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saude mental e serviço social

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AUTARQUIA EDUCACIONAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO-AEVSF
FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS E SOCIAIS DE PETROLINA-FACAPE
COLEGIADO DE SERVIÇO SOCIAL
 
LUSMARA OLIVEIRA ROSA
 
SAÚDE MENTAL FRENTE À POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS-ad
 
PETROLINA
2017
LUSMARA OLIVEIRA ROSA
SAÚDE MENTAL FRENTE À POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS-ad
Esse Projeto de Pesquisa foi solicitado pela Prof.ª Andréa Alice, como forma de avaliação na segunda unidade da disciplina de Programas e Projetos Sociais.
PETROLINA
2017
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4
REFERENCIAL TEÓRICO .................…….............................................................. 6
2.1 O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES EM SAÚDE MENTAL E A REFORMA PSIQUÁTRICA BRASILEIRA .........................................................................……………………….. 7
2.2 POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E O CAPS-ad...................………………………………………………………………………………………………. 8
2.3 ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: O INDIVÍDUO E A FAMÍLIA FRENTE À POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS ................................................................................……………………….. 10
2.4 O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS-ad.…..13
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 15
SAÚDE MENTAL FRENTE À POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS-ad
1. INTRODUÇÃO 
O projeto de pesquisa busca de maneira reflexiva compreender os desafios do profissional, para a efetivação do seu trabalho no atendimento psicossocial, as questões relacionadas ao uso abusivo de álcool e outras drogas que gera reflexos negativos para os usuários tanto no âmbito pessoal, como da família e sociedade, com isso analisar a prática do assistente social que trabalha nos Centros de Atenção Psicossocial em Álcool e outras Drogas – CAPS-ad com base no projeto ético-político profissional do Serviço Social.
Com os avanços nas áreas de atuação do Serviço Social tem ampliado os campos de atuação para o profissional, que defende a universalidade de assistência à saúde enquanto direito do cidadão e dever do Estado. Na área de saúde mental não tem sido diferente, o assistente social no Caps-ad acolhe os usuários de maneira profissional, respeitando os direitos do individuo compreendendo ele como ser humano como um todo, contextualizando a saúde metal a partir do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental e da reforma psiquiátrica brasileira trazendo reflexões criticas em relação ao cotidiano, a esses centros especializados para o tratamento de transtornos derivados do uso abusivo do uso e/ou dependência de drogas, trazendo a proposta do Ministério da Saúde identificando como o uso do álcool e outras drogas afetam o indivíduo e a família, a partir dessa concepção compreender a política de redução de danos para os usuários buscando trabalhar com a perspectiva de respeito e liberdade na escolha do usuário em interromper ou não o uso das drogas. Com isso quebrar paradigmas cristalizados na sociedade sobre os usuários de drogas, relacionados à percepção de vê-lo como marginais, irresponsável e sem dignidade, com isso refletir sobre o processo de trabalho do assistente social perante o usuário do serviço de atenção psicossocial e as suas das demandas.
A partir da vivência de estágio do meu curso técnico em enfermagem no ano de 2015 na área de psiquiatria, na Associação São Franciscana Assist. Psicopata Desvalido - Sanatório Nossa Senhora de Fátima em Juazeiro-BA, observei que não tinha profissionais da área de serviço social para compor a equipe e dessa maneira a observação dos pacientes era compreendida somente pelas necessidades de cuidados paliativos e humanizados que os profissionais de enfermagem realizam, a estrutura do hospital psiquiátrico é assustadora tanto para os pacientes, como para pessoas que não conhecem o ambiente, muitos corredores, portas, cadeados, grades, pessoas de todas as idades internadas em um ambiente que não oferecia nenhuma melhora para os seus tratamentos, pois é uma medida imediatista, muitas vezes um só medicamento podia ser usado para todos os pacientes do serviço de saúde mental. Com isso trago uma breve anamnese de um dos pacientes que fiz o estudo de caso na época: “apresenta sintomas psiquiátricos ha 20 anos, com vários internamentos neste serviço, há mais ou menos 30 dias vem apresentando agressividade, discurso delirante, ameaçadora, causando tumulto na vizinhança, mania de perseguição, insônias, recusa medicação via oral. Infância normal estudou ate a 8ª serie do ensino fundamental, teve vários relacionamentos amorosos, mãe de 2 filhos, já trabalhou na agricultura e como empregada domestica, morou um período em Feira de Santana”. Esse breve histórico revela que a paciente que estava em medida de internação, mas não foi por vontade própria, ela não escolheu essa forma de tratamento para o seu transtorno mental.
 Dessa forma, quando iniciei o estágio no Centro de Atendimento Psicossocial – Álcool e outras Drogas na primeira observação de um acolhimento da assistente social, percebi que o CAPS possui outra maneira de atendimento com os usuários, eles são ouvidos a partir das suas demandas, e são tratados quando os mesmos reconhecem a importância do tratamento e do serviço prestado, não há um tratamento compulsório. 
Quanto aos fins o procedimento do projeto é de natureza exploratória e descritiva, que segundo Gil (2008) se da a partir de materiais que permitem “maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explicita ou a construir hipóteses” para que sejam elaboradas as descobertas de análises acerca de um problema. Deve se caracterizar descrevendo características e objetivos necessários para estudar um determinado grupo na sociedade e suas relações entre variáveis, podendo utilizar a coleta de dados e questionários, porém não foi possível realizar a coleta de dados em razão do quadro de funcionários do serviço que está em rotatividade e os profissionais que estão na coordenação do serviço não foram treinados para o serviço, mas estão aprendendo a cada dia a desenvolver suas atividades.
Quanto aos meios da pesquisa, se deu de maneira bibliográfica que conforme GIL (2008), “é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”, dessa maneira permitiu a análise o tema. Foram desenvolvidas a partir do estudo de diversos livros e publicações do Ministério da Saúde, sobre o Centro de Atendimento Psicossocial: Álcool e outras Drogas, que oferece atendimento ao usuário com transtornos mentais em decorrência do uso abusivo de substâncias psicoativas, drogas licitas ou ilícitas, e quadros de dependência, com destaque para a prevenção de recaída e a redução de danos. 
2. REFERENCIAL TEÓRICO 
2.1 O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES EM SAÚDE MENTAL E A REFORMA PSIQUÁTRICA BRASILEIRA
A Reforma Psiquiátrica no Brasil iniciou-se nos anos 70 com o surgimento do movimento sanitário, que buscava mudanças na gestão das práticas de saúde, na equidade dos benefícios ofertados aos usuários dos serviços de saúde. Essas mudanças se voltavam principalmente para o modelo de assistência existente no hospital psiquiátrico, e alinhavam com os movimentos sociais pelos direitos dos pacientes. O Ministério da Saúde destaca que “o processo da Reforma Psiquiátrica brasileira é maior do que a sanção de novas leis e normas e maior do que o conjunto de mudanças nas políticas governamentaise nos serviços de saúde”.
A Reforma Psiquiátrica não é apenas um processo relacionado à saúde, inclui o político e o social muito complexo, pois, são varias esferas composta por instituições, diferentes origens de forças, com ampla abrangência nos governos federal, estadual, municipal, nas universidades, nos conselhos profissionais das áreas de ciências humanas e sociais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, no mercado dos serviços de saúde, nos movimentos sociais entre outros campos. Dessa forma, o processo da Reforma Psiquiátrica é marcado por tensões, conflitos e muitos desafios, porque compreende todo o conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais.
A partir do ano de 1978 o movimento social em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), as associações de familiares, sindicalistas e pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas iniciaram a luta pela garantia dos direitos dos pacientes psiquiátricos no Brasil. É a partir desse momento que começam as denúncias de violência, das condições precárias de atendimento e as péssimas condições sanitárias dos manicômios, da mercantilização da loucura, a construção da crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência as pessoas com transtornos mentais, com todos esses movimentos começam a surgir os centros especiais para a saúde mental.
Neste período, são de especial importância o surgimento do primeiro CAPS no Brasil, na cidade de São Paulo, em 1987, e o início de um processo de intervenção, em 1989, da Secretaria Municipal de Saúde de Santos (SP) em um hospital psiquiátrico, a Casa de Saúde Anchieta, local de maus-tratos e mortes de pacientes. É esta intervenção, com repercussão nacional, que demonstrou de forma inequívoca a possibilidade de construção de uma rede de cuidados efetivamente substitutiva ao hospital psiquiátrico. Neste período, são implantados no município de Santos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) que funcionam 24 horas, são criadas cooperativas, residências para os egressos do hospital e associações. A experiência do município de Santos passa a ser um marco no processo de Reforma Psiquiátrica brasileira. Trata-se da primeira demonstração, com grande repercussão, de que a Reforma Psiquiátrica, não sendo apenas uma retórica, era possível e exequível. (Reforma Psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Pág. 7)
Os profissionais que lutam pelo Movimento Antimanicomial atuam nas instituições manicomiais, e por ter vivencia nesses espaços compreendendo a forma violenta no tratamento das pessoas com transtornos mentais, passaram a lutar pelo fim do manicômio, buscando a implementação de instituições abertas, que tenham no seu bojo o respeito aos direitos dos seus usuários, indicando novas áreas de referenciais terapêuticos. Dessa maneira o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) dá lugar ao Movimento da Luta Antimanicomial, configurando-se, então, um movimento social.
O Movimento Antimanicomial, que enfatizou a necessidade de transformações do modelo da assistência à saúde mental oferecida no país, conta com a participação dos técnicos, de usuários dos serviços de saúde mental e de familiares desses usuários, e organizou sua estrutura administrativa como fórum nacional, congregando várias entidades, como Organizações Não-Governamentais e Conselhos de familiares de usuários. (CORREIA, pág. 86)
Ao longo desses anos, vários núcleos se formaram nos Estados brasileiros, que por meio dos movimentos obteve a aprovação de leis estaduais de Reforma Psiquiátrica, tendo aspectos importantes em relação à complexidade, a diversidade e enfatizando a busca pela pluralidade, que hoje conta com a participação de vários setores da sociedade, familiares e até os próprios usuários. Com isso compreendendo a inserção da Politica Nacional de Promoção da Saúde no campo da saúde mental e do Caps, que iremos ver no próximo tópico. 
2.2 POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E O CAPS-AD
A partir da criação da Politica Nacional de Promoção de Saúde, do Ministério de Saúde em 2006 como estratégia de promover a saúde e destacar aspectos que determinam o processo relacionado ao adoecimento no país, como o desemprego, a violência, a falta de saneamento básico, a falta de habitação ou a ausência dela, a fome entre outros que podem intervir na saúde. A partir disso, articulou com o SUS estratégias de produção e promoção a saúde através de politicas e tecnologias que desenvolvam ações que possibilitem respostas as necessidades da saúde brasileira.
Segundo a Constituição Federal em seu artigo 196 na seção II da Saúde: 
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Desta forma o Ministério da Saúde descreve que para promover a saúde é necessária a participação de todos, havendo uma necessidade de produção de práticas, conhecimento no campo da saúde e das politicas públicas onde há uma transversalidade em relação aos fatores da sociedade sobre as diferentes necessidades, territoriais e culturais do nosso país. 
A saúde, como produção social de determinação múltipla e complexa, exige a participação ativa de todos os sujeitos envolvidos em sua produção – usuários, movimentos sociais, trabalhadores da Saúde, gestores do setor sanitário e de outros setores –, na análise e na formulação de ações que visem à melhoria da qualidade de vida. (Política Nacional de Promoção da Saúde. pág. 12)
No Brasil o enfrentamento na produção da saúde é um desafio diante do cenário sócio histórico que a cada dia fica mais complexo e exige de todos uma qualificação contínua sobre os mecanismos de implantação e fortalecimento de todos os setores que abrangem a saúde, sejam elas do governo, do setor privado, não governamental e da sociedade. Essa articulação, portanto é de responsabilidade do sujeito como coletivo, do público e do privado, do Estado e da sociedade, dos setores sanitários e entre outros setores que visam romper o processo de adoecimento e busca reduzir a vulnerabilidade e os riscos que são produzidos.
A partir das politicas de promoção a saúde surgiu às redes de atenção às pessoas que sofrem de transtornos mentais interligando a família, a comunidade e a todos os interessados. Essas redes tem um suporte de todos os recursos necessários para a melhor integração e reabilitação psicossocial do usuário, como as relações familiares, culturais, sociais, econômicos, religiosos entre outros. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) exercem a função de articular entre as redes existentes na comunidade trabalhando em conjunto, com função na assistência direta.
O CAPS é um Centro de Atenção Psicossocial composto por profissionais qualificados de diversas áreas, que acolhem pacientes com transtornos mentais, com a finalidade de estimular a sua ressocialização e integração no ambiente familiar, incentivando a autonomia para o trabalho e incorporando em espaços sociais e culturais. O primeiro CAPS do Brasil foi inaugurado em março de 1986 na cidade de São Paulo: Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS da Rua Itapeva. 
Assim como os CAPS existem outras redes que compõem a rede do Sistema Único de Saúde, como os NAPS (Núcleos de Atenção Psicossocial), os CERSAMs (Centros de Referência em Saúde Mental), entre outros serviços substitutos que tem surgido no país. De acordo com o Ministério da Saúde todas essas redes são regulamentadas por uma portaria:
Portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002 e integram a rede do Sistema Único de Saúde, o SUS. Essa portaria reconheceu e ampliou o funcionamento e a complexidade dos CAPS, que têm a missão de dar um atendimento diuturno às pessoas que sofrem com transtornos mentais severos e persistentes, num dado território, oferecendocuidados clínicos e de reabilitação psicossocial, com o objetivo de substituir o modelo hospitalocêntrico, evitando as internações e favorecendo o exercício da cidadania e da inclusão social dos usuários e de suas famílias. (Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial. Pág. 12). 
O Ministério da Saúde descreve que o CAPS tem história nos movimentos sociais “inicialmente de trabalhadores de saúde mental, que buscavam a melhoria da assistência no Brasil e denunciavam a situação precária dos hospitais psiquiátricos, que ainda eram o único recurso destinado aos usuários portadores de transtornos mentais”.
Dessa forma o manual do CAPS (BRASIL, 2004) descreve os serviços diferenciados de acordo com cada perfil do usuário, desde a estrutura física, as atividades e equipamentos. 
CAPSad: CAPS para usuários de álcool e drogas, para atendimento diário à população com transtorno mental decorrentes do uso e dependência de substancias psicoativas, como álcool e outras drogas. Esse tipo de CAPS possui leitos de repouso com a finalidade exclusiva de tratamento de desintoxicação. (BRASIL, 2004, p. 22)
No Brasil a saúde mental vem passando por diversas mudanças de percepção em relação ao portador de sofrimento psíquico. Antigamente a loucura/insanidade era considerada como uma ameaça à paz da sociedade, portanto as pessoas que sofriam com esses problemas eram excluídos, punidos, jogados de escanteio, muitas vezes visto como um problema de conduta. Essa exclusão era maquiada a partir dos espaços designados para o “tratamento” da doença.
É somente no início do século passado que a loucura ascende à categoria de doença mental. Nessa época, os loucos se disseminavam indiferentemente entre os hospitais gerais, as casas, de detenção, as casas de caridade, os depósitos de mendigos e as prisões familiares. Nessa época, a loucura figura claramente como estigma, isto é, como sinal distintivo e significante da pertinência do louco à categoria das "classes perigosas". A psiquiatria, então, ainda não se havia firmado, apropriando-se da insanidade como objeto próprio dentro da legitimidade do seu saber e de sua técnica (VIEIRA, 1981, p. 50). 
E só a partir da Segunda Guerra Mundial, o Estado assume o papel de garantir também o direito à saúde compreendendo que a loucura como uma doença, que requer tratamento buscando a melhora no atendimento das pessoas portadoras de sofrimentos psíquicos. O Serviço Social na saúde mental trabalha nas diversas expressões da questão social, compreendendo o ser humano como um todo como a vulnerabilidade em que as pessoas com transtorno mental vivenciam o preconceito, que pode aparecer de varias maneiras iniciando principalmente no convívio familiar, busca desconceituar que esses usuários devem ser excluídos do convívio social, apresentando uma perspectiva de tratamento inovador que concretiza dos direitos dos cidadãos. Observando que a família é fundamental como apoiador para o indivíduo que busca o tratamento no serviço de saúde mental caps-ad. 
2.3 ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: O INDIVÍDUO E A FAMÍLIA FRENTE À POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS 
O uso das drogas pode ser associado a diversos fatores, a sociedade está sempre com um discurso do uso da bebida alcoólica, por exemplo, que pode ser utilizado de diversas maneiras, como um ato de comemoração ou até em momentos de tristeza, dessa forma banalizando o uso da droga. Fatores esses que contribuem para o aumento excessivo de uso de álcool, que muitas vezes os usuários associam com outros tipos de drogas e começam a surgir outros transtornos e alterações fisiológicas. Na cartilha sobre a política de redução de danos, descreve que muitos dos comportamentos são estimulados pela nossa cultura. 
Tratam-se de comportamentos passíveis de um padrão repetitivo e compulsivo que se tornam meios de anestesiar e postergar, quando não impedir, a elaboração de conflitos. Na dependência, o indivíduo, em vez de enfrentar a realidade e lidar com suas vicissitudes, transforma apenas sua percepção da realidade como forma de alienação. O uso de drogas pode ser associado à necessidade de alívio da angústia inerente à condição humana. Quando se pensa em prevenção, o desafio é encontrar outras maneiras de tornar essa angústia suportável, visando transformação e, não, alienação. (Drogas e Redução de Danos: uma cartilha para profissionais de saúde. Pág. 7-8)
A Redução de Danos teve inicio no Brasil no ano de 1989 no município de Santos-SP, como forma estratégica de saúde pública, pois nessa época os altos índices de transmissão de HIV tinham relação direta com o uso indevido de drogas injetáveis, para Mesquita (1991 apud PASSOS; SOUZA 2011, p.157) “dados epidemiológicos indicavam que 51% dos casos de contaminação de HIV/AIDS estavam relacionados ao compartilhamento de seringa para o uso de drogas injetáveis”. A partir de 2003, a política de Redução de Danos deixa de ser exclusiva dos Programas de DST/AIDS e torna uma estratégia conduzida pelo Ministério da Saúde voltando-se agora para os usuários de Álcool e outras Drogas.
A busca pela prevenção do uso indevido de drogas atua com qualquer tipo de ação que venha ajudar o individuo a se conscientizar de suas escolhas, que dê suporte e contribua para que possa suportar conflitos sem a necessidade de utilizar as drogas como meio de “eliminar” ou anestesiá-los. Segundo NIEL; SILVEIRA (2008), a prevenção do uso indevido das drogas pode ser composta por três fases. 
A primária pode ser definida pelo conjunto de ações que procuram evitar a ocorrência de novos casos de uso abusivo de psicotrópicos ou, segundo outra visão, evitar o primeiro contato com o produto. Prevenção secundária é o conjunto de ações que procuram evitar complicações para as pessoas que fazem uso de uma substância, mas que apresentam níveis relativamente baixos de problemas associados a esse uso. A prevenção terciária, por sua vez, é constituída pelo conjunto de ações que, a partir da existência de uma dependência, procura evitar prejuízos adicionais e/ou reintegrar na sociedade os indivíduos com problemas mais graves. Também busca melhorar a qualidade de vida dos usuários na família, no trabalho e na comunidade de forma geral.
Muitas pessoas buscam experimentar diferentes sensações que a droga pode oferecer, com o trabalho de conscientização, relacionando os problemas que a droga traz ao ser humano, na família, na escola, na comunidade e a repressão como um todo, é trabalhado com medidas que visem diminuir as substancias psicoativas e até mesmo prevenir o uso dela, em jovens vulneráveis a dependência, “assim, prevenção é propiciar experiências que vão dar subsídios para que o indivíduo seja capaz de se cuidar e de organizar sua própria existência”. A estratégia da redução de danos é vista como meio eficiente e inteligente que busca minimizar os efeitos adversos do uso indevido das drogas. 
Parte-se de uma realidade que se impõe (dependentes são dependentes), sem tentar negá-la ou modificá-la por discursos impositivos, morais ou éticos. Ao tratar o dependente como um igual, abre-se uma porta e os profissionais de saúde logo descobrem que, através do vínculo, é possível despertar no outro o desejo de se cuidar. Trata-se de uma atitude que respeita o indivíduo e oferece meios acessíveis de melhorar sua qualidade de vida, principalmente no que se refere à saúde. (NIEL; SILVEIRA, 2008, p.9)
Esse conjunto de estratégias é voltado para as pessoas que não conseguem ou não querem parar de consumir drogas, com isso visa reduzir as consequências negativas que as drogas podem ocasionar no individuo. Exemplos observados no nosso cotidiano seriam as propagandas que orientam as pessoas que consomem a bebida alcoólica não dirigir após o consumo. 
O trabalho desenvolvido é de co-responsabilização do individuo e não de culpabilização, ele precisa entender a sua responsabilidade no processo de tratamento e as famílias se inserem também no tratamento, pois, o uso das drogas muitas vezes quebram os vínculos familiares, os membrosda família criam resistência em compreender que o problema com as drogas causa transtorno de ordem psíquica nos usuários, com isso a família deve ter cuidado para não ter atitudes acusatórias. A família é parte fundamental no tratamento da dependência química, pois une membros e as medidas do tratamento são atendidas dentro do contexto com uma abordagem e amparo mais ampliado. 
Segundo Paz e Colossi (2013), 
A família pode ser tanto um fator de risco como um fator de proteção no que se refere à dependência química. Quando a família tem distanciamento afetivo, dificuldade na comunicação e fronteiras pouco definidas, o uso de substâncias é favorecido. Do contrário, quando a família é acolhedora, possui comunicação adequada e promove afeto e proteção, pode-se considerá-la como um fator de proteção ao uso de drogas (Paz & Colossi, 2013).
Todos nós gostaríamos que as drogas não existissem, pois hoje em dia o acesso é muito fácil, e boa parte da sociedade acha que tem o autocontrole sobre elas, e nem sempre é possível, com isso, muitas pessoas próximas e até mesmo nas nossas famílias estão sofrendo e fazendo com que toda a família venha sofrer o impacto que a droga traz ao ser humano. Contudo é possível buscar recursos possíveis para que as pessoas venham evitar o uso dessas substâncias, para aqueles que já estão envolvidos podemos utilizar os meios disponíveis para evitar que se tornem dependentes, e aos dependentes oferecer todos os meios e recursos disponíveis como os centros de atenção psicossocial que contam com uma equipe multiprofissional disponível para atender e acompanhar todo o processo de tratamento, buscando as melhores estratégias juntamente com o indivíduo, com isso fortalecendo a importância do processo de trabalho do assistente social na rede de serviço de saúde Caps-ad.
2.4 O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS-AD
O profissional de Serviço Social deve compreender que a sociedade capitalista está sempre em mudanças e que elas podem interferir diretamente na dinâmica profissional, com isso novas expressões da questão social podem surgir. 
Iamamoto (2007, p. 145) coloca que: 
A afirmação de um perfil profissional propositivo requer um profissional de novo tipo, comprometido com sua atualização permanente. Capaz de sintonizar-se com o ritmo das mudanças que presidem o cenário social contemporâneo, em que “tudo que é sólido, desmancha-se no ar”. Profissional que, também seja um pesquisador, que invista em sua formação intelectual e cultural, e no acompanhamento histórico-conjuntural dos processos sociais, para deles extrair potenciais, propostas de trabalhos, ali presentes como possibilidades, transformando-as em alternativas profissionais.
O Serviço Social na atual conjuntura deve criar propostas que vá de encontro a um projeto societário que se comprometa com os valores democráticos, sem a exploração e dominação da classe, do gênero e etnia, esse profissional deve ser capaz de revelar a realidade. 
Segundo Bravo e Matos (2007, p. 206): 
[...] o projeto de Reforma Sanitária vem apresentando como demandas que o assistente social trabalhe as seguintes questões: busca de democratização do acesso às unidades e aos serviços de saúde, atendimento humanizado, estratégias de interação da instituição de saúde com a realidade, interdisciplinaridade, ênfase nas abordagens grupais, acesso democrático às informações e estímulo à participação cidadã.
O trabalho do assistente social no Centro de Atendimento Psicossocial: Álcool e outras Drogas busca reinserir e recuperar os pacientes de maneira integral usando todas as medidas de fortalecimento com apoio de toda a rede de saúde, visando reduzir os danos, resgatando a cidadania do paciente e os vínculos familiares e sociais do individuo sendo um processo longo, dinâmico e gradativo. São diversos profissionais que estão inseridos nesse processo, como os assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, médicos e as demais especialidades que somam a experiência e suas atribuições específicas visando abranger as percepções acerca do problema, para isso é necessário planejamento como instrumento para transformação e promoção a saúde. 
Que devemos organizar e realizar a atenção aos direitos, baseados nas demandas dos usuários, realizar e divulgar estudos socioeconômicos dos que conseguem e dos que não conseguem acesso aos recursos da saúde, identificar e priorizar as necessidades sociais de saúde e demandas dos usuários para além das demandas espontâneas, priorizar as ações de promoção da saúde e de prevenção de doenças, danos, agravos, e riscos, [...] sem prejuízo do tratamento e da reabilitação (VASCONCELOS, 2009, p. 258-259).
Em conjunto com todos os instrumentais e recursos disponíveis que possibilitem ao profissional de Serviço Social trabalhar não apenas com o usuário do serviço de atenção psicossocial, mas também com a família, tendo em vista que muitos vínculos familiares são rompidos em decorrência do processo de dependência do uso das substancias psicoativas como o álcool e outras drogas, desta forma intervindo nas necessidades concretas da família como um todo. Pois mesmo que o uso da substância psicoativa seja o mesmo, o contexto familiar é totalmente diferente, e os instrumentos utilizados também serão diferentes para cada intervenção, desenvolvendo o processo educativo, onde suas propostas são construídas a partir das necessidades dos usuários com medidas de socialização e um processo reflexivo do contexto. 
Sendo assim, Lima e Mioto (2009, p. 41) destacam:
Conhecer os sujeitos, explicitar a complexidade e o conjunto de dificuldades que permeiam as demandas encaminhadas ao Assistente Social, e refletir conjuntamente sobre o objeto da ação profissional, é fundamental para garantir um processo na direção da autonomia e da participação.
O tratamento do usuário na rede CAPS-AD é individual a partir das suas demandas, deve dispor de um espaço próprio e adequado à disposição para o acolhimento, com recursos humanos e físicos para realizar suas ações. Desse modo, segundo Ministério da Saúde (BRASIL, 2004, p. 12) deverão contar com os seguintes recursos físicos: “consultórios para atividades individuais (consultas, terapias, entrevistas), sala para atividades grupais, espaço de convivência, oficinas, refeitório, sanitários e área externa para oficinas e recreação e esportes”.
A articulação com a rede de serviços é papel do Assistente social, pois ele é um mediador, e provoca transformações e reflexões ao usuário que passa a obter uma informação qualificada sobre o processo de reabilitação, a responsabilidade, o estimulo a reflexão sobre a dependência química e a inclusão do usuário. Buscar conscientizar a importância pelo resgate do papel politico na sociedade, o valor e o exercício de cidadania, reinserir na sociedade onde na maioria das vezes esses indivíduos são excluídos de uma vida social digna, necessita, sobretudo, de intervenções que enfoquem também na dificuldade que eles têm de criar e manter vínculos saudáveis e duradouros, garantir os direitos, aonde muitos chegam à instituição desprovida de sua condição de cidadão e o Assistente Social atua para resgatar esses valores. O profissional deve considerar a totalidade do usuário, e considerar não apenas o contexto histórico, mas social e cultural, assim, evitando que a intervenção limite-se apenas ao paciente e a doença. 
REFERÊNCIAS 
BRAVO, M. I. S.; MATOS, M. C. de. Reforma Sanitária e projeto ético-político do Serviço Social: elementos para o debate. In: BRAVO, M. I. S; VASCONCELOS, A. M. de; GAMA, A. de S.; MONNERAT, G. L. (Orgs.). Saúde e Serviço Social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2007. p. 197-217.
CORREIA, Ludmila Cerqueira. O movimento antimanicomial: movimento social de luta pela garantia e defesa dos direitos humanos. Pág. 86
Drogas e Redução de Danos: uma cartilha para profissionais de saúde/ Marcelo Niel & Dartiu Xavier da Silveira (orgs). – São Paulo, 2008. Pag 7
GIL, Antonio Carlos. Como elaborarprojetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
LIMA, T. C. S.; MIOTO, R. C. T. A dimensão técnico-operativa do Serviço Social em foco: sistematização de um processo investigativo. Revista Textos & Contextos. Porto Alegre, v. 8, n.1, p. 22-48, jan./jun. 2009. 
Mesquita, F. (1991). Aids e drogas injetáveis. In A. Lancetti (Org.), Saúde Loucura 3 (pp. 46-53). São Paulo: Ed. Hucitec
Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. 3a edição. pág. 12. Brasília – DF. 2010
Ministério da Saúde. Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial. pág. 12. Brasília – DF. 2004
Ministério da Saúde. Reforma Psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Pág. 6. Brasília, novembro de 2005.
Ministério da Saúde. Secretaria e Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: Os centros de atenção psicossocial. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
Paz, F. M., & Colossi, P. M. (2013). Aspectos da dinâmica da família com dependência química. Estudos de Psicologia, 18(4), 551-558.
Passos, E. H. & Souza, T. P. (2011). Redução de danos e saúde pública: construções alternativas à política global de “guerra às drogas”. Psicologia & Sociedade, 23(1), 154-162. p 157
VASCONCELOS, A. M. de. A prática do Serviço Social: cotidiano, formação e alternativas a área da saúde. 3. Ed, São Paulo, Cortez, 2009.
VIEIRA, Ana Rosa B. Organização e Saber Psiquiátrico. Revista de Administração de Empresas. Rio de Janeiro: 21(4), 49-58, out./dez. 1981.

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