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ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos 3) Teoria dos Potenciais Introdução Potenciais são funções do espaço e do tempo associadas aos campos eletromagnéticos. A utilização dos potenciais na teoria eletromagnética se deve ao fato de, na maioria das situações, ser mais simples calcular potencial do que campo. Alem disso, os potenciais têm uma relação muito estreita com a energia armazenada nos campos eletromagnéticos e isso lhes confere uma importância destacada na análise física de sistemas reais. O potencial elétrico, por exemplo, é uma grandeza fundamental na descrição de circuitos elétricos. Trata-se de uma grandeza escalar, e por isso de fácil manipulação algébrica. Já o potencial vetorial desempenha papel fundamental na descrição de campos alternados e ondas eletromagnéticas geradas por fontes variáveis no tempo. Apresentaremos inicialmente os conceitos e métodos para os potenciais de fontes estáticas e logo a seguir as extensões para as fontes variáveis no tempo. Esta última descrição é mais abrangente, porém, consideravelmente mais complexa. Por isso, neste capítulo, ela será tratada apenas como uma introdução a um tema que será melhor desenvolvido em capítulos posteriores. Potencial Elétrico Estático Na parte da teoria eletromagnética denominada de eletrostática e magnetostática, as distribuições de carga e corrente não dependem do tempo, ou variam muito lentamente, de modo que a aproximação para campos estáticos é considerada válida. No caso de uma distribuição estática de carga, concluímos no Capítulo 2 que o rotacional do campo elétrico é nulo e que esse fato nos permite associar à 102 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos distribuição de carga uma função escalar da posição no espaço, chamada de potencial elétrico, de tal modo que o campo elétrico seja calculado como o gradiente dessa função. (3.1) )r()r(e rrr ϕ−∇= Como vimos no exemplo 2.7, existe um significado físico muito importante no potencial elétrico. Para entendê-lo melhor neste ponto, podemos realizar a seguinte análise. Suponha que estamos deslocando uma carga de prova (carga pontual de pequeno valor) com velocidade constante entre duas posições do espaço sob a influência do campo elétrico produzido por uma dada distribuição de carga. Em virtude da força elétrica aplicada na carga de prova, a fim de manter sua velocidade constante, será necessário exercer uma força externa sobre ela, de modo que em cada posição ocupada pela carga, a força resultante seja nula. Portanto, o trabalho realizado por essa força externa em um deslocamento incremental é: rd r (3.2) rdeqrdf rrrr ⋅−=⋅ Assim, o trabalho total realizado no deslocamento entre as posições 1r r e 2r r é dado pela seguinte integral: (3.3) ∫∫∫ ⋅ϕ∇=⋅−=⋅=Δ 2 1 2 1 2 1 r r r r r r rdqrdeqrdfW r r r r r r rrrrr Mas, de acordo com a definição de gradiente de uma função escalar, o último integrando em (3.3) pode ser escrito na forma ϕ=⋅ϕ∇ drdr . Então, o trabalho realizado pode ser calculado por: (3.4) ( ) ( )[ ]12 rrqW rr ϕ−ϕ=Δ o que nos leva a conclusão de que a diferença de potencial elétrico entre dois pontos do espaço é igual ao trabalho necessário que um agente externo deve realizar para movimentar uma carga unitária do ponto inicial ao final com velocidade constante. Obviamente a exigência de velocidade constante implica em que não haja variação de energia cinética da carga e, por isso, todo o trabalho realizado deve estar armazenado no sistema carga-campo. Potencial elétrico é 103 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos medido em Volts (V) no Sistema Internacional de unidades, o que corresponde a Joule / Coulomb. Definindo arbitrariamente que o potencial elétrico produzido por uma distribuição localizada de cargas se anula no infinito, podemos obter uma expressão geral para o potencial elétrico em qualquer posição finita do espaço na forma: (3.5) ∫ ∞ ⋅=ϕ r rde)r( rrr Para uma carga pontual na origem do sistema de coordenadas, por exemplo, podemos seguir uma trajetória radial para a integral de linha em (3.5) e obter o potencial elétrico na forma: (3.6) r4 qrd r r 4 q)r( or 3o πε =⋅πε=ϕ ∫ ∞ rrr Para uma distribuição de cargas descrita por uma densidade de cargas )r(v ′ρ r , podemos generalizar o resultado anterior somando a contribuição de cada elemento de carga vd)r(dq v ′′ρ= r para obter: (3.7) ∫∫∫ ′ ′− ′ρ πε=ϕ Vo dV rr )r( 4 1)r( rr rr Para distribuições superficiais ou lineares de carga, podemos reescrever (3.7) de maneira conveniente nas respectivas formas: (3.8) ∫∫ ′ ′− ′σ πε=ϕ So dS rr )r( 4 1)r( rr rr (3.9) ∫ ′ ′− ′λ πε=ϕ Lo dL rr )r( 4 1)r( rr rr Exemplo 3.1 – Potencial elétrico para uma distribuição retilínea de carga com densidade uniforme e comprimento L. Usando o sistema cilíndrico com eixo z coincidindo com a direção da linha de cargas e com a origem posicionada no ponto médio dessa linha, temos: (Ex.1) zddL ′= 104 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos (Ex.2) 22 )zz(srr ′−+=′− rr (Ex.3) 2L 2L 22o 2L 2L 22o )zz(s)zz( sln 4)zz(s zd 4 + − + − ⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ ⎟⎟ ⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎜ ⎝ ⎛ ′−++′− =∫ ′−+ ′= πε λ πε λϕ (Ex.4) ⎟⎟ ⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎜ ⎝ ⎛ −++− ++++= 22 22 o )2Lz(s)2Lz( )2Lz(s)2Lz( ln 4πε λϕ Podemos calcular o campo elétrico usando (3.1): (Ex.5) ⎥⎥⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ ++ − −+ =∂ ∂−= 2222o z )2Lz(s 1 )2Lz(s 1 4z e πε λϕ (Ex.6) ⋅=∂ ∂−= o s 4 s s e πε λϕ ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −+−+−+⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ++++++ ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −++−−−⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ +++++ 22222222 2222 )2Lz(s)2Lz()2Lz(s)2Lz(s)2Lz()2Lz(s )2Lz(s)2Lz()2Lz()2Lz(s)2Lz()2Lz( Estas expressões se simplificam consideravelmente para um fio longo e posições longe das extremidades, de tal modo que 2Lz << . Nesse caso, temos: (Ex.7) 0ez = (Ex.8) ( )22os 2Ls L s4 e + ⋅= πε λ Além disso, para pontos bem próximos do fio, tal que 2Ls << , obtemos: (Ex.9) s2 e o s πε λ= Este foi exatamente o resultado obtido no Capítulo 1 e capítulo 2 usando respectivamente a lei de Coulomb e a lei de Gauss para um fio infinito. O importante caso de dois fios paralelos carregados com cargas opostas é representado na Figura 3.1. Para a geometria indicada nessa figura, podemos estender o resultado (Ex.4) para obter: 105 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos (Ex.10) ⎟⎟ ⎟⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎜⎜ ⎝ ⎛ ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ++++ ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −++− ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −++− ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ++++ = 22 2 22 2 22 1 22 1 o )2Lz(s)2Lz( )2Lz(s)2Lz( )2Lz(s)2Lz( )2Lz(s)2Lz( ln 4πε λϕ A Figura 3.2 mostra uma família de linhas equipotenciais no plano transversal dos fios para 2Lz << . λ+ λ− 1s r 2s r 2 L 2 L λ+ λ− 1s r 2s r 2 L 2 L Figura 3.1 – Linha de fios paralelos carregados com cargas opostas. O método das Imagens Sistemas constituídos por distribuições de carga próximas a superfícies de contorno com potenciais fixos não podem ser analisados, em geral, por meio da abordagem mostrada acima, uma vez que não podemos obter corretamente as distribuições de carga nessas superfícies sem conhecer o campo elétrico superficial. Consideremos o sistema mostrado na Figura 3.3a, onde uma carga pontual está localizada próximaa uma superfície condutora de potencial nulo. Embora o potencial em qualquer lugar da superfície seja independente da posição da carga pontual, o mesmo não ocorre com a carga distribuída na superfície. Quanto mais próxima a carga pontual estiver, maior é a densidade de carga na área da superfície correspondente à posição da carga pontual. Uma vez que o potencial é constante na superfície, o campo elétrico superficial é perpendicular 106 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos em qualquer posição (ver Apêndice 3.5) e todo o fluxo elétrico produzido pela carga pontual “penetra” na superfície como se existisse uma carga pontual de sinal contrário localizada na posição exatamente simétrica à carga original. Esta carga pontual fictícia é denominada de carga imagem e podemos obter o potencial elétrico em qualquer posição do espaço acima do plano considerando a soma dos potenciais da carga original com sua carga imagem. Segundo o esquema mostrado na Figura 3.3b e usando a equação (3.6), o potencial para é dado por: 0z > (3.10) ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −πε=ϕ 21o r 1 r 1 4 q -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 0 -0.5 -1 -1.5 -2.0 -2.5 0.5 1 1.5 2.0 2.5 2 ( cm ) ( cm ) 2 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 0 -0.5 -1 -1.5 -2.0 -2.5 0.5 1 1.5 2.0 2.5 2 ( cm ) ( cm ) 2 Figura 3.2 – Equipotenciais no plano transversal de dois fios paralelos de comprimento infinito, carregados uniformemente. O valor indicado nas linhas é o potencial normalizado para o4πελ . Entre linhas consecutivas, a diferença de potencial é de 0.5. 107 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos 0=ϕ +q 0=ϕσ +q -q z z z) 1r r 2r r θ ( carga imagem ) 0 ( a ) ( b ) 0=ϕ +q 0=ϕσ +q -q z z z) 1r r 2r r θ ( carga imagem ) 0 ( a ) ( b ) Figura 3.3 – Uma carga pontual acima de um plano condutor aterrado. (a) a carga induzida no plano é indicada pela linha tracejada. (b) A carga imagem representa o efeito da carga distribuída no plano. onde θ−+= coszr4z4rr 12212 . O campo elétrico em qualquer posição do espaço para pode ser calculado como o negativo do gradiente desse potencial: 0z > (3.11) ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −πε=ϕ−∇= 3 2 2 3 1 1 o r r r r 4 qe rrr na superfície do plano aterrado, temos 21 rr = e zcosr2rr 121 )rr θ−=− . Assim, o campo na superfície do plano é dado por: (3.12) z r cos 2 qe 2 1o )r θ πε−= 108 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Como sabemos (exemplo 2.3), a densidade de carga superficial em um condutor é igual ao módulo da indução elétrica na superfície. Assim, a carga distribuída na superfície do plano aterrado é dada por: (3.13) 2 1 o r cos 2 qe θπ−=ε=σ A Figura 3.4 mostra um gráfico tridimensional desta distribuição de carga. Figura 3.4 – Distribuição de carga no plano condutor aterrado para uma partícula com carga q posicionada no centro a uma altura de 1cm. Exemplo 3.2 - A Figura 3.5 ilustra uma outra situação na qual o método das imagens pode ser aplicado. Uma carga pontual próxima a uma superfície esférica condutora aterrada. A carga imagem deve ser posicionada de tal maneira que o potencial total seja nulo em qualquer posição da superfície da esfera. A escolha natural para a posição da carga imagem é algum ponto sobre o eixo que liga a 109 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos carga externa ao centro da esfera. De acordo com os símbolos usados na Figura 3.4, podemos escrever o potencial na superfície da esfera na forma: (Ex.11) ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ′+= 21o r q r q 4 1 πεϕ 0 z´ z r1 r2 a qq´ ϕ=0 0 z´ z r1 r2 a qq´ ϕ=0 Figura 3.5 – Análise do potencial criado pela carga pontual próxima de uma esfera condutora aterrada. onde as distâncias e 1r 2r são dadas por: (Ex.12) θcosaz2zar 221 −+= (Ex.13) θcosza2zar 222 ′−′+= Mas, se o potencial na superfície da esfera é sempre nulo, então devemos ter: (Ex.14) 0 r q r q 21 =′+ → k r r q q 2 1 −=−=′ onde k é uma constante a ser determinada. Podemos determinar o seu valor substituindo (Ex.12) e (Ex.13) em (Ex.14): (Ex.15) 22 22 1 kkr = → θθ coszak2zkakcosaz2za 2222222 ′−′+=−+ 110 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Ignorando o resultado trivial k=1 que não interessa, podemos obter de (Ex.15) as seguintes relações: (Ex.16) zzk,azk,zka 2 =′=′= de onde obtemos: (Ex.17) a zk = e (Ex.18) z az 2 =′ Segundo (Ex.14) a imagem tem carga proporcional à carga externa, sendo dada por: (Ex.19) q z a k qq −=−==′ O potencial elétrico para qualquer ponto fora da esfera, exceto a posição da carga pontual, pode ser calculado pela superposição dos potenciais da carga externa e da carga imagem. Usando os resultados obtidos acima, podemos escrever a seguinte expressão para esse potencial em função da distância r ao centro da esfera: (Ex.20) ⎟⎟ ⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎜ ⎝ ⎛ −+ − −+ = θθπε ϕ coszar2arz a coszr2zr 1 4 q 242222o A Figura 3.6 mostra algumas curvas equipotenciais obtidas de (Ex.20). Exemplo 3.3 – Um condutor cilíndrico longo é posicionado paralelamente a um plano aterrado e está ligado a uma fonte de potencial fixo Vo. A Figura 3.7 mostra este esquema. Vamos calcular o potencial elétrico em todo o espaço acima do plano e em torno do condutor. Se o condutor estivesse isolado, sua carga estaria distribuída uniformemente em sua superfície e a carga imagem correspondente estaria posicionada em seu centro geométrico. Contudo, em virtude da proximidade com o plano aterrado, a carga superficial no cilindro está concentrada na face mais próxima do plano e, como mostra a Figura 3.7, a carga imagem está 111 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos 0 0.1 0.15 0.2 0.3 0.5 0.7 1 2 5 10 ( x a ) ( x a ) 0 1 2 3 4 2 1 0 -1 -2 0 0 0.1 0.15 0.2 0.3 0.5 0.7 1 2 5 10 ( x a ) ( x a ) 0 1 2 3 4 2 1 0 -1 -2 0 Figuras 3.6 – Equipotenciais para o problema da carga pontual próxima da esfera aterrada no plano que contém a carga e o centro da esfera. As distâncias são normalizadas para o raio da esfera. Os potenciais são normalizados para a4 q oπε . deslocada para a posição z1. Definimos esta carga pela densidade linear λ. Existem duas condições de contorno a satisfazer: potencial na superfície do cilindro igual a Vo e potencial nulo no plano aterrado. A fim de satisfazer a segunda, devemos ter uma carga imagem -λ na posição simétrica em relação ao plano. Esta posição medida em relação ao centro geométrico do cilindro é dada por 12 zh2z −= . Para o cálculo do potencial de uma distribuição retilínea e 112 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos uniforme de cargas, vamos utilizar a aproximação para uma linha de cargas de comprimento infinito. Este resultado foi obtido no Capítulo 1 na equação (1.17): (Ex.21) s s2 e o )r πε λ= oV=ϕ 0=ϕ λ λ− h a r 1s 2s 1z 2z + + + _ _ _ _ oV=ϕ 0=ϕ λ λ− ha r 1s 2s 1z 2z + + + _ _ _ _ Figura 3.7 – Esquema geométrico para cálculo do potencial e campo elétrico no problema do condutor cilíndrico sobre um plano condutor aterrado usando o método das imagens. A linha de carga na Figura 3.7 está a uma distância d do plano. Assumindo que o potencial nessa distância é nulo, obtemos o potencial para outra posição qualquer integrando a equação (Ex.21): (Ex.22) ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛−=∫−=∫−=− s dln 2s ds 2 sd.e)s()d( o d so d s πε λ πε λϕϕ rr 113 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Substituindo 0)d( =ϕ , obtemos: (Ex.23) ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛= s dln 2 )s( oπε λϕ Com base neste resultado podemos escrever o potencial em uma posição qualquer acima do plano aterrado na forma: (Ex.24) ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛=⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛−⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛= 1 2 o2o1o 21 s sln 2s dln 2s dln 2 )s,s( πε λ πε λ πε λϕ Onde s1 e s2 são as distâncias em relação às cargas imagens λ e -λ, respectivamente. De acordo com a Figura 3.7, essas distâncias podem ser escritas em relação ao centro geométrico do cilindro na forma: (Ex.25) θcoszr2zrs 12121 −+= (Ex.26) θcoszr2zrs 22222 −+= A equação (Ex.24) mostra que a condição de contorno no plano aterrado é satisfeita, pois para qualquer posição no plano, 21 ss = , e com isso, (Ex.24) resulta em potencial nulo. Na superfície do cilindro o potencial é Vo. Então podemos escrever: (Ex.27) ar1 2 o o s sln 2 V =⎟ ⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛= πε λ Isso nos leva à condição: (Ex.28) K s s ar1 2 =⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ = onde K é uma constante a determinar. Substituindo (Ex.25) e (Ex.26) em (Ex.28), resulta: (Ex.29) θθ coszak2zkakcosza2za 12212222222 −+=−+ de onde obtemos as seguintes relações: (Ex.30) → 21 2 1 2 zzk akz zka = = = a z z ak azz 2 1 2 21 == = 114 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos A fim de determinar o valor de z1 podemos substituir 1 2 2 z az = obtido acima na equação 12 zh2z −= . Fazendo isso, resulta: (Ex.31) 0ahz2z 21 2 1 =+− A solução válida para z1 é: (Ex.32) 221 ahhz −−= Com isso, substituindo nas relações (Ex.30), obtemos também z2 e k: (Ex.33) 22 22 2 2 ahh ahh az −+= −− = (Ex.34) 1 a h a h ahh ak 2 22 −⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛+= −− = A densidade da carga imagem é obtida de (Ex.27) com a substituição de (Ex.28): (Ex.35) ( ) o2 o o o V 1 a h a hln 2 V kln 2 ⎥⎥⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ −⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛+ πε=πε=λ Voltando a expressão (Ex.24) do potencial em uma posição qualquer acima do plano e substituindo a densidade de carga imagem, teremos: (Ex.36) ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ ⎥⎥⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ −⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛+ =ϕ 1 2 2 o 21 s sln 1 a h a hln V )s,s( onde s1 e s2 são dadas em (Ex.25) e (Ex.26). A Figura 3.8 mostra a distribuição de campo elétrico no espaço em torno do condutor cilíndrico para um potencial unitário aplicado. Note que o campo é perpendicular às superfícies do cilindro e do plano aterrado. 115 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 a ( x a ) ( x a ) -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 a ( x a ) ( x a ) Figura 3.8 – Linhas equipotenciais e vetores de campo elétrico no problema do cilindro condutor sobre um plano condutor aterrado. As distâncias estão normalizadas para o raio do cilindro. Equação de Laplace Um dos problemas centrais da eletrostática é o cálculo do potencial elétrico quando a distribuição de cargas não é conhecida a priori, mas o potencial em certas regiões de contorno do espaço é especificado. Como vimos nos exemplos anteriores, o método das imagens é uma abordagem possível para sistemas com geometrias relativamente simples. Um método de aplicação mais geral é baseado na obtenção de soluções para o sistema de equações diferenciais formado pela lei de Gauss e pela equação (3.1). Substituindo o campo elétrico na lei de Gauss pela sua expressão como o gradiente do potencial elétrico, obtemos: (3.10) o 2 ε ρ−=ϕ∇ 116 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos onde o operador Laplaciano é obtido como ( )ϕ∇⋅∇=ϕ∇2 . Esta equação é denominada de equação de Poisson. Na ausência de cargas livres no meio, ou seja, onde a densidade macroscópica de cargas seja nula, obtemos um caso particular de grande importância, denominado de equação de Laplace: (3.11) 02 =ϕ∇ As condições de contorno para a obtenção de soluções particulares para o potencial elétrico em todos os pontos internos de um volume são definidas pelos potenciais nas suas superfícies limítrofes. A forma geométrica dessas superfícies determina, em geral, o sistema de coordenadas mais adequado a ser usado na representação do operador laplaciano. Como (3.11) é uma equação diferencial linear, suas soluções particulares podem ser combinadas linearmente para obter novas soluções, ou seja: se ϕ1, ϕ2, ϕ3, ..., são soluções da equação de Laplace, então, a combinação linear dessas funções na forma: (3.12) n n na ϕ∑=ϕ também é uma solução. Os coeficientes an são constantes. Por outro lado, pode- se demonstrar que uma solução da equação de Laplace que satisfaça as condições de contorno especificadas é única, ou seja, não existe duas soluções diferentes para o mesmo conjunto de condições de contorno. Equação de Laplace em coordenadas retangulares: Em coordenadas retangulares a equação de Laplace é dada por: (3.13) 0 zyx 2 2 2 2 2 2 = ∂ ϕ∂+ ∂ ϕ∂+ ∂ ϕ∂ Uma solução geral em coordenadas retangulares pode ser obtida com o método de separação de variáveis. Supondo que podemos encontrar três funções independentes X(x), Y(y) e Z(z), tal que: (3.14) )z(Z)y(Y)x(X)z,y,x( =ϕ seja uma solução da equação de Laplace, podemos substituir esta expressão em (3.13) para obter: 117 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos (3.15) 0 dz ZdXY dy YdXZ dx XdYZ 2 2 2 2 2 2 =++ Dividindo toda a expressão por XYZ, obtemos: (3.16) 0 dz Zd Z 1 dy Yd Y 1 dx Xd X 1 2 2 2 2 2 2 =++ Como cada termo nesta equação depende apenas de uma coordenada, para que a soma seja nula em qualquer posição do espaço, cada termo deve ser igual a uma constante, isto é, podemos separar (3.16) em três outras equações independentes: (3.17) 2 z2 2 2 y2 2 2 x2 2 k dz Zd Z 1 k dy Yd Y 1 k dx Xd X 1 = = = onde kx, ky e kz são denominadas de constantes de separação e devem satisfazer a seguinte relação: (3.18) 0kkk 2z 2 y 2 x =++ Consideremos a equação na coordenada x e vamos avaliar as possibilidades de solução. Uma solução geral pode ser obtida pelo método habitual, substituindo . Fazendo isso, encontramos que o coeficiente α deve satisfazer a relação . Assim, temos as seguintes possibilidades: x oeXX α= 2 x 2 k=α Se , α é nulo mas a solução geral é: 0k2x = (3.19) bxaX += onde a e b são constantes; Se , α é um número real que admite dois valores: 0k2x > xk±=α . Então, a solução geral é dada por: (3.20) xxk2 xxk1 eXeXX −+= 118 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Se , α é um número imaginário que admite dois valores: , onde 0k2x < xjβ±=α xx k=β . Então,a solução geral é dada por: (3.21) xxj2 xxj1 eXeXX β−β += Esta última equação pode ser reescrita em uma forma mais conveniente usando a equação de Euler: . Fazendo isso, obtemos: φ+φ=φ senjcose j (3.22) ( ) ( ) )x(senXXj)xcos(XXX x21x21 β−+β+= Uma vez que X representa uma grandeza física, esta equação deve fornecer um valor real. Para que isso ocorra, os coeficientes X1 e X2 devem ser números complexos conjugados. Então, (3.22) pode ser escrita na forma: (3.23) )x(senA)xcos(AX x2x1 β+β= onde A1 e A2 são coeficientes reais. Para que (3.18) seja satisfeita, devemos ter um ou dois termos negativos. Digamos que e . Neste caso . As soluções possíveis são: 0k2x < 0k2y < 0kkk 2y2x2z >−−= (3.24) )x(senA)xcos(AX x2x1 β+β= (3.25) )y(senB)ycos(BY y2y1 β+β= (3.26) z2 z 1 eCeCZ α−α += onde xx k=β , yy k=β e 2y2x β+β=α . Exemplo 3.4 – Dois planos condutores infinitos e paralelos em 2 zz o−= e 2 zz o= estão ligados a potenciais fixos e 1V 2V . O potencial entre os planos é independente das coordenadas x e y. Assim, a solução de (3.18) é e a solução da equação de Laplace é: 0kkk 2z 2 y 2 x === (Ex.37) baz +=ϕ 119 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Aplicando as condições de contorno 1o V2 z =⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛−ϕ e 2o V2 z =⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ϕ , obtemos o 12 z )VV(a −= e 2 )VV(b 12 += . Assim, o potencial em todos os pontos entre os planos é dado por: (Ex.38) 2 )VV(z z )VV( 12 o 12 ++−=ϕ O campo elétrico neste espaço é uniforme e perpendicular aos planos: (Ex.39) ( )z z VVe o 12 )r −−=ϕ−∇= Exemplo 3.5 – Na Figura 3.9 os planos 0x = e ax = estão no potencial nulo e o plano está no potencial . Uma vez que o volume se estende a infinito na direção z, o termo exponencial crescente em (3.26) deve ser eliminado pela escolha de . Os planos são infinitos na direção y, por isso o potencial não varia nessa direção e . Assim, a solução geral para o potencial assume a forma: 0z = oV 0C1 = 0y =β (EX.40) [ ] zx2x1 e)x(senA)xcos(A α−β+β=ϕ onde xβ=α . As condições de contorno restantes são: 0)0z,0x( =≥=ϕ , e 0)0z,ax( =≥=ϕ oV)0z,ax0( ==≤≤ϕ . Para que o potencial se anule no plano x=0, o coeficiente A1 deve ser nulo. Por outro lado, para que o potencial se anule no plano x=a, devemos ter: (Ex.41) 0)a(sen x =β → a n x π=β onde ‘n’ é qualquer número inteiro. Esta equação mostra que existem infinitas soluções particulares que satisfazem as condições de contorno nos planos x=0 e x=a. Uma solução geral, então, pode ser obtida pela superposição dessas soluções particulares na forma (3.12): (Ex.42) ∑ π=ϕ π− n a zn n e)xa n(sena 120 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos x z a 0 oV=ϕ 0=ϕ 0=ϕ x z a 0 oV=ϕ 0=ϕ 0=ϕ Figura 3.9 – Cálculo do potencial no espaço entre três planos condutores. Os planos são infinitos na direção y. Não há contato entre o plano z=0 e os planos x=0 e x=a. A fim de satisfazer a última condição de contorno, devemos ter: (Ex.43) ∑ π= n no )xa n(senaV Para obter os coeficientes an que satisfazem esta equação, podemos utilizar o método da série de Fourier (Apêndice 3.1). Neste caso, basta multiplicar ambos os lados de (Ex.43) por )x a m(sen π , onde ‘m’ é um número inteiro, e integrar na variável x nos limites de 0 a ‘a’: (Ex.44) ∑ ∫ ππ=∫ π n a 0 n a 0 o dx)xa m(sen)x a n(senadx)x a m(senV Para integral no lado direito temos: (Ex.45) ⎩⎨ ⎧=∫ ππ =≠ mnse2 a mnse0 a 0 dx)x a m(sen)x a n(sen Com isso, o coeficiente an é dado por: (Ex.46) n )ncos(1V2dx)x a n(senV a 2a o a 0 on π− π=∫ π= Vemos que apenas os termos pares são não nulos nesta série, ou seja: (Ex.47) ,..,.4,2,0npara0a ,...5,3,1npara n V4 a n o n == =π= 121 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Assim, a solução para o potencial é obtida na forma: (Ex.48) ∑ ππ=ϕ π− ímparn a zno e)x a n(sen n 1V4 A Figura 3.10 mostra um conjunto de linhas equipotenciais normalizadas obtidas a partir desta equação. 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 210− 310− 410− 510−010 110−x ( a ) z ( a ) 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 210− 310− 410− 510−010 110−x ( a ) z ( a ) Figura 3.10 – Linhas equipotenciais normalizadas para π oV4 obtidas na análise dos planos condutores. As distâncias estão normalizadas para a separação ‘a’ entre os planos perpendiculares ao eixo x. Foram usadas apenas as funções com índice de 1 a 11. Exemplo 3.6 – A Figura 3.11 mostra uma situação mais realista do que a análise anterior. Neste caso os planos são limitados na direção y e existem planos de potencial nulo em y=0 e y=b. A solução geral neste caso é semelhante a (Ex.40) mas devemos acrescentar a dependência na coordenada y: (EX.49) [ ][ ] zy2y1x2x1 e)y(senB)ycos(B)x(senA)xcos(A α−β+ββ+β=ϕ A fim satisfazer as condições de contorno: 0)0z,by0,0x( =≥≤≤=ϕ e , devemos ter 0)0z,0y,ax0( =≥=≤≤ϕ 0A1 = e 0B1 = . De modo análogo ao 122 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos que foi feito no exemplo anterior, a fim satisfazer as condições de contorno: e 0)0z,by0,ax( =≥≤≤=ϕ 0)0z,by,ax0( =≥=≤≤ϕ , devemos ter: x y z0 a b 0=ϕ 0=ϕ 0=ϕ 0=ϕ oV=ϕ x y z0 a b 0=ϕ 0=ϕ 0=ϕ 0=ϕ oV=ϕ Figura 3.11 – Cálculo do potencial entre 5 planos condutores. Não há contato entre os planos em x=0, x=a, y=0, y=b e o plano z=0. (Ex.50) π=β n)a(sen x → a n x π=β (Ex.51) → π=β m)b(sen y b m y π=β onde n e m são inteiros. De acordo com (3.18), a constante α é dada por: (Ex.52) 22 2 y 2 x b m a n ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛π=β+β=α Como vimos antes, a solução geral pode ser escrita na forma de uma série. Neste caso temos uma série dupla nas variáveis x e y: (Ex.53) ∑∑ ππ=ϕ α− n m z nm e)yb m(sen)x a n(sena Finalmente, para satisfazer a condição de contorno final, devemos ter: 0)0z,by0,ax0( ==≤≤≤≤ϕ (Ex.54) ∑∑ ππ= n m nmo )yb m(sen)x a n(senaV 123 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Usando o mesmo método aplicado anteriormente, devemos multiplicar ambos os lados da equação anterior por )y b q(sen)x a p(sen ππ e integrar nos limites 0 a ‘a’ em x e 0 a ‘b’ em y. Fazendo isso, obtemos: (Ex.55) ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∫ ππ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∫ ππ∑∑ =∫ ∫ ππ b 0 a 0n m nm b 0 a 0 o dy)y b q(sen)y b m(sendx)x a n(sen)x a p(sena dxdy)y b q(sen)x a p(senV As integrais têm os seguintes resultados: (Ex.56) ⎩⎨ ⎧=∫ ππ =≠ npse2 a npse0 a 0 dx)x a n(sen)x a p(sen (Ex.57) ⎩⎨ ⎧=∫ ππ =≠ mqse2 b mqse0 b 0 dy)y b m(sen)y b q(sen (Ex.58) [ ] [ ] ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ =π−π−π =∫ ∫ ππ π ímparmense nm2 ab4 oV parmounse02o b 0 a 0 o m )mcos(1 n )ncos(1abV dxdy)y b m(sen)x a n(senV Com estes resultados em (Ex.55), obtemos os valore de anm na forma: (Ex.59) ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ = π ímparmenpara nm2 16 oV parmounpara0nma E o potencial em todos os pontos internos do volume definido na Figura 3.11 é dado por: (Ex.60) ∑ ∑ πππ=ϕ α− ímpar n ímpar m z 2o e)yb m(sen)x a n(sen nm 116VAs Figuras 3.12 e 3.13 mostram as distribuições de potencial em dois planos neste volume: o plano z=0 e o plano z=a, sendo a=b. Nos cálculos referentes a estas figuras, a série (Ex.60) foi truncada no termo com n=11 e m=11. Observe que, devido ao truncamento, o potencial uniforme Vo no plano z=0 é aproximado por 124 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos uma função oscilatória no plano xy. Aumentando o número de termos na série truncada, a resposta obtida deve se aproximar cada vez mais de um potencial uniforme no valor Vo. x ( a ) y ( a ) )0z,y,x( =ϕ x ( a ) y ( a ) )0z,y,x( =ϕ Figura 3.12 – Distribuição de potencial no plano z=0 representada pelos termos de n=1 e m=1 a n=11 e m=11 na série (Ex.60). As distâncias estão normalizadas para a largura a (a=b) dos planos x e y. O potencial está normalizado para . oV x ( a ) y ( a ) )a1.0z,y,x( =ϕ x ( a ) y ( a ) )a1.0z,y,x( =ϕ Figura 3.13 – Distribuição de potencial no plano z=0.1a representada pelos termos de n=1 e m=1 a n=11 e m=11 na série (Ex.60). As distâncias estão normalizadas para a largura a (a=b) dos planos x e y. O potencial está normalizado para . oV 125 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Equação de Laplace em coordenadas cilíndricas Em coordenadas cilíndricas, a equação de Laplace é descrita pela expressão: (3.27) 0 zs 1 s s ss 1 2 2 2 2 2 = ∂ ϕ∂+ φ∂ ϕ∂+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ϕ∂ ∂ ∂ Procedendo à separação de variáveis, teremos: (3.28) )z(Z),s(F)z,,s( φ=φϕ Substituindo em (3.27) e dividindo todos os termos por FZ, obtemos: (3.29) 0 dz Zd Z 1F s 1 s Fs ss 1 F 1 2 2 2 2 2 =+ ⎥⎥⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ φ∂ ∂+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂ ∂ ∂ O segundo termo deve ser igual a uma constante. Temos então: (3.30) Zk dz Zd 2 2 2 = e o primeiro termo pode ser reescrito na forma: (3.31) 0FskF s Fs s s 22 2 2 =+ φ∂ ∂+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂ ∂ ∂ Aplicando novamente a separação de variáveis, substituímos )()s(S),s(F φΦ=φ e obtemos: (3.32) 0sk d d1 ds dSs ds ds S 1 22 2 2 =+ φ Φ Φ+⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ O segundo termo deve ser uma constante. Por conveniência, em virtude da necessária periodicidade em relação ao ângulo azimutal, podemos atribuir a esta constante um valor negativo a priori. Com isso, temos as equações separadas: (3.33) Φ−= φ Φ 2 2 2 n d d (3.34) 0S)nsk( ds dSs ds Sds 222 2 2 2 =−++ onde, a fim de haver periodicidade na coordenada azimutal, n deve ser real e inteiro. Vamos obter agora as soluções para as funções S, Φ e Z. As soluções 126 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos para (3.30) e (3.33) são bem conhecidas. Neste estudo, iremos tratar apenas de situações nas quais a constante k é real. Então, para as funções Φ e Z, temos: (3.35) 0kseeAeAZ 0ksebzaZ 2kz 2 kz 1 2 >+= =+= − (3.36) ( ) ( )φ+φ=Φ nsenBncosB 21 Por outro lado, a solução de (3.34) tem três possibilidades: 1) k=0 e n=0; Neste caso (3.34) pode ser reescrita na forma: (3.37) 0 ds dSs dt d0 ds dS ds Sds 2 2 =⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛→=+ cuja solução geral é: (3.38) ( ) 21 CslnCS += 2) Se k=0 mas n≠0, temos: (3.39) 0Sn ds dSs ds Sds 2 2 2 2 =−+ Cuja solução geral é dada por: (3.40) n2 n 1 sCsCS −+= E, finalmente, para k diferente de zero, (3.34) é a equação diferencial de Bessel (Apêndice 3.2), cujas soluções são e , as funções de Bessel de primeira e segunda espécie de ordem n, respectivamente. A solução geral de (3.34) pode, então, ser escrita na forma: )ks(Jn )ks(Nn (3.41) )ks(NC)ks(JC)s(S nn2nn1n += Exemplo 3.7 – Um cabo coaxial tem seu condutor externo (raio b) aterrado e seu condutor interno (raio a) ligado a um potencial Vo (Figura 3.15). Se o cabo é muito longo e estamos interessados no potencial longe das extremidades, definindo o eixo z como sendo o eixo de simetria axial dos condutores, podemos verificar que o potencial não depende das coordenadas z e φ. Assim, temos k=0 e n=0. A solução para o potencial é, então, dada por: (Ex.61) ( ) 21 CslnC)s( +=ϕ 127 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Vo 2a 2b Vo 2a 2b Figura 3.15 – Análise de um cabo coaxial longo. Aplicando as condições de contorno oV)a( =ϕ e 0)b( =ϕ , teremos: (Ex.62) ( ) ( ) 21 21o CblnC0 CalnCV += += Resolvendo para os coeficientes C1 e C2, obtemos: (Ex.63) ( ) ( )baln )bln(V C b aln V C o 2 o 1 −= = Com isso, a solução para o potencial dentro do cabo coaxial é dada por: (Ex.64) ( ) ( ) ( ) )bsln(baln V b aln )bln(V )sln( b aln V )s( ooo =−=ϕ Exemplo 3.8 – A Figura 3.16 mostra uma calha semi-cilíndrica condutora de comprimento infinito ligada a um potencial fixo Vo e apoiada, mas sem contato elétrico, em um plano condutor aterrado. Se posicionarmos o eixo z paralelamente ao comprimento da calha saberemos que o potencial elétrico não dependerá da coordenada z. Portanto temos k=0. Uma vez que o potencial é finito em qualquer 128 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos posição do espaço, a solução da equação de Laplace dentro da calha deve envolver apenas as potências positivas da coordenada s e para fora da calha apenas as potências negativas de s. Temos então: (Ex.65) para ( ) ( )[ ]∑ φ+φ=φϕ ∞ =1n n nn snsenbncosc),s( as ≤ (Ex.66) para ( ) ( )[ ]∑ φ+φ=φϕ ∞ = − 1n n nn snsenbncosc),s( as ≥ a 0=ϕ oV=ϕ s φ a 0=ϕ oV=ϕ s φ Figura 3.16 – Calha semicircular condutora ligada a um potencial fixo sobre um plano condutor aterrado. Aplicando agora as condições de contorno para o potencial sobre o plano: e 0)0,as0( ==φ≤≤ϕ 0),as0( =π=φ≤≤ϕ , verificamos que os coeficientes cn devem ser nulos. Aplicando a condição para a calha, oV)0,as( =π<φ<=ϕ , obtemos as relações: (Ex.67) para ( )∑ φ= ∞ =1n n no nsenabV as ≤ (Ex.68) para ( )∑ φ= ∞ = − 1n n no nsenabV as ≥ Usando o método da série de Fourier, os coeficientes bn podem ser calculados pelas expressões: 129 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos (Ex.69) ∫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ =φφπ= π π 0 ímparnse n 1 na oV2 parnse0n o n d)n(sen a V b para as ≤ (Ex.70) ∫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ =φφπ= π −π − 0 ímparnse n 1 na oV2 parnse0n o n d)n(sen a V b para as ≥ Com isso, as soluções na forma de série de Fourier são dadas por: (Ex.71) ( )∑ φ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ π=φϕ ímparn n o n nsen a sV2),s( para as ≤ (Ex.72) ( )∑ φ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ π=φϕ − ímparn n o n nsen a sV2),s( para as ≥ A Figura 3.17 mostra uma distribuição de linhas equipotenciais no plano transversal à calha, obtidas a partir das equações acima com truncamento da série no termo n=99. -1 0 1 2 1 2 -2 0 0.1 0.2 0.3 0.3 0.4 0.4 1 ( x a ) ( x a ) -1 0 1 2 1 2 -2 0 0.1 0.2 0.3 0.3 0.4 0.4 1 ( x a ) ( x a ) Figura 3.17 – Linhas equipotenciais no problema da calha semicircular. Os potenciais estão normalizados para Vo e as distâncias para ‘a’. 130 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Exemplo 3.9 – A Figura 3.18 mostra uma cavidade cilíndrica condutora na qual todas as superfícies menos a tampa superior estão aterradas. A tampa superior, porsua vez, está no potencial Vo. Usando convenientemente a simetria azimutal em torno do eixo do cilindro, verificamos que a solução geral deve assumir o valor n=0 para a função da coordenada φ. Além disso, como a região de análise envolve a origem, s=0, a função radial deve conter apenas funções de Bessel de primeira espécie. A expressão para o potencial tem, então, a forma geral: (Ex.73) ( ) )ks(JeAeA)z,s( okz2kz1 −+=ϕ 0z =← Lz =← 0=ϕ 0=ϕ oV=ϕ s z 0z =← Lz =← 0=ϕ 0=ϕ oV=ϕ s z Figura 3.18 – Condições de contorno para cálculo do potencial dentro de uma cavidade cilíndrica Aplicando a condição de contorno 0)0z,as0( ==≤≤ϕ , teremos: (Ex.74) → ( ) )ks(JAA0 o21+= 12 AA −= Então, o potencial pode ser escrito na forma: (Ex.75) ( ) )ks(J)kz(senhA)ks(JeeA)z,s( ookzkz1 =−=ϕ − Aplicando a condição de contorno 0)Lz0,as( =<≤=ϕ , teremos: 131 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos (Ex.76) → )ka(J)kz(senhA0 o= a x k omm = Como existem infinitas funções que satisfazem as condições de contorno anteriores, podemos propor que a solução geral é a combinação linear dessas funções: (Ex.77) ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛∑ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛=ϕ ∞ = s a x Jz a x senhc)z,s( om 1m o om m Aplicando agora a condição oV)Lz,as0( ==≤≤ϕ , teremos: (Ex.78) ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛∑ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛= ∞ = s a x JL a x senhcV om 1m o om mo Comparando com a expressão geral da expansão em série de funções de Bessel (A.100) e (A.101) no Apêndice 3.2, concluímos que os coeficientes cm devem ser calculados por: (Ex.79) dss a x Js )x(Ja V2 L a x senhc a 0 om o om 2 1 2 oom m ∫ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛=⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ Consultando uma tabela de integrais de funções de Bessel verificamos que: . Com isso, temos: ∫ = )x(Jxdx)x(Jx 1o (Ex.80) ( )om1 om 2a 0 om 1 om a 0 om o xJx as a x sJ x adss a x Js =⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛=∫ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ Assim, substituindo este último resultado em (Ex.79), obtemos cm na forma: (Ex.81) ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛= L a x senh)x(Jx V2 c om om1om o m e a solução para o potencial em (Ex.77) torna-se: (Ex.82) ∑ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ =ϕ ∞ =1m om om1om om o om o L a x senh)x(Jx s a x Jz a x senh V2)z,s( A Figura 3.19 mostra a superposição dos 10 primeiros termos da série acima na composição do potencial na tampa superior da cavidade. 132 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Figura 3.19 – Representação do potencial na tampa superior da cavidade cilíndrica por meio da série (Ex.82) truncada no termo m=10. O potencial está normalizado para Vo. Equação de Laplace em coordenadas esféricas Em coordenadas esféricas a equação de Laplace é escrita na forma: (3.42) 0 sen 1sen sen 1 r r r 2 2 2 2 =φ∂ ϕ∂ θ+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ θ∂ ϕ∂θθ∂ ∂ θ+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ϕ∂ ∂ ∂ Aplicaremos a separação de variáveis em duas etapas. Inicialmente, escrevemos o potencial na forma: (3.43) ),(F)r(R),,r( φθ=φθϕ Substituindo em (3.42), teremos: (3.44) Rk dr dRr dr d 22 =⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ 133 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos (3.45) θ−= φ∂ ∂+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ θ∂ ∂θθ∂ ∂θ 22 2 2 senkFFsensen Agora, substituímos a função F em (3.45) por: φθ=φθ FF),(F . Obtemos com isso: (3.46) φφ −=φ Fmd Fd 2 2 2 (3.47) ( ) 0Fmsenk d dF sen d dsen 222 =−θ+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ θθθθ θ θ A equação radial (3.44) pode ser reescrita na forma: (3.48) 0Rk dr dRr2 dr Rdr 2 2 2 2 =−+ e sua solução é dada por: (3.49) )1n(2 n 1 rArA)r(R +−+= onde . Esta solução pode ser facilmente verificada por substituição em (3.48). )1n(nk2 += A equação na coordenada azimutal tem uma solução bem conhecida e já utilizada anteriormente. Em virtude da periodicidade nessa coordenada, o valor de m é necessariamente real e a solução é obtida como a soma de funções sen(mφ) e cos(mφ). Contudo, neste estudo, trataremos apenas de problemas que apresentam simetria azimutal. Nesse caso, m=0 e .cteF =φ A equação na coordenada polar pode ser reescrita em uma forma geral bem conhecida com a seguinte substituição em (3.47): (3.50) → xcos =θ 2x1sen −=θ → dx dx1 d d 2−−=θ Com isso, obtemos a equação na coordenada polar na forma: (3.50) ( ) 0F x1 mk dx dFx1 dx d x2 2 2x2 = ⎥⎥⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ −−+⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ − com substituído por 2k )1n(n + , esta equação é denominada de equação diferencial associada de Legendre e suas soluções são as funções associadas de 134 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Legendre. Contudo, trataremos apenas de casos em que m=0, e assim, (3.50) pode ser escrita na forma mais simples: (3.50) ( ) 0F)1n(n dx dFx2 dx Fdx1 xx2 x 2 2 =++−− cujas soluções são os polinômios de Legendre (Apêndice 3.3). Exemplo 3.10 – A Figura 3.20 mostra dois hemisférios ligados a potenciais opostos. Evidentemente, com o ângulo φ sendo medido da forma indicada, a figura apresenta simetria azimutal. Neste caso, a solução geral para o potencial em todo o espaço é dada pelo produto da função radial R(r) com o polinômio de Legendre: (Ex.83) [ ] )(cosPrArA),r( n)1n(2n1 θ+=θϕ +− Mas, como o potencial é finito em qualquer posição do espaço, esta equação deve ser separada em uma solução interna e noutra solução externa aos hemisférios: (Ex.84) para )(cosPrA),r( n n n θ=θϕ ar ≤ (Ex.85) para )(cosPrA),r( n )1n( n θ=θϕ +− ar ≥ A condição de contorno sobre os hemisférios é descrita por: (Ex.86) ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧=θ=θ=ϕ π<θ≤ π≤θ<π− 20paraoV 2parao V)(f),ar( Para a solução interna satisfazer esta condição de contorno é necessário combinar linearmente infinitas soluções do tipo (Ex.84). Assim, para , temos: ar ≤ (Ex.87) ∑ θ=θ ∞ 0 n n n )(cosPaA)(f De acordo com (A.119) e (A.120) no Apêndice 3.3, podemos obter os coeficientes An desta série Pela expressão: (Ex.88) ∫+= − 1 1 nnn dx)x(P)x(fa2 1n2A onde a função escrita na variável x é dada por: )(f θ 135 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos (Ex.89) ⎩⎨ ⎧= <≤−− ≤< 0x1paraoV 1x0paraoV )x(f Como f(x) é ímpar, apenas os termos ímpares da série (Ex.87) de polinômios de Legendre tem coeficientes diferentes de zero. Assim, a equação (Ex.88) resulta em: (Ex.90) ∫+= 1 0 nonn dx)x(PVa 1n2A para n ímpar θ r φ oV=ϕ oV−=ϕ θ r φ oV=ϕ oV−=ϕ Figura 3.20 – Hemisférios condutores ligados a potenciais opostos. Solução em coordenadas esféricas. Consultando uma tabela de integrais, obtemos: (Ex.91) 1n2 )x(P)x(Pdx)x(P 1n1nn + −=∫ −+ Com isso e considerando que 1)1(Pn = , (Ex.90) resulta em: (Ex.92) [ )0(P)0(P a V A 1n1nn o n +− −= ] para n ímpar Assim, obtemos a solução para ar ≤ na forma: (Ex.93) [ ]∑ θ−⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛=θ≤ϕ ∞ +− ímparn n1n1n n o )(cosP)0(P)0(Pa rV),ar( 136 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos De maneira análoga pode-se mostrar que para a solução é dada por: ar ≥ (Ex.94) [ ]∑ θ−⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛=θ≥ϕ ∞ +− +− ímparn n1n1n )1n( o )(cosP)0(P)0(Pa rV),ar( A Figura 3.21 mostra algumas curvas de potencial em função do ângulo polar para diferentes valores do quociente a r usando as expansões (Ex.93) e (Ex.94) até o termo de ordem 19. Exemplo 3.11 – Umaesfera metálica ligada a um potencial nulo é colocada em um campo elétrico inicialmente uniforme. Evidentemente, o campo induz cargas superficiais na esfera e essas cargas produzem um campo adicional que distorce o campo elétrico. Podemos calcular o potencial final fora da esfera, considerando as condições de contorno na superfície da esfera e no infinito. Uma vez que o potencial produzido pela carga superficial se anula no infinito, a condição de contorno no infinito é a mesma do campo elétrico uniforme, a qual é dada por: (Ex.95) θ−=∫ ⋅−=θ∞→ϕ ∞ cosrErdzE),r( o 0 o r) onde escolhemos o eixo z coincidindo com a direção do campo e definimos o centro da esfera como a posição de potencial nulo. A solução geral para o potencial fora da esfera é dada por: (Ex.96) [ ] )(cosPrArA),r( n)1n(2n1 θ+=θϕ +− No infinito, esta expressão se transforma em: (Ex.97) )(cosPrA),r( n n 1 θ=θ∞→ϕ Para satisfazer a condição expressa em (Ex.95), devemos ter n=1 e o1 EA −= . Além disso, sabemos que θ=θ cos)(cosP1 . Assim, a solução que satisfaz a condição de contorno no infinito é dada por: (Ex.98) [ ] θ+−=θϕ − cosrArE),r( 22o Aplicando agora a condição de contorno na superfície: 0),ar( =θ=ϕ , temos: (Ex.99) [ ] θ+−= − cosaAaE0 22o 137 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos o que resulta em . Assim, a solução final para o potencial é dada por: 3o2 aEA = 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 a r 0.1 0.5 2 1 oV ϕ θ ( rad )0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 a r 0.1 0.5 2 1 oV ϕ θ ( rad ) Figura 3.21 – Curvas de potencial normalizado em função do ângulo polar para quatro raios constantes obtidas na análise dos hemisférios da Figura 3.20 usando a expansão em série de Legendre até o termo de ordem 19. (Ex.98) θ ⎥⎥⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ −=θϕ cos a r r aaE),r( 2 2 o A partir daí, podemos obter as componentes radial e polar do campo elétrico fora da esfera pelas expressões: (Ex.99) θ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ +=∂ ϕ∂−= cos1 r a2E r e 3 3 or (Ex.100) θ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −=θ∂ ϕ∂−=θ sen1 r aE r 1e 3 3 o Podemos também obter a distribuição de carga na esfera aplicando a lei de Gauss. De acordo com outros exemplos já analisados, isto nos leva à relação 138 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos noeε=σ , onde en é o campo perpendicular na superfície do condutor, o qual, no caso da esfera corresponde ao campo radial. Assim, a carga na superfície da esfera é dada por: (Ex.101) θε==ε=σ cosE3)ar(e ooro Quando a geometria de um problema é muito complexa para cálculo do potencial elétrico segundo os métodos apresentados nesta seção e nas seções anteriores, existe uma alternativa geral baseada na solução da equação de Laplace por métodos numéricos. O Apêndice 3.4 apresenta os fundamentos do método das diferenças finitas, uma das abordagens mais utilizadas para este tipo de análise. Potencial magnético Analogamente ao que ocorre entre o potencial e o campo elétrico, também o campo magnético pode ser representado por uma função da posição espacial que está relacionada a alguma propriedade intrínseca deste campo. Segundo a Lei da Gauss para o campo magnético, o divergente da indução magnética é sempre nulo. De acordo com a identidade vetorial 0F =×∇⋅∇ r , válida para qualquer campo , podemos sempre encontrar uma função vetorial da posição espacial tal que a indução magnética seja obtida como o rotacional dessa função, ou seja: F r (3.51) ab rr ×∇= Esta função é denominada de potencial magnético e sua unidade no Sistema Internacional é Tesla x metro [Tm] . O seu significado físico é muito menos óbvio do que o significado do potencial elétrico e por ora aceitaremos que o potencial magnético é apenas uma forma de simplificar o cálculo do campo magnético a partir de uma distribuição de corrente. Por exemplo, a partir da equação (2.34), podemos verificar que uma expressão geral para o potencial magnético de uma distribuição de corrente estática é dada por: a r (3.52) ∫∫∫ ′′− ′ π μ= ′V o vd rr )r(j 4 )r(a rr rrrr Além disso, podemos aplicar o rotacional em ambos os lados de (3.51) e obter com o uso da Lei de Ampere a seguinte expressão: 139 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos (3.53) t eja)a(ab 2 ∂ ∂με+μ=∇−⋅∇∇=×∇×∇=×∇ rrrrrr Contudo, a relação (3.51) não determina univocamente o potencial magnético, pois de acordo com a identidade 0=ϕ∇×∇ , é sempre possível acrescentar o gradiente de uma função escalar arbitrária à equação (3.52) e ainda continuar obtendo o valor correto para a indução magnética, ou seja: (3.54) ( ) aaab rrrr ×∇=φ∇×∇+×∇=φ∇+×∇= A não unicidade na definição do potencial magnético permite que se arbitre um valor conveniente para o a fim de simplificar o cálculo do próprio potencial magnético. No caso de campos estáticos ( a r⋅∇ 0 t e =∂ ∂r ), se escolhermos na equação (3.53), obteremos a seguinte expressão para o laplaciano do potencial magnético: 0a =⋅∇ r (3.55) ja o 2 rr μ−=∇ Em termos das componentes retangulares, esta equação se desdobra nas seguintes três equações: (3.56) zz 2 yy 2 xx 2 ja ja ja μ−=∇ μ−=∇ μ−=∇ Convém ressaltar as semelhanças entre as equações (3.10) e (3.56). Cada componente ortogonal do potencial magnético depende da correspondente componente da densidade de corrente, do mesmo modo que o potencial elétrico depende da densidade de cargas. Assim, não é de se estranhar que as soluções para essas equações de Poisson para os potenciais elétrico e magnético não dependentes do tempo, dadas em (3.7) e (3.52), sejam complemente análogas. Uma extensão simples e muito útil da equação (3.52) para uma corrente em um fio com seção transversal muito pequena é obtida pela substituição . Assim, para uma corrente filamentar, o potencial magnético pode ser calculado por: Ldidvj rr = (3.57) ∫ ′− ′ π μ= ′L o rr Ldi 4 )r(a rr r rr 140 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Exemplo 3.12 – Consideremos uma corrente circulando em uma espira quadrada. Vamos calcular o potencial magnético no plano da espira. A Figura 3.22 mostra a espira no plano z=0 e um sistema de referência onde a origem coincide com o centro geométrico do quadrado. Consideremos inicialmente o ramo em 2 cx −= . Os valores de , e r r r ′r Ld ′r são dados por: (Ex.102) yyxxr ))r += (Ex.103) yyx 2 cr ))r ′+−=′ (Ex.104) ( ) ( )22 yy2cxrr ′−++=′− rr (Ex.105) yydLd ) r ′=′ x y i2 c− 2 c r ′r rr ′− rr Ld ′r 2 c 2 c− r r )y,x( x y i2 c− 2 c r ′r rr ′− rr Ld ′r 2 c 2 c− x y i2 c− 2 c r ′r rr ′− rr Ld ′r 2 c 2 c− y i2 c− 2 c r ′r rr ′− rr Ld ′r 2 c 2 c− r r )y,x( Figura 3.22 – Elementos para cálculo do potencial magnético da corrente em uma espira quadrada. Levando esses valores em (3.57), teremos: (Ex.106) ( ) ( )∫ ′−++ ′ π μ= − 2 c 2 c 22 o yy2 cx ydyi 4 a )r 141 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos A solução desta integral pode ser obtida com o uso de uma Tabela de integrais. O resultado fornece uma componente y do potencial vetorial da espira: (Ex.107) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ⎥⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢ ⎢ ⎣ ⎡ −+++− +++++ π μ= 22 22 o y 2 cy2 cx2 cy 2 cy2 cx2 cy Lni 4 aPara o ramo em 2 cx = , basta trocar o sinal da corrente e substituir o termo ( )2cx + por ( )2cx − , isto é: (Ex.108) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ⎥⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢ ⎢ ⎣ ⎡ −+−+− ++−++ π μ−= 22 22 o y 2 cy2 cx2 cy 2 cy2 cx2 cy Lni 4 a O potencial total na direção y é a soma dos potenciais desses ramos. Portanto, a componente total do potencial magnético na direção y é dada por: (Ex.109) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ⎥⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢ ⎢ ⎣ ⎡ ++−++ −+−+−⋅ −+++− +++++ π μ= 22 22 22 22 o y 2 cy2 cx2 cy 2 cy2 cx2 cy 2 cy2 cx2 cy 2 cy2 cx2 cy Lni 4 a O potencial na direção x pode ser obtido de modo análogo. Para o ramo em 2 cy = teremos: (Ex.110) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ⎥⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢ ⎢ ⎣ ⎡ −+−+− ++−++ π μ= 22 22 o x 2 cx2 cy2 cx 2 cx2 cy2 cx Lni 4 a e para o ramo em 2 cy −= teremos: (Ex.111) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ⎥⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢ ⎢ ⎣ ⎡ −+++− +++++ π μ−= 22 22 o x 2 cx2 cy2 cx 2 cx2 cy2 cx Lni 4 a Com isso, o potencial total na direção x é dado por: 142 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos (Ex.112) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ⎥⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢ ⎢ ⎣ ⎡ +++++ −+++−⋅ −+−+− ++−++ π μ= 22 22 22 22 o x 2 cx2 cy2 cx 2 cx2 cy2 cx 2 cx2 cy2 cx 2 cx2 cy2 cx Lni 4 a Uma vez obtido o potencial magnético no plano z=0, podemos calcular a componente z da indução magnética neste plano através da equação (3.51): (Ex.113) ( ) y a x a ab xyzz ∂ ∂−∂ ∂=×∇= r Este cálculo é deixado como exercício para o leitor. Exemplo 3.13 – Vamos obter agora o potencial magnético de uma espira circular plana. Os detalhes geométricos deste exemplo são mostrados na Figura 3.23. Temos então: (Ex.114) zzyyxxr )))r ++= (Ex.115) ysenaxcosar ))r φ+φ=′ (Ex.116) zzy)senay(x)cosax(rr )))rr +φ−+φ−=′− (Ex.117) )senycosx(a2azyxrr 2222 φ+φ−+++=′− rr (Ex.118) φφ=φφ+φ−=φφ ′=′ ))) rr dada)ycosxsen(d d rdLd levando essas expressões na equação (3.57), teremos: (Ex.119) ∫ φ+φ−+++ φφπ μ= π2 0 2222 o )senycosx(a2azyx d 4 ai a )r Vemos que o potencial está sempre orientado na direção azimutal. A integral não tem solução analítica, mas é facilmente resolvida pelo método de integração numérica apresentado no Apêndice 1.2. Exemplo 3.14 – Consideremos um cabo coaxial transportando a corrente constante e vamos calcular a distribuição de potencial magnético no interior do cabo. A Figura 3.24 mostra o dispositivo. A corrente circula em um sentido no condutor interno e a mesma corrente circula no sentido inverso no condutor oi 143 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos externo. Como a corrente é constante, ela se distribui uniformemente na área da seção transversal dos condutores. Portanto, a densidade de corrente no cabo é dada por: r r r′r rr ′−r φ φφ= )r daLd )z,y,x( x y z r r r′r rr ′−r φ φφ= )r daLd )z,y,x( x y z Figura 3.23 – Elementos para cálculo do potencial magnético de uma espira circular. (Ex.120) ( ) csbparazbc ij bsapara0j asparaz a i j 22 o 2 o ≤≤−π−= ≤≤= ≤π= )r r )r A fim de obter o potencial magnético, devemos resolver a equação de Poisson (3.55). Escrevendo o potencial em coordenadas cilíndricas zaasaa zs )))r +φ+= φ e aplicando o operador laplaciano, teremos: (Ex.121) ( ) ( ) z22s22 azasaa ∇+φ∇+∇=∇ φ )))r O vetor unitário axial ( )z ) é constante e portanto pode sair do operando. O mesmo não ocorre com os vetores unitários radial e azimutal, que são variáveis com a posição. Mas, a densidade de corrente tem componente apenas na direção z. Por isso, podemos considerar nulas as componentes radial e azimutal do potencial magnético. Neste caso, a equação (3.55) pode ser escrita na forma escalar: (Ex.122) ja oz 2 μ−=∇ 144 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Substituindo o Laplaciano coordenadas cilíndricas, conforme dado no Apêndice 2.1, termos: (Ex.123) j z aa s 1 s as ss 1 o2 z 2 2 z 2 2 z μ−=∂ ∂+φ∂ ∂+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂ ∂ ∂ a b c oi z s a b c oi z s Figura 3.24 – Cabo coaxial transportando corrente constante. Esquema para cálculo do potencial magnético. Contudo, uma vez que estejamos considerando um cabo longo e posições longe das extremidades, o potencial não varia com z. Além disso, em virtude da simetria azimutal, o potencial também não varia com o ângulo φ. Assim, a equação anterior pode ser reescrita na forma: (Ex.124) j s as ss 1 o z μ−=⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂ ∂ ∂ Duas integrações em seqüência fornecem a seguinte solução geral para esta equação: (Ex.125) ( ) 212oz KsLnKs4 j a ++μ−= Onde K1 e K2 são constantes a determinar. A fim de obter o potencial em cada região do cabo, devemos substituir o valor correspondente da densidade de corrente e as condições de contorno adequadas. Na região as ≤ o potencial se anula para s=0. Com isso, K1 e K2 são nulos. Substituindo o valor correto da densidade de corrente para esta região, obtemos: (Ex.126) 22 oo z sa4 ia π μ−= 145 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Na região , a densidade de corrente é nula. Sabendo que o potencial é contínuo através da superfície do condutor interno, podemos escrever a solução neste caso em uma forma um pouco diferente: bsa << (Ex.127) )a(a a sLnKa zz +⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛= Onde é obtido de (Ex.126). A determinação da constante K deve atender a condição de continuidade do campo magnético tangencial à superfÍcie do condutor. No Apêndice 3.5, que trata das condições de continuidade em interfaces, demonstra-se que em uma interface que não contenha uma corrente superficial concentrada, o campo magnético tangencial é contínuo. No caso atual, a corrente no condutor está distribuída em toda a área da seção transversal, por isso esta condição de continuidade é válida. O campo magnético dentro do condutor pode ser calculado pelo rotacional do potencial dada em (Ex.126). Usando a fórmula do rotacional em coordenadas cilíndricas dado no Apêndice 2.1 e verificando que o potencial depende apenas da coordenada radial, teremos: )a(az (Ex.128) φπ=φ∂ ∂ μ−=×∇μ= ))rr s a2 i s a1a1h 2 oz oo 1 Fazendo o mesmo para o campo no espaço entre os condutores, usando a expressão (Ex.127), teremos: (Ex.129) φμ−=φ∂ ∂ μ−=×∇μ= ))rr s K1 s a1a1h o z oo 2 A condição de continuidade exige que )a(h)a(h 21 = . Desse modo, obtemos a constante K igualando (Ex.128) e (Ex.129): (Ex.130) π μ−= 2 i K oo Portanto, o potencial na região bsa << é dado por: (Ex.131) π μ−⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ π μ−= 4 i a sLn 2 i a ooooz Na região , com a substituição do valor correto da densidade de corrente, e com o valor de dado por (Ex.131), podemos escrever o potencial magnético na forma: csb ≤≤ )b(az 146 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos (Ex.132) ( ) )b(a b sLnKbs )bc(4 i a z 22 22 oo z +⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛′+−−π μ= Novamente, devemos aplicar a condição de continuidade do campo magnético na interface em s=b. O campo magnético na região bsa << é obtido a partirde (Ex.131): (Ex.133) φπ=φ∂ ∂ μ−=×∇μ= ))rr s2 i s a1a1h oz oo 2 e na região o campo magnético é calculado a partir de (Ex.132): csb ≤≤ (Ex.134) φ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ μ ′+−π−=φ∂ ∂ μ−=×∇μ= ))rr s Ks )bc(2 i s a1a1h o 22 oz oo 3 Aplicando a condição , obtemos o valor da constante : )b(h)b(h 32 = K ′ (Ex.135) 22 2 oo bc c 2 i K −π μ−=′ Com isso, o potencial magnético na região csb ≤≤ é dado por: (Ex.136) ( ) ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛−⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ −−− − π μ= 1 a bLn2 b sLn bc c2 )bc( bs 4 ia 22 2 22 22 oo z Substituindo-se (Ex.135) em (Ex.134) e simplificando-se a expressão, obtemos o campo magnético na região csb ≤≤ : (Ex.137) φ− − π= )r 22 22 o 3 bc sc s2 i h A Figura 3.25 mostra os gráficos das distribuições radiais de densidade de corrente, potencial magnético e campo magnético no cabo coaxial. Potenciais Variáveis no Tempo Trataremos agora dos potenciais associados às fontes que variam com o tempo. De imediato devemos entender que nem as equações de Poisson nem as soluções (3.7) e (3.52) descrevem corretamente os potenciais dependentes do tempo. Para chegar a essa descrição, consideremos o caso geral de uma distribuição de carga e uma distribuição de corrente em um certo volume do 147 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos espaço, ambas dependentes do tempo e correlacionadas pela equação de continuidade. A cada uma dessas distribuições podemos associar uma parcela do campo elétrico total em cada ponto do espaço. Se chamamos essas parcelas de , para a parcela associada a Lei de Coulomb e qe r ae r , a parcela associada a Lei de Faraday, o campo elétrico total será aq eee rrr += . O campo é um campo conservativo e pode ser escrito na forma do gradiente do potencial escalar, ou seja, . O campo , por sua vez, tem rotacional não nulo, e de acordo com a Lei de Faraday, se relaciona com o potencial magnético pela expressão: qe r ϕ−∇=qer aer (3.58) ( ) ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂×−∇=×∇∂ ∂−=∂ ∂−=×∇ t aa tt bea rrrr 0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 -6 -4 -2 0 0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0 50 100 150 200 ) Tm 10 ( a 7 z − ) m/ A( h φ a b c s (m) s (m) 0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 -6 -4 -2 0 0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0 50 100 150 200 0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 -6 -4 -2 0 0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0 50 100 150 200 ) Tm 10 ( a 7 z − ) Tm 10 ( a 7 z − ) m/ A( h φ ) m/ A( h φ a b c s (m) s (m) Figura 3.25 – Distribuições de potencial magnético e campo magnético em um cabo coaxial (a=1mm, b=10mm e c=11mm) onde circula uma corrente constante de valor 1A. 148 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Então, a menos do gradiente de um escalar arbitrário, que pode ser simplesmente anulado sem maiores implicações, vemos que o campo elétrico induzido pela variação de fluxo magnético é dado por: (3.59) t aea ∂ ∂−= rr Assim, o campo elétrico total pode ser escrito na forma: (3.60) t ae ∂ ∂−ϕ−∇= rr Voltemos agora à expressão (3.53) e substituímos o campo elétrico dado por (3.60) para obter: (3.61) 2 2 ooooo 2 t a t ja)a( ∂ ∂εμ−ϕ∇∂ ∂εμ−μ=∇−⋅∇∇ rrrr Como temos a possibilidade de arbitrar o valor do a r⋅∇ , uma escolha que simplifica consideravelmente a equação anterior é a chamada condição de Lorentz: (3.62) t a oo ∂ ϕ∂εμ−=⋅∇ r Esta condição aplicada em (3.61) elimina os termos dependentes do e a r⋅∇ ϕ∇ , de modo que obtemos uma equação desacoplada para o potencial vetorial magnético na forma: (3.63) j t aa o2 2 oo 2 rrr μ−=∂ ∂εμ−∇ Podemos também obter uma equação para o potencial elétrico substituindo (3.60) na equação da Lei de Gauss. (3.64) o v2 a tt a ε ρ=⋅∇∂ ∂−ϕ−∇=⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂−ϕ∇−⋅∇ r r Usando agora a condição de Lorentz para substituir o a r⋅∇ , obtemos para o potencial elétrico uma equação equivalente à (3.63): (3.65) o v 2 2 oo 2 t ε ρ−=∂ ϕ∂εμ−ϕ∇ Portanto, as equações (3.63) e (3.65) determinam as distribuições espacial e temporal dos potenciais magnético e elétrico criados pelas fontes e j r vρ 149 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos dependentes do tempo. Trata-se de equações de onda e por isso suas soluções bem como os campos elétrico e magnético que devem ser obtidos a partir dos potencias, de acordo com (3.51) e (3.60), são ondas que se propagam no espaço. Neste ponto, não estamos em condições de obter as soluções dessas equações. Esta questão será analisada mais tarde junto com o estudo das ondas eletromagnéticas. A Tabela 3.1 mostra um resumo das relações entre campos e potenciais. Tabela 3.1 – Quadro resumo das relações entre campos e potenciais Campos Estáticos ϕ−∇=er ab rr ×∇= ∫∫∫ ′′− ′ρ πε=ϕ ′V v o vd rr )r( 4 1)r( rr rr ∫∫∫ ′′− ′ π μ= ′V o vd rr )r(j 4 )r(a rr rrrr Campos Variáveis t ae ∂ ∂−ϕ−∇= rr ab rr ×∇= o v 2 2 oo 2 t ε ρ−=∂ ϕ∂εμ−ϕ∇ j t aa o2 2 oo 2 rrr μ−=∂ ∂εμ−∇ Energia Eletromagnética As cargas interagem entre si através das forças elétrica e magnética, por isso, estabelecer uma distribuição de cargas e/ou de corrente no espaço envolve a realização de trabalho. Se o sistema considerado é globalmente não dissipativo, ou seja, se não existem forças de atrito modificando o movimento das cargas, toda a energia transferida durante a criação dessas distribuições de carga e corrente é armazenada no sistema formado pelos campos e pelas cargas. Densidade de energia elétrica Consideremos inicialmente o trabalho necessário para formar uma configuração espacial de cargas com determinada densidade volumétrica especificada. Suponha que estamos construindo essa configuração de cargas trazendo do 150 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos infinito até a região do espaço em questão, quantidades incrementais de cargas e espalhando no volume correspondente com uma densidade incremental qδ δρ (Figura 3.26). Como essas quantidade são muito pequenas, podemos considerar que a cada passo desse processo, o potencial elétrico em todo o espaço varia apenas de uma quantidade infinitesimal e, assim, o trabalho realizado para variar a densidade de carga no elemento de volume localizado na posição dv r r do espaço, pode ser calculado pela expressão: (3.66) dv)r()r()W(d rr δρϕ=δ A integração desta equação resulta no trabalho infinitesimal realizado para distribuir a carga dq em todo o espaço. (3.67) dv)r()r(W V ∫∫∫ δρϕ=δ rr r r V dvδρ )r( rϕrr V dvδρ )r( rϕ Figura 3.26 – Representação do processo de construção de uma distribuição de cargas trazendo quantidades infinitesimais de uma distância infinita para um volume especificado. Note que a carga total pode estar distribuída em um volume finito. Isso não impede de escrever a integral acima como sendo calculada em todo o espaço, uma vez que na região externa ao volume efetivamente ocupado pelas cargas a integral (3.67) se anula. Desde que a carga é continuamente trazido do infinito para o volume considerado, o trabalho total para construir a distribuição final de cargas é obtido pela integração de (3.67) nodomínio do tempo. Mas, como a densidade de carga é uma função do tempo, podemos realizar essa integração na própria variável ρ . Assim, temos: 151 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos (3.68) dvW V 0 ∫∫∫ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∫ δρϕ= ρ O integrado nesta equação pode ser então considerado uma densidade volumétrica de energia armazenada no sistema de cargas e campo. Para uma distribuição de cargas no vácuo, o potencial é proporcional à densidade de carga. Assim, o integrando em (3.68) tem um resultado simples: (3.69) ρϕ=∫ δρϕ ρ 2 1 0 e, com isso, a energia total armazenada no sistema é dada por: (3.70) dv 2 1W V ∫∫∫ ϕρ= Esta expressão nos faz pensar que a energia é armazenada apenas nas regiões do espaço onde existem cargas. Contudo, isso não é correto. Podemos obter uma expressão equivalente em termos do campo elétrico estabelecido pelas cargas que nos permite reinterpretar esse resultado. Usando a Lei de Gauss e a identidade vetorial ( ) ddd rrr δ⋅∇ϕ+δ⋅ϕ∇=ϕδ⋅∇ , podemos reescrever (3.70) na forma: (3.71) ( ) ∫∫∫ ϕ∇⋅δ−∫∫∫ δϕ⋅∇=∫∫∫ δ⋅∇ϕ=δ VVV dvd 2 1dvddvdW rrr Aplicando agora o teorema de Gauss para transformar a primeira integral em uma integral de superfície e substituindo a relação ϕ−∇=er , válida para campos estáticos, no segundo integrando, obtemos: (3.72) ∫∫∫ δ⋅+∫∫ ⋅δϕ=δ VS dvdesddW rrrr Mas, a superfície de integração deve conter todo o volume que, a princípio, é todo o espaço. Como não pode haver fluxo para fora de uma superfície infinita e, além disso, como o potencial deve se anular no infinito, a primeira integral é nula. Assim, obtemos a expressão da energia em todo o espaço como uma integral de volume dada por: (3.73) ∫∫∫ ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∫ δ⋅= V d 0 dvdeW rr 152 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Esta energia está distribuída em todo o espaço, sendo mais concentrada onde o campo é mais intenso. O integrando nesta equação pode ser interpretado como a densidade volumétrica de energia elétrica armazenada no sistema: (3.74) ∫ δ⋅= d 0 e dew rr No vácuo, o campo e a indução elétrica são proporcionais e (3.74) tem uma solução simples na forma: (3.75) 2o o 2 e e2 1d 2 1ed 2 1w r r rr ε=ε=⋅= Exemplo 3.15 – Uma esfera metálica isolada no ar, de raio R, é conectada a uma bateria de tensão Vo. Vamos calcular a energia total acumulada no carregamento da esfera. Por se tratar de um condutor, sabemos que a carga se acumula na superfície. Se a esfera está isolada, esta carga se distribui uniformemente em sua superfície e toda a carga está sujeita a um mesmo potencial. Assim, (3.70) tem um resultado simples dado por: (Ex.138) oe VQ2 1)R(Q 2 1W =ϕ= Trataremos de obter agora uma relação entre a carga total e o potencial na superfície da esfera. Esta relação define a capacitância da esfera e pode ser obtida como segue. Como sabemos, a carga distribuída uniformemente na superfície produz campo elétrico fora da esfera como se ela estivesse toda concentrada no centro geométrico da esfera. O potencial de uma carga pontual é dado pela equação (3.6). Assim, o potencial na superfície da esfera condutora carregada é dado por: (Ex.139) R4 QV)R( o o πε==ϕ → R4V QC o o πε== Onde C é a capacitância da esfera (A relação entre a carga total e o potencial da esfera). Substituindo em (Ex.138), obtemos: (Ex.140) 2oo 2 oe VR2CV2 1W πε== 153 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Exemplo 3.16 – Um cabo coaxial é carregado por uma diferença de potencial Vo entre os condutores interno e externo. Vamos calcular a energia acumulada por unidade de comprimento do cabo. O potencial elétrico entre os condutores em um cabo coaxial foi calculado no exemplo (3.7), e é repetido aqui por conveniência: (Ex.141) ( ) )bs(LnbaLn V )s( o=ϕ onde a e b são os raios dos condutores interno e externo, respectivamente. O campo elétrico entre os condutores pode ser calculado a partir da relação ϕ−∇=er . Isto resulta em: (Ex.142) ( )ssbaLn V s s e o ))r −=∂ ϕ∂−= Com isso, a densidade de energia armazenada no cabo, segundo (3.75), é dada por: (Ex.143) ( ) 22 2 oo2 oe sb aLn2 V e 2 1w ε=ε= r onde supomos que o isolante no cabo tenha permissividade igual à do vácuo. Isto é apenas uma aproximação, e sempre será necessário calcular uma parcela de energia adicional devido à polarização do material, mas isto será considerado apenas no próximo capítulo. Para obter a energia armazenada por unidade de comprimento do cabo devemos fazer uma integração de (Ex.143) no volume correspondente a um comprimento unitário. O volume diferencial neste caso pode ser descrito por , onde L é um comprimento arbitrário. A energia é então dada por: dsLs2dV π= (Ex.144) ( ) ( ) LbaLn V s dsL b aLn VdsLws2W 2 oo b a2 2 oo b a ee πε=∫πε=∫ π= Então, a energia por unidade de comprimento no cabo coaxial é dada por: (Ex.145) ( )baLn V W 2 oo e πε= 154 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos Exemplo 3.17 – Na expressão (Ex.140) a energia total armazenada foi expressa em função da capacitância do condutor. Este não é um resultado particular. De fato, em qualquer sistema de dois condutores é possível definir a relação entre a carga acumulada na superfície e a diferença de potencial entre os condutores através da capacitância. Como a superfície dos condutores é equipotencial, qualquer variação de carga está associada a uma variação de potencial dV , por meio de: dq (Ex.146) dVCdq = e a variação da energia acumulada é dada por: (Ex.147) dVVCdqVdWe == A integração desta equação no intervalo de tempo no qual o potencial varia de seu valor inicial 0 até o valor final Vo leva ao resultado bem conhecido para a energia armazenada em um capacitor: (Ex.148) oe CV2 1W = Este resultado é completamente geral e independente da forma dos condutores. Densidade de energia magnética Consideremos agora o trabalho que as fontes externas realizam para estabelecer uma distribuição de corrente. Ao se estabelecer uma distribuição de corrente no espaço, a variação do fluxo magnético produzido gera força eletromotriz que se opõem à variação da corrente. Assim, as fontes externas realizam trabalho para superar o campo elétrico induzido. Consideremos uma distribuição de corrente representada por espiras elementares conforme mostrado na Figura 3.27. Se, em uma espira de volume infinitesimal está circulando uma carga durante um intervalo de tempo e, em virtude da indução magnética, existe uma força eletromotriz nos extremos do circuito, o trabalho infinitesimal realizado pode ser calculado por: qδ tδ ϕd 155 ENGENHARIA ELETROMAGNÉTICA - Prof. Dr. Airton Ramos ϕd mφ i )r(j rr r r V ϕd mφ i )r(j rr r r ϕd mφ i ϕd mφ i )r(j rr r r V Figura 3.27 – Representação do processo de construção de uma distribuição de corrente em um volume especificado. (3.76) )d(itdidq)dW( mφδ=δϕ=ϕδ=δ onde i é a corrente na espira infinitesimal e ( )mdφδ é a variação do fluxo magnética nessa espira no intervalo de tempo considerado. Mas, usando o teorema de Stokes podemos escrever o fluxo magnético como função do potencial magnético: (3.77) ∫ ⋅=∫∫ ⋅×∇=∫∫ ⋅=φ CSS m Ldasdasdb rrrrrr e um fluxo infinitesimal pode, então, ser dado por: (3.78) Ldad m rr ⋅=φ Com isso em (3.76) e considerando
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