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Este capítulo tem o objetivo de apresentar o último ciclo de vida – a 
velhice – e suas diversas relações com a violência. Apresenta um caso 
verídico, ocorrido em uma comunidade do Rio de Janeiro, seguido de 
textos para auxiliar a reflexão, e de referências para consulta. Finaliza o 
capítulo um exercício de avaliação do conteúdo aqui proposto.
CASO A HISTÓRIA DA FAMÍLIA CABRAL
A família Cabral é atendida por uma equipe do Programa de Saúde da Família 
e é um exemplo dos vários tipos de problemas sociais e de violência envolven-
do famílias inteiras. Maus-tratos, negligência, abandono, fome, desnutrição, 
deficiência motora, deficiência mental, distúrbios psíquicos, alcoolismo, tuber-
culose, Aids, abuso sexual, prostituição e uso de drogas estão presentes na 
história dessa família e no cotidiano de seus familiares.
No centro de toda essa trajetória de pobreza e exclusão social está dona Rosa 
que, aos sessenta e poucos anos de idade, cuida do pai, dos nove filhos e dos 
netos. Dona Rosa é crente e sofre de diabetes. Mora sozinha no alto do morro, 
num barraco cedido que não tem banheiro nem água encanada. Atualmente 
está para ser despejada. Ao redor, em outros barracos, estão o ex-marido de 
dona Rosa – que bebe muito e também é diabético –, os filhos e os netos.
Recentemente, dona Rosa teve que dar uma atenção especial à filha, quando 
esta quebrou a perna e ficou imobilizada por 45 dias. A moça é alcoólatra e 
sempre traz problemas para a mãe. 
8. A violência contra os idosos
Amaro Crispin de Souza

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IMPACTOS DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE
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Dona Rosa é negra e estudou até a 3ª série primária. Engravidou ainda adoles-
cente e teve uma filha sozinha. Quando essa criança tinha apenas dois anos, 
dona Rosa conheceu um rapaz, com quem foi morar, na casa da sogra. O com-
panheiro assumiu a paternidade da menina, registrando-a em seu nome. Dona 
Rosa e o marido tiveram mais oito filhos. Ele trabalhava numa casa de móveis, 
não consumia bebidas alcoólicas, mas era mulherengo. Aos poucos, começou 
a maltratar dona Rosa e, quando as crianças eram pequenas, ele expulsou-a de 
casa junto com os filhos. Ela foi embora do bairro com as nove crianças e só 
voltou quando foi chamada a cuidar da sogra, doente e também maltratada 
pelo filho.
Quando dona Rosa conseguiu se separar do companheiro, ele não manteve 
contato com os filhos e nem ajudou a criá-los. Trabalhando como faxineira 
para sustentar a família, todos os dias, ao sair de casa, deixava a comida pron-
ta. A filha mais velha cuidava dos irmãos menores enquanto a mãe trabalhava. 
Todos freqüentaram a escola. No entanto, mesmo com os filhos crescidos, a 
família continuou a passar necessidade. Faltava comida. Dona Rosa ficou 
doente e foi internada em um hospital psiquiátrico.
Após esse episódio, dona Rosa não voltou a morar com os filhos. Ela agora 
dava trabalho aos outros e estava incomodada porque ficava com “muito ba-
rulho na cabeça”. Há alguns anos havia se tornado crente, o que a ajudou 
muito. Hoje em dia diz sentir-se bem melhor; deixou de tomar tranqüilizantes 
e, quando necessário, utiliza um chá caseiro como calmante. Lamenta sua con-
dição de vida e a de seus filhos, que não a ajudam. Na verdade, eles também 
precisam de ajuda. Alguns lidam com drogas ilegais; outros consomem bebi-
das em excesso; uma delas está envolvida com prostituição; e outra, ainda, é 
deficiente mental e foi internada após um surto psiquiátrico. Esta moça tam-
bém é suspeita de ter praticado abuso sexual contra a filha, que passou uns 
tempos morando com dona Rosa.
Dona Rosa lutou durante anos para satisfazer, ainda que minimamente, as 
necessidades materiais e afetivas dos filhos, em detrimento de suas próprias 
necessidades, muitas vezes esquecidas. Chegou um momento em que não su-
portou tantos sofrimentos e a miséria, aliados às cobranças constantes por 
parte dos filhos e netos. Resultado: adoeceu, “pirou”, “pifou”. Posteriormen-
te, reconstruiu como pôde sua rede de relações, primeiramente apoiada ape-
nas nos serviços de saúde e em seguida, de forma preponderante, na religião 
e na igreja evangélica, que a ajudaram a melhorar sua identidade e auto-es-
tima. Depois de tanto sofrimento, dona Rosa descobriu, ou recuperou, a ge-
nerosidade para consigo mesma. Ao menos do ponto de vista subjetivo, obte-
ve uma melhora de “qualidade de vida”. Atualmente usufrui do prazer de 
fazer compras pessoais parceladas e de quitar suas dívidas com dinheiro que 
ganha do próprio trabalho. Por algumas semanas, esteve num quiosque da 
praia vendendo hambúrgueres para pagar um perfume e um CD de música 
evangélica. Embora continue sem ter onde morar ou como viver dignamente, 
não deixa de dar apoio aos filhos e aos netos, a cada problema que surge. 
Essa história e muitas outras 
abordando famílias ao longo 
dos ciclos vitais estão relatadas 
na tese de doutorado 
A abordagem da violência 
intrafamiliar no Programa 
Médico de Família: dificuldades 
e potencialidades, de Maria de 
Lourdes Tavares Cavalcanti (2002). 
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A violência contra os idosos
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Para refletir
Na sua opinião, que tipos de violências perpassam a vida de dona Rosa?
O que o Programa de Saúde da Família ou outros serviços de saúde poderiam 
fazer para ajudar uma família em situação de tamanha exclusão social?
A importância de se saber mais sobre o 
processo de envelhecimento
A reflexão sobre a velhice e o processo de envelhecimento nos possibi-
lita verificar se a imagem que temos do idoso interfere positiva ou nega-
tivamente na sua inserção social. A percepção da velhice não deve se dar 
no âmbito da abstração. Para compreendê-la é necessário situar o idoso 
em um meio específico, verificando até que ponto e em que medida esse 
contexto contribui para sua saúde ou doença.
A dificuldade de se entender o idoso explica-se em função da nossa for-
mação histórico-social. Durante muito tempo o Brasil foi um país consti-
tuído por uma população majoritariamente jovem. Em virtude de vários 
fatores – diminuição dos níveis de fertilidade, aumento da expectativa 
de vida, melhoria nas condições de saúde e saneamento básico etc. –, 
o perfil da nossa população está mudando. Hoje, convivemos com um 
número crescente de pessoas com mais de 65 anos.
Mas, embora esse avanço na qualidade de vida da população tenha pos-
sibilitado ao idoso uma certa visibilidade social, nós o percebemos por 
meio do preconceito e dos estereótipos. Esses estereótipos impedem que 
nos aproximemos dele respeitando as suas peculiaridades, pois encara-
mos a velhice como uma idealização, um ponto de perfeição a ser alcan-
çado, o que dificulta a compreensão do idoso como sujeito histórico. 
Segundo as projeções estatísticas da Organização Mundial da Saúde, 
no período de 1950 a 2025 os idosos no Brasil terão aumentado o seu 
contingente em 15 vezes, alcançando, em 2025, cerca de 32 milhões de 
pessoas com 60 anos ou mais de idade (BRASIL, 1999).
Enquanto a Europa levou mais de um século para se perceber velha, 
o Brasil vem apresentando essa mudança a partir da segunda metade 
do século passado. É importante atentarmos para esse fenômeno agora, 
pois em pouco tempo teremos problemas estruturais decorrentes dessa 
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IMPACTOS DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE
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mudança. Compete-nos, por conseguinte, resgatar o idoso como pos-
suidor de uma vida ativa, possibilitando a integração das dimensõespassado-presente-futuro, criando uma nova imagem da velhice.
Para você, o que é ser velho?
O envelhecimento é:
um processo biológico, que é real e pode ser reconhecido por 
sinais externos do corpo. A velhice é apropriada e elaborada 
simbolicamente por todas as sociedades, em rituais que defi-
nem, nas fronteiras etárias, um sentido político e organizador 
do sistema social (MINAYO; COIMBRA JÚNIOR, 2002, p. 14).
O velho não é diferente daquilo que sempre foi. Ao envelhecermos, ten-
demos a aumentar as características positivas ou negativas da nossa per-
sonalidade. Se fomos amáveis, dóceis, compreensivos, amigos e bondosos 
quando jovens, seremos muito mais ainda nessa fase da vida. O contrá-
rio se dará na mesma proporção.
As várias dimensões do envelhecer
É importante destacar que o envelhecimento deve ser analisado consi-
derando as diferentes dimensões apresentadas a seguir:
Dimensão ética
  Resgate do idoso como possuidor de uma vida ativa.
  Integração das dimensões passado-presente-futuro: identidade-
temporalidade.
  Criação de uma nova imagem de velhos e velhas.
Dimensão psicológica
  Inadequação entre o processo biológico da pessoa e as exigên-
cias do meio ambiente em que vive.
  Angústias passadas revividas provocam descompensações.
  Fobia social como resultado da agressividade de nossa sociedade 
em relação ao idoso.
  Dificuldade de encarar o envelhecer. Um exemplo claro desse 
processo é quando uma pessoa, acostumada a se ver – e ser vista 
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A violência contra os idosos
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pelos outros – sempre bela e jovem, ao envelhecer continua cul-
tuando essa imagem, que não corresponde mais à realidade, consi-
derando o processo de transformação pelo qual está passando.
Acontecimentos vitais ou modificações fisiológicas podem acarretar rup-
turas da trajetória psíquica e afetiva, tais como:
  privações sensoriais;
  comprometimento da motricidade;
  aposentadoria;
  privações sociais;
  fenômenos dolorosos;
  permanência em albergues ou hospitais.
Dimensão social
  Quanto mais idosa, mais a pessoa tem tendência a ver seu 
ambiente humano modificado, subvertido.
  Com a diminuição do seu dinamismo, há uma tendência pro-
funda do idoso à introversão.
  Todas as situações de isolamento social favorecem o apareci-
mento do medo, da angústia e solidão.
  Os idosos enfrentam rupturas com o trabalho, com os amigos e 
familiares que morrem, com mudança de domicílio etc.
  Parar de trabalhar pode tornar o idoso dependente de outras 
pessoas e de sua família. Essa dependência, no plano material, espe-
cialmente financeiro, coloca o idoso em uma situação de refém, 
levando-o, muitas vezes, a recorrer aos familiares e a outras pessoas 
para suprir suas necessidades vitais.
  O idoso, não sendo dono da sua vontade, perde a dimensão da 
subjetividade.
Dimensão existencial
Podemos afirmar que a velhice é o lugar da solidão. É o momento em 
que o homem se vê diante de si mesmo, na integridade e na pureza do 
seu ser, sem as amarras e as ilusões que as tarefas cotidianas lhe propor-
cionavam.
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IMPACTOS DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE
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Não tendo mais os pretextos das tarefas cotidianas a que se apegar, só 
resta ao velho o enfrentamento com a sua história. Essa introspecção 
pode ser o ponto de partida para novas conquistas e novas realizações; 
do contrário, se tornará um ser à espera da morte.
Envelhecimento e violência
Além das perdas biológicas, psicológicas e sociais, o velho se defronta 
com as dificuldades ambientais – o meio onde reside e os locais que fre-
qüenta. Essas dificuldades são encontradas na própria residência – esca-
das, iluminação precária, chão escorregadio etc. – e também no espaço 
público, que é inadequado – transporte coletivo sem adaptação, calçadas 
irregulares, iluminação pública precária, prédios com acesso dificultado, 
rede de serviços não adaptada às dificuldades do velho e prestadores de 
serviços essenciais despreparados.
As dificuldades já apontadas demonstram de que modo o velho está 
suscetível a se tornar vítima de violências na família e fora dela. Se nas 
sociedades primitivas o desejo de morte aparece em rituais e cerimônias, 
nas sociedades ocidentais esse desejo se expressa, sobretudo, nos confli-
tos intergeracionais, nas várias formas de violência física e emocional, e 
na negligência de cuidados. No caso brasileiro, os maus-tratos e os abusos 
são os mais variados. Cometidos quase sempre pelas famílias, eles vão 
desde os castigos em cárcere privado, abandono material, apropriação 
indébita de bens, pertences e objetos, até a tomada de suas residências, 
coações, ameaças e morte.
Violência na família
Os dados bibliográficos retratam que 95% dos casos de violência con-
tra os idosos ocorrem na família. Embora importante para a formação 
da personalidade e para o fortalecimento dos vínculos afetivos, muitas 
vezes a família não é o melhor lugar de acolhimento do idoso, principal-
mente se ele for dependente, em função das intercorrências e dos atra-
vessamentos comuns em toda relação familiar. O que vai garantir uma 
boa acolhida, em caso de dependência parcial ou total, é a qualidade 
dos vínculos estabelecidos entre o idoso e aqueles que estiveram mais 
próximos dele ao longo dos anos. Se esses vínculos forem satisfatórios, 
com certeza a família estará predisposta a assumir a responsabilidade 
pelo cuidado, em caso de necessidade.
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A violência contra os idosos
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Para refletir
Você tem idosos na sua família?
Reflita sobre essas dimensões e as dificuldades encontradas pelos idosos em 
seu contexto familiar.
Esses vínculos negativos, somados à diminuição da capacidade funcio-
nal (entendendo-a como desempenho satisfatório das atividades da vida 
diária e autogerenciamento), tornam o idoso uma vítima em potencial 
de violência. 
Texto para reflexão sobre o caso 
A história da família Cabral 
Um levantamento feito em 2005 pela equipe de pesquisadores do Centro 
Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves) demonstrou 
que a violência contra a pessoa idosa é um importante fator de deterio-
ração da qualidade de vida desse grupo populacional. O levantamento 
e a análise dos casos de violência e desrespeito ao idoso pautaram-se 
nos registros da Delegacia do Idoso e do Núcleo Especializado de Aten-
dimento à Pessoa Idosa (Neapi), no ano de 2004. Procurou-se caracteri-
zar as denúncias, os idosos e os agressores. Os resultados mostram que 
foram feitos 898 registros em 2004, sendo 763 na Delegacia do Idoso e 
135 no Neapi.
Os motivos mais freqüentes de denúncias na delegacia são os maus-tra-
tos (48,5%), o constrangimento ilegal (11,1%), a apropriação indébita 
(10%) e a ameaça (9,4%). No Neapi, os maus-tratos (47,4%) e a apro-
priação indébita (24,0%) também constituem as principais queixas dos 
idosos. Neste último órgão, o abandono aparece ainda como importante 
motivo de denúncia em 21% dos registros. As mulheres (62% na dele-
gacia e 75,7% no Neapi) são mais vitimadas que os homens. Os algozes 
são, na maioria das vezes, os próprios filhos/enteados dos idosos (52,3% 
na delegacia e 53,4% no Neapi) e as áreas de incidência da maioria das 
violências foram a zona sul e a zona norte da cidade do Rio de Janeiro 
(Áreas Programáticas 2.1, 3.2 e 3.3).
Conclui-seque há necessidade de investir no preenchimento adequado 
dos registros, na qualificação dos profissionais para o atendimento e na 
quantidade de órgãos de defesa do idoso. A violência doméstica que se 
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IMPACTOS DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE
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abate sobre o idoso revela que a família, principal responsável pelo seu 
cuidado, deve ser alvo de estratégias políticas que lhe forneçam suporte 
e reforcem os vínculos entre seus membros, favorecendo o exercício do 
seu papel protetor.
Esses dados demonstram apenas uma pequena porcentagem do total de 
idosos maltratados, pois, em sua maioria, eles temem por si próprios ou 
zelam pela família, deixando assim de procurar ajuda. O fato de a família 
ser considerada sagrada e intocável pode estar contribuindo para que 
as situações de abuso, negligência, violência e maus-tratos, existentes 
nesse meio, permaneçam ocultadas pelos envolvidos. A quebra do silên-
cio representa assumir-se como vítima ou como abusador, desmorali-
zando a família, considerada sagrada, e tendo de enfrentar o preconceito 
da sociedade (SAFFIOTI apud FIGUEIREDO, 1998, p. 133).
Embora não possamos ser coniventes com a violência em nenhuma cir-
cunstância, é importante entender os atravessamentos que perpassam a 
relação familiar. O conflito existente entre os idosos e seus filhos pode 
ser entendido de várias maneiras. Figueiredo (1998) fala de uma inver-
são de papéis, quando pais idosos e filhos jovens iniciam um convívio 
contínuo, que não existia anteriormente, no qual os filhos começam 
a tomar conta dos pais. Os idosos, que conviveram na infância com o 
perfil patriarcal de seus pais, dificilmente conseguirão aceitar o papel 
que lhes é atribuído na sociedade contemporânea. Quando necessitam 
de ajuda de terceiros para sobreviver, como os que moram com a família 
devido a problemas de saúde, apresentam maiores riscos de sofrer algum 
tipo de abuso ou maltrato, principalmente se não houver entendimento 
entre eles e a família.
Em muitas situações, o fato de os idosos possuírem casa própria faz com 
que seus filhos e netos venham morar com eles, propiciando a ocorrên-
cia do maltrato. Segundo Sánchez (1997), briga conjugal, desentendi-
mentos com filhos, falta de recursos econômicos e falta de espaço são 
fatores que podem contribuir para o abuso e maltrato familiar contra o 
idoso, mesmo sendo este o proprietário do local onde reside a família. 
São denunciados muitos casos de parentes que vão morar com o idoso e 
acabam se apropriando de seus bens e ameaçando-o de expulsão de sua 
própria casa, com uso de violência física e psíquica para tentar forçá-lo a 
transferir ou inventariar seus bens ainda em vida. 
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A violência contra os idosos
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Alguns tipos de violência mais comuns 
contra os idosos
As violências que costumam ocorrer com idosos são o abuso físico, psico-
lógico, sexual, o abandono e a negligência. A negligência é uma das for-
mas de violência contra os idosos mais presentes no nosso país. Freqüen-
temente ela se manifesta associada a outros abusos que geram lesões e 
traumas físicos, emocionais e sociais, em particular para as pessoas que 
se encontram em situação de múltipla dependência ou incapacidade. 
Também ocorrem o abuso financeiro e econômico e a autonegligência, 
que diz respeito à conduta da pessoa idosa que ameaça sua própria saúde 
ou segurança, pela recusa de prover cuidados necessários a si mesma.
Violência fora da família
A compreensão dos vários tipos de violência de que são vítimas os idosos 
passa, em primeiro lugar, pela contextualização histórica dos eventos 
analisados.
Quando analisamos a “política de desenvolvimento urbano”, a ser exe-
cutada pelas prefeituras e câmaras municipais com o objetivo de “orde-
nar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir 
o bem-estar de seus habitantes”, conforme preconiza a Constituição 
Federal, artigo 182, verificamos que cabe aos prefeitos e aos vereadores 
garantir a qualidade de vida nas áreas da educação, saúde, lazer, segu-
rança e, parcialmente, na área do trabalho.
Mas quando a velhice é negligenciada, desdenhada, será sempre um 
problema e um grave ônus para a família, para a sociedade e para os 
poderes públicos municipal, estadual e federal.
Concluindo, o Estatuto do Idoso, sancionado em 2003, significou um 
avanço na percepção das necessidades da pessoa idosa, mas a imple-
mentação de todos os seus artigos reporta a atitudes que devem ser 
tomadas pelo poder público e que reclamam investimentos em vários 
setores. Esses recursos, que ainda não atingem verbas tão vultosas, não 
justificam adiamentos nem impedem que o Estado e a sociedade civil 
organizada tomem uma atitude diante do fenômeno do envelhecimento 
e da velhice.
Impactos da Violência na Saúde_miolo.indb 191Impactos da Violência na Saúde_miolo.indb 191 09/04/2009 10:04:5909/04/2009 10:04:59
IMPACTOS DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE
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Os setores de promoção social desde o plano local, assim como os cen-
tros de referência pertinentes aos idosos, devem ser adequadamente 
preparados para indicar, recomendar e, quando preciso, encaminhar 
pessoas mais velhas que precisam de assistência, proteção, reabilitação 
e estímulo social, em ambientes seguros e humanizados. Quando forem 
constrangidas a viver em lares ou estabelecimentos asilares, elas deverão 
desfrutar plenamente de seus direitos e das liberdades fundamentais, 
com pleno respeito a suas crenças e intimidade, de modo a poderem 
tomar suas próprias decisões na busca da qualidade de vida no local.
Para o enfrentamento das necessidades básicas de apoio e assistência 
aos mais velhos, é fundamental que o trabalho não se reporte apenas a 
relatórios e observações. As ações devem ter alcance direto e aplicação 
de recursos onde isso seja conveniente. 
Violência dentro de casa
Muitos dos casos de violência e maus-tratos contra idosos são cometidos 
por pessoas próximas à vitima – o vizinho, o amigo e, principalmente, os 
seus familiares. Antônio Quelce Salgado, presidente do Conselho Esta-
dual do Idoso de São Paulo e membro do Conselho Nacional do Idoso, 
explica que a violência contra os idosos pode acontecer de várias formas, 
desde a psicológica, que se manifesta pela negligência e pelo descaso, 
até as agressões físicas. São comuns os casos de filhos que batem nos 
pais, tomam seu dinheiro, dopam-nos, deixam-nos passar fome ou não 
lhes dão os remédios na hora marcada. Casos como esses últimos são 
chamados de abandono material.
Estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), 
com base nas ocorrências registradas pela Delegacia de Proteção ao Idoso 
de São Paulo, em 2000, mostra que 39,6% dos agressores eram filhos 
das vítimas; 20,3%, seus vizinhos; e 9,3%, outros familiares. As ocor-
rências registradas com maior freqüência foram as ameaças (26,93%), 
seguidas de lesão corporal (12,5%) e de calúnia e difamação (10%,84). 
O estudo mostrou, também, que algumas queixas de ocorrências são 
retiradas pelos idosos dias após a denúncia. Nos registros, os idosos argu-
mentam que precisam viver com a família, têm de voltar para casa, e a 
manutenção da queixa atrapalharia a convivência.
Impactos da Violência na Saúde_miolo.indb 192Impactos da Violência na Saúde_miolo.indb 192 09/04/2009 10:04:5909/04/2009 10:04:59
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A violência contra os idosos
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A questão da violência contra o idoso é 
de ordem mundialA violência contra a pessoa idosa acontece em todos os países e repre-
senta um problema de saúde pública. Silenciosa, ocorre na maior parte 
das vezes dentro de casa – negligência, intolerância e até exploração 
financeira – muitas vezes praticada por pessoas da própria família.
De acordo com dados do IBGE, 55% dos idosos são mulheres. Elas vivem 
em média oito anos a mais que os homens. Na verdade, nascem mais 
homens do que mulheres, mas por volta dos 15 anos, principalmente 
nos grandes centros urbanos, esses homens estão mais expostos aos ris-
cos da violência.
A maior parte dos agressores são filhos solteiros ou aqueles que se sepa-
ram e voltam para casa de suas mães. Uma grande dificuldade para essas 
idosas é denunciar o próprio filho, que passa por um processo interno 
de culpabilização. Em outras palavras, é como se ela estivesse atestando 
que falhou na educação da sua família. Muitas das mulheres idosas 
nunca trabalharam. São viúvas e dependem exclusivamente da pensão 
do seu marido. 
Tratados internacionais elegeram a questão da violência contra os idosos 
como prioritária. Em 2005, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos 
lançou o Plano de Enfrentamento à Violência contra a Pessoa Idosa. 
Cerca de seis mil profissionais que trabalham com a questão foram capa-
citados, mas esse é um assunto novo, velado. Diferentemente do que 
ocorre com a criança e a mulher, esse tipo de violência ainda não é 
reconhecido (VIOLA, 2006).
Para refletir
A violência que atinge o idoso na família – como, por exemplo, no caso da 
dona Rosa – é um problema individual que deve ser resolvido somente entre 
as partes envolvidas ou requer ações do poder público?
Como garantir que o idoso maltratado possa denunciar o agressor e manter 
a sua integridade preservada? Pense nos mecanismos que poderiam ser 
criados para que a denúncia feita por ele seja mantida.
No seu entender, como seria explicada a questão de gênero na violência 
contra a pessoa idosa?
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IMPACTOS DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE
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