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PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO DIREITO PROCESSUAL CIVIL II 1. SENTENÇA a) Conceito de Sentença Há um conceito tradicional que determinava que a “sentença é o ato através do qual o juiz põe fim (termo) ao processo”. Foi muito utilizado no CPC de 1973. Atualmente, porém, que o processo não se extingue obrigatoriamente. A sentença pode, então, dar fim ao processo – mas nem sempre é assim. Isso porque é o recurso que acaba cumprindo essa função. Dizemos, então, que a sentença extingue a fase cognitiva, primária. Dessa forma, o processo faz coisa julgada, mas cabe às partes decidir recorrer ou não. É possível, então, tanto a extinção na fase cognitiva quanto no recurso. Percebe-se, então, que existem vários conceitos conflitantes de sentença. Podemos falar, porém, na utilização de quatro conceitos principais: 1) Sentença como ato que dá fim ao processo; 2) Sentença como ato que gera o termo do processo; 3) Sentença como ato que conclui a fase cognitiva; 4) Sentença como ato do juiz que finda o processo. b) Sentença Terminativa X Sentença Definitiva A sentença definitiva é aquela que resolve o mérito da demanda. Já a sentença terminativa encerra o processo sem manifestação sobre o mérito. Isso, porém, levanta uma discussão sobre o que seria o mérito. No processo civil fático, o mérito é vinculado a “acolher ou rejeitar o pedido do autor”, ou seja, o inciso I do art. 487 dá origem às sentenças definitivas. Os demais são casos impróprios de mérito, mesmo que constem no mesmo artigo. Já os casos sem análise de mérito, que dão origem à sentença terminativa, são vinculados ao art. 485. São exemplos indeferir a iniciação ou verificar ausência de legitimidade processual. c) Questão Prejudicial X Questão Preliminar Importante, aqui, compreender os conceitos de questão prejudicial e preliminar ao mérito. As preliminares ao mérito são aquelas questões que dizem respeito ao mérito, mas não se confundem com ele, sendo capazes de impedir o seu julgamento. Normalmente são pressupostos e condições da ação. É exemplo falta de legitimidade para integrar o processo. Já as questões prejudiciais são aquelas que não inviabilizam o julgamento de mérito, mas sim direcionam o resultado do julgamento. É, geralmente, vinculada ao caso fático. Ela interfere, então, no modo como o mérito será resolvido. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO As questões prejudiciais podem ser heterônimas ou homônimas. As heterônomas são aquelas que abrangem mais de um campo do direito, a exemplo da bigamia: o casamento é instituto do direito civil, e a bigamia do direito penal; o casamento válido é uma prejudicial no processo de bigamia. Já as questões prejudiciais homônimas são aquelas em que tanto a questão principal como a prejudicial estão no mesmo ramo do direito. É exemplo o pedido de alimentos, não cumulado com ação de paternidade: a paternidade ser procedente ou não interfere no modo como se resolverá o mérito da pensão alimentícia. Outro exemplo aqui é a receptação, que tem como prejudicial o crime de furto ou roubo. Então, quando a razão de decidir da sentença for uma questão preliminar, não há impedimento para que se instaure outro processo, com causa de pedir distinta, sobre a mesma questão, já que o mérito não foi resolvido. Já se a sentença teve como base a decisão sobre uma questão prejudicial, o mesmo pedido não poderá ser objeto de novo processo, ainda que tenha causa de pedir distinta, mantidas as mesmas circunstâncias. d) Orientação atual é a preservação do processo Em prol da efetividade real, permite-se que sejam sanados os defeitos que impediram o julgamento de mérito. Isso para garantir que seja resolvida a lide, de fato. A orientação atual do Código é, então, tentar salvar o processo. É exemplo o prazo para extinção por abandono: a extinção do processo, nesse caso, só ocorre a pedido do réu. Há, ainda, a possibilidade de o juiz retratar sua decisão em 5 dias úteis, com ou sem pedido da parte. Deste juízo de retratação não cabe recurso, pois não consta no art. 1015. É possível, inclusive, retratar-se da extinção, nulificando sentença terminativa. e) Composição da Sentença Uma sentença, na maioria das vezes, tem três partes. São elas o relatório, fundamentação e parte dispositiva. No relatório o juiz faz menção aos principais acontecimentos. Ele não é, porém, essencial, a exemplo da lei dos juizados especiais que os dispensa. Após o relatório vem a fundamentação, onde são analisadas questões de fato (se houver) ou de direito. Cabe ao juiz fundamentar somente os fatos controvertidos, delimitando-se à lide. A sentença sem fundamentação é nula. O art. 489 determina que não podem ser invocados motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão, mas isso é controverso, uma vez que em ações semelhantes é comum o uso de “modelos”. Por fim, na parte dispositiva, a decisão de fato é proferida. São aqui resolvidas as questões principais. Essa última acaba sendo a fase mais sucinta, sendo que poderia ser mais detalhada. A sentença deve conter relação com o pedido. f) Defeitos na Sentença 1) Extrapetita: É a sentença que não guarda relação com o pedido formulado na petição inicial. O autor pede A e o juiz tutela B. O recurso deve pedir a anulação da sentença. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO 2) Ultrapetita: É a sentença que concede além do que foi pedido na inicial. O autor pede apenas A e o juiz dá A e B. Cabe recurso para reformá-la, corrigi-la. 3) Citrapetita: É a sentença que não aprecia todos os pedidos, de modo que o juiz ignora um deles. O autor pede A e B, e o juiz só julga e fundamenta sua decisão sobre A. Caso a instrução do processo não tenha sido suficiente para analisar, a sentença será anulada e o juiz deve proferir nova. Se a instrução foi correta, o tribunal recursal só reforma a sentença. • Infrapetita não há nenhum vício, pois é aquela em que o juiz tutela parcialmente o pedido. É exemplo quando peço 100 mil, mas ganho apenas 80 mil. g) Impugnação da Sentença Os principais meios de impugnação da sentença são os recursos. O recurso ocorre no mesmo processo. É possível, também, ação rescisória (busca desconstituir a coisa julgada), ação declaratória de nulidade, pedido de reconsideração (não está previsto legalmente, mas pode ser feito pedido pelas partes) e embargos de declaração com efeito infringente (tratam de defeitos como falta de contagem de prazo ou ausência de intimação). h) Classificação das Sentenças Podemos classificar as sentenças de algumas formas. Cabe dizer que, normalmente, uma sentença pode envolver mais de uma dessas situações, sendo que a classificação se dá pela predominância de uma delas. 1) Declaratória: não cria nada, apenas declara a existência ou não de uma situação jurídica. Possui efeitos ex-tunc. 2) Condenatória: Não é auto satisfatória. Condena a pagar dívida, mas é necessário título executivo. 3) Constitutiva: É auto satisfatória. A própria sentença cria, modifica ou extingue a situação jurídica. 4) Mandamental: Relacionada as obrigações de fazer e não fazer, atuando sobre a vontade da parte demandada. Existem, nela, dois elementos: uma ordem e uma sanção. 5) Executiva Lato Sensu: Não precisa de processo de execução para realizar-se. A própria sentença tem carga para execução. É utilizada para tutela de pretensões de restituição de bem. Cabe uso da força coercitiva estatal. i) Existênciada Sentença O requisito essencial para a existência da sentença é que seja proferida por um órgão jurisdicional diante de um processo (demanda). Já a validade da sentença requer sua publicação. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO 2. COISA JULGADA a) Conceito de Coisa Julgada O CPC de 1973 determinava que só fazia coisa julgada a parte dispositiva da sentença, o que significa que os motivos e a fundamentação não transitavam em julgado – salvo se alguém propusesse ação declaratória incidental (ação dentro da principal que incide sobre o fato). O motivo e a fundamentação podiam, então, ser “reutilizados”. Já o novo CPC diz que o motivo determinante também faz coisa julgada. O que mudou, então, foi essa capacidade de os motivos gerarem coisa julgada. Os motivos são vinculados à “ratio decidendi”, ou seja, razão de decidir, o que levou o juiz à decisão. A coisa julgada é uma garantia constitucional, estando junto do direito adquirido e do julgamento perfeito. Na última década, houve uma relativização da coisa julgada, mostrando que é possível, inclusive, rescindi-la. A importância, então, da coisa julgada é que ele reveste a coisa julgada material (de mérito), tornando imutável o que foi decidido pelo judiciário. Dentro daquele processo, então, não poderá o judiciário a fazer discussões e modificações. A coisa julgada existe justamente porque buscamos segurança, inclusive dentro do direito. Aqui no Brasil, dificilmente é a sentença que faz coisa julgada, pois são muito utilizados os recursos. O novo CPC determinou, então, que “a coisa julgada é a autoridade que torna indiscutível a decisão (de mérito, na coisa julgada material), que não está mais sujeita a recurso. O termo autoridade inclui, então, acórdão, sentença e decisão. A decisão que julga o mérito total ou parcial assume, então, força de lei, conforme o art. 503. As prejudiciais de mérito assumem a mesma função – o que faz com que a fundamentação (caso prejudicial) faça coisa julgada também. Caso não haja contraditório efetivo ou prévio, porém, a coisa julgada não pode incidir sobre a prejudicial. Também não poderá se o juízo não tiver competência para julgar. Importante dizer que a coisa julgada reputa repelidas todas as alegações que as partes poderiam ter feito na petição inicial e contestação a respeito da lide e não o fizeram. Isto quer significar que não se admite a propositura de nova demanda para rediscutir a lide. b) Coisa Julgada Formal X Coisa Julgada Material A coisa julgada pode ser formal ou material. A coisa julgada está sempre presente, em todas as sentenças, ocorrendo quando acaba a possibilidade de recorrer. Determina, então, que não poderá ser feita discussão no mesmo processo, esgotando-se os recursos cabíveis. Contra a coisa julgada formal, cabe ação rescisória. Caso seja apenas formal (terminativas), sem material, pode ser discutida em outro processo. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO Já a coisa julgada material, conhecida somente como coisa julgada, ocorre quando há imutabilidade em relação ao mérito, discutindo-o. Esse tipo de coisa julgada não poderá ser discutida nem mesmo em outro processo, caso sejam mantidas as condições e circunstâncias. A coisa julgada material atinge a parte dispositiva da sentença ou aqueles pontos que, substancialmente, tenham sido acolhidos ou rejeitados. Atinge a partes dispositiva justamente porque é ali que o magistrado resolve as questões que as partes lhe submeteram. c) Coisa Soberanamente Julgada A coisa julgada se torna soberana quando transcorre o período para interposição de ação rescisória (2 anos). Dessa forma, não há outra ação capaz de alterar a coisa julgada. d) Relativização da Coisa Julgada O art. 506 determina que a coisa julgada só tem valor entre as partes do processo, mas isso não impede que a decisão atinja terceiros. Apesar disso, os terceiros podem rediscutir em caso de saírem prejudicados. O benefício, porém, tem valor indiscutivelmente, de acordo com a doutrina. É exemplo caso de avô, pai e neto. Ficou decidido que o pai não era filho do avô. O neto, depois, entrou com ação alegando ser neto. Ele poderia porque, teoricamente, a ação de seu pai não poderia prejudicá-lo. Além disso, em casos antigos sem DNA, por exemplo, pode ser feito recurso mesmo com a coisa julgada. Isso é uma aplicação da relativização. 3. RECURSOS a) Conceito de Recurso O significado literal da palavra recurso é “voltar ao curso”. Ele é um meio de desconformidade dentro do processo (endoprocessual), sendo essa sua principal característica diferencial dos demais (que são externas). A interposição do recurso impede o trânsito em julgado, o que significa que ele faz com que a demanda permaneça pendente, alongando a lide. O recurso, então, só cabe enquanto o processo não for extinto – depois disso, existem outras opções, como a ação rescisória. Em resumo, o conceito do recurso é: “um remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a anulação, modificação ou esclarecimento daquilo que se impugna”. b) Funções do Recurso Um recurso possui quatro funções básicas: modificar, anular, esclarecer (ou integrar) e corrigir erro material. Normalmente a função primária é reformar a decisão. Busca, então, alterar o mérito da causa – o qual não se confunde com o mérito do recurso. Caso não seja atingido esse objetivo, PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO há uma função secundária: a anulação da decisão, que ocorre especialmente quando houve vício processual, pretendendo que nova decisão seja proferida. Existem, porém, os embargos de declaração, que são casos atípicos de recurso. Os embargos buscam esclarecer, completar (e não complementar) ou corrigir erro material. Cabe aqui definir o que é o autêntico erro material. Esse erro é vinculado à escrita, por exemplo, trocar nomes. Antigamente não exigiam recurso, bastando manifestação ou petição, mas agora há discussão sobre a possibilidade de tratar do erro material fora dos embargos. O prof. Adriano acha que é permitido, pois foi um erro do juiz. Ainda nessa questão, muitos tentam dizer que o cálculo de valores é erro material, mas na verdade é uma inconformidade, para a qual deve ser usado recurso. Ainda devemos falar da completude da decisão. Diz-se que ela é incompleta quando o juiz deixa de analisar algo que foi pedido pelas partes nas petições ou contestações (citrapetita). Os embargos, nesse caso, pedem que complete-se a decisão. Há, ainda, uma função atípica dos embargos de declaração: o efeito infringente. Ele ocorre quando há uma alteração nuclear na decisão. Por exemplo, o embargo diz que não houve análise de uma prova, e, ao analisá-la, o juiz percebe que deve ser feita uma alteração na decisão de improcedente para procedente. Nesse sentido, não vale embargo para decisões não vinculativas, utilizando-se, então, o recurso simples. c) Sobre o Despacho e os Recursos Um despacho autêntico é aquele que não possui juízo valorativo. É exemplo o despacho que determina a numeração dos autos ou a troca de capa. Não cabe, para o despacho verdadeiro, recurso. Existe, porém, o falso despacho, em que há certo caráter decisório. É exemplo processo em que a parte pede que não haja citação para agilizar, mas o juiz, desatento, cita – tendo, então, decidido contrariamente a não citar. Desse “falso despacho”, cabe recurso. Podemos dizer, então, que, a princípio, não se recorre de despacho.Existem, porém, os “falsos despachos”, que configuram situação excepcional. d) Objeto do Recurso O objeto do recurso é a parte da decisão lato sensu da qual se recorre. Dizem os manuais que se recorre da parte dispositiva e que, para recorrer, a parte deve ter sido sucumbente. No caso de assistência litisconsorcial, diz-se que não poderá o assistente recorrer da justiça da decisão, a não ser que tenha ficado impossibilitado de atuar devido ao estado do processo ou devido à obstrução do assistido. Nesses casos, então, muito raros, é possível recorrer da fundamentação (que é a justiça da decisão). Só poderá o assistente recorrer, porém, quando sucumbiu na parte dispositiva, ou seja, quando perdeu e foi prejudicado. O novo CPC determinou, além disso, que a fundamentação também será levada em cotejo com a decisão. O juiz deverá, então, responder às indagações feitas pelas partes. Mesmo PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO aquele que ganhou pode, então, recorrer exclusivamente com base na fundamentação, já que a fundamentação vinculará (inclusive para servir de precedente). e) Relação Ato-Recurso Para cada ato, há um recurso específico. É vinculado ao princípio processual da adequação. O art. 994 elenca os recursos existentes no CPC. Existem, porém, outros recursos em leis extravagantes (a exemplo dos Juizados Especiais e seus recursos inominados). Além disso, só a lei federal pode instituir novos recursos. Existem, porém, dois recursos centrais, os mais utilizados. São eles o agravo e a apelação. O agravo vale para decisão interlocutória, enquanto a apelação vale para a sentença, conforme o art. 1015 do CPC. Podemos, então, resumidamente, fazer a seguinte relação: • Despacho: de despacho verdadeiro não cabe recurso. De “falso despacho”, caberá. • Decisão Interlocutória: ato, que não é sentença, proferido pelo juiz com caráter valorativo. Cabe agravo de instrumento, se previsto no art. 1015, e apelação, se não estiver nos casos do artigo – e essa última deve ser ao fim do processo, em preliminar de apelação. Isso porque sobre decisão em que não for possível manejar agravo, não há preclusão – e por isso são alegadas em preliminar ou contrarrazões. Isso deixa claro que o novo CPC adotou um sistema de concentração, permitindo que na preliminar de apelação, ao fim do processo, sejam corrigidos os erros. Foi uma simplificação. • Sentença: o recurso cabível é a apelação. *Embargos de declaração cabem para qualquer decisão judicial. O problema recente é que muitos juízes começaram a avaliar o mérito do processo ainda no meio do seu curso, determinando, por exemplo, a impossibilidade jurídica do pedido. Cabe, então, apelação da sentença, desde que não haja previsão expressa de agravo no art. 1015. Isso porque, em algumas situações, o mérito será definitivamente julgado no meio do processo – como quando há impugnação para tutela provisória, tornando-se denifitiva e de mérito, não podendo ser modificada nem pela sentença. A tutela provisória requer agravo. *Os casos de agravo estão no 1015, mas o rol não é taxativo. Há agravo no art. 354 e 356, por exemplo. Aqui, cabe falar brevemente de alguns princípios e da admissibilidade. • Unirrecorribilidade/Adequação: cada ato tem um recurso específico. Se for o incorreto, ele não será conhecido, pois não preencherá os pressupostos. O recurso não conhecido bloqueia o exame de mérito. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO • Fungibilidade Recursal: É possível converter o recurso errado no certo, desde que tenha sido interposto no prazo do correto e não caracterize erro grosseiro. É uma espécie de aproveitamento. • Juízo de Admissibilidade: CPC determina que só haverá um juízo de admissibilidade. Os ministros do STF, porém, fizeram mudança: para recursos extraordinários lato sensu mantem-se o duplo juízo: o primeiro exame é feito pelo vice presidente do TJ ou TRF e o segundo pelo ministro relator. Já nos recursos ordinários o juiz de 1º grau é mero despachante, cabendo ao relator o exame (apenas o juízo ‘ad quem’ faz o exame de admissibilidade). *Na prática ocorriam 3 exames: juiz, relator e, caso ambos reprovassem, órgão do tribunal. f) Legitimidade para Recorrer Antes de analisar os legitimados propriamente ditos, precisamos compreender quem está envolvido no recurso. O recorrente é aquele que recorre, e o recorrido é a outra parte. O juiz da decisão inicial é o “a quo”, e o juiz a quem se recorre é “ad quem”. Também participam terceiros, MP e amicus curiae. Como regra, tem interesse para recorrer aquele que foi sucumbente. Se a parte representada pelo advogado perde, ela pode recorrer. Se a parte ganha e o advogado quer mais honorários, ele recorre em nome próprio. Se ambos perdem, podem recorrer conjuntamente. O amicus pode recorrer em dois casos: embargos de declaração, pois tem direito a uma decisão clara; e IRDR (incidente de demandas repetitivas), pois busca a uniformização e pacificação de entendimento em múltiplas decisões. O terceiro prejudicado (o que não intervém no processo, mas é sucumbente) pode recorrer, bem como o terceiro interessado. O juiz, porém, não pode recorrer caso sua decisão seja reformada. g) Classificação dos Recursos • Total ou Parcial: utiliza o conteúdo como critério, analisando qual parte da decisão está sendo impugnada. Mistura, então, uma análise do recurso e do ato que é objeto dele. Art. 1002: “A decisão pode ser impugnada no todo ou em parte.” O total abrange todo o conteúdo impugnável. Já o parcial e aquele que não vai contra todas as questões da sentença. Aqui, entram alguns pontos importantes: primeiro, que o conteúdo impugnável é o conteúdo sucumbencial (e não o conteudo da senteça), ou seja, é esse que levará a conclusão de recurso total ou parcial. Além disso, o conteúdo principal é diferente do secundário, a exemplo dos honorários – que só podem ser discutidos após definido o principal. Por fim, o dano moral normalmente não tem valor determinado fixo, por PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO isso não há sucumbência – mas, nesse caso excepcional, é permitido recurso mesmo sem a sucumbência. • Ordinário (comum) ou Extraordinário Lato Sensu: utiliza a natureza da matéria como critério. O recurso comum ou ordinário pode (e não necessariamente deve) fazer análise de fato e de direito, sem qualquer limitação. Já os extraordinários (extraordinário, do STF; especial, do STJ; e embargos de divergência) são aqueles nos quais só cabe análise de direito, não podendo analisar provas. Cabe aqui, ainda, dizer que suscedâneos recursais não são recursos, e por isso não obedecem a tal classificação. • Livre ou Vinculado: o critério é a fundamentação. Os vinculados são aqueles que possuem requisitos para sua admissão, como os extraordinários lato sensu e os embargos de declaração (que devem possuir vício de omissão, contradição, obscuridade ou erro material). Já os livres são os demais, que não dependem de nenhuma espécie de vício. • Principal ou Adesivo: o critério utilizado é a autonomia. Ele é principal quando é interposto independentemente da conduta da parte adversa. Por outro lado, é adesivo quando depende da conduta: a parte adversa interpõe recurso ao qual se deseja aderir. No adesivo, se houver desistência do recurso principal, o adesivo também será desconsiderado. É possível, porém, recorrer de maneira autônoma. Além disso, em qualquer recurso é permitidaa adesão. h) Efeitos do Recurso Não entra aqui apenas o efeito do recurso em si, mas também da decisão e interposição. Inclusive a possibilidade de recurso geras efeitos: mesmo que não se falando dessa possibilidade em lei, nada mais é do que o respeito aos prazos para interposição de recurso antes de iniciar a execução. 1) Obstativo ou Impeditivo (efeito da interposição): A interposição do recurso impede que ocorra o trânsito em julgado até que se tenha uma decisão sobre o recurso. Obsta que ocorra a coisa julgada material, mantendo o estado de litispendência. Todos os recursos têm essa característica. Embargos de declaração inclusive. 2) Suspensivo (efeito da interposição): Em regra, os recursos não têm efeito suspensivo. A exceção é a apelação (e o art. 1013 é a exceção da exceção). Ele impossibilita a execução da decisão até o julgamento do recurso. 3) Devolutivo (efeito do próprio recurso): A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada, ou seja, apenas a matéria objeto do seu recurso. “Tantum devolutum quantum appellatum”. Há, por isso, a garantia de não haver reforma em prejuízo. São exceções a teoria da causa madura e o efeito translativo. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO * Teoria da causa madura: O julgador pode julgar o mérito mesmo sem contraditório completo quando é questão de direito. Em eventual recurso, porém, o tribunal pode julgar o mérito pela primeira vez. 4) Translativo (efeito do próprio recurso): Devolve-se, também, ao tribunal, toda a matéria de ordem pública, mesmo que não tenha sido objeto do recurso. Isso porque caso haja vício no process, é possível inclusive anulação. Aqui pode ocorrer reformatio in prejus. 5) Substitutivo (efeito da decisão): Ocorre quando o tribunal recursal substitui a sentença do juiz. Acontece quando há julgamento de mérito do recurso, devendo ele ser conhecido: só não ocorre, então, quando o recurso não passa no juízo de admissibilidade. Pode modificar a decisão total ou parcialmente. 6) Expansivo ou Extensivo (efeito da decisão): Expande o julgamento além da decisão recorrida para atingir outros atos ou pessoas que possam ter sido afetados. É, então, quando vai além do ato impugnado por decorrência natural dele. É exemplo testemunha que deveria ser ouvida, mas não foi: todos os atos afetados por isso devem ser abrangidos pelo recurso. i) Princípios Recursais O princípio é um elemento nuclear de um sistema, orientando-o. Os princípios são elementos fundamentais do sistema recursal, é sempre se aplicam. 1) Voluntariedade Recursal: transposição para área processual do princípio da inércia. É, então, necessário um ato voluntário para dar início ao recurso. É possível, portanto, desistir e renunciar ao direito de recorrer. Ninguém é, então, obrigado a recorrer. A parte deve ter interesse e legitimidade para recorrer. A voluntariedade é marcante para o recurso, distinguindo-o de outros atos de impugnação. Há caso, porém, de reexame necessário, no qual a voluntariedade não é elemento – portanto, não poderia ser chamado de recurso. 2) Substitutividade, anulação ou integração da decisão recorrida: Relaciona-se com o que se almeja da decisão. Em apelação e recurso, normalmente se quer a substituição ou anulação. No caso dos embargos de declaração normalmente pede-se a integração. A substituição ocorre quando a decisão recorrida é substituída pela decisão recursal. Esse efeito ocorre sempre que for conhecido o recurso. A anulação é quando o recorrente quer anular, eliminar a condenação. Não muda, mas sim anula a decisão “a quo”. Já a integração é típica dos embargos de declaração, a fim de integrar a decisão recorrida. 3) Devolutividade da Matéria: Limita o que pode ser examinado pelo juízo ad quem. Determina, então, o espectro no qual o órgão recursal poderá trabalhar. Com base no princípio da voluntariedade o recorrente pode escolher sobre quais capítulos recorrer, PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO e o tribunal estará limitado a esses capítulos. Não devolve-se toda a matéria, mas sim o objeto do recurso. É exceção a questão de ordem pública (efeito translativo). 4) Suspensão: É o efeito que torna a sentença inexequível, ou seja, suspense a execução. A maioria não tem esse feito, a apelação tem. 5) Taxatividade Recursal: Não há recurso sem lei que o determine, devendo essa lei ser federal. Pode ser lei extravagante, não precisa estar no CPC. 6) Singularidade (ou unicidade ou unirrecorribilidade): Para cada decisão existe apenas um recurso a ser manejado. Após a decisão sobre um recurso, porém, pode ser interposto outro. É exceção recurso extraordinário lato sensu, no qual recorre-se do ato – e não do conteúdo. 7) Incindibilidade: não pode recorrer de uma decisão interpretando as duas partes sem sincronia. Não é possível apelar de forma desconexa, devendo haver harmonia entre o relatório. 8) Dialeticidade: As partes devem estar em constante comunicação. Deve apontar decisões que levaram a recorrer. Deve ser fundamentado. 9) Dispositivo: O recurso é uma prerrogativa da parte, da qual ela pode dispor. Não sendo possível que o estado venha a impelir a parte a recorrer. A parte escolhe se vai recorrer e do que vai recorrer. Daqui decorre a garantia de non reformatio in pejus, proibição de reforma em prejuízo – porém, se as duas partes recorrerem, pode. Também pode se há reexame necessário. Recurso é prerrogativa da parte. 10) Inquisitivo: o tribunal pode reconhecer questões de ofício – questões de ordem pública. Não é possível recurso de ofício, mas sim cognição pelo tribunal. 11) Correspondência: relacionado à adequação, para cada ato há um recurso determinado. 12) Fungibilidade: é o que pode ser trocado sem prejuízo, substituindo o recurso errado pelo certo. As duas condições são que não haja erro grosseiro e que seja manejado no prazo do recurso certo. 13) Consumação: preclusão consumativa. Consuma-se ato com a sua prática. Um recurso feito de forma prematura, em que se esquece de recorrer uma parte, não poderá ser corrigido posteriormente, pois o ato já foi consumado. 14) Complementariedade: A decisão prolatada no recurso devem ser interpretada junto com a decisão recorrida. Deve ser proferida de modo harmonioso. Há coisas que estão implícitas na decisão do tribunal (a exemplo dos embargos). 15) Ineficácia das decisões recorríveis: não tem eficácia até que se decida sobre o recurso. São os casos em que não há efeito suspensivo. São exceções as medidas cautelares. 16) Colegialidade: o recurso é, em regra, julgado por um colegiado. Ganham, porém, espaço as decisões monocráticas. Há casos em que o próprio órgão é monocrático. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO j) Pressupostos Recursais e Juízo de Admissibilidade • Expressões Utilizadas Precisamos, antes de passar a análise do juízo e dos pressupostos, compreender as expressões utilizadas. Quando um recurso não cumpre seus pressupostos, ele será “recurso não conhecido”, não havendo, então, análise de mérito. É errado, portanto, falar de “recurso não conhecido e improvido”. Quando o recurso preenche os pressupostos, porém, será chamado “recurso conhecido”. Nesse caso, haverá análise de mérito, podendo o recurso ser provido, parcialmente provido ou improvido. • Juízo de Admissibilidade Agora passamos ao exame de admissibilidade. A primeira fase é a admissibilidade recursal. Nessa fase, sóé examinado o aspecto formal do recurso. O relator é quem examina, sendo selecionado pela câmara. São exemplos de aspecto formal a tempestividade, as custas e a legitimidade. Caso falte algum aspecto formal, o juiz deve chamar as partes a fim de sanar o vício e, se não for possível, o relator “não conhecerá do recurso”. Como consequência, o recurso é extinto sem análise de mérito, e a sentença transitará em julgado. Leva, então, à extinção do processo com análise de mérito. A decisão que não conhece o recurso tem natureza declaratória, com efeitos “ex tunc” (retroativos). Isso significa que o trânsito em julgado se dá a partir da interposição do recurso, e não dessa decisão. A segunda fase é a análise do mérito recursal. Esse mérito pode ser de direito material (valor estipulado) ou processual (competência, por exemplo). Esse mérito, eventualmente, confunde-se com o mérito da causa, mas isso só ocorre quando o recurso visar afetar o mérito da sentença. Nessa fase, obviamente, foram cumpridos os pressupostos e o recurso foi, então, conhecido. O relator pode dar provimento, parcial provimento ou negar o provimento, conforme o acolhimento que for feito do mérito do recurso. O novo CPC tentou criar um único juízo de admissibilidade, mas a lei 13266 impediu que houvesse essa alteração para os recursos extraordinários. O duplo exame foi excluído para apelação e recursos ordinários – e vale lembrar que embargos de declaração (ao juiz) e agravo (ao tribunal) já tinham exame único. Nos recursos ordinários, o juiz de primeiro grau apenas formaliza o recurso, sem fazer juízo de admissibilidade, encaminhando-o para o tribunal “ad quem”. Após isto, o relator é quem fará o verdadeiro exame, devendo “não conhecer” recurso inadmissível, prejudicado ou sem impugnação específica. Dessa decisão do relator cabe agravo. *Considera-se recurso prejudicado aquele que for alvo de reexame pelo juiz. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO A grande inovação do Código foi, então, que antes de “não conhecer”, o juiz deve chamar as partes para discutir sobre a possibilidade de sanar o vício. Mesmo nos casos em que for insanável, deve convocar, a fim de garantir o princípio da dialeticidade. Nos extraordinários, o primeiro exame é feito pelo vice-presidente do TJ ou TRF. Já o segundo exame será feito pelo relator do STF ou STJ. • Conteúdo do Julgamento do Mérito Recursal Na análise do mérito recursal, podem ocorrer dois tipos de erro: de julgamento (im iudicando) e processual, procedimental (im procedendo). O vício de julgamento é de natureza substancial, ou seja, o juiz valorou mal ou cometeu erro de interpretação na aplicação da norma abstrata ao fato, caracterizando uma injustiça. Já o vício procedimental é de natureza formal, de atividade (e não de conteúdo). É exemplo a inversão na oitiva ou não intimação do MP. É importante essa diferenciação para vincular cada um deles ao tipo de pretensão recursal. O erro procedimental leva à anulação da sentença, enquanto o erro de julgamento pede a reforma da decisão. • Requisitos ou Pressupostos de Admissibilidade Os pressupostos ou requisitos são extraídos de diversos dispositivos espalhados pelo CPC. A falta deles é que leva ao “não conhecimento” do recurso. Eles podem ser separados em objetivos e subjetivos. Objetivos: são elementos dissociados das partes, vinculados ao objeto. 1) Cabimento: o recurso deve estar previsto no sistema recursal, seja na lei 994 ou nas leis esparsas. 2) Adequação: para cada ato existe um recurso específico. É vinculado à unirrecorribilidade. 3) Tempestividade: o recurso deve ser feito no prazo correto. O prazo geral é de 15 dias. O recurso antes do prazo é tempestivo, e normalmente é feito quando há risco de os embargos não serem conhecidos (pois, se isso ocorre, é perdido o prazo e o efeito interruptivo). 4) Preparo: é o recolhimento de custas recursais. O recurso deserto é aquele que não recolheu. Importante dizer que no processo eletrônico não há custas. 5) Regularidade Formal: deve seguir as normas formais, com partes, motivos, pedidos, impugnação específica. Deve ser ainda escrito e em língua portuguesa. 6) Inexistência de fato impeditivo/extintivo do direito ao recurso: Fato extintivo é a desistência do recurso ou da ação e o reconhecimento jurídico do pedido. Já o fato impeditivo é a renúncia ao direito e à aquiescência – por exemplo, pagando o valor há preclusão lógica. Subjetivos: são elementos relacionados aos sujeitos do processo. 1) Legitimidade: art. 996 determina o rol de legitimados. Pode usar parte vencida, terceiro prejudicado, terceiro interessado e MP. O juiz não pode recorrer. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO 2) Sucumbência: a sucumbência é o que justifica meu interesse recursal. A sucumbência que a parte teve é o prejuízo em relação a parcela não atendida de sua pretensão. No Existem casos, porém, em que não precisa ser sucumbente, a exemplo do agravo. Na interposição de embargos também não, porque todos podem ter interesse em uma decisão clara. Outro exemplo é o caso de danos morais, em que não há valor fixo ou sucumbência. MATÉRIA DA P2 4. DA ORDEM DOS PROCESSOS NO TRIBUNAL Novidade no Código, que busca preservar a celeridade processual. O art. 929 determina, então, que devem ocorrer três coisas: o registro, a distribuição (designação do relator) e a conclusão do processo (deve estar pronto para receber a decisão). Importante, de início, compreender alguns termos. O pleno é a totalidade de membros do tribunal, e o plenário onde o pleno se encontra. Tribunais com mais de 25 membros, porém, podem reunir-se em cortes especiais. A distribuição é a primeira fase da ordem dos processos. O primeiro sorteio determina a distribuição por órgãos, e o segundo o relator. Ela está regrada no art. 930, dizendo que cabe ao regimento interno de cada tribunal a regulamentação da distribuição. Devem, porém, ser respeitados alguns princípios: 1) Alternatividade: um mesmo desembargador pode ser sorteado duas ou mais vezes seguidas, mas deve ser respeitado, ao longo do ano, o equilíbrio e a proporção entre os relatores. Deve haver, então, alternância de juízes. Se já houver, porém, um recurso distribuído ao relator, ele será prevento. 2) Publicidade: a distribuição é um ato público. 3) Sorteio Eletrônico: ocorre para evitar fraudes. O parágrafo único do art. 930 determina o critério da prevenção: o primeiro relator designado será o mesmo para todos os recursos daquele processo. Cada órgão, em seu regimento, tem sua composição. Normalmente o presidente é o mais antigo. Ao lado direito do presidente, no plenário, fica o representante do MP e ao lado esquerdo o secretário da sessão. À direita, na mesa lateral, fica o julgador mais antigo, e na esquerda o mais novo. Passamos, agora, às atividades do relator. Cabe a ele, obviamente, relatar o processo. O art. 931 determina que, após elaborar o voto, deveria restituir os autos à secretaria em 30 dias – mas na prática leva 3 ou 4 meses, só sendo respeitado o prazo de 30 dias em caso de extinção do processo (por recurso não conhecido em virtude de questão formal). Os poderes do relator foram ampliados, também, para estimular decisões monocráticas. Cabe a ele, então: 1) Conduzir o processo, atuando em nome do colegiado.. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO 2) Dirigir e ordenar o processo no tribunal; 3) Julgar a tutela provisória,tanto de evidência quanto de urgência, antecipando os efeitos; 4) Não conhecer o recurso inadmissível, prejudicado ou sem impugnação específica, fazendo o exame de admissibilidade. O recurso inadmissível é aquele que não preenche os pressupostos. O prejudicado é aquele em que o objeto do recurso se exauriu. O relator, aqui, não precisa ouvir a parte adversa. 5) Intimações; 6) Negar provimento, fazendo negação monocrática se a decisão de 1º grau estiver baseada em súmula do STJ; acórdão de recurso repetitivo; IRDR; incidente de assunção de competência. Não será necessário contrarrazões nesses casos. 7) Dar provimento ao recurso quando a decisão contraria súmula, acórdão de recurso repetitivo, IRDR ou IAC. Nesse caso, o relator deve intimar as partes, pois o recorrido poderá ser prejudicado. Mesmo que seja possível decisão de ofício, deve convocar, e a parte pode tentar sanar algum vício em 5 dias. Pode dar, também, tutela provisória. Quando o voto estiver pronto, o relator pede pauta ao órgão. Entre a data da publicação da pauta e a sessão haverá 5 dias, havendo nulidade se não respeitado tal prazo. Contra decisão do relator cabe agravo. O art. 936 determina a ordem dos processos. Os processos em mesa são aqueles que já estavam em pauta na sessão anterior (e o advogado não precisa ser intimado se foi avisado nessa última sessão). O presidente lê a pauta, anuncia o processo e dá a palavra para o relator. A ordem básica é: com sustentação oral; de preferência apresentados até a sessão; julgamento em mesa (sessão anterior); e demais casos. A sustentação oral não cabe em todos os processos. Além disso, só cabe agravo em relação ao mérito – e não cabe sustentação oral para agravo de instrumento. O art. 937 determina os casos em que será cabível. Os embargos infringentes do CPC foram extintos, serviam para decisões não unânimes. Para substituí-lo, o art. 942 cria técnica determinando que, quando houver decisão não unânime em apelação tem-se uma 2ª etapa de julgamento, com maior número de julgadores a fim de poder reverter a decisão. As partes poderão, aqui, sustentar oralmente novamente. Vale ressaltar que o juiz pode mudar seu voto até o presidente proclamar a decisão, encerrando-a. O MP e o advogado podem se pronunciar sobre questão de fato, mas não ocorrerá reargumentação. Membros do tribunal podem atuar como copartes. O voto vencido também fará parte do acórdão decisivo para fins de pré-questionamento, conforme o art. 941, parágrafo 3º. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO 5. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO O pedido de reconsideração é pouco tratado pela doutrina. Muitos o consideram uma artimanha do insistente e insatisfeito, mas não necessariamente é assim. Na linguagem vulgar, reconsiderar é “considerar outra vez os mesmos fatos”, é refletir, mas nem novos fundamentos. É, então, pedir mais uma análise daquela mesma situação. O prazo para pedir tal reconsideração é até a preclusão da decisão. Não é possível, então, pedir a qualquer tempo, precluindo quando estiver perdido o prazo dos recursos. A preclusão, lembrando, tem 3 espécies: temporal, lógica e consumativa. Há, ainda, um quarto tipo, que é a preclusão pro judicato (para o juiz, que ocorre quando a parte recorre e o tribunal mantem a decisão). É possível manejar recurso e pedido de reconsideração ao mesmo tempo, já que tal pedido não é um recurso. Além disso, o prazo para recorrer começa a partir da primeira decisão (e não da decisão de reconsideração). Vale lembrar, também, que o recurso evita a preclusão caso tenha efeito suspensivo. Se não tiver tal efeito, não se deve manejar o pedido de reconsideração após esgotado prazo para recorrer, ainda que pendente aquele recurso (o agravo é exemplo que não possui efeito suspensivo). Não há prazo, porém, para que o juiz analise o pedido de reconsideração. Não cabe aplicação do princípio da fungibilidade, pois o pedido de reconsideração não é um recurso. Não é, também, um embargo de declaração, que só ocorre em casos muito excepcionais buscando modificar a decisão como decorrência de sanar um vício. No verdadeiro pedido de reconsideração, não é, então, possível alegar novos fatos. É refletir, mas sem novos fundamentos. Deve pedir, então, que se reconsidere os mesmos fatos, direitos e fundamentações. Nesse legítimo pedido, não haverá contraditório, já que não foram feitas novas alegações a serem contestadas. Quando há novo fato, deve ser pedida nova decisão. O prazo de recurso contará, então, desta. É um novo pedido, pois pede que sejam considerados novos fatos. Fica claro, então, que o pedido de reconsideração é diferente de um novo pedido. Quando houver novo é obrigatória a oitiva da parte adversa. São exemplos de reconsideração legítima: • O perito, não satisfeito em receber metade adiantada e metade após o processo, pede que o juiz reconsidere, sem ter que alegar nada. Ele é um terceiro afetado por essa decisão, e o juiz pode alterar, não alterar, ou dar um meio termo. • Bradesco pedia reconsideração de prazo nos casos em que devia enviar a documentação. Era somente um terceiro. • Pedido de nova perícia também pode se encaixar como reconsideração. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO O pedido de reconsideração é requerimento apresentado ao órgão judiciário, que proferiu o ato decisório, para reformá-lo, retratá-lo ou revoga-lo. É um instituto multicentenário, presente desde as Ordenações Filipinas. Os legitimados para tal pedido são aqueles (todo e qualquer um) afetados pela decisão. São exemplo as partes, MP e até terceiros – que não precisam, então, ser interessados. Todo aquele que foi sucumbente pode fazer tal pedido, também. Ele é muito usado por dois motivos: é de graça e é fácil. Não há, então, custo nem forma restrita. Deveria ser diretamente escrito, mas muitas vezes o advogado vai até o juiz e tenta um pedido oral para ver se vai conseguir: faz uma espécie de consulta para depois instruir o pedido formal. A competência para julgar esse pedido é do órgão que proferiu a decisão. Ou seja, peço que aquele que considerou, reconsidere. Há, porém, duas observações: 1) Se o primeiro pedido foi ao plantonista, o pedido de reconsideração será feito para o juiz natural do processo – a não ser que ainda seja período do plantonista. Significa que o plantonista não fica vinculado, não há prevenção. Além disso, ele jamais aprecia a reconsideração endereçada a um juiz natural. Relaciona-se com a hierarquia, de modo que ele não poderá alterar decisão de seu superior. Se for, porém, uma “falsa reconsideração”, em que haja novo pedido, ele poderá analisar. Vale ressaltar que isso não se aplica para juiz substituto. Esse tem liberdade para analisar e alterar, mas é questão de etiqueta não mudar a decisão daquele que se está substituindo. 2) Não cabe pedido de reconsideração de decisão de órgão colegiado. Isso, provavelmente, para não perpetuar a lide. 6. APELAÇÃO A apelação é o recurso por excelência. Ela é o recurso da sentença, conforme o art. 1009. A sentença, porém, não é a única decisão em que cabe apelação, conforme o CPC. É possível, então, apelar das decisões interlocutórias em que não couber agravo de instrumento (sendo que as hipóteses de agravo estão no art. 1015). Decisões interlocutórias, proferidas durante o procedimento e em que não cabe agravo, serão apeladas apenas ao fim do processo, como preliminar de razão ou contrarrazões. Elas são, então, alegadas após proferimento da sentença. Em casosexcepcionais a apelação pode ocorrer antes da sentença. Por exemplo, quando um dos pedidos é liminarmente julgado e não couber agravo, será possível. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO Tudo aquilo que estiver na sentença é objeto de apelação, não importando o capítulo em que se encontra. Recorre-se, então, do ato – ou seja, da sentença. Não há mais de um recurso para esse ato. Em preliminar ficam as insurgências contra decisões interlocutórias em que não coube agravo. Tais preliminares farão, então, parte da apelação. Fica claro que o Código quis evitar o “truncamento do processo” com tantos pequenos recursos. Há, então, um único recurso, ao final, nos casos em que não couber agravo. O que for conteúdo da sentença será apelado no mérito, enquanto aquilo que for de decisão interlocutória estará na preliminar de apelação. A apelação, como regra, tem efeito suspensivo. Ela não terá tais efeitos em casos excepcionais, muito raros. Nos casos, por exemplo, em que o juiz conceder tutela provisória na sentença, a apelação não terá efeito suspensivo. Em casos de condenação por alimentos também não haverá tal efeito. Isso é marcado no art. 1012 do CPC. A apelação deve conter identificação das partes e razões de apelação, com um resumo do que ocorreu no processo. Posteriormente, vêm os fundamentos de fato e de direito para a reforma da sentença. Por fim, vem o pedido explícito. Isso está no art. 1010. Antes dos fundamentos podem vir as preliminares, que são a insurgência contra decisões interlocutórias. No MP era exemplo a alegação de nulidade das interceptações telefônicas. Ao oferecer contrarrazões, o apelado, além de ir contra o que o apelante alegou, pode oferecer suas preliminares – ou seja, apresentar suas insatisfações com decisões interlocutórias. Em resumo, então, a parte do mérito está sempre presente na apelação, referindo-se à sentença. Já a parte de preliminares só se faz presente caso haja insurgência contra decisões interlocutórias em que não cabe agravo. Vale dizer, aqui, que a decadência e prescrição são abordadas no mérito, mesmo que não sejam mérito propriamente dito. Existem, porém, outros tipos de preliminares, que nada tem a ver com as decisões interlocutórias. Essas são as que se vinculam aos pressupostos e condições recursais, alegando falta de interesse de agir ou preclusão, por exemplo. Ela devem vir antes, fisicamente, das preliminares contra decisões interlocutórias. • Vale ressaltar que o juiz de 1º grau não diz mais sob que efeitos será acolhido o recurso, assim como não az mais juízo de admissibilidade. Se há problema com a sentença, antes do recurso, o juiz deve endereçar questões ao relator ou ao tribunal, caso não haja relator estabelecido. Qual seria a consequência de não colocar as questões preliminares contra decisões interlocutórias como preliminares? Haverá erro no local, e isso afeta a temporalidade. Podemos dizer que há, então, preclusão. Sobre a apelação, diz ainda a jurisprudência que, se ela repetir os fundamentos de inicial ou contestação, o recurso não deve ser conhecido. Isso porque a apelação deve ter razões pelas quais se busca a reforma ou anulação da sentença – e não as razões dos pedidos iniciais. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO Deve, então, ficar claro o que se quer na apelação (pedido) e porque isso deve ser considerado (razões de apelação). O art. 1013 fala da teoria da causa madura e da possibilidade de se pedir, na reforma, que o mérito seja imediatamente julgado. Isso será aprofundado posteriormente. O art. 1009 determinou que cabe agravo ou cabe apelação (em SP misturavam os dois) em seu parágrafo 1º. Já o 3º diz que cabe apelação para tudo aquilo que estiver na sentença, mostrando a força da unirrecorribilidade. Também é possível que ocorra uma apelação adesiva. É como um recurso adesivo: significa que eu não tenho porquê recorrer, mas, por cautela, posso fazer uma apelação aderente a do réu. É a ideia de “já que ele está recorrendo, eu também vou tentar a sorte”. Ela segue o mesmo prazo das contrarrazões e, se o réu não apelar, ela é descartada. Só valerá, então, se o outro apelar. Ela só é possível, porém, se a parte aderindo for sucumbente em algo. • EXEMPLO: Pedi 20 mil, ganhei 15 mil. Estou satisfeito, mas se o réu recorrer para não pagar, eu vou recorrer para tentar os 20 mil. Eu posso fazer isso, porque sucumbi em 5 mil. Se eu já tivesse ganho os 20 mil e o outro recorresse, eu não poderia fazer recurso adesivo, mas apenas contrarrazoar. Também não posso recorrer por fundamentação diversa (pedi por responsabilidade subjetiva mas ganhei pela objetiva), já que aplicar lei não levantada pelas partes não ofende o princípio da não surpresa. • Embargos infringentes na lei de execução fiscal – dar uma olhada. O art. 932 fala dos casos em que o relator pode decidir monocraticamente, não levando para órgão colegiado. Dividimos em três grupos, em que ele decide o mérito ou não conhece do recurso. 1) Decide monocraticamente, julgando o mérito, quanto mantém a sentença: ele não precisa dar vista as partes. Pode fazer isso quando o recurso for contrário as Súmulas do STF, STJ ou do próprio tribunal relator; quando for contrário ao entendimento firmado em IRDR ou IAC; ou quando for contrária a acórdão do STJ ou STJ em recurso repetitivo. 2) Decide monocraticamente, julgando o mérito, dando provimento: quando o recurso for contrário as Súmulas do STF, STJ ou do próprio tribunal relator; quando for contrário ao entendimento firmado em IRDR ou IAC; ou quando for contrária a acórdão do STJ ou STJ em recurso repetitivo. Aqui, precisa ouvir o apelado. 3) Decide monocraticamente, sem julgar o mérito, não conhecendo do recurso: quando tal recurso for inadmissível (não é o correto; quando estiver prejudicada a apelação (reconsideração); quando não houver impugnação específica dos fundamentos da decisão. Antes de considerar inadmissível, porém, deve chamar a parte para tentar sanar o vício, dando segunda chance. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO Os efeitos da apelação são aqueles englobados pelos efeitos recursais. São exemplos o efeito devolutivo, translativo, suspensivo, entre outros. 7. TEORIA DA CAUSA MADURA A teoria da causa madura é marcada pelo art. 1013, em seu parágrafo 3º e 4º. Nela, o juiz julga desde logo o mérito quando o processo estiver em condições de imediato julgamento. Permite, então, que o juízo recursal extravase o âmbito do dispositivo de sentença de 1º grau. Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. § 3o Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: I - reformar sentença fundada no art. 485; Reforma sentença terminativa, sem análise de mérito. O tribunal acaba suprimindo um grau de jurisdição, e julga por si mesmo. II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; Em casos de sentença que extrapola os limites do pedido (extra – fora do pedido - ou ultra petita – além do pedido). Pode anular, o que é muitas vezes errado, e rejulgar. III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; Em casos de sentença citra ou infra petita. O mais comum é encaminhar para que o primeiro grau faça diligências, para prolatar nova decisão. Em casos excepcionais, o 2º grau julga direto. IV- decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. § 4o Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau. A teoria da causa madura, porém, é diferente de fazer com que surja nova hipótese na instância recursal. O art. 1014 fala da ausência de fato no 1º grau, sendo permitido que ele surja em 2º grau quando a parte provar que não o fez por força maior. Basta, então, que a questão não tenha sido proposta – não tratando de direito novo ou nova interpretação de direito (embora tenha sido admitida, não caberia). A teoria da causa madura tem como exemplo o despejo. A ação baseia-se em dois fundamentos: falta de pagamento e infração contratual por fazer muito barulho. O juiz de 1º grau despeja por falta de pagamento e não fala do barulho. O réu, em apelação, comprova que pagou. O juiz de 2º grau, então, julgará a questão do barulho – que já foi alvo de contraditório, pois estava na inicial – pela primeira vez. É, então, abordado um fundamento não constante na sentença, mas tratado na causa. Só haveria suspensão e retorno caso não tivesse ocorrido o contraditório. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO Também cabe sua aplicação quando uma prejudicial é acolhida pelo juízo de 1º grau, a exemplo da prescrição e decadência. Se o segundo grau afastar tal prejudicial, pode desde logo julgar o mérito. Também é possível em caso que envolva questão exclusivamente de direito. Em resumo, o tribunal, em princípio, não deve avançar no exame das matérias não decididas em 1º grau. No entanto, em determinadas hipóteses, o tribunal fica autorizado a desde logo decidir o mérito da demanda, sem restituir o processo para novo julgamento pela primeira instância. Para tanto, é necessário que a causa esteja “madura” para julgamento, ou seja, que verse exclusivamente de questão de direito ou esteja em condições de imediato julgamento. Não caberá, então, a teoria da causa madura se for necessária dilação probatória, sob pena de cerceamento de defesa. 8. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Cabe embargos de declaração para as mais diversas decisões, inclusive para despacho. O art. 1022 trata das hipóteses em que cabe: quando houver contradição, omissão, obscuridade ou erro material. Não cabem embargos quando quero reformar a decisão, ou seja, não é regra a eficácia infringente dos embargos. Os embargos pode, ainda, ser usados para fim de prequestionamento – o que não está na lei, mas sim em súmula do STJ. • Cabe aqui definir o que é o autêntico erro material. Esse erro é vinculado à escrita, por exemplo, trocar nomes. Antigamente não exigiam recurso, bastando manifestação ou petição, mas agora há discussão sobre a possibilidade de tratar do erro material fora dos embargos. O prof. Adriano acha que é permitido, pois foi um erro do juiz. Ainda nessa questão, muitos tentam dizer que o cálculo de valores é erro material, mas na verdade é uma inconformidade, para a qual deve ser usado recurso. • Ainda devemos falar da completude da decisão. Diz-se que ela é incompleta quando o juiz deixa de analisar algo que foi pedido pelas partes nas petições ou contestações (citrapetita). Os embargos, nesse caso, pedem que complete-se a decisão. O art. 1026 determina que os embargos não têm efeito suspensivo, mas sim interruptivo de outros recursos – o prazo é, então, devolvido integralmente, zerando a contagem. Vale ressaltar que, se não for conhecido, não interrompe o prazo. Os embargos também não têm custas, preparo, nem honorários. Os embargos de declaração não se prestam para rediscutir a lide – o que seria erro grosseiro. O art. 1022 tentou definir o que seria, por exemplo, a omissão. Outros artigos, como 203 e 409 também tratam de casos em que cabe embargo. O prazo para embargos é de 5 dias. Na maioria das vezes, ele são manejados não com o objetivo real de esclarecimento, mas sim para aproveitar-se do efeito interruptivo, ganhando mais tempo. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO Embora a lei não determina a intimação da parte embargada, tem se compreendido que o embargado é o próprio juiz. Só será chamada a parte adversa em caso de mudança substancial ou quando os embargos tiverem natureza infringente. Cabem embargos de declaração dos próprios embargos de declaração. Essa hipótese só será cabível quando houver omissão na sentença que julgou tais embargos. Se a decisão for monocrática, o embargo também será julgado monocraticamente, conforme o art. 1024. Se admite, ainda, fungibilidade recursal dos embargos de declaração com agravo interno, também conforme o 1024. Embora não possua naturalmente o efeito suspensivo, o juiz pode concedê-lo conforme o caso. Não podemos dizer, então, que eles têm caráter protelatório. • Há, ainda, uma função atípica dos embargos de declaração: o efeito infringente. Ele ocorre quando há uma alteração nuclear na decisão. Por exemplo, o embargo diz que não houve análise de uma prova, e, ao analisá-la, o juiz percebe que deve ser feita uma alteração na decisão de improcedente para procedente. Nesse sentido, não vale embargo para decisões não vinculativas, utilizando-se, então, o recurso simples. 9. INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS O chamado IRDR não é um recurso, tendo natureza incidente. Não é ação, exceção nem modo de defesa. Ele deve, então, incidir sobre algo. Ele foi criado pelo novo CPC a partir de uma experiência alemã. Em Frankfurt, foram ajuizadas 13 mil ações – o que, para os alemães, é muito. Tal incidente é muito útil quando ocorrem milhares de ações tratando de uma mesma questão, exatamente. No art. 976 é abordado, então, o IRDR, que se dá quando há repetição de processos – bastando que se repita, ou seja, 2 processos iguais correndo simultaneamente. No IRDR tais demandas precisam ser simultâneas, ou seja, presentes, em andamento. Duas ações pendentes de julgamento bastariam para pedir o IRDR. Não há, porém direito subjetivo ao IRDR: apenas o tribunal pode escolher instaurar ou não. Há, então, discricionariedade do tribunal. Os legitimados para pedir o incidente são, porém, o juiz ou o relator, as partes, o MP e a defensoria. Diferencia-se do recurso, pois a legitimidade é mais restrita, não tendo o terceiro interessado legitimação para pedir. Isso está no art. 977. O juiz oficia para a instauração do incidente, enquanto MP, defensoria e partes peticionam. No Brasil, ele é mais utilizado quando há milhares de ações iguais. Quem utiliza é o TJ e TRF – ou seja, os tribunais regionais. O STJ e STJ terão instrumentos próprios, mas podem tornar o IRDR nacional. Permite-se, ainda, uma reanálise do IRDR, pois há um temor que de tal instituto seja usado em excesso. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO O IRDR, para ser aplicável, deve incidir sobre decisão que fira a isonomia. Isso ocorre quando temos decisões diferentes para a mesma questão de direito (art. 976, II). O IRDR busca, então, evitar e solucionar essas questões. Busca dar maior segurança jurídica. É grande exemplo de IRDR as ações de adicional noturno interpostas por milhares de policiais militares. O órgão competente para julgar o IRDR é quem o regimento interno definir. Ou seja, não há regra fixa para o órgão competente. Cada tribunal determina sua própria regra. Vamos reanalisar, então, o tribunal: O pleno, composto pelos desembargadores,poderá ter uma Corte Especial, com cerca de 25 membros. Essa corte (ou órgão) terá funções administrativas, mas também pode julgar inconstitucionalidade. Abaixo do pleno, vem as 3 grandes sessões: criminal; cível de direito público (com o 1º, 2º e 11º grupo cível, sendo que cada grupo reúne duas câmaras) e a cível de direito privado (que reúne do 3º ao 10º grupo cível). Entre os processualistas já se consolidou que a Corte especial e o plenário não são bons para julgar IRDR. Isso porque nem todos que integram tais órgãos são especializados em alguma área, o que pode prejudicar o julgamento. O melhor é atribuir o julgamento conforme a matéria. Normalmente será julgado, então, por uma das sessões. Se a matéria não for de nenhuma das câmaras, porém, vai para o órgão especial – a exemplo da própria matéria de direito processual. O IRDR pode ser pedido em 1º grau se já houver um processo lá, por reexame necessário ou competência originária. O meu processo, então, poderia não estar nesse tribunal. Outros discordam, exigindo que esteja no mesmo tribunal. Esse tema está no parágrafo único do art. 978. O órgão que vai julgar o IRDR vai firmar a tese jurídica, desconsiderando questões fáticas. O IRDR analisa, então, questões de direito. No caso da PM, ele analisará apenas se é cabível ou não o adicional noturno. Fixa-se, então, a questão central, e o juiz deixará as demais abertas. O órgão julgador não deve, então, avançar. É por isso que o relator determina os pontos específicos que serão alvos da tese. Após fixados esses pontos, abrem-se, inclusive, debates públicos. Não é quem peticionou ao tribunal que irá defender o IRDR, necessariamente, mas pode ser assim. É o tribunal que escolhe quem fará tal defesa. Os demais interessados poderão manifestar-se nos termos no art. 984. Vale ressaltar que, depois de instaurado, o autor não pode desistir do IRR. O órgão que julgar o IRDR também julgará a ação originária e eventual recurso. Isso está determinado por lei, por mais incoerente que pareça. O objetivo real do IRDR é fazer com que se aplique a tese firmada nos casos cabíveis. Aquele tribunal que julgar – e os inferiores a ele – deverão aplicar tal tese. É por isso que, admitida a instauração do IRDR, o relator poderá suspender todos os processos vinculados àquela tese – mas isso não ocorre obrigatoriamente. A suspensão alcança juizados especiais e PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO turmas recursais – mesmo que o tribunal não julgue questões referentes a isso, o que mostra outra incoerência. Havendo interesse nacional, STF e STJ podem elevar o IRDR a esse nível, o que submete todo o país àquela tese. A instauração de simuladores nos CFCs foi desenvolvida a partir de um IRDR. De modo geral, recursos extraordinários e especiais não têm efeitos suspensivos. Nos recursos de IRDR, porém, há esse feito – não podendo o tribunal de 1º grau barrar a subida. 10. AGRAVO DE INSTRUMENTO O agravo retido servia para vincular uma insurgência a fim de prorrogar a preclusão. Ele ficava, então, esperando a sentença. Se a sentença fosse contrária, interpunha-se apelação e reiterava-se tal agravo. O novo CPC extinguiu esse agravo retido – e o que antes se alegava nesse agravo fica em preliminar de apelação. Já o agravo de instrumento ocorria quando o advogado fazia um “instrumento”, formando pequeno processo e protocolava diretamente no tribunal. Assim surgiu o nome. Hoje, sabe-se que o agravo de instrumento é cabível contra decisões interlocutórias, nas hipóteses do art. 1015. O art. 1015 é taxativo, mas não exaustivo: leis especiais ou esparsas podem determinar o cabimento de agravo. Quando não for cabível para decisão interlocutória, será em preliminar de apelação ou contrarrazões. O prazo, conforme o art. 1003, é de 15 dias da intimação da decisão. O art. 1017 determina as peças obrigatórias do agravo e a competência para julgamento. Se uma das peças obrigatórias não for juntada, o juiz deve intimar a parte para completar em 5 dias. No processo eletrônico o agravo não tem custas. O art. 1019 determina quando o relator poderá decidir monocraticamente. Há, ainda, efeito devolutivo e o relator pode determinar o suspensivo. O prazo para julgar o agravo é de 1 mês. O juiz de 1º grau sempre pode se retratar em Agravo de Instrumento, quando é feita a juntada eletrônica. No processo eletrônico não precisa tal juntada. Art. 1018 - O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos documentos que instruíram o recurso. § 1o Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo de instrumento. § 2o Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no caput, no prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento. § 3o O descumprimento da exigência de que trata o § 2o, desde que arguido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento. PROF. ADRIANO 2017/1 HELENA FABRICIO 11. AGRAVO INTERNO O agravo interno é interposto sempre no âmbito dos tribunais. Maneja-se contra decisão monocrática, levando a julgamento do órgão. Ele é dirigido ao relator, que levará tal agravo ao respectivo órgão interno – o órgão colegiado que teria proferido a decisão se ela não fosse monocrática. Esse relator não fará juízo de admissibilidade. É erro comum nesse agravo repetir os fundamentos manejados na apelação ou agravo de instrumento. O agravante deve, porém, impugnar especificamente os fundamentos da decisão agravada, conforme o art. 1021. Segundo o parágrafo 3º desse mesmo artigo, o relator também não pode reproduzir seus argumentos para negar provimento do agravo interno. Isso é, porém, um absurdo, pois pode não ser possível justificar o mesmo fato com outros argumentos. Já o parágrafo 4º determina que, quando esse agravo for inadmissível ou improcedente unanimemente, o agravante deverá pagar multa ao agravado. Isso acaba desestimulando o uso do agravo interno. Vale ressaltar que, recebido o agravo, deve ser intimado o agravado. Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal. § 1o Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos da decisão agravada. § 2o O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se sobre o recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta. § 3o É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno. § 4o Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa. § 5o A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa prevista no § 4o, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao final.
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