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Antonio do Passo Cabral #'ttl CONVEN~OES PROCESSUAIS 2016 I JJ .. , EDITORA f JUsPODIVM www.editorajuspodivm.com:br EDITORA JMPODIVM www.editorajuspodivm.com.br Rua Mato Grosso, 175- Pituba, CEP:41830-151 -Salvador- Bahia Tel: (71) 3363-8617 I Fax: (71) 3363-5050 ·E-mail: fale@editorajuspodivm.com.br Copyright: Edi~6es JusPODIVM Conselho Editorial: Eduardo Viana Portela Neves, Dirley da Cunha Jr., Leonardo de Medeiros Garcia, Fredie Didier Jr., Jose Henrique Mouta, Jose Marcelo Vigliar, Marcos Ehrhardt Junior, NestorTavora, Robrio Nunes Filho, Roberval Rocha Ferreira Filho, Rodolfo Pamplona Filho, Rodrigo Reis Mazzei e Rogerio Sanches Cunha. Capa: Ana Caquetti Diagrama~ao: Linotec Fotocomposi~ao e Fotolito Ltda. (www.linotec.com.br) C766c Cabral, Antonio do Passo Conven~6es processuais I Antonio do Passo Cabral- Salvador: Ed. JusPodivm, 2016. 384p. Bibliografia. ISBN 978-85-442-D??D-3. 1. Direito processual. 2. Direito processual civil. I. Titulo. CDD341.46 Todos os direitos desta edi~ao reservados a Edi~6es JusPODIVM. E terminantemente proibida a reprodu~ao total au parcial desta obra, par qualquer meio ou processo, sem a expressa autoriza~ao do autor e da Edi~6esJusPODIVM. A viola~ao dos direitos autorais caracterlza crime descrito na legisla,ao em vigor, sem prejufzo das san,6es civis cabiveis. 1.a ed., 2.a tir.: abrJ2016. AGRADECIMENTOS 0 presente livro corresponde, em grande parte, a tese de livre-docencia que apresentei em 2015 ao Departamento de Direito Processual da Faculdade de Direito do Largo de Sao Francisco da Universidade de Sao Paulo, aprovada a unanimidade pela banca examinadora formada pelos Professores Titulares jose Rogerio Cruz e Tucci (Presidente), Fla.vio Luiz Yarshell, Paula Costae Silva, Humberto Theodora jr. e jose Manoel de Arruda Alvim Netto. Ao final de mais essa ardua caminhada academica, vendo o resultado final, posso nele enxergar a colaborac;ao de inumeras pessoas, as quais fac;o aqui meu sincero agradecimento. Em primeiro luga~ devo agradecer a minha esposa Karla Granda, e minha mae, Lucia do Passo, pelo apoio sempre incondicional, a torcida, a presenc;a no dia das provas, e a compreensao pelas horas de dedicac;ao a confecc;ao do trabalho. Karla tambem leu e corrigiu mais de uma vez a tese, um exercfcio de paciencia que certamente e mais fruto do nosso amor que da qualidade do trabalho. Ao Professor Lo"ic Cadiet devo agradecer pelo dialogo franco e a orienta- c;ao segura durante o perlodo de p6s-doutoramento na Universidade de Paris 1 (Pantheon-Sorbonne), tempo em que pude coletar ampla bibliografia sobre o direito processual frances. Aos amigos Professores Fredie Didier jr. (meu "coach"), Leonardo Carneiro da Cunha, Heitor Vltor Mendonc;a Sica e Robson Renault Godinho, agradec;o pelo debate em torno do tema dos acordos processuais nos ultimos anos. Todos leram os originais, forneceram-me textos e livros de que nao dispunha, e me · enviaram crlticas e sugestoes profundas e detalhadas para o aprimoramento do texto. Heitor ainda foi ess~ncial por ter se disposto a fazer para mim a inscric;ao para o concurso, no prazo do edital, quando eu participava de con- gresso no exterior. A eles foram se juntando outros amigos, os Professores Daniel Mitidiero, Sergio Cruz Arenhart, Hermes Zaneti jr. e Fabiano Carvalho, que foram essenciais durante o concurso, nao s6 pelo apoio, pela presenc;a solidaria na defesa da tese, mas tambem e sobretudo pela ajuda intensa e constante nos estudos e na preparac;ao para as provas. Ao Professor Humberto Avila agradec;o ainda pelo incentivo de sempre e o dialogo proveitoso a res- peito de inumeros aspectos do trabalho. Meu muito obrigado a todos voces! 8 CONVEN<;:OES PROCESSUAIS- Antonio do Passo Cabral A todos os membros da banca examinadora do concurso, devo registrar meu agradecimento e admira~ao pela riqufssima sessao de defesa oral, como poucas vezes tive oportunidade de ver anteriormente. Naquele dia, muito antes de saber qual seria a avalia~ao, saf com meu sentimento revigorado de confian~a no papel da academia no debate das ideias. Estava exausto, depois de mais de cinco horas e meia de argui~ao, mas decerto feliz porter podido ver a aten~ao que dispensaram ao texto e o altfssimo nfvel do dialogo que se estabeleceu. Todas as crfticas e sugestoes foram profundas, pertinentes e certamente levadas em considera~ao para o aprimoramento do texto final. Outros colegas prestaram-me valioso auxflio na coleta de bibliografia. Sobre o direito privado, agrade~o as dicas do Professor Gustavo Kloh Neves. Agrade~o tambem a colega Yvonne Multer-Lagarde, que gentilmente enviou para mim, por correio, sua tese de doutorado tantas vezes citada no texto. Ao Professor Antonio Adonias Bastos, fica o meu agradecimento pelo empenho em procurar e me mandaG durante uma estadia de pesquisa no exterior, artigos da literatura alema que, constantes de revistas de diffcil acesso, s6 podem ser consultados in loco. Fica aqui meu obrigado tambem a Elie Eid pelo envio de um dos livros consultados. Pela ajuda na pesquisa na biblioteca do Tribunal de justi~a do Rio de janeiro, agrade~o tambem a minha mae, Lucia. Na tarefa de impressao da tese, devo tambem agradecer ao amigo Ricardo Didier, que sempre acreditou no potencial do trabalho. Na Faculdade de Direito da UERt conduzi grupo de pesquisa e projeto de inicia~ao cientffica sobre o tema dos acordos processuais no ano de 2013, que contou com a participa~ao de diversos alunos da gradua~ao. De nossos debates, certamente surgiram importantes ideias que foram utilizadas na tese, e por isso agrade~o a bolsista Beatriz Gon~alves e aos alunos juliana dos Santos Pereira, Isadora Quadros da Silva, Ana Carla Costa, Raysa Vital Brasil e Aroldo Rodrigues. Agrade~o tambem a academica de Direito da UERJ, Juliana Kozovits, pelo auxflio na prepara~ao para as provas, especialmente na organizac;:ao dos documentos necessarios a inscric;:ao. E chego ao mais importante de todos, meu filho joao, a quem o livro e dedicado, que e ainda pequenino para entender a homenagem, mas que teve um papel central na elaborac;:ao do trabalho: sem seu sorriso contagiante, suas covinhas cativantes ou o brilho dos seus olhos- que estou certo que vieram ao mundo para alegrar minha existencia- jamais teria o combustive! indispensavel para ir adiante. joao, fruto do melhor acordo que ja celebrei, e tambem a melhor pagina do livro da minha vida. Teres6polis, dezembro de 2015. PRE FACIO E uma obra notavel que Antonio do Passo Cabral apresenta a comunidade jurfdica nas paginas seguintes. Ele trata de um assunto paradoxa!, as convenc;:oes processuais, que sao, de fato, acordos sobre o desacordo, em um campo- o processo- tradicional- mente considerado como uma questao de interesse publico, senao de ordem publica, ainda que tenha por objeto o regramento de conflitos privados, como e o caso do processo civil. E que o regramento do litlgio civil e solicitado a um juiz institufdo para tanto pelo Estado, no quadro de um servic;:o publico judiciario, que exerce uma missao soberana cujo funcionamento esta sujeito a lex fori; e, alem da soluc;:ao de litfgios de interesse privado, a sentenc;:a persegue um escopo no interesse geral: restabelecer a paz social no respeito pelas leis. A jurisdic;:ao e um dos atributos da soberania. Territorialidade e imperatividade sao as principais caracterfsticas·tradicionais da lei processual, que parece tao relutante em relac;:ao ao poder da vontade das partes, mesmo que seja sua vontade conjunta, a qual a convenc;:ao da a expressao ordinaria. No entanto, nem tudo e de ordem publica no processo civil, Ionge disso. Com o declfnio do legicentrismo e a safda de cena do Estado-gendarme, sob a influencia de processos contemporaneos de autonomia individual e demo- cratizac;:ao do espac;:o publico, o ordenamento jurfdico impasto cede cada vez mais um Iugar de destaque para uma ordem jurfdica negociada. 0 processo nao escapa desse fenomeno contemporaneo da contratualizac;:ao do direito, que, de uma certa maneira, revitaliza- por reconsidera-la- uma concepc;:ao da instancia que tem suas rafzes no direito romano, e que a doutrina romanista alema do sec.XJX retomou a grande custo. A convenc;:ao das partes nao se desenvolve so mente no terreno, bastante classico, da propria soluc;:ao do litfgio civil, como evidenciado no extraordinario desenvolvimento da transac;:ao, da arbitragem, da conciliac;:ao e, em particular, da mediac;:ao (que e uma especie de conciliac;:ao conduzida por um terceiro que nao e o juiz), e pelo surgimen- to de formas novas de soluc;:oes negociadas, como o direito colaborativo na America do Norte ou a convenc;:ao de procedimento participativo na Franc;:a. A convenc;:ao das partes progrediu mais originalmente em duas novas direc;:oes. De infcio, tornou-se uma tecnica muito eficaz de antecipac;:ao con- tratual da soluc;:ao do litfgio, com o desenvolvimento rapido das clausulas 10 CONVENc;:OES PROCESSUAIS- Antonio do Passo Cabral dos contratos que tem por objeto o regramento do litfgio eventual entre as partes, o que denominamos "clausulas de discrepancia" em alguns pafses. Este desenvo\vimento vai bem mais alem da c!ausula arbitral e da convenc;ao sabre a competencia, material ou territorial. Os contratos contemporaneos, particularmente os contratos envolvendo relac;oes comerciais, contem abun- dantemente c!ausulas concernentes ao exerdcio da ac;ao perante o judiciario (como as c!ausulas de prescric;ao, as renuncias a recursos, as c!ausulas de resoluc;ao amigavel, as c!ausulas de conciliac;ao e c!ausulas de expertise), sabre o procedimento mesmo (clausulas de revelac;ao do processo, c!ausulas de direc;ao do processo, sem falar das clausulas parcialmente substanciais e parcialmente processuais como as clausulas penais, c!ausulas resolutivas, c!ausulas de garantia a premiere demande e as convenc;oes probat6rias), e tambem as c!ausulas suscetfveis de afetar os poderes do juiz (como as c!au- sulas de electio juris ou de composic;ao amigavel). Alem disso, e principalmente, no estagio ulterior da soluc;ao do litfgio, a convenc;ao das partes tornou-se um meio de gestao contratual do procedi- mento. E para esta hip6tese que, por vezes, reserva-se a expressao «acordo processual». Atraves deste acordo, as partes podem ajustar certas regras do processo entre elas, seja na fase postulat6ria, na instruc;ao ou nos debates. 0 calendario do processo, hoje consagrado pelo C6digo de Processo Civil brasi!eiro (art. 191 NCPC), e uma i!ustrac;ao notavel disso, que se pode encontrar em outros sistema jurfdicos, como, por exemplo, o direito frances (art. 764 CPC). Em outras vezes, a convenc;ao.e coletiva, quando celebrada pelo judiciario e profissionais parceiros (especialmente a ordem dos advogados), por exemplo para organizar a comunicac;ao eletr6nica entre o tribunal e os advogados, ou para implementar um procedimento previa de mediac;ao familiar, articulado com o processo jurisdicional instaurado perante o jufzo da Vara de Famflia. Falamos, neste caso, de «protocolos processuais». De forma ainda mais amp Ia, a convenc;ao e utilizada como um instrumento de administrac;ao judiciaria, como e, por exemplo, o caso dos «contratos de objetivo» firmados entre o Ministerio da justic;:a e os tribunais, oferecendo a estes meios suplementares para seu funcionamento (cargos de magistrados ou de servidores) a fim de obter melhores resultados, por exemplo, em termos de durac;ao dos processos. E: sobretudo as convenc;oes processuais que Antonio do Passo Cabral consagra seu estudo. Com efeito, e um verdadeiro tratado que ele apresenta sabre o tema, se consideramos bem a extensao e a precisao de sua proposta. Ap6s uma introduc;ao que desperta o interesse pelo tema, delimitando os termos e as fontes, e definindo a metodologia de seu estudo, Antonio PREFACIO Cabral passa em revista, em cinco capltulos sucessivos, as diferentes questoes levantadas pelo desenvolvimento das conven~oes processuais. Forte em termos l6gicos, a obra come~a com um ensaio de defini~ao das conven~oes (Capitulo 1, T1polo3ia das convenr;:oes processuais). o exercfcio e necessaria - mas nao simples- e conduz o autor a examinar as diferentes fer- ramentas tipol6gicas e conceituais, permitindo, de um ponto de vista externo, definir a conven<;ao processual pela rela<;ao, de um lado, com a distin<;ao de atos e. fatos jurldicos, e de outro lado, com as no<;oes de conven<;ao, contrato, acordo, pacto e clausula; e, de um ponto de vista interno, a detalhar seus elementos constitutivos e suas principais classifica<;oes, porque, de fato, as conven<;oes processuais sao de tantos tipos que nao se submetem as mesmas condi~oes e nao geram todas os mesmos efeitos, especialmente no que diz respeito ao juiz. Sobre esta s6lida base definit6ria, Antonio Cabral pode agora duplamente situar a questao das conven<;oes processuais no tempo e no espa~o (Capitulo 2, Evolur;:iio hist6rica e esta3io da doutrina brasileira). Ponto de partida: a Alemanha do sec.XIX, com Kohler e Bulow; ponto de chegada: o Brasil do sec. XXI; entre os dois, uma migra<;ao da ltalia aos Estados Unidos da America, passando pela Fran<;a. Esta viagem e emocionante, nao apenas porque o leitor aprende muito com ela sobre a maneira pela qual as conven<;oes processuais se constitulram e a forma pela qual evolulram no tempo e no espa~o, mas tambem porque destaca em que medida a hist6ria do processo civil e uma hist6ria internacional, marcada pela circula~ao de ideias. Por tras desta pe- regrina~ao, e igualmente a hist6ria do processo que desfila, e esta hist6ria e tambem uma hist6ria polltica, onde se confrontam diferentes concep<;oes da justi<;a, privatista para 'uns, publicista para outros. Em verdade, esse confron- to nao impede os fenomenos de evolu<;ao (na Fran<;a, a passagem de uma concep~ao hiperpublicista sob a egide do ancien re3ime, anterior a Revolu<;ao de 1789, a uma concep<;ao privatista a partir da codificac;:ao napole6nica) e de fen6menos de hibrida<;ao: o processo civil como processo misto, combinando elementos de direito privado (por exemplo, a a<;ao) e elementos de direito publico (por exemplo, a organiza~ao jurisdicional). Essa perspectiva hist6rica e comparativa leva muito naturalmente a pes- quisa sobre a compatibilidade das conven<;oes processuais com a imperativida- de tradicionalmente afirmada da lei processual (Capitulo 3, A compatibilidade das convenr;:oes processuais com o publicismo processual), tanto e verdade, como dispoe o art.6° do C6digo Civil frances, que "niio se pode derro3ar; par convenr;:oes particulares, as leis que interessam a ordem publica". Mas nem tudo e de ordem publica nas regras processuais, e a duvida deve beneficiar a liberdade das partes, o que e uma outra maneira de dizer que tudo aquilo que nao e proibido e permitido (in dubio pro libertate). 12 CONVENt;:OES PROCESSUAIS-Antonio do Passo Cabral Em verdade, o processo nao e mais nem "coisa do juiz" nem "coisa das partes"; ele e as vezes coisa do juiz, porque a jurisdi~ao e um seNit;o publico que implementa uma fun~ao estatal; e coisa das partes porque o processo poe em causa interesses privados, os quais o juiz e chamado a decidir. Alem da distinr;ao tradicional das concep<;:oes acusat6ria e inquisit6ria, a primeira pendendo o processo na dire~ao do direito privado, e a segunda puxando-o para o direito publico, o que a contratualizar;ao contemporanea do processo civil revela e a emergencia de uma concepc;:ao cooperativa de processo, apoiada por uma administra<;:ao concertada da justi<;:a. 0 processo e dominado por um prindpio de coopera<;:ao eficiente entre juiz e partes, na busca por uma solu~ao justa e eficaz do litigio. Esta concep<;:ao e aquela que o direito global tende a promover, como evidenciado nos Prindpios de Processo Civil Transnacional da UNIDROIT, especialmente o princfpio no 11.2, nos termos do qual "as partes dividem com o tribunal o encargo de fomentar uma soluc;:ao justa, eficaz e razoavelmente rapida do litigio". Esta disposi<;:ao com voca<;:ao universal subentende que o juiz e abrangi- do, junto com as partes, pelo principio da cooperac;:ao. Sendo as convenr;oes processuais a mais completa expressao da concep<;:ao cooperativa de processo, entao a questao se coloca necessariamente em saber qual e a natureza da rela<;:ao que o juiz tem com os acordos processuais das partes. E dessa ques- tao que Antonio Cabral trata no capitulo quarto de sua obra (Capitulo 4, 0 juiz e as convenr;:oes processuais). As respostas dadas a inclaga<;:ao nao sao homogeneas. Elas variam, de um sistema a outro, sem duvicla, mas tambem de uma conven~ao processual a outra. Entao, retomamos interesse pelas clas- sificac;:oes que 0 autor expos no capitulo primeiro de seu livro e, notadamente, a necessidade de distinguir as conven~oes de administra<;:ao processual (como um requerimento conjunto de remeter o caso a uma audiencia posterior), que nao envolvem o juiz, e as conven~oes de disposi~ao processual, que, ao contrario, impoem-se a ele (como a suspensao convencional do processo pela retirada do caso, durante o procedimento, do registro). Sem entrar em detalhe, e possivel afirmar, junto com 0 autor, que 0 juiz nao e parte da con- venc;:ao processual (mas seria necessaria refinar a proposta no que concerne aos protocolos de procedimento e as conven~oes de administra<;:ao judiciaria). Ele nao e parte quando a conven<;:ao processual e submetida a seu controle, porque e o juiz a seu respeito: assim, essencialmente, as multiplas hip6te- ses de homologa<;:ao judicial. Ele tambem nao e parte nas outras hip6teses porque o objeto dos acordos, direto ou indireto, nao impede que as conven- c;:oes processuais sejam suscetiveis de produzir efeitos em rela<;:ao ao juiz, na medida em que o acordo das partes tenha por efeito modificar a ordenac;:ao processual do litigio, da qual a atividade do juiz e um elemento. Exemplar, a PREFACIO este prop6sito, e a solur;:ao a respeito dos calendarios de procedimento (neste caso, explicitamente, o art. 191 § 1°, NCPC brasileiro; e, implicitamente, art. 764, alfneas 4 e 5, do CPC frances). Esse capitulo anuncia ja o seguinte: as convenr;:oes processuais nao sao ilimitadas porque nao escapam nem as regras do processo, nem as regras do contrato, de onde emerge a necessidade de controlar-lhes a existencia, a validade e a eficacia na dupla dimensao de instrumentum e de ne3otium (Capitulo 5, Limites para a celebrac;iio dos acordos processuais). A existencia desses limites ultrapassa as fronteiras do Brasil, mas a mane ira pela qual eles sao concebidos nao e a mesma aqui e no estrangeiro. Os limites que as convenr;:oes processuais podem encontrar sao, por vezes, externos e internos aos acordos. Entre os limites externos, a livre disposir;:ao dos direitos litigiosos e a contrariedade a ordem publica, onde a lei processual manifesta sua imperatividade, sao aqueles mais conhecidos e os mais difundidos de um ponto de vista internacional; mas, como bem ressalta o auto~ o direito brasi- leiro apresenta a prop6sito uma singularidade por rejeitar o criteria fundado na ordem publica. Entretanto, o contraste pode ter nuances se tomamos uma concepr;:ao ampla de ordem publica, que se enriqueceu, no perfodo contem- poraneo, pelas exigencias do direito ao devido processo legal Cri3ht to a fair trial) e, mais amplamente, pela proter;:ao dos direitos fundamentais, que inclui a proter;:ao das partes mais fracas a partir do princfpio da igualdade (isonomia, na terminologia brasileira). Entao, o acordo sobre a competencia do juiz conflita com o carater de ordem publica da regra legal de competencia (concepr;:ao tradicional de ordem publica); a clausula de conciliar;:ao nao pode privar defi- nitivamente uma parte de seu direito de acesso a justir;:a (concepr;:ao de ordem publica alargada pelas exigencias de tutela- de proter;:ao - jurisdicional) etc. Quanto aos limites internos, estes relacionam-se com os defeitos da vontade das partes, o que e muito menos conhecido, e dal o interesse maior do desenvolvimento que Antonio Cabral consagra a este aspecto do problema, mais sutil, de fato, que aquele dos limites externos. Essa sutileza advem do fato de que os limites internos dos acordos processuais misturam diversas premissas que, para alguns deles, articulam ainda os acordos processuais ao ne3otium de direito substancial da convenr;:ao. Os acordos processuais sao transmitidos acessoriamente ao contrato que os contem, e podem produzir efeitos - especialmente em caso de indivisibilidade do litfgio - em relar;:ao a pessoas que nao os celebraram. A convenr;:ao pode as vezes ocorrer a inexis- tencia, a incerteza a respeito de seu conteudo, ou vfcios de consentimento das partes; as vezes, um conflito entre as vontades individuais, o que e o caso em materia de clausulas de discrepancia porque diferentes clausulas colidem (por 14 CONVEN<;:OES PROCESSUAIS- Antonio do Passo Cabral exemplo, uma clausula compromiss6ria e uma clausula sobre a jurisdi~ao), ou quando o processo confronta varias partes, das quais s6 algumas celebraram entre si uma conven<;ao processual, com exclusao das dernais. 0 rapido sobrevoo pelo livro de Antonio do Passo Cabral nao da mais que uma ideia limitada de sua extraordinaria riqueza. A obra de Antonio do Passo Cabral e notavel sob varios aspectos: pela qualidade da escrita, tao elegante quanto precisa em suas enuncia<;oes; pelo espectro de seu estudo, que abarca um panorama hist6rico e comparative impressionante, fazendo o leitor viajar do sec.XIX aos dias de hoje, da Europa a America, particularmente da Alemanha, onde o tema nasceu, ao Brasil, onde acaba de encontrar sua mais bela expressao legislativa com o novo C6digo de Processo Civil, passando pela Fran<;a, onde a questao da contratualiza<;ao do processo desenvolveu-se consideravelmente nos ultimos trinta anos. E notavel ainda pela riqueza da sua documenta<;ao, do que e evidencia a volumosa bibliografia apresentada ao fim do livro, na qual figuram referencias que testemunham o lntimo conhecimento que tern o autor dos ordenamentos estrangeiros abordados. E e notavel, enfim e principalmente, pela profundidade de suas analises, cujo escopo nao afeta a precisao. 0 autor nao se esquiva de nenhuma dificuldade; tenta dar uma solu<;ao a cada uma. o livro revela uma inteligencia profunda do fenomeno dos acordos processuais numa perspectiva comparativa impressionante, no seio da qual o direito brasileiro faz escutar uma musica original, abrindo caminhos legislativos que poderiam servir de modelo em muitos aspectos. Os juristas estrangeiros que mantem intercambio regular com seus co- legas do Brasil conhecem, ha muito tempo, a vitalidade extraordinaria e a poderosa criatividade da doutrina processualista brasileira, animada por uma paixao comunicativa incrlvel. Ao apresentar esta teoria geral das conven<;oes processuais, Antonio do Passo Cabral oferta, 'por sua vez, uma ilustra<;ao ma- gistral. 0 Presidente da Associa<;ao lnternacional de Direito Processual alegra- -se vivamente, esperando que, ultrapassado o obstaculo da lingua, a difusao desta obra, destinada sem nenhuma duvida a tornar-se um livro de referenda, possa atravessar as fronteiras do Brasil e alimentar o foco do debate entre processualistas do mundo inteiro. LOTC CADIET Professor na Escola de Direito da Sorbonne - Universidade Pantheon-Sorbonne Paris 1 Presidente da Associar;:ao Internacional de Direito Processua/ PREFACE C'est un ouvrage remarquable qu'Antonio do Passo Cabral livre a la communaute des juristes dans les pages qui suivent. II traite d'un sujet paradoxa!, celui des conventions processuelles, qui sont, en effet, des accords sur le desaccord, dans un domaine, celui du proces, traditionnellement considere comme une question d'interet public, sinon d'ordre public, alors meme qu'il a pour objet le reglement des conflits d'interet prive, comme c'est le cas pour le proces civil. C'est que ce reglement du litige civil est requis d'un juge institue a cet effet par l'Etat, dans le cadre d'un service public, le service public de Ia justice, qui met en ceuvre une mission regalienne dont le fonctionnement est d'ailleurs soumis a Ia lex fori I et que, au-dela de Ia solution du litige d'interet prive, le jugement poursuit un but d'interet general : retablir la paix sociale dans le respect des lois. La justice est un des attributs de Ia souverainete. Territorialite, imperativite sont les principales caracteristiques traditionnelles de la loi procedurale qui semble ainsi retive a !'em prise de Ia volonte des parties, fUt-elle leur volonte conjointe a laquelle Ia convention donne son expression ordinaire. Et pourtant, tout n'est pas d'ordre public dans le proces civil, tant s'en faut. Avec le declin du legicentrisme et le repli de l'Etat-gendarme sous l'effet des processus contemporains d'autonomie individuelle et de democratisation de l'espace public, l'ordre juridique impose fait une place de plus en plus importante a l'ordre juridique negocie. Le proces n'echappe pas ace phenomene contemporain de Ia contractualisation du droit qui, d'une certaine maniere, revitalise, en la reconsiderant, une conception de !'instance qui plonge ses racines en droit romain que Ia doctrine romaniste allemande du 19eme siecle avait reprise a grands frais. La convention des parties ne se developpe pas seulement sur le terrain, assez classique, de la solution meme du litige civil, comme en temoignent l'extraordinaire developpement de Ia transaction, de \'arbitrage, de Ia conciliation, en particulier de Ia mediation, qui est une espece de conciliation mise en ceuvre par un tiers qui n'est le juge, et !'apparition de formes nouvelles de solutions negociees, comme le droit collaboratif en Amerique du Nord ou la convention de procedure participative en France. La convention des parties a plus originalement progresse dans deux nouvelles directions. Elle est d'abord 16 CONVENc;:OES PROCESSUAIS- Antonio do Passo Cabral devenue une tres efficace technique d'anticipation contractuelle de la solution du litige, avec le developpement rapide des clauses des contrats ayant pour objet le reglement du litige eventuel entre les parties, ce que ['on nomme les clauses de differends dans certains pays. Ce developpement va bien au-dela de la clause d'arbitrage et de Ia clause de competence, materielle ou territoriale. Les contrats contemporains, singulierement les contrats d'affaires, accueillent abondamment les clauses concernant !'action en justice, comme les clauses de prescription, les clauses de renonciation a recours, les clauses d'arrangement amiable, les clauses de conciliation, les clauses d'expertise, voire ['instance, avec les clauses de revelation d'instance, les clauses de direction du proces, sans parler des clauses mi-substantielles mi-processuelles comme les clauses penates, les clauses resolutoires, les clauses de garantie a premiere demande et les clauses relatives a la preuve, mais aussi les clauses susceptibles d'affecter !'office du juge comme les clauses d'electio juris ou les clauses d'amiable composition. Surtout, au stade ulterieur de la solution du litige, Ia convention des parties est devenue un outil de gestion contractuelle de ['instance. C'est a cette hypothese qu'est parfois reservee ['expression d'accord processuel. Au moyen de cet accord, les parties peuvent amenager certaines regles du proces qui les oppose, que ce soit au stade de son introduction, a celui de son instruction ou a celui des debats. Le calendrier de procedure, aujourd'hui consacre par le code bresilien de procedure civile (art. 191 NCPC), en est une illustration notable que l'on rencontre egalement dans d'autres systemes juridiques comme, par exemple, en droit franc;:ais (art. 764 CPC). Parfois meme, Ia convention devient collective quand elle est conclue par la juridiction et les professions judiciaires partenaires, singulierement le barreau, par exemple pour organiser Ia communication electronique entre le tribunal et les cabinets d'avocats ou pour mettre en ceuvre une procedure prealable de mediation familiale articulee a Ia procedure juridictionnelle portee devant le juge de Ia famille. On parle ici de protocoles de procedure. Plus largement encore, Ia convention est utilisee comme un instrument d'administration de Ia justice, ce qui est par exemple le cas avec les contrats d'objectifs conclus entre le ministere de Ia justice et les juridictions, offrant a ces dernieres des moyens supplementaires de fonctionnement (postes de magistrats ou de greffiers) afin d'atteindre des resultats ameliores en termes, par exemple, de duree des procedures. C'est surtout aux conventions processuelles qu'Antonio di Passo Cabral consacre son etude. A vrai dire, c'est un veritable traite qu'il en livre si !'on veut bien considerer l'etendue et Ia precision de son propos. Apres une introduction qui presente !'interet du sujet, en delimite les termes ainsi que les sources et definit Ia methodologie de son etude, Antonio Cabral passe en PREFACE revue, en cinq chapitres successifs, les ditterentes questions soulevees par le developpement des conventions processuelles. Fort logiquement, l'ouvrage s'ouvre sur un essai de definition de ces conventions (Capitulo 1, Tipo!ogia das convenc;oes processuais). L' exercice est necessaire, mais il n'est pas simple, qui conduit !'auteur a examiner les differents outils typologiques et conceptuels permettant, d'un point de vue externe, de definir Ia convention processuelle par rapport, d'une part, a Ia distinction des actes et de faits juridiques, d'autre part, aux notions de convention, contrat, accord, pacte et clause, puis, d'un point de vue interne,., d'en detailler les elements constitutifs ainsi que les principales classifications car, en effet, les conventions processuelles sont de plusieurs sortes qui n'obeissent pas aux memes conditions et n'emportent pas les memes effets, specialement a l'egard du juge. Sur ce socle detinitoire solide, Antonio Cabral peut alors doublement situer Ia question des conventions processuelles dans le temps et dans l'espace (Capitulo 2, Evoluc;Cio hist6rica e estiigio da doutrina brasileira). Point de depart : I'AIIemagne du 19eume siecle avec Kohler et Bulow; point d'arrivee: le Bresil du 21eme siecle; entre les deux, migration de l'ltalie aux Etats-Unis d'Amerique en passant par Ia France. Ce voyage est passionnant, non seulement parce qu'il apprend beaucoup au lecteur sur Ia fa~on dont Ia question des conventions processuelles s'est constituee et sur Ia maniere dont elle a evolue dans le temps et l'espace, mais aussi parce qu'il souligne a que! point l'histoire de Ia procedure civile est une histoire internationale marquee par Ia circulation des idees. Derriere cette peregrination, c'est egalement l'histoire du proces qui defile et cette histoire est aussi une histoire politique ou s'affrontent des conceptions ditterentes de Ia justice, privatistes pour les unes, publicistes pour les autres. En verite, cet affrontement n'interdit nullement les phenomenes d'evolution (ainsi, en France, le passage d'une conception hyperpubliciste sous !'Ancien regime, anterieur a Ia Revolution de 1789, a une conception privatiste a partir de Ia codification napoleonienne) et les phenomenes d'hybridation (Ia procedure civile comme procedure mixte, combinant elements de droit prive : par exemple !'action en justice, et elements de droit public : par exemple !'organisation juridictionnelle). Cette mise en perspective historique et comparative debouche, tout naturellement, sur Ia recherche de la compatibilite des conventions processuelles avec l'imperativite traditionnellement affirmee de Ia loi procedurale (Capitulo 3, A compatibilidade das convenc;oes processuais com o pub!icismo processual), tant il est vrai, comme en dispose ['article 6 du Code civil fran~ais, que "on ne peut deroger, par des conventions particulil~res, aux lois qui interessent 18 CONVEN<;:6ES PROCESSUAIS- Antonio do Passo Cabral l'ordre public". Or, tout n'est pas d'ordre public dans !es reg!es procedura!es et le doute doit profiter a la liberte des parties, ce qui est une autre maniere de dire que tout ce qui n'est pas interdit est permis (In dubio pro libertate). En verite, !e proces n'est pas plus Ia chose du juge qu'il n'est Ia chose des parties; il est a la fois Ia chose du juge, car Ia justice est un service public mettant en oeuvre une fonction etatique, et ce!!e des parties, car !e proces met en cause des interets prives entre lesque!s !e juge est appe!e a trancher. Depassant Ia distinction traditionne!!e de Ia conception accusatoire et de Ia conception inquisitoire, Ia premiere tirant !e proces vers !e droit prive, la seconde l'attirant vers !e droit public, ce que donne a voir la contractualisation contemporaine du proces civil est !'emergence d'une conception cooperative du proces, adossee a une administration concertee de Ia justice. Le proces est domine par un principe de cooperation efficiente du juge et des parties dans Ia recherche d'une solution equitable et efficace du !itige. Cette conception est ce!!e que tend a promouvoir le droit global, ainsi qu'en temoignent !es Principes UNIDROIT de procedure civile transnationa!e, singu!ierement !e Principe 11.2, aux termes duque! "Les parties partap,ent avec le tribunal Ia charp,e de favoriser une solution du litip,e equitable, efticace et raisonnablement rapide". Cette disposition a vocation universelle sous-entend que le juge est compris, avec les parties, dans !e principe de cooperation. Les conventions processue!!es etant !'expression la plus complete de Ia conception cooperative du proces, Ia question se pose done necessairement de savoir que! est Ia nature du rapport que le juge entretient avec !es accords proceduraux des parties. Cest a cette question qu'Antonio Cabral s'interesse dans le quatrieme chapitre de son ouvrage (Capitulo 4, o juiz e as convenc;oes processuais). Les reponses donnees a cette question ne sont pas homogenes. E!!es varient, d'un systeme a !'autre, sans doute, mais aussi d'une conv·ention processue!!e a !'autre. ou !'on retrouve !'interet des classifications auxque!!es !'auteur a procede dans !e premier chapitre de son livre et, notamment, Ia necessite de distinguer !es conventions d'administration processuel!e (comme une demande conjointe de renvoi de !'affaire a une audience u!terieure), qui ne lient pas le juge, et les conventions de disposition processue!!e qui, au contraire, s'imposent a lui (comme une demande radiation conventionnelle de !'affaire du registre des affaires en cours d'instance). Sans entrer dans le detail, il est perm is d'affirmer avec !'auteur que le juge n'est pas partie a Ia convention processuelle (mais il faudrait nuancer !e propos en ce qui concerne les protocoles de procedure et !es conventions d'administration judiciaire). ll ne l'est pas quand Ia convention processuel!e est soumise a son controle, puisqu'il en est le juge : ainsi vont, pour l'essentiel, les multiples hypotheses d'homo!ogation judiciaire. Jl ne !'est pas davantage dans les autres hypotheses car il en est alors !'objet, direct PREFACE ou indirect, ce qui n'empeche pas que les conventions processuelles soient susceptibles de produire effet a son egard dans Ia mesure ou ['accord des parties a alors pour effet de modifier l'ordonnancement procedural du litige dont l'activite du juge est un element. Exemplaire, a cet egard, est Ia solution retenue a propos des calendriers de procedure (en ce sens, explicitement : art. 191, § 1 NCPC bresilien et implicitement: art. 764, aL 4 et 5 CPC fran~ais). Ce chapitre annonce deja le suivant : les conventions processuelles sont des conventions qui ne sont pas sans. limite car elles n'echappent ni aux regles du proces ni aux regles du contrat, d'ou [a necessite d'en verifier ['existence, Ia validite et l'efficacite dans leur double dimension d'instrumentum et de negotium (Capitulo 5, Limites para a celebrac;:ao dos acordos processuais). L'existence de ces limites depasse les frontieres du Bresil, mais Ia maniere dont elles sont con~ues ne sont pas les memes ici et Ia. Les limites que les conventions processuelles peuventrencontrer sont a Ia fois externes et internes aux accords. Au rang des limites externes, Ia libre disposition des droits litigieux et Ia contrariete a l'ordre public, par oQ Ia loi procedurale manifeste son imperativite, sont les limites les plus connues et les plus repandues d'un point de vue international; mais, comme le fait tres bien apparaitre !'auteur, le droit bresilien manifeste a cet egard une singularite certaine en recusant [e critere tire de l'ordre public. Cela etant, le contraste peut etre nuance si l'on veut bien retenir une conception large de l'ordre public, qui s'est enrichi, dans Ia periode contemporaine, des exigences du droit au proces equitable (right to a fair trail) et, plus largement de Ia protection des droits fondamentaux, qui inclut Ia protection des parties faibles a partir du principe d'egalite (isonomia dans Ia terminologie bresilienne) : ainsi, ['accord sur Ia competence du juge se heurte au caractere d'ordre public de Ia regie legale de competence (conception traditionnelle de l'ordre public); Ia clause de conciliation ne peut pas priver detinitivement une partie de son droit d'acces au juge (conception de l'ordre public elargie aux exigences de Ia tutelle - de Ia protection- juridictionnelle), etc. Quant aux limites internes, elles tiennent au(x) detaut(s) de Ia volonte des parties, ce qui est beaucoup moins connu, d'ou !'interet majeur des developpements qu'Antonio Cabral consacre a cet aspect du probleme, plus subtil, en verite, que celui des limites externes. Cette subtilite tient au fait que les limites internes des accords processuels font se cotoyer des hypotheses differentes qui, pour certaines d'entre elles, articulent au surplus les accords processuels au negotium substantiel de Ia convention : c'est ainsi que les accords processuels sont transmis accessoirement au contrat qui les contient et qu'elles peuvent produire effet, notamment en cas d'indivisibilite du litige, a l'egard de personnes qui ne les ont pas conclus. La convention se heurte tantot a !'inexistence, a !'incertitude ou aux vices du 20 CONVENc;:CiES PROCESSUAIS- Antonio do Passo Cabral consentement des parties, tantot a un conflit de volontes individuelles, ce qui est le cas en matiere de clauses de differend, lorsque differentes clauses se telescopent (par exemple une clause d'arbitrage et une clause de juridiction) ou lorsque le proces oppose plusieurs parties dont certaines seulement ont conclu entre elle une convention processuelle a !'exclusion des autres. · Ce rapide survol du livre d'Antonio do Passo Cabral ne donne qu'une idee limitee de son extraordinaire richesse. Remarquable, l'ouvrage d'Antonio do Passo Cabrall'est a plusieurs egards. lll'est par Ia qualite de son ecriture, aussi elegante que precise dans ses enonciations; il l'est par le spectre de son etude, qui embrasse un impressionnant panorama historique et comparatif, faisant voyager le lecteur du 19eme siecle a nos jours, d'Europe en Amerique, singulierement d'Allemagne, ou le theme prend naissance, au Bresil, ou il vient de trouver sa plus belle expression legislative avec le nouveau code de procedure civile, en passant par Ia France, ou Ia question de Ia contractualisation du proces s'est considerablement developpee depuis une trentaine d'annees; il l'est par Ia richesse de sa documentation, dont temoigne Ia volumineuse bibliographie presentee a Ia fin du livre, dans laquelle figurent des references qui temoignent de Ia fine connaissance que !'auteur a des droits etrangers abordes; il l'est enfin et surtout par Ia profondeur de ses analyses dont l'etendue ne porte pas atteinte a Ia precision. L'auteur n'esquive aucune difficulte; il essaie de donner une solution a chacune d'elle. Ce livre revele ainsi une intelligence profonde du phenomene des accords processuels dans une perspective comparative impressionnante au sein de laquelle le droit bresilien fait entendre une musique originate et ouvre des voies legislatives qui pourraient servir de modele a bien des egards. Les juristes etrangers qui entretiennent un commerce regulier avec leurs collegues du Bresil connaissent depuis longtemps l'extraordinaire vitalite et la puissante creativite de Ia doctrine processualiste bresilienne, animee d'une incroyable et communicative passion. En livrant cette theorie generate des conventions processuelles, Antonio do Passo Cabral en offre, a son tour, une magistrate illustration. Le president de ['Association internationale de droit processuel s'en rejouis vivement, en esperant que, passe !'obstacle de Ia langue, Ia diffusion de cet ouvrage, appele sans nul doute a devenir un livre de reference, pourra franchir les frontieres du Bresil alimenter le foyer du debat entre processualistes du monde entier. LOTC CADIET Professeur a /'Ecole de droit de Ia Sorbonne - Universite Panth€on-Sorbonne Paris 1 President de /'Association internationa/e de droit processuel SUMARIO INTRODuc;Ao ..................................................................................... 31 Capitulo 7 TIPOLOGIA DAS CONVENc;6ES PROCESSUAIS............................... 43 1.1. As conven<;:oes processuais na teo ria dos fatos jurfdicos processuais ...... 43 1.1.1. Fatos jurfdicos, atos jurfdicos e neg6cios jurfdicos ........................... 43 1.1.2. Teo ria dosfatos jurfdicos e teo ria dosfatos jurfdicos processuais. Fato jurfdico processual versus ato jurfdico processual................... 44 1.1.3. Atos jurfdicos processuais e neg6cios jurfdicos processuais......... 48 1.1.4. Neg6cios jurfdicos processuais unilaterais e plurilaterais. Con- ven<;:ao processual como especie de neg6cio jurfdico processual plurilateral........................................................................................................ 49 1.2. Acordos, conven<;:oes, pactos, clausulas ou contratos processuais: qual a nomenclatura adequada? A importancia do procedimento e nao do instrumento.................................................................................................................... 51 1.2.1. Contrato............................................................................................................ 52 1.2.2. Conven<;:ao ou acordo.................................................................................. 55 1.2.3. Aven<;:a, pacto, protocolo............................................................................ 56 1.2.4. Clausula............................................................................................................. 57 1.3. Conceito de conven<;:ao processual....................................................................... 58 1.3.1. Criterio do locus em que celebrada: conven<;:ao processual como ato do processo.............................................................................................. 59 1.3.2. Criterios subjetivos: acordo processual como ato praticado pelos sujeitos do processo..................................................................................... 60 1.3.3. Criterio da norma aplicada e disciplinada no acordo ...................... 61 1.3.4. Criterio dos efeitos do acordo .................................................................. 62 1.3.4.1. Desnecessidade de analisar se o efeito e direto ou reflexo, principal ou acess6rio ................................................ 62 22 CONVEN<;:OES PROCESSUAIS- Antonio do Passo Cabral 1.3.4.2. Acordos processuais como atos determinantes: a vontade das partes produzindo diretamente os efeitos processuais pretendidos........................................................... 63 1.3.4.3. Distinc;ao importante: suporte fatico e efeitos da con- venc;ao............................................................................................. 65 1.3.4.4. Efeitos do neg6cio jurfdico e o conceito de situac;ao jurfdica processual...................................................................... 66 1.3.4.5. Desnecessidade de incluir no conceito a "escolha da categoria" e OS Jimites a autonomia da VOntade .............. 67 1.3.5. Definic;ao de convenc;ao processual....................................................... 68 1.3.6. Convenc;6es processuais versus atos conjuntos ................................. 68 1.3.7. lnsuficiencia das excec;6es processuais como instrumento da atividade negocial das partes................................................................... 72 1.4. Classificac;6es dos acordos processuais................................................................ 72 1.4.1. Convenc;6es sobre situac;6es jurfdicas processuais (acordos obri- gacionais) e convenc;6es sobre atos do procedimento (acordos dispositivos) .................................................................................................... 72 1.4.2. Convenc;6es previas e incidentais ........................................................... 75 1.4.2.1. Acordos previos (ou pre-processuais).................................. 75 1.4.2.2. Acordos sobre o processo ja instaurado: as convenc;6es processuais incidentais ............................................................. 80 1.4.3. Convenc;6es onerosas e gratuitas............................................................ 80 1.4.4. Convenc;6es comutativas e aleat6rias ................................................... 82 1.4.5. Protocolos institucionais de natureza administrativa...................... 84 1.4.6. Convenc;6es tfpicas e atfpicas. A clausula geral de convenciona- lidade no processo........................................................................................ 85 1.5. Naturezajurfdica: direito material ou direito processual? Qual o regime aplicavel? ......................................................................................................................... 92 Capftu/o2 EVOLU<;Ao HISTORICA E ESTAGIO DA DOUTRINA BRASILEIRA .. 97 2.1. Josef Kohler e a fundac;ao do tema no sec. XIX................................................. 97 2.2. Bulow e a vedac;ao do Konventionalprozef3......................................................... 99 2.3. A adesao dos fundadores da moderna processualfstica ita Iiana a tese de Bulow.......................................................................................................................... 102 SUMARIO (23] 2.4. Do privatismo ao hiperpublicismo ........................................................................ 104 2.4.1. Escopos do processo e a prevalencia dos interesses publicos ..... 106 2.4.2. Norm as processuais como cogentes e imperativas.......................... 110 2.43. Onipresenc;a do juiz e inflac;ao de seus poderes oficiosos ............. 112 2.5. A virada da experiencia europeia........................................................................... 114 2.5.1. A retomada do tema dos acordos processuais na literatura alema ................................................................................................................. 114 2.5.2. A experiencia francesa: os contrats de procedure............................... 116 2.5.2.1. Facilidade de normatizac;ao do sistema frances............... 117 2.5.2.2. 0 berc;o jurisprudencial............................................................. 117 2.5.2.3. Primeira fase: protocolos coletivos para regular a fase instrut6ria ....................................................................................... 118 2.5.2.4. Convenc;oes para disciplinar a informatizac;ao do pro- cesso judicial................................................................................. 121 2.5.2.5. Segunda fase: o contrat de procedure individual e a positivac;ao no CPC frances...................................................... 121 2.6. A doutrina peninsular da segunda metade do sec. XX e a pratica dos protocolli di procedura ................................................................................................. 123 2.7. Estados Unidos da America...................................................................................... 124 2.8. Conclusao parcial......................................................................................................... 126 2.9. 0 estagio da doutrina brasileira.............................................................................. 127 Capftu/o3 A COMPATIBILIDADE DAS CONVEN~OES PROCESSUAIS COM 0 PUBLICISMO PROCESSUAL............................................................... 135 3.1. Autonomia das partes e convenc;oes processuais............................................ 135 3.1.1. Poderes do juiz e liberdade contratual. A afirmac;ao da maxima dispositiva como contraponto ao hiperpublicismo ......................... 135 3.1.2. Princfpio dispositivo e princfpio do debate: a importancia do papel das partes tambem na definic;ao do procedimento ............ 139 3.1.3. Autorregramento da vontade. A possibilidade de criac;ao de norma processual de base convencional............................................. 141 3.1.4. A atuac;ao das partes como limite a atividade do juiz: in dubio pro libertate..................................................................................................... 144 3.1.5. 0 art. 190 do CPC/2015 como 1/norma de habilitac;aol/ para as partes. Derrogac;ao da regra legislada pela regra convencional.. 146 CONVEN<;:OES PROCESSUAIS- Antonio do Passo Cabral 3.1.6. Vantagens e desvantagens da clausula geral de convencionali- dade no processo brasileiro ...................................................................... 148 3.1.7. 0 dogma do interesse publico no processo. Os limites ao seu exerdcio compreendidos na propria autonomia privada .............. 150 3.1.8. A premissa da falsa ausencia de convencionalidade no direito publico: espac;:os de negociac;:ao no direito administrative/ pena11 do trabalho. 0 acordo como instrumento normativo no direito publico.............................................................................................................. 154 3.1.9. A falsa premissa de que toda norma processual e cogente1 im- perativa e inderrogavel............................................................................... 161 3.1.1 0. 0 declfnio do legicentrismo. 0 acordo como fonte normativa e o rearranjo das relac;:6es de forc;:a no processo cooperative.......... 164 3.1.11. Escopos do processo e convencionalidade. Participac;:ao demo- cratica na produc;:ao normativa. Reconhecimento e respeito a alteridade ......................................................................................................... 169 3.1.12. Empoderamento individual contra a dependencia estatal........... 171 3.1.13. A suposta irrenunciabilidade dos direitos fundamentais............... 172 3.1.13.1. 0 que significa renunciar a situac;:6es processuais? A renuncia como uma forma de disposic;:ao. Diferenc;:a de institutos afins: perda do direito1 suspensao do exercfcio e nao exercfcio ........................................................... 172 3.1.13.2. Disposic;:ao de direitos e liberdade individual: vo/enti non fit iniuria .................................................................................. 175 3.1.13.3. Renunciabilidade dos direitos processuais........................ 177 3.2. 0 mal-estar no publicismo: ha que se reconhecer a admissibilidade das convenc;:6es processuais ............................................................................................ 180 3.3. Outros argumentos contrarios a convencionalidade no processo: a suposta inconveniencia dos acordos processuais............................................ 183 3.3.1. 0 argumento da maior qualidade da soluc;:ao judicial: o prejufzo pel a nao formac;:ao de precedentes e pel a ausencia de pedagogia social da jurisprudencia .............................................................................. 183 3.3.2. Prejufzo as reivindicac;:6es democraticas no processo de modifica- c;:ao legislativa e a percepc;:ao da inefetividade dos instrumentos processuais ...................................................................................................... 184 3.3.3. 0 11Sonhd1 da cooperac;:ao e as press6es para formalizac;:ao de acordos.............................................................................................................. 185 3.3.4. Privatizac;:ao do processo1 desconstruc;:ao do Estado e a 1/refeu- dalizac;:ao'' das relac;:6es sociais: o problema da desigualdade ...... 186 SUMARIO 3.3.5. Falta de transparencia e assimetria informacional............................ 187 3.3.6. Mercantilizar;:ao do processo: a precificar;:ao dos direitos materia is a partir dos acordos processuais ............................................................. 187 3.3.7. Objer;:ao da desordem processual: a incapacidadejudiciaria de operacionalizar o procedimento convencional................................. 189 3.4. Avaliar;:ao dos argumentos: as vantagens e a conveniencia dos acordos processuais ..................................................................................................................... 190 3.4.1. Processo cooperative e igualdade entre as partes........................... 190 3.4.2. Eficiencia processual.................................................................................... 194 3.4.3. Eficiencia e gestao dialogal do procedimento: flexibilizar;:ao e adaptar;:ao cooperativa. 0 acesso a justir;:a voltado para as necessidades das partes............................................................................. 196 3.4.4. Vantagem internacional de atrar;:ao de neg6cios jurfdicos ma- teria is. 0 ganho em definir a sede da arbitragem como sen do o Brasil................................................................................................................... 201 3.4.5. Caos administrative por diversos procedimentos potenciais? A diversidade atual de procedimentos e a possibilidade de flexi- bilizar;:ao e adaptar;:ao pelo juiz................................................................ 202 3.4.6. Durar;:ao razoavel e economia processual: redur;:ao de tempo e custo................................................................................................................... 202 3.4.7. lnadequar;:ao da arbitragem e alternativa ao forum shopping. Diversidade da tutela jurisdicional como reforr;:o do acesso a justir;:a na perspectiva das necessidades dos litigantes .................. 205 3.4.8. Gestao de risco processual e previsibilidade: redur;:ao de incer- tezas e absorr;:ao de custos. As regras do procedimento como 11VariaveiS 11 no calculo de custo-beneffcio dos litigantes ................. 210 3.4.9. Controle e limites. Transparencia e informar;:ao adequada............ 214 3.4.1 0. Administrar;:ao dajustir;:a e protocolos de procedimento .............. 214 3.5. Conclusao: a admissibilidade das convenr;:6es processuais entre publi- cismo e privatismo....................................................................................................... 216 Capftu/o4 0 JUIZ E AS CONVEN<;OES PROCESSUAIS....................................... 219 4.1. Sujeitos das convenr;:6es processuais. Partes no acordo e partes no processo. As partes como parceiros negociais .................................................. 219 4.2. Pacta sunt servanda e relatividade dos acordos processuais........................ 220 4.3. 0 juiz e as convenr;:6es processuais ....................................................................... 222 26 CONVEN<;:OES PROCESSUAIS- Antonio do Passo Cabral 4.3.1. Juiz e parte da convenc;:ao? A questao da capacidade negocial.. 223 4.3.2. A vinculac;:ao do juiz as convenc;:6es processuais. 0 Estado-juiz como aplicador de norm as jurfdicas valid as....................................... 225 4.3.3. 0 papel do juiz: incentivo e controle ..................................................... 227 4.3.4. Homologac;:ao judicial no sistema dos acordos processuais ......... 229 4.3.4.1. Desnecessidade de homologac;:ao ou deferimento previos............................................................................................. 229 4.3.4.2. Hip6teses em que a lei expressamente preve controle previa: a homologac;:ao como condic;:ao de eficacia ....... 232 4.3.4.3. Homologac;:ao inserida voluntariamente pelas partes como condic;:ao do neg6cio jurfdico..................................... 235 4.3.4.4. Homologac;:ao requerida pel as partes em ato conjunto para fins de constituir tftulo executivo judicial................. 237 4.3.5. 0 dever do juiz de dar cumprimento a convenc;:ao e o debate sabre a cognoscibilidade de offcio dos acordos processuais........ 238 4.3.5.1. Cumprimento em processo prima rio ou secundario ..... 239 4.3.5.2. Eficacia ope exception is au ipso iure. Cognic;:ao de offcio versus cognic;:ao mediante provocac;:ao ............................... 241 CONCLUSAO DOS CAPfTULOS 1 A 4 ................................................ 247 Capftulo5 LIMITES PARA A CELEBRA1~AO DOS ACORDOS PROCESSUAIS .... 249 5.1. Autonomia das convenc;:oes processuais em relac;:ao as demais clausulas do contrato de direito material............................................................................... 249 5.2. Corregulac;:ao formal: combinac;:ao de requisitos do direito material e do direito processual......................................................................................................... 251 5.3. Diretrizes ou vetores aplicativos ....... :..................................................................... 253 5.3.1. In dubio pro libertate .................................................................................... 253 5.3.2. Contradit6rio na interpretac;:ao e aplicac;:ao dos acordos proces- suais ············································-····························:..................................................... 254 5.3.3. Aplicac;:ao do sistema de invalidades processuais: aproveitamen- to e convalidac;:ao dos neg6cios jurfdicos processuais .................... 254 5.4. Tres pianos: existencia, validade e eficacia ......................................................... 255 5.4.1. 0 consentimento das partes: vontade negocial direcionada a efeitos especfficos ......................................................................................... 256 SUMARIO 5.4.2. Vontade e declara~ao. Manifesta~ao t<kita de vontade. Omissoes conclusivas e a vontade na inercia.......................................................... 259 5.4.3. Declara~oes devontade sucessivas. Anuencia posterior e pos- sibilidade de retrata~ao .............................................................................. 262 5.4.4. Falta de seriedade na declara~ao de vontade .................................... 263 5.4.5. Tratativas preliminares ................................................................................ 263 5.4.6. Conven~ao preliminar ................................................................................. 264 5.5. Pressupostos e requisitos para a forma~ao valida e efk:az dos acordos processuais .................................................................................................................... 268 5.6. Filtros subjetivos........................................................................................................... 269 5.6.1. Legitimidade ad actum e situa~oes jurfdicas de terceiros. As conven~oes sobre o procedimento eo limite do funcionamento do aparato judicia rio.................................................................................... 269 5.6.2. Capacidade das partes................................................................................ 272 5.6.2.1. Capacidade de ser parte .................................................. ·-······ 274 5.6.2.2. Capacidade de estar emjufzo................................................. 276 5.6.2.3. Capacidade postulat6ria. Distin~ao nos acordos pro- cessuais previos e incidentais. Conven~oes processuais celebradas em procedimentos que dispensam a assis- tencia por advogado_................................................................ 278 5.7. Alternativas rea is de escolha e informa~ao adequada: o consentimento livre e informado. Parametros da Corte lnteramericana de Direitos Hu- manos ··································-···························································-················-············ 280 5.8. Defeitos na manifesta~ao de vontade: vfcios do consentimento e vfcios sociais ···················-····················································-·······························-··············-··· 283 5.9. Forma dos acordos processuais .............................................................................. 286 5.9.1. Tempo e Iugar dos acordos processuais ........................... ·-···············- 286 5.9.2. Forma em senti do estrito. Princfpio da liberdade das form as...... 287 5.9.3. Desnecessidade de forma escrita............................................................ 288 5.9.4. Forma ad so/emnitatem e ad probationem ........................................... 289 5.1 0. Objeto dos acordos processuais: norma procedimental ou situa~oes jurfdicas processuais (direitos, poderes, faculdades, onus e deveres) ...... 290 5.10.1. Precisao e determina~ao do objeto: a previsibilidade do vfnculo ···················································-·········································· 294 5.1 0.2. Licitude do objeto ............ ·-····················-····-·············································· 294 CONVENt;:6ES PROCESSUAIS- Antonio do Posso Cabral 5.1 0.2.1. SitUa<;6es jurfdicas que "admitem autocomposi<;ao": imprecisao e desnecessidade do conceito de"indispo- nibiiJcjad~ so pre o processd' .................................................... 295 5.1 0.2.2. lmpossibilidade de aplica<;ao irrestrita do criterio da indisponibilidade do direito material.................................. 297 5.1 0.2.3. lmpossibi!idade da ado<;ao do criterio do "interesse publico"........................................................................................... 300 5.1 0.2.4. lnadequa<;ao do para metro dos "bons costumes"........... 302 5.1 0.2.5. A falencia dos criterios "processo dispositivo versus processo inquisitivo" ou"norma cogente versus norma dispositiva"..................................................................................... 303 5.1 0.2.6. A insuficiencia do para metro da "ordem publica"............ 306 5.1 0.2.7. Conclusao parcial........................................................................ 315 5.11. Limites gerais para controle do objeto dos acordos processuais............... 315 5.11.1. Reserva de lei ......................................... :........................................................ 316 5.11.2. Boa-fe e coopera<;ao ...................................................... : .......... :................... 317 5.11.3. lgualdade e equilfbrio de poder nas conven<;6es: prote<;ao de vulneraveis como limite a autonomia da vontade............................ 318 5.11.3.1. Proporcionalidade entre ganhos e perdas. Assimetrias negociais e invalida<;ao ............................................................. 321 5.11.3.2. Direitos do consumidor, contratos de adesao e contra- tos de trabalho: caracterfstica que, por si s6, nao exclui a possibilidade de conven<;6es processuais ...................... 322 5.11.3.3. Criterio do beneffcio ao vulneravel que abdica ou renuncia. Foco no resultado da negociac;:ao (outcome- -based approach) .... : ............ -................................................... ~.~-· 327 5.11.4. Custos e a vedac;ao de transferencia de externalidade:S ................. 328 5.12. Limites especfficos....................................................................................................... 330 5.12.1. Clausula geral de convencionalidade processual: o desafio da atipicidade .............. : ........................... ~ ...................................................... .'..... 330 5.12.2. Limites internos e externos a autonomia da vontade. A coli sao d~ direitos fundamentais. Proposta de um metodo para concretizar a clausula ·geral ......................... : ................ ;; .... ~ ............. :................................. 331 5.12.2.1. Primeira etapa: identifica<;ao das garantias prbcessuais afetadas pel a conven<;ao ............. ~ .......... : ............................... :. 332 SUMARIO 5.12.2.2. Segunda etapa: parametros das conven<;:6es tfpicas e OS 11indices dos tipOS11 .................................................................. 333 5.12.2.3. Terceira etapa: prote<;:ao do nucleo essencial dos direitos fundamentais processuais. 0 parametro das garantias mfnimas....................................................................... 335 CONCLUSAO DO CAPITULO 5 ........................................................... 341 REFERENCIAS ..................................................................................... 343 INTRODU~AO Conven~ao e processo. 0 encontro improvavel de dois mundos que, para muitos, seriam tao distantes quanta incompatlveis. Normalmente retratado como um dissenso, uma disputa, ja descrito como um jogo, uma guerra ou duelo, o processo carregaria sempre a beligerancia infensa ao consenso e ao encontro de vontades.1 Por outro !ado, os "acordos" ou "conven~oes'? pau- tados pelo voluntarismo e pela liberdade, respeitariam uma l6gica contratual privada, infensa aos espa~os publicistas do direito processual. Mas os acordos sao uma pratica tao antiga quanta o proprio Direito. Desde que o ser humano come~ou a viver em grupos ou tribos, os integran- tes desses agrupamentos respeitavam regras de convivencia aceitas entre todos. E ja nos prim6rdios do direito processual, ainda no direito romano} vemos o que poderia ser descrito como o prot6tipo dos acordos processuais: a litiscontestatio.4 Como se sabe, a litiscontestatio assumiu contornos diversos a depender das fases de evolu~ao do direito processual romano (legis actiones, perlodo formular e cognitio extra ordinem). Sua fei~ao mais conhecida desenvolveu-se sobretudo nos perlodos em que se observava a divisao do procedimento em duas fases. A primeira fase (in iure) tinha como objetivo fixar as pretensoes das partes, que compareciam em julzo e firmavam um acordo pelo qual se comprometiam a aceitar a decisao futura. A segunda fase (apud iudicem), que 1. CALAMANDREI, Piero. II processo come giuoco. in Opere Giuridiche. Napoli: Morano, voi.J, 1965, p.559. 2. 0 tema sera mais aprofundado no Cap. 1, mas desde logo podemos deixar assentado que utilizaremos, para o direito processual, os termos "acordo".e "conven<;ao" como sinonimos, por oposi<;ao ao "contrato'; mais co mum no plano do direito material. 3. Nao e nosso objetivo examinar o direito romano. As referencias que se seguem acerca da /itiscontestatio tern o estrito escopo de relatar uma especie antiga de acordo, cuja assimilac;:ao com um modelo privatista de processo, ate hoje representa um forte argumento contr<lrio a possibilidade de celebra<;ao de acordos processuais. 4. MULLER, Yvonne. Le contrat judiciaire en droit prive. Tese de Doutorado: Universidade de Paris I (Pantheon-Sorbonne), 1995, p.11 ss. 32 CONVENc;:OES PROCESSUAJS- Antonio do Passo Cabral se iniciava ap6s a litiscontestatio, era aquela em que efetivamente se julgava o objeto litigioso definido na litiscontestatio.5 No perlodo das legis actiones, no fim da fase in iure, a litiscontestatio representava o momento se fixavam os limites do litlgio a ser decidido posteriormente pelo iudex. No perlodo do processo per formulas, como abandono da oralidade e a previsao de formulas escritas para definir a controversia, a litiscontestatio assumiu, com todo vigor, o formato de um acordo a partir do qual as partes se comprometiam a participar da fase apud iudicem e aceitar a senten~a que fosse prolatada.6 ja no perlodo da cognitio extra ordinem, a litiscontestatio mudou de figura, passando a significar apenas uma narrativa do autor da pretensao perante o magistrado, seguida da resposta do reu. Nao obstante, nas duas primeiras fases (legis actiones e per formulas), a litiscontestatio podia ser visualizada como instrumento de tipo arbitral que representou o formato mais primitive - e o mais difundido - de acordo processual.7·8 5. Sabre o tema, remetemos o Jeitor as obras de TUCCI, Jose Rogerio Cruz e; AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lic;oes de hist6ria do processo civil romano. Sao Paulo: RT,2001, p.SS-56, 98-1 03; KELLER, Friedrich Ludwig. Ueber Litis Contestation und Urtheil nach c/assischem Romischem.Recht. Zurich: Gef3ner, 1827, p.31 ss; PUGLIESE, Giovanni. La litis contestatio nel processo formulare. Rivista di Diritto Processuale, vol.VI, 1951, p.37 ss. 6. A litiscontestatio tinha diversos efeitos: extinguia o dire ito deduzido pela obriga<_;ao de submeter-se ao que fosse decidido judicialmente (efeito extintivo); paralelamente, fazia nascer entre as partes uma nova obriga<;ao, i.e., o processo seria decorrente do encontro de vontades dos litigantes na litiscontesta<;ao (efeito novat6rio); e a estabilidade decorrente da senten<;a justificar-se-ia naquela vontade convencional manifestada pel as partes. De fato, a nova<;ao da rela<;ao jurfdica, operada pelo contrato obrigat6rio, estaria no cerne da indiscutibilidade que a decisao proferida posteriormente poderia adquirir. As partes eram vistas como "contraentes" da senten<;a, eo vinculo decorrente era reconduzido a elas e a vontade externada na /itiscontestatio. ENDEMANN, Wilhelm. Das Prinzip der Rechtskraft. EinezivilistischeAbhandlung. Heidelberg: Bange! und Schmitt, 1860, p.22, nota n.6; p.31, 33, 129; KELLER, Friedrich Ludwig. Ueber Litis Contestation und Urtheil nach c/assischem Romischem Recht. Op. cit., p.87 ss, 206 ss. Especificamente sabre a rela<;ao entre a litiscontestatio e os acordos processuais, MULLER, Yvonne. Le contratjudiciaire en droit prive. Op.cit., p.12-13; TORNAGHI, He!io. A relac;iio processua/ penal. Sao Paulo: Saraiva, 2• Ed., 1987, p.213-214. 7. BETTI, Emilio. lstituzioni di Diritto Romano. Padova: CEDAM, vol.l, 2• Ed., 1947, p.256-259; CUNHA, Leonardo Jose Carneiro da. A atendibilidade dos fatos supervenientes no Processo Civil. Coimbra: Almedina, 2012, p.18 ss; CADIET, Lo'ic. Propos introductif: 'faire lien', in CHASSAGNARD-PINET, Sandrine; HIEZ, David. La contractualisation de Ia production normative. Paris: Dalloz, 2008, p.170, 178; CHASSAGNARD-PINET, Sandrine; HIEZ, David. Le systeme juridique fran<;ais a !'ere de Ia contractualisation. in CHASSAGNARD-PINET, Sandrine; HIEZ, David. La contractualisation de Ia production normative. Paris: Dalloz, 2008, p.14-15; ANCEL, Pascal. Contractualisation. in CADIET, Lo'ic (Dir.). Dictionnaire de Ia justice. Paris: PUF, 2004, p.234. 8. A literatura retratou a /itiscontestatio majoritariamente como urn contrato ou acordo. Par todos, ENDEMANN, Wilhelm. Das Prinzip der Rechtskraft. Op.cit., p.22, nota n.6; p.31, 33, 129. Leonardo Carneiro da Cunha, em cuidadosa pesquisa, inventaria posi<;6es doutrinarias favoraveis e contrarias a natureza contratual da Iitiscontestatio, especialmente no perfodo das legis actiones, onde essa caracterfstica naoteria sido sempre evidente. A! em da opiniao de Keller, menciona Pugliese, Biscardi, Gioffredi como sendo exemplos de romanistas que questionavam a natureza da Jitiscontestatio no perfodo. CUNHA, Leonardo Jose Carneiro da. A atendibilidade dos fatos supervenientes no Processo INTRODUC,:Ao A influencia do institute da litiscontestatio no direito processual foi tanta que muitos autores passaram a definir a propria natureza do processo como um contrato ou quase-contrato por sua causa.9 E seu formato priva- tfstico, proprio do processo romano daquela epoca, ligado aos esquemas do contrato, 10 marcou a compreensao que todo processualista tem ate hoje de diversos institutes processuais. Seculos mais tarde, na Alemanha, o publicismo processual voltar-se-ia contra esse formato privatista do processo romano, propondo o abandono do processo como "coisa das partes", a necessidade de conceber a relac,:ao processual como ramo do dir~ito publico (dada a presenc;a do Estado), e um crescente incremento dos poderes oficiosos do juiz. Para tanto, uma das ban- deiras envergadas pelos defensores do publicismo sempre foi negar a natureza contratual do processo, citando a litiscontestatio como um exemplo de uma tradic,:ao que se queria esquecer. Por metonfmia, a litiscontestatio foi identificada com qualquer neg6cio processual, tendo os acordos processuais ficado historicamente na sombra do privatismo romano, associados a ideia de um processo civil que atendesse puramente aos interesses das partes, em que o Estado-juiz tivesse postura passiva, poucos poderes e quase nenhuma iniciativa. A reboque dessa percepc;ao, o estudo dos acordos processuais foi posi- cionado no centro do debate entre pub!icismo e privatismo. Segundo a l6gica predominante, nao havia como conciliar uma suposta autonomia das partes na definic,:ao dos rumos do procedimento com a presenc;a do Estado e os interes- ses publicos que sao veiculados na jurisdic;ao. As normas processuais seriam Civil. Op. cit., p.20 nota 33. A natureza efetivamente contratual da Jitiscontestatio e, de fato, duvidosa. Primeiramente, era obrigat6ria, ao contnirio da liberdade fnsita aos neg6cios jurfdicos. De outre I ado, alem da vontade dos litigantes, a /itiscontestatio exigi a ainda a intervent;ao do magistrado, que deveria aprovar a formula, a qual ele mesmo redigia em conformidade com as indicat;6es da parte autora. BETII, Emilio. lstituzioni di Diritto Romano. vol.l, Op. cit., p.257. Esse misto de vontade privada (ainda que nao totalmente livre) e autoridade estatal fez com que certos comentadores afirmassem que, na tradit;ao romana, era mais a forma contratual menos o encontro de vontades que emprestava ao processo sua base convencional. PLANCK, Julius Wilhelm. Lehrbuch des deutschen C/vi/prozessrechts. N6rdlingen: C.H.Beck, tomo I, 1887, p.79. 9. Cabe destacar que nem sempre o processo foi definido como um contrato. Outros autores preferiram definir o processo como quase-contrato, argumentando que nao havia como enxergar na /itiscontestatio um "contrato obrigat6rio': Sabre o tema, espedficamente para os acordos processuais, MULLER, Yvonne. Le contratjudiciaire en droit prive. Op.cit., p.16. 10. Neste senti do, o Tornaghi !em bra passagem do Digesto: sicut stipulatione contrahitur (. .. ),ita iudicio contrahi. Digesto, 15, I, 3, § 11. Tornaghi traduz a passagem assim: "Em juizo se contrata (se contrai obrigat;ao) tal qual na estipulat;ao': TORNAGHI, Helie. A rela<;oo processual penal. Sao Paulo: Sara iva, :L• Ed., 1987, p.213. 34 CONVEN<;:6ES PROCESSUAIS-Antonio do Pass a Cabral em sua imensa maioria cogentes, e nao poderiam jamais ser substituldas por regras convencionais; ao juiz, figura central do processo, seria atribufda, com exclusividade, a condu~ao do procedimento. Pouco a pouco, as referencias doutrinarias as conven~oes processuais foram rareando ate que o tema praticamente desaparecesse dos tratados e manuais, sepultado ou praticamente confinado, aqui e ali, a curtas men~oes em pequenos t6picos, verbetes ou artigos esparsos. Portanto, ignorados tanto por privatistas quanto pelos processualistas, os acordos processuais hibernaram por seculos sem avan~o senslvel em seu estudo e disciplina. Seria s6 a partir do fim do sec. XIX que o tema ganharia cores contemporaneas, sem, todavia, que essa evolu~ao tenha chegado ao Brasil senao tardiamente.11 De fato, embora tenham sido muito teorizados no direito estrangeiro, os acordos processuais foram esquecidos ou rejeitados por aqui. As conven~oes em materia processual, mesmo disciplinadas no C6digo de Processo Civil (tan- to no de 1939 quanto no de 1973), eram vistas como uma monstruosidade: difkeis de definir, imposslveis de categorizar, complicadas de operar. 12 Ao ler ou ouvir falar de "conven~oes", a primeira rea~ao de grande parcela dos processualistas e negar peremptoriamente sua aplicabilidade ao processo. E exatamente o eco que se observa em parte da doutrina ate hoje: as vezes sao redigidos verdadeiros manifestos contra a convencionalidade processual, plenos de ideologia e sectarismo metodol6gico; em outras oportunidades simplesmente se silencia sobre o tema. De qualquer maneira, produziu-se um trauma epistemol6gico de difkil supera~ao.'3 Foram gera~oes e gera~oes de juristas formados nessa tradi~ao. Entao, seria compreenslvel que, culturalmente, tivessemos uma certa dificuldade de imaginar que os litigantes pudessem renunciar aos seus direitos fundamentais processuais por meio de uma conven~ao ou contrato. Todavia, nao e difkil perceber quao curiosa e essa intolerancia tao aguda dos processualistas em rela~ao aos instrumentos de base negocial quando observamos que, na rea- lidade do mundo contemporaneo, as pessoas abdicam todo dia de direitos fundamentais. Basta vermos programas televisivos em que indivlduos perm item 11. Veremos em detalhe esse percurso no Cap. 2. 12. MULLER, Yvonne. Le contratjudiciaire en droit prive. Op. cit., p.4, 17, 179-182. 13. Como percebeu GODINHO, Robson Renault. A autonomia das partes no projeto de C6digo de Processo Civil: a atribui<;:ao convencional do onus da prova. in FREIRE, Alexandre et alii (Org.). Novas tendencias do processo civil. Salvador: Jus Podivm, vol.JJJ, 2014, p.558-559. INTRODUc;:Ao ser filmados em sua intimidade; ou programas de audit6rio em que as pes- soas se submetem a atividades degradantes, que poderiam ser consideradas ofensivas a sua dignidade humana; ou eventos esportivos em que lutadores ingressam em um ringue voluntariamente admitindo sofrer lesoes corporais,
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