Buscar

Origens da Pedagogia Moderna


Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

Rousseau, Pestalozzi e Froebel, nas origens da pedagogia moderna.
Rousseau, Emílio ou da Educação − as bases da Educação Nova 
 “O valor da dialéctica de Rousseau reside principalmente no facto de ter obrigado
os contemporâneos, e tantos outros pedagogos até aos nossos dias, a observar a
infância. Até ele, toda a gente descurara a infância, mesmo aqueles que tinham
instituído reformas educacionais (...). Estava sempre em causa criar o homem a partir da
criança, prepará-la para o estado adulto e nada mais ver nela do que o futuro homem.
[...] Situa-se neste mesmo ponto, mais uma vez, a revolução pedagógica que confere
uma originalidade indiscutível à posição de Rousseau: ter descoberto, ter afirmado que
a infância era um estado indispensável, um estado com valor próprio, com finalidade
própria e predestinado sem dúvida, a longo prazo, a ser seguido pelo estado adulto, mas
com uma utilidade diversa de o preparar ou preparando-o apenas na medida em que o
antecede" Roger Cousinet
TEXTO
A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens. Se
queremos perverter esta ordem, produziremos frutos precoces que não terão nem
maturidade nem sabor, e não tardarão em corromper-se; teremos jovens doutores e
crianças velhas. A infância tem maneiras de ver, de pensar, de sentir que lhe são
próprias, nada sendo menos sensato que querer substitui-las pelas vossas, e seria o
mesmo exigir que uma criança tivesse cinco pés de altura como o juízo de dez anos.
Com efeito, para que lhe serviria a razão nessa idade? Ela é o freio da força, e a criança
não tem necessidade desse freio [...]. 
 Tratai o nosso aluno segundo a sua idade.
É bem estranho que, desde que existe a preocupação de educar crianças, se não
tenha imaginado outro instrumento para as conduzir além da emulação, do ciúme, da
inveja, da vaidade, da avidez, do vil temor, de todas as paixões mais perigosas, mais
próprias para corromper a alma, mesmo antes que o corpo esteja formado. A cada
instrução precoce que se pretende fazer entrar na sua cabeça, semeia-se um vício no
fundo do seu coração. Insensatos professores pensam fazer maravilhas tornando-as más
para lhes ensinar o que é a bondade, e depois dizem-nos gravemente: é assim o homem.
Sim, é assim o homem que vós construístes [...].
Ponhamos como máxima incontestável que os primeiros movimentos da natureza
são sempre acertados: não há perversidade original no coração humano, nele não se
Correntes do Pensamento Pedagógico Contemporâneo – Semana 3
encontra um único vício de que não possamos dizer como e por onde ele entrou. A
única paixão natural ao homem é o amor de si mesmo, ou o amor-próprio tomado num
sentido lato. Este amor-próprio em si ou relativamente a nós é bom e úti1; e como ela
não tem relação necessária para com outrem, ele é, sob este aspecto, naturalmente
indiferente; não se torna bom ou mau senão pela aplicação que dele se faz e pelas
relações que se lhe atribuem [...].
Ousarei eu expor aqui a maior, a mais importante, a mais útil regra de toda a
educação? Não é ganhar tempo, é perdê-lo. Leitores vulgares, perdoai-me os meus
paradoxos: é necessário fazê-los quando se reflecte; e, seja o que for que possais dizer,
prefiro ser homem de paradoxos a homem de preconceitos. O mais perigoso intervalo
da vida humana é o que vai do nascimento até à idade dos 12 anos. É o tempo em que
germinam os erros e os vícios, sem que se disponha ainda de qualquer instrumento
para os destruir; e quando o instrumento chega, as raízes são tão profundas que já não
há possibilidade de as arrancar [...]. 
A primeira educação deve ser puramente negativa. Ela consiste, não em ensinar a
virtude ou a verdade, mas em preservar o coração do vício e o espírito do erro [...]. 
Considerai todas as dilações como vantagens; é ganhar muito avançar para o
termo sem nada perder; deixai amadurecer a infância nas crianças. Enfim, torna-se-lhes
necessária alguma lição? Não lha deis hoje, se podeis protelar até amanhã sem
perigo [...].
De que serve inscrever na cabeça dos meninos um simples catálogo de palavras
que não representam nada para os seus espíritos? Pois quando chegarem a aprender as
cousas não aprenderão também os vocábulos? Porque lhes daremos o trabalho inútil de
os aprenderem por duas vezes? Que perigosos preconceitos lhes não inspiramos ao
fazê-los tomar como sendo ciência um acúmulo de palavras que são só palavras, pois
que não têm para eles verdadeiro sentido? É desde a primeira palavra com que o espírito
do menino se dá por pago, e da primeira coisa que o menino aprendeu sob simples
palavra de qualquer pessoa, que o seu juízo se pode dar por perdido.
Se nada devemos exigir aos meninos por obediência, segue-se que não podem
aprender coisa alguma de que não sintam a vantagem actual e presente, quer de
divertimento quer de utilidade; de outra forma que motivo os levaria a aprender a
coisa ? A arte da escrita, a arte de falar aos ausentes e de os ouvir, a arte de lhes
comunicar de longe, sem medianeiro, os nossos sentimentos, as nossas vontades, os
nossos desejos, é arte cuja utilidade nos é possível fazer sentir às criaturas de todas as
idades. Por que prodígio se tornou um tormento para os meninos uma arte tão útil e tão
agradável ? É que os constrangeram a aplicar-se a ela sem vontade, utilizando-a para
serventias de que eles não compreendem cousa alguma.
 
Não pode o menino ter vontade de aperfeiçoar o instrumento com que o torturam;
mas fazei com que o instrumento sirva aos seus prazeres, e em breve se aplicará a ele
sem que o queirais. 
Correntes do Pensamento Pedagógico Contemporâneo – Semana 3
Tem-se grande trabalho para achar os melhores métodos de ensinar a ler e
inventam-se para tal artifícios vários. Que tristeza! Um meio mais seguro que todos
esses, e de que ninguém se lembra, é o de suscitar o desejo de aprender a ler. Dai à
criança esse desejo, e abandonai depois os artifícios; todos os métodos lhe poderão
servir. 
O interesse presente, eis aí o grande móbil, o que leva seguramente e muito
longe.
Transformemos as sensações em ideias, mas não saltemos subitamente dos
objectos sensíveis aos intelectuais; é pelos primeiros que devemos chegar aos segundos.
Nas primeiras operações do espírito, sejam sempre os sentidos os nossos guias... Não
lhes deis livros senão o do mundo, nem outra informação que não seja a dos factos. Da
criança que lê não direi eu que pensa; não faz mais do que ler; não se está instruindo: só
aprende palavras. 
Chamai a atenção do vosso discípulo para os vários fenómenos da natureza, - e
em breve lapso o tornareis curioso; porém, para alimentar a curiosidade do aluno não
vos apresseis nunca a satisfazer-lha. Ponde os problemas ao seu alcance, e deixai que os
resolva por si. Que não saiba nada, por conseguinte, pelo simples motivo de que lho
dissestes, mas sim porque de si próprio compreendeu a coisa; que não aprenda a
ciência, senão que a invente. Se substituirdes um dia no seu espírito a razão pela
autoridade, deixará de facto de raciocinar; será simples escravo das opiniões alheias. 
ROUSSEAU, Emílio ou da educação,
Correntes do Pensamento Pedagógico Contemporâneo – Semana 3
O Emílio - Jean Jacques Rousseau 
 
Na ordem natural, os homens são todos iguais, a sua vocação comum é o 
estado de homens e, qualquer pessoa que seja bem educada para isso, não 
pode exercer mal esse estado. Que se destine o jovem para a espada, para a 
Igreja, para advocacia, pouco importa. Antes da vocação dos pais, a natureza o 
chama para a vida. Viver é o ofício que eu lhe quero ensinar. 
 
O nosso verdadeiro estado é o da condição humana. Viver, não respirar;é agir, 
é fazer uso dos nossos órgãos, dos nossos sentidos, de nossas faculdades, de 
todas as partes de nós mesmos, que nos dá o sentimento de nossa existência. 
O homem que mais viveu não é o que conta mais anos mas aquele que mais 
sentiu a vida. 
 
Toda a nossa sabedoria consiste em preconceitos servis; todos os nossos usos 
são apenas sujeição, coação e constrangimento. O homem nasce, vive e morre 
na escravidão: ao nascer cosem-no numa malha; na sua morte pregam-no num 
caixão: enquanto tem figura humana é encadeado pelas nossas instituições. 
Observai a natureza e segui o caminho que ela vos traça. Ela exercita 
continuamente as crianças; endurece o seu temperamento com provas de toda 
espécie; e ensina-lhes, muito cedo, o que é uma dor e o que é um prazer. É 
mister exercitá-la, pois, aos ataques que terá que suportar um dia. 
 
Com uma gradação lenta e cuidadosa tornamos o homem e a criança 
intrépidos para todas as provas. Toda maldade vem da fraqueza. A criança é 
má porque é fraca; tornai-a forte, e será boa; aquele que tivesse poder para 
tudo, nunca faria mal. De todos os atributos da Divindade todo-poderosa, a 
bondade é aquele sem o qual não a podemos conceber. 
 
 Em lugar de evitar que Emilio se fira, eu muito me zangaria se ele nunca se 
ferisse e se crescesse sem conhecer a dor. Sofrer é a primeira coisa que ele 
deve aprender e a que mais necessidade terá de saber. Em lugar de o 
resguardar no ar confinado de um quarto, que o levem diariamente para os 
prados. Que corra, que se debata, que caia cem vezes por dia, tanto melhor. 
Mais cedo aprenderá a se levantar. Quando se diz que o homem é fraco, que 
queremos significar com isto? Esta palavra, fraqueza, indica uma relação, uma 
relação do ser ao qual se aplica. 
 
Aquele cuja força ultrapassa as suas necessidades mesmo que seja um inseto 
ou um verme, é um ser forte; aquele cujas necessidades ultrapassam as suas 
forças, mesmo que seja um elefante ou um leão, é um ser fraco. Oh! homem, 
fecha a tua existência dentro de ti mesmo e não será mais um miserável. 
Permanece no lugar que a natureza te indicou na escala dos seres e nada 
poderá fazer com que dele saias. Não recalcitres contra a dura lei da 
necessidade. 
 
 O homem verdadeiramente livre deseja apenas o que pode, e faz o que lhe 
agrada. É esta a minha máxima fundamental. É aplicá-la à infância e todas as 
regras de educação decorrerão dela. Há duas espécies de dependência: a das 
coisas, que é a da natureza; a dos homens, que é a da sociedade. A 
dependência das coisas, não tendo nenhuma moralidade não prejudica a 
liberdade e não engendra vícios, a dependência dos homens sendo 
desordenada, engendra todos e é por meio dela que o senhor e o escravo 
mutuamente se depravam. 
 
Colocai uma criança na exclusiva dependência das coisas... Não oferecei 
nunca à sua vontade senão obstáculos físicos ou punições que nasçam das 
suas próprias ações e que ela se lembre disso para sempre. Sem a proibir de 
agir mal, é suficiente que ela se sinta impossibilitada de agir nesse sentido. A 
experiência ou a impotência apenas deve-lhe servir de lei. 
 
 Vosso filho nada deve conseguir porque tenha desejo, nem nada fazer por 
obediência mas somente por necessidade. Assim as palavras obedecer e 
comandar serão proscritas de seu dicionário, assim como, as de dever e 
obrigação. Mas as palavras força, necessidade, impotência e coação devem ter 
para ele uma grande importância. É assim que tornamos a criança paciente, 
igual, resignada, calma, mesmo quando não obtiver aquilo que desejou porque 
é próprio da natureza humana suportar com paciência a necessidade das 
coisas mas não a má vontade alheia. 
 
Tomemos como máxima incontestável que os primeiros movimentos da 
natureza são sempre retos; não há perversidade original no coração humano; 
aí não se encontra um só vício que não se possa dizer como e por onde se 
introduziu. A primeira educação deve ser puramente negativa. Consiste em 
garantir o coração contra o vício, e o espírito contra o erro, e não em ensinar a 
virtude nem a verdade. A única lição de moral que convém à infância e a mais 
importante para toda idade, é a de nunca fazer mal a ninguém. O próprio 
preceito de fazer o bem, se não é subordinado àquele, é perigoso, falso, 
contraditório. Quem é que não faz bem? Todos o fazem, o malvado como 
qualquer outro: torna um feliz à custa de cem miseráveis e daí decorrem todas 
as calamidades. 
 
 A inteligência humana tem os seus limites, e um homem não pode tudo saber, 
não pode mesmo saber bem, por inteiro, o pouco que sabem os demais 
homens. Se a contraditória de um proposição falsa, é uma verdade e se o 
número de verdades é tão inesgotável como o de erros, há, pois, uma escolha 
entre as coisas que se devem ensinar... O pequeno número das coisas que 
contribuem realmente para o nosso bem-estar é o único digno da atenção de 
um homem sábio, e por conseguinte, de uma criança que desejamos tornar 
virtuosa. Não se trata de saber tudo o que existe, mas o que é verdadeiramente 
útil. 
 
Lembra-te sem cessar que a ignorância nunca pratica o mal, que só o erro é 
funesto e que não nos enganamos nunca pelo que sabemos mas pelo que 
cremos saber. Transformemos as nossas sensações em idéias, mas não 
saltemos dos objetos sensíveis aos objetos intelectuais. É pelos primeiros que 
chegamos aos últimos. 
 
Nas primeiras operações do espírito que sejam os sentidos os seus guias. 
Nenhum outro livro que não seja o do mundo, nenhuma outra instrução que 
não seja a dos fatos. Fazei com que o vosso aluno esteja atento aos 
fenômenos da natureza... mas, para alimentar a sua curiosidade, não vos 
apressais nunca em satisfazê-la... Que ele saiba as coisas porque as 
compreendeu por si e nunca porque haveis dito essa coisa... Se substituís no 
seu espírito a autoridade pela razão, ele não raciocinará mais: será apenas um 
espelho da opinião dos outros. Se se enganar, deixai-o, não corrijais os seus 
erros; atentai silenciosamente para que ele possa se encontrar em situação de 
os perceber e de os corrigir por si, ou então, aproveitando de uma ocasião 
favorável, levai-o a alguma operação que lhe proporcione sentir esse erro. Se 
nunca errasse, nunca aprenderia bem. 
 
 O espírito do meu sistema não é o de ensinar à criança muitas coisas, mas o 
de não deixar entrar no seu cérebro senão idéias justas e claras. Mesmo 
quando não saiba nada, pouco importa, desde que não se engane, e se lhe 
incuto verdades é apenas para garantir dos erros que poderia aprender em seu 
lugar. A razão, o juízo vêm lentamente; os preconceitos acorrem em multidão: 
é deles que é necessário preservar a criança. O problema não é ensinar-lhe as 
ciências, mas dar-lhe o prazer de amá-las e os métodos para aprendê-las, 
quando esse gosto estiver já bem mais desenvolvido. É este o princípio 
fundamental de toda boa educação. Adquirimos noções bem mais claras e 
sólidas das coisas por nós mesmos do que aquelas que se recebem pelo 
ensino de outrem. Além disso não habituamos a nossa razão a submeter-se 
servilmente à autoridade; tornamo-nos mais engenhosos em encontrar 
relações, e associar idéias. 
 
Nossos verdadeiros mestres são a experiência e o sentimento, e nunca o 
homem sente melhor o que mais convém ao homem do que nas relações em 
que ele mesmo se encontra. Assim, logo que chegamos a dar à criança uma 
idéia da palavra "útil", temos também um grande poder para governá-la. Para 
que serve isto? É esta a palavra sagrada, a palavra determinante em todas as 
ações da nossa vida. 
 
Não gosto das explicações em forma de discurso; os moços prestam pouca 
atenção e não as retém. Coisas, coisas! Nunca repetirei de modo suficiente 
que damos importância demais às palavras. Com nossa educação palradora só 
fabricamos palradores. 
 
 Odeio os livros, eles apenas ensinam a falar daquilo que não se conhece. 
Mas, já que nos é absolutamentenecessário ter livros, existe um que fornece, 
ao meu ver, o mais perfeito tratado de educação natural. Qual é esse livro 
maravilhoso? Alguma obra de Aristóteles? De Plínio? Seria algum livro de 
Buffon? Não. - é o "Robinson Crusoé". O nosso grande cuidado deve ser o de 
afastar do espírito da criança todas as noções de relações sociais que não 
estejam ao seu alcance; mas quando o encadeamento dos conhecimentos vos 
força a mostrar-lhe a mútua dependência dos homens, em lugar de mostrá-la 
sob o aspecto moral, dirigi a sua atenção para a indústria e para as artes 
mecânicas que tornam os homens úteis uns aos outros. 
 
 Há um certo apreço pelas diferentes artes, apreço que está em razão inversa 
da sua utilidade real. Este apreço se mede diretamente sobre a sua própria 
inutilidade. Que virão a ser essas crianças se permitis que adotem este tolo 
preconceito e se vós mesmos, o favoreceis? Que pensarão, se vos virem 
entrar, por exemplo, com maior consideração na loja de um ourives do que em 
uma de um serralheiro? Que juízo farão do verdadeiro mérito das artes e do 
verdadeiro valor das coisas quando virem por toda parte o prêmio da fantasia 
em contradição com o apreço da utilidade real e que, mais custa uma coisa, 
menos ela vale? Se permitis que estas idéias entrem na alma das crianças, 
abandonai o resto da sua educação. Perdeste o vosso tempo. Elas serão 
educadas como todo o mundo. 
 
Em tudo, a arte cujo uso é mais geral e mais indispensável é, 
incontestavelmente, àquela que merece mais estima. A primeira e mais 
respeitável de todas as artes é a agricultura; colocarei a metalurgia em 
segundo lugar, a carpintaria em terceiro e assim por diante. A criança que não 
foi seduzida pelos preconceitos vulgares, julgará precisamente assim. Quantas 
reflexões importantes o nosso Emílio não tirará do Robinson? Assim se 
formam, pouco a pouco, no espírito de uma criança idéias sociais, antes que 
ela possa ser realmente membro ativo da sociedade. 
 
Emílio observará que, para ter instrumentos de seu uso necessita também de 
outros, que pertencem a outras pessoas e os quais ele obtém em troca. 
Conduzamo-lo facilmente de modo que sinta a necessidade dessas trocas, e 
se ponha em situação de poder aproveitá-las. É necessário que todo o homem 
viva. Este argumento a que todos dão mais ou menos força em proporção ao 
maior ou menor sentimento de humanidade que possui, parece-me sem 
possibilidade de réplica para aquele que o faz, relativamente a si mesmo. 
 
Se existe um miserável estado no mundo em que os indivíduos não possam 
viver sem fazer mal, e em que os cidadãos são malandros por necessidade, 
não é o malfeitor que se deve condenar; é aquele que o força a tornar-se 
malfeitor. Confiais na ordem atual da sociedade sem pensar que esta ordem é 
sujeita a revoluções inevitáveis e que é impossível prever aquela que pode ter 
importância para vossos filhos. O grande torna-se pequeno, o rico torna-se 
pobre, o monarca torna-se súdito; serão os reveses de sorte tão raro que 
possais esperar eximir-vos deles? Nós nos aproximamos de um estado de 
crise e do século das revoluções. 
 
Fora da sociedade, o homem isolado, que nada deve a ninguém, tem o direito 
de viver como entender; mas na sociedade, em que necessariamente vive à 
custa de outros, ele lhes deve, em trabalho, o preço de sua manutenção... 
Trabalhar é, pois, um dever indispensável ao homem social. Rico ou pobre, 
poderoso ou fraco, todo cidadão ocioso é um patife. Descei ao estado de 
artesão para que possais estar acima do vosso. 
 
Quero que Emílio aprenda um ofício. Um ofício honesto, direis vós. Mas que 
significa esta palavra? Mas haverá ofício ao público que não seja honesto? Não 
quero que ele seja bordador, nem dourador, nem lustrador... Não quero que 
seja músico, nem comediante, nem autor de livros... Prefiro que seja sapateiro 
a poeta, prefiro mesmo que calce os caminhos a que faça flores de porcelana. 
Mas, dir-me-eis, os archeiros, os espiões, os carrascos são pessoas úteis? 
Depende apenas do governo para que não o sejam. Emílio sendo operário não 
demorará muito a sentir a desigualdade das condições que até então apenas 
percebera. Fizemos um ser ativo e pensante, apenas nos resta, para acatar 
este homem, transformá-lo em um ser amante e sensível, isto é, aperfeiçoar a 
sua razão pelos sentimentos. Mas antes de entrar nesta nova ordem de coisas, 
examinemos a ordem da qual partimos, e vejamos tão exatamente quanto 
possível, até onde chegamos. 
 
Emílio possui poucos conhecimentos mas aqueles que possui são 
verdadeiramente seus. Nada sabe pela metade. No pequeno número das 
coisas que conhece, e que conhece bem, a mais importante é que há muita 
coisa que ele ignora e que pode vir a saber um dia, que pode ser muito mais 
sábio que outros homens, e que outras coisas existem que ele não saberá 
nunca em sua vida. Possui um espírito universal, uma faculdade de adquiri-las. 
Inteligente, pronto para tudo... 
 
É suficiente para mim que ele saiba encontrar para que serve tudo aquilo 
que faz e o porque daquilo que crê. Repito, o meu objeto não é, de nenhum 
modo, dar-lhe a Ciência mas ensinar-lhe os meios de adquiri-la pela 
necessidade, de a avaliar exatamente pelo seu justo valor, e fazer com que ele 
ame a verdade acima de tudo. Emílio é laborioso, paciente, firme, corajoso; a 
sua imaginação, que não foi excitada, não faz com que ele exagere nunca os 
perigos; é sensível a poucos males e sabe sofrer com constância porque não 
aprendeu a clamar contra o destino. 
 
Sobre a morte, não sabe bem o que ela é; mas, acostumado a se submeter 
sem resistência à lei da necessidade, quando for necessário morrer, morrerá 
sem gemer e sem se debater. É tudo o que a natureza permite nesse momento 
do qual todos têm horror. Viver livre e pouco ligar às coisas humanas é o 
melhor meio de aprender a morrer. Sob este aspecto Emílio tem, da virtude, 
tudo o que se relaciona consigo mesmo. 
 
Para possuir também as virtudes sociais, falta-lhe unicamente conhecer as 
relações que as exigem; faltam-lhe unicamente luzes que o seu espírito está 
pronto a receber. Por acaso achais que uma criança que assim chegou aos 
quatorze anos terá perdido os anos precedentes? As nossas paixões são os 
principais instrumentos da nossa conservação. É, pois, uma empresa tão vã 
quanto ridícula querer destruí-las. É querer reger a natureza, é querer reformar 
a obra de Deus. 
 
Eu acharia que aquele que quer impedir as paixões e que elas nasçam, é tão 
louco quanto aquele que desejasse que elas desaparecessem. Mas, pensaria 
razoavelmente, quem pelo fato de que a natureza do homem consiste em ter 
paixões, concluísse que todas as paixões que sentimos em nós e que vemos 
nos outros são naturais? Todas aquelas que nos subjugam e nos destroem, 
vêm de fora, não da natureza; nós é que nos apropriamos delas para nosso 
prejuízo. É o povo que compõe o gênero humano; o que não é povo é tão 
pouca coisa que não paga a pena contar com ela. 
 
O homem é o mesmo em todos os estados e por isto, os estados que são mais 
numerosos merecem mais respeito que os outros. É preciso estudar a 
sociedade pelos homens, e os homens pela sociedade. Os que quiserem tratar 
separadamente a política e a moral não compreenderão nunca nada das duas. 
Há no estado de natureza uma igualdade de fato, real e indestrutível porque é 
impossível neste estado que a simples diferença de homem a homem seja 
suficientemente grande para tornar um dependente do outro. Há, no estado 
civil uma igualdade de direito quimérica e vã porque os meios destinados a 
mantê-la servem para destruí-la e que a força pública, que se liga ao mais forte 
para oprimir o fraco, rompa a espécie de equilíbrio que a natureza havia posto 
entre eles. Desta primeira contradição decorrem todas aquelas que se notam 
na ordem civil entre a aparência e a realidade. 
 
Sempre a multidãoserá sacrificada ao pequeno número e o interesse público 
ao interesse particular; sempre estas palavras especiosas de justiça e de 
disciplina servirão de instrumento para a violência e de armas para a 
iniqüidade. Eu desejaria que se escolhessem de tal maneira as amizades de 
um moço, que ele pudesse pensar bem de todos aqueles que vivem com ele e 
que se lhe ensinasse a tão bem conhecer mundo que ele pensasse mal de 
tudo o que aí se faz. Que saiba que o homem é naturalmente bom, que o sinta, 
que julgue o seu próximo por si mesmo, mas que veja como a sociedade 
deprava e perverte os homens; que possa encontrar nos seus preconceitos a 
fonte de todos os seus vícios. 
 
Faremos nós do Emílio um cavaleiro andante? Um palmatória do mundo? Um 
paladino?... Ele fará tudo o que sabe que é útil e bom, e nada mais. E sabe 
apenas aquilo que convém à sua idade. Sabe que o seu primeiro dever é para 
consigo mesmo, que os jovens devem desconfiar de si mesmos, ser 
circunspetos na sua conduta, respeitosos diante de pessoas mais idosas, 
discretos e sérios no falar, modestos nas coisas indiferentes, mas ousados em 
fazer bem e corajosos em dizer a verdade. 
 
Assim eram os ilustres romanos que antes de ser admitidos nos cargos, 
passavam a sua mocidade a perseguir o crime e a defender a inocência, sem 
outro interesse que o de se instruírem servindo a justiça e protegendo os bons 
costumes. Este espírito pacífico é um efeito da sua educação que, não tendo 
fomentado o amor próprio e uma alta filáucia o desviou de procurar os prazeres 
no domínio e na infelicidade de outrem. Sofre quando vê sofrer, e isto é um 
sentimento natural. Ao desejar construir o homem natural, não é o caso porém 
de fazer dele um selvagem e de o relegar no fundo de um bosque; mas 
envolvido no turbilhão social, suficiente que não se deixe tragar, nem pelas 
paixões nem pelas opiniões dos homens, que veja com seus próprios olhos, 
que sinta com o seu coração, que nenhuma autoridade o governe que não seja 
a sua própria razão. 
 
Bem sei que muitos leitores ficarão surpreendidos de me ver seguir toda a 
primeira idade do meu aluno sem lhe falar de religião. Com quinze anos não 
sabia ainda se tinha uma alma, e talvez aos dezoito ainda não seja ocasião 
para que ele aprenda isso. Porque, se ele aprende tal coisa mais cedo que 
deve, corre o risco de não o saber nunca. É preciso crer em Deus para ser 
salvo. Este dogma mal compreendido, é o princípio de sanguinária intolerância 
e a causa de todas estas vãs instruções que golpeiam de morte a razão 
humana acostumando-a a contentar-se com palavras. A obrigação de crer 
supõe a sua possibilidade. 
 
Há casos em que se pode ser salvo sem crer em Deus e estes casos tem 
lugar, seja na infância, seja na demência, quando o espírito humano é incapaz 
das operações necessárias para reconhecer a Divindade. Pelo mesmo 
princípio, é claro que um homem, tendo chegado à velhice sem crer em Deus, 
não será por isto privado da sua presença na outra vida, se a sua cegueira não 
foi voluntária. E eu digo que ele não o é. 
 
Evitemos anunciar a verdade àqueles que não estão em estado de 
compreendê-la porque seria substituí-la pelo erro. Mais vale não ter nenhuma 
idéia da Divindade que dela ter idéias grosseiras, fantásticas, injuriosas, 
indignas dela. É um mal menor desconhecê-la do que ulrajá-la. O 
esquecimento de toda religião conduz ao esquecimento dos deveres do 
homem