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ANÁLISE JURÍDICA A RESPEITO DA LEI 13.260 – LEI ANTITERRORISMO

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO – UFERSA 
FACULDADE DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE JURÍDICA A RESPEITO DA LEI 13.260/16 – LEI 
ANTITERRORISMO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
André Luiz Leite de Oliveira 
Mossoró-RN 
2016 
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO – DIREITO PENAL – PREVISÃO 
CONSTITUCIONAL – TERRORISMO – LEI 13.260/16 – 
CONSTITUCIONALIDADE – DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS – 
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE OS DIREITOS HUMANOS. 
 
 
O artigo 5º, XLII da Constituição Federal contém um mandado 
constitucional de criminalização quanto ao crime de terrorismo, equiparando-o 
aos crimes hediondos, impossibilitando o arbitramento de fiança, e a concessão 
de graça ou anistia, in verbis: 
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de 
graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de 
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como 
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os 
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; 
[...] 
 
Após quase trinta anos, o legislador derivado regulamentou o 
citado texto constitucional por meio da Lei 13.260/16 – conhecida como Lei 
Antiterrorismo, sancionada em 16 de março de 2016, com seis vetos, pela então 
Presidente da República Dilma Rousseff, às vésperas dos Jogos Olímpicos do 
ano corrente. 
Ocorre que mesmo no âmbito internacional não existe consenso 
quanto a definição de “terrorismo”. Apesar disso, o legislador delimitou tal 
conceito conforme segue: 
Art. 2º - O terrorismo consiste na prática por um ou mais 
indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de 
xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e 
religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror 
social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a 
paz pública ou a incolumidade pública. 
[...] 
 
Urge analisarmos a referida lei sob os parâmetros constitucionais 
brasileiros (artigo 5º, que trata dos direitos fundamentais), bem como ante as 
disposições dos tratados que versam sobre direitos humanos, em especial o 
Pacto de São José da Costa Rica – Convenção Americana e as disposições 
sobre da ONU – Organização das Nações Unidas sobre o terrorismo no mundo. 
A ONU criou o Comitê Antiterrorismo com o objetivo de 
supervisionar a implementação da Resolução 1373, além de outras importantes 
Convenções e Resoluções que objetivam coibir o Terrorismo. Na Convenção 
Internacional para a Supressão do Financiamento do Terrorismo ficou 
estabelecido diretriz para a criação de leis domésticas específicas e apropriadas, 
in verbis: 
INTERNATIONAL CONVENTION FOR THE SUPPRESSION 
OF THE FINANCING OF TERRORISM 
Article 4. Each State Party shall adopt such measures as may be 
necessary: (a) To establish as criminal offences under its 
domestic law the offences set forth in. Article 2: (b) To make 
those offences punishable by appropriate penalties which 
take into account the grave nature of the offences. 
 
Posto isso, conclui-se que a criação de uma lei penal brasileira 
voltada a coibir o terrorismo segue diretrizes formais do texto constitucional, bem 
como da ONU. 
Apesar de objetivar suprimir atos terroristas, a OEA/CIDH – 
Comissão Interamericana de Direitos Humanos registrou preocupação quanto a 
uma suposta polissemia e ambiguidade no tipo penal, apto a respaldar a 
criminalização de “movimentos sociais e vozes dissidentes”, disse o relator 
especial para Liberdade de Expressão da CIDH, Edison Lanza. 
No mesmo sentido, própria ONU, por meio de relatores especiais 
declararam: 
“Estamos preocupados que a definição do crime estabelecida 
pelo projeto de lei possa resultar em ambiguidade e confusão na 
determinação do que o Estado considera como crime de 
terrorismo, potencialmente prejudicando o exercício dos direitos 
humanos e das liberdades fundamentais”. 
 
Atento as citadas críticas, o legislador inseriu na Lei 13.260/2016 o 
§ 2º do artigo 2º, conforme segue: 
2o. O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou 
coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos 
sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria 
profissional, direcionados por propósitos sociais ou 
reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, 
com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades 
constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal contida em lei. 
 
Destarte, a Lei exclui expressamente a possibilidade de 
responsabilização criminal de indivíduos ligados a movimentos sociais, sindicais, 
religiosos, de classe ou de categoria profissional, ou que simplesmente estejam 
se manifestando, contestando, criticando; defendendo direitos e liberdades 
constitucionais; o que vai ao encontro dos ditames humanísticos previstos na 
Convenção Americana de Direitos Humanos ao versar, por exemplo, sobre o 
respaldo normativo ao direito de reunião pacífica, com restrições casuísticas 
fundamentadas no interesse da segurança e ordem públicas: 
Artigo 15º - Direito de reunião. É reconhecido o direito de reunião 
pacífica e sem armas. O exercício de tal direito só pode estar 
sujeito às restrições previstas pela lei e que sejam necessárias, 
em uma sociedade democrática, no interesse da segurança 
nacional, da segurança ou da ordem públicas, ou para proteger 
a saúde ou a moral públicas ou os direitos e liberdades das 
demais pessoas. 
 
Outra crítica levantada contra o texto normativo diz respeito a 
punibilidade de atos preparatórios, impuníveis pelo viés clássico do Direito 
Criminal. Quanto a isso, imperioso esclarecer que para tanto se faz necessário 
o propósito “inequívoco” de cometer o crime. Portanto, fica a critério do Juízo o 
manifesto animus delinquendi, como ocorre em tantas outras leis brasileiras. Ou 
seja, a punibilidade dos atos preparatórios ocorrerá com a aglutinação de 
diversos elementos, não apenas os do tipo penal (art. 2º, § 2º, I, IV, V), quais 
sejam: a demonstração do dolo específico de causar terror social e generalizado; 
das razões xenófobas, discriminatórias, preconceituosas. 
Por fim, o legislador ainda abriu espaço para a minoração da pena 
na hipótese do art. 15 do Código Penal – arrependimento eficaz, inovação 
jurídica ainda discutida no âmbito criminal já sendo chamada de “arrependimento 
eficaz antecipado”. 
Além dos pontos abordados, a Lei 13.260/16 ainda prevê punição 
severa ao financiamento das práticas terroristas, no art. 6º. Tal previsão tem 
respaldo na Convenção Interamericana Contra o Terrorismo ratificada pelo 
Estado Brasileiro em 2005, especificamente nos termos do artigo 4º, in verbis: 
CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O TERRORISMO 
Artigo 4 
Medidas para prevenir, combater e erradicar o financiamento 
do terrorismo 
1. Cada Estado Parte, na medida em que não o tiver feito, deverá 
estabelecer um regime jurídico e administrativo para prevenir, 
combater e erradicar o financiamento do terrorismo e lograr uma 
cooperação internacional eficaz a respeito, a qual deverá incluir: 
 a) Um amplo regime interno normativo e de supervisão de 
bancos, outras instituições financeiras e outras entidades 
consideradas particularmente suscetíveis de ser utilizadas para 
financiar atividades terroristas. Este regime destacará os 
requisitos relativos à identificação de clientes, conservação de 
registros e comunicação de transações suspeitas ou incomuns. 
[...] 
2. Para a aplicação do parágrafo 1 deste artigo, os Estados 
Partes utilizarão como diretrizes as recomendações 
desenvolvidas por entidades regionais ou internacionais 
especializadas, em particular, o Grupo de Ação Financeira 
(GAFI) e, quando for cabível, a Comissão Interamericana para oControle do Abuso de Drogas (CICAD), o Grupo de Ação 
Financeira do Caribe (GAFIC) e o Grupo de Ação Financeira da 
América do Sul (GAFISUD). 
 
Sabe-se ainda que o financiamento do terrorismo está intimamente 
ligado à lavagem de dinheiro, posto que o rastreio de fontes de financiamento se 
torna mais difícil. Para tanto, a mesma Convenção respaldou a coibição 
cooperativa, entre forças e Estados, bem como a criação de mecanismos 
legislativos nesse sentido, conforme disposição do artigo 6º: 
Artigo 6 
Delitos prévios da lavagem de dinheiro 
1. Cada Estado Parte tomará as medidas necessárias para 
assegurar que sua legislação penal relativa ao delito da lavagem 
de dinheiro inclua como delitos prévios da lavagem de dinheiro 
os delitos estabelecidos nos instrumentos internacionais 
enumerados no Artigo 2 desta Convenção. 
2. Os delitos prévios da lavagem de dinheiro a que se refere o 
parágrafo 1 incluirão aqueles cometidos tanto dentro como fora 
da jurisdição do Estado Parte. 
 
Por fim, o legislador possibilitou a tomada de medidas 
assecuratórias de bens e valores utilizados na prática criminosa, mais uma vez 
de forma acertada e consonante ao disposto no art. 5º da Convenção 
supracitada: 
Artigo 5 
Embargo e confisco de fundos ou outros bens 
1. Cada Estado Parte, em conformidade com os procedimentos 
estabelecidos em sua legislação interna, adotará as medidas 
necessárias para identificar, congelar, embargar e, se for o caso, 
confiscar fundos ou outros bens que sejam produto da comissão 
ou tenham como propósito financiar ou tenham facilitado ou 
financiado a comissão de qualquer dos delitos estabelecidos nos 
instrumentos internacionais enumerados no Artigo 2 desta 
Convenção. 
2. As medidas a que se refere o parágrafo 1 serão aplicáveis aos 
delitos cometidos tanto dentro como fora da jurisdição do Estado 
Parte. 
 
Ante o exposto, a lei analisada segue a linha jurídica das 
convenções internacionais e dos organismos de defesa dos direitos humanos, 
em especial ONU e OEA, se adequando ainda a norma constitucional brasileira, 
se traduzindo em acertado instrumento de proteção social. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição [da] República Federativa do Brasil. 
Brasília, DF: Senado Federal. 
 
BRASIL. Lei 13.260/2016. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2016/lei/l13260.htm 
 
PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA. Convenção Americanas de Direitos 
Humanos. Disponível em: 
http://www.amb.com.br/fonavid/Legislacao_Pacto_San_Jose_da_Costa_Rica_-
_1969[1].pdf 
 
Disponível em: <https://nacoesunidas.org/acao/terrorismo/>. Acesso em: 
22/11/2016. 
 
INTERNATIONAL CONVENTION FOR THE SUPPRESSION OF THE 
FINANCING OF TERRORISM – ONU 1999. Disponível em: 
http://www.un.org/en/sc/ctc/docs/conventions/Conv12.pdf 
 
 
Resolução 1373/2001 Conselho de Segurança ONU. Disponível em: <. 
https://documents-dds-
ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N01/557/46/PDF/N0155746.pdf?OpenElement>. 
Acesso em: 22/11/2016.

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