Buscar

TEORIA GERAL DOS CONTRATOS - Resumo 2 - Prof. Tula

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 
 
1. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 
 
a) Quanto à dependência: principais ou acessórios 
Os contratos principais são aqueles que possuem existência autônoma, independendo 
de outro contrato. Já os acessórios dependem do principal – e são, em geral, os de garantia, a 
exemplo da fiança. 
 O contrato acessório também produz influência sobre o principal. Isso significa que a 
extinção da garantia pode levar à exigência imediatada da prestação, ou um vencimento 
antecipado e interesse no usucapião. Normalmente, é o acessório que segue a regra do 
principal – o principal afeta a eficácia do acessório, art. 184 - mas há essa hipótese de 
“influência ao revés”. 
EXEMPLO DE INFLUÊNCIA AO REVÉS (1): Contrato com vencimento estipulado, com 
hipoteca como garantia. O imóvel hipotecado perece e, nesse caso, pode pedir-se 
vencimento antecipado. 
EXEMPLO DE INFLUÊNCIA AO REVÉS (2): Ocorre o usucapião do bem dado em garantia. 
O credor hipotecário não poderá interferir na posse, de modo que a garantia acaba 
sendo perdida, pois aquele que usucapiu é adquirente originário. Também pode pedir a 
prestação imediata. 
 Como regra, porém, a extinção do principal implica a do acessório em razão da perda 
da sua função típica, em razão da perda da causa do próprio contrato: a causa de um contrato 
acessório é o contrato principal. Quando, porém, a extinção se der devido ao inadimplemento, 
pode exigir alguns acessórios estipulados. No art. 184 fala-se, ainda, da invalidade parcial. A 
invalidade das acessórias não invalida as principais, mas sua eficácia e afetada. 
 Vale, aqui, compreender melhor as garantias. Na garantia comum, como na fiança, 
todo o patrimônio do devedor pode ser afetado. Já nas garantias reais, só é afetado o bem 
determinado. O art. 1419 trata dessa ideia de afetação, vinculada à coisa. 
• Art. 1.419. Nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca, o bem dado em 
garantia fica sujeito, por vínculo real, ao cumprimento da obrigação. 
 Os contratos de garantia são, então, os acessórios mais comum, mas não são os 
únicos. É exemplo a corretagem ou um contrato de prestação de serviços que venha aliado a 
uma compra e venda. 
 Além disso, interessa aqui o funcionamento da fiança. O art. 818 determina o conceito: 
uma pessoa, por esse contrato, garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo 
devedor, caso este não a cumpra. Aqui há uma distinção entre débito e responsabilidade: o 
débito é do devedor, mas a responsabilidade é de terceiro, subsidiária. Existem casos, porém, 
em que o fiador abre mão desta ordem (renúncia do benefício de ordem), podendo ser 
executado diretamente – indo além da regra geral e assumindo o próprio débito. O art. 822 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
determina, ainda, pelo quê o fiador responde: por tudo aquilo que o devedor se 
comprometeu, mas não mais que isso. 
 O art. 824 fala da nulidade das obrigações, que, como regra, torna nula a fiança. Já o 
art. 837 fala das defesas que podem ser feitas pelo fiador perante a dívida. Há, ainda, caso 
peculiar na Lei de Inquilinato, em seu art. 39. A garantia, salvo disposição em contrário, dura 
até a devolução do bem: ou seja, quando o bem por devolvido ao locador, o fiador para de 
responder. 
• Art. 818. Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma 
obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra. 
• Art. 822. Não sendo limitada, a fiança compreenderá todos os acessórios da dívida 
principal, inclusive as despesas judiciais, desde a citação do fiador. 
• Art. 824. As obrigações nulas não são suscetíveis de fiança, exceto se a nulidade resultar 
apenas de incapacidade pessoal do devedor. 
• Art. 837. O fiador pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais, e as extintivas 
da obrigação que competem ao devedor principal, se não provierem simplesmente de 
incapacidade pessoal, salvo o caso do mútuo feito a pessoa menor. 
• Art. 39 LI (8245/91) Salvo disposição contratual em contrário, qualquer das garantias 
da locação se estende até a efetiva devolução do imóvel, ainda que prorrogada a locação 
por prazo indeterminado, por força desta Lei. 
 
b) Quanto à negociação do conteúdo do contrato: paritários ou de adesão 
A teoria maximalista do direito do consumidor buscava aplicar o CDC a qualquer contrato 
de adesão – mas, na verdade, não é bem assim. Quanto à negociação, analisa-se, ainda, a 
possibilidade de revisão contratual, relativizando o pacta sunt servanda. 
Os contratos paritários são os negociados “par a par”, ou seja, em condição de igualdade. 
Essa condição leva à possibilidade de discussão das cláusulas e do próprio contrato. Não 
necessariamente deve haver discussão, porém: se a parte achar o contrato “bom demais” e 
optar por não discutir, ele continua sendo paritário, porque ele teve a opção de discutir ou 
não. 
Já nos contratos de adesão há menor ou nenhuma discussão. Normalmente – e não 
obrigatoriamente -, o contrato de consumo é de adesão (e, nesses casos, aplica-se o CDC); 
mas, como nem todo contrato de adesão é de consumo, aplica-se o CC também. 
O CDC foi, porém, a primeira legislação específica que tratou do contrato de adesão. 
Acreditava-se que alguns artigos só aplicavam-se às relações de consumo, mas o Enunciado 
172 das Jornadas de Direito Civil determinou que as cláusulas abusivas não ocorrem apenas 
nas relações de consumo. Isso porque, embora o CC regule as negociações entre “iguais”, pode 
haver alguma questão na manifestação da vontade que torne a relação desigual – não 
havendo vício na vontade, apenas um problema, que não enseja em sua invalidade. 
Para compreender a adesão, é, então, necessário diferenciá-la da relação de consumo. 
Conforme o Enunciado 171 CTJ “O contrato de adesão (art. 423 e 424) não se confunde com o 
contrato de consumo”. No contrato de consumo deve haver o fornecedor (que fornece 
produtos ou serviços de modo habitual) e o consumidor (que é o destinatário final do bem – 
teoria finalista, e não maximalista). Hoje, porém, a noção de consumidor foi “alargada” nos 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
casos em que há vulnerabilidade, mesmo que não sendo o destinatário final (teoria finalista 
aprofundada). 
EXEMPLO 1: Contrato de consumo, em que o consumidor discute as cláusulas do contrato e 
condições. Não é adesão. 
EXEMPLO 2: Contrato de franquia. Franqueador impõe o conteúdo do contrato, mas não há 
relação de consumo. Isso porque o franqueado não é destinatário final, ele vai revender. É 
um contrato de adesão, mas não é uma relação de consumo. 
Denomina-se contrato de adesão aquele em que “há um modo particular de formação dos 
contratos, mediante a adesão de uma das partes a um contrato com conteúdo 
predeterminado unilateralmente”. 
O contrato de adesão pode ser padronizado ou individualizado. São, então, duas 
modalidades. No padronizado o conteúdo é constituído por cláusulas contratuais gerais, 
predispotos em um contrato-tipo, formulário, standart, aplicado a diversos casos, nos quais só 
se alteram os dados específicos da relação, sem negociação. Já o individualizado tem o 
conteúdo composto por cláusulas individuais, predispostas unilateralmente a um específico 
contratante, em que o contrato vale apenas para aquele caso mas foi determinado por apenas 
uma das partes. 
A origem da adesão remonta à Revolução Industrial, vinculada ao direito empresarial e o 
tráfico contratual comercial. Era necessária celeridade e, por isso, ocorreu a estandartização 
dos contratos. Posteriormente, as primeiras cláusulas contratuais gerais correspondiam a um 
conjunto de termos e condições nos livros de cheques dos clientes bancários. 
Enzo Roppo dizia,então, que a origem do contrato de adesão é tipicamente empresarial, 
pois tournou-se impossível negociar caso a caso milhares de contratos. Já Orlando Gomes diz 
que a origem vem da necessidade de circulação intensa de bens e capital. Diz que uma parte 
aceita “em bloco” as cláusulas formuladas por outra. Caio Mário, por sua vez, fala que os 
contratos de adesão são os que não resultam de livre debate. 
Em 1985, em Portugal, já se falava dos contratos de adesão. Lá, diz-se que eles são as 
“cláusulas contratuais gerais”, que são elaboradas sem a prévia negociação individual que 
proponentes ou destinatários indeterminados se limitam a propor ou aceitar. 
No nosso ordenamento, a adesão ocorre quando há uma cláusula previamente estipulada 
por um dos contratantes, sob a qual não se permite discussão. Se há a mera possibilidade de 
discussão, já não caracteriza, portanto, adesão. 
O art. 54 do CDC determina o contrato de adesão nas relações de consumo, sendo que 
podem ser aplicados os dispositivos do CC, caso sejam mais benéficos. O contrário, porém, não 
é possível. 
O art. 47 do CDC determina, ainda, que as cláusulas serão interpretadas de modo mais 
favorável ao consumidor. O parágrafo 3º do art. 54 fala, ainda, da fonte da letra e do formato 
do texto, enquanto o parágrafo 4º determina que as cláusulas que limitem direitos do 
consumidor devem estar em destaque. 
• Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao 
consumidor. 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
• Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela 
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos 
ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu 
conteúdo. 
• § 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do 
contrato. 
• § § 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, 
cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior. 
• § 3 Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres 
ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a 
facilitar sua compreensão pelo consumidor 
• § 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser 
redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão. 
Já no CC devemos analisar outros artigos. O 112 diz que a interpretação deve ser guiada 
pela intenção das partes. O art. 423 diz que, no contrato de adesão, quando há cláusula 
ambígua ou contraditória, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao adquirente. O 
art. 424 determina a nulidade de cláusula que estipule renúncia a direito decorrente do 
negócio. 
• Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas 
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. 
• Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, 
dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. 
• Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia 
antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio. 
Há, ainda, questão pertinente na Lei de Arbitragem. O parágrafo 2º do art. 4 fala da 
cláusula compromissória no contrato de adesão: o aderente deve concordar expressamente 
com a arbitragem. 
• Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um 
contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, 
relativamente a tal contrato. 
• § 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente 
tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua 
instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura 
ou visto especialmente para essa cláusula. 
Há, então, divergência do CDC para o CC. No CDC as cláusulas são sempre interpretadas de 
modo favo´ravel, enquanto no CC só em situações excepcionais. Além disso, no CC é nula a 
cáusula com renúncia antecipada de direitos. Já no CDC várias cláusulas são sancionadas por 
invalidade, independendo do contexto. 
São exemplos de cláusula de renúncia antecipada, nas quais pode haver nulidade do 
contrato de adesão, conforme o art. 424: 
a) Cláusula de não demandar pela evicção (art.447) 
b) Cláusula de renúncia ao direito de reclamar pelos vícios redibitórios (art. 441) 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
c) Cláusula na estipulação em favor de terceiro proibindo que este exija o cumprimento da 
obrigação – Art. 436 
d) Cláusula de renúncia de indenização e retenção pelo valor das benfeitorias necessárias – 
questão do enriquecimento sem causa (art. 884 – 886) – mesmo quando for de má-fé, ou seja, 
invadi sabendo que o proprietário ia demolir e eu consertei o teto, o dono deve me indenizar. 
Súmula 335 STJ – admite a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de 
retenção – se for contrato de adesão tal cláusula é nula conforme Enunciado 433 CJF “A 
cláusula de renúncia antecipada ao direito de indenização e retenção por benfeitorias 
necessárias é nula em contrato de locação de imóvel urbano feito nos moldes do contrato de 
adesão.” 
e) Renúncia ao benefício de ordem feito por parte do fiador – art. 828. Enunciado 364. No 
contrato de fiança é nula a cláusula de renúncia antecipada ao benefício de ordem quando 
inserida em contrato de adesão 
f) Renúncia ao direito de exoneração do fiador -art. 835. 
g) Cláusula de não indenizar – contratos de transporte – Art. 734 – Art. 25 CDC 
 * Caso o contrato seja paritário, é possível a renúncia a muitos desses direitos. 
 O contrato de adesão possui algumas características. Alguns desses aspectos são, 
inclusive, mais comuns nas relações de consumo. 
a) uniformidade e imutabilidade de suas cláusulas – muito presente nos contratos de 
consumo: é quando há um contrato padrão, com cláusulas aplicadas à diversas relações. É 
muito comum no direito do consumidor. A uniformidade é vinculada à repetição de cláusulas 
em diversos contratos. 
b) Superioridade técnica de uma das partes (parte mais forte): não é, porém, essencial, 
apenas deixa mais clara a adesão. 
c) Prévia determinação das cláusulas por uma das partes – a outra só adere: não é a mesma 
coisa que o esboço, pois nesse último a parte permite que a outra discuta. 
d) Relativa ineficácia da autonomia privada: há autonomia, não é possível invalidar o negócio. 
Ela é, porém, problemática em algum modo, pois não pode haver grande manifestação. 
 Quando há problemas no contrato de adesão, pode buscar-se a equidade (equilíbrio) 
contratual. Utilizam-se dois mecanismos (funções): a interpretação do contrato e a fiscalização 
do seu conteúdo, conforme o art. 187 do CC. A fiscalização pode levar a uma sanção caso haja 
vício, podendo gerar indenização ou nulidade do contrato. 
• Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou 
pelos bons costumes. 
A incidência do contrato de adesão é maior em algumas relações. São elas: industrial X 
agricultor; instituição financeira X comerciante; banco X poupador; fabricante X distribuidor; 
franqueador X franqueado; concedente e concessionário; proprietário de shopping X lojista; 
locador X locatário; facturizador X facturizado. 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
Cabe, por fim, analisar o contrato tipo. O contrato tipo é aquele em que há um formulário 
apresentado por uma das partes, mas é admitida negociação, até certo ponto, pois podem 
complementá-lo.As noções gerais, porém, são predeterminadas, e por isso é um contrato de 
adesão. 
Existem dois princípios aplicáveis nessa classificação. São eles a transparência e a boa-fé, 
vinculados ao art. 4º do CDC e 422 do CC. 
 
2. CONTRATOS MISTOS, COLIGADOS, REDES CONTRATUAIS E 
CONTRATOS CONEXOS 
 
A) Contratos mistos 
Os contratos mistos são marcados pela união das características de dois ou mais contratos, 
total ou parcialmente regulados pela lei, em um único. É, então, uma mistura ou fusão. É 
possível também a mistura de disposições de contratos típicos e atípicos. O contrato atípico 
pode ser misto (um é típico) ou puro (não recorre a elementos legais). 
O CC português, por exemplo, prevê expressamente tal situação de contratos mistos, em 
seu art. 405º, n. 2 “as partes podem ainda reunir no mesmo contrato regras de dois ou mais 
negócios, total ou parcialmente regulados na lei”. 
Existem algumas espécies de contratos com base na classificação alemã. São elas: 
A) Contratos combinados: uma parte deve cumprir 2 ou mais prestações principais, de 
diferentes tipos de contratos. A outra parte tem uma prestação unitária. Uma parte tem, 
então, obrigações a mais. 
EXEMPLO: Locação de casa mobiliada na qual locador se obriga a locar a coisa e mobiliar 
a casa. O locatário somente se obriga a pagar o aluguel. 
B) contratos acoplados/de duplo tipo: obrigações para ambas as partes, mas cada uma de um 
tipo de contrato diferente. A prestação de uma das partes corresponde uma contraprestação 
característica de contrato de tipo diferente. O conteúdo do contrato revela-se como dois 
contratos nominados. 
EXEMPLO: contrato de locação com a obrigação de encargo de desempenho de porteiro: 
inquilino paga o aluguel e exerce a função de porteiro – duas prestações distintas. 
C) contrato misto em sentido estrito: utiliza outro contrato como meio para atingir finalidade 
atípica a ele. 
EXEMPLO: doação mista – através da compra e venda se alcançam objetivos da doação, 
quando A vende para B bem que vale 500.000 por 200.000 beneficiando o comprador 
pela gratuidade da diferença. Produzem-se, então, efeitos diferentes da compra e venda 
(inclusive na relação com herdeiros: na compra e venda a anuência é válida, na doação 
será rediscutira quando o pai for a óbito). 
 Devemos, ainda, analisar a situação de tipicidade social, que ocorre quando não há 
condições de detectar as ligações aos vários tipos contratuais, em oposição às espécias 
anteriores. Há, então, uma fusão de contratos constituindo uma figura nova e unitária. Há uma 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
integração por vários tipos negociais (compra e venda, locação e prestação de serviços podem 
estar todos juntos: exemplo o gás), mas como um único ente (contraparte?). 
O grande debate é sobre qual regime jurídico será aplicado. É preciso identificar o 
contrato para, então, verificar a produção de efeitos. Existem algumas teorias sobre o regime 
jurídico aplicável: 
a)Teoria da absorção: individualizar o contrato misto e ver qual o elemento predominante. 
b)Teoria da combinação: se não houver elemento predominante, usa-se esta teoria. Aplicam-
se então vários elementos do contrato misto. O problema é que alguns contratos podem ser 
considerados incompatíveis. 
* Deve ser analisada, também, a simulação, que torna o ato nulo. 
B) Contratos Coligados, Redes Contratuais e Contratos Conexos 
Já sobre contratos coligados, redes contratuais e contratos conexos devemos tratar de 
outro modo. A união ou coligação não se confunde com os contratos mistos. Isso porque, aqui, 
há uma ligação de contratos sem que se perca a individualidade de cada um deles. 
A classificação dos contratos coligados vincula-se à causa de ser deles: 
A) vínculo externo ou acidental: cada um dos contratos conserva o respectivo regime. Há 
autonomia plena. É exemplo: A compra de B uma casa e convenciona a reparação retribuída 
de outro prédio. 
B) nexo funcional: há autonomia, mas os contratos estão ligados. Há, então, uma relação de 
dependência, que pode ser: 
* bilateral/recíproca - onde ambas as partes são dependentes da outra. 
EXEMPLO: A aluga automóvel a B e ao mesmo tempo vende-lhe gasolina necessária para 
a utilização. Ambas as partes são dependentes uma da outra. 
* unilateral - em que só uma das partes fica subordinada. 
EXEMPLO: A compra um automóvel de B e ao mesmo tempo loca a ele uma garagem 
durante certo prazo. Somente uma das partes fica subordinada. 
* alternativa - onde conformam-se dois contratos, mas as condições determinam se ocorrerá 
um ou outro. 
EXEMPLO: A compra de B uma moradia na praia, se vier a ser transferido pelo seu 
trabalho; mas, se não se concretizar a condição, o móvel será objeto de locação para 
temporada. 
Essa matéria é importante pois houve uma sofisticação contemporânea no 
desenvolvimento das atividades econômicas. Existem, então, questões polêmicas atualmente. 
Por exemplo, um vendedor de eletrodomésticos de difícil comercialização, pelo seu elevado 
preço, decide se unir a uma instituição financeira pra poder acessar um número maior de 
consumidores. Se o eletrodoméstico, porém, apresentar vício redibitório, a rescisão do 
contrato de compra e venda afeta o contrato de mútuo que foi simultaneamente acordado 
para viabilizar a relação de consumo? Entende-se que não. Esse problema também pode ser 
encontrado nas relações entre médicos e hospitais. 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
Rodrigo Xavier, por sua vez, faz uma classificação diferente. Para ele, dentro dos coligados 
em sentido amplo temos: 
A) contratos coligados em sentido estrito: ligação de 2 ou mais contratos por aplicação da lei, 
que ao tratar de um tipo contratual prevê a coligação e a operação econômica. Geralmente, 
então, a fonte está na lei. 
EXEMPLO: o contrato de transporte, que deve ter uma clausula de incolumidade 
(segurança dos transportados) - mesmo que ele tente não se responsabilizar, dizendo 
que não responderá por eventuais acidentes, há fonte na lei indicando tal obrigação. 
B) coligados por cláusula expressamente prevista pelos contratantes: é exemplo a 
cooperação com instituições financeiras na loja de eletrodomésticos, para que todos "saiam 
ganhando". É um acordo entre as partes. 
C) contratos conexos: ligação se dá pelo nexo entre os contratos. 
Podem ser: redes contratuais (nexo econômico, funcional e sistemático que se destina a 
produtos ou mercado de consumo) - a exemplo da responsabilidade da agência de turismo 
pelo dano do hotel indicado, e também da relação médico - hospital; ou contratos conexos em 
sentido estrito (nexo funcional e econômico). 
A súmula 308 STJ veio, aqui, vinculada ao caso Encol, falando da combinação da construção 
com empréstimo com hipoteca em garantia. Hipoteca não exigível: impede prejuízo de 
terceiro não vinculado a um dos contratos conexos. 
 Devemos analisar, ainda, a vinculação entre os contratos: 
A) acessoriedade: contrato serve para viabilizar ou incrementar o adimplemento de outro 
contrato. 
B) dependência: eficácia de um contrato depende de outro. 
C) coordenação: ordenação conjunta entre diferentes contratos. Podem ser centrífugos 
(partem de um centro comum, expandindo-se) e associativos (congrega esforços para alcance 
de um objetivo comum, que não alcançariam sozinhos). É muito aplicável às relações de 
consumo. 
 
3. INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS 
Interpretar é, além de compreender, reformular ou exprimir o objeto de informação sob 
nova forma. A interpretação dos contratos é importante, pois, muitas vezes, o que está escrito 
não é exatamente o que as partes pretendiam - e isso afeta a execução, gerando problemas. 
Também é importante para a análise de cláusulascontrovertidas entre as partes. 
Outra questão ocorre quando a parte que vai executar o contrato não é a mesma que a 
elaborou. Isso faz com que não haja efetivo conhecimento da situação pratica, o que prejudica 
o contrato. Muitas vezes quem elabora o contrato tem apenas conhecimento jurídico, mas 
falta habilidade técnica no caso concreto. 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
O CC brasileiro difere do italiano e do francês. Ele não dispõe de capítulo específico para 
interpretação, mas apenas algumas normas esparsas, nos arts. 112, 114, 170 e 423. Permite-
se, então, que conceitos jurídicos indeterminados sejam preenchidos pelo magistrado. 
A interpretação é, então, necessária na análise de cláusula, frase ou palavra, quando há 
controvérsia no modo de entendimento. Também serve para compreender lacunas e palavras 
ambíguas, ou termos distintos conforme o lugar, o tempo e as circunstâncias como o grau de 
cultura, ambiente social, competências profissionais, etc. 
O contrato é a veste jurídica de uma operação econômica. Muitas vezes, porém, ele é 
moldado a fim de ir contra sua função determinada. Ex: art 1028, compra e venda retro, 
muitas vezes mascara a agiotagem. 
Existem algumas regras de interpretação no direito civil. A primeira diz respeito a um 
caráter subjetivo, de manifestação da vontade (se essa realmente foi expressa). Já a segunda 
refere-se aos preceitos contratuais em si próprios com ênfase na boa fé. 
A interpretação subjetiva deve ser de acordo com a intenção comum das partes. Isso está 
expresso no art. 112 que determina que a intenção sobrepõe-se ao sentido literal da 
linguagem. Isso porque, às vezes, as partes estabelecem um contrato que não é compatível 
com o que realmente querem – isso porque uma palavra determinada teria sentido diverso do 
senso comum. Há, então, autonomia privada "contra si próprio", de modo que a parte pode 
dar um "tiro no pé" se ficar vinculada apenas a letra do contrato - deve, por isso, ser analisado 
o caso concreto, confrontando as ações das partes com o contrato em si. 
O ônus da prova caberá a aquele que alegar que a vontade das partes é diversa do que foi 
convencionado no contrato. Caso a vontade das partes não seja possível para avaliar a 
intenção, restará a interpretação objetiva. 
Cabe, aqui, a análise da autonomia privada. Essa intervenção da interpretação reduz a 
autonomia formal, buscando a prevalência da equivalência de posições e autonomia material. 
Inicialmente, tal intervenção deu-se com a eliminação de cláusulas abusivas, injustas 
(leoninas), quando na celebração uma parte mais fraca não tivesse conhecimento de seu 
significado. São casos de contratos de adesão ou submetidos a condições gerais. 
No entanto, se a análise da vontade das partes não for suficiente para demonstrar o 
sentido de certa cláusula ou o sentido do próprio contrato e comportamentos que o 
constituíram, deve-se partir para uma interpretação objetiva. 
As regras de interpretação objetiva refere-se à análise de preceitos contratuais em si 
próprios, vinculando-se a fase integrativa. O art. 113 fala da boa-fé e dos costumes locais (ex: 
pagamento em soja). O art. 114 determina que os contratos gratuitos devem ser interpretados 
de forma estrita. 
O art. 170 é o princípio da conservação dos negócios jurídicos. Há, nele, uma ideia de 
aproveitamento. O art. 422 fala da probidade e da boa-fé. Já o 423 determina que as cláusulas 
ambíguas no contrato de adesão devem ser interpretadas da forma mais favor ao aderente. 
• Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos 
do lugar de sua celebração. 
• Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
• Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá 
este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se 
houvessem previsto a nulidade. 
• Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, 
como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. 
• Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, 
dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. 
A interpretação é, então, uma via de positivação da boa-fé. A boa fé objetiva é uma regra 
de conduta, abordando lealdade, cooperação e confiança. Ha uma restrição da autonomia 
privada, impondo deveres capazes de limitar o exercício de direitos na formação e execução 
do contrato. As partes devem, então, perseguir a boa-fé - que independe, porém, de vontade. 
Há, então, uma restrição da autonomia privada, impondo certos deveres nem sempre 
presentes nas declarações volitivas, limitando o exercício de direitos na formação e na 
execução dos contratos. 
A interpretação (e a própria boa-fé) tem também função integradora, capaz de definir e 
delimitar obrigações. A boa fé não tem conteúdo específico, vinculando-se ao caso concreto. 
Vemos a boa-fé, portanto, como uma cláusula geral que permite a criação de deveres de 
conduta, impondo limites no exercício de direitos (preenchimento do vazio deixado pelas 
partes na elaboração do contrato, preceito não incluído pela declaração de vontade). 
Nas relações de consumo, a interpretação dos contratos é diversa, pois busca, sempre, 
garantir o equilíbrio da relação, protegendo a parte mais débil (o consumidor). 
A atuação positiva da boa-fé se dá através dos deveres anexos, que surgem do 
comportamento das partes. São eles a proteção (cuidado), lealdade e informação. Tais deveres 
atuam de forma a que “as pessoas não se desviem dos propósitos que, em ponderação social, 
emerjam da situação em que se achem colocadas: não devem assumir comportamentos que a 
contradigam, nem calar ou falsear a atividade intelectual externa que informa a convivência 
humana.” 
Nas tratativas preliminares pode haver uma delimitação do conteúdo dos deveres. Aquilo 
que foi determinado nas tratativas é integrado ao conteúdo, mesmo que não esteja 
expressamente previsto. Os deveres surgem nesta fase para a preservação da liberdade de 
escolha, de autonomia, vedando atos que visem a produção de efeitos contrários a isto. Há, 
então, necessidade de observar a fase pré-contratual para poder verificar os elementos 
constitutivos do próprio contrato (Código de Defesa do Consumidor, a publicidade transforma-
se em conteúdo do contrato Art. 30). 
Na formação e na execução há maior presença da interpretação, a fim de preencher 
espaços vazios através de uma atuação positiva. Normalmente ocorre na execução do 
contrato, pelas controvérsias sobre o modo de como entender certa cláusula, frase ou palavra 
contida no contrato, defendendo cada um o significado mais conforme aos seus interesses. 
Nessa fase, há uma Interpretação para evitar situações de perigo para ambas as partes 
permitindo a boa execução e adimplemento das obrigações, mantendo o equilíbrio 
econômico, evitando desproporções nas prestações, e impondo deveres para promover a 
cooperação das partes na execução das prestações. 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
Nos casos de deveres cujo sentido não seja verificável pela vontade das partes, utiliza-se a 
interpretação integrativa quando houver superioridade intelectual, econômica ou profissional 
de uma parte, principalmente nos contratos de adesão, podendo cessar a eficácia da 
autonomia e rejeitar cláusulas violadoras ou excludentes de deveres naturais do contrato, e 
mesmo sua substituição. 
Existe, também, uma atuação negativa da boa-fé, com relativização de regras e direitos. 
Entram aqui o venire contra Factum proprium, supressio, surrectio e tu quoque. Essa atuação é 
negativa, pois limita certas condições.O objetivo da interpretação é integrar lacunas suprindo deficiências e possibilitando a 
preservação e funcionamento do contrato. O objetivo não é, porém, fazer valer o interesse 
público, mas sim suprir defeitos deixados pela regulamentação das partes. 
 
4. REVISÃO DOS CONTRATOS 
Nesse tema, a leitura literal da legislação pode ser prejudicial. Devemos, então, estar 
atentos à jurisprudência. 
O CDC, em seu artigo 6º, determina que cláusulas desproporcionais podem ser 
modificadas ou revisadas, como direito básico do consumidor. Já o Código Civil trata do 
equilíbrio das prestações e da onerosidade excessiva como possibilidades de revisão e 
resolução contratual. 
• (CDC) Art. 6: V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações 
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem 
excessivamente onerosas. 
• (CC) Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta 
entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-
lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. 
• (CC) Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma 
das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em 
virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a 
resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da 
citação. 
O Art. 317 fala, então, como podemos ver, de motivos imprevisíveis. Isso não significa, 
porém, que se aplica uma teoria da imprevisibilidade, pois isso poderia restringir 
excessivamente as possibilidades de revisão. 
O art. 478, por sua vez, é mais problemático. Ele trata da hipótese de extinção do contrato, 
mas exige uma série de requisitos: acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, que gerem 
onerosidade excessiva para uma das partes em um contrato continuado. 
Fica claro que a disposição legal trata de revisão judicial das prestações em virtude do 
desequilíbrio ou desproporção superveniente a formação da relação obrigacional. Busca-se, 
então, manter o sinalagma – e, por isso, devemos analisar tanto a formação quanto a 
execução do contrato. 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
A decisão pioneira nesse tema foi em 1956. Inicialmente, tratava-se apenas de direito 
administrativo. Foi invocada, nessa decisão, a teoria da imprevisibilidade. 
• Apelação Cível 75.803 TJSP – “Empreitada. Administração. Contrato que faz pressupor 
responsabilidade do empreiteiro pelo financiamento do sobre-preço da obra. 
Interpretação. Aplicação da Teoria da Imprevisão. Ação declaratória improcedente. 
Contrato. Interpretação. Invocação da clausula rebus sic stantibus e da moderna Teoria 
da imprevisão. Admissibilidade.” 
Existem, porém, alguns problemas terminológicos na nossa lei que devem ser analisados. 
O nosso Código não limita sua revisão à teoria da imprevisão – embora seja essa a aparência 
do CC. 
Um exemplo comum de casos que buscaram a revisão são aqueles baseados na correção 
monetária, quando o valor se altera, havendo desvalorização da moeda.. Na decisão de Ruy 
Rosado, ele fala que “a base objetiva fica substancialmente alterada nesses casos”. Não se fala, 
então, em imprevisão, mas sim em desproporção superveniente. 
• PROMESSA DE COMPRA E VENDA. FATO SUPERVENIENTE. ACAO DE MODIFICACAO 
DOCONTRATO. PLANO CRUZADO. CORRECAO MONETARIA. CELEBRADO O CONTRATO 
DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA, COM PRESTACOES DIFERIDAS, SEM CLAUSULA DE 
CORRECAO MONETARIA, DURANTE O TEMPO DE VIGENCIA DO PLANO CRUZADO, 
QUANDO SE ESPERAVA DEBELADA A INFLACAO, A SUPERVENIENTE DESVALORIZACAO 
DA MOEDA JUSTIFICA A REVISAO DO CONTRAT O , CUJA BASE OBJETIVA FICOU 
SUBSTANCIALMENTE ALTERADA, PARA ATUALIZAR AS PRESTACOES DE MODO A 
REFLETIR A INFLACAO ACONTECIDA DEPOIS DA CELEBRACAO DO NEGOCIO. 
PRECEDENTE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (STJ, 4ª T., Resp. 135151/RJ, Rel.: Min. 
Ruy Rosado; j. em 08/10/1997 e publicado em 10/11/1997). 
Outros, porém, entendem que não é possível a revisão contratual por indexação do dólar, por 
exemplo, pois havia um risco inerente a esse negócio, que foi assumido pelas partes. 
• DIREITO CIVIL. MAXIDESVALORIZAÇÃO DO REAL EM FACE DO DÓLAR AMERICANO E 
TEORIAS DA IMPREVISÃO E DA ONEROSIDADE EXCESSIVA. Tratando-se de relação 
contratual paritária - a qual não é regida pelas normas consumeristas -, a 
maxidesvalorização do real em face do dólar americano ocorrida a partir de janeiro de 
1999 não autoriza a aplicação da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade 
excessiva, com intuito de promover a revisão de cláusula de indexação ao dólar 
americano. Com efeito, na relação contratual, a regra e a observância do princípio pacta 
sunt servanda, segundo o qual o contrato faz lei entre as partes e, por conseguinte, 
impõe ao Estado o dever de não intervir nas relações privadas. Ademais, o princípio da 
autonomia da vontade confere aos contratantes ampla liberdade para estipular o que 
lhes convenha, desde que preservada a moral, a ordem pública e os bons costumes, 
valores que não podem ser derrogados pelas partes. Desse modo, a intervenção do 
Poder Judiciário nos contratos, a luz da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade 
excessiva, exige a demonstração de mudanças supervenientes das circunstancias iniciais 
vigentes a época da realização do negócio, oriundas de evento imprevisível (teoria da 
imprevisão) e extraordinário (teoria da onerosidade excessiva), que comprometam o 
valor da prestação, demandando tutela jurisdicional especifica, tendo em vista, em 
especial, o disposto nos arts. 317, 478 e 479 do CC. Nesse passo, constitui pressuposto 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
da aplicação das referidas teorias, a teor dos arts. 317 e 478 do CC, como se pode extrair 
de suas próprias denominações, a existência de um fato imprevisível em contrato de 
execução diferida, que imponha consequências indesejáveis e onerosas para um dos 
contratantes. A par disso, o histórico inflacionário e as sucessivas modificações no 
padrão monetário experimentados pelo Pais desde longa data até julho de 1994, quando 
sobreveio o Plano Real, seguido de período de relativa estabilidade até a 
maxidesvalorização do real em face do dólar, ocorrida a partir de janeiro de 1999, não 
autorizam concluir pela inexistência de risco objetivo nos contratos firmados com base 
na cotação da moeda norte-americana, em se tratando de relação contratual paritaria. 
REsp 1.321.614-SP, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão 
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/12/2014, DJe 3/3/2015. 
O nosso Código teve avanços e retrocessos no art. 317. Foi, de modo geral, um avanço, 
pois o CC anterior não previa a revisão. Houve, porém, um retrocesso em relação à redação do 
artigo, que, com a interpretação literal, poderia ferir os avanços jurisprudenciais. 
Para compreender a interpretação, devemos analisar a redação do art. no projeto do CC. 
Inicialmente, ele se dirigia à desvalorização da moeda. Posteriormente, porém, buscou-se 
englobar outros fatores, exigindo-se a imprevisibilidade no suporte fático. As alterações 
fizeram, então, com que o artigo passasse da Teoria da Base Objetiva (alemã) para a Teoria da 
Imprevisibilidade (francesa). 
A revisão contratual é a relativização da força obrigatória dos contratos. Baseia-se na 
“rebus sic stantibus”, cláusula do direito canônico que autorizava modificações no contrato. A 
manutenção do contrato ocorre, então, apenas se há equilíbrio entre o período de formação 
(conclusão) e execução do contrato. A subsistência de uma relação contratual depende das 
circunstancias existentes ao concluiro contrato, que eram devidamente pressupostas e cuja 
variação não era previsível pelas partes. 
Essa cláusula canônica não foi recepcionada pela Codificação oitocentista, que presava 
pelo liberalismo econômico e pela autonomia privada. Alguns fatos históricos, porém, exigiram 
modificações no direito, especificamente após a I e II Guerra Mundial. Manifestou-se, então, a 
necessidade de revisão contratual. 
Agora, analisaremos as teorias que possibilitam a revisão uma a uma: 
a) Teoria da Imprevisão: Surge na França, em 1916, falando das circunstâncias excepcionais 
e imprevisíveis que dificultam a execução do contrato, em um caso da Prefeitura X 
Companhia de Luz. 
Já em 1918 surge a Lei Faillot, restrita aos contratos administrativos. No Brasil, em 1963, 
passa também a ser aplicada em casos administrativos (como obras públicas) pela 
jurisprudência e, por isso, é a teoria aplicada na Lei de Licitações. 
A lei de licitações (Lei 8666/93), em seu art. 65, determina que a imprevisibilidade em 
relação às consequências geradas – e não necessariamente em relação ao fato que a 
causou. 
• Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as devidas 
justificativas, nos seguintes casos: d) para restabelecer a relação que as partes 
pactuaram inicialmente entre os encargos do contratado e a retribuição da 
administração para a justa remuneração da obra, serviço ou fornecimento, objetivando 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato, na hipótese de 
sobrevirem fatos imprevisíveis, ou previsíveis porém de consequências incalculáveis, 
retardadores ou impeditivos da execução do ajustado, ou, ainda, em caso de força 
maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econômica extraordinária e 
extracontratual. 
Essa teoria tem alguns pressupostos que restringem sua aplicação. A extraordinariedade e 
excepcionalidade do evento causados do desequilíbrio dificultam, deixando-a apenas para 
casos extremos. Em comparação ao art. 317 do CC, nossa norma fala apenas em 
imprevisibilidade e desproporção. 
b) Teoria da Base do Negócio Jurídico: Surge na Alemanha no final do século XIX. Ela 
dispensa a previsibilidade ou não, e por isso tem um campo de aplicação maior. Deve 
haver uma relação entre o contrato e a boa-fé (a fim de analisar a expectativa das partes 
na conclusão do contrato). 
Nessa teoria, compara-se prestação e contraprestação, que devem ser equilibradas. Deve 
ser verificada, então, uma alteração nas circunstâncias para que haja revisão – a fim de 
impedir o sacrifício excessivo de uma das partes. Há, então, uma alteração das 
circunstâncias que gera consequências distintas daquelas inicialmente planejadas pelas 
partes ou que razoavelmente deveriam planejar. 
Há, porém, distinção entre base subjetiva e objetiva, vinculando-se à diferença entre 
causas e motivos. A causa é a prestação objetiva, dar X para ganhar Y (eu pago para 
receber o produto). Já o motivo, que é a representação mental, é subjetivo e irrelevante 
aqui, pois não interessa o ânimo do contratante: não importa se eu comprei para mim ou 
para dar de presente. 
• EXEMPLO: Pai comprou vestido de noiva para filha, que faleceu. Não pode pedir a 
revisão, pois o falecimento refere-se ao ânimo subjetivo do pai (dar de presente). A parte 
objetiva é dar o dinheiro e receber o vestido em dia X. Se o vendedor quisesse aumentar 
o preço ou modificar a data, aí sim poderia falar-se em revisão, pois alteraria a base 
objetiva. 
Essa teoria tem pressupostos mais flexíveis, pois considera as circunstâncias objetivas de 
caráter geral, sendo que estas é que devem ter sido alteradas. Não exige, então, fato 
imprevisível. 
Esse modelo ingressa no Brasil através da jurisprudência, a fim de auxiliar na interpretação 
do art. 317. 
c) Teoria da Onerosidade Excessiva: Vem do Código italiano, e destina-se à resolução 
contratual. Baseia-se na hipótese de onerosidade excessiva para uma das partes, e 
proveito para a outra. São pressupostos a superveniência de fatos que alterem o contrato, 
sendo eles imprevisíveis e extraordinários, gerando tal onerosidade. 
 
Após essa análise, devemos perceber que a ideia central do Art. 317 é buscar o reequilíbrio 
do contrato. Para aplicação de tal artigo, existem alguns pressupostos. São eles: que a 
obrigação seja bilateral, comutativa, duradoura ou instantânea, com várias parcelas (mas 
também valando para uma única parcela que seja algum tempo após a conclusão – a exemplo 
de 90 dias para pagar). Deve haver, ainda, fato superveniente que afete uma das prestações, 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
sendo que tal fato é inimputável ao lesado, e que acabe gerando excessiva onerosidade, 
tornando a relação conclusão-execução desproporcional. 
É possível, inclusive, a revisão do contrato aleatório, conforme o Enunciado 440. Não se 
baseia diretamente no art. 317, mas sim no 157 (desproporção genética). 
• Enunciado 440. É possível a revisão ou resolução por excessiva onerosidade em contratos 
aleatórios, desde que o evento superveniente, extraordinário e imprevisível não se 
relacione com a alea assumida no contrato. 
A desproporção manifesta é marcada pelo sacrifício que ocorre devido à mudança das 
circunstâncias entre a conclusão e a execução do contrato. Pode haver, ainda, um 
envilecimento da contraprestação, ou seja, a perda de valor do objeto. 
O nosso artigo 317 trata, ainda, da imprevisibilidade. A I Jornada de Direito Civil diz que 
devem ser abarcadas causas previsíveis ou não, mas de resultados imprevisíveis – o que 
mostra uma clara aplicação da Teoria da Base Objetiva. 
Já em relação ao art. 478, na III Jornada, diz-se que a imprevisibilidade e 
extraordinariedade devem abranger fatos e consequências. Já no enunciado da Jornada IV, diz 
-se que o fato extraordinário não pode ser abarcado por risco próprio da contratação (a 
exemplo do caso baseado em dólar). 
Ainda na IV Jornada fala-se da vantagem do art. 478, que deve ser interpretada como 
elemento acidental da alteração das circunstâncias, que comporta a incidência da resolução ou 
revisão do negócio por onerosidade excessiva, independentemente de sua demonstração 
plena. 
Devemos, por fim, nos pautar pela conservação dos contratos. A regra é, então, a revisão. 
A extinção do contrato é exceção. Isso está no enunciado 176 da III Jornada de Direito Civil. 
Percebemos, então, que o tema é confuso. Apesar disso, aplica-se, às vezes de modo 
imperceptível, a teoria da quebra da base objetiva. 
Exercicios 
1) O açougue Santos firmou com o Frigorifico Santana contrato de fornecimento semanal de 
carne pelo preço de R$10,00 o quilo. Em virtude de um surto de febre aftosa o valor preço da 
carne fornecida pelo Frigorifico duplicou já que produto que fornecia era procedente de 
regiões não atacadas pelo surto de febre aftosa. O Frigorifico procura um escritório de 
advocacia narrando que a manutenção do contrato como esta acarretara um grande prejuízo. 
Como poderia orientar o Frigorifico no caso concreto? 
* Poderá pedir a revisão contratual do fornecimento com base no art. 317. Houve uma 
alteração nas circunstâncias entre a conclusão e a execução do contrato, de modo que surgiu 
um desequilíbrio entre as prestações das partes. Foi uma alteração na base objetiva do 
contrato, mudando as causas de contratar. Vale ressaltar que o fornecimento não é uma 
relação de consumo, por isso não há incidência do CDC, e que a febre aftosa é uma doença 
previsível em relação aos bovinos. 
2) Maria tomou emprestado dinheiro para comprar um automóvel zero. Depois de ter pago 06 
parcelas do financiamento, Maria perdeu o emprego e não teve mais condições de pagar ovalor financiado. Maria procura um escritório de advocacia e narra que se soubesse que iria 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
perder o emprego jamais teria adquirido o automóvel. O advogado vai ajuizar uma ação 
revisional alegando a teoria da quebra da base objetiva. Avalie a estratégia utilizada e emita 
um parecer sobre o caso. 
* Não pode ser aplicada a teoria da base objetiva, pois, o que se perdeu, na verdade, foi a base 
subjetiva. Os fatores objetivos do contrato (valores, data de entrega, condições) permanecem 
os mesmos. Não interessa, aqui, se seu ânimo subjetivo em relação ao contrato foi alterado. 
Só poderia haver a revisão se houvesse uma desproporção genética, nesse caso. 
5. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS 
 
• CLASSIFICAÇÃO DE PONTES DE MIRANDA 
- Resolução – contratos instantâneos ou diferidos no tempo– efeitos ex tunc. 
- Resilição – contratos duradouros – ex nunc. 
 Pontes de Miranda fala da resolução, com efeitos ex tunc, e da resilição, com efeitos 
ex nunc. 
As obrigações duradouras são aquelas em que há renovação da obrigação. É exemplo 
um contrato de locação. Em caso de extinção, os efeitos surgem a partir dessa resilição (não 
afetarão o que veio antes, ex nunc). 
Já os contratos instantâneos ou diferidos no tempo têm como exemplo a compra e 
venda, e sua extinção causa efeitos ex tunc. Isso significa que os efeitos retroagem ao 
momento de formação do contrato, havendo resolução. 
Nosso Código, porém, não deixou muito clara essa classificação. A orientação seguida 
pelo CC, então, difere de Pontes de Miranda. Ao analisar mais a fundo, fica claro que nosso CC 
adotou a orientação francesa. Devemos, então, compreender a denominação que é utilizada 
atualmente. A resilição, no Brasil, é usada como termo para “perda da vontade” de contratar. 
Para compreender a extinção, devemos analisar a diferença entre causas 
concomitantes e supervenientes à execução do contrato. Relembramos, aqui, que o contrato 
tem diversas fases, desde sua formação até a execução. As concomitantes são genéticas, e as 
supervenientes posteriores. 
São exemplos de causas concomitantes: lesão, nulidade, abuso de direito e redibição 
(vício oculto que só é detectado depois). Já as causas supervenientes são: distrato, resolução 
(por inadimplemento ou onerosidade excessiva) e resilição unilateral. 
Nas causas supervenientes a resilição é o motivo genérico de extinção, quando há 
vontade de uma ou ambas as partes: o distrato exige ambas, e a resilição unilateral apenas 
uma delas. Poderíamos dizer que esses dois tipos são espécies de resilição lato sensu. 
Essa terminologia acaba por confundir. Na prática, muitas vezes, usa-se o termo 
errado. O termo rescisão, por exemplo, confunde-se com extinção frequentemente na 
jurisprudência – enquanto na jurisprudência estrangeira já se fixou que a rescisão ocorre em 
casos de efeito genético. Não há, portanto, consenso nem na doutrina. 
Agora, analisaremos mais a fundo as formas de extinção: 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
a) Resilição: está regrada nos arts. 472 e 473. Pode se dar pelo distrato (vontade de ambas as 
partes de extinguir o contrato, sem intervenção judicial, funcionando como um contrato 
para desfazer outro contrato) ou resilição unilateral (que deve ser permitida por lei, 
conforme o 473). 
No distrato, já que não há intervenção judicial, e faz-se “um contrato para extinguir outro”, 
cabe às partes definir os efeitos e, por isso, discute-se se é ex tunc ou ex nunc. As partes, 
então, têm liberdade para dispor sobre isso – mas não pode atacar direitos de terceiros. 
EXEMPLO: compra e venda. A comprou, B vendeu e eles querem desfazer o contrato. Eles 
podem colocar efeitos ex tunc (retroativos), mas não afeta, por exemplo, o contrato de 
corretagem, que envolve terceiro. Dessa forma, o corretor mantém sua comissão. 
O distrato deve, ainda, seguir a mesma forma do contrato que se busca desfazer. Para 
evitar problemas, porém, deve lembrar-se que é necessária prova do distrato: e se o 
contrato inicial for oral, eles podem fazer o distrato por escrito para que fique provado que 
ocorreu. 
Já na resilição unilateral há manifestação da vontade de uma das partes e, por isso, 
depende de notificação da outra parte. Essa notificação é essencial para a extinção, mas 
diverge-se se é necessária aceitação. 
São espécies de resilição unilateral a revogação, a renúncia, a denúncia, o arrependimento 
e o resgate. 
O parágrafo único do art. 473 fala, porém, que no caso em que houver risco de prejuízo 
excessivo para uma das partes, a denúncia unilateral só terá efeitos se respeitados os 
prazos proporcionalmente relativos ao investimento. 
EXEMPLO: Locação. As vezes o inquilino faz investimento confiando na continuidade do 
contrato. O locador só poderá retirar o inquilino, mesmo que o contrato seja de prazo 
indeterminado, após este último conseguir os benefícios que almejava com o 
investimento. Se ele alugou para montar um posto, por exemplo, tal prazo será baseado 
na relação investimento-lucro. Utilidade nos casos de contratos de locação não-
residencial por prazo indeterminado em que o locatário, confiando na condição 
“duradoura” do contrato é surpreendido pela denúncia (contratos de franquia, agência, 
concessão, distribuição e corretagem). 
 Percebemos, então, algumas regras básicas na resilição unilateral: 
1 – só ocorre quando a lei ou o tipo de contrato permitir. Aplica-se para contratos com 
obrigação duradoura e sem prazo. 
2 – os efeitos dessa extinção só surgem com a notificação – que deve ser escrita -, de 
forma ex nunc. 
3- o contrato deve ser útil, e se for simplesmente retirar um investimento da outra 
parte, causando prejuízo, a lei pode proteger. 
A revogação ocorre quando foi manifestada confiança e esta é perdida posteriormente. É, 
então, declaração em sentido contrário ao contrato. É exemplo o mandato (art. 658). 
Dependendo do caso, pode incidir perdas e danos. Ela geralmente ocorre, então, nos 
contratos gratuitos, mas é possível nos onerosos. É a qualquer tempo e, nos contratos em 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
que não há prazo, pode ser vazia (desestimulada). Se houver prazo, dentro dele deve 
haver justificativa para a revogação. 
*Se o mandato for acompanhado de cláusula de irrevogabilidade a revogação gera obrigação 
de pagar perdas e danos (art. 683) 
Já na renúncia aquele que recebeu a confiança não a quer mais. Há uma “devolução da 
confiança”. Se for provocado dano por esta renúncia – uma vez que ela é imediata, é 
possível indenização. 
EXEMPLO: Mandante é prejudicado pois o advogado renuncia na hora do julgamento, 
e o primeiro fica sem ninguém para representa-lo. Se for comprovado dano, pode 
pedir indenização. 
Na denúncia, há a negação da continuidade. Por exemplo, na locação, quando já está por 
prazo indeterminado, pode, a qualquer tempo, denunciar o contrato. A denúncia pode 
ser cheia (motivada) ou vazia. Em algumas hipóteses, porém, exige-se que seja cheia. 
O arrependimento ocorre quando uma das partes não quer mais contratar. É, na verdade, 
obrigação com faculdade de substituição, quando alguém opta por cumprir uma 
prestação ao invés da outra. Esse arrependimento, porém, deve ser previamente 
previsto. São exemplo as arras penitenciais no CC e o art. 49 no CDC (desistência até 7 
dias para compras que não ocorrem no estabelecimento). 
Já o resgate vincula-se às garantias. É o ato de libertar alguma coisa de uma obrigação ou 
encargo a que estava vinculada, ou de cumprir uma obrigação de caráter pessoal. É 
exemplo caso de hipoteca, em que o bem vai a leilão, mas 3º paga a dívida para não 
perder o bem. É a remição do bem. 
b) Resolução: regrada a partir do art. 474. Os arts. 474e 475 falam da cláusula resolutiva. 
Ressalta-se, então, que a resolução pode ocorrer devido a uma cláusula ou pela lei, dentre 
outros. Aqui os efeitos são ex tunc, retroagem. 
A resolução sempre vincula-se ao inadimplemento. Além disso, a parte deve exercer esse 
direito de resolução, podendo optar por não utilizá-lo. Com o inadimplemento nasce, 
então, o direito de resolver o contrato. Só pode resolver o contrato, porém, a parte que 
possa restituir o que haja recebido do outro contraente, exceto por impossibilidade não 
imputável a este. 
São requisitos da resolução: 
 1 – contrato bilateral: prestações vinculadas em contrapartida. 
• No bilateral imperfeito, só a doação modal poderá ser resolvida, embora a lei fale em 
revogada no Art. 555. Nos demais casos não há possibilidade. 
2 – inadimplemento definitivo: no sentido de utilidade da prestação, perda do 
interesse do credor. Não basta a mora ou a perda do objeto em si. 
3 – requisito subjetivo: exercício do direito potestativo pela parte. Deve ser um ato 
voluntário, uma declaração de vontade. Em alguns casos, dependerá de intervenção 
judicial. 
 Sobre o inadimplemento, cabe ressaltar alguns pontos: 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
O art. 477 fala, ainda, da quebra antecipada do contrato, vinculada à boa-fé (quebra da 
confiança, talvez). Caso de inadimplemento antes do prazo. Declaração e atos do 
devedor demonstrando que não irá cumprir, inclusive tornando impossível o 
cumprimento. Nesse caso, ainda não houve vencimento. 
EXEMPLO 1: Compra e venda. Comprador, por fato posterior, não conseguirá 
cumprir o contrato, pois sua empresa está envolvida em um escândalo que o 
prejudicou. O vendedor pode pedir, então, a quebra antecipada, pois presume-
se que haverá inadimplemento, recebendo devolução do que já pagou. 
EXEMPLO 2: Bem que ia ser entregue não estará disponível na data. Comprei um 
cavalo para ser entregue em 10 dias, mas ele faleceu um dia depois do contrato. 
Posso pedir a quebra antecipada. 
EXEMPLO 3: Construtora tinha que entregar meu apartamento em 1 mês, mas 
nem iniciou a construção do prédio. Fica evidenciado que a empresa não 
cumprirá o prazo, então posso pedir a quebra antecipada. 
Há, ainda, a hipótese de violação positiva do contrato (adimplemento ruim). Nela, se 
cumprem os deveres principais, mas não os anexos. Já, aqui, a possibilidade de 
resolução. 
EXEMPLO 1: Caso dos frangos. O produtor adicionou vitamina à ração, mas não 
avisou. O comprador já dava água com vitamina e, por não ser avisado, 
continuou dando. Os frangos morreram por excesso de vitamina. Não foi 
cumprido, pelo produtor, o dever de informar. 
EXEMPLO 2: Construtora não informou que o prédio seria feito sobre um antigo 
um lixão. Nem todos os imóveis foram afetados, mas aqueles que foram ficaram 
prejudicados, pois estavam em área de risco. 
Outra hipótese é a alteração superveniente das circunstâncias. Entra aqui a 
possibilidade de resolução por onerosidade excessiva, constante no art. 478. É cabível 
para obrigações duradouras ou instantâneas em “parcelas” – ou seja, com tempo entre 
a formação e a execução. No nosso direito, não tem se exigido que a contraparte tenha 
vantagem com a onerosidade excessiva. 
 EXEMPLO 1: Objeto será entregue em 15 dias, mas fato posterior impede. 
EXEMPLO 2: Contrato de fornecimento resta alterado por fato novo. É uma 
obrigação duradoura, continuada. 
EXEMPLO 3: Obrigações diferidas, com pagamento em prestações, também 
podem ser afetadas por fatos supervenientes. 
Discute-se muito se a parte pode renunciar previamente ao direito de resolver. Há 
entendimento de que não posso renunciar a um direito que ainda não adquiri. É 
possível, porém, depois do inadimplemento, dizer que não vai optar pela resolução. 
Existem, ainda, alguns limites à essa resolução. São eles: 
1 – Adimplemento Substancial: verifica-se no caso concreto. Vincula-se a ter cumprido 
a maior parte do contrato. Não pode, então, ser resolvido o contrato quando ele foi 
“mais cumprido do que descumprido”. 
Prof. Tula P2 Helena Fabricio 
Importante, aqui, dizer que não é possível a cláusula de decaimento das prestações 
pagas. Ou seja, não é válido dizer que “em caso de resolução, as prestações pagas 
serão perdidas”. 
* CIVIL E PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL.REINTEGRAÇÃO DE POSSE. 
RESOLUÇÃO DO CONTRATO.ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. INAPLICABILIDADE. 
1. O INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO CRIA PARA O CREDOR A POSSIBILIDADE 
DE POSTULAR A RESOLUÇÃO CONTRATUAL, CASO NÃO OPTE POR EXIGIR SEU 
CUMPRIMENTO, CABENDO, EM QUALQUER DOS CASOS, INDENIZAÇÃO POR 
PERDAS E DANOS. 2. A TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL CONSTITUI 
MEIO DE CONTROLE DA BOA-FÉ SOBRE A ATUAÇÃO DOS DIREITOS SUBJETIVOS, 
PORQUANTO NÃO SE REVELA ACEITÁVEL O DESFAZIMENTO DE SIGNIFICATIVA 
RELAÇÃO JURÍDICA EM FACE DE DIMINUTO DESCUMPRIMENTO DO PACTO. 3. O 
DESCUMPRIMENTO DE CINQUENTA E DUAS DAS SESSENTA PARCELAS 
AVENÇADAS NÃO AUTORIZA A APLICAÇÃO DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO 
SUBSTANCIAL, SENDO POSSÍVEL O MANEJO DA AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE 
POSSE SEM AFRONTAR O PRINCÍPIO DA BOAFÉ. 
2 – Resolução Vazia: baseia-se na discricionariedade das partes. A resolução cheia é 
aquela vinculada ao inadimplemento, e essa vazia é o contrário: é a sem fundamento. 
É possível que exista cláusula de resolução vazia, e ela valerá. Apesar disso, ela deve 
estar presente para ambas as partes, ou seja, se um pode optar livremente por 
resolver, o outro também poderá. Isso é para evitar abusos. 
A resolução pode, ainda, ser legal ou convencional. São, então, duas modalidades: A 
legal é extensiva a todos os contratos no âmbito de aplicação da Lei. É a mais comum e 
deriva da aplicação do artigo 475 do Código Civil e artigos 18, II, art. 20, II e 35, III do 
Código de Defesa do Consumidor. Já a convencional constitui-se por cláusula resolutiva 
expressa - pode ser estipulada na conclusão do contrato ou em momento posterior, 
conforme previsto no art. 474 do Código Civil. Sua existência não exclui a regra do art. 
475 do Código Civil.

Continue navegando