e distintos. Com tudo é necessário investigar a natureza dos valores e as necessidades de valores, pois não se trata de uma questão técnica e sim ética.
Referências bibliográficas
MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 26ª edição. Editora Malheiros.
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 3ª edição. Editora Saraiva 2008. São Paulo.
PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo