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63 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA Unidade III Trataremos, nesta unidade, dos conceitos e objetivos de estudo das áreas sintaxe e semântica da língua, respectivamente. Veremos, também, a relação entre as perspectivas linguísticas, do estruturalismo às teorias de texto, e o ensino de língua portuguesa na educação básica. 7 SINTAXE E SEMÂNTICA A sintaxe é a área de descrição da língua em que a combinação dos elementos no eixo sintagmático produz significados. A palavra “sintaxe” tem origem no grego súntaksis e quer dizer “ordem, disposição”. Essa ordem é objeto de análise nos estudos de descrição sintática da língua. Chomsky, na década de 1950, já defendia que o indivíduo reconhece a estrutura de sua língua desde que passa a adquirir a linguagem, pois sabe distinguir sentenças “bem‑formadas” de sentenças “malformadas”. Observação Exemplificando, se alguém disser “Meninos rua encontrei na os.”, esta será considerada uma sentença malformada por romper totalmente com a estrutura sintática da nossa língua. As investigações de Chomsky levaram à conclusão de que o falante tem uma tendência natural, inata, de reconhecimento das estruturas linguísticas, e, ainda segundo ele, há princípios que são universais. Por exemplo, em toda língua há as classes básicas de palavras – substantivo, verbo, adjetivo. O que varia, segundo Chomsky, é a organização desses elementos na sentença. A isso ele denomina parâmetros. Desse modo, em língua portuguesa podemos formar uma sentença com a ausência do sujeito, como em “Chovia torrencialmente.”, uma vez que o verbo chover é impessoal. Se fôssemos demonstrar na estrutura o que ocorre, teríamos: Quadro 14 – Exemplo de estrutura de uma sentença em língua portuguesa S V C Ø Chovia torrencialmente. 64 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 Veja que a “casa” do sujeito está representada por um conjunto vazio. Já em uma língua como o inglês, por exemplo, isso não é possível: temos de usar sempre o pronome it para representar o sujeito. São essas peculiaridades que constituem os parâmetros de cada língua. A sintaxe adquiriu status de disciplina a partir das ideias propostas por Saussure, no início do século XX, e distingue‑se da fonologia e da morfologia por focalizar a sentença como unidade linguística. Nesse sentido, há duas tendências principais pelas quais se têm realizado os estudos sintáticos: o formalismo e o funcionalismo. Pela visão formalista, a língua é analisada em sua forma, ou seja, toda análise linguística sob esse ponto de vista é realizada com ênfase na estrutura da sentença, não levando em consideração o contexto. É com base, portanto, nas relações entre os termos da oração que se faz a análise sintática destes. Além disso, consideram‑se, segundo Berlinck et al. (2001), a partir da crença em que a língua é um sistema de conhecimentos interiorizados na mente humana, quatro questões primordiais na definição de tal programa: • no que consiste o sistema de conhecimentos do falante de uma determinada língua particular? • como se dá o desenvolvimento de tal sistema de conhecimentos na mente do falante? • de que forma o falante utiliza tal sistema em situações discursivas concretas? • que mecanismos físicos do cérebro do falante servem de base a tal sistema de conhecimentos? (BERLINCK et al., 2001, p. 211). Pode‑se dizer, então, que Chomsky apoia‑se em uma visão formalista na análise dos dados linguísticos de uma sentença, a partir dos quais determina os princípios e os parâmetros de organização linguística. Já a visão funcionalista considera o meio em que se insere a linguagem, ou seja, que a comunicação não é algo autônomo, mas dá‑se entre membros de uma comunidade, por isso, esta determina o modo de se estruturar a língua. Nessa perspectiva, devem‑se analisar os fatos linguísticos considerando‑se tanto o falante quanto o ouvinte. Portanto, analisar sintaticamente uma sentença do ponto de vista funcionalista é ir além dos limites dessa sentença, entendendo‑se, então, que os processos sintáticos ocorrem pelas relações que o componente sintático da língua mantém com os componentes semântico e discursivo. Enfim, desse ponto de vista, torna‑se necessário considerar o contexto em que se insere a sentença. Como vimos, inicialmente, a gramática tradicional limita‑se a analisar a inversão da ordem direta das sentenças. Entretanto, não explica a variação que ocorre nas construções sintáticas. A tentativa 65 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA de descrever essa variação é das abordagens formalista e funcionalista. Ambas buscam solucionar o enigma da ordem sintática e sugerem algumas respostas. Todavia, de acordo com a perspectiva gerativista, que tem origem nos pressupostos de Chomsky, o falante é capaz de reconhecer a organização sintática de uma sentença, ou seja, como os constituintes básicos desta se organizam estruturalmente. É o que podemos descrever nos exemplos a seguir: • Meu irmão ganhou um prêmio. • Um prêmio meu irmão ganhou. • Ganhou um prêmio meu irmão. • Ganhou meu irmão um prêmio. • Irmão ganhou meu prêmio um. De todas as sentenças formadas, a que rompe totalmente com a estrutura sintática é a última. Esta não é reconhecida pelo falante. A teoria gerativista defende o ponto de vista de que o indivíduo é dotado de capacidade para reconhecer a estrutura básica da língua, ou, em outros termos, de que o ser humano é dotado de uma Gramática Universal (GU), a qual corresponde ao estado inicial da faculdade da linguagem, isto é, todo ser humano em condições normais é dotado dessa faculdade. Na perspectiva gerativista, o modelo de princípios e parâmetros pressupõe que existem princípios universais, invariáveis, que se modificam, variam os parâmetros de uma língua para outra. Nesse sentido, a criança em fase de aquisição da linguagem tem a capacidade de reconhecer, pelos princípios, os parâmetros de sua língua. Como ainda está em formação, torna‑se mais fácil para a criança, inclusive, adquirir uma segunda língua. Os gerativistas chegaram à conclusão de que havia um número finito de regras para um número infinito de sentenças produzidas pelo sistema e, ainda, que havia uma estrutura profunda a qual era transformada em outras, superficializadas em língua. Exemplificando, uma sentença como “O menino abriu a porta.” tem cinco itens lexicais que podem ser transformados, compondo novas sentenças, como “A porta foi aberta pelo menino.” ou “Quem abriu a porta?”. Isso se dá pela transformação da sentença inicial a partir de um sistema de regras pressupostamente já conhecido pelo falante e que deveria ser descrito pelo linguista. Os gerativistas ficaram conhecidos pela famosa maneira de representar as estruturas sintáticas, que é o sistema arbóreo: 66 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 S SN SV DET. N V SN O menino abriu DET. N a porta. Figura 13 – Sistema arbóreo da estrutura sintática Essa é a estrutura profunda, que poderia ser transformada a partir dos seguintes passos: • seleção do verbo “ser “ + “particípio”; • mudança do objeto para a posição de sujeito; • manifestaçãodo agente como Sintagma Preposicionado (SP) Assim, a sentença poderia ser representada no sistema arbóreo como: S SN SV DET N V SP A porta AUX. PART. P SN foi aberta por DET N prep. o (pelo) menino Figura 14 – Decomposição em sintagmas 67 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA O que diferencia esse ponto de vista do funcionalista é que, para o segundo, não há uma hierarquia na organização sintática, ao contrário, há uma variação na ordem dos elementos de acordo com diversos padrões que têm equivalência, mas não há uma hierarquização dessas estruturas. Essa teoria da ordem dos constituintes reflete‑se no que conhecemos atualmente por “tema/rema”, ou “tópico/comentário”, ou “dado/novo” no que se refere à sentença. Assim, se temos a intenção de enfatizar um dos elementos, mudamos a ordem. Nessa perspectiva, dizer “Encontrei meus sapatos.” é diferente de “Meus sapatos encontrei.”, pois, na primeira sentença, a ênfase recai sobre a ação, e, na segunda, sobre o objeto dessa ação. Esse recurso de formalizar em língua a intenção do locutor ao focalizar um elemento constituinte da oração é conhecido como topicalização. Desse modo, a ordenação dos constituintes da sentença dependerá de como o falante/locutor avalia enquanto informação já conhecida e informação nova para o ouvinte/interlocutor. É a partir desse conhecimento que a sentença será construída, de forma que confira relevância à mensagem. A descrição mais detalhada desses constituintes da sentença será objeto de estudo em uma disciplina do curso, que se denomina morfossintaxe da língua portuguesa, na qual essa organização sintagmática será analisada e descrita com mais especificidade. Por ora, o objetivo é apresentar os conceitos que norteiam a área de descrição da língua denominada sintaxe. 7.1 A semântica O conhecimento linguístico é o primeiro a ser ativado durante o processamento das informações, na leitura de um texto. Todavia, somente ele não garantirá a construção dos sentidos. É preciso ativar outros conhecimentos, como o enciclopédico (ou de mundo) ou o sociointeracional, a fim de construir o significado do texto. Os dois últimos relacionam‑se aos denominados fatores extralinguísticos, visto que dizem respeito ao que está fora da língua. Do ponto de vista semântico, as informações implícitas requerem a ativação dos conhecimentos externos à língua para que se produza sentido ao que, nesta, aparentemente, não tem. Todavia, é preciso entender que, para a área de estudo denominada semântica, é complexo definir o seu objeto. Se considerarmos fatores extralinguísticos, como acabamos de dizer, há de se considerar que o significado constrói‑se nessa interação entre os sujeitos, ou seja, não há um significado para cada objeto no mundo, mas tantos quantos forem construídos nessa relação sociointeracional. Antes, porém, quando a linguagem era vista como a expressão do pensamento, esse conceito de significado era diferente. O signo, para Saussure, é uma entidade psíquica que contém duas faces: uma imaterial, abstrata, correspondente ao conceito, e outra física, concreta, que corresponde à imagem acústica. A primeira 68 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 é denominada significado, e a segunda, significante. São essas duas partes que compõem o signo linguístico. Vejamos: Prédio Imagem acústica Conceito Significante Significado Figura 15 – Signo O mestre do estruturalismo defende, ainda, que o signo é arbitrário, isto é, não há motivação, o que significa que não existe uma relação direta entre ele e o objeto no mundo. É como pensar na relação que há, por exemplo, entre o signo linguístico “homem” e o que representa no mundo. Para Saussure, o signo é convencionado na sociedade e por ela, daí seu caráter social. A característica básica dos estudos saussurianos relaciona‑se ao método sincrônico, visto que anteriormente os estudos realizavam‑se em uma perspectiva diacrônica. Saussure postulou que, para se estudar a língua enquanto sistema, dever‑se‑ia observá‑la em seu estado, portanto, de um ponto de vista sincrônico. Daí a primeira dicotomia em relação aos estudos linguísticos propostos por ele: langue (língua) e parole (fala). Seu intuito era investigar a primeira, que entendia como o código, a estrutura (o que gerou a denominação estruturalismo). Com a finalidade de descrever esse sistema linguístico, o processo utilizado por Saussure foi o de comutação, pelo qual ele verificava o valor de cada signo. Exemplificando, por esse método, no nível dos fonemas, entre as palavras “pato” e “bato” houve a permuta do fonema /p/ ‑ oclusivo, bilabial, surdo – pelo fonema /b/ ‑ oclusivo, bilabial, sonoro. Essa troca originou um novo signo, o que comprova a noção de valor de cada fonema, segundo essa visão. Lembrete Para Saussure, portanto, há um sistema linguístico no qual os elementos se definem uns pelos outros. A língua é, desse ponto de vista, um sistema de interdependência entre os termos. Nessa perspectiva, o signo é constituído de duas partes: uma imaterial, que é o significado, o conceito, a imagem mental, e outra material, a imagem acústica, que é o significante. A função do signo, sob esse ponto de vista, é externa, visto que se considera a relação entre as palavras e os seres no mundo, entendendo‑se que aquelas nomeiam estes. O sistema linguístico, para Saussure, é um conjunto organizado em que um elemento se define pelos outros. Essa é a noção de valor do signo proposta por ele. A língua é, desse modo, um conjunto 69 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA de signos, em que um “vale” o que o outro “não vale”. Ela é social porque esses signos são produto da convenção social, daí seu caráter também arbitrário. A noção de arbitrariedade está relacionada a essa convenção, que exclui a ideia de motivação do signo. O significante não é motivado pelo significado, segundo Saussure. Não há uma relação direta entre ambos. Todavia, em suas investigações, ele observou que havia signos totalmente arbitrários e outros relativamente arbitrários. Para se entender essa classificação dada por Saussure, devemos pensar no processo de formação de palavras na língua. Por exemplo, se do signo banana há a derivação de outro, bananeira, pode‑se dizer que o segundo é relativamente arbitrário, tendo em vista que ele conserva o radical do primeiro. Nesse sentido, Saussure propôs a classificação para a arbitrariedade do signo. Podemos entender que a visão estruturalista, proposta por Saussure, transformou a linguagem humana em objeto abstrato ideal, em razão do interesse centralizado no sistema sincrônico homogêneo, que excluiu as manifestações concretas dessa língua (a fala), as quais não poderiam ser descritas cientificamente sob esse ponto de vista, segundo os estruturalistas. Com a pragmática, paradigma atual dos estudos linguísticos, não há mais essa visão unidisciplinar da língua. Esse objeto de estudo, atualmente, é visto de forma interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar, o que requer a interface entre a linguística e outras ciências. Os dois grandes eixoscompreendem as ciências sociais e as ciências cognitivas, e, a partir daí, temos diversas vertentes de estudo sobre esse objeto. Observação No paradigma atual, a língua é estudada em seu uso efetivo, concreto, e não mais de modo abstrato e idealizado, como viam os seguidores de Saussure no início do século XX. Portanto, o que era “social” para Saussure não o é para os linguistas atuais. Estudar a língua enquanto fenômeno social hoje requer observar os fenômenos linguísticos que ocorrem a partir do uso da língua, implica verificar, além do falante, o contexto em que os atos de fala se realizam. Dependendo do ponto de vista, há mudança de método em relação às investigações, todavia, o objeto de estudo é o mesmo. O que há em comum entre os estudos é essa passagem do virtual para o real uso da língua e as consequências que decorrem desse uso. Segundo os estudos linguísticos, antes de Saussure, o significante era linguístico e o significado era o referente. A palavra da língua era um rótulo que se colocava no referente. Com Saussure, passou‑se a considerar uma tríade: o referente, o significado linguístico e significante linguístico. Os dois últimos formam o signo linguístico. De acordo com a noção de valor postulada por Saussure, signo é um valor; significado e significante valem pelo referente sem sê‑lo. 70 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 Nos anos 1960, Ducrot, por meio das análises transfrásticas, entendeu que uma coisa é o que se disse, e outra, o que se quis dizer com aquilo, estabelecendo o processamento cognitivo da intenção de quem fala, de modo contextual. Assim, temos, por exemplo, o seguinte enunciado: “Chuchu é bom”, cujo significado encontra‑se na relação entre as palavras na sentença. Entretanto, se for dito “É bom pra chuchu”, o significado ultrapassa a extensão da sentença, é preciso buscar no contexto, em conhecimentos além do linguístico para se produzir sentido. Portanto, há uma semântica intensional, que constrói o significado das palavras a partir de semas (que são porções de significados), e outra extensional, que ultrapassa o nível da sentença. Lembrete As palavras intensional e extensional são grafadas com /s/ porque se relacionam à palavra tensão, e não a intenção. Já intencional está relacionado à intenção do coautor. Por exemplo, em: “Socorro!”, o enunciador constrói uma cena enunciativa/discursiva e o leitor também tem a cena enunciativa pelo modelo de situação dele. Veja exemplos: Ao enunciar‑se: “Você teve azia ontem?”, “Você estava com uma cara estranha, ontem.”, “O que você comeu?”. Subentendido: “O que houve com você ontem?”. Ducrot (1987) postulava que o enunciado é o dito, o posto, já o que se tem de informação prévia do contexto é o pressuposto e a conclusão a que se chega é o subentendido. Para Hjelmslev, o signo tem a função de significar. Não é uma forma, é substância. Assim, durante o estruturalismo, retirou‑se o aspecto semântico do estudo da língua, e os níveis de descrição eram fonologia, morfologia e sintaxe. A primeira manifestação do pós‑estruturalismo é a inserção da semântica, para o estudo desses níveis no texto. No pós‑estruturalismo, com a análise do discurso, Maingueneau (1997) postulou a existência de uma semântica global, relativa a todas as funções e relações da língua, para poder estabelecer o vínculo entre essa materialidade discursiva e o contexto histórico e cultural, para todas as dimensões. O discurso não se define por temas, mas pela maneira de tratá‑los. Existe uma semântica global, por exemplo, a de transformar o interlocutor em consumidor. Para tanto, não se pode trabalhar o estilo como se constroem os sentidos na agramaticalidade do sistema ‑ gramática funcional ‑ porque existe a 71 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA possibilidade de construir enunciados por clichês que antes foram da linguagem poética. Por exemplo: “Estou dando cavaco no chão” hoje já tem significados de base linguística que se tornaram clichês (“dar cavaco” = dar conversa). Observação A fase intermediária de estudos linguísticos entre a frase e o texto é chamada de transfrástica. Na época de Saussure, cujo paradigma era denominado estruturalismo, a unidade máxima de descrição era a frase, o que também se fez no paradigma conhecido por gerativismo. Mais tarde é que se passou a considerar o texto como unidade de investigação e começaram‑se a postular as teorias de texto. Antes disso, houve essa fase intermediária a que se atribui o nome de transfrástica (da frase para o texto). Um estudo mais detalhado sobre a semântica será realizado em disciplina específica do curso, por isso não nos estenderemos neste item. 8 PERSPECTIVAS ESTRUTURALISTA, GERATIVISTA E DISCURSIVA CONFORME OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS Neste tópico discutiremos diferentes conceituações de língua/linguagem, bem como sua influência em teorias de aquisição e aprendizagem de línguas. Serão abordadas teorias de aquisição da linguagem de diferentes perspectivas, que procuram conceituar a língua/linguagem, além de abranger os processos envolvidos em sua aquisição e sua aprendizagem. 8.1 Língua ou linguagem? Antes de tudo é preciso esclarecer a respeito da terminologia usada. Essa discussão iniciou‑se a partir do estabelecimento do objeto de estudo da linguística como ciência. Saussure preocupou‑se em estabelecer uma distinção entre língua e linguagem. Veja algumas dessas distinções feitas por ele, no Curso de linguística geral (1972): Quadro 15 – Língua e linguagem Língua Linguagem “É a parte social da linguagem” (p. 22). “Pertence tanto ao domínio individual quanto ao domínio social” (p. 17). “É um todo por si e um princípio de classificação” (p.17). “Não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade” (p. 17). “É homogênea” (p. 23). “É heterogênea” (p. 23). Fonte: Saussure (1972). 72 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 Ao conjunto língua/linguagem, Saussure acrescentou a fala, para situar uma linguística da língua e uma linguística da fala, focalizando seus estudos na primeira, conforme Petter (2002, p. 14): “Os seguidores dos princípios saussurianos esforçaram‑se por explicar a língua por ela própria, examinando as relações que unem os elementos no discurso e buscando determinar o valor funcional desses diferentes tipos de relações”. O esquema a seguir mostra o foco dos estudos estruturalistas. LINGUAGEM ↓ Soc ia l ↔ i nd i v idua l LÍNGUA ↓ KJK S o c i a l KJK KLJJJKLJKL FALA ↓ I n d i v i d u a l J KLJJJKLJKLJK KLJJJKLJKLJK Figura 16 – Ilustração dos conceitos de Saussure Em geral, o termo língua aparece relacionado à noção de sistema linguístico, composto por unidades invariáveis e discretas, enquanto o termo linguagem engloba a atividade humana comunicativa oral e escrita, usando determinado sistema linguístico. Segundo Bronckart (1999, p. 35), a linguagem é uma atividade “que se organiza em discursos ou em textos”, os quais, por sua vez, “diversificam‑se em gêneros” a partir da interação com atividades não verbais. Assim, o discurso, tanto oral quanto escrito, passa a ser o foco de interesse das análises linguísticas mais recentes. Nota‑se, portanto, que a linguagem se apresenta inserida em uma perspectiva mais ampla, que abrange língua e fala juntamente com fatores extralinguísticos. 8.2 Perspectivas estruturalista e gerativista Não se pode negar que o advento estruturalista no século XX tenha contribuído para trazerà tona questões referentes ao fenômeno linguístico de modo geral. O estruturalismo serviu para mudar as concepções sobre 73 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA língua/linguagem vigentes até então, além de impulsionar os estudos linguísticos. O ponto de partida foi uma concepção de língua (langue) como um sistema de regras passíveis de descrição, enquanto as manifestações individuais da fala (parole) foram descartadas, conforme mencionado anteriormente. Já o linguista Noam Chomsky, que se distanciou do estruturalismo, entre outras razões, por pleitear uma análise linguística que considerava a existência de um nível “profundo” da estrutura gramatical, subjacente ao nível “superficial”, tem em comum com Saussure o fato de defender uma teoria a partir de um elemento “abstrato”, “universalista”, “sistêmico” e “formal” (WEEDWOOD, 1995). A teoria linguística adotada por Chomsky tem um caráter mentalista, conforme explicado a seguir: As propostas de Chomsky visavam descobrir as realidades mentais subjacentes ao modo como as pessoas usam a língua(gem): a competência é vista como um aspecto de nossa capacidade psicológica geral. Assim, a linguística foi encarada como uma disciplina mentalista – uma visão que contrastava com o viés behaviorista da linguística feita na primeira metade do século XX [...] (WEEDWOOD, 2002, p. 134). Observação Note que na citação de Weedwood (2002) aparece a palavra língua(gem), por tratar‑se de uma tradução do inglês. O termo mereceu a seguinte explicação do tradutor Marcos Bagno: “Como o inglês só dispõe da palavra language para se referir tanto à linguagem (capacidade humana de se comunicar por meio da fala e da escrita) quanto à língua (sistema linguístico particular, idioma), traduziremos o termo inglês ora por ‘língua’, ora por ‘linguagem’ e, eventualmente, por ‘língua(gem)’ quando ambas as noções estiverem, a nosso ver, contempladas no discurso da autora (N. do T.)” (WEEDWOOD, 2002, p. 9). As perspectivas de Saussure e de Chomsky associam a linguística a outras áreas: a língua – sistema linguístico socializado – de Saussure aproxima a linguística da sociologia ou da psicologia social; a competência – conhecimento linguístico internalizado – aproxima a linguística da psicologia cognitiva ou da biologia (PETTER, 2002, p. 15). Contudo, as concepções sobre linguagem foram se desenvolvendo e ganhando maior abrangência no tocante a tentar explicar os diversos aspectos que integram os fenômenos linguísticos e interagem com eles, bem como a dar conta desses aspectos. Podemos observar como aspectos extralinguísticos foram incluídos nas análises linguísticas provenientes da sociolinguística que passaram a se interessar pela interação entre linguagem e sociedade. 74 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 Na sequência apresentaremos perspectivas linguísticas mais recentes, que também tendem a enfocar fatores extralinguísticos relacionados à linguagem. 8.3 Linguagem e prática social Os desafios da linguística atual têm sido discutidos por diversos estudiosos da área que propõem cada vez mais refletir sobre as implicações da inclusão de elementos, como o contexto social e histórico, aos estudos linguísticos, de modo que se expandam as concepções sobre a linguagem e se obtenha uma melhor compreensão sobre as implicações das manifestações linguísticas nas práticas sociais. Isso significa acrescentar novos fatos acerca da linguagem. Bronckart (1999) lembra que a abordagem interacionista pode certamente aproveitar‑se, para uma primeira análise, das inúmeras descrições das estruturas e das unidades das línguas naturais fornecidas por três quartos de século de linguística estrutural. Mas, devido a seus postulados fundadores (ou behavioristas ou neonativistas), essas correntes, geralmente, se impedem de considerar os fatos de linguagem como traços de condutas humanas socialmente contextualizadas (BRONCKART, 1999, p. 23). Dentre as questões que procuram dar conta da problemática envolvida nos estudos de natureza linguística, Morato (2005, p. 313) sintetiza alguns tópicos de interesse: • as práticas sociais nas quais a linguagem está imersa; • as múltiplas atividades psicossociais que os falantes desenvolvem; • os aspectos subjetivos e variáveis da língua e seu funcionamento; • as condições materiais, psíquicas e ideológicas de produção e interpretação da significação; • o estatuto do “outro” no processo de aquisição da linguagem pela criança etc. Os itens citados demonstram que os estudos linguísticos têm ampliado seu campo de investigação ao conceber a linguagem como mediadora das práticas sociais em que o ser humano se vê envolvido, o que sugere que se conheça mais a respeito de como esses mecanismos de interação social operam, por causa da importância da linguagem para os fatos humanos. Bronckart (1999, p. 21) utiliza a expressão interacionismo social para designar as correntes teóricas que aderem à tese de que “as propriedades específicas das condutas humanas são o resultado de um processo histórico de socialização”. Em contrapartida, estudos que concebem a língua como um sistema homogêneo, estável e capaz de ser descrito satisfatoriamente por disciplinas tradicionais, como a fonologia, a morfologia, a sintaxe e a semântica, passaram a sofrer duras críticas de teóricos que postulam a inclusão de fatores sociais, históricos e ideológicos nos estudos linguísticos. Dentre os teóricos que vieram a contribuir para um 75 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA melhor entendimento sobre a natureza social, histórica e ideológica dos fenômenos linguísticos está o linguista russo Mikhail Mikhailovich Bakhtin. Saiba mais Mikhail Mikhailovich Bakhtin (1895‑1975) nasceu em Oriol, estudou na Universidade de Odessa e de São Petesburgo, local em que se graduou em história e filologia em 1918. Defendeu tese em 1946 e em 1965 a publicou em Moscou com o título Rabelais e a Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento. BAKHTIN, M. M. Marxismo e filosofia da linguagem. 9. ed. São Paulo: Hucitec, 1999. Bakhtin (1928) postulou o caráter ideológico no texto poético, defendendo, ainda, que a avaliação social não é exclusividade da poesia, mas que é preciso inserir esta nos estudos linguísticos em razão do caráter ideológico da linguagem. Bakhtin tem despertado o interesse de estudiosos da área justamente por sua proposta de pensar a linguagem inserida em um contexto sócio‑histórico. Ao incluir aspectos extralinguísticos em seu modo de conceber a linguagem, Bakhtin introduziu alguns conceitos‑chave sobre a relação entre linguagem e práticas sociais, apresentados na sequência. 8.4 Linguagem e dialogismo Dentre os conceitos introduzidos por Bakhtin a respeito da linguagem, o diálogo, por seu caráter social, assumiu grande importância em seus estudos. De modo semelhante, a fala passou a receber atenção especial no pensamento bakhtiniano por sua natureza dialógica. A partir dos conceitos desenvolvidos por Bakhtin, é possível perceber o papel da linguagem nos fatos humanos, acima de tudo, por sua função comunicativa e social, isto é, o ser humano usa a linguagem fundamentalmente para dialogar com seu semelhante em diversos contextos sociais e com vários objetivos. É por meio do diálogo, portanto, que ocorre a interação com o outro. “A palavra‑chave da linguística bakhtiniana é diálogo. Só existe língua se houver possibilidade de interação social, dialogal” (WEEDWOOD, 2002, p. 152). Segundo Bakhtin (1999, p. 123), o diálogo pode ser definido como “toda comunicação verbal,de qualquer tipo que seja”. Portanto, ele considera um registro escrito, por exemplo, um livro, um “ato de fala impresso”, uma vez que “é objeto de discussões ativas sob a forma de diálogo” e, além disso, é feito para ser estudado, comentado e criticado no quadro discursivo interior, sem contar as reações impressas, institucionalizadas, que se encontram nas diferentes esferas da comunicação verbal (críticas, resenhas, que exercem influência sobre os trabalhos posteriores etc.) (BAKHTIN, 1999, p. 123). 76 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 A concepção linguística bakhtiniana coloca a fala no âmbito social, e não no individual, como fez Saussure. Bakhtin considera que os atos de fala não se manifestam separados das condições de comunicação e das estruturas sociais. O autor refere‑se à fala como “enunciação individual” e explica que o centro organizador de toda enunciação, de toda expressão, não é interior, mas exterior: está situado no meio social que envolve o indivíduo”. [...] A enunciação enquanto tal é um puro produto da interação social, quer se trate de um ato de fala determinado pela situação imediata ou pelo contexto mais amplo que constitui o conjunto das condições de vida de uma determinada comunidade linguística (BAKHTIN, 1999, p. 121). Um outro conceito importante, destacado por Bakhtin e que, consequentemente, abrange a concepção de linguagem é a interação. É importante notar que os enunciados, ou atos de fala, são sempre motivados pela interação com outro falante e, além disso, os participantes de um diálogo estão sempre social e historicamente inseridos, o que, ao mesmo tempo, motiva a interação verbal entre eles, influindo nessa interação. De fato, a fala é a primeira manifestação linguística à qual o ser humano é exposto em seu meio social. Cabe lembrar, ainda, que a fala é historicamente anterior à escrita na sociedade humana. O mesmo acontece com o referencial linguístico dos alunos, que chegam à escola já com o sistema linguístico internalizado para aprender um outro código da língua: a escrita. Por isso, o papel do outro na construção do conhecimento linguístico ganhou destaque em estudos como os de Bakhtin, que procuravam investigar o papel da interação ou do diálogo entre interlocutores. O autor russo procurou mostrar que a interação verbal é a realidade fundamental da linguagem: A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações (BAKHTIN, 1981, p. 123 apud BARROS, 2002, p. 42). A linguagem oral e/ou escrita passa, então, a ser entendida como intermediária nas interações sociais, e não mais como um sistema abstrato e inatingível. Assim, a situação e o contexto passam a ter importância nos estudos linguísticos, uma vez que não só se associam como também condicionam a produção linguística, além de refletir mudanças sociais. Além disso, para Bakhtin, a linguagem é permeada por aspectos ideológicos, que condicionam sua produção, pois “a ideologia é um reflexo das estruturas sociais. Portanto, toda modificação da ideologia acarreta uma modificação da língua” (WEEDWOOD, 2002, p. 152). 77 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA Por isso, a análise linguística proposta por Bakhtin baseia‑se na produção verbal de um falante real, ideológico, inserido social e historicamente, que utiliza a linguagem para estabelecer comunicação com o outro. Para Bakhtin (1999, p. 113), “toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte”. Nesse sentido, Bakhtin se opõe ao falante “ideal” proposto por Chomsky, isolado de toda realidade a histórica e social, porque “o estudo de uma ‘gramática universal’, que desconsidera o papel social, histórico e ideológico da língua(gem) não seria produtivo” (WEEDWOOD, 2002). As ideias desenvolvidas por Mikhail Bakhtin vêm impulsionando os estudos linguísticos juntamente com abordagens como as propostas pela sociolinguística, a análise do discurso, entre outras, que apontam para uma concepção de linguagem baseada em sua relação com as práticas sociais. Sua contribuição está no fato de propor uma compreensão dos fenômenos linguísticos vinculados às condições de produção do discurso, e não em função da língua em si. Tais ideias têm encontrado aplicações em diversas áreas de estudos linguísticos voltados tanto para a aquisição quanto para o processo de ensino‑aprendizagem de línguas. 8.5 Aquisição da linguagem De acordo com Scarpa (2001), para tentar explicar como uma criança é capaz de adquirir a língua, as teorias de aquisição de linguagem buscam subsídios: • de teorias linguísticas; • da psicologia cognitiva, comportamental e do desenvolvimento; • da psicolinguística. Dentre as questões a que as teorias de aquisição de linguagem tentam responder, segundo Scarpa (2001), estão: • como se dá a aquisição dos componentes linguísticos; • o período para a completa aquisição da linguagem; • o motivo de o processo de aquisição da linguagem se completar tão rapidamente; • a relação que o indivíduo estabelece entre percepção e produção da linguagem. As teorias de aquisição da linguagem tratam tanto da aquisição da língua materna (LM) em condições normais quanto de “desvios” (articulatórios, em pessoas surdas, com retardos mentais etc.) Nessa área inclui‑se ainda a aquisição de línguas estrangeiras (LE), como no caso do bilinguismo infantil, da aquisição de LE por adultos e da aquisição da escrita (SCARPA, 2001). A seguir veremos como a aquisição da linguagem é influenciada por fatores sociais. 78 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 8.6 A perspectiva sociointeracionista A influência de aspectos sociais na aquisição de linguagem, bem como na aprendizagem de línguas, mereceu atenção a partir de estudos linguísticos que relacionam fatores como ambiente e participantes ao processo de aquisição e aprendizagem de línguas. É importante lembrar que tal abordagem se opõe à visão behaviorista e à visão inatista, estudadas em linguística geral. A primeira, proposta por Skinner, postulava que o comportamento verbal é previsível e controlável mediante variáveis que monitoram o comportamento. Para Skinner, o aprendizado linguístico era análogo a qualquer outro – todo comportamento/aprendizado é visto como aprendido por reforço e privação. A segunda abordagem, desenvolvida por Chomsky, postulava a existência de um conjunto de informações internas, inatas, como o que possibilita chegar a uma representação de uma determinada língua (SANTOS, 2002, p. 219). Estudos dessa natureza surgiram a partir de questionamentos a respeito de teorias até então vigentes, conforme Borges e Salomão (2003): Os estudos sobre a influência dos fatores sociais na aquisição da linguagem tiveram grande impulso com as críticas às considerações de Chomsky de que havia uma “pobreza dos estímulos” e, portanto, a criança não poderia adquirir a linguagem a partir do meio social. Autores da perspectiva da interação social no estudo da linguagem desafiam a posição chomskiana e evidenciam a importância da interação social para a aquisição da linguagem, especialmente as relações da criança com a mãe (BORGES e SALOMÃO, 2003, p. 327). O fator social na aquisição da linguagem recebeu a contribuição de estudosvindos da psicologia, que consideravam a natureza social da linguagem. Dentre os estudiosos da área, destaca‑se Lev Vygotsky, que chamou a atenção para a função social da fala. Saiba mais Vygotsky (1896‑1934) nasceu e morreu na Rússia. Foi contemporâneo de Piaget, professor nas áreas de Psicologia e Pedagogia. Sua teoria tinha por base o desenvolvimento do indivíduo enquanto resultado de um processo sócio‑histórico, no qual enfatizava a importância da linguagem e de sua aquisição nesse desenvolvimento, daí sua teoria ser considerada histórico‑social. Para saber mais, acesse: <http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/biografia_vygotsky.htm>. Acesso em: 14 maio 2012. Em seus estudos, Vygotsky ressaltou a importância do interlocutor para que a linguagem seja adquirida. Para ele, o adulto é um facilitador no processo de aquisição da linguagem, ao interagir com a criança em situações comunicativas. 79 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA Vygotsky propõe quatro estágios no desenvolvimento das operações mentais (incluídas as operações responsáveis pelo desenvolvimento da fala): • natural ou primitivo (que corresponde à fala pré‑intelectual e ao pensamento pré‑verbal); • psicologia ingênua (a criança experimenta as propriedades físicas tanto de seu corpo quanto dos objetos e aplica essas experiências ao uso de instrumentos – inteligência prática); • signos exteriores (as operações externas são usadas para auxiliar as operações internas); • crescimento interior (em que operações externas se interiorizam) (SANTOS, 2002, p. 224). Na perspectiva de Vygotsky, a relação entre pensamento e linguagem é gradualmente construída via interação. Segundo o autor, existem estágios de desenvolvimento da linguagem, que, a princípio, encontra‑se dissociada do pensamento (SANTOS, 2002). A teoria vygotskiana divide o desenvolvimento da linguagem nas seguintes fases: • fase pré‑verbal do pensamento (relacionada à inteligência prática); • fase pré‑intelectual da fala (o balbucio e o choro, por sua função social, seriam exemplos de fala sem pensamento) (SANTOS, 2002, p. 224). Por volta dos dois anos de idade, segundo Vygotsky, a fala e o pensamento se unem e dão início ao comportamento verbal. “A partir daí, a fala passa a servir ao intelecto e os pensamentos podem ser verbalizados” (SANTOS, 2002, p. 224). Os postulados de Vygotsky sugerem, portanto, que a aquisição de linguagem é um processo que vai sendo internalizado gradativamente pela criança, que, por suas relações sociais e pela linguagem, constitui‑se como sujeito, conquistando a autonomia de sua própria produção linguística: Internalizando a linguagem do outro [...] a criança passa da condição de interpretada para intérprete de estados de coisas do/no mundo; da dependência da forma dialogal para, a partir da diferenciação dos papéis enunciativos, uma certa autonomia enunciativa [...] (MORATO, 2005, p. 326). Portanto, a função comunicativa e social da linguagem, concretizada pela interação entre os falantes, ganhou espaço nos estudos linguísticos sobre aquisição da linguagem. A seguir veremos a influência de tal enfoque nas práticas pedagógicas. 80 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 8.7 Linguagem e transformação social O papel da interação, não só na aquisição da linguagem por crianças, mas também na aprendizagem de línguas em contextos escolares, despertou a atenção de pesquisadores, merecendo enfoque nos Parâmetros Curriculares Nacionais por seu potencial transformador da realidade social: As situações de interação social estimulam transformações e reestruturação da organização conceitual que [...] não se caracteriza como uma rede estável e acabada. Experiências psicológicas demonstram que o questionamento sobre declarações de um sujeito geralmente desencadeia uma reestruturação conceitual por parte desse indivíduo (BRASIL, s/d, p. 34). O caráter transformador da linguagem, no desenrolar de práticas sociais, passou a ser encarado como parte integrante da escola, que evidentemente tem um grande papel social e transformador: Nas práticas sociais, o homem cria a linguagem verbal, a fala. Na e com a linguagem, o homem reproduz e transforma espaços produtivos. A linguagem verbal é um sementeiro infinito de possibilidades de seleção e confrontos entre os agentes sociais e coletivos. A linguagem verbal é um dos meios que o homem possui para representar, organizar e transmitir de forma específica o pensamento (BRASIL, 2000, p. 5). Logo, a linguagem aparece como um instrumento capaz de proporcionar a possibilidade de interação e transformação social, proposta esta que se distancia do ensino tradicional, voltado para o desenvolvimento técnico da gramática normativa da língua. Os PCN também abordam a relação entre interação e linguagem, que, conforme estudado aqui, é um conceito que tem permeado estudos linguísticos mais recentes: A interação é o que faz com que a linguagem seja comunicativa. Esse princípio anula qualquer pressuposto que tenta referendar o estudo de uma língua isolada do ato interlocutivo. Semelhante distorção é responsável pelas dificuldades dos alunos em compreender estaticamente a gramática da língua que falam no cotidiano (BRASIL, 2000, p. 18). Observação Evidentemente o papel transformador da linguagem está ligado aos significados veiculados nos diversos contextos sociais em que ela se manifesta. 81 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA 8.8 Linguagem e produção de sentidos Um outro aspecto que interessa aos estudos linguísticos é que toda interação verbal tem como base, acima de tudo, a produção de sentidos. Ou seja, todo falante interage em seu meio social com seus interlocutores porque pretende construir e reconstruir significados acerca de si mesmo, de seu meio, enfim, de seu contexto histórico e cultural. Por essa razão, o contexto escolar aparece como um ambiente propício para a construção e a reconstrução de significados via interação verbal: Comunicação aqui entendida como um processo de construção de significados em que o sujeito interage socialmente, usando a língua como instrumento que o define como pessoa entre pessoas. A língua compreendida como linguagem que constrói e “desconstrói” significados sociais (BRASIL, 2000, p. 17). A observação feita aqui remete ao conceito de aprendizagem significativa, distante de um modelo escolar convencional, voltado para a memorização de regras e normas no que se refere, por exemplo, ao ensino de línguas. 8.9 O aluno como sujeito ativo de sua aprendizagem A perspectiva adotada pelos PCN pressupõe também uma mudança de postura por parte dos alunos. Isso significa ter alunos socialmente ativos, engajados em seu processo de aprendizagem e que se habilitem a desenvolver uma expressão consciente, além de uma consciência crítica para, em última instância, exercer sua cidadania plenamente. Neste caso, o aluno deixaria de ser um mero espectador ou reprodutor de saberes discutíveis. Apropriando‑se do discurso, verificaria a coerência de sua posição. Dessa forma, além de compreender o discurso do outro, ele teria a possibilidade de divulgar suas ideias com objetividade e fluência (BRASIL, 2000, p. 9). Deve‑se ter em mente que aquilo que o aluno aprende na escola precisa ter um significado e uma relevância fora dela, isto é, nos diversos contextos sociais dos quais ele participa. Um exemplo é o ensino de classes gramaticais descontextualizadas. Se este for realizado adequadamente, tornará verdadeira a assertiva de que a linguagem é um instrumentocapaz de permitir que os alunos desenvolvam sua capacidade de refletir sobre sua realidade, a fim de transformá‑la. Tendo em vista a relação estabelecida entre pensamento, linguagem e meio social, as práticas pedagógicas devem levar em conta que a linguagem é um meio que o aluno tem para refletir sobre sua realidade, em vez de aceitar ou reproduzir passivamente ideologias socialmente impostas, que muitas vezes não correspondem a suas aspirações: “[...] as atividades escolares podem desencadear atitudes 82 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 reflexivas responsáveis pela contínua elaboração das organizações conceituais, num processo sempre dinâmico e em construção” (BRASIL, s/d, p. 37). É evidente que as relações sociais estabelecidas a partir do contexto escolar pressupõem o engajamento em interações verbais cujo objetivo é a comunicação, que, como visto, tem um compromisso com a produção de sentidos, a qual, por sua vez, pode reconstruir e/ou transformar realidades. Por essa razão, os PCN acolhem a ideia de ensino da língua portuguesa a partir da própria natureza da língua/ linguagem, com toda a sua complexidade: A língua situada no emaranhado das relações humanas, nas quais o aluno está presente e mergulhado. Não a língua divorciada do contexto social vivido. Sendo ela dialógica por princípio, não há como separá‑la de sua própria natureza, mesmo em situação escolar (BRASIL, 2000, p. 17). Isso significa que o ensino de língua não deve se restringir ao ensino de gramática normativa, mas considerá‑la como uma parte integrante dos fatos linguísticos. 8.10 A noção de erro na perspectiva linguística e da gramática Os estudos linguísticos certamente trouxeram uma nova perspectiva científica de investigação da linguagem que não descarta o conhecimento gramatical, mas, ao mesmo tempo, não se limita a ele. Um dos legados do estruturalismo foi demonstrar que a gramática é insuficiente para explicar a complexidade do fenômeno linguístico, visto que, a partir da perspectiva estruturalista, a linguagem ganhou a possibilidade de ser vista como objeto de descrição, contrariando a longa tradição da gramática normativa. Tal perspectiva facilitou, por exemplo, o desenvolvimento de estudos voltados para a investigação das variedades não padrão da língua: Observação “No início do século XX, a afirmação de Saussure de que a língua é fundamentalmente um instrumento de comunicação constituiu uma das rupturas principais da linguística saussuriana em relação às concepções anteriores dos comparatistas e das gramáticas gerais do século XIX” (BARROS, 2002, p. 25). A partir da perspectiva estruturalista, aquilo que a gramática normativa considerava “errado” passou a ser encarado como uma variedade não padrão. Assim, aquilo que era tido como “erro” foi identificado como uma estrutura “diferente”, e não “deficiente”, mas, sobretudo, possível de ocorrer do ponto de vista linguístico e, portanto, parte da língua. 83 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA Uma crítica feita por Lyons (1982) à gramática tradicional refere‑se à dificuldade para dar conta de todos os fenômenos da língua, pois apresentou um tratamento apenas parcial e altamente impreciso da gramaticalidade. Conseguiu estabelecer muitos dos princípios mais específicos com que os linguistas ainda operam e [...] pode codificar um grande número de construções gramaticais diversas, notando um número ainda maior de fatos marginais que, embora sancionados pelo uso e assim chegando de certa forma a uma determinada gramaticalidade, ficaram fora do escopo das regras do sistema linguístico como tal (LYONS, 1982, p. 80). O enfoque trazido pelos estudos da linguagem tem sido fundamental para explicar a diversidade inerente ao fenômeno linguístico, bem como a gramaticalidade presente em variedades não padrão da língua. Observação “Sugerindo que nos falares sem prestígio social há regularidades a explicar, o estruturalismo fez que ganhassem dignidade plena, enquanto objetos de estudo, muitos aspectos da realidade linguística brasileira que até então haviam recebido uma importância menor por parte dos estudiosos da linguagem: aí se incluem as línguas indígenas, as línguas e os dialetos trazidos pelos africanos e pelos europeus e as inúmeras variedades regionais do português” (ILARI, 2005, p. 87). É interessante pontuar que isso se deu numa fase em que a escola passou a receber um número cada vez maior de alunos que não usavam a variedade prestigiada do português brasileiro. O que a teoria linguística mostra é que o uso de variedades não padrão não tem nada a ver com limitações intelectuais, mas é, na verdade, uma questão de história social do aluno (ILARI, 2005, p. 89‑90). 8.11 A falsa premissa da deficiência linguística O conhecimento trazido pelos estudos linguísticos permitiu desmistificar várias crenças em relação à linguagem. Dentre essas crenças está o argumento de que os alunos provenientes de uma classe social que normalmente não utiliza a norma culta apresentam alguma espécie de “deficiência” linguística, o que não é confirmado pelos estudos linguísticos. Trata‑se de uma postura que se baseia exclusivamente em uma comparação feita a partir da norma culta, que não chega a dar conta do fenômeno linguístico de modo geral, mas apenas de uma parte dele, que diz respeito às regras de uso da língua padrão. O fato é que os alunos que chegam à escola com uma variedade chamada não padrão estão sujeitos a enfrentar vários problemas, além da discriminação – voluntária ou não – por parte de membros da classe dita “mais instruída”, na qual incluem‑se também os professores, que podem julgá‑los “menos inteligentes” a partir de uma premissa falsa da existência de uma língua “correta” e outra “errada”. 84 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 Lyons (1982, p. 215) lembra que o próprio material didático pode ser responsável pela dificuldade do aluno por conter vocabulário e estrutura gramatical voltados para o falante que domina a norma culta – no caso, alunos que já estão habituados a utilizar essa variedade em contexto familiar. Nota‑se, pois, o caráter limitador imposto por um estudo da língua com bases estritamente normativas. Nesse sentido, a formação e a consciência do professor para a problemática relativa à natureza da variedade presente na linguagem são essenciais para que essa situação seja contornada no contexto escolar, a fim de que se promova a inclusão social dos alunos em geral. Caso contrário, a escola estará fadada a ser uma mera reprodutora do chamado preconceito linguístico, conforme aborda a apostila de linguística geral, o que não contribui para o desempenho do papel social para o qual está oficial e legalmente designada e constituída. Sabe‑se, no entanto, que a diversidade linguística é uma questão complexa. Lyons (1982, p. 208) acredita que a pesquisa sociolinguística possa fornecer informações relevantes aos governos, a fim de auxiliar no desenvolvimento de políticas que venham a minimizar ideias errôneas que são disseminadas sobre a natureza da linguagem. Por essa razão, nos Parâmetros Curriculares Nacionais essa preocupação é pontuada em relação ao ensino de língua portuguesa: “o conhecimento de alguns conceitos de sociolinguística é essencial para que nossos alunos não criem ou alimentem preconceitos em relação aos falares diversos que compõem o espectro do português utilizado no Brasil” (BRASIL, s/d, p. 27). Partindo desse pressuposto, surge a ideia de que a norma padrão seja abordada como variante linguística, e não como modeloúnico a ser seguido, como aconteceria em práticas pedagógicas tradicionais. Isso evita que determinada variação linguística seja classificada como “inferior” no próprio contexto escolar e social do aluno: Pais e professores tentam frequentemente eliminar o que consideram como marcas de status social inferior ou como regionalismos. Mesmo se não são bem‑sucedidos, eles terão desempenhado a sua função no perpetuamento da crença geral na comunidade linguística de que a pronúncia tal é indicadora de inferioridade social ou de educação, e isto tem como efeito aumentar a sensibilidade da maioria das pessoas em relação ao assunto (LYONS, 1982, p. 203). Na realidade, o conhecimento revelado pelos estudos linguísticos de que, independentemente de variações, os falantes de dada língua servem‑se de um mesmo sistema linguístico, pela mesma capacidade humana, com o objetivo de interagir em seu meio social, pode contribuir muito para minimizar distâncias socialmente impostas. No que concerne ao processo de ensino‑aprendizagem, tal conhecimento pode servir para: • transcender a ênfase dada ao domínio exclusivo da gramática e de suas regras, como único saber linguístico a ser aprendido; 85 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA • situar os alunos como participantes de uma mesma sociedade, caracterizada pela diversidade em vários níveis, inclusive no nível linguístico, mas que se aproxima pelo caráter humano e social da linguagem. 8.12 Conhecimento prévio do aluno e reflexão O conhecimento linguístico que todo aluno traz para a sala de aula é um instrumento que pode se tornar o ponto de partida das práticas pedagógicas. Ao interagir com seus alunos, cabe ao professor considerar o que eles precisam aprender em relação aos vários papéis sociais que podem vir a desempenhar, conforme indicam os PCN: O caráter sociointeracionista da linguagem verbal aponta para uma opção metodológica de verificação do saber linguístico do al♣uno, como ponto de partida para a decisão daquilo que será desenvolvido, tendo como referência o valor da linguagem nas diferentes esferas sociais (BRASIL, s/d, p. 18). Em relação ao conhecimento linguístico prévio dos alunos, devem‑se mencionar as contribuições do linguista brasileiro Joaquim Mattoso Câmara Jr. Em um estudo sobre as variedades não padrão do português brasileiro, Câmara Jr. demonstrou que “erros escolares”, apontados pelos professores de ensino médio em redações e em outros exercícios, nada mais são do que a manifestação da língua que os alunos efetivamente conhecem, a língua real, nem sempre igual às representações construídas pelos gramáticos (ILARI, 2005, p. 88). Lembrete O conhecimento linguístico que os alunos trazem para a sala de aula pode servir para que o professor planeje sua prática pedagógica. Evidentemente que a natureza dinâmica da linguagem e suas aplicações em variadas situações de uso passa a fazer parte das discussões sobre a linguagem feitas em sala de aula, partindo do próprio conhecimento prévio dos alunos. A mudança de perspectiva que prevê a aprendizagem pautada em aspectos que vislumbrem a linguagem inserida socialmente em suas várias possibilidades de expressão requer, portanto, a participação ativa do aluno em seu processo de aprendizagem. O desenvolvimento de uma consciência crítica, segundo os PCN, inclui a reflexão sobre os fenômenos linguísticos em suas várias manifestações e em seus diversos aspectos. Dentre as habilidades a serem desenvolvidas pelo aluno inclui‑se: “compreender que o aceitável na linguagem coloquial pode ser considerado um desvio na linguagem padrão ou norma culta” (BRASIL, s/d, p. 60). Para tanto, no que diz respeito ao ensino da gramática, os PCN sugerem que se trate a questão de acordo com aquilo que pode ser analisado como “adequado” ou “inadequado”, no lugar da antiga concepção de “certo” ou “errado” em produção linguística. Esse enfoque, além de 86 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 representar uma concepção mais próxima da realidade que envolve os fenômenos linguísticos e trazer a relação entre linguagem e práticas sociais para o debate em sala de aula, permite uma reflexão sobre os diversos papéis desempenhados socialmente pelos falantes de uma língua e sua relação com a linguagem. Quadro 16 – Primeira competência específica prevista como objetivo do ensino de gramática, segundo os PCN+ para o ensino médio Unidade temática Competência específica Gramática; linguística; gramaticalidade. Distinguir gramática descritiva e normativa, a partir da adequação ou não a situações de uso. Fonte: BRASIL (s/d, p. 57). Não basta que a linguagem seja classificada como “formal” ou “informal”, pois o que existem, de fato, são graus de formalidade ou informalidade, dos quais o aluno deve se conscientizar e os quais estar apto a produzir. Isso porque a gama de situações que se apresentam no ambiente social requer que ele desempenhe variados papéis sociais, que, por sua vez, implicam o uso de linguagens diversas. Logo, o aluno deve estar apto a “abordar os diversos graus de formalidade das situações de interação” (BRASIL, s/d, p. 57). A conscientização sobre a linguagem passa também pela percepção das diferenças existentes entre língua escrita e fala, em situações formais e informais. O desenvolvimento da expressão oral em diversas situações e para as mais variadas finalidades integra as habilidades a serem desenvolvidas pelo aluno para que ele possa “compreender as especificidades das modalidades oral e escrita da língua” (BRASIL, s/d, p. 57). Considerar as especificidades presentes na oralidade, comparar e contrastar a língua oral e a escrita servem para ampliar a consciência do aluno sobre a abrangência do fenômeno linguístico, além de permitir que ele reflita a respeito de sua própria produção oral e escrita a fim de aprimorá‑la: Quadro 17 ‑ Segunda competência específica prevista como objetivo do ensino de gramática, segundo os PCN+ para o ensino médio Unidade temática Competência específica Gramática normativa; erro. Considerar as diferenças entre língua oral e escrita. Fonte: BRASIL (s/d, p. 57). A habilidade de refletir sobre o papel da gramática normativa como parte integrante da língua, e não como um fenômeno externo, isolado do todo, também está entre as competências a serem desenvolvidas, pois é imprescindível que os alunos aprendam a usar a norma culta com propriedade, o que permite maior inserção social: 87 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA Quadro 18 ‑ Terceira competência específica prevista como objetivo do ensino de gramática, segundo os PCN+ para o ensino médio Unidade temática Competência específica Gramática normativa; ciência versus achismo. Conceber a gramática como uma disciplina viva, em revisão e elaboração constante. Fonte: BRASIL (s/d, p. 57). O quadro a seguir apresenta um resumo das competências gerais a serem desenvolvidas em relação ao ensino de língua portuguesa, especificamente no tocante ao ensino de gramática: Quadro 19 – Competências gerais previstas como objetivo do ensino de gramática da língua portuguesa para o ensino médio Ensino de gramática: competências gerais Representação e comunicação Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade. Investigação e compreensão Articular as redes de diferenças e semelhanças entre a língua oral e escrita e seus códigos sociais, contextuais e linguísticos. Contextualização socioculturalConsiderar a língua portuguesa como fonte de legitimação de acordos e condutas sociais e como representação simbólica de experiências humanas, manifestas nas formas de sentir, pensar e agir na vida social. Fonte: BRASIL (s/d). Pelo aqui exposto, é possível ter‑se uma pequena amostra de como os conhecimentos linguísticos, provenientes dos estudos científicos da linguagem, têm influenciado e direcionado as práticas pedagógicas voltadas para o processo de ensino‑aprendizagem de línguas. Por isso foram registrados para serem objeto de estudo também dos futuros profissionais licenciados em letras. Para um aprofundamento dos conhecimentos apresentados, sugere‑se uma consulta às referências. Resumo Nesta Unidade, vimos as áreas de sintaxe e de semântica nos estudos da língua. A primeira diz respeito à descrição de como a combinação dos elementos no eixo sintagmático produz significados, ao passo que a segunda está relacionado ao estudo do significado das palavras. Vimos, também, que os pressupostos de Chomsky contribuíram para o estudo da sintaxe, sobretudo a noção de competência, isto é, de que todo 88 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 indivíduo é capaz de reconhecer uma estrutura profunda na organização das palavras. A teoria de Chomsky influenciou os chamados gerativistas, conhecidos pelo sistema arbóreo para representar as estruturas linguísticas. Todo falante, escolarizado ou não, reconhece a estrutura de sua língua, identificando uma sentença gramatical de uma sentença agramatical, por exemplo, “Professora a surpreendeu aluno o”. Do ponto de vista semântico, retomou‑se a noção de signo de Saussure, que é o elemento composto de significante (a imagem acústica) e de significado (o conceito). Tem‑se uma semântica intensional (na tensão do signo) que dá conta, por exemplo, do léxico, e há uma semântica extensional (na extensão do signo) que busca a construção dos sentidos a partir de elementos contextuais. É preciso lembrar, ainda, que há uma visão estruturalista e outra pragmática nos estudos da semântica, e que tanto as pesquisas quanto o ensino da língua diferenciam‑se de acordo com essas diferentes visões. Exercícios Questão 1. Com base no conhecimento semântico, leia o texto e analise as assertivas: Figura 17 I ‑ O conhecimento linguístico está coerente com a situação da brincadeira de “faz de conta” da personagem. II ‑ A personagem Calvin adapta a situação real familiar à realidade de funcionamento de um computador. 89 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA III ‑ Não há nenhuma relação entre a brincadeira imaginária da personagem com uma caixa de papelão e a linguagem utilizada nas falas, pois a mãe descobre a tentativa de “enrolação” do filho. IV ‑ A materialidade linguística construída no texto (linguagem técnica fora da situação normal), principalmente na fala do menino, produz o efeito de humor da tirinha. Considerando palavras como “sistema”, “delete” e “reinicializou”, qual a alternativa correta? A) Todas as afirmativas estão corretas. B) As afirmativas I, II e III estão corretas. C) As afirmativas I, III e IV estão corretas. D) As afirmativas I, II e IV estão corretas. E) Apenas as afirmativas I e IV estão corretas Resposta correta: alternativa D. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: termos como “erro de sistema”, “delete” e “reinicializou” demonstram o conhecimento linguístico de Calvin acerca do universo da computação, tornando coerente a brincadeira do faz de conta. II – Afirmativa correta. Justificativa: Calvin utiliza uma caixa de papelão como computador e interage com a mãe, que, por sua vez, não “embarca” na brincadeira do filho, assumindo a função materna e cobrando‑lhe suas tarefas. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: há uma relação entre a brincadeira e a linguagem utilizada por Calvin. Palavras como “erro de sistema”, “delete” e “reinicializou” fazem parte do universo semântico da computação. IV – Afirmativa correta. Justificativa: os termos técnicos “erro de sistema”, “delete” e “reinicializou”, comumente aplicados à computação, criam, fora do seu contexto de uso, o humor da tirinha. 90 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 Questão 2. Observe o anúncio publicitário e analise as afirmativas a seguir. Figura 18 I ‑ Todo texto tem um caráter histórico no tocante a revelar os ideais e as concepções de um grupo social numa determinada época. II – No anúncio há oposição ao discurso de preservação da boa forma física por meio de exercícios físicos e alimentação saudável: o convite à alimentação prazerosa de uma guloseima, a rosquinha Dunkin’ Donuts. III – A incoerência semântica é dada pelo uso da linguagem não verbal, icônica (a foto da rosquinha). IV – Concepções contrárias não se articulam sobre o mesmo assunto no texto. Indique a alternativa correta: A) É verdadeiro o que se afirma somente em I. B) É verdadeiro o que se afirma somente em II. C) É verdadeiro o que se afirma em III e IV. D) É verdadeiro o que se afirma em I e II. E) Todas as afirmativas são verdadeiras. Resolução desta questão na Plataforma. 91 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 /0 5/ 20 12 LINGUÍSTICA FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 2 INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). 2006: Formação geral. Questão 3, p. 3, nov. 2006. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/web/guest/provas‑e‑gabaritos‑2006>. Acesso em: 23. abr. 2012. Originalmente publicada no Jornal do Brasil, 3 ago. 2005. Figura 3 SILVEIRA, R. C. P. Uma pronúncia do português brasileiro. São Paulo: Cortez, 2008. p. 66. Figura 4 LEITE, Y.; CALLOU, D. Iniciação à fonética e à fonologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. p. 21. Figura 5 SILVA, T. C. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 6. ed. rev. São Paulo: Contexto, 2002. p. 41. Figura 6 MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Org.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. v. 1. p. 128. Figura 7 SILVA, T. C. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 6. ed. rev. São Paulo: Contexto, 2002. p. 41. Figura 8 MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Org.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. v. 1. p. 136. Figura 17 WATTERSON, B. Felino selvagem, psicopata homicida. São Paulo: Best News, 1996. p. 55. v. 2. Figura 18 Disponível em <http://blog.estadao.com.br/blog/index.php?blog=1&m=200811> Acesso em: 29 maio 2012. 92 REFERÊNCIAS Textuais ALKMIM, T. M. Sociolinguística. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Org.). Introdução à linguística. São Paulo: Cortez, 2001. Parte I. 2 v. ÂNGELO, I. Cariocas e paulistanos. Originalmente publicada em Veja São Paulo, São Paulo, ago. 1999. Republicada em coletânea comemorativa aos 450 anos da cidade. Disponível em: <http://veja.abril. com.br/idade/exclusivo/vejasp/450_anos/index.html>. Acesso em: 18 abr. 2012. BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 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