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Aula 3

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Aula 3 – A Produção Historiográfica Brasileira no Início do Século XX – Capistrano de Abreu
Nessa aula, teremos o prazer de entrar em contato com a obra de Capistrano de Abreu que ficou conhecido como o “Heródoto do Povo Brasileiro”. O cientificismo de Capistrano o fará reinterpretar a história brasileira dando destaque não mais ao Estado Imperial, mas sim, ao povo e a sua formação étnica. A sua contribuição é uma referência do que se transformaria na concepção moderna de história, se apoiava em documentos que até então não eram privilegiados. A abordagem de Capistrano vai pôr em destaque temas sobre o cotidiano, a intimidade, procurando ressaltar a individualidade e a singularidade das ações humanas.
Capistrano é um historicista e recusa o positivismo. Ele elaborou uma interpretação do Brasil que traz à tona a temporalidade histórica brasileira, por meio da valorização do seu povo, de suas lutas, dos seus costumes, da miscigenação, e da geografia brasileira. Capistrano fará do povo brasileiro o sujeito da sua história. Capistrano foi procurar as identidades do povo brasileiro, não no português ou no Estado Imperial e nas suas elites luso-brasileiras. Sua obra de 1907, Capítulos de História Colonial, não faz uma história somente político-administrativa, mas buscava a complexidade dos fenômenos humanos.
Ao historiador cabe a recriação da vida cotidiana. Valorizou o conceito de “cultura” no lugar do conceito de “raça” e por isso pode ser considerado um precursor de Gilberto Freyre e de Sérgio Buarque de Holanda. Capistrano buscou valorizar a contribuição da cultura indígena, pondo em destaque o Brasil mameluco e sertanejo mais do que mulato e litorâneo. Foi adentrando o território brasileiro que o colonizador se transformou e plasmou uma identidade propriamente brasileira.
Contextualização
Foi no interior do Brasil que se constituiu para a história universal uma nova personalidade: a do “brasileiro”. Entretanto, ele não desconsidera a unidade brasileira integrada apesar de suas diferenças regionais. Capistrano elaborou uma história social e econômica do povo, de sua vida, passando pela alimentação, pelos tipos étnicos, pelas condições geográficas, pelos caminhos percorridos, pelas diferentes formas econômicas, tipos de povoamentos, diferentes modos de vida, acompanhadas de diferentes formas psicológicas, variados costumes e crenças, as diferenças sociais, seja na vida urbana ou rural.
Capistrano enfatiza a diferença entre o projeto colonizador e o projeto que gradualmente, se constituirá como sendo o brasileiro. Enquanto Varnhagen defendeu o projeto português... Capistrano defenderá o projeto brasileiro. Ele recupera as ideias de Antonil e dos que se rebelaram durante o período colonial.
A obra: “Capítulos de História Colonial”
Capistrano inicia sua obra apresentando a geografia do Brasil. Ele também descreve o indígena, seus hábitos e comportamentos, suas atividades, técnicas, guerras tribais, sua vida sexual, seu trabalho, sua educação, sua religiosidade, suas artes e seus mitos. Posteriormente, Capistrano acrescenta o europeu e o africano.
A história do Brasil durante o século XVI se passou em trechos do litoral. Esta colonização era realizada pelos portugueses que faziam a ocupação, povoamento e miscigenação. Os brancos, munidos de armas faziam humilhações, ofensas, estupros, escravizavam e exterminavam os índios, os negros e os mestiços. Capistrano se pergunta se seria possível sair dessa situação uma “nação”.
O século XVI acabava com uma colonização dispersa e fragmentada. Já o século XVII, acabou com a formação de um projeto de nação independente. Mudou o sujeito da história do Brasil e Capistrano percebe o surgimento de um novo povo: o brasileiro, conquistador do sertão.
A ocupação do interior se deu a partir das entradas pelo território, feita pelos bandeirantes. Os paulistas são os mamelucos e Capistrano destaca que o brasileiro é, primeiramente, um mestiço de índio e branco, pois o mestiço de negro e branco é litorâneo e dominado pelo mundo português. A ação desbravadora dos bandeirantes é uma ação brasileira, marcada pela violência e pela brutalidade contra os indígenas. O brasileiro deu sequência a ação colonizadora do português e utilizou os mesmos métodos. A conquista do território brasileiro foi feita com a expulsão, exterminação e escravização do indígena.
Os paulistas encontraram o ouro no final do século XVIII, os bandeirantes tornaram-se mineiros. Com as minas, uma parte do sertão brasileiro tornou-se português, os tributos aumentaram, a exploração do ouro foi disciplinada em favor da Coroa. No sertão mineiro, o domínio português tornou-se severo e os sentimentos patrióticos brasileiros afloraram o que desencadeou os primeiros movimentos pela Independência.
No final do século XVIII, os diversos grupos que compunham a nação brasileira se conscientizaram da lei opressora e repressiva do colonizador.  A consciência brasileira foi se formando lentamente durante três séculos. Capistrano realiza um balanço sobre o final do século XVIII, a população se concentra no litoral e nas margens dos rios que adentram o interior. A maioria da população é mestiça:
No interior existe o predomínio do mameluco
No litoral e minas predomina o mulato
Os negros são maioria no litoral
No Sul, os brancos é que constituem a maioria
Capistrano apresenta as diferentes atividades regionais, compara as diferentes identidades dos brasileiros regionais. Mesmo sendo difícil distinguir os diferentes interesses e sentimentos, Capistrano esforça-se por definir uma brasilidade. Depois da Independência, começa o processo de unificação que se consolida durante o Segundo Reinado.
Capistrano faz uma história que se diferencia da feita pelo IHGB e por Varnhagen. Ele elabora sua concepção histórica entre duas outras concepções de história: a narrativa dos fatos empíricos, feita por Varnhagen, e a história inserida no quadro das ciências sociais, que será feita no Brasil pós-1930. Capistrano seria um elo entre a geração do século XIX/IHGB e a geração do século XX/Universidades.
Capistrano questiona a tradição, fazendo uma crítica radical da memória brasileira. A verdade histórica procurada por Capistrano não é a repetição do passado. Capistrano desconstrói o passado oficial. Seu método crítico o faz reinterpretar as verdades consolidadas. O sujeito da história do Brasil não é mais o da história do Estado Imperial, mas é a história do povo brasileiro com toda a sua diversidade e a busca pela construção de uma unidade.
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