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Saul José Semião-Santos – Prof.Titular Curso de Enfermagem da UNIT - saulix@gmail.com CASO Nº 61 EXTINÇÃO DELIBERADA? (DISCUSSÃO SEM CONHECIMENTOS ÉTICOS) Analise isolado sozinho(a) e sem consultar absolutamente ninguém, este caso. Depois de ler atentamente o texto – tome uma decisão! Etapa 1 Ao longo da História, a humanidade causou a extinção de numerosas espécies e sistemas ecológicos. Estes episódios de extinção resultaram direta ou indiretamente de atividades humanas, e a frequência de extinções ocorre hoje numa taxa alarmante. A maior parte das extinções é provavelmente uma consequência inadvertida de algum impato antropogénico na natureza, mas algumas delas poderiam ter sido previstas. Durante séculos, o vírus da varíola foi um dos piores flagelos da humanidade. Matou mais pessoas em todo o mundo que qualquer outra doença infeciosa, particularmente em populações não imunes, como os nativos das Américas. A campanha da Organização Mundial de Saúde (OMS) contra a varíola, lançada em 1967, foi altamente eficaz, e resultou na declaração formal de erradicação da doença em 1979. A OMS considera a destruição dos dois estoques remanescentes de vírus da varíola, localizados em dois laboratórios de alta segurança, nos Estados Unidos e na Rússia. Embora possa haver razões imperiosas para fazê-lo, a erradicação deliberada de todo um sistema ou espécie biológica da face da Terra nunca foi proposta antes, e coloca um dilema ético: teremos o direito de, deliberada e diretamente, causar a extinção de um ecossistema, de uma comunidade ou de uma espécie? Se sim, em que circunstâncias? E se não, por quê? Anote aqui a sua resposta definitiva: Saul José Semião-Santos – Prof. Curso de Enfermagem da UNIT - saulix@gmail.com Agora, junte as suas folhas e anotações e reúna-se com mais quatro colegas (ou seja, grupos de 5). E, leiam em grupo, o texto que se segue. Etapa 2 O Dr. Albert Jardim é diretor de um laboratório de pesquisa em doenças infeto- contagiosas. O Dr. Jardim está ciente de que a argumentação da OMS para eliminar o vírus se baseia nas seguintes razões: (1) o risco de liberação e contaminação acidental; (2) o risco de que o vírus possa vir a ser usado para guerra biológica; (3) a sua atual irrelevância para fins científicos; (4) o simbolismo da total erradicação de uma entidade tão maléfica. Ignorado por todos os demais, ele sabe que há uma amostra do vírus conservada no seu laboratório. No entanto, o Dr. Jardim sabe que (1) o risco de infeção acidental a partir do seu laboratório é virtualmente nulo; (2) o risco de uso militar ou terrorista não faz sentido face à existência de agentes de guerra biológica muito mais eficazes e acessíveis em todo o mundo; (3) a destruição não assegurará só por si que a doença não possa eventualmente ressurgir a partir de amostras desconhecidas (e.g. cadáveres preservados em regiões geladas, ou outras amostras não referenciadas como a sua); (4) e, além disso, novo conhecimento virológico relevante só pode ser obtido a partir de vírus intatos. O Dr. Jardim tem a convicção de que cada entidade biológica deste planeta é o resultado único e irreprodutível de uma longa história evolutiva, o que a torna uma preciosa e insubstituível entidade de complexidade e organização. Está consciente de que parte da comunidade científica partilha do seu ponto de vista. O Dr. Jardim conclui que o seu estoque de vírus da varíola não deve ser destruído, e decide consultar os seus quatro únicos colaboradores que também têm acesso potencial aos estoques de vírus. Se obtiver o acordo maioritário dos seus colegas, o seu laboratório manterá o vírus da varíola em segredo. Tentem analisar a posição do Dr.Jardim. Não interessa se a posição anteriormente tomada for contrária à agora assumida. Tentem dar um veredicto unânime. Se não, o maioritário., Se fossem donos do laboratório, mantinham ou não o vírus em segredo? Se não, porquê ? Se sim, porquê ? Caso de estudo produzido no “National Bioethics Institute” (Oregon State University, 8/98)
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