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FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE DIREITO
ATIVIDADE II
1. QUESTÃO I
1.1 FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
Os debates acerca da questão do foro por prerrogativa de função têm sido cada vez mais presentes nos últimos anos, quer seja na mídia, quer seja pelo cidadão médio brasileiro, muito devido aos contextos político, social, jurídico e econômico do país, aliado, certamente, a uma desconfiança e desprestígio das instituições pátrias. Tornou-se corriqueiro que a população se depare dia sim, dia não com notícias na grande imprensa que dissertam sobre uma variedade de denúncias, ou simplesmente casos, de corrupção por determinados ocupantes de cargos relevantes da administração pública a nível federal, estadual ou municipal, bem como membros dos três Poderes da República. Nesse diapasão, tornou-se comum também questionar o instituto do chamado foro por prerrogativa de função, ou mais popularmente conhecido como “foro privilegiado”, num ínterim de larga utilização desta prerrogativa para prolongar a duração do processo, bem como alterar o foro de julgamento para instâncias diversas. Assim, levando esses aspectos iniciais em consideração, pretende-se dissertar sobre os principais aspectos e pontos, sem pretender esgotar a temática, envolvendo o foro por prerrogativa de função, para depois se analisar rapidamente as notícias propostas com base na legislação e na jurisprudência concernente. 
Preliminarmente, deve-se ater ao mandamento constitucional que versa sobre a matéria. Logo, as origens do foro privilegiado neste atual período de Estado Democrático de Direito pós-88 se iniciam conjuntamente com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988[footnoteRef:1] (CF/88), embora outras Cartas já tenham tratado da matéria à época de suas vigências. Por se pretender analisar pontualmente o instituto para certas autoridades, opta-se por delimitar o entendimento aos cargos de Prefeito, Presidente da República, Deputados Federais e Senadores para uma compreensão pormenorizada. Desse modo, a CF/88 assevera em seu artigo 29, inciso X, que o “julgamento do Prefeito [será] perante o Tribunal de Justiça” (BRASIL, 1988, p. 19). Desse modo, entende-se que se Prefeitos cometerem ilícitos penais, a competência para o julgamento caberá ao Tribunal de Justiça do Estado a qual o munícipio se encontra vinculado. Citando a jurisprudência, esta encontra-se mansa e pacífica no Supremo Tribunal Federal, senão vejamos: [1: Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.] 
O Tribunal de Justiça do Estado, ressalvadas as hipóteses que se incluem na esfera de atribuições jurisdicionais da Justiça Federal comum, da Justiça Militar da União e da Justiça Eleitoral, dispõe de competência originária para processar e julgar os Prefeitos Municipais nas infrações penais comuns[footnoteRef:2]. (ADI 687, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 2-2-1995, Plenário, DJ de 10-2-2006, grifo nosso) [2: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI nº 687. Relator: Ministro Celso de Mello. Brasília, DF, 02 de fevereiro de 1995. DJ. Brasília, 10 fev. 2006. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=266491. Acesso em: 23 out. 2020.] 
No que se refere ao cargo de Presidente da República, segundo as normas constitucionais, somente cabe ao Tribunal Constitucional o processamento e julgamento deste mandatário. O artigo 102, I, b da CF/88 enumera diversas competências para o Supremo Tribunal Federal (STF), veja-se: “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe [...] processar e julgar, originariamente [...] nas infrações penais comuns, o Presidente da República” (BRASIL, 1988, p. 38). No tocante aos Deputados Federias e Senadores, a Constituição também dá competência ao STF para o julgamento criminal destes. É o que se extrai do art. 53, § 1º: “Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal” (BRASIL, 1988, p. 27). Resta, assim, configurado o foro concernente aos cargos de Prefeito, Presidente, Deputados Federais e Senadores – por delimitação – pelo mandamento constitucional.
Num segundo momento, necessita-se entender a doutrina especializada para a temática. Destarte, no magistério de Gilmar Mendes e Paulo Gustavo Bonet Branco, os relevantes constitucionalistas afirmam que “a Constituição Federal estabelece que determinadas autoridades gozam de prerrogativa de foro para o processo penal ou para o processo de responsabilidade [...]” (MENDES; BRANCO, 2019, p. 760) e acrescentam: “A prerrogativa de foro não se confunde com privilégio, como tem assoalhado certa doutrina [...] é justamente a peculiar posição dos agentes políticos que justifica o tratamento constitucional diferenciado em relação aos demais agentes públicos” (ibidem). Desse modo, os ensinamentos dos referentes juristas vão ao encontro do qual o objetivo do foro não é privilegiar certas categorias, até porque, veja-se, determinadas infrações não são alcançadas pela prerrogativa, cito, por exemplo, as infrações de improbidade administrativa e as do âmbito cível. 
Ademais, a construção teórica do conceito de foro privilegiado no Brasil o entende majoritariamente como um instituto jurídico-constitucional que tem a função de dar estabilidade e proteção ao exercício da atividade a ser desempenhada nos cargos mais relevantes, ou políticos, do sistema republicano. Tem-se aí, então, uma imunidade parlamentar do espectro formal. Já foi citado, a título de exemplo, que tal regra não se fixou somente na União, pois Prefeitos também dispõem de foro especial, na segunda instância judicial, bem como Governadores, na terceira instância de justiça. Essas autoridades, assim, terão o acesso à instância especial para o julgamento de ações criminais durante, e tão somente, no exercício do cargo ou mandato. Nucci (2016, p. 263) observa que o dispositivo
Não se trata de “odioso” privilégio, mas sim de “elementar cautela”, para amparar, a um só tempo, o responsável e a Justiça, por exemplo, a subversão da hierarquia, e para cercar o seu processo e julgamento de especiais garantias, protegendo-os contra eventuais pressões que os supostos responsáveis pudessem exercer sobre os órgãos jurisdicionais inferiores.
	Todavia, o STF, em 2018, por meio da Ação Penal (AP) 937[footnoteRef:3] veio a fixar nova tese no sentido de restrição do foro privilegiado aos crimes praticados no cargo e em razão do cargo. A linha de entendimento predecessora, fixada pela Súmula n. 394/STF[footnoteRef:4], hoje cancelada, entendia que “cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício” (STF, 2018). Era, certamente, uma interpretação mais extensiva daquele Tribunal, uma vez que alcançava todos os crimes do artigo 102, I, b e c da Constituição Federal, inclusive aqueles praticados antes da investidura no cargo ou que não se relacionavam ao exercício do cargo. A relatoria da nova teoria coube ao Ministro Luís Roberto Barroso, que entendeu que a prerrogativa de foro deveria servir apenas ao livre exercício das funções e não como uma salvaguarda para o cometimento de crimes, gerando impunidade. [3: STF. AP 937. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioTese.asp?tipo=TOP&tese=5803. Acesso em: 23 out. 2020.] [4: STF. Súmula 394. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=1588. Acesso em: 23 out. 2020.] 
O caso que se pede apontamentos relaciona-se ao ora Senador da República Flávio Nantes Bolsonaro, investigado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro pela suposta prática dos crimes, quando ainda Deputado Estadual no Rio de Janeiro, de peculato (art. 312 do CP/1940), lavagem de dinheiro(artigo primeiro da Lei n. 9.613 de 1988) e de constituição de organização criminosa (artigo segundo da Lei n. 12.850 de 2013). Filho do Presidente da República, ele nega todas as acusações e afirma que a investigação é ilegal, além de dizer sofrer perseguição política[footnoteRef:5]. [5: ÉPOCA. O que há de concreto contra Flávio Bolsonaro, segundo investigadores. 2020. Disponível em: https://epoca.globo.com/brasil/o-que-ha-de-concreto-contra-flavio-bolsonaro-segundo-investigadores-24619380. Acesso em: 23 out. 2020.] 
	Isso posto, até 26 de junho de 2020, o Senador era investigado no âmbito da primeira instância fluminense. Ocorre que, nesta data, o investigado foi beneficiado por uma decisão da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça daquele Estado, na qual a investigação não mais poderia ser seguida naquela instância inferior, mas sim na segunda instância, no Órgão Especial do TJRJ. Todavia, como já mencionado, o Supremo Tribunal Federal, corte máxima do sistema de Justiça – diga-se de passagem –, já havia vinculado novo entendimento fixado naquela AP 937. O Plenário compreendeu que os delitos praticados antes de atual mandato, por exemplo, e em função do cargo, deveriam ser processados na primeira instância da Justiça.
	Em frente de aparente contradição, urge relembrar a vinculação das decisões do STF a todos os tribunais inferiores do Estado brasileiro. Desse modo, o efeito vinculante foi introduzido através de Emenda Constitucional, a EC nº 03 de 17 de março de 1993[footnoteRef:6], no artigo primeiro: [6: BRASIL. Emenda Constitucional nº 3, de 17 de março de 1993. Altera os arts. 40, 42, 102, 103, 155, 156, 160, 167 da Constituição Federal. Brasília, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc03.htm. Acesso em: 23 out. 2020.] 
As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo.
	Não obstante, a jurisprudência daquele Tribunal passou a conferir também às Ações Diretas de Inconstitucionalidade a vinculação aos outros Poderes. Posteriormente, com a edição da Lei nº 9.868, em 10 de novembro de 1999 e, em seguida, com o advento da EC. nº 45, de 31 de dezembro de 2004, o efeito vinculante foi estendido expressamente à ADI.
	Diante da legislação e da jurisprudência, pode-se observar que a novidade introduzida pelo julgamento do HC de Flávio Bolsonaro no TJRJ expressamente contrariou o entendimento vinculante do STF. Lenio Streck, filósofo do direito atuante na área de hermenêutica, em comentário no site Consultor Jurídico (Conjur) assim descreveu o caso: 
O TJ-RJ errou. O foro de Flávio Bolsonaro é o primeiro grau. O fato de ter sido eleito senador não tem nenhuma importância. Os fatos são do tempo de Flávio Bolsonaro deputado. Terminou o mandato, volta ao primeiro grau. Aliás, um dos desembargadores, Paulo Rangel, escreveu sobre isso. Só que votou ao contrário do que disse. A matéria não se apresenta complexa [...][footnoteRef:7] [7: CONJUR. TJ-RJ contraria entendimento do STF ao manter foro especial de Flávio Bolsonaro. 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-jun-26/tj-rj-contraria-supremo-manter-foro-especial-flavio-bolsonaro. Acesso em: 23 out. 2020.] 
	Conclui-se, ante o exposto da fundamentação doutrinária, legislativa e jurisprudencial, que não há, até este momento, interpretação favorável na Corte Constitucional que comporte aquilo que ocorreu no caso do Senador Flávio Bolsonaro, no que se refere ao foro por prerrogativa de função. O que ocorre é uma hermenêutica extremamente extensiva – beira ser até mesmo criativa – no âmbito do TJRJ, para retirar o procedimento da primeira instância e cedê-lo a um Órgão Especial, porque, ora, entende-se que quando Deputado Estadual, o investigado teria, em tese, praticado crimes no exercício da função e em relação à função, assim, desde já, não há mais prerrogativa que se sustente através do tempo, posto que o Senador deveria ser julgado pelos supostos fatos no primeiro grau de jurisdição, como cidadão comum. O fato de ocupar acento no Senado Federal nada tem a ver com os fatos narrados enquanto ainda Deputado do Estado do Rio de Janeiro. Imperioso é relembrar as palavras do Ministro Luís Roberto Barroso, em questão de ordem na AP 937/STF, pois assinalou que aquele julgamento que cedeu nova intepretação ao foro especial seria 
Para assegurar que a prerrogativa de foro sirva ao seu papel constitucional de garantir o livre exercício das funções – e não ao fim ilegítimo de assegurar impunidade – é indispensável que haja relação de causalidade entre o crime imputado e o exercício do cargo. A experiência e as estatísticas revelam a manifesta disfuncionalidade do sistema, causando indignação à sociedade e trazendo desprestígio para o Supremo.[footnoteRef:8] [8: Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=748842078. Acesso em: 23 out. 2020.] 
	Nesse contexto, o Partido Rede Sustentabilidade ingressou com Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF, em 26 de junho de 2020, solicitando que o TJRJ mantivesse o processamento e investigação do caso Flávio Bolsonaro na primeira instância. Na referida ADI 6477, o Partido pede a aplicação da própria jurisprudência da Corte Constitucional, e no mérito “requer que o Supremo afaste qualquer interpretação do parágrafo 1º do artigo 102 da Constituição [...] do Rio de Janeiro que leve à prorrogação ou à extensão do foro [...] de função ao término do mandato de deputado estadual”[footnoteRef:9]. [9: Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=446531. Acesso em: 23 out. 2020.] 
	Diante de tudo isso, depreende-se, pois, que matéria acerca do foro por prerrogativa de função é complexa, delimita debates na doutrina, envolve divergências entre juízes, mas, em última análise, há de se ceder espaço privilegiado ao entendimento vinculante da Suprema Corte, que vai frontalmente de encontro ao caso Flávio Bolsonaro no que se refere ao foro especial e à intepretação criativa do TJRJ.
1.2 REELEIÇÃO DE PRESIDENTE DAS CASAS DO CONGRESSO NACIONAL
	Não é de hoje que se tem assentado diversos debates sobre a reeleição de Presidente de Casa Legislativa dentro da mesma legislatura, o que, num primeiro momento parece não ser abarcado por uma leitura literal do art. 57, § 4º da CF/1988 pelo qual: 
Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente (BRASIL, 1988, p. 28, grifo nosso).
Ocorre que, num contexto de isolamento social, como o que vem ocorrendo desde março de 2020, os Presidentes das Casas Legislativas federais ampliaram em muito os seus poderes, seja porque coube a eles exclusivamente a escolha do que seria votado em cada Casa, seja porque se tornaram influentes e protagonistas no combate à pandemia (pela aprovação de orçamento especial para o período) em contraste ao Chefe do Poder Executivo da União, que nega reiteradamente os perversos efeitos do Coronavírus na sociedade brasileira. É nesse contexto fático que se vislumbra uma articulação política até então só revelada por matérias jornalísticas[footnoteRef:10] de que Rodrigo Maia, Presidente da Câmara dos Deputados e Davi Alcolumbre, do Senado, tentam emplacar suas reeleições. Levando isso em consideração, pretende-se resumir a temática da reeleição desses Presidentes, analisar a legislação pertinente e a jurisprudência para se tentar responder ao questionamento: podem ser reeleitos os presidentes da Câmara e do Senado?	 [10: YAHOO. Alcolumbre articula sua reeleição na presidência do Senado. 2020. Disponível em: https://br.noticias.yahoo.com/alcolumbre-articula-sua-reelei%C3%A7%C3%A3o-na-124410166.html.Acesso em: 27 out. 2020.] 
Inicialmente, cumpre se destacar comentários ao mandamento constitucional acerca da matéria. Como já citado, o parágrafo que cuida sobre o tema é o 4º do artigo 57, mencionado ipsis litteris. A atual redação desta norma foi dada pela Emenda Constitucional n. 50/2006, que objetivava tão somente promover alteração de redação para algarismo que antes se encontrava por extenso, e hoje se concretiza em arábico. Nota-se que o fundamento da EC n. 50/2006 não foi o de promover ampla mudança de validade na norma, por isso entende-se que a redação do supramencionado parágrafo permanece como norma constitucional originária. No plano federal, pelo menos em uma leitura literal, fica proibida a recondução de Presidente dentro da mesma legislatura, o que não encontra semelhança obrigatória nos Estados, pois já há jurisprudência nesse sentindo fixada pela ADI n. 793/STF, ou seja, há margem para reeleição do Presidente de Assembleia Estadual, em sentido diverso na CF.
	Pelos usos e costumes fixados pelas duas Casas do Congresso Nacional, há uma interpretação que o art. 57, § 4º da CF/1988 só alcança as eleições realizadas dentro da mesma legislatura. Alguns parlamentes entendem, portanto, que não se considera recondução a eleição para mesmo cargo se fosse em legislatura diversa, mesmo que sucessiva. Nessa interpretação certamente extensiva, o mandamento constitucional não vedaria uma eleição para o terceiro ou quarto ano da legislatura. Inclusive, essa hermenêutica foi expressamente consignada no regimento interno da Câmara dos Deputados, art. 5º, § 1º, cuja aprovação ocorreu em 1989. Já no Senado Federal, interpretação semelhante foi positivada pelo Parecer n. 555/1988, da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Destarte, a interpretação que certos congressistas fazem da Constituição neste ponto específico é aquela no sentido que o parágrafo só impede o eleito no 1º ano da legislatura que venha a ser reeleito no 3º ano dessa mesma legislatura, além de, naturalmente, vedar a reeleição para além de um único período subsequente. Outros parlamentares ainda argumentam que com o advento da EC n. 16/1997, que possibilitou a reeleição para os chefes dos Executivos, há margem de intepretação legislativa também para a reeleição dos Presidentes das Casas, com base no art. 57, § 4º, da CF, e art. 59, caput, do regimento interno do Senado Federal, que cito: “Os membros da Mesa serão eleitos para mandato de dois anos, vedada a reeleição para o período imediatamente subsequente (Const., art. 57, § 4º)”.
	Embora seja polêmico o debate, a intepretação de certos congressistas encontra reflexo na opinião de relevantes constitucionalistas, como Michel Temer: 
Desses comandos deduz-se que o sistema montado no preceito cuida da legislatura. É dispositivo cuja aplicação se renova, a cada quatro anos, para aqueles quatro anos, lapso temporal de uma legislatura. Aplicado a cada legislatura, fica vedada a recondução para o mesmo cargo da Mesa na eleição imediatamente subsequente. Dele também se extrai que quem ocupar um cargo na Mesa pode candidatar-se a outro, na mesma legislatura. Essa é a interpretação do artigo 57, parágrafo 4º. Toda essa matéria já foi pacificada na Câmara quando o deputado Ulysses Guimarães foi reeleito, subsequentemente, em outra legislatura. Mas, para aqueles que se satisfazem com a interpretação literal, recomendo que se atenham ao vocábulo "imediatamente". O dispositivo impede reeleição para a eleição imediatamente subsequente, na mesma legislatura. Imediato é o que vem logo após. Mediato é o que vem depois. O constituinte nem sequer disse "na eleição subsequente", mas "na eleição imediatamente subsequente". O "imediatamente" significa logo após, na mesma legislatura. Deu-se ênfase, portanto, à ideia de que apenas na legislatura de quatro anos é que se impede a reeleição. Não é sem razão, portanto, que o regimento interno da Câmara não considera recondução a eleição para o mesmo cargo em legislaturas diversas.[footnoteRef:11] [11: TEMER, Michel. Reeleição no Legislativo. Folha de São Paulo. São Paulo, 14 dez. 1998. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz14129809.htm. Acesso em: 27 out. 2020.] 
	Bem como Celso Bastos: 
A leitura afoita do texto permite o entendimento de que a expressão "vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente" estaria a proibir a recondução do parlamentar consecutivamente. A teleologia do parágrafo não vai a esse ponto. Ela se restringe a regular o direito de eleição dentro de uma mesma legislatura, o que fica claro pela parte inicial, que fixa a data de 1º de fevereiro do primeiro ano da legislatura como momento para a eleição das Mesas. Findo o prazo de dois anos, contados a partir dessa data, é que surge a possibilidade de recondução. E é essa a recondução proibida pelo texto. Findos mais dois anos, encerra-se a legislatura e, consequentemente, a regulação do parágrafo 4º, que nada dispõe que ultrapasse a mesma legislatura; cada início seu equivale a um período inteiramente novo na vida congressual e profissional dos parlamentares.[footnoteRef:12] [12: BASTOS, Celso. Os atuais presidentes da Câmara e do Senado podem postular a reeleição?: interpretação correta das normas. Folha de São Paulo. São Paulo, 05 dez. 1998. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz05129810.htm. Acesso em: 27 out. 2020.] 
	Embora essa interpretação mais extensiva encontre suporte em nome de grandes juristas, como já citados, há outro constitucionalista relevante, José Afonso da Silva, discordante, que considera o ato “fraude à Constituição”, acrescentando que a prática seria também:
[...] grave violação à Constituição, que veda a recondução ao mesmo cargo da Mesa nas Casas do Congresso no período subsequente. É o que declara, lisamente, o parágrafo 4º do artigo 57 [...] não há nenhuma ressalva de que a vedação só valha na mesma legislatura e se admitiria, portanto, a recondução de uma legislatura para outra. Se a Carta quisesse restringir a recondução, nesse sentido, teria dito "vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente na mesma legislatura". Não o tendo feito, não é lícito ao intérprete introduzir regra não prevista, como seria o caso.[footnoteRef:13] [13: SILVA, José Afonso da. Os atuais presidentes da Câmara e do Senado podem postular a reeleição? Folha de São Paulo. São Paulo, 05 dez. 1998. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz05129809.htm. Acesso em: 28 out. 2020.] 
	Delimitada a complexidade do tema, urge se passar agora a uma rápida análise da judicialização dessa questão. Ocorre que no dia 09 de agosto de 2020 o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) ingressou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI n. 6.524[footnoteRef:14]) no STF. O partido sustenta que o artigo 5º, § 1º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, bem como a interpretação do citado Parecer n. 555, de 1998, da CCJ do Senado, contrariam o art. 57, § 4º, da CF, cujo texto não faria distinções entre as “eleições imediatamente subsequentes” (PTB, 2020, p. 05), sejam na mesma legislatura ou na seguinte e ainda que um entendimento diverso a este iria de encontro aos princípios democrático e republicano, bem como a suposta intenção do constituinte em vedar que minorias se perpetuem no poder. Da leitura da inicial desta ADI, observa-se que o partido, em nenhum momento, faz menção às notícias divulgadas pela mídia no que se refere a uma possível pretensão de reeleição do atual presidente do Senado. Resta observar, futuramente, como o pedido formulado na ADI poderá afastar uma interpretação que conduza à possibilidade de reeleição ou se se concretizará como uma maneira de legitimar a reeleição ao obrigar uma resposta por parte do STF. [14: PTB. ADI 6524. 2020. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753396247&prcID=5972250. Acesso em: 28 out. 2020.] 
Com todos esses argumentos em tela, fato é que já houve diversas reeleições de chefesdas Casas do Congresso – mesmo sem ter ocorrido qualquer processo formal de mudança do texto do artigo 57, § 4º, da CF. Passo a citar as reeleições: Antônio Carlos Magalhães (eleito para o biênio 1997-1998 e reeleito para o biênio 1999-2000), José Sarney (eleito para o biênio 2009-2010 e reeleito para o biênio 2011-2012) e Renan Calheiros (eleito para o biênio 2013-2014 e reeleito para o biênio 2015-2016), todos do Senado. Já na Câmara Federal cito: Michel Temer (eleito para o biênio 1997-1998 e reeleito para o biênio 1999-2000), Marco Maia (eleito para o biênio 2010-2011 e reeleito para o biênio 2012-2013) e Rodrigo Maia (eleito em 2016 para mandato-tampão, reeleito para o biênio 2017-2018 e, depois, para o biênio 2019-2020).
	Diante de todos esses casos, aparenta-se estar diante de um contexto fático contraditório. De um lado, a Constituição formal e escrita em 1988; do outro, a Constituição da realidade, tutelando fatos ao qual seu texto se projeta, ou seja, uma CF de 2020. As práticas dos congressistas neste século, por usos e costumes, parecem ter mudado o sentido do parágrafo 4º do artigo 57. Caberá ao Supremo Tribunal Federal, em sede de seu controle, reconhecer ou não o fenômeno da mutação, aliás, saber se essa mutação é, de fato, constitucional ou não. Por conta disso, se posicionar criticamente sobre o conteúdo da matéria é uma exercício de futurologia, pois aparentemente não há consenso entre juristas, especialistas em Direito Constitucional, ou parlamentares. O que há de concreto em andamento neste momento é uma Proposta de Emenda à Constituição, de autoria da Senadora Rose de Freitas, para permitir a reeleição do atual presidente Casa[footnoteRef:15]. O texto também dá aval para a recondução do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. [15: Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2020/09/03/interna_politica,1182113/senadora-anuncia-pec-para-reeleicao-de-alcolumbre-no-senado.shtml. Acesso em: 28 out. 2020.] 
	Depreende-se, pois, que com a ADI 6.524, o STF pode assentar definitivamente se o processo de mutação (ou não) em curso do artigo 57, § 4º, da CF é, de fato, constitucional. Existe uma possibilidade altíssima da Corte reconhecer, por outro lado, que a questão em discussão é de funcionamento interno do Congresso Nacional, portanto, interna corporis, o que ocasionaria o não reconhecimento do mérito da ADI. Aliás, vale relembrar que no Mandado de Segurança n. 34.574[footnoteRef:16], após negar o pedido de medida cautelar, o Ministro Celso de Mello não conheceu da impetração deste sob o argumento de que se tratava de questão de matéria interna corporis, ou seja, não possível de judicialização. Na verdade, a Ação do PTB pode facilitar a declaração de matéria de funcionamento interno, pois só existem três cenários neste momento: o STF pode reconhecer autonomia do Legislativo para tratar de suas próprias questões; o Tribunal pode desde já reconhecer que houve mutação constitucional no parágrafo em questão, por conta do costume parlamentar; ou declarar a inconstitucionalidade de determinadas normas dos regimentos das Casas (o que causaria, certamente, extremo desconforto entre os Poderes). [16: Disponível em: https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/433525839/medida-cautelar-em-mandado-de-seguranca-mc-ms-34602-df-distrito-federal-0000597-8420171000000. Acesso em 28 out. 2020. ] 
Concluo, portanto, que há de se esperar o desenrolar deste conflito na seara constitucional, além de relembrar que Cortes Constitucionais, normalmente, exercem poderes contramajoritários, quando invalida atos dos outros Poderes em nome da Constituição – tese que sou mais favorável e me filio. Assim, criticamente, entendo que há de se ater ao mandamento expresso do artigo 57, § 4º, da CF, inviabilizando reeleição de presidente nas Casas do Congresso Nacional. 
1.3 IMUNIDADES PARLAMENTARES E IMPEDIMENTOS OU INCOMPATIBILIDADES INERENTES AO CARGO
	O presente resumo pretende analisar, inicialmente, o instituto jurídico conhecido por “imunidade parlamentar” ou “imunidades parlamentares”, vez que se trata de um rol de diversas imunidades previstas na Constituição Federal. Num segundo momento, pretende-se analisar os impedimentos ou incompatibilidades inerentes ao cargo. 
	A imunidade parlamentar no Brasil está prevista no art. 53 da CF/88, no qual dispõe sobre a inviolabilidade parlamentar e o julgamento destes pelo Supremo Tribunal Federal. A imunidade é, pois, uma prerrogativa que os membros do Legislativo dispõem, inerente à função, para que possam atuar com independência e ampla liberdade no exercício de suas atribuições constitucionais e funcionais. Em seu magistério, Alexandre de Moraes entende que: 
Na independência harmônica que rege o princípio da Separação dos Poderes, as imunidades parlamentares são instrumentos de vital importância, visto buscarem, prioritariamente, a proteção dos parlamentares, no exercício de suas funções, contra os abusos e pressões dos demais poderes, constituindo-se, pois, um direito instrumental de garantia de liberdade de opiniões, palavras e votos dos membros do Poder Legislativo, bem como sua proteção contra prisões arbitrárias e processos temerários[footnoteRef:17] [17: MORAES, Alexandre. Direito Constitucional, 28ª ed: São Paulo: Editora Atlas, 2012, p. 456. ] 
	Flávio Martins vai ao encontro da concepção de Moraes, senão vejamos: 
Imunidade parlamentar é um conjunto de prerrogativas destinadas a assegurar o livre exercício da função parlamentar. Trata-se, portanto, de uma prerrogativa, e não de um privilégio. Enquanto o privilégio diz respeito à pessoa, a prerrogativa relaciona-se à função exercida, garantindo-lhe o livre exercício. Dessa maneira, a imunidade parlamentar não viola o princípio da igualdade, pois não se trata de um privilégio. Terminado o mandato parlamentar (seja por renúncia, perda do mandato, seja por encerramento do mandato) o parlamentar não prosseguirá com essa imunidade, pois não é um atributo pessoal, mas relacionado à função por ele exercida (MARTINS, 2019, p. 1766)
	Considera-se que há duas formas de imunidade parlamentar: uma, que seria material, real ou substantiva; a outra, formal, processual ou adjetiva. O primeiro caso relaciona-se à irresponsabilidade penal e civil por opiniões, palavras ou votos dos parlamentares. É previsão expressa do caput do art. 53 da CF: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos” (BRASIL, 1988, p. 27). Essa imunidade ultrapassa os muros da Casa Parlamentar e se estende para demais espaços. A jurisprudência assim preleciona esse entendimento: 
[...] a cláusula de inviolabilidade constitucional, que impede a responsabilização penal e/ou civil do membro do Congresso Nacional, por suas palavras, opiniões e votos, também abrange, sob seu manto protetor, as entrevistas jornalísticas, a transmissão para a imprensa, do conteúdo de pronunciamentos ou relatórios produzidos nas Casas Legislativas e as declarações feitas aos meios de comunicação social, eis que tais manifestações – desde que vinculadas ao desempenho do mandato – qualificam-se como natural projeção do exercício das atividades parlamentares (Inq. 2.332 AgR, rel. Min. Celso de Mello)
	Acerca da imunidade formal, tem-se que “Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão” (Art. 53, § 2º da CF). Desse modo, Senadores e Deputados não podem ter contra si decretadas prisão preventiva, nem prisão temporária
Levando essas imunidades em consideração, cumpre analisar criticamente os apontamentos propostas. A ora notícia se relaciona a infeliz declaração do Deputado Federal Eduardo Nantes Bolsonaro sobre a Corte Constitucional brasileira: “[...] se quiser fechar o STF, você sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Nãoé querer desmerecer o soldado e o cabo não”.[footnoteRef:18] Nesse sentido, entendo que mesmo que a fala seja de um Deputado Federal, mereceria sim representação na Procuradoria-Geral da República, porque a fala não estava relacionada ao cargo, tratava-se de aula do Deputado para uma turma de concurseiros. No entanto, a PGR optou por não se manifestar publicamente sobre o assunto. O Ministro Alexandre de Moraes, contudo, disse publicamente que a fala de Eduardo Bolsonaro era irresponsável e cobrou investigação. Passado dois anos, nenhuma punição recaiu contra o Deputado Federal. [18: BRASIL, Agência. Eduardo Bolsonaro diz que basta "um soldado e um cabo" para fechar STF. 2020. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-10/eduardo-bolsonaro-diz-que-basta-um-soldado-e-um-cabo-para-fechar-stf. Acesso em: 29 out. 2020.] 
Num segundo momento, resumo os impedimentos inerentes ao cargo. Assim, em Estados Democráticos de Direito, como aquele inaugurado em 1988, no Brasil, através de sua Carta Magna, é comum se observar no âmbito dos Poderes Estatais certos impedimentos ou incompatibilidades que são atribuídos a determinados agentes públicos. O resumo que se pretende abordar daqui em diante trata dos impedimentos inerentes aos cargos do Poder Legislativo, mais especificamente dos ocupantes do Congresso Nacional: Deputados Federais e Senadores. A razão de tais incompatibilidades é justificável para se perseverar a autonomia e a independência entres os Poderes da República, inclusive sob expresso mandamento constitucional, in verbis: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (BRASIL, 1988, p. 09). Ademais, esses mecanismos visam impedir o uso ou abuso da autoridade do cargo para benefício pessoal dos eleitos. Isso porque a doutrina mais especializada entende, bem como a sociedade em geral, a relevância e magnitude da função pública exercida por Deputados Federais e Senados (em reflexo também a Deputados Estaduais e Vereadores), ora, são estes os titulares de mandatos legislativos de quatro ou oito anos, que gozam de diversas prerrogativas, remuneração adequada e doravante prestígio no cenário político e social da Federação. Além disso, as incompatibilidades surgem para combater o exercício duplo de certas atividades pelos eleitos, haja vista que a relevância do cargo é de tal modo importante que não seria correto exigir ou permitir que parlamentares dedicassem seus esforços em outras funções ou trabalhos. Tudo isso para se coadunar com o caput do art. 37 da CF: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]” (ibidem, p. 21).
	Introduzida a temática, necessário é apresentar as incompatibilidades ou impedimentos. Posto isso, os impedimentos são regrados no ordenamento jurídico por meio de regras proibitivas que incidem diretamente sobre a conduta do titular do mandato ao qual foi eleito. Assim, as vedações se estendem desde a prática de certos atos negociais como também do exercício de determinadas atividades que o legislador primário considerou importante incompatibilizar. Mais uma vez, as regras impeditivas possuem, se não, o condão de evitar que o parlamentar fique comprometido, como por exemplo, com sua autonomia enquanto membro de um Poder do Estado. Dito isso, recorro à doutrina mais especializada para entendimento profundo da temática. Porquanto, cito José Afonso da Silva com uma definição elementar acerca dos impedimentos: 
São regras que impedem o congressista de exercer certas ocupações ou praticar certos atos cumulativamente com seu mandato. Constituem, pois, impedimentos referentes ao exercício do mandato. Referem-se ao eleito. Não interditam candidaturas, nem anulam a eleição de quem se encontre em situação eventualmente incompatível com o exercício do mandato. São estabelecidas expressamente no art. 54, determinando umas desde a expedição do diploma do eleito, outras apenas desde a posse no mandato (SILVA, 1994, p. 1994)
	Ademais, o instituto também encontra uma definição importante no magistério de Pinto Ferreira: 
 [...] incompatibilidade é o impedimento do parlamentar para acumular o seu mandato legislativo com outras situações que ele possuía antes do pleito [...] destarte, ocorrendo a incompatibilidade, o cidadão eleito abandona o cargo incompatível para exercer o seu mandato ou então perde o seu mandato para continuar no cargo (FERREIRA, 1992, p. 03)
	Com o auxílio da doutrina brasileira, pode-se perceber a relevância do instituto aqui em estudo, muito porque este serve para estabelecer limites práticos que, quando não imperativos, poderiam por em dúvida a real efetividade dos princípios fundamentais da administração pública elencados no caput do art. 37 da CF. Foi mister para o legislador primário punir aqueles que não respeitassem os impedimentos previstos com a perda do mandato legislativo, com direito à ampla defesa e contraditório, tal como expresso no art. 55, I da CF: “Perderá o mandato o Deputado ou Senador: [...] I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior” (BRASIL, 1988, p. 27). O artigo anterior a que a norma se refere é justamente a regra dos impedimentos, esboçada no art. 54 e seus dois incisos. 
Nesse diapasão, o art. 54 da Carta Magna elenca um rol taxativo de impedimentos aos Deputados e Senadores. A doutrina, até hoje, tem se mantido unânime no sentido de que essas incompatibilidades do referido artigo não são exemplificativas, e não comportam interpretações extensivas e nem podem ser ampliadas pela legislação infraconstitucional. Ademais, importante mencionar que todas as incompatibilidades não atingem membros familiares do parlamentares (numerus clausus), nem abrangem a possibilidade de contratação de pessoas jurídicas de direito público não elencadas taxativamente no comando constitucional que se analisa.
Isso posto, passo a analisar as espécies de impedimentos previstas na norma constitucional. A doutrina entende que elas são no número de quatro: negociais, profissionais, funcionais e políticas e podem ser desde a expedição do diploma ou desde a posse. A primeira espécie está prevista no inciso I, a, do art. 54, portanto é proibida desde a expedição do diploma, in verbis: “[...] firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes” (BRASIL, 1988, p. 27). Assim, esta primeira incompatibilidade de ordem desde a expedição do diploma pode ser justificada pela própria natureza e relevância da atuação parlamentar, porque visa atender aos princípios da administração pública, em especial à moralidade, impessoalidade e publicidade. O legislador primário entendeu, corretamente, que os membros de seu Poder deveriam ter limites quando do contrato com determinadas entidades públicas, já desde a diplomação, pois se não assim o fosse, poderia ocorrer uma desigualdade de oportunidades para todos os administrados, haja vista que, teoricamente, um parlamentar poderia ter mais vantagem, em função de sua demasiada influência, no momento de celebrar contratos, obtendo as melhores vantagens neste. Convém lembrar que parlamentares atuam como fiscalizadores da ordem pública, das entidades públicas, etc. Posto isso, não seria uma contradição se parlamentares contratassem entidades as quais eles próprios fiscalizam? Sob pena de afrontar a impessoalidade e a moralidade, a CF permite apenas, e tão somente, os contratos uniformes, também chamados de contratos de adesão, porque estes contêm cláusulas idênticas a todos os contraentes.
	O segundo impedimento é aquele de ordem profissional, previsto no artigo 54, inciso II, alínea “a” da Constituição Federal, portanto, fica o parlamentar impedido desde a posse. Vejamos: “[...] ser proprietários,controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada” (BRASIL, 1988, p. 27). Por força do dispositivo, fica o Deputado Federal ou Senador impedido de ser proprietário, controlador ou diretor de qualquer empresa que goze de favor estabelecido em contrato com pessoa jurídica de direito público, ou ainda de nela exercer função com remuneração. Entende-se, pela doutrina, que o termo “empresa” deve ser aquele realmente elementar, como sendo empresa em seu conceito econômico, por isso a vedação alcança somente empresas propriamente ditas, com finalidades lucrativas. A norma nada fala, portanto, daquelas entidades beneficentes ou filantrópicas, como a Maçonaria, pois são consideradas sem fins lucrativos. Outra incompatibilidade de natureza profissional, desde a posse, é aquele prevista na alínea “c” do referido inciso: “patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, ‘a’” (ibidem). Essa vedação é direcionada de forma específica aos advogados (vide os artigos 1º, I, e 3º do Estatuto da Advocacia, que estabelecem atividade privativa do advogado postular em juízo) que venham a tomar posse como Deputado ou Senador, porque impede o patrocínio de causa em que a interessada seja pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público. Mais uma vez, essa ordem de impedimentos se coaduna e se adapta ao caput do art. 37 da Carta Magna. 
	O terceiro tipo de impedimento se relaciona à ordem funcional, previsto no art. 54, incisos I, “b”, e II, “b” da CF/1988. Assim dispõe a primeira alínea anterior: “aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis ad nutum, nas entidades constantes da alínea anterior” (BRASIL, 1988, p. 27) e “b” do inciso II assevera: “ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad nutum, nas entidades referidas no inciso I, a” (ibidem). Desse modo, esses impedimentos funcionais podem ocorrer desde a expedição do diploma, bem como após a posse, por forças dos incisos citados. Nessa sistemática, fica proibido ao Deputado ou Senador aceitar ou exerçer qualquer espécie de função remunerada, inclusive aquelas de livre nomeação e demissão, nas entidades que são pessoas jurídicas de direito público: autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista ou empresas concessionárias de serviço público. As normas citadas, assim, devem ser observadas desde a diplomação pela Justiça Eleitoral. Caso o parlamentar já estava no exercício profissional (o que ocorre em diversos casos), deverá afastar-se do cargo, retornando somente após o encerramento do mandato eletivo.
A quarta e última espécie de incompatibilidade fica na ordem política, prevista no art. 54, inciso II, “d” da CF. Portanto, é impedimento que ocorre desde a posse. Vejamos: “ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo” (BRASIL, 1988, p. 27). José Afonso da Silva é cirúrgico ao definir as incompatibilidades políticas, pois assevera que elas são
[...] as que proíbem os congressistas de serem titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo, o que vale dizer que a pessoa não pode ser ao mesmo tempo Deputado e Senador, ou Deputado e Vereador, ou Senador e Prefeito, ou Senador e Vice-Presidente, ou Deputado e Vice-Governador; ou Deputado e Vice-Prefeito, como aconteceu muito no regime da Constituição anterior, que vedava apenas exercer outro cargo eletivo (SILVA, 1994, p. 508)
	Acerca da jurisprudência, cito um julgado correlato no âmbito do STF. Trata-se do Mandado de Segurança 21.266, de relatoria do Ministro Célio Borja. In verbis: 
As restrições constitucionais inerentes ao exercício do mandato parlamentar não se estendem ao suplente. A eleição e o exercício do mandato de prefeito não acarretam a perda da condição jurídica de suplente, podendo ser legitimamente convocado para substituir o titular, desde que renuncie ao mandato eletivo municipal[footnoteRef:19]. (MS 21.266, rel. min. Célio Borja, j. 22-5-1991, 1ª T, DJ de 22-10-1993) [19: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança nº 21266. Relator: Ministro Célio Borja. Brasília, DF, 22 de maio de 1991. DJ. Brasília, 22 out. 1993. p. 215-242. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=85471. Acesso em: 29 out. 2020.] 
Portanto, observa-se que esta incompatibilidade é primordial para o atual avanço do Estado Democrático de Direito brasileiro, uma vez que não seria moral, justo, que um já ocupante de cargo eletivo pudesse absorver outro cargo eletivo concomitantemente. Não seria exequível nem para o orçamento estatal quanto menos para a opinião pública, o que reforça, nesta matéria de estudo, diversos acertos do legislador primário na elaboração da nova Carta de Direitos Fundamentais, quando se observa a triste história republicana do Brasil.
Concluo, assim, que a necessidade e a existência tanto das imunidades como dos impedimentos parlamentares são um marco essencial pela exatidão da atribuição constitucional, porque resguarda a função parlamentar, e ocasiona imensa importância para o pleno funcionamento das instituições no Brasil. 
2 QUESTÃO II
2.1 ESTUDO SOBRE AS ESPÉCIES LEGISLATIVAS
	Quando se pensa nas espécies legislativas, há de se inclui-las num conjunto de formalidades que devem ser estritamente seguidas dentro do processo legislativo pátrio. Essas formalidades garantem a coesão do ordenamento jurídico e são requisitos de validade para a construção da lei. As espécies legislativas são tratadas pela Constituição Federal, no art. 59 do Título IV da Organização dos Poderes, sendo num total de sete: emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. 
	A primeira espécie legislativa (emenda à Constituição) visa à alteração do próprio texto constitucional, atribuída ao poder constituinte derivado. O art. 60 da subseção II elenca as possibilidades de se emendar a CF, e de quem pode propor essas emendas, vejamos: um terço da Câmara ou do Senado Federal; o Presidente da República ou mais da metade das Assembleias Estaduais, cada uma delas pela maioria relativa de seus membros. Além disso, não poderá se delibar sobre proposta tende a abolir cláusulas pétreas do texto constitucional (Art. 60, § 4º). Necessita de votação em dois turnos, em cada Casa, com maioria qualificada (três quintos) e matérias rejeitadas não podem ser propostas na mesma sessão legislativa. Ao final, a CF não pode ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de sítio. 
	A Lei complementar, como espécie legislativa, serve para regulamentar determinados assuntos que a Constituição não pretendeu ser mais específica. Desse modo, o parágrafo único do art. 59 é inequívoco: “Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis”. As leis complementares se destacam pela necessidade de um quórum qualificado para sua aprovação, diferindo, portanto, da lei ordinária. Sob o ponto de vista material, esta espécie é importante instrumento de operacionalizar comandos do texto constitucional, porque o seu objetivo é, literalmente, complementar a Constituição. Nesse sentido, tem-se que as matérias reservadas à lei complementar vêm expressamente no texto da CF. Determinados doutrinadores entendem que esta espécie hierarquicamente superior à lei ordinária, outros discordam dessa posição. 
	A lei ordinária, nesse ínterim, é um ato legislativo típico, porque edita normas gerais e abstratas. É o principal veículo legislativo de execução da ordem jurídica, típico instrumento do direito positivo hodierno. Nelson de Sousa Sampaio (1968, p. 72) aplica um conceito por exclusão para definir lei ordinária, onde “toda lei que não trouxer o título de complementar é ordinária” e acrescenta: 
Embora o art. 59 da Constituição Federal, ao catalogar os atos legislativos,fale em leis ordinárias, o adjetivo é empregado pela necessidade de distinguir entre essa variedade e as leis complementares e leis delegadas. Fora daí o qualificativo das leis ordinárias só aparece no art. 69, que se refere ao processo de votação das leis complementares. Na prática, a lei ordinária será denominada simplesmente lei, isto é, sem adjetivação (SAMPAIO, 1968, p. 72)
	Outra espécie legislativa relevante é a lei delegada, pormenorizada no art. 68: “As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional” (BRASIL, 1988, p. 30) Portanto, trata-se de uma exceção do procedimento legislativo, na qual o Presidente da República expressamente solicita ao Congresso Nacional, e cabe somente a este órgão anuir ou não. É uma tendência observada também em diversos sistemas contemporâneos, procurando delegar determinados assuntos a um procedimento mais rápido para presidentes. Diversas são as exceções para as matérias que podem ser delegadas. Assim, não se pode delegar: atos de competência exclusiva do Congresso, matéria de lei complementar, planos orçamentários, questão de nacionalidade, cidadania, direitos individuais e políticos. Assim, leis delegadas estão restritas às matérias que não tratem de direitos fundamentais, da organização dos poderes e de planos orçamentários, entre outros, porque delegar significa autorizar alguém a exercer temporariamente e limitadamente a função legiferante.
	Ademais, tem-se Medida Provisória como instrumento legislativo no ordenamento. Para a edição de MP deve se observar condições para a sua existência, que diferem das demais espécies legislativas vistas até aqui. Primeiro porque não basta ter competência constitucional, terá de se observar a relevância e a urgência, bem como o prazo de duração de 60 dias a partir de sua publicação, podendo ser prorrogado por mais 60. Assim, as MP têm força de lei durante a vigência, mas caducam quando não aprovadas pelo Poder Legislativo. Podem ser convertidas em lei, se aprovadas pelo Congresso Nacional com trâmite específico. Contudo, a edição dessas Medidas encontra diversas vedações sobre matéria, conforme o § 1º do art. 62 da CF, por exemplo, não podem tratar de direito penal, processual penal ou processual civil. 
	Outrossim, tem-se a figura do decreto legislativo. É um ato com força de lei ordinária e de exercício exclusivo do Congresso Nacional, independente de sanção presidencial. Serve para tratar de tratados, acordos ou atos internacionais que acarretam encargos ao erário.
	Por fim, as resoluções. São espécies legislativas que podem ser atos administrativos ou de outra natureza, aprovados pela Câmara, Senado ou Congresso Nacional. Quando for um ato administrativo, a resolução tratará de organização interna, regimento, estrutura administrativa, etc. Quando for de outra natureza, pode tratar de suspensão de execução de lei inconstitucional, como também ceder autorização de operações externas de natureza financeira, fixar limites para as dívidas da União, etc. 
2.2 ANÁLISE DAS NOTÍCIAS, APONTAMENTOS SOBRE A ESPÉCIE E O DEVIDO CURSO DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO
	Por fim, cumpre se analisar cada notícia para se apontar a espécie legislativa e o curso do procedimento legal. 
2.2.1 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 106 OU “PEC DO ORÇAMENTO DE GUERRA”
	É uma emenda à Constituição promulgada pelo Congresso Nacional em 07 de maio de 2020, visando facilitar os gastos públicos no combate ao Coronavírus ao permitir a separação do orçamento e dos gastos decorrentes da crise sanitária do orçamento geral da União, ou seja, os custos contra a pandemia não precisam atender exigências de controle do uso de recursos públicos, como a regra de ouro. Como proposta, correu sob o número 10/2020, tendo sido aprovada em tempo inédito. Popularmente, ficou conhecida como “PEC do Orçamento de Guerra” por permitir o descumprimento da regra de ouro, criar despesas, beneficiar empresas para atuarem no combate do vírus, facilitar contratações temporárias, mesmo que não estejam previstas na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que autoriza esse tipo de gasto. Seguiu um tempo certamente rápido para sua aprovação, uma vez que foi apresentada em 17 de abril de 2020. Entendo que a emenda viola o procedimento legislativo de emendas constitucionais, por se tratar de situação breve e passageira. Emendar o texto constitucional diante de qualquer brevidade e arrombo passageiro não se configura a razão de ser de uma emenda constitucional. 
2.2.2 MEDIDA PROVISÓRIA Nº 914/2019
	Foi uma Medida Provisória editada pelo Palácio do Planalto em 24 de dezembro de 2019. Ela alterou o rito para eleição e nomeação de reitores de instituições federais de ensino, para que o Presidente da República pudesse deixar de acatar o nome mais votado dentro da lista tríplice de candidatos apresentada pela instituição. Tradicionalmente, o reitor é escolhido pelo conjunto dos professores, técnicos-administrativos e alunado, por meio de votação. Os três mais votados compõem uma lista, a qual, em geral, o mais votado é confirmado pelo Chefe do Executivo, para um mandato de quatro anos. A MP em questão estabeleceu regras para a consulta à comunidade acadêmica, sendo obrigatória e de forma eletrônica, com voto facultativo. Os professores teriam peso de 70% dos votos, demais servidores teriam peso de 15%, bem como os alunos. Esta MP perdeu a eficácia no dia primeiro de junho de 2020, por não ter sido chancelada pelo Congresso. Questiona-se, assim, qual a urgência e relevância em editar uma MP para a escolha de reitores nas Universidades Federais? É de se estranhar a atual intenção deste governo em tentar burlar a autonomia universitária – inclusive prevista na CF. Espera-se, pelo contexto de desrespeito à vontade acadêmica, que o STF fixe entendimento final sobre a nomeação de reitores através da ADI 6565.
2.2.3 PLP Nº 39/2020
	O PLP nº 39/2020 foi um Projeto de Lei Complementar apresentado em 04 de maio de 2020 que visava estabelecer o Programa Federativo de Enfretamento ao Coronavírus, além de pretender alterar a Lei Complementar nº 101/2000. Foi devidamente aprovado e transformado na Lei Complementar nº 173, em 27 de maio de 2020. Os objetivos estão voltados a socorrer estados e municípios, que sofrem as consequências da crise, além de congelar salários, benefícios e outros itens da remuneração de todas as esferas de Poderes. O projeto é prejudicial ao servidor público em diversos sentidos, uma vez que não permite contar o tempo de trabalho como período aquisitivo necessário exclusivamente para a concessão de anuênios, triênios, quinquênios, licenças-prêmio e demais mecanismos equivalentes. Essas situações aumentam a despesa com pessoal, em decorrência da aquisição de determinado tempo de serviço, sem qualquer prejuízo para o tempo de efetivo exercício, aposentadoria, e quaisquer outros fins. Desse modo, apesar de ter seguido o curso correto sob o ponto de vista legal, reduz benefícios aos servidores públicos, que num momento de pandemia não deveriam ser deixados de lados pelo Poder Público. 
2.2.4 LEI Nº 11.340/2006 OU “LEI MARIA DA PENHA”
	É uma lei ordinária sancionada em 07 de agosto de 2006 pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com 46 artigos distribuídos em sete capítulos, ela cria diversos mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Plenamente conforme com o texto constitucional, esta lei se adequou também a tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro, como a Pacto de San José da Costa Rica. A lei estabelece, por exemplo, que todo o caso de violência doméstica e intrafamiliar é crime, e deve ser apurado através de inquérito policial e ser remetido ao Ministério Público. Esses crimes são julgados nos Juizados Especializados de Violência Doméstica contra a Mulher, criados a partir dessa legislação, ou, nas cidades em que ainda não existem, nas Varas Criminais. Também tipifica as situações de violência doméstica, proíbe a aplicação de penas pecuniárias aos agressores,amplia a pena de um para até três anos de prisão e determina o encaminhamento das mulheres em situação de violência, assim como de seus dependentes, a programas e serviços de proteção e de assistência social. Passou a ser chamada Lei Maria da Penha em homenagem à mulher cujo marido tentou matá-la duas vezes e que desde então se dedica à causa do combate à violência contra as mulheres. Trata-se, portanto, de legislação extremamente necessária – que seguiu o rito legislativo adequado –, para uma sociedade que violenta e mata mulheres no âmbito familiar todos os dias. 
REFERÊNCIAS
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