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ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO DIREITO CONSTITUCIONAL II DIREITOS DE NACIONALIDADE A questão da nacionalidade representa um constante embate entre soberania e direitos humanos. A soberania usa a nacionalidade para controlar os corpos que “pertencem” àquele país, mas permite também a afirmação de países (Independência). A nacionalidade representa, em resumo, o vínculo político-jurídico que liga o homem ao Estado, e somente o próprio Estado pode definir esse conceito (o Brasil determina quem é brasileiro). A nacionalidade é diferente de ser cidadão, do conceito de povo e de nação. A cidadania está vinculada à capacidade de exercer direitos políticos. O povo inclui nacional, estrangeiro e apátridas – e é mais vinculado à residência. Já o conceito de nação é mais vinculado à laços de pertencimento, às características que nos tornam semelhantes. Apátrida é o cidadão que não possui vínculo com nenhum Estado e, por isso, não possui nenhuma nacionalidade. Isso ocorre porque cada país tem um modo de conferir nacionalidade, e porque alguns retiram como forma de punição (o que tem caráter ditatorial). A apatridia representa conflito negativo: acaba sem nacionalidade. Já a polipatridia é quando o cidadão possui mais de uma nacionalidade, havendo conflito positivo e podendo ser, inclusive, voluntária (ex: cidadania italiana). A nacionalidade possui algumas espécies: pode ser originária ou secundária. Na originária o ato ocorre de forma involuntária, sendo um “fato natural”, como nascer no Brasil. Já na secundária o ato é voluntário: a pessoa escolhe a naturalização. Existem alguns critérios para a atribuição de nacionalidade originária. Pode ser ius solis (típico de países de emigração, onde a pessoa nasce). Já o ius sanguinis é vinculado ao parentesco, podendo inclusive ser limitado por gerações. É possível que esses critérios sejam adotados de forma individual ou mista. A nacionalidade pode conferir alguns direitos específicos. Os brasileiros, por exemplo, tem tratamento diferenciado. Há, por exemplo, uma limitação de cargos para estrangeiros (como a presidência). Outro fator é que nenhum brasileiro nato será extraditado. Além disso, os estrangeiros não podem ser proprietários de companhias de telecomunicação e radiodifusão (a não ser que more há 10 anos, naturalizado). Essas restrições, porém, são baseadas no critério preconceituoso e retrógrado de que o estrangeiro é o inimigo. Existem algumas maneiras de tornar-se brasileiro nato. São elas: os nascidos no Brasil (desde que seus pais estrangeiros não estejam a serviço do país); nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, a serviço do país; nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, registrados em repartição competente ou que venha residir no Brasil e opte, na maioridade, pela nacionalidade brasileira. Interessante saber que, na redação anterior, não era possível o registro, e a criança devia vir para o Brasil, o que gerou uma geração de apátridas. ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO Já os critérios para naturalizar-se são diferentes. Os estrangeiros de países de língua portuguesa devem residir por 1 ano no país e ter idoneidade moral (conceito subjetivo e ato discricionário – o Brasil escolhe); de qualquer nacionalidade, devem residir no Brasil há 15 anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade (critério extraordinário, ato vinculado); já os portugueses com residência permanente no país terão os direitos inerentes aos brasileiros, salvo casos previstos em lei. Existem casos especiais, como o casamento com brasileiro (5 anos) e o funcionário do Brasil no exterior (10 anos). É possível uma naturalidade provisória. Pode haver redução caso seja filho ou cônjuge de brasileiro residindo no Brasil ou prestar serviço relevante (para 1 ou 2 anos). O estatuto do estrangeiro traz algumas condições para essa concessão de naturalidade. São elas: capacidade civil, visto permanente, residência contínua, ler e escrever em português, exercer profissão e ter posse de bens, bom procedimento, inexistência de denúncia ou condenação por crime doloso com pena superior a de 1 ano e boa saúde. É possível, ainda, a perda de nacionalidade. Ela ocorre conforme o art 12. A naturalização pode ser cancelada por prática de atividade nociva, ou caso o brasileiro adquira outra nacionalidade, com exceção do reconhecimento de nacionalidade estrangeira e da imposição de naturalização de outro país. É tema relevante aqui, ainda, a extradição: nenhum brasileiro nato pode ser extraditado. Além disso, não se concede extradição por crime político ou de opinião, nem para país que apliquem a pena de morte. Nos casos possíveis, o STF decide. Também existe a chamada expulsão, que compete à União. Pode ocorrer por condenação criminal ou caso a permanência seja considerada inconveniente. É diferente da deportação, caso em que ocorre a entrada ou permanência irregular (excesso de prazo, exercício de atividade). O Estatuto do estrangeiro faz algumas vedações. Ele impede que o estrangeiro pratique atividades de barragem, com rios ou radiodifusão. Além disso, estrangeiros não podem votar – sendo o Brasil o único país que faz essa proibição. Há um projeto de Lei de Migrações, que promove a regularização do estrangeiro, mas mantém a proibição de voto. Há, ainda, o Estatuto dos Refugiados. Esse refúgio depende de 5 critérios: raça (ex. perseguição do país de origem), religião, grupo social (identidade mutável, ex. feminista no Oriente Médio), nacionalidade e opinião política. Existem, ainda, critérios não clássicos, como a violação de direitos humanos. O asilo político também é uma possibilidade, mas cabe somente para países da América Latina, podendo ser diplomático (embaixada) ou territorial (no país). DIREITOS POLÍTICOS Os direitos políticos são direitos fundamentais que regulam o exercício da soberania popular, disciplinando a intervenção, direta ou indireta, no poder. Eles se classificam em ativos (eleitor) ou passivos (elegibilidade) e vinculam-se à cidadania. ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO A essência dos direitos políticos consiste em votar e ser votado. O sufrágio é uma forma de manifestação direta do assentimento ou não do eleitor, e também uma forma de representação política presente nas Repúblicas democráticas através do voto. O voto é, portanto, o efetivo exercício do direito de sufrágio – sendo que este pode ser universal ou restrito (discriminatório). O voto possui natureza dupla: tanto político (participação) quando jurídico (reconhecido pelo direito). Ele representa uma fração da soberania nacional. No Brasil, o voto compreende um direito e uma função: é um direito à escolha, mas uma função de responsabilidade na administração do país – e, por isso, é obrigatório. Os direitos políticos são adquiridos gradualmente. É através do alistamento eleitoral na Justiça Eleitoral que surge o eleitor, sendo esse ato de alistamento obrigatório para maiores de 18 anos e opcional para analfabetos, maiores de 70 anos e menores acima de 16 anos. A evolução no processo aquisitivo de direitos se dá da seguinte forma: votar e propor ação popular (16 anos); dever de votar e possibilidade de se candidatar a vereador (18 anos); apresentar-se como candidato para deputado prefeito e juiz de paz (21 anos); candidatar-se a governador (30 anos); candidatar-se a presidente e senador (35 anos). Há, então, uma evolução até atingir a “cidadania máxima”. Os direitos políticos podem, porém, ser perdidos ou suspensos, conforme o art. 15. A perda é aplicada nos seguintes casos: cancelamento de naturalização, incapacidade civil absoluta, recusa de cumprir obrigação a todosimposta ou prestação alternativa e improbidade administrativa. Importante diferenciar a suspensão da perda: a suspensão é o afastamento temporário, que se aplica para condenação criminal enquanto durarem os efeitos, enquanto a perda é aplicada nos casos acima, com afastamento definitivo. Há, também, possibilidade de impedimento no exercício de direitos políticos: a inelegibilidade absoluta e a relativa. Na absoluta, algumas pessoas são impedidas, inalistáveis, como os estrangeiros, os que não se submeteram ao alistamento eleitoral, os militares e os analfabetos. Já a inelegibilidade relativa é quando os impedimentos são para determinadas situações: pelo fator da idade, por vinculação funcional (proíbe 2 reeleições), por laços familiares), por fixação de domicílio ou por falta de filiação partidária. DIREITOS PARTIDÁRIOS Para compreender os direitos partidários, devemos analisar a concepção moderna de partidos. Isso porque o debate político surgiu com mais força para o campo do direito no século XXI, mesmo que anteriormente as ciências políticas já tratassem do tema. A concepção de partido político que temos hoje é muito recente em termos históricos, surgiu apenas na segunda metade do século XIX e foram estabelecidas algumas diferenças entre o sistema clássico e o novo, trazendo uma concepção de estrutura permanente (capacidade de autonomia do partido de sobreviver, mesmo quando as lideranças saiam do cenário), capacidade de articular o local com o nacional – relação à critica de sistemas partidários que permitam organizações regionais (disputa entre MG e SP na 1a República), e de articular meios para chegar ao poder – estratégias para realizar o projeto que propõe. ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO A ideia moderna se contrapõe a percepções como que as primeiras experiências partidárias estariam na Inglaterra no século XVII. A concepção moderna afirma que estas experiências são apenas de grupos e não partidos políticos em si. A relação entre os partidos políticos e a democracia foi tratada por Maurice Duverger e Robert Michels. Duverger é o clássico dos partidos políticos, escreveu tendo em vista o contexto francês da década de 1910. É otimista ao dizer que o partido politico e democracia sao indissociáveis; se quisermos ter democracia, devemos olhar para a estrutura dos partidos políticos e identificar nela meios de chegar até a democracia. Os partidos, para ele, têm origem parlamentar, onde as pessoas começam a se articular e se aproximar de acordo com interesses próprios - surgem os partidos de quadro (partido é um instrumento da própria institucionalidade). Em contraposição ao partido de quadro, nascem os partidos de massa, os partidos extraparlamentares que surgem da sociedade civil. Estes representam a esperança dos que estão fora do sistema de participação política. O ponto forte de Duverger foi notar a distinção entre o partidos de massa e os de quadro, já que até a estrutura, o funcionamento e o financiamento são diferentes. A partir da categoria teórica de Duverger, Michels baseia sua crítica nos partidos políticos. Ele não acredita na democracia como regime, baseando-se no contexto alemão de 1940, vinculado ao nazismo. Ele afirma, então, que a democracia pressupõe organização, e que esta pressupõe a criação de uma vontade coletiva. Aquele que faz o papel de representação, porém, atua tentando fazer parecer coletivo o que é individual. Michels parte de premissas como a que as pessoas não tem interesse de participar do processo político. A criação de elites dentro do sistema é inafastável e com estes grupos não se pode trabalhar mais para o projeto de democracia. Além do debate entre Michels e Duverger, o fato que marca o diálogo e a mudança dos partidos enquanto organização é a crise pós 2GM. As extremidades passam a ser vistas dentro do sistema. Na Alemanha há a criação das clausulas de barreira para excluir os extremismos políticos. Os partidos de quadro e de massa entram em crise em função da própria mudança que está acontecendo na Europa. Os partidos de massa já estariam formalmente integrados e cumprindo seu papel, e começam a sumir do cenário. Os discursos muito elitizados ou os de partidos de massa começam a sumir, uma vez que é necessário abranger todas as partes da sociedade. Já existe a consolidação de um sistema com o sufrágio universal. Otto afirma que há uma tendência natural que haja uma desideoligização do discurso para que se possa atingir a todos – partidos catch all. Toda essa análise teórica, porém, faz necessária uma análise da realidade dos partidos no sistema constitucional brasileiro. Idealmente, o partido político é um intermediário entre o Estado e a sociedade. Na história latino-americana, porém, é o Estado quem faz o meio de campo entre partido político e sociedade. A organização partidária perde a centralidade tal como ela seria vista dentro de uma perspectiva política, e o Estado assume esse papel. ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO Antes da 1a República, temos a pré-história de partidos políticos. A partir da Constituição de 1946, eles são vistos como capazes de conciliar interesses locais e nacionais, têm projetos de governo, políticas econômicas e sociais. O Estado, porém, permanece como o grande interlocutor entre a sociedade e os partidos políticos. É importante analisar, também, a natureza jurídica dos partidos no contexto brasileiro. Conforme o Art. 17, $2o, CF, eles são uma associação privada, pessoas jurídicas regradas pelo direito civil, mas que exercem funções constitucionais. Importante lembrar que uma das condições de elegibilidade é a filiação partidária. Os partidos políticos são uma porta de acesso ao mundo político, então. Existem algumas liberdades partidárias que são garantidas pelo direito. A Constituição de 1988 é a que deu mais liberdade e autonomia para os partidos políticos. Há a chamada liberdade objetiva, referente à liberdade de organização e estruturação interna através de estatutos que regulem a criação, a transformação e a extinção do partido. A própria CF dá a essas organizações a liberdade de definir como será sua estrutura, instâncias de deliberação, etc . Os partidos políticos podem fundir-se, cindir-se, extinguir-se, etc, desde que respeitada a soberania nacional, regime democrático, pluripartidarismo e direitos da pessoa humana. Já a liberdade subjetiva refere-se à participação, filiação/ desfiliação. Entende-se como as liberdades do sujeito que irá participar do partido político. O direito ao sujeito de filiar-se ou desfiliar-se, já que ninguém é obrigado a permanecer associado. Existem, porém, alguns limites à liberdade partidária que devem ser analisados. Um deles é o chamado “caráter nacional”. Essa concepção é vinculada à ideiamoderna de partido, sendo fixada na Constituição de 46. O caráter nacional é, de modo geral, vinculado a uma cláusula de barreira que exige certa representatividade (0,5% dos votos para a Câmara dos Deputados na última eleição; 1/3 ou mais dos 9 estados; cada estado tem que estar representando no mínimo 0,01% dos eleitores daquele estado). Existem propostas pedindo uma barreira ainda maior. É importante abordar, aqui, a chamada “verticalização das coligações”, vinculada aos processos eleitorais gerais e estaduais: os partidos que se coligavam em um âmbito, deviam se coligar no outro também. A EC 52 (Art. 17, $ 1o) de 2006 tira a obrigatoriedade da verticalização e rompe a manifestação do poder judiciário, permitindo diferentes coligações. O segundo limite é a restrição financeira/ Vedação ao financiamento de entidade/ governo estrangeiro, que é muito vinculado à ideia de soberania.O terceiro é a prestação de contas à justiça eleitoral, que deve ser feita anualmente. O quarto limite é a vedação à utilização de organização paramilitar (art. 17, $ 4o). O quinto e último é a exigência de respeito à soberania nacional, ao regime democrático, ao pluripartidarismo e aos direitos fundamentais da pessoa humana. ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO Outro tema importante é o da fidelidade partidária, que devem ser determinadas pelo estatuto do partido, estabelecendo, inclusive, a punição. O grande problema ocorria quando candidatos, já eleitos, trocavam seu partido. Antes de 2007 a lei determinava que ele perderia o cargo, porém, com a resolução 22.610 do TSE, ficou definido que esse ato era de infidelidade partidária e que deveria ocorrer a perda do mandato, se não houvesse justa causa. É interessante a questão, pois tanto a definição quanto a penalidade não foram definidas por um estatuto, e sim pelo tribunal. Importante, por fim, tratar dos recursos dos partidos. São dois os principais: o fundo partidário e o acesso aos meios de comunicação. Esses recursos são muito importantes para viabilizar a própria existência do partido. O fundo partidário é abastecido por doações orçamentárias da União e multas eleitorais, subdividindo-se em dois: uma parte é distribuída igualmente entre todos (5%), enquanto outra é dividida proporcionalmente pela representação no parlamento (95%). Já o acesso aos meios de comunicação é uma pauta controversa. O partido necessita um espaço de diálogo com a sociedade, porém, atualmente, os partidos políticos que tem no mínimo 1 representante no congresso nacional, têm direito a 01 programa semestral nacional (05 – 10 min). Também tem direito a programas de inserção (30s a 1 min, somando de 10 a 20min). Tudo depende, então, da quantidade de representantes. PODER EXECUTIVO (PRESIDENCIALISMO) – texto Fernando Limonji Sérgio Abranches dizia que o presidencialismo brasileiro é baseado em coalizões partidárias, mas, especialmente, regionais. É o chamado “presidencialismo de coalizão”, que aponta para um sistema instável e de risco. Limonji apresenta, porém, uma antítese, pois diz que nosso presidencialismo não é diferente dos demais países democráticos. A principal característica é a capacidade legislativa do presidente. Não há, então, peculiaridade de coalizão, tendo apenas limites e potencialidades como qualquer outro país presidencialista. Para comprovar sua tese, utiliza duas taxas: a de sucesso (nº de projetos enviados pelo presidente/nº de aprovados) e de dominância (nº enviado pelo presidente/nº total de projetos). No Brasil, e em diversos outros países, ambas são elevadas. A taxa de sucesso pós CF de 88 é de 70,7% (utilizando critério rígido, sendo válida somente a aprovada durante o mandato). Essa taxa é semelhante entre os presidentes. Já a taxa de dominância, no mesmo período, é de 85,6%, também sem variações significativas de um presidente para outro. É interessante comparar esse período com o período democrático anterior (de 1949 a 1964). A taxa de sucesso era de 29,5%, e Getúlio, quem mais aprovou, teve 45% de sucesso. Já a de dominância ficava na média de 39%. Importante, nessa análise, considerar que após 88 legisla-se muito mais. O que acarretou essas mudanças foram alterações institucionais. O poder executivo ganhou direito a ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO uma série de iniciativas. Passou a ser iniciativa exclusiva do Executivo projetos administrativos, orçamentários e de impostos. Além disso, tornou-se possível iniciar emendas constitucionais, editar decretos com forma de lei, editar leis sob requerimento de delegação pelo Congresso (lei delegada), solicitar urgência e impor restrições a emendas orçamentárias. Ocorre, então, a inserção de uma série de mecanismos constitucionais que não existiam antes. Há um aumento nas demandas e produção legislativa, também há um maior protagonismo do presidente da República. Esses mecanismos foram decisivos para estas taxas de dominância e sucesso pós CF de 88. As emendas parlamentares são pedidos que os parlamentares fazem para melhorar a sua região. O executivo é que controla a liberação do orçamento. Se faziam trocas, o executivo liberava o orçamento, caso o deputado votasse no projeto X ou Y. Cunha alterou a Constituição para que não houvesse mais isso, tornando os orçamentos vinculados. E emenda parlamentar tirou o executivo da “jogada” na hora de aprovar as emendas. Dilma e Temer perderam um grande poder de negociação; a possibilidade de deliberação das emendas parlamentares. O poder executivo podia restringir a liberação desta verba. A partir de 2015, às restrições saíram (EC 86). É notório que todos os últimos presidentes governam como medidas provisórias. O problema é que a medida provisória serve com muitos propósitos, podendo atropelar o processo democrático. Ela permite a criação de efeitos imediatos. O presidente desfoca a atenção e o peso da decisão para o congresso que deverá lidar com os efeitos da medida provisória. A grande questão sobre todo essa sistema é que o presidencialismo se beneficia dele. Nossa crise atual demonstra que os mecanismos institucionais na Constituição favorecem, na verdade, um sistema não-democrático. Ele, então, nos dá resultados semelhantes a outras democracias (altas taxas de sucesso e dominância), mas a realidade não foi uma melhoria. Cabe, também, uma análise do nosso presidencialismo vinculado ao texro constitucional. Ele é do tipo imperial (chefe de Estado é chefe de governo), com eleição majoritária, direta, com chapa única e segundo turno. Em 46 se escolhia o vice e o presidente em votos separados, mas isso levou a grandes crises (como Jânio/Jango). Gera, então, mais instabilidade do que a chapa única. Além disso, existem algumas condições de elegibilidade: a filiação partidária e estar em pleno gozo de seus direitos políticos. Já para ser eleito é necessária a maioria dos votos (50% + 1). Em caso de morte, desistência ou impedimento antes do segundo turno, chama-se o “terceiro” colocado (e, se houver empate, o mais idoso). A posse ocorre em sessão no Congresso, mas, se o presidente ou vice não comparecer em 10 dias, o cargo fica vago. Há, então, a chamada “vocação na vacância”: o vice presidente é o sucessor natural. Os demais sucessores são o presidente da câmara, o presidente do Senado e o presidente do STF. O art 81 diz, ainda, que ocorrendo vacância nos últimos 2 anos do mandato, haverá eleição indireta pelo Congresso, devendo completar o período do mandato antecessor. ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO O cargo de presidente pode, ainda, ser perdido por crime de responsabilidade ou por extinção (que ocorre quando há morte, renúncia, quando os direitos políticos são suspensos ou há perda da nacionalidade). O crime de responsabilidade é integrado por diversos atos que podem, de alguma forma, agredir direitos políticos ou a estrutura democrática do país. Para julgar esse crime, a câmara deve admitir e o Senado julga. O presidente não é preso nesses casos. Importante, ainda, dizer que qualquer cidadão pode fazer denúncia de Impeachment e o presidente da Câmara que decide colocar em votação. PODER LEGISLATIVO A origem do parlamento é a atividade tributária do Poder Executivo (autorizava os agentes a cobrar tributos). O parlamento, porém, se transforma no Poder Legislativo, adquirindo a função de legislar. No Brasil, é formado pelo bicameralismo. A Câmara dos Deputados representa o povo, ou seja, o voto é proporcional, sendo composta de 513 parlamentares. Cada estado pode eleger no mínimo 8 e no máximo 70 deputados. O mandato é de umalegislatura e a reeleição ocorre a cada 04 anos (diferente da sessão legislativa, que é de um ano). O Senado Federal representa os Estados, com 81 parlamentares no total, sendo que cada senador leva consigo dois suplentes. A existência de um Senado representando os Estados-membros e o DF é uma ideia vinculada ao federalismo, pois apesar de diferenças entre as populações considera-se que há paridade entre as unidades federativas. O mandato é de 02 legislaturas e a reeleição ocorre a cada 04 anos (1/3 e 2/3 respectivamente). O quoeficiente eleitoral é a divisão do número de votos válidos no Estado pelo número de cadeiras disponíveis. [Q = 10.000 / 5 = 2.000 (quociente eleitoral)]. Ex.: Partido A – 1.000 votos (01 candidato = 900 votos e os demais somados fizeram 100 votos), não será eleito. Partido B – 4.000 votos (01 candidato = 3000 votos; 2 candidatos tem 300 votos e 3 candidatos tem 100 votos) – ELEITO com direito a duas cadeiras pois uma cadeira vale 2.000 votos. Importante dizer aqui que a Reforma de 2015 estabeleceu o mínimo de 10% que um candidato precisaria ter para ter os votos válidos. Tentativa de inibição dos candidatos “chama voto”. São atribuições do Parlamento: legislar, fiscalizar as ações do executivo, tomar as contas e investigar através das CPIs. Já as funções atípicas dele são: julgar presidente e vice por crime de responsabilidade, sancionar os atos normativos não apreciados pelo Chefe de Estado, aprovar a nomeação de autoridades, conduzir CPIs e administrar seus recursos. Existem casos em que há sessão conjunta no legislativo. Elas ocorrem para inaugurar a sessão legislativa, elaborar o regimento comum, receber o compromisso do presidente e do vice, e conhecer do veto e sobre ele deliberar. Os membros das Mesas diretoras serão eleitos para mandatos de 2 anos, vedada a recondução. Essa vedação, contudo, só se verifica dentro da mesma legislatura. Se o Presidente da Câmara, por exemplo, se reeleger deputado para a legislatura seguinte, poderá ser candidato a Presidente no período imediatamente subsequente, pois entende-se que a ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO mudança de legislatura afasta a vedação constitucional do Art. 57, § 4º. Há mesa Diretora da Câmara, do Senado e do Congresso. O Congresso e as Casas parlamentares funcionam por meio de Comissões, que podem ser temporárias ou permanentes. Dentre as temporárias, há três categorias: especial, externa e parlamentar de inquérito. São exemplos de Comissões Temporárias a Comissão Especial destinada a estudar e debater os efeitos da Crise Hídrica, bem como propor medidas tendentes a minimizar os impactos da escassez de água no Brasil e a Comissão Especial destinada a efetuar estudo e apresentar propostas com relação às matérias infraconstitucionais da Reforma Política. Compete às comissões: discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa; realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil; convocar Ministros de Estado para prestar informações sobre assuntos inerentes a suas atribuições (é crime de responsabilidade faltar); receber petições, reclamações, representações ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou entidades públicas; solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão; apreciar programas de obras, planos nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento e sobre eles emitir parecer. A composição das Comissões Permanentes é renovada a cada sessão legislativa (anualmente). A composição das comissões, deverá ser feita com base no princípio da proporcionalidade dos partidos ou blocos parlamentares, que se costuma utilizar, também, para a composição das mesas diretoras. Dependendo do número de partidos na Casa, se tenta reproduzir isto dentro da comissão. São exemplos de Comissões Permanentes da Câmara dos Deputados a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), a Comissão de Finanças e Tributação (CFT), a Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) e a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM). As comissões especiais são criadas para dar parecer sobre projetos de Código; fazer propostas de emenda à Constituição; fazer reforma do Regimento Interno; realizar apreciação de denúncias por crime de responsabilidade contra presidente da República, vice-presidente da República e ministro de Estado; para estudar determinado assunto definido pelo presidente da Casa; e para analisar proposições que devem ser distribuídas para mais de três comissões de análise do mérito (Nesse caso, a comissão examina não só o mérito, mas também a constitucionalidade e a adequação financeira). Já as comissões externas autorizam o afastamento do parlamentar pelo prazo máximo de oito sessões, se a missão for exercida no país, e de trinta sessões, se desempenhada no exterior. Ocorrem, então, quando os parlamentares fazem comissões que “vão a campo”, o estudo precisa ser fora do CN. As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, são criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo (120 dias prorrogáveis por mais 60), sendo ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores. O objetivo das CPIs é investigar fato determinado e de relevante interesse para a vida pública e para a ordem constitucional, legal, econômica ou social do país. Têm poderes de investigação equiparados aos das autoridades judiciais (quebra de sigilo). Só podem funcionar simultaneamente cinco CPIs apresentadas por requerimento, o que dá enorme poder ao Presidente de cada Casa, que resolve, ou não, instalá-las. Importante, ainda, dizer que a CPI não promove julgamentos. Interessante, ainda, falar do Tribunal de Contas da União (art. 49, inc. IX): é um órgão auxiliar (subordinado) do Congresso Nacional na função de fiscalização. A sua atuação acontece a partir da convocação do Congresso Nacional. Audita todas as contas de todos os órgãos que atuam com recursos públicos. Por fim, devem ser abordadas as imunidades parlamentares. Elas podem ser imunidades materiais/ inamovibilidade parlamentar (art. 53, caput) - tudo que possibilita o livre exercício de seu mandato; proferir suas opiniões; recolher informações sem divulgar suas fontes, sendo que não são restritas ao âmbito do CN, pode proferir fora e estar resguardado; ou imunidades formais (art. 53, $ 2): não se pode realizar a prisão do parlamentar, salvo em flagrante de crime não afiançável, devendo haver julgamento pelo STF (prerrogativa de foro pela função). [ARTIGOS E COMPETÊNCIAS] Art. 48 + Sanção do presidente: neste caso é necessária a sanção presidencial sobre determinadas matérias. Art. 49: as matérias elencadas neste artigo são exclusivas do Congresso Nacional, ou seja, nao precisam passar depois pela sanção do presidente. Se dá por meio de um decreto legislativo. Art. 51 – Matérias exclusivas de vedação à Câmara dos Deputados Art. 52 – Senado Federal SISTEMA POLÍTICO O exercício do poder engloba uma série de coisas desde legislar até tomar decisões políticas. Essa abordagem do sistema político pode, portanto, ser feita de diversas maneiras, mas a abordagem aqui será sobre dois temas: a questão da representação e a questão dos sistemas eleitorais. O nosso primeiro artigo da CF já diz que “todopoder emana do povo, que o exerce por meio de representantes”. Aqui, é importante uma análise do que seria esse poder. Se ele parte do povo, há o pressuposto de que não existe nenhum tipo de autoritarismo. Esse exercício do poder pode dar-se de forma direta ou indireta. Na forma direta, o exercício do poder é limitado pelo próprio art. 14, CF. É realizado pelo voto (sufrágio universal), plebiscito e referendo. O plebiscito é a forma de consulta a população, bem como o referendo. A grande diferença é que o referendo é uma mera ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO ratificação (o texto já está pronto, a sociedade diz se aceita ou não), enquanto o plebiscito é uma pergunta e, a partir da resposta, desenvolve-se o texto legislativo. O grande problema está na forma de instrumentalização desses mecanismos, já que no Brasil, por exemplo, é necessário 1/3 da Câmara ou Senado. Não há, então, possibilidade do povo convocar. Isto tudo é determinado pela Lei 9.709/98. Em tese, toda matéria de acentuada relevância e natureza constitucional poderia ser levada para ser votada pelo povo, o que faz com que seja possível perceber que são poucas as decisões levadas à população (até hoje houve apenas 2 plebiscitos nacionais). Percebemos, então, que tudo está entregue à representação, de modo que falta a efetiva existência dos poderes diretos do povo. Ela é, na verdade, tão indireta quando as demais. O exercício do poder indireto é chamado assim, pois é realizado através de um representante. É importante debater, porém o que é representação. A doutrina da duplicidade aborda a relação representação – democracia. A noção de representação vem com Hobbes, pois ele vê a legitimidade do poder como necessária para manter estabilidade: o soberano, no pacto social é representante, servindo para garantir a paz, já que o indivíduo cedeu a ele sua liberdade. A representação nasce, então, desvinculada da democracia. Essa doutrina mostra, então, que o representante é diferente do representado, tendo certa autonomia sobre seus atos. Já a doutrina da identidade acredita que existe um vínculo direto entre representante e representado. O representante deve agir, então, em prol do representado. O problema dessa doutrina, porém, é que ela acredita que nem todos podem decidir sempre, mas, então, como se saberia a vontade do representado? Entre essas duas doutrinas extremas existem pontos de meio termo. A realidade latino-americana, nesse sentido, deve ser analisada. Duas terias se opõem: a de Murillo Toro e de Lucas Alamám - que opõe e vincula independência pública e econômica. Para os conservadores, só podem ser participantes do processo político aquele que é independente economicamente. Já os radicais, que também usam o vínculo entre independência política e econômica, dizem que o correto é incluí-los no sistema para só então combater a desigualdade (ao incluir todos no processo). Esse debate é abafado com o pacto liberal-conservador, que consegue neutralizar as ideias radicais. Os primeiros textos constitucionais são, então, marcados pela necessidade de poder econômico para participar, restrição de direitos políticos e controles horizontais (endógenos) das próprias instituições. As constituições que surgem depois disso incluem o sufrágio, mas ainda não fogem do controle horizontal (não é o povo que controla). Há, por fim, o ideal da representação, feito por Olavo Brasil que fala de quatro sentidos da representação. O primeiro é a existência de características sociais comuns entre o representante e o representado. O segundo diz que a ação do representante é apropriada e ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO aceita pelo representado. O terceiro é aquele que determina que a ação de um é na defesa do outro, buscando o melhor. O quarto é o que um faz sujeita o outro, não no sentido de obrigar, mas sim de desejar aquilo devido ao vínculo existente. Isso tudo, porém é muito idealizado, um dever-ser, não correspondente a nossa realidade. O grande problema de focar muito no dever-ser acaba dificultando pensamentos sobre como lidar com essa realidade que possuímos. Olavo ainda fala que o voto, por mais importante que seja, não exclui a necessidade de outros mecanismos de participação para exercer e garantir direitos. Isso porque, caso a representação não seja ideal, é necessária a capacidade de a população exercer o controle. SISTEMAS ELEITORAIS O nosso sistema político é, então, indireto. Os votos devem levar à eleição de representantes. O mecanismo majoritário é aquele em que a maioria vence. Ele serve quando só se precisa eleger uma pessoa, em cargos como presidente, governador, prefeito e senador (que sai um pouco da lógica, pois podem ser eleitos dois). Esse sistema pode ser por voto nacional (presidente), que é o que usamos, ou por unidade da federação (cada unidade gera um voto). Ainda há o voto distrital, que busca “aproximar o eleitor do candidato”: no puro, o território se divide em distritos que elegem seus representantes; enquanto no misto o indivíduo vota no seu distrito, e numa lista (proporcional) para uma unidade que excedo o distrito. Já o sistema proporcional parte do pressuposto de eleger mais de uma pessoa. Entram na instituição candidatos proporcionais ao nº de votos na eleição. Existem, aqui, subsistemas, que serão analisados a seguir. No sistema de lista aberta é aquele que não há uma lista estabelecida pelo partido. É o próprio eleitor que determina quem entra: o mais votado fica acima na lista e, se houver votos suficientes, ele entra. O voto é, então, personalizado, no candidato – o que gera uma redução da importância do partido. Há uma menor representação das minorias e maior chance de infidelidade partidária (pois o candidato vê que é maior que o partido). É usado no Brasil para a Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa e Câmaras Municipais. A crítica à lista aberta é que os candidatos irão lutar entre si e há uma perda de poder do partido em escolher quem irá entrar para a institucionalidade. Há uma competição dentro e fora do partido. No sistema de lista fechada, o partido determina quem entra numa lista fixa. O eleitor vota, então, na lista, gerando um fortalecimento dos partidos e, consequentemente, maior fidelidade partidária (pois foi o partido que colocou a pessoa lá). Há a possibilidade de associar questões nacionais com demandas setorizadas e questões nacionais, o que serve inclusiva como propaganda. Há uma tendência de maior fidelidade. A lista flexível tenta criar um meio termo, mas ela acaba carregando tantos pontos negativos quanto positivos. É semelhante à lista aberta: pode votar tanto no indivíduo quanto no partido. A grande diferença para a lista aberta é que aquele que vota na legenda, na aberta ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO vai para o partido (deixando que outros determinem quem entra), enquanto quem vota na lista flexível, na legenda, aceita a ordem determinada pelo partido. Na lista flexível, quando se vota, já se concorda com a ordem determinada pelo partido. Esta ordem só será modificada, se o eleitor vota individualmente em algum dos candidatos daquela lista. A Reforma Eleitoral de 2015 trouxe algumas mudanças. É a chamada minirreforma, feita pela Lei 13.165, que veio junto com a proibição de doação de pessoas jurídicas. É importante analisar alguns pontos: encurtamento da propaganda, diminuição de campanhas (45 dias) e incentivo às mulheres (10% de veiculação na mídia, não é cota para mulheres). Esses três são mais vinculados à propaganda nos meios de comunicação. Há a condição de elegibilidade de 6 meses de filiação (antes era 1 ano). Existe, ainda, o requisitode candidaturas. Já no sistema proporcional ocorre a cláusula de desempenho individual, que exige 10% do quoeficiente eleitoral. PROCESSO LEGISLATIVO O processo legislativo é o processo de adoção das normas. De acordo com o art. 59 da CF é o processo que compreende a elaboração de: emendas a Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos, resoluções. O poder constituinte originário é o que passou por um processo constituinte. O processo de elaboração da constituição faz parte deste poder. O poder derivado é o que se segue depois, ele reforma/ modifica a constituição. A Emenda Constitucional é a espécie normativa que causa uma modificação mais gravosa. Ela modifica uma constituição que seria, em tese, mais rígida. A EC exige um quórum maior de parlamentares e de um rito mais rígido. O processo legislativo pode ser entendido num sentido jurídico e num sentido sociológico. O sentido jurídico é o conjunto coordenado de disposições de disciplinam o procedimento a ser obedecido pelos órgãos competentes na produção das leis e atos normativos que derivam da Constituição. O sentido sociológico trata do conjunto de fatos reais (de poder) que impulsionam e direcionam os legisladores a exercitarem suas tarefas. Este processo não é apenas um processo objetivo, ele é impulsionado por elementos (fatores reais) que fazem por algum motivo que o legislador preste mais atenção em determinadas causas. Para ter um processo legislativo coerente: efeitos de nova lei, ec, mp podem causar na sociedade. Estas respostas estão fora do mundo do direito. A obediência ao processo legislativo esta consagrada constitucionalmente, sendo que a sua inobservância acarretará a inconstitucionalidade formal da lei ou do ato normativo produzido O STJ considera as regras básicas de que o processo legislativo previstas na Constituição Federal como modelos obrigatórios as Constituições Estaduais declarando que o modelo estruturador do processo legislativo impõe-se enquanto padrão normativo de ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO compulsório atendimento. Ressalte-se que se trata de norma geral, aplicável a todos os entes federados. Os poderes legislativos podem ser classificados de algumas maneiras. Os autocráticos são aqueles em que as leis são elaboradas só pelo governo, sem participação popular. Os direitos são aqueles em que há discussão e votação pelo próprio povo. Os indiretos (representativos) são aqueles em que os cidadãos escolhem seus representantes, para que estes elaborem as espécies normativas. Por fim, os semidiretos são aqueles em que o sistema conjuga a participação indireta, com representantes, e direta, através da participação por plebiscitos, referendos e ação popular. Para compreender a questão do poder legislativo, porém, é necessário compreender alguns conceitos fundamentais. O primeiro é o conceito de ordenamento: o conjunto de regras e normas impostas à sociedade, através da sistematização ordenada pelo processo legislativo, constituindo-se em Código, lei especial, complementar ou federal. Esse ordenamento é composto, também, por cláusulas pétreas e exige controle de constitucionalidade. Outro conceito importante é o de revogação: lei posterior revoga anterior quando o declara, quando é incompatível ou quando regula inteiramente a mesma matéria. O terceiro conceito é a recepção: acolhimento que uma CF faz às leis infraconstitucionais que a antecedem, desde que presente uma condição essencial – a compatibilidade dessas normas. Outros dois conceitos são a ab-rogação e a derrogação. O primeiro é a revogação total e o segundo a revogação parcial. Já o conceito de represtinação diz respeito ao fenômeno que ocorre quando uma norma, que revogou outra anterior, é revogada, trazendo a anterior de volta: isso não ocorre no Brasil, a não ser que a última lei fale expressamente do retorno da primeira. Importante, ainda, compreender as maiorias. A maioria simples é aquela que representa mais da metade dos membros presentes. A maioria absoluta é a que representa mais da metade de todos os integrantes da casa legislativa. Por fim, a maioria qualificada é aquela em que a lei exige fração do número total de votos (ex: 3/5). Depois de analisar esses conceitos, podemos passar ao estudo do Processo Legislativo Ordinário. Esse processo começa com a iniciativa: o ato que dá início ao processo de elaboração de uma espécie normativa, sendo uma faculdade que se atribui a alguém o a um órgão para apresentar projetos. Essa iniciativa pode ser parlamentar (integrantes do Congresso), extraparlamentar (Chefe do Executivo, tribunais superiores, MP e cidadãos), concorrente (vários são legitimados), exclusiva (reservada a um cargo ou órgão), e restrita (tal órgão só pode propor matérias especificadas na CF, a exemplo do PGR do MP). Além disso tudo, a iniciativa torna-se vinculada quando o início ocorre segundo os prazos da CF. Por fim, a discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente, STF, Tribunal Superior ou cidadão é realizada na Câmara dos Deputados, só ocorrendo no Senado quando quando um membro da casa propôr. A outra casa torna-se, automaticamente, a revisora. ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO A segunda fase do processo é a constitutiva. Uma vez apresentado, ocorrerá discussão e votação sobre a matéria nas duas casas, podendo ser aprovado, rejeitado ou sofrer emendas. Caso seja aprovado, o Executivo ainda poderá vetar. A deliberação parlamentar analisa, inicialmente, o projeto em suas questões formais (Comissão de Constituição e Justiça), com parecer obrigatório. Só posteriormente analisam-se aspectos materiais (Comissões Temáticas), com parecer opinativo nas duas casas. O nosso sistema é predominantemente parlamentar, pois ele é capaz, inclusive, de derrubar o voto do presidente. Depois de aprovado nas comissões, vai para votação no plenário. Lei ordinária é maioria simples. Isso mostra como a constituição de uma lei é um ato complexo: uando aprovado, segue para a casa Revisora e, se for aprovado, segue para o Executivo. Se forem feitas emendas, volta a casa iniciadora, que decide se essas modificações serão ou não aprovadas e, depois, remete ao Executivo. O presidente pode vetar tudo, nada ou artigos completos. Antes de ir até o presidente, passa pelo “autógrafo”. Se o projeto for rejeitado, sua matéria não pode ser discutida na mesma sessão legislativa, a não ser que a maioria absoluta de uma das casas vote para ser revisado. Importante dizer que não existe aprovação tácita por decurso de prazo. Além disso, se uma casa aprovar e outra rejeitar, o projeto é arquivado. As emendas parlamentares são proposições acessórias às propostas de lei, e também às propostas de Emenda a CF. Elas se classificam em supressivas (erradicam parte da proposição inicial), aditivas (adicionam algo), aglutinativas (fusão de emendas e projetos semelhantes), modificativas (alteram, mas não substancialmente), substitutivas (alteram substancial ou formalmente) e de redação (sanam vício na linguagem). Importante, também, estudar os Regimes do Processo Legislativo. O regime ordinário é regime em que a regra da tramitação dos projetos de lei. O prazo é de 40 sessões para cada uma das casas (entenda-se sessão como reunião). O regime de urgência dispensa de algumas exigências e formalidades regimentais – mas não publicações, distribuição, pareceres e quórum. O prazo é de 5 sessões que ocorre simultaneamente para todas as comissões. Pode ser solicitado pelo Presidente da República quando o projeto de lei é de iniciativa dele. E o regime de urgência urgentíssimanão consta no Regimento Interno da Câmara, mas esta consagrada pelo uso. O projeto de lei pode ser incluído na ordem do dia da sessão plenária, para discussão e votação imediata, ainda que a sessão já tenha iniciado, caso seja aprovado requerimento neste sentido. Já a deliberação executiva é a fase em que ocorre a análise do presidente, que pode vetar o projeto em parte, no todo, ou sancionar. Se ele não se manifesta em 15 dias há o sancionamento tácito. A manifestação do presidente é, além disso, irretratável, não podendo mudar de ideia. O veto pode ser jurídico (projeto inconstitucional) ou político (contrário ao interesse público), ou, ainda, uma mistura dos dois. ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO Esse veto pode ser derrubado pelo Congresso Nacional em sessão conjunta no prazo de 30 dias e com maioria absoluta. Se o veto não for derrubado, o projeto só pode voltar a ser votado na próxima sessão. A terceira fase é a fase complementar. Compreende a promulgação e publicação da lei para garantir sua executoriedade e notoriedade.Promulgar é atestar que a ordem jurídica foi inovada, declarando que a lei existe. É a publicação e não a sanção que transforma um Projeto de Lei em lei. Em regra, é o Presidente da República que promulga dentro de 48h. Findo o prazo, A competência pode ser transferia ao Presidente do Senado e subsidiariamente ao Vice- Presidente do Senado. Já a publicação é uma comunição a todos que devem cumprir o ato normativo, ocorrendo através de inserção no Diário Oficial, dando aplicabilidade e obrigatoriedade à lei. Em regra, a lei entra em vigor em 45 dias após a publicação. O próprio projeto de lei pode estabelecer um período específico de vaccio legis. Interessante dizer que a sanção do Presidente da República não supera o vício de iniciativa de projetos de iniciativa exclusiva do PR. A CF garante a sociedade que são os representantes legislativo desta que irão fazer as leis. É exemplo quando o Congresso propõe projeto de lei sobre as forças armadas, mas nem por meio da sanção presidencial irá tornar o projeto válido. O projeto será inconstitucional. Importante, ainda, tratar da iniciativa popular. Ela Pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada estado. ESPÉCIES NORMATIVAS NO PROCESSO LEGISLATIVO As Emendas Constitucionais são o poder constituinte derivado que pertence ao Congresso Nacional. A iniciativa de apresentar a PEC é de forma concorrente, por 1/3 dos membros de cada uma das casas do Congresso Nacional ou pelo Presidente da República ou por mais da metade das Assembleias Legislativas, manifestando-se cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. Quando o processo passa pela fase de deliberação, deve ser aprovados pelas duas casas, em votação em dois turnos e quórum qualificado por 3/5 (dos votos favoráveis). Todo o rito da emenda mostra a rigidez da nossa Constituição, nã permitindo reformas banais que causem insegurança jurídica. É um processo dificultado. As propostas de emenda constituição passam pela CCJ e, se necessário, pelas Comissões Temáticas. Importante, também, falar que os Tratos Internacionais de Direitos Humanos aprovados a partir de 2004 tem força de Emenda Constitucional, pois passaram pelo mesmo mecanismo que a EC, um exemplo, é o tratado que fala sobre o direito de pessoas com deficiência física. Os tratados anteriores tem força infraconstitucional, internalizados como lei complementar. ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO Existem, ainda, as cláusulas pétreas, que impedem emendas que busquem abolir determinados direitos adquiridos. Se aprovada, será promulgada pelas mesas da Câmara e do Senado, sendo anexada à Constituição com seu número de ordem, de modo que não está sujeito à sanção ou promulgação pelo Presidente da República. Além disso, o chamado impedimento de reapresentação não se aplica à emenda constitucional, sendo permitida a reapresentação de propostas na mesma sessão legislativa (ano), desde que assinada por mais da metade dos membros de uma das casas. A CF não pode ser emendada na vigência de intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio. Estes estados são situações excepcionais, a constituição não pode ser alterada, pois poderia haver abuso de autoridade. Também não pode ser objeto de deliberação a proposta tendente a abolir a forma federativa de estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos poderes e os direitos e garantidas individuas (cláusulas pétreas). Pode haver EC que tenda aumentar os direitos e garantias individuais, o que não pode haver é a diminuição deste. Já as leis complementares e ordinárias entram no rito ordinário. A grande diferença é que a lei complementar deve ser aprovada por maioria absoluta e a ordinária por maioria simples. A iniciativa das leis complementares e ordinárias, em regra, cabe a qualquer membro do Congresso Nacional, a qualquer comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, ao Presidente da República, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República, ao Tribunal de Contas da União e aos cidadãos, respeitadas as hipóteses de iniciativa reservada, que são privativas de entes específicos. É a CF que determina taxativamente o que será alvo de Lei complementa, enquanto as ordinárias tem caráter residual (por exclusão). Há, ainda, divergência sobre a hierarquia das duas: uns dizemm que a complementar está acima (pois ser mais criteriosa) e outros dizem que ambas estão no mesmo nível. As leis delegadas são aquelas em que o Presidente da República pode solicitar ao Congresso Nacional poderes para editar. Esta delegação ocorre por meio de resolução do Congresso, que especificará seu conteúdo, prazo de duração (temporária) e os termos de seu exercício (delegação externa corporis). Não podem ser objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional ou de qualquer de suas Casas, a matéria reservada à lei complementar ou a legislação sobre a organização do Judiciário, do MP, nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais, planos plurianuais e matéria orçamentária. Esse recurso não é muito utilizado, pois o presidente usa as Medidas Provisórias. A medida provisória é ato com força de lei que emana do Poder Executivo, mas que só vira lei quando aprovada pelo Senado. O antecedente histórico é o Decreto Lei da Constituição de 1967. ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO O chefe do Poder Executivo em casos de relevância e urgência, tem força jurídica similar à da lei e eficácia imediata. Ela deve ser submetida de imediato ao Congresso Nacional. A maioria da doutrina entende como claro o caráter legislativo do poder executivo. O art. 62 da CF traz os casos em que foi expressamente vedada a edição de medidas provisórias. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso do prazo. O Congresso, quando cessarem os efeitos, deve determinar se eles permanecem ou são anulados. A eficácia acontece por decurso de prazo ocorre quando o Congresso Nacional não se pronuncia sobre a MP e o prazo acaba (45 dias), então ela será retirada do ordenamento jurídico. O CN deve elaborar, então, uma resolução sobre a situação daqueles que foram afetados pela MP enquanto ela vigorava. Os parlamentares podem oferecer emendas em 6 dias. Ela será votada em cada casa exigindo maioria simples. Se em 45 dias a medida não for apreciadapelo Congresso, ela trancará a pauta das casas. Quando aprovada, vira lei e, se não convertida, em 60 dias prorrogáveis ela perde eficácia. O congresso pode aprovar se alteração, com, não apreciar ou rejeitar expressamente. A aprovação sem alteração será promulgada pelo Presidente da Mesa do Congresso Nacional. Na aprovação com alteração, as emendas devem ser aprovadas pela outra casa.A não apreciação ou rejeição tácita por 60 dias implicará a sua prorrogação pelo mesmo prazo. Se não for apreciada, a MP perde sua eficácia desde sua edição (efeitos ex tunc). Se não for editado o decreto legislativo pelo CN para regulamentar as relações existentes durante a MP, as mesmas serão mantidas. A rejeição expressa ocorre quando o Congresso expressamente rejeita a conversão da MP em lei. Também nesse caso deve o CN editar decreto para regulamentar os efeitos decorrentes da MP. A CF aceita a possibilidade de uma MP ser reeditada em outra sessão legislativa mesmo tendo sido expressamente rejeitada pelo CN. O presidente não pode retirar de apreciação do congresso da MP já editada. Ele poderá, porém, ab-rogar esta MP por meio de outra, o que acarretará a suspensão dos efeitos da primeira. O congresso pode reestabelecer os efeitos da segunda MP se rejeitar a última editada. O decreto legislativo não está na CF, mas é disciplinado pelo regimento interno do congresso nacional, sendo de competência exclusiva dele. É ato normativo com força de lei, não estando sujeito à sanção ou veto presidencial. Ele disciplina assuntos de caráter genérico e de efeitos externos do CN. Sua aprovação se dá por maioria simples, com votações separadas nas casas e sua promulgação é feita pelo presidente do senado. Serve, principalmente, para transformar MPs e para aprovar tratados internacionais. Por fim, as resoluções veiculam manifestações de competência privativa câmara e do Senado, matérias concretas como a condenação do presidente por crime de responsabilidade e a suspensão de lei declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal em caso de ROBERTA BAGGIO 2016/2 HELENA FABRICIO controle difuso. Não estão sujeitas à sanção do presidente da república. São aprovadas por maioria simples, sendo sua promulgação efetivada pelo presidente da casa que a expedir. Importante, após tudo isso, uma breve análise da hierarquia das leis: CONSTITUIÇÃO > EMENDAS (e Tratados pós 2004) > Lei Complementar (Tratado pré 2004, supralegal) > Lei Ordinária (Tratado que não trata de direitos humanos) > Decreto Legislativo > Decreto Presidencial > Portaria. Por fim, cabem algumas críticas ao Processo Legislativo. A primeira falta de legitimidade da classe política e falta de aderência aos programas de governo para os quais foram eleitos. A segunda é a falta de tradição e experimentação de novas leis adotadas por processos legislativos em sistemas de civil law. A terceira é representada pelos problemas no sistema representativo nas decisões tomadas em grandes assembleias. A última é a falta de coerência entre as necessidades da implementação de uma determinada lei e os resultados que ela produz.
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