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Aspectos Sócioantropológicos UNIDADE 4 2 UNIDADE 4 ASPECTOS SÓCIOANTROPOLÓGICOS PARA INÍCIO DE CONVERSA Olá, estudante! Espero que esteja preparado(a) para darmos continuidade a nossa jornada de estudos. Vamos iniciar a nossa quarta e última unidade e conto com o seu comprometimento nesta reta final. ORIENtAçõES DA DISCIPlINA Gostaria de lembrar a importância da leitura de seu livro-texto, pois ela irá nortear o estudo deste guia. Você tem à sua disposição vários recursos para facilitar seu aprendizado. Acesse a nossa biblioteca virtual e faça novas pesquisas, em alguns momentos deste guia vou indicar a leitura de textos complementares com o objetivo de facilitar seu aprendizado. Ao final da nossa quarta unidade é primordial que você acesse o nosso ambiente e responda o questionário e a atividade contextualizada. Caso tenha alguma dúvida não perca tempo pergunte ao seu tutor. Vamos lá! Voltamos a nossa reflexão sobre os aspectos socioantropológicos da educação, nessa quarta e úl- tima unidade veremos os elementos mais relevantes da atualidade nos estudos sobre a educação na perspectiva das ciências sociais. Questões ligadas diretamente à exclusão e à inclusão dentro do cotidiano e a forma como tais dinâmicas têm sido tratadas por profissionais da educação. Nossa primeira reflexão será sobre o encontro com o “outro”, como é e o que significa se defron- tar com as diferenças no contexto escolar. Trata-se de uma reflexão metodológica sobre a análise da relação entre diferenças e desigualdades na sociedade e na educação brasileira. Iremos discu- tir como tratamentos desiguais podem gerar desconfortos e até conflitos sociais e a forma como o fundamento cultural dessas posturas comportamentais tem sido fundamental para a continuidade de tais práticas. Como consequência destes comportamentos desiguais, surgem processos de exclusão, política, social e econômica. Nesse momento secundário da quarta unidade, iremos movimentar as ideias sobre a desigualda- de social e cultural, para que, assim, possamos avaliar criticamente o panorama atual das práticas pedagógicas que circundam o tema. 3 Como a educação tem lidado com tais questões? E quais as expectativas da comunidade global para os choques culturais e conflitos sociais surgidos a partir da exclusão proporcionada pelas desigualdades? Antes de mergulhar no cerne da questão, discutiremos ainda a capacidade das escolas se configu- rarem como ambientes de produção de valores culturais. Deixando o posto de reprodutores ou de palco para manifestação de ideias e ideologias que reforçam as desigualdades e produzem mais exclusão social, preconceito e discriminação. Avaliaremos a necessidade da construção de um novo paradigma em que a educação não mais deve reproduzir práticas e valores, mas deve se posicionar de forma ativa para conduzir todos envolvidos na comunidade escolar em um projeto de valorização das diferenças socioeconômicas e culturais. Para isso não é a escola que enquadra os estudantes em um modelo culturalmente determinado, mas o contrário, a escola deve ser um ambiente que fomente e permita o desenvol- vimento de cada identidade cultural para uma vida autônoma na sociedade em que vive. Trata-se de uma avaliação inclusiva de todos os padrões e perfis socioculturais presentes na sociedade contemporânea. Estarei levando você, estudante dedicado, à última estação da nossa jornada, com essa unidade encerramos esse módulo, então vamos lá! O ENCONtRO COM O “OUtRO” Um dos pontos de partida da reflexão antropológica é o encontro com o “outro”, quando os euro- peus encontraram com outras civilizações, viram outro ser humano vivendo e se relacionando com outros seres humanos e com o mundo de forma diferente para o que lhes era “normal”. Pensar através da antropologia só é possível quando se adota uma postura de ver como desconhecido àquilo que está diante de nossos olhos, somente assim, se pode perceber em detalhes e aspectos da realidade pontos questões a serem analisados. Olhar a vida escolar de perto, requer essa postura para encontrar por trás de práticas educacio- nais a construção de padrões que excluem determinados grupos sociais ou que podem aproximar. Quando pensamos em educação, imaginamos um modelo a ser aplicado a todos da sociedade, todos no grupo receberão tratamento igual, devem ser considerados como iguais. Mas a verdade é que não somos iguais na sociedade, uma coisa é oferecer iguais oportunidades e outra totalmente diferente, é passar por cima das diferenças e desigualdades existentes. PAlAVRAS DO PROfESSOR Mas antes de qualquer coisa, vamos esclarecer um detalhe importante, de quais diferenças e desigualdades estamos falando? 4 Consideramos aqui como desigualdade o tratamento e a valoração de elementos que diferenciam as pessoas no convívio entre os indivíduos em sociedade. As desigualdades sociais estão asso- ciadas a questões étnicas, de gênero, etárias, políticas, religiosas, econômicas, estéticas, e a qualquer outro aspecto que possa servir para diferenciar os indivíduos visual ou ideologicamente. Todos os aspectos que geram desigualdades no tratamento social produzem também valores cul- turais que vão conduzir novos comportamentos. Por exemplo, a situação vivida pelos grupos indígenas no Brasil condiciona o desenvolvimento de variações de culturas tradicionais. A forma como não só os grupos indígenas, mas todos os grupos que fogem aos padrões sociais são tratados pela sociedade, gera um sentimento que servirá de base para a produção e transformação de valores sociais. No caso do gênero, apesar de muito avanço na compreensão destas relações sociais, ainda é comum um tratamento discriminatório com base no sexo, inclusive no Brasil. A forma como as expectativas culturais servem de modelo para a construção dos papeis sociais entre meninos e meninas ainda gera desigualdades sociais entre os gêneros. A escola acaba sendo mais um espaço de reprodução cultural do que reflexão e/ou desconstrução de conceitos; onde posturas, atitudes refletem a opinião do senso comum. IMPORtANtE Comportamentos “típicos” do gênero masculino são predominantes, enquanto o universo das condutas tradicionalmente associado ao gênero feminino não é dado a mesma importância pela sociedade. Naturalmente, é atribuído ao gênero feminino o cuidado com os filhos, da gestão doméstica e demais atividades voltadas para a família. Em modelos tradicio- nais a educação feminina é alimentada por ideias de obediência, sensibilidade e emoção que levam as mulheres a se compreenderem a realização social dentro de um determinismo biológico, mas submissas à realidade social construída pelo gênero masculino. E apesar de muitas lutas vencidas, a mulher ainda continua sendo a principal responsável pelos afazeres domésticos e cuidados dos filhos. 5 Fonte da figura: http://www.cantaresnet.com.br/wp-content/uploads/2016/01/mulher-do-lar.jpg Na sociedade contemporânea, ainda existe a aplicação desses padrões sob a forma de lingua- gem, relações de poder ou de autoridade, nas funções desempenhadas por gêneros distintos e nas expectativas de resultados e desempenho. Tudo isso vivido no contexto escolar irá impactar diretamente na construção de cidadãos e cidadãs. GUARDE ESSA IDEIA! Completamente ligado à discriminação de gênero está o debate sobre o tema da diversidade sexual que vivemos atualmente no mundo. Para refletir melhor sobre o assunto, peguemos um exemplo hipotético, mas que talvez você mesmo já tenha presenciado em seu contexto social e/ou escolar. Um rapaz que começa a manifestar sinais de comportamento homossexual logo é alvo de diversos apelidos pejorativos. Podendo acontecer também o contrário, no caso de uma garota, que apre- sente um comportamento tipicamente masculino. Mas porque esses comportamentos incomodam tanto aos demais? A explicação para esta pergunta é histórica e sociológica. Sabemos que a homossexualidade sempre foi presente em todas as civilizações,no entanto, a partir do momento em que o homem passou a submeter-se às regras impostas pela Igreja, a concepção de homem e mulher (hete- rossexuais) passou a ser a conduta considerada a correta; não estando em “condições normais” aqueles que não compartilhavam dela. http://www.cantaresnet.com.br/wp-content/uploads/2016/01/mulher-do-lar.jpg 6 E assim como é com os homossexuais, também não são considerados “normais” os que se en- quadram no racismo, antissemitismo (julgar o povo judeu inferior), xenofobia (antipatia frente ao estrangeiro), e todo e qualquer tipo de discriminação. Fonte da figura: http://sereduc.com/LcydRj Situações de mal-estar são vividas no cotidiano escolar por muitos outros fatores, não apenas por questões étnicas e de gênero (condição financeira, faixa etária, identidade religiosa, etc.). Geralmente tais situações ocorrem porque a sociedade e o sistema educacional ainda estão se adaptando à necessidade global da construção de um projeto que fomente o diálogo com as diferenças. Essa necessidade surgiu como fruto de grandes mudanças que tem acontecido na sociedade. Nunca se teve acesso a tantas opções para a ocupação humana, a massificação do acesso aos meios de comunicação levou a ideia de que todos no mundo podem ser o que quiserem. Apesar de a mídia ter um peso grande na formação dessa ideia, a educação também carrega um pouco dessas possibilidades latentes para a realização de sonhos, da construção de novas e distintas identidades. Até meados do século passado era muito comum que os membros de uma determinada cidade brasileira tivessem os mesmos padrões culturais; respeitando as distinções de classe e grupos étnicos, é claro, ou seja, as desigualdades também seguiam padrões muito bem definidos. Os filhos de agricultores geralmente seriam agricultores, os filhos de médicos provavelmente seriam médicos e assim por diante. As mudanças ocorriam lateralmente, sem que houvesse queda ou subida na estrutura de posições sociais. http://4.bp.blogspot.com/-hHykMnbfmAs/T_RYXu97XwI/AAAAAAAABSY/BLHSlplN- 4/s1600/575778_393993673992100_379812759_n.jpg 7 No entanto, a proximidade com a virada do milênio trouxe algumas mudanças, as desigualdades passam, aos poucos, a tomar outros contornos. Novas ideias ligadas à religião, estrutura familiar, estética, gênero e sexualidade começam a divergir dos modelos tradicionais culturalmente. Pas- saram a surgir no contexto da diversidade, novos conflitos ideológicos que foram somados aos que já existiam. A obrigatoriedade em frequentar escolas, levou realidades, muitas vezes, completamente distan- tes; a coexistirem e interagirem em um mesmo ambiente e com um mesmo propósito. Os grandes dilemas da sociedade global agora são representados no cotidiano escolar; e o sucesso de um indica o sucesso do outro. Relações sociais na escola: entre a inclusão e a exclusão Uma das compreensões básicas desse contexto é a de que um tratamento desigual pode gerar exclusão social. Um dos temas mais complexos das ciências sociais, a exclusão social, é algo que ocorre, para a educação, pela ausência do acesso à educação e pode ocorrer também dentro no sistema educacional por práticas excludentes. Ao reproduzir padrões sociais, a escola define um sistema de inclusão e exclusão social. Se as pessoas devem ter condutas de higiene e cuidados com a saúde de acordo com pesquisas cien- tíficas e a escola propagar isso entre os estudantes, uma geração inteira poderá vivenciar esse padrão cultural. Por consequência, aqueles que não seguirem esse padrão serão tratados como diferentes. Se para toda uma sociedade as pessoas adultas devem saber ler e escrever, então, pode-se ima- ginar que os analfabetos terão dificuldades de interagirem em determinados contextos. Se as pessoas que nascem com condições distintas de audição, ou visão, ou locomoção, por exemplo, não puderem participar dos processos educativos iguais aos demais cidadãos, quais serão as chances dessas pessoas conseguirem participar da vida social? Imaginemos ainda a situação de milhares de jovens e adultos que não obtiveram um desempenho escolar considerado como de qualidade, quais serão as chances dessas pessoas conquistarem as promessas de melhoria de vida, na sociedade contemporânea? Mas qual a relação da exclusão social com o desempenho escolar? De que forma a condição social afeta a maneira como uma pessoa em formação entende o mundo? Essas são questões que nos levam a avaliar a maneira como a educação tem lidado com aspectos que diferenciam as pessoas num contexto social e apontam para as soluções que já estão come- çando a serem colocadas em prática. Durante muito tempo se pensou que o acesso à escola poderia resolver muitos problemas sociais. E essa é uma reflexão muito correta, só que quem pesou isso não imaginou que dependendo de como as práticas pedagógicas forem conduzidas, muitos outros problemas podem surgir. É fun- damental compreender que o acesso à educação deve ser veiculado de forma a articular as reais demandas da comunidade que irá frequentar cada escola, caso o contrário ela pode gerar mais conflitos. 8 Fonte da figura: http://sereduc.com/T0HCAj Ainda existem milhões de crianças e adolescentes em idade escolar fora da escola. Essa realidade nos expõe o número de pessoas que terão dificuldade de se integrarem produtivamente na vida social, sofrendo processos de exclusão econômica, social e política. Serão pessoas que ficarão a depender dos projetos de sociedade construídos por outros agentes sociais, sua participação ati- va não será efetivada, pois estarão fora das estruturas formais de construção da realidade social. Dentre os que frequentam a escola ainda existe outro processo de exclusão social: a chamada exclusão de dentro ou exclusão escolar. Dentro do ambiente escolar esses excluídos podem ser identificados pela dificuldade de acompanhamento dos conteúdos passados pelos professores, muitas vezes pelo analfabetismo e pela evasão. O baixo desempenho escolar geralmente está associado com o perfil sócio econômico das famílias desses estudantes. http://sereduc.com/T0HCAj 9 PAlAVRAS DO PROfESSOR Analisando sob esse prisma, você estudante crítico(a) e questionador(a) já deve ter imaginado que o perfil dos estudantes que não se encaixam no desenvolvimento das atividades escolares é se- melhante à condição social, econômica e cultural das pessoas que não vão para a escola. No Bra- sil, essas pessoas pertencem aos grupos indígenas, comunidades quilombolas, afrodescendentes, filhos de famílias com baixa renda ou com problemas legais (criminalidade ou uso de drogas como o crack), crianças que vivem no campo e cuidadas por pessoas de baixa escolaridade. A política educacional desenvolvida durante as últimas décadas no Brasil não tem sido suficiente para superar as desigualdades. Estudantes de grupos indígenas, quilombolas e oriundos de movi- mentos políticos como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) são encaminhados para a rede regular de ensino sem passar por um processo de adaptação apropriado. A mesma dificuldade, ou talvez ainda maior, ocorre com a adaptação de estudantes com necessi- dades educativas especiais, profissionais da educação, estrutura física dos prédios, demais es- tudantes e seus familiares não recebem um preparo apropriado para o diálogo com as diferenças no contexto escolar. Sobretudo quando se trata de casos ligados a problemas neurológicos ou cognitivos, a resistên- cia ao convívio e interação tem sido ainda mais desafiador e conturbado. Muitos pais ainda não conseguiram se desvincular da ideia de que seus filhos devem estudar apenas com estudantes “normais”. É essa noção de “normal” que define os padrões de exclusão na nossa sociedade, há um “estra- nhamento” a tudo aquilo que não é “normal”. Culturas diferentes, aspectos físicos, cognitivos ou sensoriais distintos daquilo que culturalmente é visto como “normal” deve ser tratado em separado. Fonte da figura: http://sereduc.com/Pb8vmEhttp://sereduc.com/Pb8vmE 10 EDUCAçÃO, ESCOlA E MUltICUltURAlISMO PAlAVRAS DO PROfESSOR Destacamos aqui para você, aluno(a), que o ambiente escolar, palco do contato e confronto de ideias e valores, também é um espaço para a construção de conteúdo cultural. A partir do momen- to em que as vivências são traduzidas pelos sujeitos que as vivem; naturalmente essas experiên- cias irão produzir novos valores que servirão de base para nortear novas interpretações sociais. Os padrões tradicionais sedimentados na cultura ocidental, letrada, heterossexual, masculina e cristã imersa na imaginação social, aos poucos passam a não mais atender aos anseios da diver- sidade globalizada. Um modelo educacional pautado nesses padrões produz exclusão de todos os demais grupos que não se encaixam nesse padrão. No decorrer do século passado, as ideologias e posicionamentos educacionais que aplicaram, no contexto escolar, as perspectivas tradicionais de um modelo de cidadão a ser apresentado perante a sociedade, produziram discriminação, racismo, xenofobia, homofobia, e exclusão social, econô- mica e política. Os conflitos que surgiram a partir desse tipo de choque ideológico ocorreram em várias instâncias da vida social, desde a violência individual, até guerras entre grupos étnicos, sem falar de ações como o terrorismo. Ainda hoje, em algumas regiões do mundo, grupos como o Boko Haram desenvolvem ações de combate e intolerância ao modelo educacional ocidental. De acordo com a ideologia deste grupo, a educação ocidental é um pecado e por isso eles combatem violentamente aqueles que vivem segundo outros princípios. GUARDE ESSA IDEIA! Não cabe às ciências sociais julgar qual o posicionamento correto, apenas ana- lisar os impactos desse tipo de atitude na sociedade. Pelo que temos visto até o momento, e por posicionamentos mais ou menos extremistas e violentos que uma educação voltada para o diálogo com as diferenças passa a fazer sentido para a comunidade global. Esse tipo de atividade tem mobilizado a comunidade global a inserir no contexto educacional o combate às práticas discriminatórias. A arbitrária imposição de padrões hegemônicos passa a ser vista com ressalvas por pontos de vista mais críticos. E a educação começa a ser aos poucos influenciada por essa perspectiva mais voltada para o multiculturalismo com a proposta de mudar injustiças históricas, dando mais alternativas à grupos que sempre tiveram as oportunidades de participação social tolhidas ou oprimidas. 11 Acredito que você estudante já deve ter percebido que as transformações na educação não é um processo simples; envolve grandes e pequenas mudanças (macrossociais e microssociais), tanto em esferas governamentais, como nas relações interpessoais. Está associada a própria mudança na cultura educacional, na forma como um sistema cultural entende a educação e na utilização de uma estrutura como espaço para tais transformações. Vale à pena destacar que a entrada do debate do multiculturalismo não é inserida na educação, apenas pelo medo. Mas também como o resultado de lutas de movimentos sociais que represen- tavam as expectativas de grupos oprimidos por não serem contemplados culturalmente pelos pa- drões educacionais aplicados. A luta pela valorização de outros elementos culturais no processo educacional tem como bandeira a ideia de que as práticas educacionais não podem ser responsá- veis pelo aniquilamento de uma identidade cultural. Fonte da figura: http://images.slideplayer.com.br/3/1253583/slides/slide_2.jpg Você já deve saber que ao estudar a história do Brasil, se fala muito pouco da participação dos povos indígenas e africanos no processo de construção da sociedade brasileira. De tal forma, que para um descendente de africanos a formação cidadã proporcionada pela educação regular en- volve apenas a valorização de uma cultura europeia. Qual a mensagem implícita nesse processo? A de que não há espaço na sociedade formal para uma identidade cultural que não seja aquela apresentada pela educação. Desenvolvido em paralelo às lutas pelo reconhecimento cultural de alguns movimentos sociais, também nas últimas décadas do século passado, outro conjunto de transformações trouxe o de- bate sobre a pluralidade para dentro das reflexões educacionais: o desenvolvimento de posições intelectuais sobre o assunto. Tendo início com a produção de professores negros de universidades americanas, pesquisas na área dos estudos sociais foram desenvolvidas sobre questões sociais, políticas e culturais dos afrodescendentes norte-americanos. http://images.slideplayer.com.br/3/1253583/slides/slide_2.jpg 12 A partir destes, foram surgindo programas de pesquisa em grandes centros universitários nos Es- tados Unidos como, San Francisco State University e posteriormente em Harvard, Yale e Columbia. Fonte da figura: http://sereduc.com/JtHDvO Na década de 80 essa perspectiva de estudos, o multiculturalismo, chega ao Brasil e influência uma série de abordagens distintas sobre a diversidade cultural, uma vez que se posiciona politica- mente em defesa de grupos em desvantagens nas relações de poder da sociedade contemporânea. Direcionam questionamentos sobre os posicionamentos tradicionais que silenciam identidades culturais, como o machismo, racismo e qualquer forma de preconceito e discriminação. Escola, um espaço de socialização e vivências socioculturais Vivemos um momento em que grandes conquistas da humanidade devem ser partilhadas e a edu- cação é a ferramenta apropriada para a conscientização da população mundial dessas conquistas sociais. As transformações ocorridas em nível de crítica e pensamento devem ser materializadas em pro- jetos e ações de forma a serem interiorizadas como valores culturais para o maior número de pessoas possíveis da sociedade. A escola durante muito tempo atuou no universo social e cultural como reprodutora das desigual- dades e processo opressores ou como projeto de produção, recursos humanos para um mercado profissional que também reproduz padrões culturais nada transformadores. http://sereduc.com/JtHDvO 13 A escola, com isso também não pode se limitar a ser um mero palco para a manifestação de pa- drões midiáticos de comportamento e objetivos de vida. Urge que os profissionais da educação comecem a compreender o verdadeiro potencial dos ambientes escolares no processo de cons- trução de novos valores culturais. A escola como um ambiente de socialização deve proporcionar a conquista da autonomia reflexiva e participativa dos estudantes para, assim, formar cidadãos conscientes e integrados com um propósito de justiça social. Fonte da figura: http://sereduc.com/qvbAEo Como espaço de socialização, a escola deve ser voltada para a formação de uma mentalidade capaz de lidar com os desafios da vida contemporânea. Permitindo aos cidadãos que passarão pelo processo de interiorização de valores culturais, a conquista da autonomia para participar integralmente (física e subjetivamente) da vida social, como agentes construtores da realidade em que viverão seus descendentes. Para a realização desse novo modelo é necessária uma verdadeira revolução na estrutura do sistema educacional. Desde uma reformulação da valorização dos profissionais que conduzem as práticas pedagógicas, passando pela revitalização das estruturas físicas das escolas e, por fim, com a formação de profissionais conscientes de seus papeis de facilitadores de uma experiência social que irá levar os estudantes a construir um modelo de como viver em sociedade. Ao invés de construir padrões e modelos em que os estudantes devem se encaixar, a educação deve proporcionar ambientes capazes de fomentar o desenvolvimento de suas próprias identida- des culturais. Permitindo que os estudantes de qualquer perfil consigam desenvolver seu poten- cial de cidadão ao máximo e se esse limite for diferente para cada um, não tem problema, há um lugar para todos.Visando a compreensão de que viver com a diversidade é algo natural e bom porque satisfaz a coletividade como um todo. http://sereduc.com/qvbAEo 14 Tendo esse horizonte em vista, a educação passa a ter que dialogar com os impulsos globalizantes através de novas tecnologias da comunicação e informação para viabilizar experiências sociais que valorizem essas diferenças. Condicionando o ambiente escolar a uma categoria de produtor de novos valores, através de um posicionamento crítico sobre os grandes problemas da sociedade contemporânea e de cada comunidade. A escola, nos moldes como vem sendo apresentadas até o presente momento, precisa encontrar formas de envolver seus estudantes nos problemas próprios da comunidade escolar e capacitar essa própria comunidade para lidar e resolver esses mesmos problemas. Para isso os profissionais encarregados devem estar preparados para articular estudantes e familiares num empreendimen- to que transforme as práticas sociais e remodele as estruturas de sentido das pessoas envolvidas. Uma verdadeira mudança no paradigma mental da sociedade que leve os cidadãos a interagirem uns com os outros de forma consciente e responsável sobre os rumos que querem para suas vidas. Antenados com as consequências de comportamentos e condutas que discriminam e excluem os diferentes, quando é na diversidade que a sociedade contemporânea se realiza. Com ambos os gêneros, todas as etnias, os diversos níveis sócios econômicos, ideologias políticas e todos os perfis sensoriais, locomotivos e cognitivos; a educação tem a finalidade de fazer tudo isso inte- ragir de forma harmônica. PAlAVRAS DO PROfESSOR Bom, com isso findamos nossa última unidade do módulo intitulado aspectos sócio antropológi- cos. Espero que tenha desfrutado destas reflexões, pois todas serão fundamentais para que você estudante dedicado(a) tenha muito sucesso em sua trajetória profissional. ACESSE O AMbIENtE VIRtUAl Agora prezado(a) estudante, chegou o momento de colocar em prática seus conhecimentos, porém acesse o Ambiente e responda as atividades. Caso tenha alguma dúvida não perca tempo pergun- te ao seu tutor, pois ele está apto para quaisquer tipos de esclarecimentos. Sucesso em sua jornada acadêmica!
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