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APOSTILA SAÚDE PÚBLICA E SAÚDE COLETIVA Grifada

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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
 
SAÚDE PÚBLICA E 
SAÚDE COLETIVA 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Fernanda Wosny Carvalho 
Porto União/SC 
Junho de 2015 
 
 
 
 __ 
 
 
 
 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
SUMÁRIO 
1. Apresentação da Disciplina 03 
1.1 Ementa 03 
1.2 Plano de Ensino 03 
2. Relações Saúde x Doença 00 
2.1 Demandas de Serviços de Saúde e Necessidades Sociais 00 
3. Saúde Pública e Coletiva 00 
3.1 Antecedentes Históricos 00 
3.2 Conceito de Saúde Pública x Saúde Coletiva 00 
4. Psicologia e Saúde Coletiva 00 
4.1 Âmbitos de atuação 00 
4.1.1 SUS – Sistema Único de Saúde 00 
4.1.2 Unidades Básicas de Saúde - Atenção Primária 00 
4.1.3 Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) 00 
4.1.4 Atenção Secundária/Ambulatorial Especializada 00 
CAPS – Centro de Atenção Psicossocial 00 
4.1.5 Atenção Terciária/Hospitalar 00 
4.2 Tendências e perspectivas atuais de atuação prática 00 
4.2.1 SUAS – Sistema Único de Assistência Social 00 
4.2.2 Proteção Básica (CRAS) 00 
4.2.3 Proteção Especial 00 
4.2.4 Serviços de Média Complexidade (CREAS) 00 
4.2.5 Serviços de Alta Complexidade (Serviços de Acolhimento) 00 
5. Políticas Públicas de Saúde no Brasil 00 
5.1 Ações, Programas e Serviços em saúde pública 00 
5.1.1 Estratégia Saúde da Família 00 
5.1.2 PROVAB – Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica 00 
5.1.3 Programa Academia da Saúde 00 
5.1.4 Programa Mais Médicos 00 
5.1.5 Melhor em Casa 00 
5.1.6 Farmácia Popular 00 
5.1.7 Cartão Nacional de Saúde 00 
5.1.8 UPA – Unidade de Pronto Atendimento 00 
5.1.9 Humaniza SUS – Política Nacional de Humanização 00 
5.1.10 PNAN - Política Nacional de Alimentação e Nutrição 00 
5.1.11 DAHU – Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes 00 
5.1.12 SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência 00 
5.1.13 Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano 00 
5.1.14 Programa Nacional de Controle do Tabagismo 00 
5.1.15 QualiSUS-Rede 00 
5.1.16 Controle do Câncer de Mama 00 
5.1.17 Projeto Expande - Expansão da Assistência Oncológica no Brasil 00 
6. Controle Social em Saúde 00 
7. Equipes Multidisciplinares em Saúde 00 
 
 __ 
 
 
 
 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
 
1. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
A disciplina “SAÚDE PÚBLICA E SAÚDE COLETIVA” com um total de 
30 horas, pertence ao eixo de ênfases de “PSICOLOGIA E PROCESSOS DE 
PREVENÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE”, a ser estudada na quinta fase da 
graduação, de acordo com a grade vigente do curso de Psicologia da UNC. 
 
1.1 EMENTA 
 
Saúde Pública e Saúde Coletiva: antecedentes históricos, 
tendências e perspectivas atuais de atuação prática na área. 
Psicologia e Saúde Coletiva. Âmbitos de atuação, demandas por 
serviços de saúde e necessidades sociais. Políticas públicas e 
privadas de saúde no Brasil. Diversidade de contexto e de variáveis 
nas relações entre saúde e doença e no funcionamento e dinâmica 
das instituições de saúde. Estudo do controle social nos serviços de 
saúde e na comunidade: comportamento e saúde como temas das 
relações sociais; interdisciplinaridade e processos de socialização. 
Equipes multidisciplinares em saúde. 
 
1.2 PLANO DE ENSINO 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
Primeiramente, será abordada a relação entre saúde e doença, com 
definição dos conceitos, abrangendo reflexões sobre o tema, bem como sobre 
as demandas de serviços de saúde e as necessidades sociais. 
Posteriormente, o acadêmico será introduzido aos conceitos introdutórios 
de Saúde Coletiva e Saúde Pública, iniciando pelos aspectos históricos até as 
tendências e perspectivas atuais de atuação prática na área. 
Em seguida, será realizado um foco na Psicologia e Saúde Coletiva, 
dando ênfase às áreas de atuação profissional do psicólogo inserido no 
contexto da saúde pública e coletiva no Brasil. Serão apresentados de forma 
sintética os programas e ações oficinais do governo federal na área da saúde 
pública, entre eles: Estratégia Saúde da Família; PROVAB– Programa de 
Valorização do Profissional da Atenção Básica; Programa Academia da Saúde; 
Programa Mais Médicos; Melhor em Casa; Farmácia Popular; Cartão Nacional 
de Saúde; UPA – Unidade de Pronto Atendimento; Humaniza SUS – Política 
KELLEY
Riscado
KELLEY
Realce
 
 __ 
 
 
 
 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
Nacional de Humanização; PNAN - Política Nacional de Alimentação e 
Nutrição; DAHU – Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes; 
SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência; Rede Brasileira de 
Bancos de Leite Humano; Programa Nacional de Controle do Tabagismo e; 
QualiSUS-Rede; que são as políticas públicas em saúde no país. 
Entende-se que o conhecimento das políticas públicas de saúde abrange 
o território da saúde mental. Em especial, os serviços e programas que dão 
atenção psicossocial aos usuários de drogas e aos acometidos por transtornos 
mentais. Assim, será abordado ainda nesta disciplina o SUS o SUAS e as 
entidades que desses sistemas fazem parte, como UBS – Unidade Básica de 
Saúde, CAPS, Internações Psiquiátricas, CRAS, CREAS e Instituições de 
Acolhimento. 
O acadêmico será introduzido ainda a conhecimentos sobre o 
funcionamento e dinâmica das instituições de saúde, controle social e trabalho 
em equipes multidisciplinares em saúde. 
OBJETIVO 
Conhecer os diferentes contextos da saúde pública e coletiva no Brasil, 
identificando o funcionamento e a dinâmica das instituições e dos serviços de 
saúde. 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
- Refletir sobre as relações entre saúde e doença; 
- Conhecer os antecedentes históricos da saúde pública e coletiva; 
- Analisar e refletir sobre as tendências e perspectivas atuais de atuação 
prática do psicólogo em saúde pública; 
- Conhecer de forma sintética os programas, serviços e ações em saúde 
pública no Brasil; 
- Relacionar os temas de saúde à perspectiva social. 
METODOLOGIA 
- Aula expositiva e dialogada, fazendo uso de recurso de mídia (datashow) para 
apresentação do tema em powerpoint, vídeos e ilustrações; 
- Debates; 
- Dinâmicas de grupo. 
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO 
- Resenha relacionando o documentário "Ilha das Flores" à Saúde Pública e 
Coletiva; 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
- Avaliação Escrita Individual; 
- Estudo de Caso em grupo. 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
ANGERAMI-CAMON, V.A. (org.). Psicologia da Saúde: Um Novo Significado 
Para a Prática Clínica. São Paulo: Pioneira, 2000. 
______ Urgências psicológicas no hospital. São Paulo: Pioneira,1998. 
Crepaldi, M. A; Linhares M. B. M.; Peroza, G.B. Temas em 
Psicologia Pediátrica. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2006. 
MATUMATO, Silvia, MISHIMA, Silvana Martins, PINTO, Ivone Carvalho. 
Cadernos de Saúde Pública. 
ASSIS,Marluce M.A. A Municipalização da Saúde: interação ou Realidade? 
Feira de Santana: UFS, 1998. 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
BRASIL, Ministério da Saúde. Programas e Projetos. Saúde do adolescente. 
(online). 2001. Disponível: http/www.saude.gov.br 
BRASIL, Ministério da Saúde. Programas e Projetos. Atenção Básica. (online). 
2001. Disponível: www.saude.gov. br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
2. RELAÇÕES SAÚDE X DOENÇA 
2.1 DEMANDAS DE SERVIÇOS DE SAÚDE E NECESSIDADES SOCIAIS 
Documentário: “Ilha das Flores” 
2.1.1 REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE SAÚDE 
A Organização Mundial da Saúde - OMS define saúde como “o completo estado de bem-
estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de enfermidade”. Tal conceito 
tem uma profunda relação com o desenvolvimento e expressa a associação entre qualidade 
de vida e saúde da população. A saúde, nesse sentido, é resultado de um processo de 
produção social e sofre influência de condições de vida adequadas de bens e serviços. 
A saúde como produto social se constrói coletiva e individualmente, por meio de ações 
de governo, da sociedade e de cada indivíduo. A saúde é um bem para o desenvolvimento 
pleno do ser humano. Assim, segundo a OMS, não é possível estabelecer a saúde coletiva 
ou a individual à margem do cenário atual. 
Contudo, esta definição da OMS, até avançada para a época em que foi edificada - em 
meados da década de 50, quando se tinha uma visão de saúde apenas como a condição de 
ausência de doença, tem sido criticada por diversos autores da área. 
De acordo com Segre e Ferraz (1997), trata-se de definição irreal por que, aludindo ao 
"perfeito bem-estar", coloca uma utopia. O que é "perfeito bem-estar?" É por acaso possível 
caracterizar-se a "perfeição"? 
Não se deseja enfocar o subjetivismo que tanto a expressão "perfeição", como "bem-
estar" trazem em seu bojo. Mas, ainda que se recorra a conceitos "externos" de avaliação (é 
assim que se trabalha em Saúde Coletiva), a "perfeição" não é definível. Se se trabalhar com 
um referencial "objetivista", isto é, com uma avaliação do grau de perfeição, bem-estar ou 
felicidade de um sujeito externa a ele próprio, estar-se-á automaticamente elevando os 
termos perfeição, bem-estar ou felicidade a categorias que existem por si mesmas e não 
estão sujeitas a uma descrição dentro de um contexto que lhes empreste sentido, a partir da 
linguagem e da experiência íntima do sujeito. Só poder-se-ia, assim falar de bem-estar, 
felicidade ou perfeição para um sujeito que, dentro de suas crenças e valores, desse sentido 
de tal uso semântico e, portanto, o legitimasse. 
Por outro lado, a angústia (com oscilações), tendo essa angústia repercussão somática 
maior ou menor (por exemplo, um cólon irritativo ou uma gastrite), configura situação 
habitual, inerente às próprias condições do ser humano. Divergir de posturas da sociedade, 
e até marginalizar-se ou de ser marginalizado frente a essa mesma sociedade, não obstante 
o sofrimento que essas situações trazem, é comum e até desejável para o homem 
sintonizado com o ambiente em que vive. O filósofo Bergson (1932) contrapôs duas formas 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
de moral possíveis: a estática e a dinâmica. A primeira fixou-se nos costumes, nas ideias e 
nas instituições, reduzindo-se, na verdade, a hábitos coletivos de caráter conservador; já a 
segunda resulta de um impulso criador que se liga à vida em geral, sendo uma ética da 
ruptura e da criação de novos valores. 
Com relação a esse aspecto, Freud (1908 e 1930), em mais de uma oportunidade, 
procurou mostrar como a perfeita felicidade de um indivíduo dentro da civilização constitui 
algo impossível. Para ele, a civilização passou a existir quando os homens fizeram um pacto 
entre si, pelo qual trocaram uma parcela de sua liberdade pulsional por um pouco de 
segurança. Desta forma, a própria organização social e a condição mesma da existência do 
homem em grupos baseiam-se em uma renúncia que, ainda que assegure ao indivíduo 
certos benefícios, gera um constante sentimento de "mal-estar". Desta condição não se pode 
fugir, donde resulta que entre indivíduo e civilização sempre haverá uma zona de 
tensão. Pode-se, inclusive, situar o mal-estar em um momento anterior ao da constituição 
dessa "civilização" de que se fala Freud. Afinal, o homem a construiu exatamente para 
escapar ao incômodo da insegurança em que vivia, decorrente de sua exposição a um 
estado de coisas não exatamente sem leis, mas ditado pela lei do mais forte, que não deixa 
de ser uma espécie de lei, ainda que selvagem e injusta. 
Nessas condições, não se poderá certamente falar em "perfeito bem-estar social". 
Entende-se que, para fins de estatísticas de saúde, as formas de "avaliação externa" sejam 
necessárias; não seria exequível "qualitativar-se" esse tipo de mensuração. Essas reflexões 
e as que se seguirão são cabíveis para que o estudioso de ciências de saúde possa 
"pensar" melhor sua matéria. 
Recentemente, médicos dos EUA criaram uma entidade nosológica e até lhe deram um 
C.I.D.: é a "síndrome da felicidade", incompatível com a situação do homem, com suas 
dificuldades, dúvidas, medos e incertezas. Seria dessa "felicidade" que a OMS tiraria seus 
parâmetros para caracterizar o "perfeito bem-estar mental"? 
O que se pode observar, quando aparentemente se encontra em alguém um estado de 
hiper-adaptação mental, é que a vida psíquica desse sujeito, por um outro lado - o lado 
oculto - encontra-se severamente empobrecida no plano fantasmático. Sua vida onírica e de 
fantasia parece amortecida, do que resulta um rebaixamento da criatividade e do potencial 
de intervenção sobre a realidade, no sentido de transformá-la. Esta síndrome dos 
"normóticos" ou "normopatas" começa a ser percebida por alguns psicanalistas mais atentos 
e sensíveis, como, por exemplo, por McDougall (1978) e Bollas (1992). Esses sujeitos, 
exatamente por não contarem com proteção de uma vida psíquica que lhes dê sustentação 
para enfrentar os acontecimentos traumáticos da vida, são, segundo tais psicanalistas, os 
mais propensos à somatização. 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
A definição de saúde da OMS está ultrapassada por que ainda faz destaque entre o 
físico, o mental e o social. Mesmo a expressão "medicina psicossomática", encontra-se 
superada, eis que, graças à vivência psicanalítica, percebe-se a inexistência de uma 
clivagem entre mente e soma, sendo o social também inter-agente, de forma nem sempre 
muito clara, com os dois aspectos mencionados. 
A continuidade entre o psíquico e somático tem sido objeto de uma série de 
investigações. Se o psíquico responde ao corporal e vice-versa, fala-se, então, de um 
sistema onde não se delineia uma nítida divisão entre ambos. A pesquisa em 
psicossomática mostra que, para um bebê, não faz sentido a divisão entre mente e soma. A 
psicossomática de inspiração psicanalítica tem colocado questões para a noção cartesiana 
da dicotomia mente-corpo. Marty (1980), por exemplo, viu em certas doenças, verdadeiras 
expressões do inconsciente manifestadas de forma primitiva, isto é, decorrentes da 
insuficiência fantasmática do sujeito. Assim, ao invés do sujeito produzir um sintoma 
psíquicoe simbólico, como ocorre no caso da neurose, ele tende a responder ao excesso de 
excitação que não pode elaborar utilizando o corpo real. 
Caberia aqui acrescentar que as injunções sociais atuam sobre este aparato complexo 
que é o sujeito. O estilo e o ritmo de vida impostos pela cultura, a modalidade da 
organização do trabalho, a vida nas metrópoles, entre tantos outros fatores, poderiam fazer 
pensar, até mesmo, em uma suposta unidade "sociopsicossomática". No que diz respeito 
especificamente ao impacto da natureza do trabalho na sociedade contemporânea sobre o 
sujeito, Déjours (1980) tem nos trazido grandes contribuições, analisando as formas de 
organização do trabalho que impedem o trabalhador de manter seu funcionamento mental 
pleno, tendo assim de lançar mão de um processo de repressão da vida fantasmática que o 
induz a responder à excitação através da somatização. 
Quando se fala em "bem-estar" já se englobam todos os fatores que sobre ele influem: 
ou não está já suficientemente "sentido" pessoalmente, e descrito em outras pessoas, que o 
infarto, a úlcera péptica, a colite irritativa, a asma brônquica, e até mesmo o câncer guardam 
profundos vínculos com os estados afetivos dos sujeitos? (a escolha do termo "sujeitos" e 
não "objetos" ou "vítimas", dessas situações é propositada, no sentido de introduzir a ideia 
de ser a "doença somática" apenas uma "via a mais" para externar a turbulência afetiva, 
tendo sido essa via inconscientemente buscada pelo sujeito, incapaz de harmonizar os seus 
conflitos interiores). 
Freud (1938) já supunha que, entre as possibilidades de defesa disponíveis para o 
sujeito assolado pelo "mal-estar na civilização", estava a fuga para a doença somática (junto 
à fuga para a neurose ou para a psicose ou, ainda, para o comportamento antissocial). 
Embora ele não tenha desenvolvido a abordagem dessa via, a psicanálise tomou esta tarefa 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
para si ulteriormente. O fato é que uma série de doenças somáticas encontra sua etiologia 
na problemática afetiva que não pode ser vivenciada no plano propriamente psíquico. Muitas 
vezes, a repressão da agressividade _ que não encontra uma outra via de escape _ redunda 
na opção final de explosão no plano somático, isto é, no corpo real. 
Suponha-se que decorra da percepção dessa "não clivagem" da pessoa a conhecida 
expressão "deve-se tratar o doente e não a doença", dando margem, a inobservância dessa 
proposta, ao sucesso das assim chamadas "formas não tradicionais de medicina" (muitas 
vezes maior do que o da medicina), por visarem, essas técnicas, muito mais a afetividade do 
"sujeito", do que a mera expressão somática de sua turbulência emocional. 
Percebe-se a extrema dificuldade de aceitação, por muitos profissionais de saúde, do 
fato de fincar-se o êxito terapêutico no relacionamento afetivo com o cliente (o termo 
paciente não foi, propositadamente, usado para tornar mais distante a ideia de exclusiva 
aceitação, paciente, submissa, com relação ao profissional de saúde). O vínculo afetivo, 
embutido de confiança recíproca, na dupla que empreende uma ação de saúde (profissional-
cliente), a par dos aspectos cognitivos, técnicos e científicos, é decisivo para que se possa 
esperar a melhora do estado do cliente. 
Dir-se-á que no mundo atual, com a medicina em grande parte socializada (pré-paga), 
estatal ou não, com o profissional de saúde habitualmente mal ressarcido (não dispondo de 
tempo e espaço afetivo para dedicar-se seriamente a cada um de seus pacientes), a criação 
e preservação dessa ligação afetiva entre o profissional de saúde e o cliente é tão irreal 
quanto a expectativa de "perfeito" bem-estar da OMS. Admite-se que assim seja, pelo 
menos em parte, cabendo a contrapartida à própria estrutura de personalidade do 
profissional, despreparado muitas vezes para o estabelecimento daquele tipo de vínculo. As 
restrições mencionadas absolutamente não desvalorizam as reflexões apresentadas. 
O relacionamento profissional de saúde-paciente é, sabidamente, uma parceria entre 
duas pessoas, das quais uma delas detém o conhecimento técnico-científico, que põe à 
disposição da outra, que o aceitará, ou não, contrariamente ao que pensam muitos médicos 
que percebem esse relacionamento como uma subjugação, suspendendo-o diante de 
dúvidas, críticas ou "desobediências" do paciente; também aqui, a escolha do termo foi 
proposital, visando à ênfase na forma de percepção desses profissionais. É nessas 
condições, de pleno exercício da autonomia de duas pessoas, que o tratamento sói ter 
sucesso, a menos que uma delas - o "paciente" - renuncie à sua própria autonomia, optando 
pela sujeição a uma postura mais paternalista do profissional de saúde, o que é frequente, 
dada a condição de "regressão" que o mal-estar habitualmente produz no cliente. 
Este fenômeno, em psicanálise denominado transferência, pode levar o paciente a 
conceder ao médico um lugar de poder absoluto, em uma verdadeira substituição da figura 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
onipotente do pai imaginário de uma criança pequena. Reconhecer-se no lugar 
transferencial pressupõe certa sensibilidade do profissional. Usar tal lugar para o exercício 
do poder, no entanto, já implica uma ação a ser pensada e discutida no plano da ética. 
Acredita-se ter esclarecido a inadequação de ainda se fazer distinção, mormente num 
conceito da OMS, entre o físico, o mental e o social. 
Finalmente, para tecer considerações sobre a mencionada "unilateralidade" da definição 
da OMS, há que se discutir o conceito de "qualidade de vida". O que é "qualidade de vida"? 
Dentro da Bioética, do conceito de autonomia, entende-se que "qualidade de vida" seja algo 
intrínseco, só possível de ser avaliado pelo próprio sujeito. Prioriza-se a subjetividade, uma 
vez que, de acordo inclusive com o conceito de Bion (1967), a realidade é a de cada um. 
Não há rótulos de "boa" ou "má" qualidade de vida, embora, conforme já se disse 
anteriormente, a saúde pública, para a elaboração de suas políticas, necessite de 
"indicadores". Assim, por exemplo, é óbvio que são imprescindíveis, dentro de uma 
sociedade, as estatísticas de mortalidade pelas várias doenças. Mas, o que é doença? Não 
é ela, liminarmente, apenas um conceito estatístico, considerando-se doentes (físicos, 
mentais ou sociais) todos os que se situarem fora da assim chamada "normalidade"? 
Principalmente em psiquiatria (embora isso ocorra, sem exceções, em todas as 
especialidades médicas), onde, na maioria das vezes nem mesmo alterações morfológicas 
dão chancela a diversidade dos indivíduos (e, ainda que dessem, não seria, o raciocínio, o 
mesmo? - não valerá a pena ser repensado o valor dessa diversidade (individualidade), a fim 
de preservá-la? Do fato de, cientificamente, serem conhecidos muitos "determinantes" 
genéticos, culturais e até físicos, químicos e biológicos de muitas patologias, decorrerá o 
direito ou não de intervir sobre essas diferenças quando o sujeito, manifestando sua 
vontade, não desejar essa intervenção? O que é o doente? Um ser humano diferente, que 
talvez tenha sua vida encurtada. O que é o sofrimento? É dor, inteiramente subjetiva, 
qualquer que seja a sua origem. O tratamento de uma doença, qualquer que seja, ela 
apenas será legítimo (e, consequentemente, ético), se o "doente" manifestar vontade de ser 
ajudado. Caso contrário, o "tratamento" poderá tratar-se de "defesa social" (situaçãofrequente, em psiquiatria) transvestida de benemerência. Retornando a considerar os 
condicionamentos, dos genéticos aos sociais, não existem todos eles, tanto nos "sãos" como 
nos "doentes"? A autonomia é uma condição que não se autorga a quem quer que seja: ou 
se reconhece, ou se nega. 
Este problema com relação à psiquiatria, na verdade, já se cronificou entre nós. A própria 
noção da doença mental, como bem demonstrou Foucalt (1972) foi constituída 
historicamente. Por um hábito positivista _ uma exigência metodológica _ procurou-se no 
corpo anátomo-fisiológico do "louco" o substrato último para explicar sua "doença". Ocorre 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
que, como denunciou o movimento antipsiquiátrico, a noção de "desvio" pendia mais para 
um juízo de valor que servia, na verdade, ao controle e à normalização sociais (ler o 
Alienista – Machado de Assis). 
Logo, volta-se a enfatizar a prioridade do subjetivismo em toda reflexão sobre qualidade 
de vida. Poderá alguém afirmar que um portador de colostomia, consequente a uma cirurgia 
de câncer intestinal, tem qualidade de vida pior do que um seguidor obsessivo de regras 
religiosas, intimidado perenemente por um Deus que lhe foi inculcado, independentemente 
de sua vontade? Nesta óptica, vai ficando claro que "realidade" nada mais é do que uma 
convergência de subjetivismos. Haverá outra forma de conceituá-la, essa realidade, que só 
pode ser vista e pensada por pessoas? 
Será que alguém, pelo simples fato de não ter recursos para se alimentar de acordo com 
nossos padrões, poderá aprioristicamente ser considerado com qualidade pior de vida do 
que uma pessoa bem alimentada? 
Não restam dúvidas de que essas considerações, aparentemente radicalizantes, visam 
apenas a atenuar a tendência positivista dos conceitos de saúde que aí estão. 
O presente enfoque é importante para uma visão ampliada de saúde pública. 
Necessariamente ela observa, descreve, avalia e administra indicadores: a política de saúde 
louva-se nesses elementos. 
Assim sendo a abordagem "de dentro para fora" do ser humano, onde o que mais conta é 
o subjetivismo do indivíduo, recorrendo-se inclusive à teoria e à vivência psicanalítica para a 
sua fundamentação, pode parecer despropositada e fora do contexto de saúde pública. 
Não é nisto que se pensa. O destaque à autonomia do ser humano, em que 
supostamente existe uma "vontade", fazendo parte de uma "psyche" (alma) que transcende 
ao próprio ambiente sociocultural e mesmo à sua bagagem genética, talvez dê uma 
condição melhor de entender a virtual ineficácia de políticas de saúde em determinados 
casos e circunstâncias. 
Esta visão anti-positivista e mais humana das atividades dos profissionais de saúde, 
pode contribuir para um contato mais empático e, consequentemente, mais ético, entre eles 
e a população assistida. 
E, concluindo, dentro desse enfoque, não se poderá dizer que saúde é um estado de 
razoável harmonia entre o sujeito e a sua própria realidade? 
 
SEGRE, Marco e FERRAZ, Flávio Carvalho. O conceito de saúde. Disponível em: 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89101997000600016 
 
 
Para refletir..... 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
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3. SAÚDE PÚBLICA E SAÚDE COLETIVA 
 
3.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS 
Podemos descrever o trabalho de saúde pública como o esforço organizado da 
comunidade, por intermédio do governo ou de instituições, para promover, proteger e 
recuperar a saúde de pessoas e da população, por meio de ações individuais e coletivas. 
São exemplos de ações de saúde pública: a vacinação, o saneamento básico, a prestação 
de serviços médicos. Esse conceito foi–se firmando e aperfeiçoando, através do tempo, com 
variações de país para país, de região para região. No breve relato que segue 
percorreremos a história da saúde pública no Brasil. 
Os índios brasileiros impressionaram os primeiros europeus que aqui chegaram por 
sua aparência sadia, robusta. Eram fortes, bem nutridos e sofriam de poucas doenças. Isso 
se devia, sobretudo, a seu modo de vida extremamente natural. Eles se alimentavam bem, 
não eram sedentários – ao contrário, levavam uma vida muito ativa – e não tinham, de modo 
geral, hábitos prejudiciais à saúde. O uso que faziam do tabaco ou do álcool era esporádico. 
Por mais sadia que fosse a sua existência, contudo, estavam sujeitos a acidentes, a 
violências, a doenças. Quando tal acontecia, recorriam ao pajé. Dentro da concepção 
mágico–religiosa de enfermidade, cabia a ele exorcizar os maus espíritos, o que era feito 
mediante um procedimento ritualístico. Plantas e substâncias diversas eram também usadas 
no tratamento. 
Os primeiros colonizadores obviamente não endossavam esse sistema de 
atendimento. Um dos objetivos dos portugueses era converter os indígenas ao cristianismo e 
isso significava neutralizar a influência dos pajés, inclusive e talvez principalmente, no que 
se referia aos cuidados de saúde. Os padres jesuítas, encarregados da catequese, exerciam 
também a assistência aos doentes, Não só eles, claro, com as primeiras expedições 
colonizadoras, vieram os físicos – como eram conhecidos os médicos de então. Eles eram 
os “licenciados”, porque possuíam um diploma, concedido em geral por uma das escolas da 
Penínsuia Ibérica, como Coimbra ou Salamanca. 
 
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Os físicos tinham cargos oficiais, estavam ligados à Coroa, ou à Câmara, ou ao 
exército, mas exerciam também a clínica privada. O primeiro deles teria sido Jorge 
Valadares, que viera com a comitiva do governador–geral Tome de Souza. Vários desses 
físicos eram cristãos–novos, ou seja, judeus convertidos à força pela inquisição, que muitas 
vezes praticavam em segredo, e com risco, a religião judaica. O Brasil representava para 
eles um refúgio, apesar das visitações do Santo Ofício, que investigava minuciosamente os 
suspeitos de práticas “judaizantes”. 
Como era praxe na medicina de então, os físicos não executavam certas práticas 
consideradas “inferiores” – porque exigiam habilidade manual – e eram reservadas aos 
barbeiros–cirurgiões. 
A assistência hospitalar estava a cargo basicamente das Santas Casas de 
Misericórdia, surgidas já nos primórdios da colonização. A sua função era albergar os 
doentes, cuidar deles e, quando a situação era grave, proporcionar–lhes uma morte com 
assistência religiosa, porque naquela época muito pouco se podia fazer, em relação a 
tratamento curativo, por um enfermo. 
A supervisão pública sobre a assistência à saúde era restrita. Até 1782 existiu um 
Físico–Mor do Reino, cujos comissários fiscalizavam a atividade dos médicos e a venda de 
medicamentos. Em 1782 foi criada, pela rainha D. Maria I, de Portugal, a Junta do Proto–
Medicato, composta de sete membros, todos médicos. 
Esse era o sistema oficial de assistência médica. Boa parte da população, no entanto, 
continuava recorrendo a curandeiros. Além disso, numerosas boticas vendiam remédios e 
aplicavam sanguessugas, que extraíam do paciente o “excesso” de sangue ou o sangue 
supostamente “envenenado”. A botica era também um lugar onde homens se reuniam para 
conversar e jogar gamão. 
Quanto aos partos, durante muito tempo ficaram a cargo das parteiras ou “curiosas”. 
Essa imagem bucólica não nosdeve iludir. O Brasil foi, desde seus primórdios, um país 
muito doente. Nem poderia ser de outra maneira: as grandes navegações favoreceram a 
disseminação de agentes infecciosos, que encontravam em populações com baixo nível de 
imunidade um terreno propício. Esse foi o caso dos índios brasileiros, que morriam aos 
milhares, vítimas até de uma simples gripe. 
As pestilências se sucediam. Em 1563 ocorreu a primeira epidemia de varíola; em 
1685, a primeira de febre amarela. Essas doenças eram assunto preferencial dos primeiros 
escritores médicos no país: Simão Pedro Morão escreveu um Tratado único das bexigas e 
sarampo (1683; “bexigas” era o nome usual para varíola); João Ferreira da Rosa lançou, em 
1694, o seu Tratado único da constituição pestilencial de Pernambuco. 
 
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Uma das primeiras medidas tomadas por Dom João VI, quando da transferência da 
corte portuguesa ao Brasil, foi a criação da Junta Vacínica da Corte (1811). Era o início da 
ação governamental no combate direto às doenças e uma iniciativa até pioneira, 
considerando que a vacina tinha sido introduzida por Edward Jenner, na Inglaterra, em 1797; 
mas essa ação foi muito modesta. As epidemias de varíola continuaram ocorrendo. 
Enquanto isso, a profissão médica se ia institucionalizando. A supervisão da 
assistência à saúde ficava por conta do Físico–Mor e de seus auxiliares. Em 1782 havia sido 
criada, pela rainha D. Maria I, a Junta do Proto–Medicato. Instalada em Lisboa, e composta 
de sete membros, físicos e cirurgiões, tinha autoridade sobre todos os territórios 
dependentes de Portugal. Sua finalidade principal era o combate ao curandeirismo e a 
vigilância sobre os aspectos legais da profissão farmacêutica; cabia–lhe, por exemplo, 
referendar todos os diplomas conferidos a médicos e cirurgiões. Tratava–se, portanto, de 
controle do exercício profissional, o que sem dúvida correspondia aos interesses da 
corporação médica. 
Ao longo do século dezenove, surgiram escolas de medicina e cirurgia nas principais 
cidades brasileiras. As duas primeiras foram criadas no Rio de Janeiro e em Salvador por D. 
João, logo após sua chegada ao Brasil, em 1808. De início eram chamadas Academias, mas 
em 1832 foram transformadas em Faculdades de Medicina, de acordo com o projeto da 
Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, aprovado pelo Congresso. As ações 
fiscalizadoras eram um componente da chamada polícia sanitária, um conceito paternalista e 
autoritário lançado na Alemanha, em 1779, por Johan Peter Frank (1745–1821). O termo 
alemão Polizei tem tradução ambígua; tanto pode significar política – e era realmente uma 
estratégia política, que contemplava a intervenção do Estado na saúde e na vida dos 
cidadãos – como polícia. A Polizei de Frank era muito abrangente e dava normas até para 
as atividades do cotidiano, como a diversão. 
No Brasil, a fiscalização era mais restrita, mas era fiscalização, de qualquer modo. A 
vacinação antivariólica, inclusive, era subordinada à Fisicatura, cuja atribuição era fiscalizar 
a medicina, e à Intendência Geral de Polícia. O Código de Posturas do Rio de Janeiro 
estabeleceu, em 1832, e pela primeira vez no país, a obrigatoriedade da vacina. Essa 
disposição não foi cumprida, porque a população tinha fortes suspeitas em relação à vacina; 
mas, mediante solicitação dos proprietários rurais, os vacinadores iam às fazendas aplicar o 
imunizante aos escravos. 
Como foi dito, a fiscalização tinha em vista principalmente a formação e a supervisão 
de médicos e cirurgiões. Mas isso não resolvia os grandes problemas de saúde da 
população, as doenças endêmicas e epidêmicas. 
 
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Em 1850, por ocasião da segunda grande epidemia de febre amarela, foi criada a 
Junta Central de Saúde Pública, embrião do Ministério da Saúde. Ao mesmo tempo tinham 
início os trabalhos de pesquisa, referentes sobretudo ao que era conhecido na época como 
medicina tropical. Como grandes potências europeias tinham colônias em regiões tropicais 
da Ásia, África e América, as doenças características dessas regiões – malária, febre 
amarela e várias parasitoses - passavam a ter interesse não apenas médico ou sanitário, 
mas econômico e político. 
Daí o surgimento de uma verdadeira especialidade, que fez escola. É nesse contexto 
que surge a Escola Tropicalista Baiana, com nomes como os de Oto Wucherer (1820–1873), 
que trabalhou com parasitoses, João Francisco da Silva Lima (1826–1910) e o escocês John 
Ligertwood Paterson (1820–1882). 
No caso do Brasil, essas doenças despertavam outro tipo de interesse. O final do 
século dezenove e o começo do século vinte viram um grande aumento da emigração 
européia. Italianos, alemães, eslavos vinham em grandes levas para o país. Deixavam para 
trás um continente devastado por conflitos e guerras em busca de trabalho e de melhores 
condições de vida. Os governos da América Latina estimulavam esse movimento; tratava–se 
de países ainda escassamente povoados, que seguiam o lema do intelectual argentino Juan 
Alberdi: “Gubemar es poblar”, governar é povoar. 
No Brasil, os imigrantes europeus substituiriam a mão–de–obra escrava, sobretudo na 
lavoura do café. Finalmente havia a intenção, nem sempre declarada, de “branquear” a 
população, constituída de grandes contingentes de negros, índios e mestiços. Mas os 
imigrantes eram muito suscetíveis às doenças tropicais. Essa suscetibilidade é 
dramaticamente ilustrada, ainda que em contexto um pouco diferente, pelo caso do 
Lombardia. Este navio, que aportou no Rio de Janeiro em 1895, não trazia imigrantes; era 
da marinha italiana, com uma tripulação de gente jovem e presumivelmente robusta. Dos 
340 tripulantes apenas sete não contraíram febre amarela e 234 morreram. 
Essas notícias disseminavam–se pelo mundo – e prejudicavam a economia brasileira, 
que dependia fundamentalmente da exportação de café. Navios estrangeiros recusavam–se 
a vir ao Brasil. Com isso, não levavam café – e não entravam as divisas necessárias para o 
pagamento de uma grande dívida externa contraída com bancos ingleses. 
Combater doenças não era apenas um objetivo humanitário: era uma questão de 
sobrevivência econômica para o país. A simples fiscalização não resolveria o problema. Era 
preciso uma ação governamental mais abrangente e em bases mais científicas. 
A época era propícia para isso. O final do século dezenove viu o desenvolvimento da 
chamada revolução pasteuriana – a impressionante série de descobertas, por Louis Pasteur, 
seus colaboradores e seus discípulos, de agentes patogênicos causadores de doenças, de 
 
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soros e vacinas destinados a evitar ou controlar essas doenças, como foi o caso do soro 
antirrábico, que projetou o nome do pesquisador e de seu Instituto – do qual o Imperador 
Dom Pedro II era grande admirador e para o qual destinou uma contribuição financeira. 
Entre 1880 e 1898 foram identificados quase 20 agentes causadores de lepra, 
malária, tuberculose, cólera, peste, difteria... Doenças muito prevalentes no Brasil e que, 
portanto, justificavam o interesse – mais que isso, o entusiasmo – de autoridades e de 
pesquisadores com esse trabalho, que representava uma nova postura na saúde pública. 
Era agora possívelcontrolar doenças transmissíveis com medidas limitadas, sem a 
ampla intervenção social preconizada pela “polícia sanitária” ou, com mais contundência, 
pelos revolucionários inspirados nas ideias de Karl Marx. 
No Brasil, as primeiras repercussões da revolução pasteuriana ocorreram em São 
Paulo, para onde vinham grandes levas de imigrantes e onde a produção cafeeira crescia 
sem cessar. Em 1892 foram criados laboratórios de saúde pública, destinados inclusive a 
preparar vacinas; no ano seguinte Adolfo Lutz assumiu a chefia do Instituto Bacteriológico. 
Mas seria no Rio de Janeiro – capital federal e porto exportador de café – que a ideia de 
controle sanitário teria maior repercussão. 
Já em 1890 era criado o Conselho Nacional de Saúde Pública. Duas eram as 
preocupações maiores: a chamada “saúde dos portos” e a higiene e o saneamento no Rio 
de Janeiro. Para isso foi criada uma Inspetoria Geral de Higiene. Dois anos depois, e como 
em São Paulo, surgia o Laboratório de Bacteriologia. 
Em 1897 foi criada a Diretoria Geral de Saúde Pública. De novo, o controle de portos 
era prioridade. Para isso, o litoral brasileiro foi dividido em três distritos sanitários, com sedes 
no Rio, em Recife e em Belém. 
Entretanto, os problemas financeiros se agravavam. Em busca de equilíbrio nas 
contas públicas, o governo recorre a empréstimos externos, que só podiam ser pagos com a 
exportação de café. É nesse cenário que se inicia a gestão de Rodrigues Alves (1902–
1906), não por acaso um representante da oligarquia cafeeira paulista – mas também um 
homem com muito interesse pela ciência e pela saúde pública, que tinha, inclusive, perdido 
uma filha vitimada pela febre amarela. 
É também nesse cenário que assume a Direção Geral de Saúde Pública um jovem 
médico, que, fascinado pela bacteriologia, havia estagiado no Instituto Pasteur: Oswaldo 
Cruz. 
A tumultuada e relativamente curta passagem de Oswaldo Cruz pela Direção Geral de 
Saúde Pública teve algumas características que haveriam de marcar a saúde pública 
brasileira por boa parte do século vinte. Em primeiro lugar, a orientação científica. Oswaldo 
Cruz é considerado por muitos autores, e não sem razão, o fundador da ciência brasileira. 
 
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Todas as suas ações foram pautadas pelo critério científico, o que lhe custou muitos 
conflitos; por causa do seu papel vanguardista, teve de enfrentar o por vezes retrógrado 
estabelecimento médico do Rio de Janeiro. Em segundo lugar, a visão administrativa. 
Oswaldo Cruz estava seguro de que o combate a doenças só teria êxito se feito de forma 
organizada. 
Introduz, assim, o conceito – militar – de campanha; por exemplo, a campanha de 
febre amarela é executada por batalhões de mata–mosquitos, que usavam inclusive 
uniforme e entravam nas casas em busca de focos de insetos. Resulta daí a terceira 
característica da gestão Oswaldo Cruz: o autoritarismo. É preciso dizer que nisso ele não 
estava sozinho. A sociedade brasileira era autoritária, e autoritários eram os governantes: 
Pereira Passos executou, com mão–de–ferro, a reforma urbana no Rio de Janeiro, 
conhecida como “bota–abaixo”. Esse autoritarismo foi uma das causas para a Revolta da 
Vacina, um levante popular contra a vacinação antivariólica, que convulsionou a capital 
durante vários dias em novembro de 1904. 
Depois desse desastre, Oswaldo Cruz afastou–se da política sanitária, dedicando–se 
à pesquisa no Instituto de Manguinhos (atual Instituto Oswaldo Cruz), órgão por ele criado. 
Oswaldo Cruz teve vários discípulos e seguidores, entre eles Carlos Chagas, o descobridor 
do agente causador da doença que leva o seu nome. A metodologia por ele preconizada foi 
aos poucos incorporada na rotina de saúde pública. Não era uma panaceia: em 1918 o 
Brasil teve de enfrentar a pandemia – uma epidemia mundial – de gripe espanhola. O 
número de doentes era tão grande que as grandes cidades ficaram praticamente paralisadas 
– e pouco a saúde pública podia fazer, porque não havia imunizante contra o vírus. Por outro 
lado, ficava cada vez mais óbvio que as campanhas de vacinação não resolveriam os 
problemas causados pelas doenças de massa no país. 
Uma nova mudança começava a se desenhar na trajetória da saúde pública 
brasileira. A atenção dos sanitaristas brasileiros voltava–se agora para a questão do 
saneamento básico. Essa questão emergiu em meio àquilo que se poderia chamar de 
redescoberta do Brasil, cuja população continuava restrita ao litoral. 
Após deixar a Direção Nacional de Saúde Pública, Oswaldo Cruz e colaboradores 
empreenderam uma série de viagens a regiões distantes (encarregando–se, por exemplo, 
da supervisão sanitária da construção da estrada de ferro Madeira–Mamoré). Seu exemplo 
foi seguido por Artur Neiva e Belisário Pena, que publicaram (1916) um impressionante 
relatório sobre a miséria e as péssimas condições de vida no Nordeste, principalmente. O 
que, aliás, era consenso: “O Brasil é um imenso hospital”, disse, no mesmo ano, Miguel 
Pereira, catedrático da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. 
 
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Na verdade, a afirmativa não era inteiramente correta. Do hospital, o Brasil tinha as 
doenças, mas não os meios para tratá-las. 
A palavra–chave para resolver o problema, ou ao menos para minimizá-lo, era o 
saneamento básico: água potável, esgoto sanitário, destino adequado do lixo, boas 
condições de moradia. Esse era o tema da muito influente obra de Artur Neiva, Saneamento 
do Brasil, publicada em 1918, um ano após a morte de Oswaldo Cruz e a Revolução Russa. 
A proximidade das datas não é coincidência, como se verá. O saneamento passou a 
ser visto não apenas como uma estratégia de saúde pública mas como uma verdadeira 
causa. De certo modo, fez ressurgir a dimensão social da teoria do miasma; de novo, as 
más condições de vida eram apontadas como causa de doenças. E tanto era uma causa 
que uma entidade surgiu para defendê-la: a Liga Pró–Saneamento. 
A denominação Liga é muito significativa – era expressão típica de uma época de 
despertar de consciências, de engajamento. No mesmo ano haviam sido criadas a Liga 
Nacionalista e, por iniciativa de Olavo Bilac, a Liga de Defesa Nacional, que defendia o 
serviço militar obrigatório. Pode–se notar que, do ponto de vista político–ideológico, esse 
nacionalismo era ambíguo. 
De fato, a Liga Brasileira de Higiene Mental tornou–se uma grande propagadora das 
ideias nazi–fascistas no Brasil. A Liga Pró–Saneamento, por sua vez, refutava teorias que 
atribuíam o atraso do país à composição étnica da população ou ao clima tropical. Por trás 
destas ideias estavam o despertar do nacionalismo brasileiro (de que seria uma amostra, 
entre os intelectuais, a Semana de Arte Moderna, de 1922) e o impulso de mudança social, 
que motivou a Revolução Russa de 1917 – daí uma das “coincidências” antes assinalada. A 
outra “coincidência” é a morte de Oswaldo Cruz, que, de certa forma, era um descendente 
dos “contagionistas”, logo mais interessado na doença e em seus agentes causais do que no 
meio social. 
O governo federal saiu com uma solução conciliadora. Criou o Serviço de Profilaxia 
Rural voltado para as populações rurais – atendendo, portanto, ao apelo de Artur Neiva – 
mas este trabalharia por intermédio de campanhas, contra a malária, a doença de Chagas e 
outras enfermidades. 
A Liga Pró–Saneamento não ficou satisfeita com essamedida. Insistiu em afirmar que 
a saúde pública brasileira exigia mais e sugeriu a criação de um Ministério de Higiene e 
Saúde Pública ou ao menos um Departamento Nacional de Higiene. Em 1920 era criado o 
Departamento Nacional de Saúde Pública, chefiado (1920–1926) por Carlos Chagas. Neste 
meio tempo foi constituída (1923) a Sociedade Brasileira de Higiene, reunindo os sanitaristas 
brasileiros. 
 
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A Sociedade tinha estreitos vínculos com o Departamento Nacional de Saúde Pública. 
Mas uma cisão se produziria entre os técnicos do Departamento e os sanitaristas herdeiros 
da mensagem nacionalista da Liga Pró–Saneamento. O motivo desta cisão foi o acordo de 
cooperação firmado entre o governo brasileiro e a Fundação Rockefeller, dos Estados 
Unidos. A Fundação tinha uma linha de ação voltada para o controle de doenças 
transmissíveis como febre amarela, malária e parasitoses. O modelo era aquele criado pelos 
médicos militares americanos que, no final do século, haviam estudado, em Cuba (então sob 
tutela dos Estados Unidos), a transmissão da febre amarela. 
Este modelo – adotado por Oswaldo Cruz – nascera de um duplo interesse, científico 
e econômico. Havia sido aplicado em regiões de plantação no sul dos Estados Unidos e em 
Porto Rico, com o objetivo de proteger populações mas também de aumentar produtividade. 
O modelo da Fundação Rockefeller foi muito combatido pelos sanitaristas da 
Sociedade Brasileira de Higiene – por razões técnicas, e também por razões políticas, 
nacionalistas. De novo o governo adotou uma postura conciliadora. Pelo contrato assinado 
com a Fundação em 1929, esta teria sua ação na região Norte do país, ficando o Sul a cargo 
do Departamento Nacional de Saúde Pública. 
Uma consequência da presença da Fundação foi o surgimento do centro de saúde, 
que oferecia assistência pré-natal às gestantes, cuidados de puericultura, vacinas e outros 
serviços. 
Essa não foi a única colaboração entre Brasil e Estados Unidos na área da saúde. Em 
1942, durante a Segunda Guerra Mundial, foi criado, mediante acordo entre o governo 
brasileiro e a Rubber Reserve Co. – órgão do governo norte–americano – o SESO, Serviço 
Especial de Saúde Pública, tendo como objetivo principal o saneamento da Amazônia, a 
profilaxia da malária e a assistência médico-sanitária aos trabalhadores da região. De novo, 
havia um interesse por trás dessa medida: fomentar a produção da borracha, essencial para 
o esforço de guerra. 
A partir dos anos trinta muda o foco de interesse da política governamental de saúde. 
O combate às doenças transmissíveis e o saneamento básico terão prosseguimento, mas a 
prioridade passará a ser outra. Já não é a saúde coletiva que conta, mas a individual. De 
novo, isso reflete as transformações ocorridas no Brasil, que, nas palavras de Getúlio 
Vargas, até então era um país “semicolonial, agrário, exportador de matérias-primas e 
importador de manufaturas”. Vargas, que com a revolução de 1930 governaria por 15 anos, 
paradoxalmente era um grande proprietário rural. Até esse momento, o campo dominara a 
cidade; a política tivera como base os currais eleitorais, dominados pelo coronel. “Povo” era 
uma categoria praticamente inexistente; a população, dispersa, não tinha massa crítica para 
decidir o processo político. 
 
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Os anos trinta viram uma aceleração do processo de industrialização e de 
urbanização. O poder das oligarquias diminui, cresce o papel do governo central – um 
governo populista que controla tanto as elites como o povo, mediante uma legislação de 
bem-estar social. 
Nesse sentido, Vargas seguiu o exemplo de Otto von Bismarck (1815 -1898), o 
prussiano “chanceler de ferro”. Bismarck assumiu o cargo de primeiro ministro da Alemanha 
em 1862, com um projeto de acelerada industrialização e exportação de manufaturados a 
preços competitivos, o que significava baixos salários. Para evitar o descontentamento da 
classe trabalhadora, Bismarck propôs uma legislação que incluía habitação gratuita, seguro 
para velhice e assistência médica. Esse modelo foi seguido por vários países. 
Na Grã–Bretanha, um passo além foi dado: a assistência médica ficou a cargo de um 
Serviço Nacional de Saúde, criado em 1942. Pioneiro no gênero em países capitalistas, 
oferecia proteção “do berço ao túmulo” e representava uma compensação para os 
sofrimentos experimentados pelo povo durante a Segunda Guerra Mundial. 
De início, as medidas propostas por Getúlio (salário mínimo, codificação da legislação 
trabalhista, pensões e aposentadorias) não tiveram impacto direto na área da saúde. Aos 
poucos, porém, os vários Institutos de Aposentadorias e Pensões (dos industriários, 
comerciários, bancários, marítimos) foram introduzindo serviços de assistência médica, o 
que se destinava tanto a preservar a higidez da classe trabalhadora como a proporcionar 
retorno político. 
O objetivo principal era atender à demanda, a um custo baixo. Do ponto de vista de 
assistência médica, isso representava uma grande mudança. Até então a medicina havia 
sido uma profissão basicamente liberal. A população se dividia em dois grupos: a minoria 
que podia pagar, atendida em consultórios e hospitais particulares, e a imensa maioria de 
pobres que dependiam da filantropia das Santas Casas ou recorriam a curandeiros ou 
simplesmente careciam de recursos. 
Para os médicos, a Previdência Social representava um dilema: de um lado, absorvia 
parte da demanda privada e portanto diminuía a clientela potencial; de outro, significava a 
garantia de um emprego público, às vezes com salários muito bons. 
À medida que foi aumentando o número de escolas médicas, o dilema se resolveu por 
si: os jovens profissionais optavam pelo emprego, nem que fosse para garantir sustento 
enquanto o consultório não rendia o suficiente. 
Em 1967 os vários lAPs foram unificados no Instituto Nacional de Previdência Social. 
Em 1974 foram criados o Ministério de Assistência e Previdência Social e, incorporado a ele, 
o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social, INAMPS. 
 
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Àquela altura, uma cisão já se havia configurado no setor público. De um lado, a 
saúde pública, tendo como função básica o controle das doenças transmissíveis, por 
vacinação, saneamento básico, tratamento específico (no caso de tuberculose, lepra, 
doenças sexualmente transmissíveis), fiscalização sanitária e outros encargos que 
historicamente lhe foram atribuídos. Essas funções estavam a cargo do Ministério da Saúde 
e das secretarias estaduais e municipais (ainda raras) de saúde. De outro lado, a assistência 
médica do INAMPS, em permanente expansão e demandando cada vez mais recursos. 
Esse tipo de assistência privilegiava o atendimento individual e pagava por serviços 
prestados, o que propiciava a fraude. 
Várias tentativas foram feitas para superar a barreira entre ações preventivas e 
curativas, entre saúde pública propriamente dita e assistência médica. A Lei 6229, de 1975, 
que criou o Sistema Nacional de Saúde, introduziu as Ações Integradas de Saúde, uma 
proposta bem intencionada, mas ainda embrionária. Em 1986 reuniu–se, em Brasília, a VIII 
Conferência Nacional de Saúde que postulou a continuidadedesse processo. No ano 
seguinte surgiu o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde. E a Constituinte de 1988, 
a Constituinte Cidadã, introduziu o Sistema Único de Saúde, regulamentado pelas leis 8080 
e 8142, ambas de 1990. O Sistema propõe-se a atender toda a população, por meio de 
serviços próprios, da União, de estados e municípios, e serviços contratados com a área 
privada. 
O SUS ampliou enormemente a gama de serviços prestados à população. Mas 
assistência médica é uma área em que a demanda cresce sem cessar. A todo instante 
surgem novos exames, novos tipos de cirurgia, novos medicamentos. As pessoas buscam, 
nos serviços médicos, solução para problemas que antes suportavam ou procuravam 
resolver de outras maneiras; fala–se até em uma “medicalização” da vida. Ora, o Brasil é um 
país pobre, que, além disso, gasta pouco com saúde, e gasta mal. A oferta de serviços tem 
sido inferior à demanda. O resultado é que uma parte da população, aquela que pode pagar, 
busca no seguro privado a alternativa para o SUS. 
Aqui cabe uma pergunta: como é que a gente sabe se uma população tem bons 
níveis de saúde? Não é uma questão fácil de responder. Vamos comparar a avaliação da 
saúde coletiva com a avaliação da saúde individual. O que faz um médico, quando quer 
avaliar o seu paciente? Conversa com ele, faz a anamnese, isto é, pergunta sobre sintomas 
como dor, falta de apetite e dificuldade para urinar. Depois o examina: ausculta-o, pesa-o, 
conta o pulso, mede a tensão arterial, a temperatura. E pede exames, para saber quanto de 
glicose no sangue tem a pessoa, quanto de colesterol... Com esses dados, ele fará, se 
possível, um diagnóstico. 
 
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________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
No caso da população, o processo tem alguns pontos em comum e algumas 
diferenças substanciais. Para avaliar a saúde de uma população, também existem números: 
os indicadores de saúde. O mais importante deles é a mortalidade infantil, ou seja, o número 
de crianças que morrem antes de completar um ano para cada mil nascidos vivos. Esse 
indicador é importante, não apenas porque fala da saúde mas também porque nos diz muito 
do perfil socioeconômico da região: em geral, quanto mais pobre a população, maior a taxa 
de mortalidade infantil. Há exceções, claro: Cuba é um país pobre, mas tem uma taxa de 
mortalidade infantil relativamente baixa, semelhante à dos Estados Unidos. Outro indicador é 
a expectativa de vida ao nascer: quantos anos podemos esperar viver, em média, ao 
nascer? Esse também é um indicador muito influenciado pela conjuntura. Um terceiro 
indicador: o coeficiente de mortalidade materna, que é o número de óbitos ligados à 
gestação, parto e puerpério (período pós-parto) dividido pelo número de nascidos vivos. 
Também nos interessa saber que doenças causam mais mortes na população. Quando são 
más as condições de vida e de saúde, é elevado o número de óbitos por doenças 
transmissíveis: significa que a população não está sendo adequadamente vacinada, que as 
condições de saneamento são más, que as pessoas estão desnutridas, portanto propensas 
a tais doenças. 
Em contrapartida, à medida que a situação de saúde melhora e que as doenças 
transmissíveis vão sendo vencidas, a expectativa de vida aumenta e, por conseguinte, 
aumentam as doenças que acometem pessoas mais velhas, como as cardiopatias. Os 
indicadores são, portanto, semelhantes à temperatura corporal, pulso e medida de tensão 
arterial. 
Vamos às diferenças: sabemos, há muito tempo, qual a temperatura considerada 
normal para um ser humano. Mas não sabemos exatamente o que é uma mortalidade infantil 
“normal”. Dificilmente ela chegará a zero, porque há causas de óbito praticamente 
inevitáveis, a esta altura de nossos conhecimentos; mas não podemos definir com precisão 
o número desejável. O que podemos fazer é comparar países entre si, regiões entre si. O 
Brasil tem uma mortalidade infantil maior do que Cuba, Suécia, ou Japão: podemos, pois, e 
devemos baixar a nossa mortalidade infantil (pode-se estabelecer a mesma relação entre o 
Nordeste e o Sudeste brasileiro). 
A política de saúde é aquilo que os governos apresentam como a maneira pela qual 
vão melhorar a saúde da população (em geral querem melhorá-la, apesar de que a política 
de saúde dos nazistas contemplava o extermínio das “raças inferiores”). A política é uma 
formulação de caráter geral; ela pode ser mais detalhada – sob a forma de planos, que, por 
sua vez, compreendem programas (programa de cuidados materno-infantis, programa de 
vacinação), que devem ter objetivos definidos. Por exemplo: controlar a tuberculose ou a 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
lepra. Um objetivo se expressa em metas, que são os objetivos quantificados. Por exemplo: 
queremos vacinar 90% das crianças menores de um ano contra a poliomielite ou paralisia 
infantil. 
Definir e pôr em prática uma política de saúde voltada para as necessidades mais 
prementes da população é o grande desafio que se coloca diante de nosso país. A nossa 
história mostra que progredimos muito. Mas ainda não chegamos lá. 
 
 
3.2 CONCEITO DE SAÚDE PÚBLICA E SAÚDE COLETIVA 
 
A expressão “Saúde Pública” pode dar margem a muitas discussões quanto a sua 
definição, campo de aplicação e eventual correspondência com noções veiculadas, muitas 
vezes, de modo equivalente, tais como “Saúde Coletiva”, “Medicina 
Social/Preventiva/Comunitária”, “Higienismo”, Sanitarismo”. 
Em geral, a conotação veiculada pela instância da “Saúde Pública” costuma se referir 
a formas de agenciamento político/governamental (programas, serviços, instituições) no 
sentido de dirigir intervenções voltadas às denominadas “necessidades sociais de saúde”. 
Já “Saúde Coletiva”, em síntese, implica em levar em conta a diversidade e 
especificidade dos grupos populacionais e das individualidades com seus modos próprios de 
adoecer e/ou representarem tal processo, e que, não necessariamente, passam pelas 
instâncias governamentais ditas responsáveis diretas pela saúde pública. 
“Medicina Social/Preventiva/Comunitária” tende a indicar uma área 
disciplinar/acadêmica que estudaria o adoecer para além de sua dimensão biológica. Na 
verdade, em linhas gerais, está voltada para abordá-la ao nível de determinantes sócio / 
político / econômico / ideológicos. Outra forma de encarar este problema de definições é 
buscar elementos nos diversos momentos históricos de reforma em saúde em diferentes 
formações socioeconômicas. Deste modo, por exemplo, as origens da ideia de Medicina 
Social estão ligadas aos movimentos sanitários na França e Alemanha. 
Por sua vez, Medicina Preventiva, Comunitária e Familiar relacionam–se à 
correspondente história referida aos Estados Unidos e América Latina. O Higienismo tem 
raízes européias, e o Sanitarismo sugere influências marcadamente britânicas. 
Alguns consideram “Saúde Coletiva” como categoria que abrange a corrente crítica 
constituída pela Medicina Social, pelo movimento preventivista, representado pelos 
Departamentos de Medicina Preventiva e Social de diversas Faculdades Médicas e por 
alguns componentes institucionalizados em nível estatal da própria área da Saúde Pública. 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
Podem–se identificar pelo menos cinco conotações diferentes emque a expressão 
“Saúde Pública” é empregada (sem incluir hibridismos): 
1. O termo “pública” equivale ao setor público, governamental; 
2. Pode incluir a participação da comunidade organizada, o “público”; 
3. Identifica-se aos serviços dirigidos à dimensão coletiva (saneamento, por exemplo); 
4. Acrescenta ao anterior serviços pessoais dirigidos a grupos vulneráveis (por 
exemplo, Programas de Saúde Materno Infantil); 
5. Refere-se a problemas de elevada ocorrência e/ou ameaçadores. 
De qualquer modo, parece haver consenso com a caracterização do campo da Saúde 
Pública mediante dois amplos critérios: 
1. A vinculação ao aparelho de Estado; 
2. A dimensão coletiva como objeto de intervenção. 
Claro está que tal categorização é por demais abrangente. Conforme as 
circunstâncias, os campos se interpenetram e nem sempre é possível fazer distinções bem 
delimitadas quanto aos respectivos domínios e fronteiras. Pode–se conjeturar, enfim, que a 
compreensão do que seja “Saúde Pública” resulte, em última análise, de pontos de vista dos 
indivíduos/grupos socioeconômicos culturais, condicionados pelas suas ideias acerca do 
mundo que nos rodeia, conforme os respectivos interesses, crenças, concepções. Mas, 
sobretudo, sob as determinações da correspondente formação socioeconômica. 
Aqui, não há preocupação estrita em aderir incondicionalmente a qualquer das 
referidas tentativas de definição. Mesmo admitindo-se a importância das propostas 
definidoras citadas, para efeitos deste sítio, iremos considerar Saúde Pública como um 
domínio genérico de práticas e conhecimentos organizados institucionalmente em uma dada 
sociedade dirigidos a um ideal de bem-estar das populações – em termos de ações e 
medidas que evitem, reduzam e/ou minimizem agravos à saúde, assegurando condições 
para a manutenção e sustentação da vida humana. 
Em tempos de Internet, é importante dispor de um sistema abrangente de 
informações de saúde, interligado eletronicamente. Os dados serão coletados a partir de 
diversas fontes para constituírem bases informatizadas confiáveis que permitam pronto 
manuseio pelos usuários, tanto profissionais da área como a população interessada. Para 
isto é necessário, além de recursos financeiros, técnicos e tecnológicos, o empenho dos 
indivíduos para atuarem como cidadãos com o fim de obter o comprometimento dos 
responsáveis pela dita Saúde Pública no sentido de viabilizar tal sistema. 
 
Fonte: Copyright © Psicóloga Alexsandra Esteves 2009 REV 00 
www.hasten.eng.br/psicologia 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
 
 
 
4. PSICOLOGIA E SAÚDE COLETIVA 
 
Psicologia em Pesquisa | UFJF | 1(02) | 11 - 22 | julho - dezembro de 2007 
Aguiar, S. G. & Ronzani T. M. 11 
 
 
 
 
 
Psicologia social e saúde coletiva: Reconstruindo identidades 
 
Social psychology and collective health: Reconstruction of identities 
 
 
Silvia Gomes Aguiar* 
Telmo Mota Ronzani** 
 
 
 
 
O presente artigo consiste em uma revisão bibliográfica que apresenta um breve histórico da psicologia no 
campo da saúde, mais especificamente da psicologia na saúde pública. Problematiza as práticas da psicologia 
tradicional neste contexto e apresenta algumas alternativas e propostas de atuação da psicologia na saúde 
coletiva, centrada principalmente nas ações de políticas de saúde, prevenção de doenças e promoção de saúde, 
tendo como embasamento teórico principal a psicologia social. Conclui-se que a psicologia social não é uma 
teoria totalizadora das possibilidades de intervenção e entendimento do tema em questão, porém se apresenta 
como um campo coerente e importante para as ações em saúde coletiva. 
 
Palavras-chaves: Psicologia Social; Saúde Coletiva; Práticas em Psicologia. 
 
 
 
 
The present paper consists of a bibliographic revision that presents a brief history of the health field of 
Psychology, more specifically public health. Questions the traditional practises of psychology in this context and 
presents alternative proposals of collective health psychological practises. Specially centred on public health 
policy, health problem prevention and health promotion, it is based on Social Psychology theoretical framework. 
It is concluded that Social Psychology does not summarise the total of all possibilities of intervention and 
understanding about the theme in question, but it presents itself as a coherent field and it is important for actions 
in collective heath. 
 
Key-Words: Social Psychology, Collective Heath, Psychological Practises 
 
 
 
 
* 
Psicóloga, Residente de Psicologia no Hospital Universitário da UFJF. 
** 
Psicólogo, Professor Adjunto do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora, 
Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Coordenador do Pólo de 
Pesquisa em Psicologia Social e Saúde Coletiva (POPSS). 
Contato: telmo.ronzani@ufjf.edu.br 
 
 
Introdução 
 
A constituição da Psicologia como 
campo de conhecimento e profissão faz- 
se no entrelaçamento de diversos saberes 
e acontecimentos de ordem social, 
política e econômica, como bem 
demonstra a história da psicologia. 
Cruzamentos estes que foram produzindo 
diversos desdobramentos, gerando 
multiplicidade em termos de teorias e de 
práticas, na tentativa de dar conta das 
diferentes demandas cotidianas 
(Saldanha, 2004). 
O psicólogo, como profissional, 
no Brasil, tem uma história muito recente. 
Resumo 
Abstract 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
 
 
 
Psicologia em Pesquisa | UFJF | 1(02) | 11 - 22 | julho - dezembro de 2007 
Aguiar, S. G. & Ronzani T. M. 1 
 
 
Apesar de o ensino da Psicologia ser feito 
desde os anos 1930, foi somente em 1962 
que a psicologia passou a existir como 
profissão (Dimenstein, 1998). 
Assim, há três décadas os 
psicólogos garantiram um espaço 
institucionalizado de trabalho. Sabe-se 
que com a regulamentação, o psicólogo 
passou a atuar em basicamente quatro 
áreas: clínica, escolar, industrial e 
magistério, áreas que atualmente estão 
bastante ampliadas e que não 
correspondem mais ao universo de 
atuação do psicólogo brasileiro. Segundo 
Dimenstein (1998), a própria pressão do 
mercado de trabalho passou a impulsionar 
os profissionais para outros campos de 
atuação. A assistência pública, dentre 
estas novas áreas, foi para onde convergiu 
uma considerável parcela dos 
profissionais. “As quase três décadas 
desde que a profissão foi regulamentada 
foram acompanhadas de um alargamento 
dos campos de atuação do psicólogo, 
forjado pelo próprio crescimento do 
contingente de profissionais assim como 
pelo maior conhecimento de sua atividade 
e, conseqüentemente, pelo aumento da 
demanda por seus serviços” (Spink, 2003, 
p. 122). 
Um marco importante sobre a 
inserção do psicólogo nos serviços de 
saúde ocorreu em São Paulo a partir de 
1982, com a adoção de uma política 
explícita, por parte da Secretaria da 
Saúde, da desospitalização e da extensão 
dos serviços de saúde mental à rede 
básica. A política adotada pela 
Coordenadoria de Saúde Mental levou à 
criação de equipes de saúde mental 
integradas por equipes mínimas, das quais 
o psicólogo fazia parte, que passariam a 
atuar nos centros de saúde. “Constituía- 
se, assim, uma redede serviços 
teoricamente integrados com atuação nos 
níveis primário, secundário e terciário” 
(Spink, 2003, p. 30). 
Yamamoto (2003, p. 41), a 
respeito da situação profissional da 
psicologia no Brasil, comenta que o 
levantamento feito pelo Conselho Federal 
de Psicologia evidencia duas tendências: 
“de uma parte a manutenção da 
hegemonia clínica com relação às demais; 
de outra, uma ampliação das 
oportunidades profissionais, 
proporcionada pela abertura de novos 
espaços de inserção social”. Sendo que 
um destes espaços é o campo da saúde. 
Como diz o autor (op. cit, p. 48): “Um 
dos campos onde a psicologia tem 
mostrado maior inserção é o da saúde. 
(...) Os psicólogos ingressam no campo 
da saúde através de duas formas: nas 
Unidades Básicas de Saúde, articulados 
aos demais profissionais do campo, e nos 
Núcleos e Centros de Atenção 
Psicossocial (NAPS/CAPS)”. 
Silva afirma que: 
A psicologia clínica 
durante décadas foi 
pensada e planejada como 
disciplina autônoma. É 
relativamente recente sua 
inserção em instituições de 
saúde pública, nas 
diferentes instâncias de 
serviços. Com as 
modificações no sistema 
de saúde, a psicologia, bem 
como as demais profissões 
consideradas da área de 
saúde, que praticamente só 
eram absorvidas em 
instituições ambulatoriais e 
hospitalares, passam a ser 
incorporadas às Unidades 
Básicas. Isto se torna 
possível a partir da VIII 
Conferência Nacional de 
Saúde (1986) (...) para que 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
________________Psicóloga Fernanda Wosny Carvalho – CRP-08/17.180_____________ 
 
Psicologia em Pesquisa | UFJF | 1(02) | 11 - 22 | julho - dezembro de 2007 
Aguiar, S. G. & Ronzani T. M. 1 
 
se chegasse a um Sistema 
Único de Saúde que 
possibilitasse uma atenção 
integral à saúde (1992, p. 
25). 
 
Spink (2003) acrescenta ainda, em 
acordo com os autores anteriormente 
citados, que, até recentemente, o campo 
da atuação da psicologia se resumia a 
duas principais dimensões: em primeiro 
lugar, as atividades exercidas em 
consultórios particulares. Uma atividade 
exercida de forma autônoma, como 
profissional liberal e, de forma geral, não 
inserida no contexto dos serviços de 
saúde. A segunda vertente compreendia 
as atividades exercidas em hospital e 
ambulatórios de saúde mental. 
No campo da saúde, a autora 
considera que importantes transformações 
ocorreram entre os anos 1970 e 1990 e 
possibilitaram a inclusão do psicólogo 
nas ações de saúde. Primeiro houve uma 
ressignificação da causalidade na 
explicação da doença, passando a ser 
vista como um processo e, especialmente, 
como um fenômeno complexo e 
transdisciplinar, que precisa ser abordado 
de forma integradora englobando as 
dimensões biopsicossocial. A nova 
linguagem abriu espaço para ação e 
explicação de cunho psicológico. As 
mudanças foram lentas, mas o espaço foi 
sendo conquistado, por exemplo, nos 
hospitais (Spink, 2003, p. 153). 
A psicologia, embora intimamente 
relacionada ao conceito de saúde 
(definida pela Organização Mundial de 
Saúde como bem-estar físico, mental e 
social), como disciplina, chega 
tardiamente à área da saúde. Chega tarde 
neste cenário e “chega miúda, tateando, 
buscando ainda definir seu campo de 
atuação, sua contribuição teórica efetiva e 
as formas de incorporação do biológico e 
do social ao fator psicológico, procurando 
 
abandonar os enfoques centrados em um 
indivíduo abstrato e a-histórico tão 
freqüentes na psicologia clínica 
tradicional” (Spink, 2002, p. 30). 
Mais recentemente, surgiu no 
cenário da psicologia a psicologia da 
saúde, que tem se orientado mais pelos 
problemas vinculados ao 
desenvolvimento da saúde humana do que 
pela doença (Rey, 1997). 
O desenvolvimento da psicologia 
da saúde estimulou o trabalho do 
psicólogo no âmbito da prevenção e da 
promoção da saúde, assim como sua 
participação em equipes 
interdisciplinares, tanto em instituições de 
saúde quanto em sua atuação no trabalho 
comunitário, tornando-se um espaço 
importante de prevenção e promoção de 
saúde. O desenvolvimento de uma 
psicologia comunitária orientada pelo 
trabalho nas áreas de saúde, 
independentemente das orientações 
teóricas às quais se filia, na verdade 
representou um questionamento aos 
estanques rígidos definidos nas pesquisas 
e nas práticas psicológicas (Rey, 1997). 
Segundo Bock (2001, p. 30), o 
termo psicologia da Saúde aparece a 
partir do Seminário Internacional da 
Saúde realizado em Cuba e relatado no 
Jornal do Psicólogo, nº 11/84. Esta 
expressão ‘psicologia da Saúde’ também 
é usada por Spink (2003) como um novo 
campo do saber. Para Spink (2003), falar 
da psicologia da saúde como novo campo 
do saber parece ser, à primeira vista, uma 
temeridade. Afinal, os aspectos 
psicológicos da saúde/doença vêm sendo 
discutidos desde longa data, e os 
psicólogos já há muito vêm marcando 
presença na área de saúde mental. 
Entretanto, mudanças recentes na forma 
de inserção dos psicólogos na saúde e a 
abertura de novos campos de atuação vêm 
introduzindo transformações qualitativas 
na prática que requerem, por sua vez, 
 
 
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 SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA 
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Psicologia em Pesquisa | UFJF | 1(02) | 11 - 22 | julho - dezembro de 2007 
Aguiar, S. G. & Ronzani T. M. 1 
 
novas perspectivas teóricas. É isto, pois, 
que nos permite afirmar que estamos nos 
defrontando com a emergência de um 
novo saber. 
Os fatores conjunturais (a maior 
aceitação da psicologia e o crescimento 
do número de profissionais), associados à 
postura crítica de certos segmentos da 
profissão, levaram à definição de novas 
áreas de atuação, buscando estender os 
serviços psicológicos às camadas mais 
pobres da população e, neste afã, ampliar 
o referencial teórico de modo a focalizar 
os problemas sociais mais amplos 
subjacentes à problemática individual. 
“Nesse processo, muitos psicólogos 
deslocaram suas atividades dos 
consultórios particulares, inserindo-se 
diretamente na comunidade ou nas 
instituições voltadas ao atendimento das 
camadas desprivilegiadas da população” 
(Spink, 2003, p. 122). Num processo de 
revisão dessas práticas e a busca por 
melhores formas de responder às 
necessidades dos diferentes locais de 
atuação, foi gerando novos campos de 
saber e ampliou sua inserção na saúde. 
 
A Psicologia Social como alternativa para 
a nova prática 
 
Na fomentação de uma nova 
política pública de saúde, abrem-se 
espaços de trabalho para a psicologia, que 
passa a problematizar a aplicação das 
práticas tradicionais em novo cenário de 
atuação. Outras ferramentas de 
intervenção – mais apropriadas para a 
efetiva inserção na área – devem ser 
construídas para o trabalho na Saúde 
Pública, a fim de que possam contribuir 
com as transformações propostas pelo 
Sistema Único de Saúde (SUS). A 
Psicologia Social da Saúde, que 
compreende, em seus pressupostos, uma 
intervenção mais local e coletiva, tem 
sido um importante campo de 
conhecimento e prática para construir 
formas diferenciadas de intervenção na 
saúde. 
A psicologia social, tendo como 
arena de atuação a complexa relação entre 
a esfera individual e a social, tem 
necessariamente uma vocação

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