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Saúde Coletiva Módulo I - Concepção de Saúde e Doença; Módulo II - O Sistema Único de Saúde Professora Luane Castro 1 Saúde Coletiva Profa. Luana Karoline Cordeiro Castro Sobre a professora: Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Federal do Maranhão (2008), Mestrado em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Maranhão (2014). Especialização em Gestão Pedagógica das ETSUS pela Universidade Federal de Minas Gerais (2013). Especialização em Docência do Ensino Superior e Técnico pelo Instituto Florence de Ensino Superior (2017). Tem experiência na área de Enfermagem, Educação, Gestão Pedagógica, Docência do Ensino Superior e Técnico, Educação a Distância, com ênfase em Enfermagem, atuando principalmente nos seguintes temas: saúde da família, pós-graduação, ensino superior, saúde coletiva e saúde pública e EaD. Apresentação da disciplina Prezado(a) aluno(a), Seja muito bem vindo(a) ao curso de Saúde Coletiva. A Saúde Coletiva é uma área do conhecimento muito abrangente e em constante evolução. Tem como objeto de estudo as necessidades de saúde das pessoas e coletividades, envolvendo nesse contexto não só o estudo das doenças, mas de todos os fatores que levam as pessoas adoecerem e morrerem, a terem saúde e, no limite, terem uma vida plena e satisfatória. É um campo de estudo transdisciplinar, envolvendo as ciências biológicas, epidemiologia social, antropologia e geografia humana. Além disso, abre possibilidade para as contribuições de outras ciências e saberes populares como forma de construir ambientes saudáveis, intercâmbio de conhecimentos e trocas entre os profissionais que executam a ciência e a população. Há um vasto repertório a ser explorado por você, estudante que se aproxima dessa ciência. Vamos no decorrer do nosso curso abordar os seguintes temas: 2 · Concepção de saúde-doença; · O processo saúde-doença e o cuidado em saúde; · Evolução histórica da saúde brasileira; · O Sistema Único de Saúde (SUS); · Transição demográfica e situação de saúde no Brasil; · Políticas Públicas de Atenção à Saúde; · Atenção Básica como Política de Saúde ordenadora do SUS; · Modelos de Gestão e Atenção à Saúde no Brasil. Esperamos que ao final do curso você tenha um amplo repertório teórico para que quando o momento chegar, aquele que todo estudante de saúde espera, que é o momento de estar frente a frente com seu paciente, ou sua família ou sua comunidade, você possa intervir de maneira assertiva e eficiente para promover a saúde e o bem-estar daqueles a quem a ciência lhe confiou para cuidar. Bons Estudos! MÓDULO I Concepção de saúde-doença Um dos grandes desafios da saúde coletiva é promover saúde para os coletivos humanos em suas diferentes configurações sejam relacionadas ao tempo histórico, à cultura ou ao estrato socioeconômico. Mas afinal, o que é ter saúde? E qual a importância da sua promoção em níveis populacionais? Não podemos avançar nas discussões práticas da saúde coletiva sem antes entender estes conceitos que ao primeiro olhar parecem simples, porém como veremos a seguir, precisam de algum nível de abstração de quem se aproxima pela primeira vez desta ciência. Sugiro então para “início de conversa”, que você responda às seguintes perguntas: Para refletir: a) O que é “ter saúde”? Quais fatores determinam que as pessoas tenham saúde? 3 b) O que é “estar doente”? Quais fatores favorecem o adoecimento das pessoas? c) O que você costuma fazer quando se vê doente? d) Para você o que significa ser cuidado? e) Como os profissionais de saúde interferem no processo saúde-doença das pessoas? Guarde suas respostas, vamos retomá-las ao final do capítulo. Frequentemente, quando pensamos em ter saúde, nos remetemos a uma ideia de alguém disposto, em dias com suas atividades físicas e alimentação saudável (como recomendam todos os profissionais de saúde), sem dores, sem doença. De fato, durante muito tempo, saúde foi conceituada como algo diametralmente oposto à doença. Ter saúde seria não ter doença. Parece simples, mas será que a resposta para esse questionamento é imediatamente biológica? A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1946, definiu a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social”, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade. Este conceito é também chamado de conceito ampliado de saúde. Em tempos de pandemia, observamos isso muito claramente, quando amigos e parentes aparentemente saudáveis, começam a reclamar de nervosismo, tristeza, daí vêm as palpitações, boca seca, falta de ar, sintomas clássicos de ansiedade. Outros pela crise econômica, se veem em aperto financeiro e de repente ao realizarem um “check-up”, descobrem um aumento dos níveis pressóricos, glicemia aumentada, dislipidemia, ou até desenvolvimento de doença cardiovascular instalada. Vamos além: será que indivíduos em situação social vulnerável como moradores de rua, pessoas sem saneamento básico, em risco nutricional por falta de recursos para comprar alimentos, podem se considerar saudáveis? As causas dos riscos à saúde podem ser tão diversas que fica difícil encontrar a raiz do problema. 4 Podemos ver o exemplo de uma criança com desnutrição que pode ter como causa desde a política econômica vigente que não permitiu correta distribuição de renda, passando por políticas públicas de educação que não permitiram a escolaridade da mãe que ao mesmo tempo em que não entende a composição nutricional dos alimentos e a importância da ingesta de diferentes nutrientes na dieta, não teve acesso a um bom emprego pela baixa escolaridade, impedindo renda suficiente para alimentar a criança, passando por vulnerabilidade social, composição familiar onde a mãe pode não ter com quem deixar a criança para trabalhar, local de moradia, até o acesso aos serviços de saúde (é gratuito? O valor é acessível?), qualidade da assistência à saúde passando pela qualidade dos profissionais de saúde que a acompanham e orientam. Veja só que a saúde da criança não foi só determinada pela imediata ausência de doença, mas por um contexto socioeconômico diverso. Muitos autores ainda assim buscam uma reformulação do conceito ampliado de saúde da OMS, alegando que a “perfeição” buscada pelo conceito é impossível de ser alcançada. Se pararmos para pensar realmente o “completo bem-estar físico, mental e social” defendido pela OMS parece mais um desejo do que algo factível. Em geral este processo entre a saúde e a doença também encontra resposta em como as pessoas buscam pela “cura”. Muitos a buscam através de medidas preventivas, outros só se sentem mais próximos da cura ao fazerem uso de medicamentos farmacêuticos, inclusive muitas vezes se automedicando. Outros lançam mão de tratamentos ditos “alternativos” na medicina ocidental como os da medicina tradicional chinesa. Os mais antigos passam para os mais novos receitas de chás, infusões, uso de ervas, e até rituais com benzedeiras e rezas. Neste contexto está a ciência manejada pelos profissionais de saúde e a sabedoria popular acumulada pelos sacerdotes e membros da comunidade, atores que não necessariamente devem estar em lados opostos mas que se complementam nos territórios e nos espaços de cuidado. Como veremos a seguir, a significação do que é saúde e doença ao longo dos anos, seguiu uma determinação social do tempo histórico e da construção cultural dos coletivos em questão. Explicar o que é ter saúde é 5 tentado desde a antiguidade, na medida em que as pessoas e coletivos sempre se preocuparam em conservar a sua saúde, desde os primórdios. A recusa intuitiva a determinados sabores como o azedo e o amargo, a procura de abrigo para evitar o frio, a chuva e o perigo dos predadores, a necessidade de descansar, se alimentar,proporcionaram à espécie humana sua permanência e multiplicação na Terra. Como você pode imaginar também há registros muito antigos de determinadas doenças desde a antiguidade que afligem a humanidade até os dias de hoje. Há registros de esquistossomose, tuberculose e varíolas em múmias egípcias, tumores em ossos humanos pré-históricos, relatos de epidemias na Ilíada e no Velho Testamento da Bíblia Sagrada. Figure 1 Crânio pré-histórico de mulher adulta do período Chavin, do Peru, com desenvolvimento de osso esponjoso de natureza tumoral. (Coleção de imagens didáticas do Museu de San Diego) Fonte: http://www.ccms.saude.gov.br/paleopatologia/painel13.php Como veremos a seguir, as diferentes formas de organização social em diferentes lugares e épocas, aliadas mais recentemente aos avanços científicos e tecnológicos foram modificando as concepções do processo saúde-doença ao longo do tempo. Aula 1: Modelos explicativos do processo de saúde http://www.ccms.saude.gov.br/paleopatologia/painel13.php 6 Modelo mágico-religioso ou xamanístico Era a visão predominante na antiguidade. A crença religiosa era o ponto de partida para compreensão do mundo e o adoecimento era visto como um forma de punição de Deus/Deuses/espíritos à transgressões cometidas pelos seres humanos de maneira individual e/ou coletiva. Para reatar esta conexão cosmológica, recorria-se aos sacerdotes, feiticeiros ou xamãs, que através de rituais e sacrifícios, buscavam reestabelecer a saúde das pessoas e comunidades. CURIOSIDADE Segundo os siberianos Xamã significa "aquele que enxerga no escuro", é um ser considerado inspirado pelos espíritos, que pode voar para outros mundos, e em estado de transe se comunica com espíritos da natureza. Dança dos Xamãs, próximo de Quizil - Rússia link:https://pt.wikipedia.org/wiki/Quizil#/media/Ficheiro:Schamanin_w%C3%A 4hrend_einer_Kamlanie-Zeremonie_am_Feuer_in_Kysyl.jpg Modelo holístico https://pt.wikipedia.org/wiki/Quizil#/media/Ficheiro:Schamanin_w%C3%A4hrend_einer_Kamlanie-Zeremonie_am_Feuer_in_Kysyl.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Quizil#/media/Ficheiro:Schamanin_w%C3%A4hrend_einer_Kamlanie-Zeremonie_am_Feuer_in_Kysyl.jpg 7 Ainda na antiguidade, vemos outra forma de explicar o processo saúde doença através da noção de equilíbrio energético do corpo com o ambiente (animais, astros, plantas...). Esta forma de concepção de saúde e doença era observada nas culturas hindu e chinesa. Modelo empírico – racional (hipocrático) Chama-se modelo empírico pela palavra grega εμπειρία ou empeiría, que significa experiência. Apesar do termo ter sido largamente utilizado na Idade Média, aqui a utilizamos como primeira tentativa que se registra do Homem em explicar os eventos que o circundam (incluindo-se aí, os eventos de saúde, adoecer e morrer), através da racionalidade e não unicamente pela religião. Temos evidências de uma aplicação mais racional dos eventos de saúde-doença desde o Antigo Egito (3000 a.C), e na medicina grega, mais especificamente Hipocrática, uma explicação do processo saúde doença como resultante de fatores ambientais, ainda que não totalmente desvencilhada de eventos por vezes mágico-religiosos. Em seu livro: Ares, Águas e Lugares, Hipócrates (460 – 370 a.C.) inaugura os termos “endemia” e “pandemia” (termos que usaremos muito neste curso), como formas de apresentação de doenças em uma comunidade com alguma regularidade. Relaciona eventos endêmicos com a qualidade do solo, da água, da nutrição e do modo de vida das pessoas. Elaborou o conceito de “homeostase” como o perfeito equilíbrio entre homem e o seu meio, não só natural (chuvas, ventos, solo) como também social (trabalho, moradia, posição social). É dele a teoria dos quatro humores: sangue, linfa, bile amarela e bile negra) e a teoria miasmática, onde as doenças eram resultantes de odores de regiões insalubres, daí vem o termo Malária (maus ares). 8 Figure 3 Teoria dos quatro humores organizada por Empédocles de Agrigento (490-435 aC). Fonte: https://xaropedeletrinhas.com.br/a-medicina-hipocratica-a-teoria-dos-quatro-humores/ Modelo da saúde na Idade Média Com o declínio da sociedade Greco-Romana, e ascensão do Feudalismo, houve um retorno às explicações religiosas do processo saúde- doença. O que muitos autores vão chamar de “Idade das Trevas”, compreendeu um período da história (476 – 1476 d.C.) em que houve o domínio político, social e cultural da igreja Católica, que no âmbito da saúde, ideologicamente conectava doença com pecado, de forma que as doenças eram resultado do castigo de Deus, expiação dos pecados cometidos ou até de possessões demoníacas, deixando de lado qualquer explicação racional. O processo de cura agora era mediado por sacerdotes e não mais médicos. As recomendações passaram de ser dietéticas, medicamentosas, e de bons hábitos de descanso e higiene para rezas, penitências, unções e exorcismos. Foi um período de grandes epidemias e doenças vinculadas à maus hábitos de higiene e cuidado com os alimentos como varíola, sarampo, difteria, tuberculose, erisipela, escabiose, ergotismo, influenza, lepra e peste bubônica. https://xaropedeletrinhas.com.br/a-medicina-hipocratica-a-teoria-dos-quatro-humores/ 9 Em contrapartida, neste mesmo período histórico, antes das Cruzadas, o oriente gozava de vasto crescimento intelectual, chamado de “Era de ouro do mundo Árabe”. Os conhecimentos Aristotélicos ganharam força e foram aperfeiçoados por polímatas como Ibn Sīnā ou Avicena, que em sua mais importante obra “O Cânone da Medicina” explora aspectos de anatomia, fisiologia, farmacologia e patologia com impressionante exatidão. Para se aprofundar sobre o processo saúde-doença na idade média na Europa e no mundo árabe, assista ao filme “O Físico” lançado em 2014, disponível em vários serviços de streaming. Sinopse: Na Inglaterra do século XI, o jovem aprendiz Rob Cole decide embarcar na maior aventura de sua vida e parte para a exótica Pérsia, onde pretende encontrar e estudar com o lendário médico, cientista e filósofo Ibn Sina. Em busca de respostas aos seus questionamentos, ele descobre o poder do amor e de antigas tradições da era de ouro do mundo árabe. Modelo Biomédico Com o chamado Renascimento (meados do século XIV e fim do século XVI), período de transição entre o feudalismo e o capitalismo, de intensa revalorização dos pensamentos da antiguidade clássica (como vimos no modelo empírico-racional), grande avanço nas artes e ciências, criação das Universidades, a concepção do processo saúde-doença seguiu o caminho dos avanços filosófico-científicos que se faziam na época. Havia grande interesse no estudo da anatomia, fisiologia, descrição de doenças e epidemiologia. O método científico de René Descartes (método cartesiano), fundou bases para o modelo biomédico que apresentamos aqui. Seu “Ceticismo Metodológico” onde o conhecimento é elaborado através de questionamentos e dúvidas da veracidade do que se postula, tem os seguintes passos metodológicos: ● Descobrir quais são as conclusões possíveis e nunca aceitar nada como verdadeiro à primeira vista; ● Fazer vários experimentos e dividir o problema em quantas partes for possível; 10 ● Analisar os resultados e pensar de forma ordenada do mais simples ao mais complexo; ● Pegar as conclusões (que devem estar de acordo com o passo 1) e, se possível, mixá-las para chegar a apenas 1 conclusão através da lógica, prestando atenção nos detalhes exaustivamente. Da mesma forma, o modelo biomédico tentou explicar o processo saúde doença através somente da doença, dividindo o corpo em quantas partes fosse possível, estudando estas exaustivamente do mais simples ao mais complexo, buscando conclusões possíveis por exaustivas tentativas lógicas de conclusão. Outra repercussãocartesiana foi a sugestão do estudo do corpo e da mente de maneiras separadas, sendo o corpo estudado pela medicina e a mente pela filosofia e religião Com a visão capitalista também passou-se a ver o corpo humano como uma máquina, cujo mal funcionamento (doença), deveria requerer ajustes, “concertos” através das habilidades médicas que nessa analogia seria o mecânico. De fato, o modelo biomédico pode ser entendido por: desajuste ou falha nos mecanismos de adaptação do organis- mo ou ausência de reação aos estímulos a cuja ação está ex- posto [...], processo que conduz a uma perturbação da estru- tura ou da função de um órgão, de um sistema ou de todo o organismo ou de suas funções vitais (JENICEK; CLÉROUX, 1982 apud HERZLICH, 2004). Nesta época também ganhou força a teoria miasmática, já citada anteriormente no modelo empírico-racional, que só perdeu força com a descoberta dos microrganismos e sua relação com as doenças no século XIX. Podemos dizer que a consolidação da teoria miasmática na época, foi a primeira aproximação moderna de explicação da correlação entre o processo saúde-doença e seus determinantes ambientais. No final do século XIX, com a construção do microscópio e a descoberta dos microrganismos, o modelo biomédico ganhou mais força, explicando o processo saúde-doença exclusivamente pela presença de agentes infecciosos, o que chamamos de modelo unicausal de explicação da doença. A subjetividade dos determinantes de saúde e doença foram reduzidos à unicausalidade do agente infeccioso. 11 Se por um lado a teoria permitiu grandes avanços como o surgimento das vacinas e avanço da bacteriologia, as causas sociais, econômicas e políticas foram colocadas de lado. Temos nesse modelo portanto uma predominância do enfoque curativo e biologicista. Figure 4 Modelo Unicausal de explicação da Doença. Fonte: http://cssaudeedoenca.blogspot.com/2011/10/unicausalidade.html Modelo Sistêmico Já no século XX, com o fim da Segunda Grande Guerra (1945), via-se uma importante mudança do perfil demográfico e epidemiológico nas nações (vamos aprofundar esses conceitos mais a frente). Com o avanço das ciências da saúde, as pessoas começaram a viver mais, as doenças infectocontagiosas perderam a importância em relação às doenças crônicas (ainda que estas coexistam até hoje em países em desenvolvimento como o Brasil). O modelo biomédico precisou ser melhor elaborado, levando em consideração os diferentes elementos que levam uma pessoa a adoecer ou ter saúde. Elaborou-se portanto um modelo explicativo que considerou estes elementos em sistema. O sistema é assim conceituado como: http://cssaudeedoenca.blogspot.com/2011/10/unicausalidade.html 12 “um conjunto de elementos, de tal forma relacionados, que uma mudança no estado de qualquer elemento provoca mudança no estado dos demais elementos” (Roberts, 1978 apud Almeida Filho; Rouquayrol, 2002). Figure 5 Sinergismo multifatorial na determinação das doenças diarreicas. Fonte: Almeida Filho e Rouquayol, 2002. Modelo da História Natural das doenças (modelo processual) O modelo proposto por Leavell e Clark (1976) define o a interrelação entre doença e saúde como um processo chamado História Natural da Doença. De acordo com o modelo proposto, há um estímulo patológico, que é o período pré-patogênico. Em uma relação de causa e efeito, quanto maior o estímulo e quanto mais tempo o indivíduo está exposto à esse estímulo, maior a chance de adoecer, que é o período patogênico de fato. Este modelo nos permite observar que existem fatores predisponentes ao evento do adoecimento, e portanto, há a possibilidade de evita-los através de ações de prevenção. 13 Ademais, pode-se estabelecer um plano de cuidados ao indivíduo já doente, em diferentes níveis de complexidade, estabelecendo prognósticos desde a completa cura até os cuidados paliativos. Figure 6 Modelo da História Natural da Doença. Fonte: Almeida Filho e Rouquayol, 2002. Exercitando: Faça uma leitura criteriosa do texto acima e elabore exemplos onde você percebe as diferentes formas (modelos) que a humanidade concebeu saúde e doença ao longo do tempo, em nosso dia-a-dia. Lembre-se dos modelos estudados que foram: Mágico-religioso ou xamanístico; Holístico; Empírico-racional (hipocrático): Biomédico; Sistêmico; História Natural da Doença (processual) 14 Aula 2: O Processo saúde-doença e o cuidado em saúde E agora que vimos como as concepções de saúde e doença estão intimamente ligadas ao momento histórico das populações, sua cultura, seu acúmulo científico e suas condições socioeconômicas, podemos avançar para conceitos mais contemporâneos de entendimento do processo. Na contemporaneidade, observa-se um movimento em direção aos elementos diversos que determinam o processo saúde-doença. Há um conjunto de escolas que estudaram o que foi denominado de “determinação social do processo saúde-doença” como o movimento de promoção à saúde no Canadá (Carvalho, 2005), a medicina social da américa latina (Franco et al., 1991), e a saúde coletiva no Brasil (Nunes, 1998). tratado Ainda que com algumas diferenças, todos entenderam a importância da organização social, do tempo histórico e do território nos resultados de saúde de uma população. Assim, aspectos imediatamente biológicos como idade, sexo e fatores hereditários determinam nossa saúde, bem como escolhas de estilo de vida como hábitos de higiene, alimentação e atividade física por exemplo. As redes sociais e comunitárias que participamos também influenciam nosso processo de saúde e doença, como quando temos uma rede de apoio seja religioso, comunitário, familiar que nos apoia emocionalmente e nos dá segurança no dia-a-dia. Da mesma forma, a saúde está atrelada ao fato de termos emprego e renda, condições dignas de moradia, educação, um ambiente de trabalho saudável que nos fornece não só renda mas saúde mental e realização profissional. Neste âmbito estão ainda aspectos estruturais como oferta de bons serviços de saúde, boa oferta agrícola de alimentos com ênfase na segurança alimentar, rede de água e esgoto sustentável e confiável, que chamamos de condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais. O modelo de determinação social da saúde de Dahlgren e Whitehead (1991) representa bem esses aspectos desde os determinantes mais individuais até os macrodeterminantes do processo, do centro do diagrama até sua periferia. Este modelo é o mais citado e estudado entre os teóricos de saúde coletiva do Brasil por sua simplicidade e assertividade sendo inclusive adotado pela Comissão Nacional de Determinantes Sociais em Saúde do 15 Brasil criada pelo Governo Federal a fim de contribuir com políticas públicas que promovessem o bem-estar da população (CNDSS, 2008). Figure 7 Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead (1991). Fonte: Relatório CNDSS, 2008. HIPERLINK: Você pode acessar o site da Comissão Nacional de Determinantes Sociais de Saúde do Brasil no site http://dssbr.org/site/sobre/ Lá você encontrará publicações atuais sobre a situação de saúde dos brasileiros com um enfoque nas causas e consequências do processo. Para completar nosso pensamento, trago reflexões do professor Gastão Wagner de Sousa Campos que em seu ensaio “Clínica e Saúde Coletiva Compartilhadas: Teoria Paideia e reformulação ampliada de do trabalho em saúde” no Tratado de Saúde Coletiva, 2012 refere haver três fatores intervenientes no processo saúde-doença das pessoas: a) Fatores Particulares b) Fatores Singulares c) Fatores Universais http://dssbr.org/site/sobre/ 16 Figure 8 Coprodução do processo saúde/doença/intervenção Fonte: Tratado de saúde coletiva, 2012. Quanto aos fatores particulares temos os fatores biológicos e os fatoressubjetivos. Afirma-se aqui que fatores genéticos como ter ou não Síndrome de Down modificam a vulnerabilidade da pessoa ao processo de adoecer. A idade, quanto mais velha mais próxima de disfunções celulares e homeostáticas pelo estresse oxidativo e perda de telômeros a cada replicação celular por exemplo. Sabemos que há doenças que afetam mais o sexo masculino que o feminino e vice versa, o estado de gravidez coloca a mulher em situação de vulnerabilidade para determinadas afecções como de proteção para outras. A hipertensão arterial é um estado crônico que degenera muito mais rapidamente o sistema cardiovascular e pode vir acompanhada de outras doenças crônicas como Diabetes Melitus que diminuem a expectativa de vida das pessoas. Os fatores subjetivos falam quanto a imanência do sujeito, ou seja, sua essência, sendo específico para cada pessoa. São seus interesses e desejos. Parada Obrigatória O conceito de interesse abordado aqui vem de escolas racionalistas, que admitem que o ser humano calcula racionalmente suas escolhas para sua própria sobrevivência. A forma como se relacionam com o mundo, como por 17 exemplo, na manutenção de um núcleo familiar estável, quando segue as leis, na busca de um bom emprego para manter ou melhorar seu poder de compra e estabilidade, e em saúde, quando buscam alimentar-se bem e realizar atividades físicas por exemplo, estão fazendo escolhas racionais de interesse. O desejo para o método do professor Campos, seria uma tendência psíquica do sujeito humano em buscar o prazer, o gozo, com certo grau de independência de sua própria sobrevivência, ou seja da racionalidade do interesse. O desejo pode também voltar-se a finalidades perversas, destrutivas quanto aos outros ou quanto a si mesmo ou quanto a determinado contexto. É interessante percebermos estes conceitos em nossas práticas enquanto trabalhadores de saúde. Muitos profissionais se frustram quando veem um paciente hipertenso, abusando do sal, ou um usuário de drogas que não se recupera, uma gestante que não comparece às consultas de pré-natal, uma mãe que não leva os filhos às consultas odontológicas, um paciente dislipidêmico com obesidade grau 2 que não consegue emagrecer. Reflita sobre suas próprias escolhas de saúde e tente identificar escolhas racionais e de desejo em cada uma delas. Vamos agora à síntese singular do processo saúde-doença que se configura na influência que os indivíduos fazem no contexto em que vivem e ao mesmo tempo a influência que este contexto exerce sobre os indivíduos. Parece complexo mas exemplificando, temos a produção cotidiana de um profissional em uma Unidade Básica de Saúde. Ao adentrar este lugar para seus primeiros dias de trabalho, ele vê as normas e rotinas da Unidade, os protocolos, mas também observa como as pessoas se relacionam, a dinâmica política e de poder que há entre os funcionários, a forma como o paciente é atendido e por fim o seu papel social no local. Com o tempo, ele vai se adequando àquela rotina, mas ao mesmo tempo, imprime sua personalidade, seus interesses e desejos naquele ambiente de trabalho, que pouco a pouco também passam a influenciar as rotinas, normas e relações de poder que há naquele lugar. Assim é com todas as instituições e locais de produção coletiva como igrejas, escolas, imprensa, hospitais, família. O sujeito as influencia e elas influenciam os sujeitos. 18 No contexto do processo saúde-doença, as escolhas de saúde são determinadas por elementos singulares como nossas práticas cotidianas que ao mesmo tempo em que dizem muitos sobre nossos desejos, são também moldadas pela sociedade, política, gestão, trabalho e vice-versa. Então a forma como entendemos o que é adoecer, ser saudável, morrer, depende muito de nossa religião, o quanto nós estudamos de biologia e química para entendermos as bases fisiológicas da doença, se temos instrução suficiente para compreender as recomendações médicas, se há para nós há alguma importância em viver em nossa sociedade de forma ativa como por exemplo fazendo parte de um coletivo de jovens, de um partido político ou grupo da igreja, se quero ficar saudável para trabalhar bem e crescer profissionalmente influenciando minha comunidade, se eu sei a importância de participar de espaços onde as políticas de saúde são definidas como em conferências e conselhos de saúde e se através de tudo isso eu posso assumir a corresponsabilidade do meu processo saúde doença com minha comunidade e com os profissionais de saúde que me assistem. Quanto aos fatores universais, temos os determinantes socioeconômicos e as políticas sociais, econômicas e políticas que as promovem. Aqui então, temos por exemplo o tipo de serviço de saúde que é ofertado à população. Comparações recentes entre países com condições socioeconômicas parecidas, mostraram grandes vantagens em níveis de saúde às populações que tinham acesso a sistemas públicos (WHO, 2006). Outro exemplo é o acesso a saneamento básico, cuja ausência é diretamente proporcional à alta incidência de doenças diarreicas em crianças menores de um ano, proporcionando importante fenômeno explicativo de altas taxas de mortalidade infantil. A baixa escolaridade, que por si só já é um importante fator de exclusão social de uma população, pode ainda explicar o alto índice de gravidezes na adolescência, que leva a mais exclusão social, configurando-se uma “bola de neve” de perpetuação de pobreza em estratos sociais. REVEJA o diagrama do modelo sistêmico de explicação do processo saúde-doença e elabore você um diagrama de um problema de saúde comum 19 entre os brasileiros, levando em consideração os diferentes determinantes para esta doença. A percepção do processo saúde-doença é um importante ponto de partida para os profissionais de saúde que buscam promover saúde para indivíduos e coletivos. Sei que para se tornar um profissional de saúde, você terá que estudar muito, praticar muito, se dedicar anos a fio sobre os livros e sobre as técnicas inerentes à profissão que escolheu, mas ao colocar-se frente a outro indivíduo, que você possa lembrar-se que as necessidades de saúde de um sujeito, vão além da parte do corpo injuriada, da dor física imediata que ele sente, dos níveis laboratoriais que precisam ser normalizados, mas de um contexto muito maior que determinou aquele adoecimento, e é nesse contexto que não o chamarei de “doutor” ou “curador” ou “medicador” (peço licença para o uso desses neologismos), mas sim de cuidador. O cuidador e o cuidado remetem à uma interação entre dois seres onde um é atravessado e afetado pelo outro no sentido de “querer bem” agir empaticamente, buscando o bem-estar e a saúde e isso só é possível quando um entendo o que é “bem” para o outro, o que requer um conhecimento dos elementos que particulares, singulares e universais que determinam essa compreensão, ou seja, vê-lo de maneira integral. (BUB, 2006, CAMPOS et al. 2012) Nesta prática do cuidado, o profissional deve exercer determinados atributos, sendo eles: a ética nas relações humanas, solidariedade, confiança e conhecimento técnico-científico, buscando a cura sempre que possível, o bem-estar, o alívio quando ou enquanto não pode-se alcançar a cura, mudanças no estilo de vida, e até a promoção e fortalecimento de ações coletivas em busca de melhorias estruturais, econômicas e políticas para a melhoria das condições de saúde das pessoas, famílias e comunidades. Perceba que não é apenas a prescrição de um medicamento, a realização de uma técnica ou a orientação de uma ação de saúde. É muito mais que isso. Outro aspecto importante para promover cuidado em saúde é a promoção do autocuidado. O autocuidado permite que o indivíduo se 20 responsabilize pelo seu processo saúde-doença, que possa promover o “cuidado de si” como elucidaFoucault (2006). Para que esse sujeito cuide de si, é importante que ele tenha as melhores informações possíveis para tomar escolhas saudáveis se este for o seu desejo, e o profissional de saúde deve ser esse catalizador de ideias saudáveis para seus pacientes através da promoção à saúde, levando em consideração seu nível escolaridade, sua condição socioeconômica, os serviços que lhe são disponíveis e sua própria condição biológica. Mais a frente falaremos mais sobre promoção à saúde e prevenção de doenças onde esses conceitos serão melhor elaborados. Agora vamos retornar às suas respostas às perguntas no começo do capítulo Para refletir: a) O que é “ter saúde”? Quais fatores determinam que as pessoas tenham saúde? b) O que é “estar doente”? Quais fatores favorecem o adoecimento das pessoas? c) O que você costuma fazer quando se vê doente? d) Para você o que significa ser cuidado? e) Como os profissionais de saúde interferem no processo saúde-doença das pessoas? Você mudaria alguma resposta? Porque? REFERÊNCIAS ALMEIDA FILHO, N; ROUQUAYROL, M. Z. Modelos de saúde-doença: introdução à epidemiologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Medci Ed., 2002. p. 27-64. BATISTELLA, C. Abordagens contemporâneas do conceito de saúde. In: FONSECA, A.F.; CORBO, A.M.D. (orgs) O território e o processo saúde doença. Rio de Janeiro. Escola Politécnica de Saúde João Venâncio. FIOCRUZ, 2007. p. 51-85 BATISTELLA, C. Saúde, Doença e Cuidado: complexidade teórica e necessidade histórica. In: FONSECA, A.F.; CORBO, A.M.D. (orgs) O território e o processo saúde doença. Rio de Janeiro. Escola Politécnica de Saúde João Venâncio. FIOCRUZ, 2007. p. 25-50. 21 BUB, M.B.C. et al. Noção do cuidado de si mesmo e conceito de autocuidado na Enfermagem. Texto e Contexto em Enfermagem, Florianópolis, v. 15, n. Esp., p. 152- 157, 2006. BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A Saúde e seus Determinantes Sociais. In PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1): 77-93, 2007. CAMPOS, et al. (organizadores). Tratado de saúde coletiva. São Paulo – Rio de Janeiro: Hucitec – Ed. Fiocruz, 2012. CARVALHO, S.R. Saúde Coletiva e Promoção da Saúde. São Paulo: Hucitec, 2005. CASTELLANOS, P. L. Sobre o conceito de saúde-doença: descrição e explicação da situação de saúde. Boletim Epidemiológico [da] Organização Pan-Americana de Saúde, v. 10, n. 4, p. 25-32, 1990. CNDSS. As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil. In: Relatório final da comissão nacional sobre determinantes sociais da saúde (CNDSS). 2008. FOUCAULT, M. Resumo do curso. In: EVALD, F. et al (Org.). 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Aula 1: Evolução histórica da Saúde Brasileira No longo caminho que culminou com a construção do Sistema Único de Saúde Brasileiro, o nosso SUS, foi trilhado um longo caminho, pavimentado por disputas entre diferentes atores que propunham diferentes modelos e propostas de oferta de serviços de saúde em nosso país. Para que possamos nos aprofundar nessas disputas, sugiro que façamos um resgate histórico dos modelos de saúde de nosso país, a fim de entendermos de onde viemos e para onde queremos ir na defesa de um Sistema de Saúde equânime, integral e universal. PARADA OBRIGATÓRIA: Para que possamos prosseguir, sugiro que você leia o texto Cronologia Histórica da Saúde Pública produzido pela Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, disponível no link http://www.funasa.gov.br/cronologia-historica-da- saude-publica . E o vídeo A História da Saúde Pública no Brasil- 500 anos de busca soluções, no Brasil, produzido pela FIOCRUZ disponível no link https://portal.fiocruz.br/video/historia-da-saude-publica-no-brasil-500-anos-na- busca-de-solucoes . PARA REFLETIR Como você viu no texto e no vídeo acima, os modelos de saúde vigentes em nosso país, seguiram o contexto histórico em que foram elaboradas e os interesses vigentes das classes dominantes da época. Você pode citar alguns exemplos de interesses econômicos que impulsionaram alguma implementação de estratégia de saúde na história do nosso país? http://www.funasa.gov.br/cronologia-historica-da-saude-publica http://www.funasa.gov.br/cronologia-historica-da-saude-publica https://portal.fiocruz.br/video/historia-da-saude-publica-no-brasil-500-anos-na-busca-de-solucoes https://portal.fiocruz.br/video/historia-da-saude-publica-no-brasil-500-anos-na-busca-de-solucoes 23 Como você percebeu, o início da organização sanitária colonial, era voltada quase que exclusivamente para a higiene das cidades portuárias, a fim de garantir as importações e exportações do país. Com a chegada da família real ao Brasil, houve a ampliação das estruturas de saúde, profissionais médicos, a inauguração da polícia sanitária, mas ainda sim o atendimento das Santas Casas pela caridade eram oferecidas aos pobres de maneira precária, enquanto os ricos eram atendidos por médicos particulares. Figure 9 Obra do pintor francês Nicolas Louis Albert de LaRiva representando o embarque da Família Real para o Brasil. Fonte: https://querobolsa.com.br/enem/historia-brasil/a-vinda-da-familia-real- para-o-brasil Com a chegada do século XX e a intensificação da indústria Brasileira, houve uma preocupação maior na institucionalização da saúde pública, a fim de garantir a saúde dos trabalhadores das fábricas, que por sua vez garantiam a economia do país. Havia uma preocupação quanto as graves epidemias como a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. Pode-se dizer que a saúde passou a ser tratada como caso de polícia, visando a proteção da economia que como uma real preocupação pela saúde das pessoas. Para se ter uma https://querobolsa.com.br/enem/historia-brasil/a-vinda-da-familia-real-para-o-brasil https://querobolsa.com.br/enem/historia-brasil/a-vinda-da-familia-real-para-o-brasil 24 ideia, o órgão que cuidava da saúde pública era o Ministério da Justiça e Negócios Interiores, não havendo Ministério da Saúde. Como era tratada como caso de polícia, a necessidade urgente de controlar as epidemias, era através de “campanhas sanitárias” que podemos dizer, foi o embrião das atividades de prevenção da saúde em nosso país.A concepção liberal da economia impedia uma intervenção mais eficiente por parte do Estado, deixando a cargo do mercado a oferta de serviços de saúde. PARADA OBRIGATÓRIA Um grande destaque desse período histórico foi a ˜revolta da vacina”. Sugiro que assista a um trecho de um vídeo explicativo deste momento histórico elaborado pela FIOCRUZ disponível em http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/wp- content/uploads/2015/04/a_revolta_da_vacina_pg22_sem_lg.mp4 Foi no ano de 1923 que o cenário da atenção à saúde em nosso país começou a mudar, e foi pelo movimento dos operários, que de forma organizada reivindicaram e conseguiram aprovar a Lei Eloy Chaves que criava as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs), marcando o início da previdência social em nosso país. É nesse momento que categorias profissionais passam a ter acesso a benefícios por meio de contribuições mediante sua inserção formal no mercado de trabalho. Agora poderiam ter direito a atendimento médico e à aposentadoria, entretanto uma grande parcela da população continuava desassistida, que era a dos trabalhadores informais, ficando estes aos cuidados da caridade. http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/wp-content/uploads/2015/04/a_revolta_da_vacina_pg22_sem_lg.mp4 http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/wp-content/uploads/2015/04/a_revolta_da_vacina_pg22_sem_lg.mp4 25 Figure 10 Matéria de capa da edição de 24 de janeiro de 1923 do jornal ‘O Brasil’. Imagem: Hemeroteca Digital/Biblioteca Nacional. Fonte: http://www.dmtemdebate.com.br/24-de-janeiro-de-1923-e- publicada-a-lei-eloy-chaves-marco-no-desenvolvimento-da-previdencia-soci Posteriormente as CAPs evoluíram para Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs), que eram as uniões de várias CAPs. Podemos dizer que esta forma de promover saúde e previdência no Brasil, foi determinante para que até hoje tenhamos um modelo misto de atenção à saúde com forte participação do setor privado e parcerias público-privadas cada vez mais complexas e desafiadoras para os gestores do SUS. A partir daí, percebemos que no Brasil, foram formados três subsistemas de saúde que eram relativamente independentes: saúde pública, medicina previdenciária e medicina do trabalho. http://www.dmtemdebate.com.br/24-de-janeiro-de-1923-e-publicada-a-lei-eloy-chaves-marco-no-desenvolvimento-da-previdencia-soci http://www.dmtemdebate.com.br/24-de-janeiro-de-1923-e-publicada-a-lei-eloy-chaves-marco-no-desenvolvimento-da-previdencia-soci 26 Figure 11 Subsistemas de saúde vinculados ao poder público no início do século XX. Fonte: Adaptado de: PAIM; J. S. et. al. O que é o SUS. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2015. 93 p. (Coleção Temas em Saúde). Disponível em: http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/ Entre os anos 50 e 60 do século XX, após a resolução da Segunda Grande Guerra (1945), o modelo previdenciário de atenção à saúde dos brasileiros foi se intensificando. Cada vez mais consultórios, hospitais, laboratórios e clínicas particulares iam sendo criados e muitos destes recebiam ainda financiamento previdenciário. Após o golpe civil-militar de 1964 esse modelo de participação privada na oferta pública de serviços de saúde foi se consolidando, culminando com a criação do INAMPS que é o Instituto Nacional de Previdência Social. O INAMPS surgiu da união do INPS (Instituo Nacional de Previdência Social) que por sua vez era a união das IAPs citadas anteriormente. Com este novo modelo, consolidou-se uma assistência à saúde excludente (uma vez que só garantia saúde à parcela da população que tinha trabalho formal), hospitalocêntrico, medicocentrado, desarticulado, corrupto e ineficiente. SAIBA MAIS: Estatal Voltada para a coletivitade, profilaxia e educação sanitária Saúde Pública Previdência liberal ou filantrópica caráter individual e curativo Medicina Previdenciária Empresas médicas prestadoras de serviços e grandes empresas Medicina de grupo. Medicina do Trabalho http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/ 27 O INAMPS garantiu a construção de grandes hospitais conveniados, em regime de fundo perdido, que garantia a posse desses hospitais aos “donos” após a construção, ainda que estes depois se desvinculassem do sistema por quaisquer motivos. Houve ainda um grande esquema de corrupção onde pessoas já falecidas ou que nunca tiveram acesso ao sistema eram registradas como atendidas, gerando renda aos hospitais privados vinculados Houve também o registro da mesma pessoa sendo atendida várias vezes para a mesma cirurgia ou procedimento, superfaturando as chamadas AIHs que eram as Autorizações de Internação Hospitalar. Em meados da década de 70, a ditadura militar já entrava em declínio e a reabertura política foi avançando cada vez mais na conjuntura brasileira. A sociedade civil organizada já começava a pautar a agenda de melhoria das 28 condições de vida com mais liberdade e um movimento muito importante nesse cenário foi o Movimento de Reforma Sanitária Brasileira. Este Movimento era composto por professores, estudantes, juristas, trabalhadores, artistas, políticos e pautava a saúde como direito social, e podemos dizer que daí nasceu nosso Sistema Único de Saúde como veremos no próximo capítulo. EXERCITANDO: De acordo com o que você leu e assistiu neste capítulo, quais os principais problemas que impulsionaram o Movimento de Reforma Sanitária a defender um novo modelo de assistência à saúde que hoje sabemos ser o SUS? Sistematize sua resposta. Aula 2: O Sistema Único de Saúde O sistema Único de Saúde teve sua instituição formal na Constituição de 1988, porém como todo processo histórico, retoma sua origem a um período bem anterior, a partir do modelo médico assistencial privatista que como citamos anteriormente, excluía as camadas mais pobres da população e após a segunda metade do século XX, induzido pelo processo da industrialização brasileira, se voltou para a saúde dos trabalhadores formais mediante contribuição previdenciária. O ministério da saúde até então, atuava de forma centralizada e muito pontual, gerenciando alguns hospitais especializados em psiquiatria e tuberculose, pela clara ideologia da época em excluir e isolar tais doentes do meio sociedade. Atuava também através da Fundação de Serviços Especiais de Saúde Pública (FSESP) em algumas regiões específicas, com destaque para os municípios do Norte e Nordeste a fim de realizar campanhas de prevenção à doenças endêmicas nessas regiões (SOUZA, 2002). Como vimos, as ações em saúde eram realizadas em sua maior parte pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), autarquia do Ministério de Previdência e Assistência Social que excluía uma enorme parcela da população brasileira ao beneficiar apenas os trabalhadores da economia formal e seus dependentes. 29 Assim, os trabalhadores informais tinham seus cuidados em saúde, oferecidos por instituições filantrópicas, religiosas e de caridade, como as Santas Casas de Misericórdia. O sistema da época assumia assim, um caráter excludente, característica que vai ser fortemente combatida pelo emergente movimento sanitário que pautará entre outros princípios, o da universalidade na assistência à saúde, ou seja, o atendimentos de todos as pessoas que do Sistema precisarem, independente se contribuinte ou não (SOUZA, 2002). O movimento sanitário então surge entremeado a mudanças políticas e econômicas provenientes de crises advindas de uma ditadura militar decadente, marcada por uma economia altamente inflacionária. ideologicamente repressiva para não dizer assassina em decadência e entremeada em suspeitas de corrupção. O movimento não surge, porém de forma solitária, mas em um contexto de crescimento de movimentos sociaisoposicionistas, partidos políticos de esquerda, movimento estudantil e por própria divisão de forças internas dissidentes que antes apoiavam o regime. Desta forma, o movimento sanitário, se constrói em diversos atores como intelectuais, localizados em espaços acadêmicos e institucionais, articulados com partidos políticos de esquerda, segmentos organizados de trabalhadores de diferentes setores e técnicos identificados com as lutas sociais, fundindo-se ainda a movimentos populares que se organizavam em uma mesma luta de luta pelos direitos civis e sociais percebidos como dimensões imanentes à democracia (ESCOREL; NASCIMENTO; EDLER, 2005 apud BRASIL, 2007). 30 Figure 12 Movimento de reforma sanitária. Fonte: Google imagens Neste clima de “redemocratização” e “reabertura política” instalou- se a Oitava Conferência Nacional de Saúde no período de 17 a 21 de março de 1986 com a abordagem de dois temas: “Saúde como Direito” e “Reformulação do Sistema Nacional de Saúde”. Destaca-se por seu caráter democrático por ser a primeira precedida de Conferências Estaduais e Municipais com a presença de mais de 4000 pessoas entre 1000 delegados respeitando a proporção de 50% dos delegados como representantes da sociedade civil organizada. As plenárias da 8ª Conferência contaram com a participação de quase todas as instituições que atuam no setor, assim como daquelas representativas da sociedade civil dos grupos profissionais e dos partidos políticos.(CNS, 1986). Este evento foi considerado o momento mais significativo do processo de construção de uma plataforma e de estratégias do “movimento pela democratização da saúde em toda sua história”, sendo também considerada a Conferência pré - constituinte da saúde do país (ESCOREL; NASCIMENTO; EDLER, 2005 apud Brasil, 2007). 31 Figure 13 Imagem da mesa de abertura da 8a Conferência Nacional de Saúde, considerada como pré- constituinte. Fonte: http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/oitava-conferencia-nacional- de-saude-o-sus-ganha-forma Os conferencistas debateram a natureza do sistema, a forma de implantação, e o órgão que ficaria responsável para a gerenciar. Entenderam então que o sistema seria de natureza estatal, de implementação imediata, e que deveria ser entregue ao Ministério da Saúde, eximindo o Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS) do oferecimento dos serviços de saúde, devendo este ater-se apenas às ações próprias à seguridade social. Aprovou-se então a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) sob três referenciais teóricos: um conceito amplo de saúde; a saúde como direito da todos e dever do Estado; e a instituição de um sistema único de saúde, organizado pelos princípios da universalidade, da integralidade, da descentralização e da participação da comunidade, conceitos que vamos nos debruçar mais a frente. PARA REFLETIR: A proposta é garantir a todas as pessoas, o direito social à saúde, ligando-o à condição universal de cidadania, não mais a um conceito meritocrático (contribuição previdenciária) ou a uma condição de vulnerabilidade social (caridade), ou pobreza (sistema de proteção). A concepção de que o SUS deveria estar atrelado a um conceito de seguridade social, da a ele um caráter democrático, movido por valores de equidade e igualdade, sem privilégios ou discriminações de qualquer forma. http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/oitava-conferencia-nacional-de-saude-o-sus-ganha-forma http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/oitava-conferencia-nacional-de-saude-o-sus-ganha-forma 32 Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a oitava Constituição do Brasil, chamada “Constituição Cidadã” , onde foi incluído o Título VIII, da Ordem Social; Capítulo II, da Seguridade Social; Seção II, da Saúde, artigos 196 a 200, o Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2007b). A regulamentação e a implementação do SUS ao longo dos anos, trouxeram grandes transformações no setor saúde e implicaram na reformulação do modelo assistencial de saúde Brasileiro que antes dava maior ênfase ao modelo assistencial hospitalar. Com a ajuda de mecanismos institucionais como as leis 8080/90 e 8142/90, além das Normas Operacionais Básicas (NOBs) e Normas Operacionais de Assistência (NOAs) e o Pacto Pela Saúde, que complementaram o arcabouço jurídico do sistema, instituiu-se uma nova forma de gerir saúde no país que passa a ser organizado através dos serviços de Atenção Básica (LIMA et al., 2005; ANDRADE et al.,2006). Após a Institucionalização do Sistema Único de Saúde na constituição federal, a saúde foi assumida como um direito de todos e dever do Estado. Isso assegurado mediante políticas sociais e econômicas que visassem à redução do risco de doença e de outros agravos e a uma política setorial de saúde capaz de garantir o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde da população (BRASIL, 2001). OLHANDO DE PERTO: Vamos elaborar alguns termos muito frequentes no texto constitucional e nas leis 8080/90 e 8142/90 que criaram e instrumentaram o SUS: 33 Intervenções realizadas para garantir o bem estar social e econômico das pessoas . Produção e distribuição de riqueza e renda, emprego, salário e moradia, acesso à educação e cultura são exemlos. Políticas sociais e econômicas Doença é enfermidade ou estado clínico independente da origem que causam dano significativo para os seres humanos Agravos são quaisquer danos à integridade física, mental e social provocados por circunstancias nocivas, não necessariamente sendo doenças como envenenamento e acidentes por exemplo. Doenças e agravos Todos conseguem alcançar os serviços de saúde de que necessitam, sem barreiras. Nada exclui a possibilidade de acesso da pessoa aos serviços de saúde. Acesso universal Acesso igual para todos, sem qualquer discriminação ou preconceito. Há entretanto um conceito que o completa quando temos uma realidade muito desigual como no caso do Brasil, que é a equidade em saúde. Acesso igualitário É a possibilidade de atender os desiguais na medida de sua desigualdade, priorizando os que mais precisam, a fim de finalmente promover a igualdade. Equidade em saúde fomentas, cultivas, estimular a qualidade de viida dos indivíduos e comunidades Depende do acesso à educação, de boas condições de vida, da prática de atividades físicas, alimentação, arte, etc. Promoção da Saúde Tomada de medidas como vacinação, combate a vetores de doenças, estímulo ao uso de cinto de segurança, uso de preservativos entre outros que busquem reduzir ou eliminar riscos à saúde Proteção da saúde Açòes que visem a cura ou a limitação de danos ou sequelas. Realização de diagnóstico precoce e tratamentos em tempo oportuno. Recuperação da saúde 34 Figure 14 Noções de equidade e igualdade. Fonte: Google maps SAIBA MAIS: Para conhecer toda a legislação estruturante do SUS, acesse http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/progestores/leg_sus.pdf Características do SUS Agora vamos ver como o nosso Sistema de Saúde se organizou através de seus princípios e diretrizes. Os princípios doutrinários são os valores basilares do SUS que derivam da ética, da moral, da filosofia, das escolhas políticas dos doutrinadores e do direito. As diretrizes organizativas são as escolhas metodológicas para que alcancemos os valores dos princípios doutrinários. São as orientações gerais de como o Sistema deve funcionar. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/progestores/leg_sus.pdf 35 Universalidade Integralidade Equidade É a garantia de acesso às ações e serviços de saúde atodas as pessoas, independentemente de sexo, raça, renda, ocupação ou outras características sociais ou pessoais. Constitui-se como um direito de todos e um dever do Estado. É considerar a pessoa como um todo, atendendo a todas as suas necessidades. Pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas possibilitando a promoção, proteção e recuperação da saúde, bem como a sua reabilitação. É tratar os diferentes de forma diferente, oferecendo mais a quem precisa mais, procurando reduzir a desigualdade. Universalidad e Integralidad e Equidad e 36 A descentralização é a redistribuição do poder e responsabilidades entre os três níveis de governo. A decisão passa a ser de quem executa, quem está mais perto do problema. É uma forma de aproximar o cidadão das decisões. A Regionalização e Hierarquização é a organização dos serviços em níveis crescentes de complexidade, circunscritos a determinada área geográfica, planejados a partir de critérios epidemiológicos, com definição e conhecimento da clientela a ser atendida. O atendimento integral é a ação conjunta nos três níveis de atenção à saúde visando a prevenção sem prejuízo dos serviços de assistência. É a garantia de atendimento ao usuário independente dos níveis de complexidade envolvidos. A resolubilidade é a exigência de que quando um indivíduo procura um atendimento ou quando surge um problema de impacto coletivo sobre a saúde, o serviço correspondente esteja capacitado para enfrentá-lo e resolvê-lo ao nível de sua complexidade A intersetorialidade é a articulação entre diferentes setores governamentais e sociais para realização de ações conjuntas e construção de políticas públicas transversais para a promoção, prevenção e recuperação da saúde dos usuários e comunidades. A participação comunitária é o controle social. É a garantia constitucional de que a população, participará dos processos de formulação e controle das políticas de saúde em todas as esferas de governo. Conselhos e Conferências de Saúde. Descentralização Regionalização e Hierarquização Atendimento integral Resolubilidade Intersetorialidad e Participação comunitária Complementarid ade do setor privado 37 A complementaridade do setor privado é a possibilidade de contratação do setor privado quando há insuficiência de algum serviço no setor público, dando-se preferência aos serviços não lucrativos. HIPERLINK: Para aprofundar o tema, assista ao vídeo Série SUS, produzido pela FIOCRUZ sobre os princípios do SUS http://www.edpopsus.epsjv.fiocruz.br/videos/video-serie-sus-os-principios- do-sus . EXERCITANDO: Com base no que você aprendeu sobre os princípios e diretrizes do SUS, observe a imagem abaixo http://www.edpopsus.epsjv.fiocruz.br/videos/video-serie-sus-os-principios-do-sus http://www.edpopsus.epsjv.fiocruz.br/videos/video-serie-sus-os-principios-do-sus 38 Figure 15 Notícias sobre a pandemia de COVID no Brasil. Fonte: própria. Com base nos princípios e diretrizes do SUS, responda que elementos estão sendo afetados na oferta dos serviços de saúde de alta complexidade na pandemia de COVID na sua opinião? LEITURA COMPLEMENTAR: Leia o texto “CORONAVÍRUS: Não existe segurança sem acesso universal à saúde” de Deisy Ventura https://jornal.usp.br/artigos/coronavirus-nao-existe- seguranca-sem-acesso-universal-a-saude/ https://jornal.usp.br/artigos/coronavirus-nao-existe-seguranca-sem-acesso-universal-a-saude/ https://jornal.usp.br/artigos/coronavirus-nao-existe-seguranca-sem-acesso-universal-a-saude/ 39 Ao final deste módulo, espero que você tenha compreendido como o SUS se estruturou, que elementos da história o influenciaram, qual a importância de sua defesa no seio de uma sociedade com péssima distribuição de renda e altas taxas de desigualdade social como o Brasil e quais elementos doutrinários e operativos o constitui. No próximo módulo trabalharemos conceitos importantes na Saúde Coletiva como a situação de saúde no Brasil, a transição demográfica e seus determinantes para a saúde, Programas de atenção à saúde no âmbito do SUS e elementos da gestão do SUS. Aguardo vocês e até la! REFERÊNCIAS ANDRADE, Luiz Odorico Monteiro de; BARRETO, Ivana Cristina de Holanda Cunha; BEZERRA, Roberto Cláudio. Atenção primária à saúde e estratégia saúde da família. In: CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa et al. Tratado de saúde coletiva. São Paulo: Hucitec,. p. 783-836, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. O Sistema Público de Saúde Brasileiro. Brasília – DF: 2002. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/sistema_saude.pdf BRASIL, Conselho Nacional de Saúde. Relatórios do Conselho Nacional de Saúde. Brasília, DF: MS, 1986. Disponível em <http://www.conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios.htm> Acesso em 19 de dezembro de 2020. BRASIL, Fundação Nacional de Saúde. 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