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Prova Economia Brasileira

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Universidade Federal do Rio de Janeiro - Instituto de Economia 
Rio de Janeiro, 06 de junho de 2016. 
Aluna: Luana Mello Andrade DRE:109093132
Disciplina: Brasileira I Prof.: Dr. Eduardo Pinto
PROVA EM CASA 
1- Apresente e analise o padrão de acumulação da economia brasileira durante a República Velha (1891-1930) a partir das interpretações do Furtado e do Caio Prado, identificando os principais fatos estilizados (fim da escravidão, poder dos setores cafeeiros, diferentes padrões de acumulação regionais, etc) as similitudes e as diferenças entre as interpretações (3,0). 
Segundo Furtado, uma das características mais fortes do Brasil colonial até a maturação do ciclo do café era a sua constituição em ilhas econômicas isoladas, que tinham comunicação direta com o exterior, mas padeciam de articulação interna: i) pelo espaço geográfico; e ii) pela estrutura produtiva, ou seja, a estrutura produtiva era baseada numa espécie de plantation, sem complementariedade dos produtos entre si, o que resultava na dificuldade de articulação entre estas unidades produtivas. Correlacionada a essa concepção, há de se mencionar a hipótese forte da falta de identidade nacional, que só haveria de surgir nos anos de 1930.
Estas características que predominaram durante um longo período da história do país implicarão, para esta interpretação, em algumas considerações importantes no que diz respeito à estrutura produtiva e social do Brasil até o final do século XIX e primeiros decênios do século XX. 
Na gestação da economia cafeeira, segundo Furtado, há diferenças na formação da empresa cafeeira, para a empresa açucareira. Primeiro, a empresa cafeeira se caracterizava por um grau de capitalização bem mais baixo que a açucareira, uma vez que se baseava mais amplamente no fator da terra. A similaridade entre as duas está no uso intensivo da mão-de-obra escrava, na fase inicial do café. Este fator, e a existência de abundância de terras, tornava os custos monetários ainda menores do que os da açucareira. Segundo, emergia uma classe de cafeicultores que se distanciavam dos senhores de engenho, uma vez que diferentemente destes, possuíam autonomia decisória em relação à sua produção, uma vez que os processos produtivos e comerciais se davam juntos, no mesmo locus. Isto derivava uma importante potencialidade de influência política desta classe. 
Em relação à mão-de-obra, Furtado pontua a existência de inelasticidade de oferta de mão-de-obra para a cultura do café, que se constituía como uma produção extensiva – dada a abundância de terras -, isto porque inicialmente, com a mão-de-obra escrava, havia pouca capacidade desta força de trabalho se reproduzir, dadas as péssimas condições de sua subsistência. A taxa de mortalidade era maior que a de natalidade, e além disso, a Inglaterra já exercia forte pressão ao fim do tráfico negreiro na América. Nesse contexto, há transição da mão-de-obra escrava para a assalariada imigrante, que surge tanto como a principal força motriz no desenvolvimento da produção do café até seu auge, como o elemento fundamental de formação de um proto mercado interno, e promotora, por consequência, de maior dinamização relativa da economia brasileira - possibilitando agora relações mais fortes e efetivas de trocas - e social a partir desse período. Além disso, há uma mudança nas relações de trabalho, uma vez que para o cafeicultor, a relação de propriedade que antes compreendia a terra e o trabalho, uma vez que o escravo era visto como capital, estoque, agora com a mão-de-obra assalariada e livre, passa a ser um fluxo, há a transferência de posse da força de trabalho para o indivíduo. Disso, se origina a constituição de um mercado de trabalho, apesar das relações patrimonialistas e servis que se estabelecem inicialmente. A implicação principal dessa mudança para a mão-de-obra, vista como um fluxo e tendo de ser remunerada, obviamente recaía sobre os lucros do empresário cafeicultor, e para que houvesse viabilidade produtiva, a partir de salários relativamente estáveis, dada a abundância de terras, a Lei de Terras se tornara fundamental para que o custo do trabalho não aumentasse muito. Nesse sentido, o salário pago era o de subsistência, o necessário para a reprodução da força de trabalho, portanto, há óbvia distinção das relações de consumo que podem ser divididas em duas: A do assalariado, cuja renda era em sua totalidade ou quase totalidade voltada para o consumo de bens essenciais, importados, que resultaria numa inelasticidade-renda da demanda por importados; e o consumo dos não assalariados, cuja a proporção de consumo na renda era baixo, e os itens importados de consumo se configuravam como não-essenciais, ou seja, alta elasticidade-renda da demanda. 
No que se refere à produtividade e tecnologia, o setor cafeeiro tinha suas particularidades. Primeiro, porque a característica da atividade em si não permitia uma significativa divisão do trabalho, que auferisse ganho físico de produtividade. Segundo, que pela abundância de terras, e pela inexistência de uma pressão no sentido de elevação dos salários, como o fator escasso era o capital, não havia nenhum incentivo à melhora das técnicas de cultivo, o que configurou por todo o exposto em uma cultura extensiva, isto é, o mínimo de capital era aplicado por unidade de produção. 
Dados os elementos fundamentais desenvolvidos nos parágrafos anteriores, temos estabelecidos o conjunto de fatores que formam a estrutura de transmissão do padrão de acumulação: a matriz agro-exportadora do café, que se estabelece como centro de propulsão da economia brasileira desse período. Ela influencia diretamente o padrão monetário, através da balança de pagamentos; as contas públicas, uma vez que a receita mais significativa do Estado estava nos impostos de importação; os mercados de produção de subsistência, e outros setores que compunham o mercado interno. 
Dessa forma, a economia brasileira com seu centro dinâmico no setor agro-exportador estava sujeita e totalmente vulnerável a desequilíbrios externos provenientes de flutuações dos preços das exportações, sobretudo do café. Quando o ciclo era positivo, ou seja, havia alta externa no preço do café, o ciclo de acumulação ocorria com melhora dos termos de troca, dado o coeficiente alto de importação, estas eram estimuladas, por consequência, a arrecadação do governo aumentava, e não havendo qualquer pressão no sentido de elevação dos salários, os ganhos de produtividade (meramente econômica, e não física) eram apropriados pelo capital, auferindo ganhos de margem para os empresários. A reprodução do capital produtivo, por sua vez, não ocorria com melhora das técnicas de produção, ou aumento do capital por unidade produtiva, mas pela expansão das plantações, e manutenção do cultivo extensivo. 
Quando havia queda do preço do café, por sua vez, o movimento de contração dos lucros, que seria óbvio, não ocorria. Pelas regras do padrão-ouro, quando isto acontecia, dado o alto coeficiente de importação e pelo efeito de aumento destas pelo ciclo de alta anterior, sua resposta à queda do preço das exportações e de sua receita, era lenta. Logo, havia desvalorização da moeda nacional em relação à divisa, piorando os termos de troca e encarecendo as importações, que eram base do consumo das classes assalariadas, como se tratava de bens essenciais, havia uma perda de poder de compra, e contração do salário real intensas. As receitas tributárias do governo em queda, por sua vez, obrigava emissão de papel-moeda para cobertura de seu déficit, cujo efeito negativo recaía também sobre a massa urbana assalariada, como forma de um segundo imposto. Enquanto isso, a redução do valor externo da moeda significava, um prêmio a todos os que vendiam divisas estrangeiras, isto é, exportadores. Grosso modo, o processo de correção do desequilíbrio externo significava, em última instância, uma transferência de renda daqueles que pagavam as importações para aqueles que vendiam as exportações. Havia claramente
uma tendência de concentração de renda. 
Caio Prado Jr coloca como fatores centrais que comprometiam a estabilidade, as instabilidades: política, econômica e governamental. Concentração cada vez maior das atividades de produção de uns poucos gêneros exportáveis, e a estruturação de toda a vida do país sobre base precária e dependente, tornavam o sistema frágil e vulnerável. Contradição pelo Brasil ser um dos maiores exportadores de gêneros tropicais e matérias-primas do mercado internacional, e no entanto, ter seu consumo baseado numa forte pauta de importação. Não é apenas a contradição máxima do sistema econômico brasileiro que lhe comprometerá a estabilidade, análise que vai de encontro à interpretação do Furtado. Porém a ruptura mais consistente da visão do Caio Prado para a do Furtado está na análise mais forte nas contradições internas do próprio sistema, tais como as tensões das relações de trabalho inerentes às grandes propriedades, pela falta de adaptabilidade do trabalhador imigrante, principalmente, e pela insistência da postura patrimonialista e servil do fazendeiro, ocasionando, fortemente, instabilidade da mão-de-obra, e que revelará fortes elementos de desintegração da estrutura. Além disso, as tensões entre as classes têm foco na análise de Prado Jr, no sentido da mudança no paradigma de consumo advinda da Revolução Industrial, e emergência de uma classe média urbana que passa a ter novos padrões de consumo, bem como novas demandas políticas, conferindo maior complexidade à sociedade brasileira, e maiores tensões também. 
O início da República é marcado pela perda de capital – sem reposição – do trabalho escravo, visto como estoque, pela introdução do trabalho assalariado. A substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre, determinará para a grande propriedade contingências muito graves e que ameaçarão seriamente sua solidez. Provocando de um lado a instabilidade de mão-de-obra; introduzindo doutro nas relações de trabalho um estado permanente de atritos, e mesmo de conflitos mais graves que enfraquecem consideravelmente a antiga posição do grande proprietário. Antige-lhe mesmo diretamente, em muitos casos, a sua própria margem de proveitos: a necessidade de concorrer com o mercado livre de trabalho, a pressão por melhoria de salários e condições gerais de vida do trabalhador, afetarão gravemente a base financeira das explorações de menor rendimento, apressando assim o seu colapso. Ainda nesse contexto, o problema do modelo agroexportador era que sua alta produtividade relativa e existência de limites físicos de expansão em detrimento de outros setores, de subsistência com baixa produtividade, e salário médio muito baixo, fazia com que este menos produtivo limitasse a elevação dos salários no setor produtivo, pela existência de um “exército de reserva” para mão-de-obra. Ou seja, a produtividade do setor agroexportador não transborda para outros setores, até pela falta de complementariedade produtiva, e da própria natureza do café, o que o torna fortemente voltado para o mercado externo. 
Caio Prado chama atenção para o novo clima que trouxe a República, o surgimento de “um novo espírito de negócios”, em que o capitalismo penetra na sociedade, porém se trata ainda de um capitalismo comercial, ligado à exportação de bens agrícolas, cuja crítica que ele tece nesse sentido, é basicamente da impossibilidade de evolução e transformação desse capital comercial em capital industrial. Nesse contexto, ele discute a crise de transição, na qual destaca basicamente a incidência de crise financeira, descentralização e política e espada. Sob o aspecto da crise financeira, há de se destacar seus aspectos internos e externos. Primeiramente, pela dimensão interna, há como também mencionara Furtado, o problema da falta de meios circulantes desde a transição da mão-de-obra, cuja constatação ocasionou uma expansão da emissão monetária. Dessa forma, e com vistas de impulsionar esse espírito empreendedor nascido da República, a expansão do crédito, para estimular novos negócios resultou no aparecimento desenfreado de firmas fantasmas, que se aproveitaram de crédito barato para outros fins que não produtivos, e em última instância ocasionou um efeito cascata, provocando quebra geral e inflação paulatina. Sob a dimensão externa, as condições de desordem financeira tanto de crédito especulativo, quanto de emissão desenfreada provocará, em última instância liquidação apressada de capitais estrangeiros, e sua fuga, o que resulta num desequilíbrio da balança de pagamentos, e consequente desvalorização da moeda nacional e queda do câmbio. O serviço da dívida externa que se fazia em ouro, unidos às despesas sempre crescentes obrigava a novas e novas emissões. Juntamente com todo o cenário financeiro perturbador, começava a deflagrar uma queda dos preços do café no cenário externo, e concomitantemente a isso, a primeira crise de superprodução. O socorro de empréstimos externos, às custas de graves compromissos colaboram para o reequilíbrio financeiro do país, bem como os futuros incrementos do comércio exterior, abrindo nova fase de prosperidade, embora Caio Prado destaque que a estrutura econômica e social do Brasil que fomentou o colapso anterior permanece inalterada, apenas ajustada a um novo ritmo de crescimento. 
2-Franco e Fritsch apresentam o debate sobre a política econômica durante a República Velha, destacando o papel que o setor externo desempenhou nas alternâncias da política econômica. Nesse sentido, apresente e análise (4,0): 
		as características gerais da primeira década da República Velha, destacando o papel desempenhado pelo encilhamento e pelo Funding Loan; 
	a dinâmica da economia brasileira entre 1901 e 1930, destacando o papel desempenhado pela caixa de conversão e pela política de valorização do café 
	A crise da economia cafeeira no final dos anos 20 e os impasses do modelo agroexportador
Iniciando a análise nos aspectos gerais da República Velha no cenário internacional, Franco começa pontuando uma crítica à interpretação de Furtado no que diz respeito ao movimento dos preços do café e seus efeitos finais na balança de pagamentos. Franco não observa nenhum padrão dominante entre a correlação de movimentos de capital e termos de troca, mas há períodos onde ambos de movem na mesma direção. 
As dificuldades cambiais no país se tornariam crônicas a partir de 1891-1892 até fins de 1895, quando há uma quebra na tendência ascendente para importar, em função da piora dos termos de troca, colapso do preço do café, e etc. O déficit em conta corrente cresceria substancialmente, dando início a um período crítico das contas externas. O peso dos compromissos assumidos, anteriormente e uma conjuntura de semiparalisação dos fluxos de capitais para o Brasil, observa-se uma nova crise cambial, que dessa vez leva à moratória em 1898-1900. 
O aumento da importância relativa do setor de trabalho assalariado, além de alterar a estrutural da relação de trabalho, e das interações sociais, altera fortemente o paradigma de acumulação, e o plano monetário e de crédito. Isso ocorria, porque os pagamentos de salários em si exigiriam alto grau de monetização da economia, e além disso, eram pagos de maneira sazonal, uma vez que o trabalho se tornava mais intensivo em épocas de colheita, safra. Isso implicaria uma alta demanda nos adiantamentos junto aos bancos, por ocasião da safras. Essas práticas poderiam ter grave efeito sobre a liquidez dos bancos, uma vez que o desenvolvimento do sistema bancário por si só era incipiente, e também pelo fato da baixa propensão do público para reter moeda sob forma de depósitos bancários, tornava-os tanto vulneráveis com relação à sua liquidez, quanto limitados de expandir seus empréstimos como resposta à maior demanda por moeda, caracterizando inelasticidade de oferta do meio circulante. 
O reestabelecimento do padrão-ouro se faria em condições de câmbio bastante favoráveis, além de ser uma tentativa de limitar politicamente a República.
A tentativa de reforma monetária ao final de 1889 era praticamente nula, as novas emissões eram exaltadas em tons dramáticos, e segundo Rui Barbosa, havia risco iminente de que as empresas e transações desembocassem numa catástrofe. 
A principal medida de política econômica feita por Rui Barbosa fora lei bancária de 1890, que estabelecia emissões bancárias a serem feitas sob um lastro constituído por títulos da dívida pública. Porém, ao regionalizar os bancos e permitir a emissão, ele desfaz a lei bancária, e pela constante demanda reprimida por numerário, o ministro Rui Barbosa patrocinaria uma rápida e violenta expansão monetária, cujo crescimento havia chegado a 40% em setembro de 1890, com relação a janeiro do mesmo ano. A tentativas de enxugar os excessos do Encilhamento nos tempos subsequentes foram funestas. Em paralelo, em 1891 registra-se, ainda, uma queda inusitada da taxa de câmbio, na qual houve influências “exógenas”, tanto da entrada de capitais no país e da moratório argentina, além obviamente da influência direta do espantoso crescimento da oferta de moeda. 
O déficit orçamentário cresceria de forma significativa após a crise de 1891, sendo preocupante a evolução das contas de despesas vis-à-vis de receita do governo em moeda estrangeira. O resultado do orçamento mostrou-se muito sensível à flutuações cambiais, tornando evidente a relação entre desequilíbrio externo e desequilíbrio fiscal. Até que em 1898, após a proposta de moratória, é acordada entre o governo brasileiro e a Casa Rotschild, o chamado Funding Loan. O plano consistia em rolar compromissos externos do governo, como o serviço da dívida pública externa e algumas garantias de juros, em troca de severas medidas de saneamento fiscal e monetário. O governos saldaria em torno de três anos seus compromissos relativos aos juros dos empréstimos federais anteriores ao funding loan, com títulos de um novo empréstimo. 
O funding loan gozaria de garantias especiais e a título de condicionalidade apenas se exigia que o governo agisse de forma firme e decisiva com relação às contas públicas, bem como com a gestão da moeda, como uma moeda forte. Isso sucedeu o aumento dos impostos, através de uma modernização na estrutura tributária, e redução de despesas de várias ordens, sobretudo em moeda estrangeira. 
O programa conseguiria uma apreciação cambial bem distante da paridade, e em 1899 observa-se recuperação das exportações, impulsionada principalmente pela borracha. Além disso, há revitalização das entradas de capitais internacionais no país incentivadas pela adoção de políticas conservadoras do programa, que revelará uma tendência dos anos subsequentes em relação ao fato de que as crises cambiais serem geradas pelo mau (ou bom) comportamento das políticas monetárias e fiscais sob a perspectiva de banqueiros internacionais, que por sua vez influenciavam na magnitude da entrada de fluxos de capitais no país. O desfecho dessa época foi marcado pela vitória política do conservadorismo monetário, e que teria duradoura influência sobre a política econômica dos anos posteriores. 
Segundo a interpretação de Fritsch sobre o período, há em comum o reconhecimento de que o grande problema de política econômica está nos desequilíbrios de posição externa aos quais o Brasil estava sujeito, choques exógenos de duas naturezas distintas: o primeiro, tinha origem nas periódicas flutuações abruptas da oferta do café, que tendia a reduzir fortemente as receitas de exportação; e o segundo tipo de choque resultava nas interrupções de fluxos de capitais entre os países cujo capitalismo já estivera avançado, em razão de potenciais perturbações na economia internacional. Em que os grandes ápices da queda dos fluxos de comércio e investimento ocorridos antes da Primeira Guerra, além do boom e colapso dos preços de internacionais de produtos primários no imediato pós-guerra. 
Fritsch, se contrapõe à ideia de Furtado no que diz respeito aos grupos de pressão da República. Ele coloca que já há grupos variados e heterogêneos, ainda que menores capazes de exercer pressão pelos seus interesses políticos. A principal regra não escrita, era a de que o governo central estaria disposto a apoiar as oligarquias ou grupos de poder que controlassem o poder nos estados menores, de forma que possibilitasse a consolidação e estabilidade política que retornariam ao governo central. Através do “Pacto Oligárquico”, como sistema de centralização de poder, a falta de voz de estados intermediários que não faziam parte do eixo de acumulação mais significativo ocasionou atritos e tensionamentos políticos e de interesses econômicos, derivou-se posteriormente um profundo descontentamento social, desembocando numa crise política e colapso da primeira república. 
Após um período considerável de melhora econômica a conhecida “Belle Epoch do Capitalismo”, que precede a I Guerra Mundial, as exportações de borracha do Brasil e de investimentos viram um boom, o que melhora consideravelmente a posição externa brasileira. No entanto, dado este cenário a manutenção da política monetária relativamente reprimida, por imposição dos termos do próprio empréstimo, não permitia a recuperação do nível de atividade doméstico, mas também impossibilitava a manutenção da taxa de câmbio do nível inicial, que havia sido estabilizada. Essa situação era delicada para os exportadores de café, que já se deparavam com os preços internacionais deprimidos em função do grande aumento da oferta paulista, o que exemplifica neste período a capacidade de influência no preço internacional por parte dos produtores brasileiros. 
Após o atingimento do ponto crítico em 1905, numa substancial apreciação da taxa de câmbio, pelo aumento da receita líquida de divisas, foi criada a Caixa de Conversão, investida do poder de emissão de notas plenamente conversíveis em ouro a uma taxa fixa de câmbio, abrindo mão da ortodoxia de gestão da política monetária, como forma de aliviar as pressões da apreciação da taxa de câmbio, portanto quantidade de ouro correspondia a uma certa quantidade de moeda plenamente conversível, possibilitando ajustes sucessivos e graduais. 
Outro problema a ser gerido no período, estava ligado à questão de superprodução do café. Este era amenizado uma vez que a posição monopolística do país favorecia o controle da oferta do produto, com vistas a não imprimir efeito negativo ao seu preço internacional. Porém, este controle da oferta, baseado num acúmulo de estoques estava aquém do que o sistema bancário estaria disposto a ofertar em termos de financiamento. Neste contexto, é criado o Convênio de Taubaté, como acordo firmado entre os principais produtores de café e o governo central, para a defesa do produto. O governo central com receio da derrocada dos preços provocar brusca reversão da posição externa e o possível esgotamento das reservas da caixa de conversão, acabou por decidir avalizar junto a seus banqueiros internacionais o financiamento através de empréstimo, a desova de estoques excedentes de café a um prazo mais longo, e portanto, garantir a estabilidade de preços no curto prazo. A decisão pela defesa do preço do café, como objeto de promoção da estabilidade macroeconômica deu certo. 
A Caixa de Conversão funcionará limitadamente em períodos de cenário externo muito favorável (até 1913). O cenário do mercado interno consistia numa baixa produção, com pauta de consumo bastante voltada para importações, dessa forma ilustrando, temos: ↑Exportações da borracha (↑do seu papel na pauta de exportação) → ↑ da balança de pagamentos (↑ balança comercial) – superávit → ↑ Libra Esterlina (ouro) → ↑ Emissão de moeda → ↓Importações; ↑ Exportações → Ajuste da taxa de câmbio → convergência → Afeta preços internos (inflação). 
Ou seja, a balança de pagamentos, a arrecadação tributária, a dinâmica de preços internos e consequentemente, a renda são função do setor externo e grosso modo, o sistema econômico é refém do movimento do mercado internacional, apresentado continuamente forte vulnerabilidade
externa, apesar de ciclos de desenvolvimento e crescimento econômico. Os anos que estariam porvir, banhados pela guerra e contração do comércio internacional, e consequente derrocada dos preços exporá ainda mais a estrutura sensível do modelo agroexportador, que fomentará na nova ordem mundial do pós-guerra as necessidades de consolidação de uma indústria efetiva, e do desenvolvimento mais forte do mercado interno.
3- Um corte cronológico tradicional no estudo da industrialização brasileira é considerar o início da década de 1930 como um momento de inflexão de seu processo. Discuta e apresenta as três principais interpretações (teoria dos choques adversos, indústria puxada pelas exportações e o câmbio como determinante dos surtos de industrialização) do processo de industrialização brasileiro durante a República Velha. Além disso, apresenta as limitações dessas interpretações ao não considerarem a conexão entre o desenvolvimento do capitalismo brasileiro e o processo de industrialização como observado pela “escola de campinas” (João Manuel e Sergio Silva) (3,0) 
Primeiramente, iniciando esta análise por Furtado que converge com a visão Cepalina de industrialização pela Teoria dos Choques Adversos , há a colocação de que a indústria brasileira só foi possível, de uma maneira estruturada e continuada, a partir da Crise de 1929, quando há derrocada dos preços do café no mercado internacional, num momento que já existia superprodução estrutural, ao passo que o governo da época, de Washington Luís havia optado por não continuar com a defesa do café, pela impossibilidade de contrair empréstimos externos. Após a Revolução de 30, Vargas retoma a defesa do café, segundo Furtado, através de recursos provenientes da expansão do crédito. 
A compra do excedente do café evitava o declínio substancial da renda interna, o emprego no setor não se reduzia, matendo-se por consequência o nível de demanda agregada. Ao mesmo tempo, o desequilíbrio externo, fruto do declínio dos preços do café no mercado internacional e da receita de divisas, provocava forte desvalorização da moeda nacional. Como resultado, a demanda interna que antes era suprida pela compra de importados, requer a partir desse momento a demanda para a produção doméstica. 
Furtado portanto coloca como conceito fundamental, o “deslocamento do centro dinâmico” da economia brasileira, que antes estava nas exportações e agora passa para uma demanda do mercado interno. Portanto, dois elementos fundamentais conclusivos para a industrialização nesta análise estão pautadas: em primeiro lugar, teria sido durante a crise econômica mundial dos anos 30, pontuada pela ruptura das relações econômicas do Brasil com o exterior, que a economia brasileira encontrou os meios para se industrializar; em segundo lugar, coloca-se a intervenção do Estado – via política de defesa do café, política cambial, etc – teria sido essencial para garantir o sucesso da industrialização nos anos 30. Nessas duas conclusões estão implícitas a negação de dois elementos fortes da Teoria Econômica: Liberalismo latino-americano e a Teoria das Vantagens Comparativas. 
Peláez, através da industrialização induzida pelas exportações, tece crítica a Celso Furtado, e a Teoria dos Choques adversos, alegando que: i) a política de defesa do café foi feita contraindo vultoso empréstimo externo, e depois com os recursos provenientes de impostos sobre a venda do café, e não com os recursos provenientes da expansão do crédito; ii) A recuperação e retomada da economia brasileira nos anos 30 ocorrera pela melhora do panorama externo, tanto diretos como melhor na balança de pagamentos, como indiretos através do efeito sobre o déficit orçamentário, pela queda das importações. Dessa forma, cai a tese de que a demanda pelo mercado interno havia sido o fator central para esta recuperação. 
Portando, para Peláez o crescimento industrial dos anos 30 não decorre da crise e de uma conduta heterodoxa do Estado, através de intervenção. Pelo contrário, ele afirma que a recuperação não teria lançado mão do orçamento equilibrado, e fundamentalmente, a melhora da economia estaria ligada ao setor externo, através da expansão das exportações. 
A Terceira teoria, proposta por Versiani e Versiani do câmbio com duplo efeito, colocam ao estudar a indústria têxtil brasileira, que os períodos caracterizados por desvalorização da moeda nacional correspondem a fases de crescimento da produção; por outro lado, períodos de intensificação do investimento em formação bruta de capital fixo coincidiram com fases de câmbio relativamente alto. Assim, a crise externa que derrubou o câmbio, favorecia a produção industrial e paralelamente prejudicava o investimento. Por outro lado, a expansão das exportações, elevando o câmbio favorecia o investimento mas limitava o crescimento das exportações pelo barateamento relativo dos importados. 
Em um conjunto estruturado de análise, a chamda Escola de Campinas, apesar de aceitar a Teoria dos Choque Adversos, menciona-se o caráter parcial de explicação dos fenômenos, no que se tece uma crítica contundente às interpretações anteriores, por não considerarem o processo de industrialização em relação com o desenvolvimento do capitalismo no Brasil. 
Em uma perspectiva mais abrangente, Fernando Henrique Cardoso inicia o que seria o cerne de outras formulações, colocando a existência de condições sociais prévias para a efetivação da atividade industrial, como a preeminência do capitalismo em certo grau de desenvolvimento, e mais especificamente de uma economia mercantil, que estabelece uma correlação com algum grau de divisão social do trabalho. 
Essas condições podem ser verificadas com início na inserção da mão-de-obra imigrante assalariada, em substituição à escrava, que estabeleceria nova relação de trabalho com o fazendeiro, tornando-o a partir disso um empresário capitalista. Além disso, acrescentam-se outros elementos: diversificação do emprego de capital, desenvolvimento de núcleos urbanos, intensificação da divisão social do trabalho e generalização das relações mercantis. Estabelecem-se dessa forma, as condições sociais prévias da industrialização. O crescimento industrial se verificaria nos momentos de ruptura das relações com o mercado mundial, como as guerras e as grandes crises econômicas. 
No início da indústria, observa-se outra fase de substituição de importações. O desequilíbrio externo obriga à adoção de medidas que desestimulassem as importações. Percebe-se portanto, que a substituição de importações que assim se convencionou a chamar (sem que o fosse, propriamente), e podia ocorrer na franja de uma economia agroexportadora, sem que representasse uma ruptura do caráter dessa economia. 
Sérgio Silva critica as teses que estabelecem uma relação undirecional entre café e indústria, ao contrário, ele admite que a crise cafeeira tem efeitos negativos e positivos para a indústria. O declínio cambial protege a produção nacional, no entanto, estanca os potenciais investimentos, sobretudo os de formação bruta de capital fixo, em face ao encarecimento dos importados; Em relação ao mercado de trabalho, se os trabalhadores são desempregados na crise, há redução do mercado para os produtos industrializados, mas havendo deslocamento rural para o meio urbano, amplia-se a possibilidade de reserva de oferta de trabalho para a indústria. Além disso, se as tarifas alfandegárias são elevadas, há por um lado a proteção da produção nacional, mas por outro, inibição do investimento em razão do encarecimento das importações. Estabelece-se dessa forma, o caráter paradoxal e contraditório na relação café-indústria. 
Em um outro viés, Sérgio Silva, o nascimento da indústria decorre das contradições inerentes ao desenvolvimento da economia cafeeira, sobretudo do desequilíbrio externo. Porém, ao contrário do exposto da Teoria dos Choques Adversos, esse desequilíbrio externo se dá muito mais em função da posição subordinada da economia brasileira em
relação à economia mundial, que define a economia cafeeira como célula do desenvolvimento capitalista no Brasil, e o desequilíbrio externo como uma das contradições desse desse desenvolvimento. No entanto, o desenvolvimento da indústria o seio do café, não implica ruptura com o cenário prévio. O eixo de análise integrado: industrialização – café – economia mundial, é importante por estabelecer que o desenvolvimento da indústria pode inferir numa perda da dominância do capital cafeeiro.

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