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Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Instituto de Ciência e Tecnologia Curso de Engenharia Mecânica Prof. Ricardo Augusto Gonçalves Disciplina: Introdução aos Processos de Manufatura – EME103 O que é FABRICAÇÃO? O que é USINAGEM? Resposta n. 1: “UM PROCESSO DE FABRICAÇÃO” “Fabricar é transformar matérias primas em produtos acabados, por vários processos, seguindo planos bem organizados”. 2 • A ideia de fabricar teve início à milhares de anos quando o homem pré-histórico percebeu que, para sobreviver precisava de algo mais que pernas e braços para se defender e caçar. 3 Ferramentas pré-históricas feitas de pedras Sua inteligência logo o ensinou que se ele tivesse uma pedra nas mãos, seu golpe seria mais forte, e se a pedra tivesse um cabo esse golpe seria mais forte ainda. Se essa pedra fosse afiada poderia cortar a caça e ajudar a raspar a pele dos animais. 4 Foi a partir da necessidade de se fabricar um machado que o homem desenvolveu as operações de desbastar, cortar e furar. 5 Durante centenas de anos a pedra foi a matéria prima, mas por volta de 4000 A.C. ele começou a trabalhar com metais, começando com o cobre, depois com o bronze e finalmente com o ferro para a fabricação de armas e ferramentas. 6 Evolução Histórica dos Processos de Usinagem Plaina Neolitica de 6000 A.C. (Spur, 1997) Furadeira a arco egípcia – 1500 A. C 7 • 1.000 A.C. - Surgem os primeiros tornos. • Idade do Bronze – Metais predominantes Cu, Zn, Sn. • 700 A.C. - Processamento do ferro. • SÉC. XIV - Desenvolvimento das primeiras armas de fogo na Europa. • SÉC. XVI - Torneamento ornamental - Jaccques Benson. Torno a arco – 1565 (Spur, 1997) 8 • SÉC. XVII – Melhoria nos processos de fabricação de ferro e aço. • SÉC. XVIII - Primeiras obras conhecidas sobre torneamento – Jacques Plumier - L’ART DE TORNEURS. Furadeira de Willkinson – Acionada à roda d'agua 9 SÉC. XIX – Revolução industrial • Desenvolvimento da máquina à vapor – James Watts. • Primeiras Máquinas-Ferramentas projetadas segundo princípios modernos. • Fabricação em série. • Aço ferramenta é o principal material de ferramentas de usinagem. Torno de Maudslay – 1848 10 SÉC. XX – Século da tecnologia • 1900 – Taylor apresenta o Aço Rápido. • 1930 – Vanner Bush inventa o primeiro computador analógico • 1935 – É desenvolvido o Metal Duro. • 1946 – É desenvolvido o primeiro computador eletrônico digital – o ENIAC • 1950 – Primeira máquina-ferramenta numericamente controlada, utilizando um computador eletrônico EDSAC no MIT-EUA • 1968 - Borroughs produz os primeiros computadores utilizando circuitos integrados. • 70’ - BRIAN – Primeiras Pesquisas sobre usinagem de ultra precisão. • 70’ – Primeiras ferramentas Cermets – Japão. • 80’ – Primeiras pesquisas sobre usinagem de alta-velocidade. • 90’ – Ferramentas cerâmicas. • 90’ – Ferramentas CBN, Diamante. 11 • Tendências para o SÉC XXI HSM – Usinagem em altas velocidades Usinagem de ultra precisão Microusinagem Máxima Flexibilidade de movimentos 12 Resposta n. 2: “Processo de fabricação com remoção de cavaco”. O que é USINAGEM? 13 Figura 1. Classificação dos Processos de Fabricação (Fonte: Ferraresi, 1977; adaptado por Machado et. al, 2011) 14 “Porção de material da peça, retirada pela ferramenta, caracterizando-se por apresentar forma geométrica irregular”. O que é USINAGEM? Resposta n. 3 (Ferraresi) “Operação que ao conferir à peça a forma, ou as dimensões ou o acabamento, ou ainda uma combinação qualquer desses três itens, produzem cavaco”. O que é cavaco? 15 A Usinagem é um processo complexo ou simples? 16 “ A usinagem é um processo complexo e simples, ao mesmo tempo, onde se produzem peças removendo-se excesso de material, na forma de cavaco”. COMPLEXO devido às dificuldades de se determinar as imprevisíveis condições ideais de corte. SIMPLES porque uma vez determinadas as condições ideais de corte, o cavaco se forma corretamente, proporcionando um espetáculo muito interessante, sem exigir qualquer tipo de ação especial do operador. 17 As condições ideais de corte consistem de: 1. material e geometria adequada da ferramenta de corte; 2. velocidade de corte e avanço adequados para uma profundidade de corte pré-determinada; 3. fluido de corte adequado. Tudo isto para ser usado em uma máquina ferramenta pré-escolhida, para usinar um determinado material. Estas condições ideais de corte são aquelas capazes de produzir peças dentro de especificações de forma, tamanho e acabamento ao menor custo possível. 18 SHAW: “É praticamente impossível PREVER a performance no corte dos metais. Entretanto, isto não quer dizer que estudos detalhados dos processos de usinagem não tem valor. Cada ponto fundamental que é detalhadamente estudado e propriamente interpretado, contribui para o ENTENDIMENTO do processo, e entendimento é o passo mais próximo da capacidade de prever”. 19 Importância da usinagem na indústria metal mecânica • A maior parte de todos os produtos industrializados em alguma de suas etapas de produção, direta ou indiretamente sofre algum processo de usinagem. 20 • Segundo Kalpakjian (1995), em países industrializados, a atividade manufatureira responde por 20% a 30% do Produto Interno Bruto (PIB) e serve de indicativo confiável do padrão de vida da população do país. • A Usinagem é reconhecidamente o processo de fabricação mais popular do mundo, transformando em cavacos algo em torno de 10% de toda a produção de metais e empregando dezenas de milhões de pessoas (TRENT, 1985) 21 ➔ 80% dos furos ➔ ~100% dos processos de melhoria da qualidade superficial ➔ ~70% das engrenagem para transmissão de potência ➔ ~90% dos componentes da indústria aeroespacial ➔ ~100% dos pinos médicos e odontológicos ➔ ~70% das lentes de contatos Produzidos por usinagem: 22 23 Classificação dos Processos de Usinagem 24 1. Classificação quanto ao processo de remoção de material Usinagem Convencional Não Convencional •Empregam energia mecânica na remoção do material, principalmente por cisalhamento, no contato físico da ferramenta com a peça. •Ex: torneamento, furação e retificação. •Utilizam de outros tipos de energia de usinagem (ex: térmica, elétrica) , não geram marcas padrão na superfície da peça e a taxa de remoção de material é muito menor que a dos processos convencionais. •Ex: laser (radiação), eletroerosão (elétrons) e plasma (gases quentes). 25 Figura 1. Classificação dos Processos de Fabricação (Fonte: Ferraresi, 1977; adaptado por Machado et. al, 2011) 26 Usinagem Convencional Ferramentas com geometria definida Ferramentas com geometria não - definida (Usinagem por abrasão) 2. Classificação quanto à geometria da ferramenta de corte •Arestas cortantes com formato e tamanhos conhecidos. •Ex: Torneamento, furação e fresamento Partículas abrasivas com formatos aleatórios e compostas por arestas minúsculas de corte. Ex: Retificação, brunimento e lapidação. 27 3. Classificação quanto à finalidade da operação Operações de desbaste Operações de acabamento •Garantir elevada taxa de remoção de material. •Limitado pela potência da máquina-ferramenta •Garantir qualidade final da peça usinada com acabamento especificado.•Remoção do sobremetal deixado pela operação de desbaste Usinagem 28 Principais Processos de Usinagem Convencional 29 Torneamento • A peça gira em torno de seu eixo enquanto a ferramenta de corte realiza os movimentos de avanço longitudinal e/ou transversal. • Utilizado na geração de superfícies de revolução. • As ferramentas de corte utilizadas possuem apenas uma aresta de corte. Podem ser inteiriças (aço rápido) ou com insertos intercambiáveis. 30 Exemplos de ferramentas de corte para torneamento 31 Principais operações executadas no torno 1 – Torneamento cilíndrico ou longitudinal 2 - Torneamento de perfis 3 - Faceamento Torneamento externo 32 1 – Torneamento interno cilíndrico 2- Torneamento interno de perfis Torneamento interno 33 1 - Corte 2 - Canais 4 – Canal Frontal 3 – Canais Circlip 5 - Perfilamento 7 – Saída para Retificação 34 Furação •Nesta operação, a ferramenta (broca) gira e realiza movimento de avanço, que pode ser manual ou automático. •Normalmente, a qualidade de trabalho produzida pela operação de furação é inferior a IT11. Caso seja exigida uma qualidade superior, o alargamento deve ser executado. Furadeira de bancada Centro de usinagem CNC 35 • Exemplos de ferramentas (brocas) utilizadas no processo de furação. 36 1 – Furação em geral 2 – Furação escalonada e chanfros Principais operações de furação. 37 3 – Furação Profunda 4 – Furação com ajuste radial 5 - Furação em mergulho 6 - Trepanação 38 8- Furação em pacotes 7 – Furação não rotativa 39 9 - Furação de centro 40 Alargamento Alargamento cilíndrico Alargamento cônico Processo de usinagem em geral utilizado para produzir furos com alta precisão geométrica, dimensional e qualidade superficial. Ferramentas de corte (alargadores) utilizadas no processo de alargamento. 41 Fresamento • A operação de Fresamento é reconhecida pela versatilidade na produção de geometrias diversas. • Elevadas taxas de remoção de material, a ferramenta (fresa) possui múltiplas arestas de corte. • Utilizado na geração de superfícies que não são de revolução. • Neste processo a ferramenta gira enquanto a peça, presa à mesa, é responsável pelos movimentos de avanço longitudinal e transversal. • Em situações especiais, a peça pode ficar estática enquanto a ferramenta realiza todos os movimentos. 42 Fresadora Universal Fresadora Convencional Centro de usinagem CNC 43 • Ferramentas de corte (fresas) utilizadas no processo de fresamento 44 Principais operações de Fresamento 1 - Fresamento Frontal ou faceamento Fresamento de perfis 45 1 - Fresamento de cantos a 90° 2 – Fresamento periférico 46 Fresamento a 90° de paredes 47 1 - Fresamento tangencial ou de canais 2 – Fresamento de topo de canais 48 Fresamento de engrenagens. 49 Mandrilamento •Processo de usinagem realizado em um equipamento específico (mandriladora), similar a uma fresadora de grande porte. •Utilizada principalmente no acabamento interno de furos cilíndricos e com perfis especiais. •A ferramenta é dotada dos movimentos de corte e avanço, enquanto a peça permanece estática. •É particularmente interessante para a usinagem de peças de grandes dimensões. 50 Mandriladora de mancais Mandriladora horizontal 51 Ferramentas de corte utilizadas no processo de mandrilamento. 52 Rosqueamento •Processo de usinagem destinado à geração de roscas externas e internas. •É um dos processos mais complexos de usinagem. •A operação pode ser realizada com o uso de dispositivos manuais ou por meio de máquinas- ferramentas (tornos, fresadoras, rosqueadeiras, etc.) 53 Torno Rosqueadeira automática Centro de Usinagem CNC Rosqueamento manual 54 Torneamento de rosca interno Torneamento de rosca externo Rosqueamento com macho de corte Rosqueamento com cossinetes 55 Brochamento • Processo de Usinagem comumente empregado quando se deseja produzir furos com formas diferentes da cilíndrica. • A ferramenta (brocha) é tracionada e a passagem de dentes sucessivos provocando a mudança de forma de um furo inicial, para o perfil desejado. • Elevada qualidade dimensional e geométrica pode ser conseguida em componentes produzidos em massa. • Formas externas também podem ser produzidas por meio dessa operação. 56 Brochadeira Horizontal Brochadeira Vertical 57 Ferramentas de corte (brochas) utilizadas no processo de brochamento. 58 Operações de Brochamento 59 Aplainamento • Nesta operação a ferramenta de corte realiza movimentos alternativos montada sobre um torpedo. • Na plaina limadora é a ferramenta que faz o curso de corte e a peça tem apenas pequenos avanços transversais. • Sua principal função é remover irregularidades da superfície plana. • Quanto às operações, a plaina limadora pode realizar estrias, rasgos, rebaixos, chanfros, faceamento de topo em peças de grande comprimento. 60 Plaina Limadora 61 Operações de aplainamento 62 Retificação • Processo de usinagem por abrasão destinado à obtenção de superfícies com o auxílio de ferramenta abrasiva de revolução, conhecida como rebolo. • Para tanto, a ferramenta gira e a peça ou a ferramenta se desloca segundo uma trajetória determinada, podendo a peça girar ou não. • Assegurar a produção de componentes com tolerâncias dimensionais e geométricas superiores àquelas obtidas em operações que utilizam ferramentas de corte com geometria definida. 63 Principais Processos de Retificação • Retificação Cilíndrica Externa Longitudinal O avanço é paralelo ao eixo da peça e ocorre através do movimento da mesa da retificadora ou através do movimento do rebolo 64 Retificação de eixo virabrequim • Retificação Cilíndrica Externa de Mergulho Com avanço de penetração, o rebolo executa o movimento de avanço numa direção perpendicular à superfície retificada. 65 • Retificação sem Centros A peça é apoiada (não fixada) na cunha de apoio, de aço de alta dureza ou outra liga. O rebolo de corte gira a alta rotação e exerce pressão sobre a peça, retificando-a. Esta gira sobre seu próprio eixo devido ao atrito gerado pelo rebolo de arraste. 66 67 Máquina Convencional Máquina CNC • Retificação Cilíndrica Interna A peça fica presa ao cabeçote da máquina-ferramenta com movimento de rotação. O avanço é realizado pelo cabeçote ou pelo rebolo – movimento é axial de ida e volta. 68 • Retificação Tangencial Plana O eixo do rebolo é paralelo à superfície retificada. A mesa executa um movimento de avanço alternativo e um movimento de avanço transversal, enquanto o rebolo executa o movimento em profundidade. 69 • Retificação Tangencial Frontal O eixo do rebolo é perpendicular à superfície retificada. 70 • Retificação de Perfis A superfície usinada é uma superfície qualquer, gerada pelo perfil do rebolo. 71 Referências Bibliográficas 1. MACHADO, A. R., COELHO, R. T., ABRÃO, A. M., DA SILVA, M. B., Teoria da Usinagem dos Materiais, 2ª Ed., Ed. Blucher, 2011. 2. FERRARESI, D., Fundamentos da Usinagem dos Materiais, 1ª Ed., Ed. Blucher, 1970. 3. DINIZ, A. E., MARCONDES, F. C., COPPINI, N. L., Tecnologia da Usinagem dos Materiais, 7ª Ed., Ed. Artliber, 2011. 4. STOETERAU, R. L., Apostila - Processos de Usinagem, 2004. 5. DE SOUZA, A. J., Apostila – Processos de Fabricação por Usinagem – Parte I, Departamento de Engenharia Mecânica, UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul, 2011. 6. KALPAKJIAN, S. Manufacturing engineering and technology, 3ª ed, New York, Addison-Wesley Publishing Co., 1995. 7. SHAW, M.C. Metal cutting principles, Londres: Oxford University Press, 1984. 8. TRENT, E. M. Metal Cutting, 2ª Ed., Londres: Butterworths & Co., 1985. 72 Observação Este material refere-se às notas de aula do curso EME 103 Introdução aos Processos de Manufatura da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Não substitui o livro texto, as referências recomendadas e nem as aulas expositivas. 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