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A Fibrose Cística (FC) ou Mucoviscidose é uma doen- ça hereditária autossômica recessiva que atinge as glân- dulas exócrinas, envolvendo múltiplos órgãos e evoluin- do de forma crônica e progressiva. A mutação ocorre no gene CFTR (Cystic Fibrosis Transmembrane Condutance Regulator), localizado no braço longo do cromossomo sete, sendo identificadas mais de mil mutações neste ge- ne, o que pode estar relacionado ao quadro de desen- volvimento da doença (AMBROSIO et al., 2012; ADDE et al., 2014). A CFTR é uma proteína complexa, responsável pelo transporte de cloro através da membrana celular. A dis- disfunção dessa proteína reguladora de membrana leva a um distúrbio da excreção de cloro que gera um influxo de sódio e consequente influxo de água, ou seja, maior absorção destes, na célula. A desidratação da superfície celular devido a esse influxo provoca alterações nas pro- priedades físico-químicas do muco local, desidratando- o e tornando-o mais espesso e viscoso, podendo obstru- ir os ductos dos órgãos envolvidos. A presença de muco espesso causa comprometimentos funcionais, que ge- ram impactos clínicos que variam de um órgão para ou- tro, ocasionando um vasto conjunto de manifestações e complicações, que variam de acordo com o tipo de mu- tação genética, o tempo da doença e o ritmo individual de progressão. Essa mutação genética tem maior inci- dência sobre a população caucasiana, sendo bem me- nos frequente em populações asiáticas e negras. Quan- do descoberta, a sobrevida era mínima de cinco anos de vida, porém com os avanços no diagnóstico e no tra- tamento, os fibrocísticos podem chegar até a terceira década de vida. (ATHANAZIO, RA et al., 2017). HEREDITÁRIA Passada pelo código genético dos pais para os filhos. AUTOSSÔMICA Mutação cromossômica que atinge meninos e meni- nas na mesma proporção. RECESSIVA Quando é herdada uma cópia do gene defeituoso de cada um dos pais para desenvolver a doença. Caso seja herdada apenas uma cópia de gene defeituoso de um dos pais e um gene normal, o indivíduo será apenas portador (a). A presença de muco espesso nos ductos dos órgãos envolvidos, causam manifestações clínicas e complica- ções que prejudicam o estado de saúde do fibrocístico e consequentemente a qualidade de vida. MANIFESTAÇÃO RESPIRATÓRIA A obstrução das vias respiratórias diminui a ação lo- cal do sistema de defesa, propiciando quadros de infec- ções e inflamações, o que diminui a capacidade respira- tória. O muco acumula uma série de microrganismo co- mo o Staphylococcus Aureus, Haemophilus Influenzae, - Pseudomonas Aeruginosa, Burkholderia Cepacia, entre outros, que geram esse processo inflamatório. As complicações pulmonares alteram severamente a rotina de vida do paciente, podendo ainda desencadear refluxos gastroesofágicos, anorexia e consequente des- nutrição, agravada pelo aumento do gasto energético. Em quadros de Doença Pulmonar Crônica, o paciente pode cursar para o óbito devido as complicações decor- rentes (PESSOA, IL et al., 2015; ADDE, FV, 2014). MANIFESTAÇÃO GASTROINTESTINAL São, em sua maioria, secundárias da insuficiência pancreática. As obstruções causadas pelo muco nos ca- nais pancreáticos impedem a dispensação das enzimas pancreáticas que atuam na digestão, entre elas: amila- se, lipase e proteases, o que impacta diretamente na absorção dos macronutrientes pelo organismo. A secre- ção de bicarbonato de sódio também é prejudicada, re- duzindo a eficácia dos sais biliares, que não alcalinizam o pH do duodeno como deveriam, contribuindo para a síndrome de má absorção (PESSOA, IL et al., 2015; ADDE, FV, 2014). As manifestações incluem um quadro de esteatorreia e comprometimento nutricional, vinculado à baixa ab- sorção de proteínas, lipídeos e carboidratos e o déficit de vitaminas lipossolúveis. Com o passar do tempo, as obstruções biliares prejudicar a função hepática, levan- do ao quadro de Esteatose Hepática e Colelitíase. No intestino, a disfunção absortiva de cloro, sódio e água dificultam a formação do bolo fecal, ocasionando as Síndromes Obstrutivas Intestinais, como o Íleo Meco- nial, Obstrução Distal e Constipação (PESSOA, IL et al., 2015; ADDE, FV, 2014). OUTRAS MANIFESTAÇÕES GLÂNDULAS SUDORÍPARAS A anormalidade na homeostase do cloreto de sódio gera o acumulo de sódio e cloreto no suor, apresentando o quadro de “suor salgado”, que é utilizado como forma de diagnóstico na FC. Isto está relacionado à perda de líquidos e eletrólitos, resultando numa possível desidratação. GÊNITO-URINÁRIO A obstrução dos ductos deferentes nos homens portadores de FC leva ao quadro de infertilidade. Nas mulheres, a dificul- dade para engravidar se dá pelo acúmulo de muco cervical espesso, que funcionam como um obstáculo para as células de esperma. OSTEOPENIA E OSTEOPOROSE Quadro ao qual é propiciada pela má absorção que leva a depleção das concentrações séricas de Vitamina D e K, envol- vidas nas reações de absorção de cálcio (PESSOA, IL et al., 2015; ADDE, FV, 2014). MEDICAMENTOSA O uso constante de Anti-inflamatórios (Não Esteróis) e Imu- nossupressores devido ao quadro de infecções frequentes po- dem levar ao grau de nefrotoxicidade, causando assim, em pacientes com idade mais avançada, doença renal aguda ou crônica. DIABETES MELLITUS Complicação comum e grave, devido ao tecido pancreáti- co lesionado começar a substituir suas glândulas por tecido fi- broso, afetando a parte endócrina do pâncreas e suas enzi- mas, o que implica diretamente na intolerância à glicose e di- abetes mellitus, podendo assim, ser agravada pela presença de infecções, má absorção, tempo de transito intestinal, multi- plicação bacteriana e outros. DESNUTRIÇÃO Um dos principais agravos que mais prejudicam o tratamento da FC. O quadro Policarencial causado pela Síndrome de Má Absorção é piorado pelo comprometi- mento energético gerado no desenvolvimento da doen- ça respiratória severa (PESSOA, IL et al., 2015; ADDE, FV, 2014). Devido ao maior co- nhecimento e preocupa- ção das equipes de saú- de e da população à cerca da doença, o di- agnóstico vem aumen- tando significativamente no Brasil. O Ministério da Saúde tem desenvol- vido campanhas de prevenção para o diag- nóstico precoce, melho- rando assim, a expecta- tiva e condição de vida. Portanto, para o diag- nóstico da FC, o mesmo se inicia na Triagem Neonatal, onde é nesta fase que é realizado os testes específicos para a doença. O Teste da Tripsina Imunorreativa (TIR), que é uma enzima relacionada a insuficiência pancreática, que quando aumentada pode estar relacionado a obstrução de canais pancreáticos com a presença de muco. O tes- te deve ser realizado em recém-nascidos com até 30 di- as de vida, onde as concentrações de TIR são reduzidas. Para se evitar resultados falso-negativos, o exame deve ser repetido. TESTES O Teste do Suor é um procedimento ao qual analisa a quantidade de cloro presente no suor, sendo não efeti- vo em recém-nascidos por não responderem bem aos estímulos da pilocarpina, por isto, é necessário aguar- dar até o primeiro mês de vida para ser realizado. O teste é considerado padrão ouro na com- firmação da FC. O teste possuí elevada es- pecificidade e sensibilidade, baixo custo e é não invasivo. O Teste Genético possuí aplicação necessária quan- do há um diagnóstico não definido, como em pacientes com formas atípicas da doençapulmonar e pancreática que apresentam o Teste do Suor negativo. Em compara- ção aos outros testes, o mesmo é inacessível pela popu- lação devido ao seu alto custo. O diagnóstico precoce e o tratamento correto melho- ram as condições de vida do paciente, mesmo que a doença não possua cura. O Teste do Pezinho completo é de grande valia para o diagnóstico, sendo este marca- dor importante para implementação no teste oferecido pelo SUS. Em casos de DPOC com sintomatologia espe- cífica; Íleo Meconial; Insuficiência Pancreática; Má Ab- sorção e outras podem contribuir para o diagnóstico clí- nico através de exames avaliativos de função pancreáti- ca, análise de escarro, espirometria e outros. (ATHANÁZIO, RA et al., 2017; AMBROSIO, VLS et al., 2012; PESSOA, IL et al., 2015; MOCELIN, H et al., 2017; MELOTTI, RCNC et al., 2016) TRATAMENTO Na Insuficiência Pancreática a terapia de reposição enzimática é realizada através da administração de en- zimas lipases, proteases e amilases em concentrações de acordo com a idade. Tendo como objetivo, facilitar a digestão e absorção de nutrientes, devendo ser utilizada de acordo com a rotina das refeições. Em complicações pulmonares, a fisioterapia respiratória ajuda a retardar a progressão da FC. As técnicas utilizadas são: Pode-se ter auxilio com o uso de mucolíticos que irão diminuir a viscosidade do escarro devido à degradação do DNA extracelular em pequenos fragmentos, e o uso de broncodilatadores. Em casos de comprometimento pulmonar mais grave, a suplementação de oxigênio du- rante as atividades se faz necessário. A colonização de bactérias e fungos no muco acu- mulado nos pulmões pode desencadear uma resposta inflamatória, ocasionando uma infecção pulmonar. Sen- do assim, o uso de antibióticos deve ser feito com caute- la de acordo com a cultura encontrada na secreção. Em casos de uma resposta não efetiva à antibioticoterapia, pode-se haver uma resistência ao medicamento, pioran- do o quadro do paciente e exigindo antibióticos com uma carga mais potente. Em pacientes com FC, a Nutrição deve avaliar e mo- nitorar regularmente o estado nutricional, assegurando uma adequada ingestão calórica. A intervenção nutrici- onal deve ser precoce, para que não haja prejuízos do estado nutricional e a piora da função pulmonar que consequentemente reduz a sobrevida do paciente. A desnutrição, por causa da má absorção, inapetência e pelo gasto de energia aumentado pelo quadro das do- enças pulmonares, é uma das principais complicações que implicam na qualidade de vida na FC. O aporte nu- tricional adequado pode evitar ou minimizar as morbi- dades associadas ao paciente, como a osteoporose e a diabetes mellitus, causadas pela deficiência insulínica e de vitaminas lipossolúveis. Lembrando que o paciente deve ser constantemente monitorado por toda equipe de saúde, considerando que suas manifestações podem ser as mais diversas, da forma típica ou atípica, requerendo cuidados individuali- zados (MELOTTI, RCNC et al., 2016; ATHANAZIO, RA et al., 2017; SODER, BENETTI, VOLKWEIS, 2015.) EQUIPE INTERDISCIPLINAR NA FC O processo evolutivo do quadro da FC tem impacto direto na relação entre os profissionais de saúde, os pa- cientes e seus familiares. As alterações decorrentes a mudança do estado de saúde e aos cuidados necessá- rios, afetam diretamente a condição emocional e psico- lógica dos familiares em enfrentar a situação ao qual se encontra. Logo, é importante que o processo de huma- nização englobe os fatores específicos como a relação profissional-paciente, a comunicação e a informação fa- cilitada e o modo ao qual a mesma é passada, a toma- da de decisão dos cuidados e principalmente os fatores psicoemocionais. A abordagem do profissional de saúde facilita o processo de compreensão familiar, permitindo assim o conhecimento sobre a doença (AFONSO & MITRE., 2013; TAVARES, CARVALHO & PELLOSO., 2014). O tratamento exige que o paciente com FC seja acompanhado por centros especializados, que dispo- nham de uma equipe interdisciplinar contendo Médicos- (Pediatras, Pneumologistas, Gastroenterologistas), Nutri- cionistas, Fisioterapeutas, Enfermeiros, Psicólogos, Far- macêuticos e Assistentes Sociais (MELOTTI, RCNC et al, 2016; ATHANAZIO, RA et al, 2017). É essencial que o acompanhamento interdisciplinar, o diagnóstico precoce e efetivo seja realizado para a ga- rantia da melhor qualidade de vida dos pacientes com Fibrose Cística (FC). A fim de promover a conscientização da população e a busca pelo conhecimento das equipes de saúde, o Ministério da Saúde esta- beleceu o dia 5 de Setembro como Dia Nacional da Conscientização e Divulgação da Fibrose Cística (MINISTÉRIO DE SAÚDE). AMBROSIO, Valeria Laguna Salomão, et al. "PROTOCOLO DE ATENDIMENTO NUTRI- CIONAL EM FIBROSE CÍSTICA". Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo – Programa Na- cional de Triagem Neonatal. 2012. ADDE, Fabíola Villac. "FIBROSE CÍSTICA NA CLÍNICA PEDIÁTRICA". Pediatr. mod 50.1 (2014). PESSOA, INGRID LACERDA, et al. "FIBROSE CÍSTICA: ASPECTOS GENÉTICOS, CLÍNI- COS E DIAGNÓSTICOS". Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research – BJSCR, Vol.11, n.4, pp.30-36. Jun - Ago 2015. SODER, Taís Fátima; BENETTI, Fábia; VOLKWEIS, Dionara Simoni Hermes. “TERAPIA NUTRICIONAL NA FIBROSE CÍSTICA: REVISÃO INTEGRATIVA”. Revista de Enfermagem, v. 11, n. 11, p. 100-111, 2015. MELOTTI, Roberta de Cássia Nunes Cruz, et al. “PROTOCOLO ASSISTENCIAL DE FI- BROSE CÍSTICA: SERVIÇO DE REFERÊNCIA PEDIÁTRICO E ADULTO DO ESTADO DO ESPÍRI- TO SANTO”. Secretaria de Saúde do Governo do Estado do Espírito Santo – Vitória. 2016. MOCELIN, Helena, et al. “TRIAGEM NEONATAL PARA FIBROSE CÍSTICA NO SUS NO RIO GRANDE DO SUL”. Boletim Científico de Pediatria - Vol. 6, N° 1. 2017. ATHANAZIO, Rodrigo Abensur et al. “DIRETRIZES BRASILEIRAS DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA FIBROSE CÍSTICA”. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 43, n. 3, p. 219- 245, 2017. Afonso, Selene Beviláqua Chaves, and Rosa Maria de Araujo Mitre. "NOTÍCIAS DIFÍCEIS: SENTIDOS ATRIBUIÍDOS POR FAMILIARES DE CRIANÇAS COM FIBROSE CÍSTICA”. (2013). Okuda Tavares, Keila; de Barros Carvalho, Maria Dalva; Pelloso, Sandra Marisa. “DIFICULDADES VIVENCIADAS POR MÃES DE PESSOAS COM FIBROSE CÍSTICA”. Texto & Contexto Enfermagem, vol. 23, núm. 2, abril-junho, 2014, pp. 294-300.
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