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CASTELLANI FILHO EF no BR A história que não se conta

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Foi, portanto, para dar conta de suas atribuições, que os higienistas lançaram mão da Educação Física, definindo-lhe um papel de substancial importância, qual seja, o de criar o corpo saudável, robusto e harmonioso organicamente. Porém, ao assim fazê-la, em oposição ao corpo relapso, flácido e doentio do indivíduo colonial, acabou contribuindo para que "... este corpo, eleito representante de uma classe e de uma raça, (...) servisse para incentivar o racismo e os preconceitos sociais a eles ligados. Para explorar e manter explorado, em nome da superioridade racial e social da burguesia branca, todos os que, por suas singularidades étnicas ou pela marginalização socioeconômica, não lograram conformar-se ao modelo anatômico construído pela higiene...". pg. 33
Os médicos higienistas, então, através da disciplinarização do físico, do intelecto, da moral e da sexualidade, visavam médico na higiene (...) O médico se torna o grande conselheiro e o grande perito, senão na arte de governar, pelo menos na de observar, corrigir, melhorar o corpo social e mantê-lo em um permanente estado de saúde...". E conclui, enfaticamente: "... É a sua função de higienista, mais que seus prestígios de terapeuta, que lhe assegura esta posição politicamente privilegiada no século XVIII, antes de sê-la econômica e socialmente, no século XIX...". pg. 33 e 34
Valendo-se dos altos índices de mortalidade infantil e das precárias condições de saúde dos adultos, a higiene conseguiu impor à família uma Educação Física, Moral, Intelectual e Sexual inspirada nos preceitos sanitários da época.
Foi, portanto, para dar conta de suas atribuições, que os higienistas lançaram mão da Educação Física, definindo-lhe um papel de substancial importância, qual seja, o de criar ocorpo saudável, robusto e harmonioso organicamente. Porém, ao assim fazê-la, em oposição ao corpo relapso, flácido e doentio do indivíduo colonial, acabou contribuindo para que "... este corpo, eleito representante de uma classe e de uma raça, (...) servisse para incentivar o racismo e os preconceitos sociais a eles ligados. Para explorar e manter explorado, em nome da superioridade racial e social da burguesia branca, todos os que, por suas singularidades étnicas ou pela marginalização socioeconômica, não lograram conformar-se ao modelo anatômico construído pela higiene...".
O envolvimento dos higienistas com a educação escolar se deu, portanto, dentro de um quadro de compreensão desta como sendo uma extensão da educação familiar. Tratava-se, na verdade, de mostrar que a nefasta ação dos pais na educação de seus filhos não se encerrava no ambiente familiar. Pelo contrário, ao externarem os pais o "ideal" de educação que almejavam a seus filhos, influíam na forma de organização escolar, na definição das linhas pedagógicas a serem adotadas. pg. 35
os perfis dos estereótipos masculino e feminino que - sob influência higienista - se desejavam como ideal a ser alcançado. Tal desenho já possuía um especial esboço delineado Barbosa. Nele, Rui deixou patente sua assimilação dos princípios defendidos pelos Higienistas, com relação à definição dos papéis destinados aos homens e às mulheres, na sociedade em construção. Ao propor a extensão da ginástica a ambos os sexos na formação do professorado e nas escolas primárias de todos os níveis (inciso segundo), externou sua opinião a respeito da necessidade de oferecer, às mulheres, atividades ginásticas que atinassem para a harmonia de suas formas feminis e às exigências da maternidade futura. "... A Educação Física da mulher deve ser, portanto, integral, higiênica e plástica, e, abrangendo com os trabalhos manuais os jogos infantis, a ginástica educativa e os esportes, cingir-se exclusivamente aos jogos e esportes menos violentos e de todo compatíveis com a delicadeza do organismo das mães..." pg. 44
Pois foi a intenção de "acendrar" - no sentido mesmo de purificar - o espírito de nacionalismo do jovem, que orientou a promulgação do Decreto lei n. 2.072 .de 8 de março de 1940, que dispunha sobre a obrigatoriedade da Educação Cívica, Moral e Física da infância e da juventude, fixava as suas bases e para implementá-las organizava uma instituição nacional denominadas Juventude brasileira. pg. 69
Inspirado em instituições congêneres existentes na Itália (os Balila e os Avanguardisti) e na Alemanha (a Juventude Hitlerista), a Juventude brasileira, mesmo não chegando a consolidar-se na prática, refletiu os anseios dos militares e da classe dirigente que nela depositavam suas esperanças de construção de um país de jo vens afinados com a ideologia dominante. pg. 70
Artigo l - A Educação Cívica, Moral e Física é obrigatória para a infância e a juventude de todo o país, nos termos do presente Decreto-lei.
Artigo II - A Educação Cívica visará à formação da consciência patriótica, Deverá ser criado, no espírito das crianças e dos jovens, o sentimento de que a cada cidadão cabe uma parcela de responsabilidade pela segurança e pelo engrandecimento da Pátria e de que é dever de cada uma consagrar-se ao seu serviço com maior esforço e dedicação.
§ Único - É também papel da Educação Cívica formar, nas crianças e nos jovens do sexo masculino, o amor ao dever militar, a consciência das responsabilidades do soldado e o conhecimento elementar dos assuntos militares, e bem assim dar às mulheres o aprendizado das matérias que, como a enfermagem, as habilitem a cooperar, quando necessário, na defesa nacional.
Artigo 3 a - A Educação Moral visará à elevação espiritual da personalidade, para o que buscará incutir nas crianças e nos jovens a confiança do próprio esforço, o hábito da disciplina,o gosto da iniciativa, a perseverança do trabalho e a mais alta dignidade em todas as ações e circunstâncias.
§ Único - A Educação Moral procurará, ainda, formar nas oficinas e nos jovens de um e outro sexo, os sentimentos e os conhecimentos que os tornem capazes da missão de pais e mães de famílias. As mulheres dará, de modo especial, a consciência dos deveres que as vinculam ao lar, assim como o gosto dos serviços domésticos, principalmente dos que se referem à criação e à educação dos filhos.
Artigo A- - A EDUCAÇÃO FÍSICA a ser ministrada de acordo com as condições de cada sexo, por meio da ginástica e dos desportos, terá por objetivo não somente fortalecer a saúde das crianças e dos jovens, tornando-os resistentes a qualquer espécie de invasão mórbida e aptos para os esforços continuados, mas também dar-lhes ao corpo, solidez, agilidade e harmonia.
§ Único - Buscará ainda a EDUCAÇÃO FÍSICA dar às crianças e aos jovens os hábitos e as práticas higiênicas que tenham por finalidade a prevenção de toda a sorte de doenças, a conservação do bem-estar e o prolongamento da vida...
No que diz respeito ao Esporte, sua capacidade de catarse, de canalizar em torno de si, para seu universo mágico, os anseios, esperanças e frustrações dos brasileiros, foi imensamente explorada. A lembrança do "... Noventa milhões em ação, prá frente Brasil, salve a Seleção!", numa verdadeira ode à "corrente prá frente", ainda está bastante, e hoje dolorosamente, viva 17 anos passados - em nossas mentes e nossos corações, pois, foi na esteira desses hinos ufanistas - apologistas de uma postura cívica exacerbadamente alienada, patológica - que vieram os odientos crimes políticos cometidos, voluptuosamente, pelos aparelhos repressivos - estatais e paraestatais -num ritmo e forma poucas vezes presenciados na história política da sociedade brasileira. pg. 91
Foi também no início dos anos 1970, que começou a ganhar corpo o depois conhecido como Movimento "Esporte para Todos", o EPT.
Essa idéia foi apreendida nos sinais tidos como significativos de melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro (abstratamente considerado, por desconsiderar a divisão da sociedade em classes sociais). O EPT, assim, seria a comprovação de que, ao desenvolvimento econômico alcançado no início da década de 1970, correspondia o desenvolvimento social da sociedade brasileira, expresso - dentreoutras formas - no acesso às atividades físicas de lazer pela camada da população, até então, dela alijada...
Porém, uma terceira tendência começa a ganhai* corpo no cenário da Educação Física no Brasil. Para ela, educar caracteriza-se como uma ação essencialmente política à medida que busca possibilitar a apropriação, pelas Classes Populares, do saber próprio à cultura dominante, instrumentalizando as para o exercício pleno de sua capacidade de luta no campo social. Trata-se, portanto, no concernente à Educação Física no Brasil, de apostar na imperiosidade de traduzir o acesso ao saber - produzido, sistematizado e acumulado historicamente -pelas Classes Subalternas, nas "coisas" pertinentes à Motricidade Humana, através da socialização do corpo de conhecimento existente a respeito do conhecimento do Homem em movimento. pg 170
Interessa, portanto, a esta terceira tendência, que se respalda na Concepção Histórico-Crítica de Filosofia de Educação, veicular o entendimento de que o Movimento que privilegiam enquanto elemento por excelência da Educação Física reveste-se de uma dimensão humana, uma vez que extrapola os limites orgânicos e biológicos em que comumente se enquadra a atividade física , pois o Homem é um ser eminentemente cultural e o movimento humano, por conseguinte, representa um fator de cultura, ao mesmo tempo em que também se apresenta como seu resultado. pg 171
Buscam, enfim, tratar a Educação Física como sendo a área de conhecimento responsável pelo estudo acerca dos aspectos socioantropológicos do movimento humano. Ao assim fazê-lo, evidenciam o entendimento que possuem de Consciência Corporal. Não se trata tão somente - dizem - de saber a respeito da anatomia do corpo humano. Nem tampouco prender-se unicamente ao estudo de sua biomecânica. Mas sim, e essencialmente, de entendermos que aquilo que define a Consciência Corporal do Homem é a sua compreensão a respeito dos signos tatuados em seu corpo pelos aspectos socioculturais de momentos históricos determinados. É fazê-lo sabedor de que seu corpo sempre estará expressando o discurso hegemônico de uma época e que a compreensão do significado desse "discurso", bem como de seus determinantes, é condição para que ele possa vir a participar do processo de construção do seu tempo e, por conseguinte, da elaboração dos signos a serem gravados em seu corpo.

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