Buscar

Saude coletiva

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 41 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 41 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 41 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Saúde
Coletiva
Módulo I - Concepção de Saúde e
Doença; 
Módulo II - O Sistema Único de Saúde
 
Professora Luane Castro
 
1 
 
Saúde Coletiva 
Profa. Luana Karoline Cordeiro Castro 
 
Sobre a professora: 
 
Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Federal do Maranhão 
(2008), Mestrado em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Maranhão 
(2014). Especialização em Gestão Pedagógica das ETSUS pela Universidade 
Federal de Minas Gerais (2013). Especialização em Docência do Ensino 
Superior e Técnico pelo Instituto Florence de Ensino Superior (2017). Tem 
experiência na área de Enfermagem, Educação, Gestão Pedagógica, 
Docência do Ensino Superior e Técnico, Educação a Distância, com ênfase 
em Enfermagem, atuando principalmente nos seguintes temas: saúde da 
família, pós-graduação, ensino superior, saúde coletiva e saúde pública e EaD. 
 
Apresentação da disciplina 
Prezado(a) aluno(a), 
 
Seja muito bem vindo(a) ao curso de Saúde Coletiva. 
A Saúde Coletiva é uma área do conhecimento muito abrangente e em 
constante evolução. 
Tem como objeto de estudo as necessidades de saúde das pessoas e 
coletividades, envolvendo nesse contexto não só o estudo das doenças, mas 
de todos os fatores que levam as pessoas adoecerem e morrerem, a terem 
saúde e, no limite, terem uma vida plena e satisfatória. 
É um campo de estudo transdisciplinar, envolvendo as ciências 
biológicas, epidemiologia social, antropologia e geografia humana. Além disso, 
abre possibilidade para as contribuições de outras ciências e saberes 
populares como forma de construir ambientes saudáveis, intercâmbio de 
conhecimentos e trocas entre os profissionais que executam a ciência e a 
população. 
Há um vasto repertório a ser explorado por você, estudante que se 
aproxima dessa ciência. Vamos no decorrer do nosso curso abordar os 
seguintes temas: 
 
2 
 
· Concepção de saúde-doença; 
· O processo saúde-doença e o cuidado em saúde; 
· Evolução histórica da saúde brasileira; 
· O Sistema Único de Saúde (SUS); 
· Transição demográfica e situação de saúde no Brasil; 
· Políticas Públicas de Atenção à Saúde; 
· Atenção Básica como Política de Saúde ordenadora do SUS; 
· Modelos de Gestão e Atenção à Saúde no Brasil. 
Esperamos que ao final do curso você tenha um amplo repertório 
teórico para que quando o momento chegar, aquele que todo estudante de 
saúde espera, que é o momento de estar frente a frente com seu paciente, ou 
sua família ou sua comunidade, você possa intervir de maneira assertiva e 
eficiente para promover a saúde e o bem-estar daqueles a quem a ciência lhe 
confiou para cuidar. 
Bons Estudos! 
 
 
 
MÓDULO I 
Concepção de saúde-doença 
 Um dos grandes desafios da saúde coletiva é promover saúde para os 
coletivos humanos em suas diferentes configurações sejam relacionadas ao 
tempo histórico, à cultura ou ao estrato socioeconômico. Mas afinal, o que é 
ter saúde? E qual a importância da sua promoção em níveis populacionais? 
 Não podemos avançar nas discussões práticas da saúde coletiva sem 
antes entender estes conceitos que ao primeiro olhar parecem simples, porém 
como veremos a seguir, precisam de algum nível de abstração de quem se 
aproxima pela primeira vez desta ciência. 
 Sugiro então para “início de conversa”, que você responda às seguintes 
perguntas: 
 
Para refletir: 
a) O que é “ter saúde”? Quais fatores determinam que as pessoas tenham 
saúde? 
 
3 
 
b) O que é “estar doente”? Quais fatores favorecem o adoecimento das 
pessoas? 
c) O que você costuma fazer quando se vê doente? 
d) Para você o que significa ser cuidado? 
e) Como os profissionais de saúde interferem no processo saúde-doença 
das pessoas? 
Guarde suas respostas, vamos retomá-las ao final do capítulo. 
 
Frequentemente, quando pensamos em ter saúde, nos remetemos a 
uma ideia de alguém disposto, em dias com suas atividades físicas e 
alimentação saudável (como recomendam todos os profissionais de saúde), 
sem dores, sem doença. 
De fato, durante muito tempo, saúde foi conceituada como algo 
diametralmente oposto à doença. Ter saúde seria não ter doença. Parece 
simples, mas será que a resposta para esse questionamento é imediatamente 
biológica? 
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1946, definiu a saúde 
como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social”, e não apenas 
como a ausência de doença ou enfermidade. Este conceito é também 
chamado de conceito ampliado de saúde. 
Em tempos de pandemia, observamos isso muito claramente, quando 
amigos e parentes aparentemente saudáveis, começam a reclamar de 
nervosismo, tristeza, daí vêm as palpitações, boca seca, falta de ar, sintomas 
clássicos de ansiedade. 
Outros pela crise econômica, se veem em aperto financeiro e de repente 
ao realizarem um “check-up”, descobrem um aumento dos níveis pressóricos, 
glicemia aumentada, dislipidemia, ou até desenvolvimento de doença 
cardiovascular instalada. 
Vamos além: será que indivíduos em situação social vulnerável como 
moradores de rua, pessoas sem saneamento básico, em risco nutricional por 
falta de recursos para comprar alimentos, podem se considerar saudáveis? 
As causas dos riscos à saúde podem ser tão diversas que fica difícil 
encontrar a raiz do problema. 
 
4 
 
Podemos ver o exemplo de uma criança com desnutrição que pode ter 
como causa desde a política econômica vigente que não permitiu correta 
distribuição de renda, passando por políticas públicas de educação que não 
permitiram a escolaridade da mãe que ao mesmo tempo em que não entende 
a composição nutricional dos alimentos e a importância da ingesta de 
diferentes nutrientes na dieta, não teve acesso a um bom emprego pela baixa 
escolaridade, impedindo renda suficiente para alimentar a criança, passando 
por vulnerabilidade social, composição familiar onde a mãe pode não ter com 
quem deixar a criança para trabalhar, local de moradia, até o acesso aos 
serviços de saúde (é gratuito? O valor é acessível?), qualidade da assistência 
à saúde passando pela qualidade dos profissionais de saúde que a 
acompanham e orientam. 
Veja só que a saúde da criança não foi só determinada pela imediata 
ausência de doença, mas por um contexto socioeconômico diverso. 
Muitos autores ainda assim buscam uma reformulação do conceito 
ampliado de saúde da OMS, alegando que a “perfeição” buscada pelo conceito 
é impossível de ser alcançada. Se pararmos para pensar realmente o 
“completo bem-estar físico, mental e social” defendido pela OMS parece mais 
um desejo do que algo factível. 
Em geral este processo entre a saúde e a doença também encontra 
resposta em como as pessoas buscam pela “cura”. Muitos a buscam através 
de medidas preventivas, outros só se sentem mais próximos da cura ao 
fazerem uso de medicamentos farmacêuticos, inclusive muitas vezes se 
automedicando. Outros lançam mão de tratamentos ditos “alternativos” na 
medicina ocidental como os da medicina tradicional chinesa. Os mais antigos 
passam para os mais novos receitas de chás, infusões, uso de ervas, e até 
rituais com benzedeiras e rezas. 
Neste contexto está a ciência manejada pelos profissionais de saúde e 
a sabedoria popular acumulada pelos sacerdotes e membros da comunidade, 
atores que não necessariamente devem estar em lados opostos mas que se 
complementam nos territórios e nos espaços de cuidado. 
Como veremos a seguir, a significação do que é saúde e doença ao 
longo dos anos, seguiu uma determinação social do tempo histórico e da 
construção cultural dos coletivos em questão. Explicar o que é ter saúde é 
 
5 
 
tentado desde a antiguidade, na medida em que as pessoas e coletivos sempre 
se preocuparam em conservar a sua saúde, desde os primórdios. 
A recusa intuitiva a determinados sabores como o azedo e o amargo, a 
procura de abrigo para evitar o frio, a chuva e o perigo dos predadores, a 
necessidade de descansar, se alimentar,proporcionaram à espécie humana 
sua permanência e multiplicação na Terra. 
Como você pode imaginar também há registros muito antigos de 
determinadas doenças desde a antiguidade que afligem a humanidade até os 
dias de hoje. Há registros de esquistossomose, tuberculose e varíolas em 
múmias egípcias, tumores em ossos humanos pré-históricos, relatos de 
epidemias na Ilíada e no Velho Testamento da Bíblia Sagrada. 
 
 
Figure 1 Crânio pré-histórico de mulher adulta do período Chavin, do Peru, com desenvolvimento de 
osso esponjoso de natureza tumoral. (Coleção de imagens didáticas do Museu de San Diego) Fonte: 
http://www.ccms.saude.gov.br/paleopatologia/painel13.php 
 
Como veremos a seguir, as diferentes formas de organização social em 
diferentes lugares e épocas, aliadas mais recentemente aos avanços 
científicos e tecnológicos foram modificando as concepções do processo 
saúde-doença ao longo do tempo. 
 
Aula 1: Modelos explicativos do processo de saúde 
 
http://www.ccms.saude.gov.br/paleopatologia/painel13.php
 
6 
 
Modelo mágico-religioso ou xamanístico 
Era a visão predominante na antiguidade. A crença religiosa era o ponto 
de partida para compreensão do mundo e o adoecimento era visto como um 
forma de punição de Deus/Deuses/espíritos à transgressões cometidas pelos 
seres humanos de maneira individual e/ou coletiva. Para reatar esta conexão 
cosmológica, recorria-se aos sacerdotes, feiticeiros ou xamãs, que através de 
rituais e sacrifícios, buscavam reestabelecer a saúde das pessoas e 
comunidades. 
 
CURIOSIDADE 
Segundo os siberianos Xamã significa "aquele que enxerga no escuro", 
é um ser considerado inspirado pelos espíritos, que pode voar para outros 
mundos, e em estado de transe se comunica com espíritos da natureza. 
 
 
Dança dos Xamãs, próximo de Quizil - Rússia 
link:https://pt.wikipedia.org/wiki/Quizil#/media/Ficheiro:Schamanin_w%C3%A
4hrend_einer_Kamlanie-Zeremonie_am_Feuer_in_Kysyl.jpg 
 
Modelo holístico 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Quizil#/media/Ficheiro:Schamanin_w%C3%A4hrend_einer_Kamlanie-Zeremonie_am_Feuer_in_Kysyl.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Quizil#/media/Ficheiro:Schamanin_w%C3%A4hrend_einer_Kamlanie-Zeremonie_am_Feuer_in_Kysyl.jpg
 
7 
 
Ainda na antiguidade, vemos outra forma de explicar o processo saúde 
doença através da noção de equilíbrio energético do corpo com o ambiente 
(animais, astros, plantas...). Esta forma de concepção de saúde e doença era 
observada nas culturas hindu e chinesa. 
 
Modelo empírico – racional (hipocrático) 
Chama-se modelo empírico pela palavra grega εμπειρία ou empeiría, 
que significa experiência. Apesar do termo ter sido largamente utilizado na 
Idade Média, aqui a utilizamos como primeira tentativa que se registra do 
Homem em explicar os eventos que o circundam (incluindo-se aí, os eventos 
de saúde, adoecer e morrer), através da racionalidade e não unicamente pela 
religião. 
Temos evidências de uma aplicação mais racional dos eventos de 
saúde-doença desde o Antigo Egito (3000 a.C), e na medicina grega, mais 
especificamente Hipocrática, uma explicação do processo saúde doença como 
resultante de fatores ambientais, ainda que não totalmente desvencilhada de 
eventos por vezes mágico-religiosos. 
Em seu livro: Ares, Águas e Lugares, Hipócrates (460 – 370 a.C.) 
inaugura os termos “endemia” e “pandemia” (termos que usaremos muito neste 
curso), como formas de apresentação de doenças em uma comunidade com 
alguma regularidade. Relaciona eventos endêmicos com a qualidade do solo, 
da água, da nutrição e do modo de vida das pessoas. Elaborou o conceito de 
“homeostase” como o perfeito equilíbrio entre homem e o seu meio, não só 
natural (chuvas, ventos, solo) como também social (trabalho, moradia, posição 
social). 
É dele a teoria dos quatro humores: sangue, linfa, bile amarela e bile 
negra) e a teoria miasmática, onde as doenças eram resultantes de odores de 
regiões insalubres, daí vem o termo Malária (maus ares). 
 
8 
 
 
Figure 3 Teoria dos quatro humores organizada por Empédocles de Agrigento (490-435 aC). Fonte: 
https://xaropedeletrinhas.com.br/a-medicina-hipocratica-a-teoria-dos-quatro-humores/ 
 
Modelo da saúde na Idade Média 
 Com o declínio da sociedade Greco-Romana, e ascensão do 
Feudalismo, houve um retorno às explicações religiosas do processo saúde-
doença. 
 O que muitos autores vão chamar de “Idade das Trevas”, compreendeu 
um período da história (476 – 1476 d.C.) em que houve o domínio político, 
social e cultural da igreja Católica, que no âmbito da saúde, ideologicamente 
conectava doença com pecado, de forma que as doenças eram resultado do 
castigo de Deus, expiação dos pecados cometidos ou até de possessões 
demoníacas, deixando de lado qualquer explicação racional. 
 O processo de cura agora era mediado por sacerdotes e não mais 
médicos. As recomendações passaram de ser dietéticas, medicamentosas, e 
de bons hábitos de descanso e higiene para rezas, penitências, unções e 
exorcismos. 
 Foi um período de grandes epidemias e doenças vinculadas à maus 
hábitos de higiene e cuidado com os alimentos como varíola, sarampo, difteria, 
tuberculose, erisipela, escabiose, ergotismo, influenza, lepra e peste bubônica. 
https://xaropedeletrinhas.com.br/a-medicina-hipocratica-a-teoria-dos-quatro-humores/
 
9 
 
 Em contrapartida, neste mesmo período histórico, antes das Cruzadas, 
o oriente gozava de vasto crescimento intelectual, chamado de “Era de ouro 
do mundo Árabe”. Os conhecimentos Aristotélicos ganharam força e foram 
aperfeiçoados por polímatas como Ibn Sīnā ou Avicena, que em sua mais 
importante obra “O Cânone da Medicina” explora aspectos de anatomia, 
fisiologia, farmacologia e patologia com impressionante exatidão. 
 
Para se aprofundar sobre o processo saúde-doença na idade média 
na Europa e no mundo árabe, assista ao filme “O Físico” lançado em 2014, 
disponível em vários serviços de streaming. 
Sinopse: Na Inglaterra do século XI, o jovem aprendiz Rob Cole decide 
embarcar na maior aventura de sua vida e parte para a exótica Pérsia, onde 
pretende encontrar e estudar com o lendário médico, cientista e filósofo Ibn 
Sina. Em busca de respostas aos seus questionamentos, ele descobre o poder 
do amor e de antigas tradições da era de ouro do mundo árabe. 
 
Modelo Biomédico 
Com o chamado Renascimento (meados do século XIV e fim do século 
XVI), período de transição entre o feudalismo e o capitalismo, de intensa 
revalorização dos pensamentos da antiguidade clássica (como vimos no 
modelo empírico-racional), grande avanço nas artes e ciências, criação das 
Universidades, a concepção do processo saúde-doença seguiu o caminho dos 
avanços filosófico-científicos que se faziam na época. 
Havia grande interesse no estudo da anatomia, fisiologia, descrição de 
doenças e epidemiologia. 
O método científico de René Descartes (método cartesiano), fundou 
bases para o modelo biomédico que apresentamos aqui. 
Seu “Ceticismo Metodológico” onde o conhecimento é elaborado 
através de questionamentos e dúvidas da veracidade do que se postula, tem 
os seguintes passos metodológicos: 
● Descobrir quais são as conclusões possíveis e nunca aceitar nada 
como verdadeiro à primeira vista; 
● Fazer vários experimentos e dividir o problema em quantas partes for 
possível; 
 
10 
 
● Analisar os resultados e pensar de forma ordenada do mais simples 
ao mais complexo; 
● Pegar as conclusões (que devem estar de acordo com o passo 1) e, 
se possível, mixá-las para chegar a apenas 1 conclusão através da 
lógica, prestando atenção nos detalhes exaustivamente. 
Da mesma forma, o modelo biomédico tentou explicar o processo saúde 
doença através somente da doença, dividindo o corpo em quantas partes fosse 
possível, estudando estas exaustivamente do mais simples ao mais complexo, 
buscando conclusões possíveis por exaustivas tentativas lógicas de 
conclusão. 
Outra repercussãocartesiana foi a sugestão do estudo do corpo e da 
mente de maneiras separadas, sendo o corpo estudado pela medicina e a 
mente pela filosofia e religião 
Com a visão capitalista também passou-se a ver o corpo humano como 
uma máquina, cujo mal funcionamento (doença), deveria requerer ajustes, 
“concertos” através das habilidades médicas que nessa analogia seria o 
mecânico. 
De fato, o modelo biomédico pode ser entendido por: 
desajuste ou falha nos mecanismos de adaptação do organis- 
mo ou ausência de reação aos estímulos a cuja ação está ex- 
posto [...], processo que conduz a uma perturbação da estru- 
tura ou da função de um órgão, de um sistema ou de todo o 
organismo ou de suas funções vitais (JENICEK; CLÉROUX, 
1982 apud HERZLICH, 2004). 
Nesta época também ganhou força a teoria miasmática, já citada 
anteriormente no modelo empírico-racional, que só perdeu força com a 
descoberta dos microrganismos e sua relação com as doenças no século XIX. 
Podemos dizer que a consolidação da teoria miasmática na época, foi a 
primeira aproximação moderna de explicação da correlação entre o processo 
saúde-doença e seus determinantes ambientais. 
No final do século XIX, com a construção do microscópio e a descoberta 
dos microrganismos, o modelo biomédico ganhou mais força, explicando o 
processo saúde-doença exclusivamente pela presença de agentes 
infecciosos, o que chamamos de modelo unicausal de explicação da doença. 
A subjetividade dos determinantes de saúde e doença foram reduzidos 
à unicausalidade do agente infeccioso. 
 
11 
 
Se por um lado a teoria permitiu grandes avanços como o surgimento 
das vacinas e avanço da bacteriologia, as causas sociais, econômicas e 
políticas foram colocadas de lado. Temos nesse modelo portanto uma 
predominância do enfoque curativo e biologicista. 
 
 
Figure 4 Modelo Unicausal de explicação da Doença. Fonte: 
http://cssaudeedoenca.blogspot.com/2011/10/unicausalidade.html 
 
Modelo Sistêmico 
 Já no século XX, com o fim da Segunda Grande Guerra (1945), via-se 
uma importante mudança do perfil demográfico e epidemiológico nas 
nações (vamos aprofundar esses conceitos mais a frente). Com o avanço das 
ciências da saúde, as pessoas começaram a viver mais, as doenças 
infectocontagiosas perderam a importância em relação às doenças crônicas 
(ainda que estas coexistam até hoje em países em desenvolvimento como o 
Brasil). 
O modelo biomédico precisou ser melhor elaborado, levando em 
consideração os diferentes elementos que levam uma pessoa a adoecer ou ter 
saúde. Elaborou-se portanto um modelo explicativo que considerou estes 
elementos em sistema. 
O sistema é assim conceituado como: 
http://cssaudeedoenca.blogspot.com/2011/10/unicausalidade.html
 
12 
 
“um conjunto de elementos, de tal forma relacionados, que uma 
mudança no estado de qualquer elemento provoca mudança no estado dos 
demais elementos” (Roberts, 1978 apud Almeida Filho; Rouquayrol, 2002). 
 
Figure 5 Sinergismo multifatorial na determinação das doenças diarreicas. Fonte: Almeida Filho e 
Rouquayol, 2002. 
 
Modelo da História Natural das doenças (modelo processual) 
O modelo proposto por Leavell e Clark (1976) define o a interrelação 
entre doença e saúde como um processo chamado História Natural da 
Doença. 
De acordo com o modelo proposto, há um estímulo patológico, que é o 
período pré-patogênico. Em uma relação de causa e efeito, quanto maior o 
estímulo e quanto mais tempo o indivíduo está exposto à esse estímulo, maior 
a chance de adoecer, que é o período patogênico de fato. 
Este modelo nos permite observar que existem fatores predisponentes 
ao evento do adoecimento, e portanto, há a possibilidade de evita-los através 
de ações de prevenção. 
 
13 
 
Ademais, pode-se estabelecer um plano de cuidados ao indivíduo já 
doente, em diferentes níveis de complexidade, estabelecendo prognósticos 
desde a completa cura até os cuidados paliativos. 
 
 
Figure 6 Modelo da História Natural da Doença. Fonte: Almeida Filho e Rouquayol, 2002. 
 
Exercitando: 
Faça uma leitura criteriosa do texto acima e elabore exemplos onde 
você percebe as diferentes formas (modelos) que a humanidade concebeu 
saúde e doença ao longo do tempo, em nosso dia-a-dia. 
Lembre-se dos modelos estudados que foram: 
Mágico-religioso ou xamanístico; 
Holístico; 
Empírico-racional (hipocrático): 
Biomédico; 
Sistêmico; 
História Natural da Doença (processual) 
 
 
14 
 
Aula 2: O Processo saúde-doença e o cuidado em saúde 
E agora que vimos como as concepções de saúde e doença estão 
intimamente ligadas ao momento histórico das populações, sua cultura, seu 
acúmulo científico e suas condições socioeconômicas, podemos avançar para 
conceitos mais contemporâneos de entendimento do processo. 
Na contemporaneidade, observa-se um movimento em direção aos 
elementos diversos que determinam o processo saúde-doença. Há um 
conjunto de escolas que estudaram o que foi denominado de “determinação 
social do processo saúde-doença” como o movimento de promoção à saúde 
no Canadá (Carvalho, 2005), a medicina social da américa latina (Franco et 
al., 1991), e a saúde coletiva no Brasil (Nunes, 1998). tratado 
Ainda que com algumas diferenças, todos entenderam a importância da 
organização social, do tempo histórico e do território nos resultados de saúde 
de uma população. 
Assim, aspectos imediatamente biológicos como idade, sexo e fatores 
hereditários determinam nossa saúde, bem como escolhas de estilo de vida 
como hábitos de higiene, alimentação e atividade física por exemplo. As redes 
sociais e comunitárias que participamos também influenciam nosso processo 
de saúde e doença, como quando temos uma rede de apoio seja religioso, 
comunitário, familiar que nos apoia emocionalmente e nos dá segurança no 
dia-a-dia. Da mesma forma, a saúde está atrelada ao fato de termos emprego 
e renda, condições dignas de moradia, educação, um ambiente de trabalho 
saudável que nos fornece não só renda mas saúde mental e realização 
profissional. Neste âmbito estão ainda aspectos estruturais como oferta de 
bons serviços de saúde, boa oferta agrícola de alimentos com ênfase na 
segurança alimentar, rede de água e esgoto sustentável e confiável, que 
chamamos de condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais. 
O modelo de determinação social da saúde de Dahlgren e Whitehead 
(1991) representa bem esses aspectos desde os determinantes mais 
individuais até os macrodeterminantes do processo, do centro do diagrama até 
sua periferia. Este modelo é o mais citado e estudado entre os teóricos de 
saúde coletiva do Brasil por sua simplicidade e assertividade sendo inclusive 
adotado pela Comissão Nacional de Determinantes Sociais em Saúde do 
 
15 
 
Brasil criada pelo Governo Federal a fim de contribuir com políticas públicas 
que promovessem o bem-estar da população (CNDSS, 2008). 
 
Figure 7 Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead (1991). Fonte: 
Relatório CNDSS, 2008. 
 
HIPERLINK: Você pode acessar o site da Comissão Nacional de 
Determinantes Sociais de Saúde do Brasil no site http://dssbr.org/site/sobre/ 
Lá você encontrará publicações atuais sobre a situação de saúde dos 
brasileiros com um enfoque nas causas e consequências do processo. 
 
Para completar nosso pensamento, trago reflexões do professor Gastão 
Wagner de Sousa Campos que em seu ensaio “Clínica e Saúde Coletiva 
Compartilhadas: Teoria Paideia e reformulação ampliada de do trabalho em 
saúde” no Tratado de Saúde Coletiva, 2012 refere haver três fatores 
intervenientes no processo saúde-doença das pessoas: 
a) Fatores Particulares 
b) Fatores Singulares 
c) Fatores Universais 
 
http://dssbr.org/site/sobre/
 
16 
 
 
Figure 8 Coprodução do processo saúde/doença/intervenção Fonte: Tratado de saúde coletiva, 2012. 
Quanto aos fatores particulares temos os fatores biológicos e os fatoressubjetivos. Afirma-se aqui que fatores genéticos como ter ou não Síndrome de 
Down modificam a vulnerabilidade da pessoa ao processo de adoecer. A 
idade, quanto mais velha mais próxima de disfunções celulares e 
homeostáticas pelo estresse oxidativo e perda de telômeros a cada replicação 
celular por exemplo. Sabemos que há doenças que afetam mais o sexo 
masculino que o feminino e vice versa, o estado de gravidez coloca a mulher 
em situação de vulnerabilidade para determinadas afecções como de proteção 
para outras. A hipertensão arterial é um estado crônico que degenera muito 
mais rapidamente o sistema cardiovascular e pode vir acompanhada de outras 
doenças crônicas como Diabetes Melitus que diminuem a expectativa de vida 
das pessoas. 
Os fatores subjetivos falam quanto a imanência do sujeito, ou seja, sua 
essência, sendo específico para cada pessoa. São seus interesses e 
desejos. 
 
Parada Obrigatória 
O conceito de interesse abordado aqui vem de escolas racionalistas, 
que admitem que o ser humano calcula racionalmente suas escolhas para sua 
própria sobrevivência. A forma como se relacionam com o mundo, como por 
 
17 
 
exemplo, na manutenção de um núcleo familiar estável, quando segue as leis, 
na busca de um bom emprego para manter ou melhorar seu poder de compra 
e estabilidade, e em saúde, quando buscam alimentar-se bem e realizar 
atividades físicas por exemplo, estão fazendo escolhas racionais de interesse. 
O desejo para o método do professor Campos, seria uma tendência 
psíquica do sujeito humano em buscar o prazer, o gozo, com certo grau de 
independência de sua própria sobrevivência, ou seja da racionalidade do 
interesse. O desejo pode também voltar-se a finalidades perversas, destrutivas 
quanto aos outros ou quanto a si mesmo ou quanto a determinado contexto. 
É interessante percebermos estes conceitos em nossas práticas 
enquanto trabalhadores de saúde. Muitos profissionais se frustram quando 
veem um paciente hipertenso, abusando do sal, ou um usuário de drogas que 
não se recupera, uma gestante que não comparece às consultas de pré-natal, 
uma mãe que não leva os filhos às consultas odontológicas, um paciente 
dislipidêmico com obesidade grau 2 que não consegue emagrecer. 
Reflita sobre suas próprias escolhas de saúde e tente identificar 
escolhas racionais e de desejo em cada uma delas. 
 
Vamos agora à síntese singular do processo saúde-doença que se 
configura na influência que os indivíduos fazem no contexto em que vivem e 
ao mesmo tempo a influência que este contexto exerce sobre os indivíduos. 
Parece complexo mas exemplificando, temos a produção cotidiana de 
um profissional em uma Unidade Básica de Saúde. Ao adentrar este lugar para 
seus primeiros dias de trabalho, ele vê as normas e rotinas da Unidade, os 
protocolos, mas também observa como as pessoas se relacionam, a dinâmica 
política e de poder que há entre os funcionários, a forma como o paciente é 
atendido e por fim o seu papel social no local. Com o tempo, ele vai se 
adequando àquela rotina, mas ao mesmo tempo, imprime sua personalidade, 
seus interesses e desejos naquele ambiente de trabalho, que pouco a pouco 
também passam a influenciar as rotinas, normas e relações de poder que há 
naquele lugar. Assim é com todas as instituições e locais de produção coletiva 
como igrejas, escolas, imprensa, hospitais, família. O sujeito as influencia e 
elas influenciam os sujeitos. 
 
18 
 
No contexto do processo saúde-doença, as escolhas de saúde são 
determinadas por elementos singulares como nossas práticas cotidianas que 
ao mesmo tempo em que dizem muitos sobre nossos desejos, são também 
moldadas pela sociedade, política, gestão, trabalho e vice-versa. 
Então a forma como entendemos o que é adoecer, ser saudável, morrer, 
depende muito de nossa religião, o quanto nós estudamos de biologia e 
química para entendermos as bases fisiológicas da doença, se temos instrução 
suficiente para compreender as recomendações médicas, se há para nós há 
alguma importância em viver em nossa sociedade de forma ativa como por 
exemplo fazendo parte de um coletivo de jovens, de um partido político ou 
grupo da igreja, se quero ficar saudável para trabalhar bem e crescer 
profissionalmente influenciando minha comunidade, se eu sei a importância de 
participar de espaços onde as políticas de saúde são definidas como em 
conferências e conselhos de saúde e se através de tudo isso eu posso assumir 
a corresponsabilidade do meu processo saúde doença com minha comunidade 
e com os profissionais de saúde que me assistem. 
Quanto aos fatores universais, temos os determinantes 
socioeconômicos e as políticas sociais, econômicas e políticas que as 
promovem. 
Aqui então, temos por exemplo o tipo de serviço de saúde que é ofertado 
à população. Comparações recentes entre países com condições 
socioeconômicas parecidas, mostraram grandes vantagens em níveis de 
saúde às populações que tinham acesso a sistemas públicos (WHO, 2006). 
Outro exemplo é o acesso a saneamento básico, cuja ausência é 
diretamente proporcional à alta incidência de doenças diarreicas em crianças 
menores de um ano, proporcionando importante fenômeno explicativo de altas 
taxas de mortalidade infantil. 
A baixa escolaridade, que por si só já é um importante fator de exclusão 
social de uma população, pode ainda explicar o alto índice de gravidezes na 
adolescência, que leva a mais exclusão social, configurando-se uma “bola de 
neve” de perpetuação de pobreza em estratos sociais. 
REVEJA o diagrama do modelo sistêmico de explicação do processo 
saúde-doença e elabore você um diagrama de um problema de saúde comum 
 
19 
 
entre os brasileiros, levando em consideração os diferentes determinantes 
para esta doença. 
 
A percepção do processo saúde-doença é um importante ponto de 
partida para os profissionais de saúde que buscam promover saúde para 
indivíduos e coletivos. 
Sei que para se tornar um profissional de saúde, você terá que estudar 
muito, praticar muito, se dedicar anos a fio sobre os livros e sobre as técnicas 
inerentes à profissão que escolheu, mas ao colocar-se frente a outro indivíduo, 
que você possa lembrar-se que as necessidades de saúde de um sujeito, vão 
além da parte do corpo injuriada, da dor física imediata que ele sente, dos 
níveis laboratoriais que precisam ser normalizados, mas de um contexto muito 
maior que determinou aquele adoecimento, e é nesse contexto que não o 
chamarei de “doutor” ou “curador” ou “medicador” (peço licença para o uso 
desses neologismos), mas sim de cuidador. 
O cuidador e o cuidado remetem à uma interação entre dois seres onde 
um é atravessado e afetado pelo outro no sentido de “querer bem” agir 
empaticamente, buscando o bem-estar e a saúde e isso só é possível quando 
um entendo o que é “bem” para o outro, o que requer um conhecimento dos 
elementos que particulares, singulares e universais que determinam essa 
compreensão, ou seja, vê-lo de maneira integral. (BUB, 2006, CAMPOS et al. 
2012) 
Nesta prática do cuidado, o profissional deve exercer determinados 
atributos, sendo eles: a ética nas relações humanas, solidariedade, confiança 
e conhecimento técnico-científico, buscando a cura sempre que possível, o 
bem-estar, o alívio quando ou enquanto não pode-se alcançar a cura, 
mudanças no estilo de vida, e até a promoção e fortalecimento de ações 
coletivas em busca de melhorias estruturais, econômicas e políticas para a 
melhoria das condições de saúde das pessoas, famílias e comunidades. 
Perceba que não é apenas a prescrição de um medicamento, a realização de 
uma técnica ou a orientação de uma ação de saúde. É muito mais que isso. 
Outro aspecto importante para promover cuidado em saúde é a 
promoção do autocuidado. O autocuidado permite que o indivíduo se 
 
20 
 
responsabilize pelo seu processo saúde-doença, que possa promover o 
“cuidado de si” como elucidaFoucault (2006). 
Para que esse sujeito cuide de si, é importante que ele tenha as 
melhores informações possíveis para tomar escolhas saudáveis se este for o 
seu desejo, e o profissional de saúde deve ser esse catalizador de ideias 
saudáveis para seus pacientes através da promoção à saúde, levando em 
consideração seu nível escolaridade, sua condição socioeconômica, os 
serviços que lhe são disponíveis e sua própria condição biológica. Mais a frente 
falaremos mais sobre promoção à saúde e prevenção de doenças onde esses 
conceitos serão melhor elaborados. 
Agora vamos retornar às suas respostas às perguntas no começo do 
capítulo 
Para refletir: 
a) O que é “ter saúde”? Quais fatores determinam que as pessoas tenham 
saúde? 
b) O que é “estar doente”? Quais fatores favorecem o adoecimento das 
pessoas? 
c) O que você costuma fazer quando se vê doente? 
d) Para você o que significa ser cuidado? 
e) Como os profissionais de saúde interferem no processo saúde-doença 
das pessoas? 
Você mudaria alguma resposta? Porque? 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ALMEIDA FILHO, N; ROUQUAYROL, M. Z. Modelos de saúde-doença: introdução 
à epidemiologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Medci Ed., 2002. p. 27-64. 
 
BATISTELLA, C. Abordagens contemporâneas do conceito de saúde. In: 
FONSECA, A.F.; CORBO, A.M.D. (orgs) O território e o processo saúde 
doença. Rio de Janeiro. Escola Politécnica de Saúde João Venâncio. 
FIOCRUZ, 2007. p. 51-85 
 
BATISTELLA, C. Saúde, Doença e Cuidado: complexidade teórica e 
necessidade histórica. In: FONSECA, A.F.; CORBO, A.M.D. (orgs) O 
território e o processo saúde doença. Rio de Janeiro. Escola Politécnica de 
Saúde João Venâncio. FIOCRUZ, 2007. p. 25-50. 
 
21 
 
 
BUB, M.B.C. et al. Noção do cuidado de si mesmo e conceito de autocuidado na 
Enfermagem. Texto e Contexto em Enfermagem, Florianópolis, v. 15, n. Esp., p. 152-
157, 2006. 
 
BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A Saúde e seus Determinantes Sociais. In 
PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1): 77-93, 2007. 
 
CAMPOS, et al. (organizadores). Tratado de saúde coletiva. São Paulo – Rio de 
Janeiro: Hucitec – Ed. Fiocruz, 2012. 
 
CARVALHO, S.R. Saúde Coletiva e Promoção da Saúde. São Paulo: Hucitec, 2005. 
 
CASTELLANOS, P. L. Sobre o conceito de saúde-doença: descrição e explicação 
da situação de saúde. Boletim Epidemiológico [da] Organização Pan-Americana de 
Saúde, v. 10, n. 4, p. 25-32, 1990. 
 
CNDSS. As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil. In: Relatório final 
da comissão nacional sobre determinantes sociais da saúde (CNDSS). 2008. 
 
FOUCAULT, M. Resumo do curso. In: EVALD, F. et al (Org.). A hermenêutica do 
sujeito 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2006. 
 
FRANCO, S, et al. Debates em medicina social. Equador: Ediciones OPS/Alames, 
Serie Desarollo de Recursos Humanos,1991. 
 
HERZLICH, C. Saúde e doença no início do século XXI: entre a experiência privada 
e a esfera pública. Physis: revista de saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 
383-394, 2004. 
 
MEHRY, E. E. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em 
saúde. In: MERHY, E. E.; ONOCKO, R. (Org.). Agir em Saúde: um desafio para o 
público. São Paulo: Hucitec, 1997. 
 
MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. Brasília: Organização Pan-Americana 
de Saúde, 2011. 549p. Disponível em: http://apsredes.org/site2012/wp-
content/uploads/2012/03/Redes-de-Atencaomendes2.pdf 
 
NUNES, E.D. Saúde Coletiva: história e paradigmas. Interface: Comunicação, 
saúde e educação, 1998 
 
ROUQUAYROL, M. Z. Epidemiologia e saúde. Rio de Janeiro: Medsi, 1993. 
 
SABROZA, P. C. Concepções de saúde e doença. Rio de Janeiro: Escola Nacional 
de Saúde Pública Sérgio Arouca, 2004. 
 
SCLIAR, M. Do Mágico ao Social: trajetória da saúde pública. São Paulo: Senac, 
2002. 
 
STEUDLER, F. Sociologie medicale. Paris: Armand Colin, 1972. 
 
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). The World Health Report 2006: Working 
Together for Health. Genebra: WHO, abr., 2006 
 
http://apsredes.org/site2012/wp-content/uploads/2012/03/Redes-de-Atencaomendes2.pdf
http://apsredes.org/site2012/wp-content/uploads/2012/03/Redes-de-Atencaomendes2.pdf
 
22 
 
 
 
 
MÓDULO II - O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 
 
Neste módulo, vamos nos aproximar dos marcos teóricos e legais do 
Sistema Único de Saúde Brasileiro, através de um resgate dos antecessores 
do SUS e de uma apresentação do Sistema quando foi criado. 
 
Aula 1: Evolução histórica da Saúde Brasileira 
No longo caminho que culminou com a construção do Sistema Único de 
Saúde Brasileiro, o nosso SUS, foi trilhado um longo caminho, pavimentado 
por disputas entre diferentes atores que propunham diferentes modelos e 
propostas de oferta de serviços de saúde em nosso país. 
Para que possamos nos aprofundar nessas disputas, sugiro que 
façamos um resgate histórico dos modelos de saúde de nosso país, a fim de 
entendermos de onde viemos e para onde queremos ir na defesa de um 
Sistema de Saúde equânime, integral e universal. 
 
PARADA OBRIGATÓRIA: 
Para que possamos prosseguir, sugiro que você leia o texto Cronologia 
Histórica da Saúde Pública produzido pela Fundação Nacional de Saúde – 
FUNASA, disponível no link http://www.funasa.gov.br/cronologia-historica-da-
saude-publica . E o vídeo A História da Saúde Pública no Brasil- 500 anos de 
busca soluções, no Brasil, produzido pela FIOCRUZ disponível no link 
https://portal.fiocruz.br/video/historia-da-saude-publica-no-brasil-500-anos-na-
busca-de-solucoes . 
 
PARA REFLETIR 
Como você viu no texto e no vídeo acima, os modelos de saúde vigentes 
em nosso país, seguiram o contexto histórico em que foram elaboradas e os 
interesses vigentes das classes dominantes da época. Você pode citar alguns 
exemplos de interesses econômicos que impulsionaram alguma 
implementação de estratégia de saúde na história do nosso país? 
http://www.funasa.gov.br/cronologia-historica-da-saude-publica
http://www.funasa.gov.br/cronologia-historica-da-saude-publica
https://portal.fiocruz.br/video/historia-da-saude-publica-no-brasil-500-anos-na-busca-de-solucoes
https://portal.fiocruz.br/video/historia-da-saude-publica-no-brasil-500-anos-na-busca-de-solucoes
 
23 
 
 
Como você percebeu, o início da organização sanitária colonial, era 
voltada quase que exclusivamente para a higiene das cidades portuárias, a fim 
de garantir as importações e exportações do país. 
Com a chegada da família real ao Brasil, houve a ampliação das 
estruturas de saúde, profissionais médicos, a inauguração da polícia sanitária, 
mas ainda sim o atendimento das Santas Casas pela caridade eram oferecidas 
aos pobres de maneira precária, enquanto os ricos eram atendidos por 
médicos particulares. 
 
 
Figure 9 Obra do pintor francês Nicolas Louis Albert de LaRiva representando o embarque da Família 
Real para o Brasil. Fonte: https://querobolsa.com.br/enem/historia-brasil/a-vinda-da-familia-real-
para-o-brasil 
 
Com a chegada do século XX e a intensificação da indústria Brasileira, 
houve uma preocupação maior na institucionalização da saúde pública, a fim 
de garantir a saúde dos trabalhadores das fábricas, que por sua vez garantiam 
a economia do país. Havia uma preocupação quanto as graves epidemias 
como a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. Pode-se dizer que a saúde 
passou a ser tratada como caso de polícia, visando a proteção da economia 
que como uma real preocupação pela saúde das pessoas. Para se ter uma 
https://querobolsa.com.br/enem/historia-brasil/a-vinda-da-familia-real-para-o-brasil
https://querobolsa.com.br/enem/historia-brasil/a-vinda-da-familia-real-para-o-brasil
 
24 
 
ideia, o órgão que cuidava da saúde pública era o Ministério da Justiça e 
Negócios Interiores, não havendo Ministério da Saúde. 
Como era tratada como caso de polícia, a necessidade urgente de 
controlar as epidemias, era através de “campanhas sanitárias” que podemos 
dizer, foi o embrião das atividades de prevenção da saúde em nosso país.A 
concepção liberal da economia impedia uma intervenção mais eficiente por 
parte do Estado, deixando a cargo do mercado a oferta de serviços de saúde. 
 
PARADA OBRIGATÓRIA 
Um grande destaque desse período histórico foi a ˜revolta da vacina”. 
Sugiro que assista a um trecho de um vídeo explicativo deste momento 
histórico elaborado pela FIOCRUZ disponível em 
http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/wp-
content/uploads/2015/04/a_revolta_da_vacina_pg22_sem_lg.mp4 
 
Foi no ano de 1923 que o cenário da atenção à saúde em nosso país 
começou a mudar, e foi pelo movimento dos operários, que de forma 
organizada reivindicaram e conseguiram aprovar a Lei Eloy Chaves que criava 
as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs), marcando o início da 
previdência social em nosso país. 
É nesse momento que categorias profissionais passam a ter acesso a 
benefícios por meio de contribuições mediante sua inserção formal no mercado 
de trabalho. Agora poderiam ter direito a atendimento médico e à 
aposentadoria, entretanto uma grande parcela da população continuava 
desassistida, que era a dos trabalhadores informais, ficando estes aos 
cuidados da caridade. 
http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/wp-content/uploads/2015/04/a_revolta_da_vacina_pg22_sem_lg.mp4
http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/wp-content/uploads/2015/04/a_revolta_da_vacina_pg22_sem_lg.mp4
 
25 
 
 
Figure 10 Matéria de capa da edição de 24 de janeiro de 1923 do jornal ‘O Brasil’. Imagem: Hemeroteca 
Digital/Biblioteca Nacional. Fonte: http://www.dmtemdebate.com.br/24-de-janeiro-de-1923-e-
publicada-a-lei-eloy-chaves-marco-no-desenvolvimento-da-previdencia-soci 
 
Posteriormente as CAPs evoluíram para Institutos de Aposentadoria e 
Pensão (IAPs), que eram as uniões de várias CAPs. Podemos dizer que esta 
forma de promover saúde e previdência no Brasil, foi determinante para que 
até hoje tenhamos um modelo misto de atenção à saúde com forte participação 
do setor privado e parcerias público-privadas cada vez mais complexas e 
desafiadoras para os gestores do SUS. 
A partir daí, percebemos que no Brasil, foram formados três 
subsistemas de saúde que eram relativamente independentes: saúde pública, 
medicina previdenciária e medicina do trabalho. 
 
http://www.dmtemdebate.com.br/24-de-janeiro-de-1923-e-publicada-a-lei-eloy-chaves-marco-no-desenvolvimento-da-previdencia-soci
http://www.dmtemdebate.com.br/24-de-janeiro-de-1923-e-publicada-a-lei-eloy-chaves-marco-no-desenvolvimento-da-previdencia-soci
 
26 
 
 
Figure 11 Subsistemas de saúde vinculados ao poder público no início do século XX. Fonte: Adaptado 
de: PAIM; J. S. et. al. O que é o SUS. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2015. 93 p. (Coleção Temas em 
Saúde). Disponível em: http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/ 
 
Entre os anos 50 e 60 do século XX, após a resolução da Segunda 
Grande Guerra (1945), o modelo previdenciário de atenção à saúde dos 
brasileiros foi se intensificando. Cada vez mais consultórios, hospitais, 
laboratórios e clínicas particulares iam sendo criados e muitos destes recebiam 
ainda financiamento previdenciário. 
Após o golpe civil-militar de 1964 esse modelo de participação privada 
na oferta pública de serviços de saúde foi se consolidando, culminando com a 
criação do INAMPS que é o Instituto Nacional de Previdência Social. 
O INAMPS surgiu da união do INPS (Instituo Nacional de Previdência 
Social) que por sua vez era a união das IAPs citadas anteriormente. Com este 
novo modelo, consolidou-se uma assistência à saúde excludente (uma vez que 
só garantia saúde à parcela da população que tinha trabalho formal), 
hospitalocêntrico, medicocentrado, desarticulado, corrupto e ineficiente. 
 
SAIBA MAIS: 
 
 
Estatal 
Voltada para a coletivitade, 
profilaxia e educação sanitária 
 Saúde Pública 
 
Previdência liberal ou filantrópica 
caráter individual e curativo 
 
Medicina 
Previdenciária 
 
Empresas médicas prestadoras de 
serviços e grandes empresas 
Medicina de grupo. 
 
Medicina do 
Trabalho 
http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/
 
27 
 
 
O INAMPS garantiu a construção de grandes hospitais conveniados, em 
regime de fundo perdido, que garantia a posse desses hospitais aos “donos” 
após a construção, ainda que estes depois se desvinculassem do sistema por 
quaisquer motivos. 
Houve ainda um grande esquema de corrupção onde pessoas já 
falecidas ou que nunca tiveram acesso ao sistema eram registradas como 
atendidas, gerando renda aos hospitais privados vinculados Houve também o 
registro da mesma pessoa sendo atendida várias vezes para a mesma cirurgia 
ou procedimento, superfaturando as chamadas AIHs que eram as 
Autorizações de Internação Hospitalar. 
 
 
Em meados da década de 70, a ditadura militar já entrava em declínio e 
a reabertura política foi avançando cada vez mais na conjuntura brasileira. A 
sociedade civil organizada já começava a pautar a agenda de melhoria das 
 
28 
 
condições de vida com mais liberdade e um movimento muito importante nesse 
cenário foi o Movimento de Reforma Sanitária Brasileira. 
Este Movimento era composto por professores, estudantes, juristas, 
trabalhadores, artistas, políticos e pautava a saúde como direito social, e 
podemos dizer que daí nasceu nosso Sistema Único de Saúde como veremos 
no próximo capítulo. 
 
EXERCITANDO: 
De acordo com o que você leu e assistiu neste capítulo, quais os 
principais problemas que impulsionaram o Movimento de Reforma Sanitária a 
defender um novo modelo de assistência à saúde que hoje sabemos ser o 
SUS? 
Sistematize sua resposta. 
 
Aula 2: O Sistema Único de Saúde 
O sistema Único de Saúde teve sua instituição formal na Constituição 
de 1988, porém como todo processo histórico, retoma sua origem a um período 
bem anterior, a partir do modelo médico assistencial privatista que como 
citamos anteriormente, excluía as camadas mais pobres da população e após 
a segunda metade do século XX, induzido pelo processo da industrialização 
brasileira, se voltou para a saúde dos trabalhadores formais mediante 
contribuição previdenciária. 
O ministério da saúde até então, atuava de forma centralizada e muito 
pontual, gerenciando alguns hospitais especializados em psiquiatria e 
tuberculose, pela clara ideologia da época em excluir e isolar tais doentes do 
meio sociedade. Atuava também através da Fundação de Serviços Especiais 
de Saúde Pública (FSESP) em algumas regiões específicas, com destaque 
para os municípios do Norte e Nordeste a fim de realizar campanhas de 
prevenção à doenças endêmicas nessas regiões (SOUZA, 2002). 
Como vimos, as ações em saúde eram realizadas em sua maior parte 
pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), 
autarquia do Ministério de Previdência e Assistência Social que excluía uma 
enorme parcela da população brasileira ao beneficiar apenas os trabalhadores 
da economia formal e seus dependentes. 
 
29 
 
Assim, os trabalhadores informais tinham seus cuidados em saúde, 
oferecidos por instituições filantrópicas, religiosas e de caridade, como as 
Santas Casas de Misericórdia. O sistema da época assumia assim, um caráter 
excludente, característica que vai ser fortemente combatida pelo emergente 
movimento sanitário que pautará entre outros princípios, o da universalidade 
na assistência à saúde, ou seja, o atendimentos de todos as pessoas que do 
Sistema precisarem, independente se contribuinte ou não (SOUZA, 2002). 
O movimento sanitário então surge entremeado a mudanças políticas e 
econômicas provenientes de crises advindas de uma ditadura militar 
decadente, marcada por uma economia altamente inflacionária. 
ideologicamente repressiva para não dizer assassina em decadência e 
entremeada em suspeitas de corrupção. 
O movimento não surge, porém de forma solitária, mas em um contexto 
de crescimento de movimentos sociaisoposicionistas, partidos políticos de 
esquerda, movimento estudantil e por própria divisão de forças internas 
dissidentes que antes apoiavam o regime. 
Desta forma, o movimento sanitário, se constrói em diversos atores 
como intelectuais, localizados em espaços acadêmicos e institucionais, 
articulados com partidos políticos de esquerda, segmentos organizados de 
trabalhadores de diferentes setores e técnicos identificados com as lutas 
sociais, fundindo-se ainda a movimentos populares que se organizavam em 
uma mesma luta de luta pelos direitos civis e sociais percebidos como 
dimensões imanentes à democracia (ESCOREL; NASCIMENTO; EDLER, 
2005 apud BRASIL, 2007). 
 
30 
 
 
Figure 12 Movimento de reforma sanitária. Fonte: Google imagens 
Neste clima de “redemocratização” e “reabertura política” instalou-
se a Oitava Conferência Nacional de Saúde no período de 17 a 21 de março 
de 1986 com a abordagem de dois temas: “Saúde como Direito” e 
“Reformulação do Sistema Nacional de Saúde”. Destaca-se por seu caráter 
democrático por ser a primeira precedida de Conferências Estaduais e 
Municipais com a presença de mais de 4000 pessoas entre 1000 delegados 
respeitando a proporção de 50% dos delegados como representantes da 
sociedade civil organizada. 
As plenárias da 8ª Conferência contaram com a participação 
de quase todas as instituições que atuam no setor, assim 
como daquelas representativas da sociedade civil dos grupos 
profissionais e dos partidos políticos.(CNS, 1986). 
 
Este evento foi considerado o momento mais significativo do 
processo de construção de uma plataforma e de estratégias do “movimento 
pela democratização da saúde em toda sua história”, sendo também 
considerada a Conferência pré - constituinte da saúde do país (ESCOREL; 
NASCIMENTO; EDLER, 2005 apud Brasil, 2007). 
 
31 
 
 
Figure 13 Imagem da mesa de abertura da 8a Conferência Nacional de Saúde, considerada como pré-
constituinte. Fonte: http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/oitava-conferencia-nacional-
de-saude-o-sus-ganha-forma 
Os conferencistas debateram a natureza do sistema, a forma de 
implantação, e o órgão que ficaria responsável para a gerenciar. Entenderam 
então que o sistema seria de natureza estatal, de implementação imediata, e 
que deveria ser entregue ao Ministério da Saúde, eximindo o Instituto Nacional 
de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS) do oferecimento dos 
serviços de saúde, devendo este ater-se apenas às ações próprias à 
seguridade social. 
Aprovou-se então a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) sob 
três referenciais teóricos: um conceito amplo de saúde; a saúde como direito 
da todos e dever do Estado; e a instituição de um sistema único de saúde, 
organizado pelos princípios da universalidade, da integralidade, da 
descentralização e da participação da comunidade, conceitos que vamos nos 
debruçar mais a frente. 
 
PARA REFLETIR: 
A proposta é garantir a todas as pessoas, o direito social à saúde, 
ligando-o à condição universal de cidadania, não mais a um conceito 
meritocrático (contribuição previdenciária) ou a uma condição de 
vulnerabilidade social (caridade), ou pobreza (sistema de proteção). A 
concepção de que o SUS deveria estar atrelado a um conceito de seguridade 
social, da a ele um caráter democrático, movido por valores de equidade e 
igualdade, sem privilégios ou discriminações de qualquer forma. 
 
http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/oitava-conferencia-nacional-de-saude-o-sus-ganha-forma
http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/oitava-conferencia-nacional-de-saude-o-sus-ganha-forma
 
32 
 
Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a oitava Constituição do 
Brasil, chamada “Constituição Cidadã” , onde foi incluído o Título VIII, da 
Ordem Social; Capítulo II, da Seguridade Social; Seção II, da Saúde, artigos 
196 a 200, o Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2007b). 
A regulamentação e a implementação do SUS ao longo dos anos, 
trouxeram grandes transformações no setor saúde e implicaram na 
reformulação do modelo assistencial de saúde Brasileiro que antes dava maior 
ênfase ao modelo assistencial hospitalar. 
Com a ajuda de mecanismos institucionais como as leis 8080/90 e 
8142/90, além das Normas Operacionais Básicas (NOBs) e Normas 
Operacionais de Assistência (NOAs) e o Pacto Pela Saúde, que 
complementaram o arcabouço jurídico do sistema, instituiu-se uma nova forma 
de gerir saúde no país que passa a ser organizado através dos serviços de 
Atenção Básica (LIMA et al., 2005; ANDRADE et al.,2006). 
Após a Institucionalização do Sistema Único de Saúde na 
constituição federal, a saúde foi assumida como um direito de todos 
e dever do Estado. Isso assegurado mediante políticas sociais e 
econômicas que visassem à redução do risco de doença e de outros 
agravos e a uma política setorial de saúde capaz de garantir o acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e 
recuperação da saúde da população (BRASIL, 2001). 
 
OLHANDO DE PERTO: 
Vamos elaborar alguns termos muito frequentes no texto constitucional 
e nas leis 8080/90 e 8142/90 que criaram e instrumentaram o SUS: 
 
 
33 
 
 
 
 
Intervenções realizadas para garantir o bem estar social e 
econômico das pessoas . 
Produção e distribuição de riqueza e renda, emprego, salário e 
moradia, acesso à educação e cultura são exemlos. 
 
Políticas 
sociais e 
econômicas 
 Doença é enfermidade ou estado clínico independente da origem 
que causam dano significativo para os seres humanos 
Agravos são quaisquer danos à integridade física, mental e social 
provocados por circunstancias nocivas, não necessariamente sendo 
doenças como envenenamento e acidentes por exemplo. 
 
Doenças e 
agravos 
 
Todos conseguem alcançar os serviços de saúde de que 
necessitam, sem barreiras. 
Nada exclui a possibilidade de acesso da pessoa aos serviços de 
saúde. 
 
Acesso 
universal 
 Acesso igual para todos, sem qualquer discriminação ou 
preconceito. 
 Há entretanto um conceito que o completa quando temos uma 
realidade muito desigual como no caso do Brasil, que é a equidade 
em saúde. 
 
Acesso 
igualitário 
 
 É a possibilidade de atender os desiguais na medida de sua 
desigualdade, priorizando os que mais precisam, a fim de 
finalmente promover a igualdade. 
 
Equidade em 
saúde 
 
fomentas, cultivas, estimular a qualidade de viida dos indivíduos e 
comunidades 
Depende do acesso à educação, de boas condições de vida, da 
prática de atividades físicas, alimentação, arte, etc. 
 
Promoção da 
Saúde 
 
Tomada de medidas como vacinação, combate a vetores de doenças, 
estímulo ao uso de cinto de segurança, uso de preservativos entre 
outros que busquem reduzir ou eliminar riscos à saúde 
 
Proteção da 
saúde 
 
Açòes que visem a cura ou a limitação de danos ou sequelas. 
Realização de diagnóstico precoce e tratamentos em tempo 
oportuno. 
 
Recuperação da 
saúde 
 
34 
 
 
 
Figure 14 Noções de equidade e igualdade. Fonte: Google maps 
SAIBA MAIS: 
Para conhecer toda a legislação estruturante do SUS, acesse 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/progestores/leg_sus.pdf 
Características do SUS 
 
Agora vamos ver como o nosso Sistema de Saúde se organizou através 
de seus princípios e diretrizes. 
Os princípios doutrinários são os valores basilares do SUS que derivam 
da ética, da moral, da filosofia, das escolhas políticas dos doutrinadores e do 
direito. 
As diretrizes organizativas são as escolhas metodológicas para que 
alcancemos os valores dos princípios doutrinários. São as orientações gerais 
de como o Sistema deve funcionar. 
 
 
 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/progestores/leg_sus.pdf
 
35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Universalidade Integralidade 
 Equidade 
É a garantia de acesso às ações e 
serviços de saúde atodas as pessoas, 
independentemente de sexo, raça, 
renda, ocupação ou outras 
características sociais ou pessoais. 
Constitui-se como um direito de 
todos e um dever do Estado. 
É considerar a pessoa como um 
todo, atendendo a todas as suas 
necessidades. Pressupõe a 
articulação da saúde com outras 
políticas públicas possibilitando a 
promoção, proteção e recuperação 
da saúde, bem como a sua 
reabilitação. 
É tratar os diferentes de forma 
diferente, oferecendo mais a 
quem precisa mais, procurando 
reduzir a desigualdade. 
Universalidad
e 
Integralidad
e 
Equidad
e 
 
36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A descentralização é a redistribuição do poder e responsabilidades entre 
os três níveis de governo. A decisão passa a ser de quem executa, quem está 
mais perto do problema. É uma forma de aproximar o cidadão das decisões. 
A Regionalização e Hierarquização é a organização dos serviços em 
níveis crescentes de complexidade, circunscritos a determinada área 
geográfica, planejados a partir de critérios epidemiológicos, com definição e 
conhecimento da clientela a ser atendida. 
O atendimento integral é a ação conjunta nos três níveis de atenção à 
saúde visando a prevenção sem prejuízo dos serviços de assistência. É a 
garantia de atendimento ao usuário independente dos níveis de complexidade 
envolvidos. 
A resolubilidade é a exigência de que quando um indivíduo procura um 
atendimento ou quando surge um problema de impacto coletivo sobre a saúde, 
o serviço correspondente esteja capacitado para enfrentá-lo e resolvê-lo ao 
nível de sua complexidade 
A intersetorialidade é a articulação entre diferentes setores 
governamentais e sociais para realização de ações conjuntas e construção de 
políticas públicas transversais para a promoção, prevenção e recuperação da 
saúde dos usuários e comunidades. 
A participação comunitária é o controle social. É a garantia constitucional 
de que a população, participará dos processos de formulação e controle das 
políticas de saúde em todas as esferas de governo. Conselhos e Conferências 
de Saúde. 
 
 Descentralização 
Regionalização e 
Hierarquização 
Atendimento 
integral 
 Resolubilidade 
Intersetorialidad
e 
Participação 
comunitária 
 
Complementarid
ade do setor 
privado 
 
37 
 
A complementaridade do setor privado é a possibilidade de contratação 
do setor privado quando há insuficiência de algum serviço no setor público, 
dando-se preferência aos serviços não lucrativos. 
 
HIPERLINK: 
Para aprofundar o tema, assista ao vídeo Série SUS, produzido pela 
FIOCRUZ sobre os princípios do SUS 
http://www.edpopsus.epsjv.fiocruz.br/videos/video-serie-sus-os-principios-
do-sus . 
 
EXERCITANDO: 
Com base no que você aprendeu sobre os princípios e diretrizes do SUS, 
observe a imagem abaixo 
http://www.edpopsus.epsjv.fiocruz.br/videos/video-serie-sus-os-principios-do-sus
http://www.edpopsus.epsjv.fiocruz.br/videos/video-serie-sus-os-principios-do-sus
 
38 
 
 
 
Figure 15 Notícias sobre a pandemia de COVID no Brasil. Fonte: própria. 
Com base nos princípios e diretrizes do SUS, responda que elementos 
estão sendo afetados na oferta dos serviços de saúde de alta complexidade 
na pandemia de COVID na sua opinião? 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR: 
Leia o texto “CORONAVÍRUS: Não existe segurança sem acesso universal à 
saúde” de Deisy Ventura https://jornal.usp.br/artigos/coronavirus-nao-existe-
seguranca-sem-acesso-universal-a-saude/ 
https://jornal.usp.br/artigos/coronavirus-nao-existe-seguranca-sem-acesso-universal-a-saude/
https://jornal.usp.br/artigos/coronavirus-nao-existe-seguranca-sem-acesso-universal-a-saude/
 
39 
 
Ao final deste módulo, espero que você tenha compreendido como o SUS 
se estruturou, que elementos da história o influenciaram, qual a importância de 
sua defesa no seio de uma sociedade com péssima distribuição de renda e 
altas taxas de desigualdade social como o Brasil e quais elementos 
doutrinários e operativos o constitui. 
 No próximo módulo trabalharemos conceitos importantes na Saúde 
Coletiva como a situação de saúde no Brasil, a transição demográfica e seus 
determinantes para a saúde, Programas de atenção à saúde no âmbito do SUS 
e elementos da gestão do SUS. 
 Aguardo vocês e até la! 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANDRADE, Luiz Odorico Monteiro de; BARRETO, Ivana Cristina de Holanda Cunha; 
BEZERRA, Roberto Cláudio. Atenção primária à saúde e estratégia saúde da 
família. In: CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa et al. Tratado de saúde coletiva. 
São Paulo: Hucitec,. p. 783-836, 2006. 
 
BRASIL. Ministério da Saúde. O Sistema Público de Saúde Brasileiro. Brasília – 
DF: 2002. Disponível em: 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/sistema_saude.pdf 
 
BRASIL, Conselho Nacional de Saúde. Relatórios do Conselho Nacional de 
Saúde. Brasília, DF: MS, 1986. Disponível em 
<http://www.conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios.htm> Acesso em 19 de 
dezembro de 2020. 
 
BRASIL, Fundação Nacional de Saúde. Saúde mais perto: os programas e as 
formas de financiamento para os municípios. Brasília, DF: FNS, 2001a 
 
BRASIL. Ministério da Saúde. ABC do SUS: doutrinas e princípios. Secretaria 
Nacional de Assistência à Saúde. Brasília – DF: 1990. Disponível em: 
http://www.pbh.gov.br/smsa/bibliografia/abc_do_sus_doutrinas_e_principios.pdf 
 
CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE SAÚDE – CEBES. A questão 
democrática na área da saúde. [site]. 2015. Disponível em: 
http://cebes.org.br/2015/10/a-questao-democratica-na-area-da-saude/ 
 
ESCOREL, Sarah; NASCIMENTO, Dilene Raimundo; EDLER, Flavio Coelho. As 
origens da Reforma Sanitária e do SUS. In: LIMA, Nísia Trindade et al (Org). Saúde 
e democracia. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2005. 
 
LIMA, Nísia Trindade et al. (Org.). Saúde e democracia: história e perspectiva do 
SUS. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005. 
 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/sistema_saude.pdf
http://www.pbh.gov.br/smsa/bibliografia/abc_do_sus_doutrinas_e_principios.pdf
http://cebes.org.br/2015/10/a-questao-democratica-na-area-da-saude/
 
40 
 
PAIM, J. S. et. al. O que é o SUS. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2015. 93 p. 
(Coleção Temas em Saúde). Disponível em: 
http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/4/ 
 
PAIM, J. S. SUS: Sistema Único de Saúde: tudo o que você precisa saber. Editora 
Atheneu, 2019. 
 
SOUZA, Renilson Rehem de. O sistema público de saúde brasileiro. Seminário 
Internacional. Tendências e desafios dos sistemas de saúde nas Américas. São 
Paulo: Ministério da Saúde, 2002. 
 
STARFIELD, Bárbara. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, 
serviços e tecnologia. Brasília: Unesco, 2002. 
 
VASCONCELOS, C. M.; PASCHE, D. F. O SUS em perspectiva. In: CAMPOS, G. 
W. S. et al. [org]. Tratado de Saúde Coletiva. Ed Hucitec: 2017. 
 
 
 
 
 
http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/4/

Outros materiais