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Bordieu ( Teoria Sociologica)

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RESUMO 
“Não há democracia efetiva sem um verdadeiro poder crítico”
 Pierre Bourdieu dedicou-se à análise do sistema de ensino (francês), evidenciando a dis​tância entre a educação escolar praticada e o modelo preconizado pelas políticas edu​cacionais. Seus estudos desencadearam uma crítica radical sobre os princípios da escola republicana. 
Vida e Obras
 Pierre Bourdieu nasceu em 1 de agosto de 1930, na França. Estudou na École Normale Supérieure e cumpriu serviço militar na Argélia. Graduado em Filosofia, Bourdieu enveredou para a Antropologia e Sociologia. 
O PENSAMENTO DE BOURDIEU
	Para entender o pensamento de Bourdieu sobre a construção dos consensos é necessário definir alguns conceitos importantes que conduzem a sua teoria. 
TEORIA SOCIAL
Na agenda teórica proposta à Teoria Sociológica contemporânea, alguns elementos merecem destaque: a releitura dos clássicos, a construção de conceitos e a postura crítica do intelectual diante de uma tomada de posicionamento político, elementos estes amalgamados em sua discussão sociológica.
BOURDIEU, (1930-2002, P,11).
A escola não cumpre apenas a função de consagrar a ‘distinção’ – no sen​tido duplo do termo – das classes cultivadas. A cultura que ela transmite separa os que a recebem do restante da sociedade, mediante um conjunto de diferenças sistemáticas. 
 Esta postura consiste em admitir que existe no mundo social estruturas objetivas que podem dirigir, ou melhor, coagir a ação e a representação dos indivíduos, dos chamados agentes. Bourdieu tenta fugir da dicotomia subjetivismo/objetivismo dentro das ciências humanas. Rejeita tanto trabalhar no âmbito do fisicalismo, considerando o social enquanto fatos objetivos, como no do psicologismo, o que seria a "explicação das explicações".
 A verdade da interação nunca está totalmente expressa na maneira como ela se nos apresenta imediatamente. Uma das mais importantes questões na obra de Bourdieu se centraliza na análise de como os agentes incorporam a estrutura social, ao mesmo tempo que a produzem, legitimam e reproduzem. 
“Nada é mais adequado que o exame para inspirar o reconhecimento dos veredictos escolares e das hierarquias sociais que eles legitimam” 
 Pierre Bourdieu nasceu em 1930 no vilarejo de Denguin, no sudoeste da França. Em 1951 ingressou na Faculdade de Letras, em Paris, e na Escola Normal Superior. De volta à França, assumiu a função de assistente do filósofo Raymond Aron (1905-1983) na Faculdade de Letras de Paris e, simultaneamente, filiou-se ao Centro Europeu de Sociologia, do qual veio a ser secretário-geral. O francês Pierre Bourdieu empreendeu uma investigação sociológica do conhecimento que detectou um jogo de dominação e reprodução de valores. Na essência, contudo, as conclusões de Bourdieu não foram contestadas.
 Na mesma época em que as restrições a sua obra acadêmica se tornaram mais frequentes, a figura pública do sociólogo ganhou notoriedade pelas críticas à mídia, aos governos de esquerda da Europa e à globalização. Ele costuma ser incluído na tradição francesa do intelectual público e combativo, a exemplo do escritor Émile Zola (1840-1902) e do filósofo Jean Paul Sartre (1905-1980).
Capital cultural
 Outro conceito utilizado por Bourdieu é o de campo, para designar nichos da atividade humana nos quais se desenrolam lutas pela detenção do poder simbólico, que produz e confirma significados. Dos elementos vitoriosos, formam-se o habitus e o código de aceitação social. É nela que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural. E este, segundo o sociólogo, está diretamente relacionado ao desempenho dos alunos na sala de aula. 
O capital social, por exemplo corresponde a rede de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Já na educação se acumula sobretudo capital cultural, na forma de conhecimentos apreendidos, livros, diplomas etc.
Com os instrumentos teóricos que criou, Bourdieu afastou de suas análises a ênfase central nos fatores econômicos – que caracteriza o marxismo – e introduziu, para se referir ao controle de um estrato social sobre outro, o conceito de violência simbólica, legitimadora da dominação e posta em prática por meio de estilos de vida. Isso explicaria por que é tão difícil alterar certos padrões sociais: o poder exercido em campos como a linguagem é mais eficiente e sutil do que o uso da força propriamente dita.
OS SUTIS ARTIFÍCIOS DA PERPETUAÇÃO
Para Bourdieu, (1984, p, 48)
A escola é um espaço de reprodução de estruturas sociais e de transferência de capitais de uma geração para outra. É nela que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural. E este, segundo o sociólogo, está diretamente relacionado ao desempenho dos alunos na sala de aula. Eles tendem a ser julgados pela quantidade e pela qualidade do conhecimento que já trazem de casa, além de várias “heranças”, como a postura corporal e a habilidade de falar em público. Os próprios estudantes mais pobres acabam encarando a trajetória dos bem-sucedidos como resultante de um esforço recompensado. 
 Uma mostra dos mecanismos de perpetuação da desigualdade está no fato, facilmente verificável, de que a frustração com o fracasso escolar leva muitos alunos e suas famílias a investir menos esforços no aprendizado formal, desenhando um círculo que se auto alimenta. Nos primeiros livros que escreveu, Bourdieu previa a possibilidade de superar essa situação se as escolas deixassem de supor a bagagem cultural que os alunos trazem de casa e partissem do zero. Mas, com o passar do tempo, o pessimismo foi crescendo na obra do sociólogo: a competição escolar passou a ser vista como incontornável.
PARA PENSAR
 Frequentemente fazemos, sem perceber, julgamentos severos com base em motivos nada consistentes ou, pior, preconceituosos. Na escola, é comum alunos serem discriminados por causa de sua aparência e seus hábitos. 
(Bourdieu et al., (1990. P,80).
 A ideia, antipositivista, é de que se nos lançarmos à análise sem um quadro teórico prévio, não faremos ciência. De que uma tabela estatística, uma observação, consideradas isoladamente, não desvelam as aparências, não constituem uma vitória dos fatos, mas uma vitória sobre os fatos.
 A teoria que Bourdieu leva à prova empírica não é um modelo, mas um referencial de conceitos relacionais acampo estratégia que são tanto a grade quanto o conteúdo da explicação. A construção ou teorização, que completa a etapa propriamente estruturalista da forma de investigar de Bourdieu, encerra em si os pecados do estruturalismo convencional: a idealidade, o ser puramente descritivo e a impossibilidade de integralizar elementos cuja conceitualização é difícil, tais como estilo ou jeito, ou impossível, como acontecem com as estratégias, os modos de proceder individualizados que sustentam ou solapam o modelo vigente em um campo. Ele se previne contra estes riscos mediante a imersão na particularidade empírica situada e datada, condição essencial para se compreender a lógica mais profunda da realidade do social e determinar o invariante, a estrutura, no variante observado (Bourdieu, 1992, p. 16)
 Os críticos de Bourdieu não aceitam, sobretudo, a concepção utilitarista, a redução da vida social à lógica do interesse e da concorrência. Foi responsabilizado por ter contaminado suas análises com as mágoas acumuladas ao longo da sua difícil trajetória pessoal — de filho de um humilde funcionário do interior até o cume da aristocracia intelectual francesa — e de ter estabelecido um modelo determinista na apreciação do social. Apesar da sua inquietação a respeito do problema da refletividade, a objetividade do seu método é questionada, já que, seguindo a sua própria lógica, ela só seria possível mediante a neutralização dos interesses econômico, social, culturale simbólico do pesquisador (Maton, 2003). 
 Bourdieu incomodou muita gente. Foi um pensador original, um crítico impiedoso. Tinha alguns dos defeitos comuns às inteligências privilegiadas: a vaidade não sendo o único. Mas teve o mérito de sacudir o marasmo político e intelectual da sua época. Como ativista político, tentou opor violência simbólica à violência simbólica. Como pesquisador, trouxe uma contribuição inestimável à discussão epistemológica e ampliou significativamente a temática das ciências humanas e sociais. 
 Bourdieu faz uma análise sobre as desigualdades escolares estruturadas nas desigualdades sociais, desvendando o mito dos “talentos” ou “dons” naturais. O objetivo do autor é analisar os mecanismos implícitos na constituição e manutenção da sociedade estudantil e do capital captado e re-captado por esta mesma sociedade para a “perpetuação” do sistema analisado em questão. 
 Os indivíduos, por sua vez, se posicionam nos campos de acordo com o capital acumulado – que pode ser social, cultural, econômico e simbólico. O capital social, por exemplo, corresponde à rede de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Já na educação se acumula sobretudo capital cultural, na forma de conhecimentos apreendidos, livros, diplomas etc.
Para Bourdieu, a escola é um espaço de reprodução de estruturas sociais e de transferência de capitais de uma geração para outra. É nela que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural. E este, segundo o sociólogo, está diretamente relacionado ao desempenho dos alunos na sala de aula. Eles tendem a ser julgados pela quantidade e pela qualidade do conhecimento que já trazem de casa, além de várias “heranças”, como a postura corporal e a habilidade de falar em público. Os próprios estudantes mais pobres acabam encarando a trajetória dos bem-sucedidos como resultante de um esforço recompensado. Uma mostra dos mecanismos de perpetuação da desigualdade está no fato, facilmente verificável, de que a frustração com o fracasso escolar leva muitos alunos e suas famílias a investir menos esforços no aprendizado formal, desenhando um círculo que se auto-alimenta. Nos primeiros livros que escreveu, Bourdieu previa a possibilidade de superar essa situação se as escolas deixassem de supor a bagagem cultural que os alunos trazem de casa e partissem do zero. Mas, com o passar do tempo, o pessimismo foi crescendo na obra do sociólogo: a competição escolar passou a ser vista como incontornável.
Escritos de Educação por Pierre Bourdieu
 As artimanhas da razão imperialista, Bourdieu analisa que a tendência do imperialismo cultural é colocar dentro do âmbito escolar uma visão única e verdadeira, em que dogmas como saber é poder “reinam” à vontade. A moeda de troca é o acúmulo de capital intelectual, deixando de lado as identidades sociais, históricas, culturais e políticas particulares dos envolvidos no processo educacional em questão. 
No texto Método científico e hierarquia social dos objetos são analisados os campos de produção simbólica regidos pela hierarquia dos objetos legítimos, possíveis de legitimação ou irrelevantes, dependentes do momento histórico, social, pela classe intelectual e pelas disciplinas científicas em questão. 
Bourdieu deixa claro que um dos mecanismos para a “separação” dos temas ou assuntos) relevantes e não relevantes a um determinado sistema educacional ou campo cientifico, é a conivência da opinião de um determinado grupo (social ou intelectual) sobre um tema, ou um objeto socialmente reconhecido ou não pelos envolvidos no “julgamento”, conforme o contexto histórico em questão. Observa que os objetos “irrelevantes” (temas ou assuntos), conforme a “comissão julgadora” são passíveis de censura, de modo a serem tomados como “impróprios” ou temas “sem importância” em dado contexto histórico. 
Em A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura, Bourdieu analisa o capital cultural caracterizado por uma “perpetuação” de um sistema de valores sociais, determinados pela união de conhecimentos, informações, sinais linguísticos, posturas e atitudes com suas particularidades que traçam a diferença de rendimentos acadêmicos frente à escola. 
Verifica que para a trajetória escolar, traçada como uma “linha”, sem obstáculos no campo de produção/reprodução simbólico, exige-se, consciente ou inconscientemente, dos participantes do processo escolar, o relacionamento natural e familiar com o conhecimento e com a linguagem, o que diferencia a relação com o saber, mais do que o saber em si. Assim, os relacionamentos “positivos” com o conhecimento, considerando a qualidade linguística e o capital cultural são, segundo o autor, adquiridos no seio familiar. Esse mecanismo acontece através de uma aprendizagem difundida explicitamente por pensamentos e ações característica das classes sociais cultas e, implicitamente, existindo o “reforço” familiar no sentido de compactuar a cultura, conhecimento, pensamento e ações característicos da classe dominante. 
O autor prossegue em suas considerações com Os três estados do capital cultural e O capital social – notas provisórias, em que reflete sobre o relacionamento entre capital cultural, a origem social e a trajetória escolar, desvendando os mitos do “dom” e “talento” naturais. 
Em Os três estados do capital cultural, Bourdieu analisa o capital cultural sob três formas: estado incorporado, estado objetivado e estado institucionalizado. 
No estado incorporado, Bourdieu afirma que a assimilação, “enraizamento”, incorporação e durabilidade do capital cultural em um determinado sistema demandam tempo e somente podem ocorrer de forma pessoal, não podendo ser “externado”, pois perderia a característica própria de capital cultural da instituição. 
No estado objetivado, o capital cultural aparece na aquisição de bens culturais (escritos, livros, pinturas, etc.), através do capital econômico, sendo indispensável a “posse” do capital cultural incorporado, por possuir os mecanismos de apropriação e os “símbolos” necessários à identificação do mesmo. 
Sobre o capital institucionalizado, o autor discorre que a “concretização” do mesmo ocorre na “propriedade cultural” dos diplomas e sua aquisição. 
Para Bourdieu, o capital social é um mecanismo estratégico para difusão de relações em um determinado sistema social, onde a quantidade de volume de capital social e econômico possuídos determina a rede de relações sociais que se pode mobilizar. 
No texto Futuro de classe e causalidade do provável, é analisado o habitus, “sistema de disposições duráveis”, no qual a família tem papel fundamental no que diz respeito à “perpetuação” das estratégias de produção e reprodução de capitais (social, econômico, intelectual etc.) para manter ou melhorar a posição de um determinado grupo social em um sistema de classes. Observa a funcionalidade implícita dos mecanismos e estratégias de manutenção e acúmulo de capitais por meio de investimentos na educação e de casamentos por conveniência. Afirma que, determinado momento histórico pode demandar a transformação de um capital obsoleto para um mais rentável, conforme o “mercado” de capitais. Ou seja, as famílias podem mudar suas estratégias “revezando” seu patrimônio, entre: capital cultural, social, ou econômico. 
Em O diploma e o cargo: relações entre o sistema de produção e o sistema de reprodução, Bourdieu e Boltanski analisam as relações entre o sistema de ensino e o de produção trabalhista, verificando que a “qualificação” e a “capacidade” do indivíduo (agente) são as moedas do mercado de trabalho utilizadas amplamente no sistema escolar. Constata o autor, em Classificação, desclassificação, reclassificação, a existência das estratégias de reprodução, explícita ou implicitamente, com o objetivo de investimentos no capital escolar, visando à obtenção de graduações em cursos e carreiras bastante prestigiados.As categorias do juízo professoral: Pierre Bourdieu, juntamente com Saint-Martin, analisa o sistema de desclassificação e classificação escolar, conforme a avaliação do sistema escolar estruturado em um juízo de valor que pode valorizar, ou não, a “intimidade” do indivíduo (agente) com o saber. A forma que seus pensamentos e ações “compactuam” com a forma de “pensar” da instituição escolar, pode contribuir para as desigualdades escolares. 
Os excluídos do interior: Bourdieu e Champagnhe analisam as desigualdades escolares, em que a exclusão intra-escolar daqueles de classe menos abastadas ocorre implicitamente no preenchimento de vagas em cursos menos disputados, onde a correlação entre proveito e benefícios escolares é considerada para profissões de baixa remuneração, tornando o sistema escolar das profissões de “alto gabarito” reservado a alguns poucos. 
Em As contradições da herança, Bourdieu verifica o papel do capital social, econômico e escolar e de que forma são repassados no seio familiar para a construção de uma identidade (no capítulo, ressalta-se o papel do pai), que é sujeita à aceitação, ou não, nos sistemas escolares e, conforme o momento histórico, determina o desempenho escolar. 
Este livro é fundamental para se entender a complexidade de atitudes e idéias predominantes dentro de um espaço intraescolar e o seu significado implícito, no que se diz respeito às dimensões do capital intelectual produzidos por uma sociedade dominante. O livro traduz muito bem o que venha a ser “hierarquia intelectual” na diversidade cultural dentro de um sistema escolar. Vale a pena conferir. 
Referências bibliográficas 
NOGUEIRA, Maria Alice Nogueira; Catani, Afrânio. (Orgs.) (1998). Pierre Bourdieu. Escritos em Educação. Petrópolis: Vozes. 
Bourdieu escapa à rigidez universalista do estruturalismo ao operar com a dinâmica das relações sociais. Na medida em que os campos estão em permanente ebulição, as estruturas podem ser subvertidas, sofrerem influências aleatórias. Uma vez em que estruturam o campo, elas são continuadas, mas não são permanentes. Isto é, a estrutura se reproduz, mas, dependendo dos resultados das lutas internas, da influência da lutas externas em outros campos, ela pode não conservar a integridade dos seus elementos. As posições podem ser alteradas. Por exemplo, o campo simbólico pode se sobrepor a outro, como a moda se sobrepõe à lógica econômica em determinadas circunstâncias e épocas. A estrutura de um campo é um estado das relações de força entre os agentes ou as instituições que lutam para determinar a distribuição do capital específico, acumulado no curso de lutas anteriores, que orienta as estratégias vindouras (Bourdieu, 1984:114).
Ao seguir Bourdieu, não devemos privar a análise da abstração. Havendo recuperado a subjetividade objetiva, o indivíduo desencarnado das estatísticas, devemos recuperar a objetividade subjetiva, o social no indivíduo. Ele tendo presente que o habitus do observador pode levar a considerar como constatação o que é aspiração, que as respostas obtidas nos questionários tendem a ser sinceramente equivocadas; que a "opinião pessoal" tende a refletir a doxa ética, política, estética do campo (Bourdieu, 2001:83 e segs.), devemos interpretar efeitos como o de hystérésis, a separação entre o habitus e o campo, que pode ser tanto espacial como temporal, e da inércia, a permanência de elementos herdados de situações e estruturas passadas. 
Na prática, Bourdieu procede a busca da lógica das ações como produto do habitus no meio considerado. Ao analisar as estruturas internas do campo, ele produz interpretações conforme um projeto, um instrumento pelo qual o sentido é reintroduzido nas relações estatísticas (Bourdieu, 2005:191; Delsault, 2005:222). Para concluir a pesquisa devemos nos colocar as questões de saber: como são adquiridas as estruturas cognitivas, isto é: quais os capitais, principalmente, qual o capital simbólico em jogo? Como o mundo é percebido, dividido, registrado pelos agentes? Como as estruturas cognitivas se ajustam às estruturas objetivas? E de precisar: quais as coerções, quais as relações de dominação que elas exercem? Quais os interesses de perpetuação da riqueza, do status, da dominação envolvidos? Quais os grupos de interesse? Quais os conflitos que se dão no interior do campo? Ao respondê-las, encerramos o ciclo investigatório que desvela a síntese da problemática geral do campo. 
6. Crítica e herança
Bourdieu construiu uma teoria da prática, que pode ser contestada, o que só lhe confere mérito científico, e que contém os elementos da sua superação, o que a constitui como referência obrigatória no pensamento social deste início de século. Seu trabalho marca o "retorno ao sujeito" e a inflexão interpretativa que deságuam nas teorias da crítica social da atualidade. 
As maiores resistências à Bourdieu se encontram entre os partidários do individualismo metodológico — corrente segundo a qual os fenômenos sociais são o resultado de escolhas individuais racionais, tenha esta racionalidade raiz econômica ou outra qualquer — que não aceitam o "determinismo social" implicado no seu trabalho, que daria o indivíduo como marionete animada por uma lógica que o ultrapassa (Bonnewitz, 1998:37). Os individualistas recusam a concepção unilateral da pessoa como agente de e a partir de um grupo social, de um campo de forças que não leva em conta atores, agentes e instituições sem papel relevante no jogo concorrencial, como, por exemplo, os atores do universo familiar. Consideram que a interação de ações individuais, ainda que modificando a sociedade, não a reproduz de forma idêntica. 
Também são avessas às teorias de Bourdieu as correntes convencionalistas, da teoria da ação (Thévenot, Boltanski e outros), e as que trabalham com a noção evolucionista de tipos de sociedade caracterizadas por um conflito social determinante, como por exemplo a idéia da sucessão da sociedade industrial pela pós-industrial (Tourrain, Dubet e outros). Os partidários dessas correntes não aceitam nem o conceito de /habitus/, que desconsideraria as relações de cooperação, de amizade, de responsabilidade etc., nem o conceito de /campo/, que não daria conta da mudança social e da inovação (efeitos de inércia e hystérésis). Argúem que a idéia de estratégias de conservação e acumulação de capital reduz o social a um mercado em que os ganhos materiais e simbólicos seriam maximizados, e que a ampliação das possibilidades de autonomia e a indução à individualidade fizeram do conflito social biunívoco, seja a luta de classes, seja a luta entre dominantes e dominados, uma noção obsoleta. 
Os críticos de Bourdieu não aceitam, sobretudo, a concepção utilitarista, a redução da vida social à lógica do interesse e da concorrência. Argumentam que uma vez que o capital econômico é a base da constituição de outras formas de capital, a concepção de campo "relativamente autônomo", não é generalizável, já que tal "relatividade" compreenderia um amplo espectro indeterminado de possibilidades. Outros, enfim, criticam a aproximação de Bourdieu com as ciências monológicas, não-históricas, como, por exemplo, de Giddens (1978), que julga o conhecimento teórico e o conhecimento prático como "entrelaçados". 
Apesar dessas críticas, muitos pesquisadores e teóricos tomam emprestados os conceitos de Bourdieu, seja para aprofundá-los, seja para aplicá-los a contextos diferentes. É o caso de Boltanski e Thevenot (1991), que mostraram como a noção de /quadros/ foi produzida como categoria por um trabalho de representação e de codificação — as lutas de classificação, em que cada grupo tenta impor sua representação subjetiva como representação objetiva. É o caso de Kaufman (2001) e de Lahire (1998), que rediscutem o campo e o /habitus/, para incluir o ator social plural a partir da constatação de que as disposições interiorizadas não são unas, mas variáveis ao longo da vida. De que há repertórios de influência, que constituem estoques de disposições que podem ou não serem ativadosao longo da trajetória dos agentes. 
Ainda em vida, Bourdieu foi acusado de não citar os autores de quem toma emprestado seus conceitos e de não dar crédito aos seus colaboradores (Singly, 1998). Foi responsabilizado por ter contaminado suas análises com as mágoas acumuladas ao longo da sua difícil trajetória pessoal — de filho de um humilde funcionário do interior até o cume da aristocracia intelectual francesa — e de ter estabelecido um modelo determinista na apreciação do social. Apesar da sua inquietação a respeito do problema da reflexividade, a objetividade do seu método é questionada, já que, seguindo a sua própria lógica, ela só seria possível mediante a neutralização dos interesses econômico, social, cultural e simbólico do pesquisador (Maton, 2003). 
Bourdieu incomodou muita gente. Foi um pensador original, um crítico impiedoso. Tinha alguns dos defeitos comuns às inteligências privilegiadas: a vaidade não sendo o único. Mas teve o mérito de sacudir o marasmo político e intelectual da sua época. Como ativista político, tentou opor violência simbólica à violência simbólica. Como pesquisador, trouxe uma contribuição inestimável à discussão epistemológica e ampliou significativamente a temática das ciências humanas e sociais. 
Pierre Bourdieu, vie, œuvres, concepts. Paris: Ellipses Éditions Marketing, 2002.] BOURDIEU, Pierre. La distinction. Paris: Les Éditions de Minuit, 1979
Como se pode ver, é no radicalismo da explicação sociológi​ca e em sua capacidade de desvelar estruturas e estratégias ocultas que Pierre Bourdieu deposita toda sua esperança, e foi a ela que dedicou sua vida. É na dimensão crítica dessa perspectiva, que considera o religioso, o econômico, o político, o educacional apenas como metáforas do social, que se pode encontrar uma chave de interpretação teórica, embora sem​pre se corra o risco de cair num círculo vicioso ou, o que seria ainda pior, de se perder num enigma sem resposta (no paradoxo de Epiménides). Como aponta o próprio autor, “ensinar [e pesquisar] não é uma ativida​de como as outras, porque supõe muitas virtudes, muita generosidade e devoção, mas sobretudo muito entusiasmo e idealismo” (BOURDIEU, 1985, p. 19). Pelo fato de que o sistema de ensino tende a se tornar o instrumento oficial da (re)distribuição do direito para ocupar uma parte sem cessar crescente das posições e um dos principais instrumentos da conservação ou da transformação da estrutura das relações de classe pela mediação da manutenção ou da mudança da quantidade e da qua​lidade (social) dos ocupantes das posições nessa estrutura, o número dos agentes individuais ou coletivos (associações de pais de alunos, ad​ministração, chefes de empresas etc.) que se interessam por seu funcio​namento e pretendem modificá-lo por esperarem a satisfação de seus interesses tende a aumentar. 
Como podemos trabalhar com Pierre Bourdieu? Parece-nos que são justamente os desafios que sua reflexão estimula que podem “iluminar” o trabalho do sociólogo, que ocupa uma posição no interior de um univer​so prestigioso e privilegiado como a universidade. Sua crítica parece-nos VALLE, I. R. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 13, n. 38, p. 411-437, jan./abr. 2013 434 
fundamental, particularmente em relação ao trabalho sociólogo da educa​ção que se debruça sobre o significado da seleção escolar, o problema do capital linguístico e dos fatores sociais da comunicação pedagógica, os as​pectos identitários da função docente, as funções socioculturais e a retóri​ca acadêmica, o papel conservador dos valores escolares tradicionais. Além disso, o significado dos exames e processos avaliativos como expressão da lógica própria e relativamente autônoma da instituição escolar e, ao mesmo tempo, como meio de dissimular a seleção social e profissional sob as apa​rências de uma seleção técnica, o problema das finalidades da educação es​colar e a questão do reformismo pedagógico numa sociedade caracterizada pela desigualdade, pela dominação, pela violência nem sempre só simbólica.

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