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Direito Ambiental Direito Ambiental Caro Aluno: Você recebe diariamente informações através da mídia sobre as múltiplas agressões ao meio ambiente. Os ambientalistas manifestam pre- ocupações com o equilíbrio do planeta e com a garantia da qualidade de vida para presente e as futuras gerações. Os gestores públicos e os operadores do direito cada vez mais são instados ao enfrentamento das questões jurídicas da tutela ambiental. Nesse cenário, o Direito Ambiental, como ramo da ciência jurídica, penetra horizontalmente em várias áreas do conhecimento, buscando instrumentos capazes de prevenir os danos ambientais e remediar a degradação ambiental. A disciplina de Direito Ambiental tem por escopo proporcionar-lhe in- formações e o domínio de algumas ferramentas que promovam o desen- volvimento de competências que o habilite ao enfrentamento de conflitos ambientais. O programa desta disciplina é distribuído em capítulos e unidades. Aconselho-o a dedicar muita concentração ao autoestudo aqui proposto, a fim de poder elaborar seu próprio conhecimento a partir da leitura, dos exercícios e do diálogo nos encontros presenciais. Cada capítulo tem, além do desenvolvimento do conteúdo, Referências e Autoavaliação. Quando a tarefa indicar um material suplementar, este deverá ser buscado na obra referida, no Site indicado ou na biblioteca virtual da plataforma de ensino-aprendizagem. A seção Referências fornece subsídios extras para a compreensão e aprofundamento dos temas estudados. Certamente, tais leituras possibilita- rão um maior aproveitamento do programa aqui desenvolvido. Apresentação iv Apresentação Finalmente, a Autoavaliação é proposta com base nas competências desenvolvidas ao longo do capítulo, tendo como objetivo direcionar o seu processo de reflexão relativa à aprendizagem que vem realizando, e não apenas avaliar seus conhecimentos em termos de conteúdo. Parabéns por aceitar este desafio. Os resultados da caminhada que agora inicia serão vistos na gestão das questões ambientais e no enfrenta- mento dos seus conflitos. Bom trabalho! Prof. Paulo Régis Rosa da Silva1 1 Mestre em Direito do Urbanismo e do Meio Ambiente, Especialista em Ciências da Educação, Professor no Pós-Graduação e Graduação em Direito Ambiental e de Direito Administrativo. 1 Campo de Incidência da Tutela Ambiental .............................1 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental ...............................12 3 Aspectos da Evolução HIstórica Legislativa do Meio Ambiente no Brasil .....................................................49 4 Definições Legais de Meio Ambiente, Degradação da Qualidade Ambiental, Poluição, Poluidor e Recursos Ambientais .........................................................................60 5 Repartição Constitucional de Competências Ambientais no Brasil ...........................................................75 6 Estudo Prévio de Impacto Ambiental....................................94 7 Licenciamento Ambiental ..................................................129 Sumário Capítulo 1 Campo de Incidência da Tutela Ambiental ÂÂNeste capítulo procurar-se-á demonstrar o campo de incidência da proteção ambiental. Ao contrário do que se possa pensar o meio ambiente não fica limitado aos recursos da natureza. Ele abrange também os aspec- tos urbanísticos, culturais e laborais. Dessa forma, pode- -se dividir o ambiente em: a) ambiente natural; b) ambien- te artificial; c) ambiente cultural; e d) ambiente laboral. 2 Direito Ambiental O Ministro Celso de Mello em voto proferido no Supremo Tribunal Federal1 conceituou meio ambiente como: Um típico direito de terceira geração que assiste, de modo subjetivamente indeterminado, a todo o gênero humano, circunstância essa que justifica a especial obri- gação – que incumbe ao Estado e à própria coletividade – de defendê-lo e de preservá-lo, em benefício das pre- sentes e futuras gerações. 1. Meio ambiente natural O meio ambiente natural é o mais conhecido pela comuni- dade em geral. Aliás, quando se fala em meio ambiente a primeira lembrança é a do ambiente natural. Incluem-se no contexto do ambiente natural as águas, o solo, o subsolo, o ar, a flora e a fauna. Um dos temas que tem merecido elevada preocupação dos ambientalistas versa sobre a necessidade de protegerem-se as unidades de conservação. Segundo o Ministério do Meio Am- biente2 o Brasil dispõe hoje de um extenso quadro de unidades de conservação. As unidades de conservação totalizam 8,13% do território nacional. Para que se tenha uma ideia da dimen- são das unidades de conservação federais administradas pelo IBAMA, o território por elas ocupado soma aproximadamen- 1 STF: Julgamento do MS 22.164-0-SP, j. 30.10.95. 2 Site do Ministério do Meio Ambiente: http://www.mma.gov.br/ Capítulo 1 Campo de Incidência da Tutela Ambiental 3 te 45 milhões de hectares. Ademais, há um grande numero de unidades de conservação administrada pelos Estados, cuja área total é de aproximadamente 22 milhões de hectares. Tema que também tem despertado largo interesse é o que se refere aos Parques Nacionais. O Brasil possui inúmeros par- ques nacionais de grande beleza e importância ecológica. A título ilustrativo citam-se alguns Parques Nacionais: a) Parque Nacional da Lagoa do Peixe, situado no litoral do Estado do Rio Grande do Sul, nos Municípios de Tavares, Mostardas e São José do Norte; b) Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, situado na região norte do Estado de Goiás, nos Municípios de Alto Paraíso de Goiás e Cavalcante; c) Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, situado no litoral norte do Estado do Maranhão, nos Municípios de Barreirinhas e Primeira Cruz. Meio Ambiente Natural 4 Direito Ambiental Para uma melhor elucidação sobre aspectos do ambiente natural, recomenda-se visitar o Site do Ministério do Meio Am- biente3, o qual trata da proteção das Áreas Úmidas. 2. Meio ambiente artificial O meio ambiente artificial é formado pelo ambiente das cida- des. O contexto das cidades é constituído pelo espaço urbano construído, que compreende o conjunto de edificações e dos equipamentos públicos. Cada vez mais as pessoas vivem em ambientes formados pela criatividade humana, tais como pré- dios residenciais, centros profissionais e shopping center etc.. Shopping Rio Sul – RJ 3 http://www.mma.gov.br/port/sbf/dap/ramsar5.html Capítulo 1 Campo de Incidência da Tutela Ambiental 5 A Constituição Federal trata o meio ambiente artificial no art. 21, inciso XX, nos arts. 182 e 183, bem como no art. 225. 3. Meio ambiente cultural O art. 216 da Constituição Federal conceitua o meio ambiente cultural. Veja-se bem: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados indivi- dualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos for- madores da sociedade brasileira, dos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 6 Direito Ambiental IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, pai- sagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecoló- gico e cientifico. O patrimônio cultural brasileiro assume grande expressão em Ouro Preto – MG. Visite o Site: http://www.travel-earth. com/brazil/ouro-preto.jpg A história de um povo, a sua formação e cultura, é o que chamamos de patrimônio cultural. Normalmente esses elemen- tos estão identificados nos costumes, nas danças e músicas populares ou folclóricas. Vale aqui lembrar o brocardo popu- lar: povosem história é povo sem memória. Nos Sites abaixo, pode-se ter a ideia de algumas manifestações que integram o patrimônio cultural brasileiro, como a Festa em Parintins – AM4, o Oficio das Baianas do Acarajé5 e o Círio de Nazaré: http://pt.wikipedia.org/wiki/Festival_Folcl%C3%B3rico_ de_Parintins 4 Parintins, localizada a 392 quilômetros de Manaus, na ilha de Tupinambarana, à margem direita do rio Amazonas, é um dos principais celeiros culturais da Amazônia. O Boi-bumbá, tradição celebrada, inicialmente, como uma festa no meio da rua, atualmente, reúne uma multidão de 40.000 pessoas, em um bumbódromo, que assistem à disputa entre os dois bois, representados pelos grupos Vermelho, ou Garantido, e Azul, ou Caprichoso. 5 O ofício das baianas do acarajé foi declarado patrimônio cultural do Brasil no início deste ano. Quando anunciado, equívocos em torno do “tombamento do acarajé” e outros mal-entendidos esconderam a valorização de uma profissão feminina historicamente presente no país: as baianas de tabuleiro. Capítulo 1 Campo de Incidência da Tutela Ambiental 7 :: Patrimônio – Revista Eletrônica do IPHAN:: http://portal. iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo. do?id=725 Meio Ambiente Histórico e Cultural 4. Meio Ambiente Laboral Meio Ambiente Laboral (fonte: Clip-Arts e mídia Microsoft Office Online) 8 Direito Ambiental O local onde os seres humanos executam suas atividades de trabalho constitui um ambiente o qual se denomina de am- biente laboral. Este pode estar exposto à incidência de agen- tes físicos, químicos e biológicos que poderão comprometer a saúde dos trabalhadores. A Constituição Federal contempla a tutela ao meio ambien- te do trabalho no seu art. 200, inciso VIII, ao estabelecer que: Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, alem de outras atribuições, nos termos da lei: [...] VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Para arrematar a análise do campo de incidência do direito ambiental, é necessário lembrar que o meio ambiente é reco- nhecido como um bem juridicamente autônomo. Assim sendo, o meio ambiente deve ser caracterizado como um bem jurídico unitário, através de uma visão sistêmica e global, abrangendo os elementos naturais, o ambiente artificial, o ambiente cultu- ral e o ambiente laboral. Página interativa Leia o § 4º do art. 225 da Constituição Federal de 1988, identi fique, pelo menos 01 (uma) área de cada um dos bio- mas, considerados como patrimônio nacional, procurando localizá-la geograficamente. Capítulo 1 Campo de Incidência da Tutela Ambiental 9 Referência comentada MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2008, pp. 929/98. No Título XIII – Patrimônio Cultural – Aspectos Jurídicos da obra acima referida, o Autor conceitua cultura, analisa o patrimônio cultural nas Constituições Republicanas, na Constituição de 1988, nas Constituições dos Estados e no Direito Comparado, o Registro de Bens Culturais de natu- reza imaterial, bem como o instituto do Tombamento. Para o domínio desse tema é importante analisá-lo. Referências CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. São Paulo: Saraiva, 2007. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2005. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Disponível em http:// www.mma.gov.br/port/sbf/dap/ramsar5.html, acesso em 07.06.08. ROCHA, Julio Cesar de Sá da. Direito Ambiental do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002. 10 Direito Ambiental SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros, 1997. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Julgamento do MS 22.164-0- SP, j. 30.10.95. Autoavaliação Examine as sentenças abaixo, assinalando verdadeira (V) ou falsa (F). 1. O bem que compõe o chamado patrimônio natural traduz a história de um povo, a sua formação, cultura e, portan- to, os próprios elementos identificadores de sua cidadania. 2. A revolução industrial representa um marco importante na instituição do trabalho assalariado, o qual ocorreu duran- te o século XVIII. É indiscutível que a revolução industrial influiu decisivamente na mudança de vida das pessoas. Novas tecnologias foram descobertas, inclusive no cam- po da química. Na evolução tecnológica, bem como no aperfeiçoamento das relações de trabalho foi necessário a avaliação da variável ambiental. 3. Um dos maiores conjuntos barrocos da humanidade está situado na Cidade de Ouro Preto – MG, a qual foi de- clarada com Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Pode-se afirmar, com plena convicção, que a proteção desse patrimônio está inserido no campo de inci- dência da tutela ambiental. Capítulo 1 Campo de Incidência da Tutela Ambiental 11 4. Assinale a alternativa correta: I – Meio ambiente é a interação do conjunto de elemen- tos naturais e artificiais que propiciem o desenvolvimen- to equilibrado da vida em todas as suas formas. II – Meio ambiente abrange apenas as relações do ho- mem com os seres vivos, animais e vegetais. III – Os bens culturais e laborais não estão incluídos no campo de incidência da proteção do meio ambiente. a) Somente a alternativa II está correta. b) Somente a alternativas I está correta. c) Somente as alternativas II e III estão corretas. d) Todas as alternativas estão corretas. e) Nenhuma alternativa está correta. Respostas 1. F; 2. V; 3.V; 4. B Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental  Segundo o Vocabulário Jurídico de Plácido e Silva 1: “Princípios jurídicos, sem dúvida, significam os pontos básicos, que servem de ponto de partida ou de elementos vitais do próprio Direito. Indicam o alicerce do Direito.” 1 Plácido e Silva. Vocabulário Jurídico. São Paulo: Forense, 1973, p. 1220. Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 13 Dessa forma, os princípios constituem a base de sustenta- ção do Direito. Eles dão sustentabilidade para as leis. São eles as pedras basilares dos sistemas político-jurídicos dos Estados civilizados. Para Celso Antônio Bandeira de Mello2, princípio é o: [...] mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro ali- cerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sis- tema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. Neste Capítulo serão analisados oito princípios. Cabe sa- lientar que os princípios aqui enfocados não constituem a to- talidade dos princípios enfrentados pelos autores. Aliás, não há uma unanimidade dos autores ao elegerem os princípios do Direito Ambiental. Cada autor dá ênfase a certos princí- pios ou, até mesmo, reúne mais de um princípio sob a mes- ma nomenclatura. Dessa forma, esta análise limitar-se-á aos princípios a seguir arrolados, os quais são reputados como de grande importância no estudo e na compreensão do Direito Ambiental. 1. Princípio do Desenvolvimento Sustentável 2. Princípio da Prevenção e da Precaução 2 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, São Paulo: Malheiros, 1993, pp. 451/452. 14 Direito Ambiental 3. Princípio do Poluidor-Pagador e do Usuário-Pagador 4. Princípio da Participação e da Cooperação 5. Princípio da Informação 6. Princípio da Educação Ambiental 1. Princípio do desenvolvimento sustentável O Princípio do Desenvolvimento Sustentável pode ser resumi- do no direito que os seres humanos possuem de poder desen- volver-se e realizar suas potencialidades, sejam elas individu- ais ou coletivas, assegurando às futuras geraçõesuma vida saudável e um ambiente equilibrado. Para tanto, é necessário rever o modelo de desenvolvi- mento, erradicando o crescimento econômico a qualquer custo, isto é, aquele que não valoriza a proteção do meio ambiente. O núcleo da questão não reside em um modelo de desen- volvimento que contemple ou não o crescimento econômico. O que importa é a qualidade do crescimento. Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 15 A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvol- vimento3, ao tratar do desenvolvimento sustentável, assim se manifesta: [...] trata-se de um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudan- ça institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas. Indiscutivelmente, para assegurar-se um desenvolvimen- to ecologicamente sustentável há necessidade de inserir-se a questão da proteção ambiental nas políticas públicas. Os ad- ministradores públicos ao realizarem o planejamento de obras públicas, seus respectivos projetos e sua execução, deverão contemplar a proteção ambiental. É inadmissível que a ques- tão da proteção ambiental seja desprezada ou desvalorizada pelos agentes públicos. Relegá-la a um plano secundário im- plicará no desrespeito ao Princípio da Sustentabilidade Am- biental. Com o escopo de consolidar-se a ideia de desenvolvimen- to sustentável, veja-se o ensinamento dos doutrinadores, co- meçando pela visão de Édis Milaré4: 3 A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento foi criada na Organização das Nações Unidas com o objetivo de propor novas medidas tendentes a combater a degradação ambiental e a melhoria das condições de vida das populações carentes. 4 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 51. 16 Direito Ambiental Compatibilizar meio ambiente e desenvolvimento signi- fica considerar os problemas ambientais dentro de um processo contínuo de planejamento, atendendo-se ade- quadamente às exigências de ambos e observando-se as suas inter-relações particulares a cada contexto só- cio-cultural, político, econômico e ecológico, dentro de uma dimensão tempo/espaço. Em outras palavras, isto implica dizer que a política ambiental não deve erigir-se em obstáculo ao desenvolvimento, mas sim em um de seus instrumentos, ao propiciar a gestão racional dos re- cursos naturais, os quais constituem a sua base material. Veja-se, ainda, o enfoque que Paulo Affonso Leme Macha- do5 dá ao Desenvolvimento Sustentável: A defesa do meio ambiente passa a fazer parte do desen- volvimento nacional (arts. 170 e 3º. da CF). Pretende- -se um desenvolvimento ambiental, um desenvolvimento econômico, um desenvolvimento social. É preciso inte- grá-los no que se passou a chamar de desenvolvimento sustentado. Segundo Celso Antonio Pacheco Fiorillo6: [...] aspira-se uma coexistência harmônica entre econo- mia e meio ambiente, permitindo o desenvolvimento, mas de forma sustentável, planejada, para que os re- 5 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 6 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro, São Paulo: Saraiva, 2002. Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 17 cursos hoje existentes não se esgotem ou tornem inócu- os. Tem por conteúdo a manutenção das bases vitais da produção e reprodução do homem e de suas atividades, garantindo igualmente uma relação satisfatória entre os homens e destes com o seu ambiente, para que as futu- ras gerações também tenham oportunidade de desfrutar os mesmos recursos que temos hoje a nossa disposição. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, reunida em Estocolmo de 5 a 16 de junho de 1972, estabeleceu vários princípios comuns que oferecem aos povos do mundo inspiração e guia para preservar e melhorar o meio ambiente humano. Destaca-se o Princípio 5, o qual trata da sustentabilidade ambiental: Os recursos não renováveis do Globo devem ser explo- rados de tal modo que não haja risco de serem exauridos e que as vantagens extraídas de sua utilização sejam par- tilhadas a toda a humanidade. Com base nesse Princípio 5 da Declaração de Estocolmo, é possível concluir que a preservação ambiental e o desenvol- vimento econômico devem coexistir, de modo que este não acarrete a anulação daquela. Por tudo isso, é necessário reconhecer-se que a sustenta- bilidade ambiental dá um novo contorno ao desenvolvimento econômico, fazendo com ele tenha por base o atendimento das necessidades do presente, sem comprometer as futuras gerações. O art. 225, da Constituição Federal estabelece: 18 Direito Ambiental Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecolo- gicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Cabe gizar, outrossim, que a o princípio 1 da Declaração de Estocolmo proclama que: O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o cerca, o qual lhe dá sustento material e lhe oferece oportunidade para desenvolver-se intelec- tual, moral, social e espiritualmente. Em larga e tortuo- sa evolução da raça humana neste planeta chegou-se a uma etapa em que, graças à rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o homem adquiriu o poder de transformar, de inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes, tudo que o cerca. Os dois aspectos do meio ambiente humano, o natural e o artificial, são essenciais para o bem-estar do homem e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, inclusive o direito à vida mesma. A Constituição Federal ao tratar dos Direitos e Garantias Fundamentais, estabelece nos incisos XXII e XXIII, do art. 5º a garantia do direito de propriedade, porém condicionada a observância da função social da propriedade. Veja-se bem: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di- reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 19 XXII – é garantido o direito de propriedade; XXIII – a propriedade atenderá a sua função social; Reforçando a regra da garantia constitucional da proprie- dade, saliente-se que esta foi garantida, desde que ela atenda a sua função social. Exemplifique-se: se o proprietário de uma área rural valer-se do cultivo de plantas psicotrópicas ou do trabalho escravo, não estará atendendo a função social da propriedade (inciso XXIII, do art. 5º da CF), situação esta que poderá implicar na expropriação da propriedade. Da mesma forma, se o proprietário rural desrespeitar as limitações admi- nistrativas impostas pelo art. 2º do Código Florestal Federal (Lei n.º 4.771, de 15.09.65), estará indo de encontro à fun- ção social da propriedade, não lhe podendo ser garantida a propriedade. Da mesma forma, a Constituição Federal ao tratar dos Prin- cípios Gerais da Atividade Econômica, no Título VII Da Ordem Econômica e Financeira (art. 170 e seu parágrafo único), dis- ciplinam: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim as- segurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I – soberania nacional; II – propriedade privada; III – função social da propriedade; IV – livre concorrência; 20 Direito Ambiental V – defesa do consumidor; VI – defesa do meio ambiente; VII – redução das desigualdades regionais esociais; VIII – busca do pleno emprego; IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (grifado) Portanto o exercício de qualquer atividade econômica no Brasil é livre, desde que sejam respeitados os princípios estam- pados nos incisos do art. 170 da Constituição Federal. Entre eles, destaca-se a defesa do meio ambiente (inciso VI, do art. 170). Agregue-se, também, que o parágrafo único do art. 170 da Constituição Federal estabelece que o livre exercício de qualquer atividade econômica independe de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. Ora, em matéria de proteção ambiental há uma série de limitações fi- xadas em leis. Conforme será examinado oportunamente, ao abordar-se o licenciamento ambiental, poder-se-á evidenciar que a maioria das atividades e dos empreendimentos no Brasil estão condicionados a autorizações dos órgãos ambientais. Veja-se, portanto, que o mencionado dispositivo constitucional cria uma exceção, condicionando-a aos casos previstos em lei. Veja-se bem: Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 21 Art. 170 [...] Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgão públicos, salvo nos casos previstos em lei. (grifado) Rompendo com uma tradição privatista brasileira de apro- ximadamente 86 anos, o novel Código Civil Brasileiro (Lei n.º 10.406, de 10.01.02), condiciona o exercício do direito de propriedade em consonância com as suas finalidades econô- micas e sociais, preservando o meio ambiente. Veja-se bem: Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em con- sonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as be- lezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio his- tórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. Diante do exposto, pode-se concluir a analise do Princípio do Desenvolvimento Sustentável citando o documento da Co- missão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, intitulado “Nosso Futuro Comum”7 em que o Desenvolvimento 7 Fundação Getúlio Vargas. Nosso Futuro Comum, São Paulo, 1991, p. 46. 22 Direito Ambiental Sustentável é “[...] aquele que atende às necessidades do pre- sente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades.” E, finalmente, no documento editado por várias institui- ções8, entre elas a UICN, PNUMA e WWF, intitulado “Cuidan- do do Planeta Terra: uma estratégia para o futuro da vida”, o Desenvolvimento Sustentável é definido como aquele que bus- ca “melhorar a qualidade de vida humana dentro dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas”. 8 2. UICN – União Mundial para Natureza, foi criada em 1948, constituindo a maior aliança internacional, integrada por diversas organizações e indivíduos, cujo objetivo é trabalhar para assegurar o uso equitativo e sustentável dos recursos na- turais em benefício de todos os povos do mundo. E um organismo de caráter in- ternacional cujas operações são descentralizadas e levadas a cabo por uma rede crescente de oficinas regionais e nacionais ao redor do globo. PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, foi estabelecido em 1972 e é a agência do Sistema ONU responsável por catalisar a ação internacio- nal e nacional para a proteção do meio ambiente no contexto do desenvolvimento sustentável. Seu mandato é prover liderança e encorajar parcerias no cuidado ao ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e povos a aumentar sua qualidade de vida sem comprometer a das futuras gerações. O WWF-Brasil (Word Wide Fund for Nature – traduzido como Fundo Mundial para a Natureza) é uma organização não governamental internacional com uma exten- são brasileira dedicada à conservação da natureza com o objetivo de harmonizar a atividade humana com a conservação da biodiversidade e promover o uso racional dos recursos naturais em benefício dos cidadãos de hoje e das futuras gerações. Criada em 1996 e sediada em Brasília, a instituição desenvolve projetos em todo o país e integra a Rede WWF, uma das maiores redes independentes de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países e o apoio de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários. Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 23 Por derradeiro e para arrematar a análise deste Princípio, apresentar-se-á um excerto extraído do voto do Ministro Celso de Mello9, do Supremo Tribunal Federal: O princípio do desenvolvimento sustentável, além de im- pregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumi- dos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da eco- logia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitu- cionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observân- cia não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à pre- servação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. 2. Princípios da prevenção e da precaução Objetivando alcançar um melhor procedimento cognitivo, proceder-se-á na análise dos Princípios da Prevenção e da Precaução separadamente, embora alguns autores tratem de forma aglutinada os citados Princípios. Prevenção é o ato ou efeito de prevenir. Prevenir significa antecipar, chegar antes, evitar, dispor de modo que se evite o 9 MELO, Min. Celso de. STF, Tribunal Pleno, ADI-MC n.º 3540 / DF, Rel., j. em 01.09.05, DJ 03.02.06, p. 14. 24 Direito Ambiental dano ou o mal. O dano poderá ser detectado antecipadamen- te. De outra banda, a precaução é uma cautela antecipada. Há uma dupla fonte de incerteza: o perigo ele mesmo conside- rado e a ausência de conhecimentos científicos sobre o perigo. 2.1 Princípio da prevenção O escopo do Direito Ambiental é preventivo, pois toda a ação deve estar voltada para a não consumação do dano ambien- tal. Vale aqui relembrar o brocardo popular: mais vale prevenir do que remediar. É sabido que a reparação do dano nem sem- pre se viabiliza integralmente e, na maioria das vezes, é muito onerosa. Insista-se: corrigir o dano é mais oneroso nem sem- pre possível. Imagine-se a destruição de uma espécie animal rara ou a destruição de um manguezal. A sociedade poderá ficar privada de um determinado bem ambiental por muitos anos ou até mesmo jamais recuperá-lo. As árvores centená- rias existentes em uma determinada gleba de terras que forem abatidas para construção de um empreendimento imobiliário poderá implicar na aplicação de penalidades ao degradador ambiental, entre elas a obrigação de replantar centenas de no- vas árvores para tentar compensar o dano ambiental causado. Contudo, o certo é que a sociedade ficará privada por mui- tos anos daquelas espécies até que as novas árvores possam atingir a idade adulta. Esses exemplos demonstram que nem sempre é possível a repristinação, isto é, o retorno ao estado anterior. Aliás, esta situação é muito comum quando ocorre a contaminação ambiental por substâncias químicas, cujos efei- tos nocivos causam lesões irreversíveis aos trabalhadores ou a comunidade. Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 25 A necessidade imperiosade evitar a consumação de danos ao meio ambiente tem merecido a atenção das convenções, declarações, leis e das sentenças dos tribunais. É o caso da o Tratado de Maastricht sobre a União Europeia, da Convenção de Basileia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito, de 1989; da Conven- ção da Diversidade Biológica; e do Acordo-Quadro sobre o Meio Ambiente do MERCOSUL. Para Maria Luiza Machado Granziera10: [...] o reflexo mais evidente do Princípio da Prevenção, no campo normativo brasileiro, é o Estudo Prévio de Im- pacto Ambiental. O EPIA foi fixado na Lei n.º 6.938/81, como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente e posteriormente alçado à categoria de nor- ma constitucional, no art. 225, inciso IV, que dispõe so- bre “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa de- gradação do meio ambiente, Estudo Prévio de Impacto Ambiental, a que se dará publicidade. 2.2. Princípio da precaução No inicio desta unidade já se fez alusão ao Princípio da Pre- caução como uma cautela antecipada, onde se visualiza uma dupla fonte de incerteza: o perigo ele mesmo considerado e a ausência de conhecimentos científicos sobre o perigo. 10 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito de Águas: disciplina jurídica das águas doces. São Paulo: Atlas, 2006, p. 51.p. 52. 26 Direito Ambiental Exemplificando, cabe lembrar a soja transgênica e o uso intensivo de aparelhos celulares. Ora, a ciência ainda não foi capaz de comprovar se eles poderão ou não trazer efeitos inde- sejados na saúde humana. Como há suspeitas de que os pro- dutos transgênicos e de que a ondas emitidas pelos aparelhos celulares poderão interferir negativamente na saúde humana, recomenda-se evitar o seu uso ou, até mesmo, o uso moderado. Portanto, havendo uma incerteza científica sobre os seus efeitos na saúde e no ambiente, recomenda-se o não uso ou a redução do seu uso. Trata-se, sem sobra de dúvida, de uma medida de cautela, pois o atual desconhecimento sobre os seus efeitos poderá, em um futuro próximo, quando os estudos científicos forem conclusivos, demonstrar os seus efeitos ma- lefícios para saúde humana. Nesse passo, deve-se reconhe- cer como o núcleo da precaução a incerteza dos seus efeitos. Abster-se do consumo de um alimento, do uso de um equi- pamento ou da construção de uma obra cujos efeitos sobre o ambiente e a saúde humana sejam desconhecidos. Insta acentuar-se, ainda, que o Princípio 15 da Conferên- cia das Nações Unidas – Rio 92 estabelece: Princípio 15: Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente obser- vado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversí- veis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas eco- nomicamente viáveis para prevenir a degradação am- biental. Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 27 E, durante a Rio+5, foi aprovada a Carta da Terra11 de 1997, cujo Princípio 2 orienta: Princípio 2: Importar-se com a Terra, protegendo e res- taurando a diversidade, a integridade e a beleza dos ecossistemas do planeta. Onde há risco de dano irrever- 11 A Carta da Terra é uma declaração de princípios fundamentais para a construção de uma sociedade global no século XXI que seja justa, sustentável e pacífica. O documento procura inspirar em todos os povos um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade compartilhada pelo bem-estar da família humana e do mundo em geral. É uma expressão de esperança e um chamado a contribuir para a criação de uma sociedade global em um contexto crítico na História. A visão ética inclusiva do documento reconhece que a proteção ambiental, os direitos humanos, o desenvolvimento humano equitativo e a paz são interdependentes e inseparáveis. Isto fornece uma nova base de pensamento sobre estes temas e a forma de abordá- los. O resultado é um conceito novo e mais amplo sobre o que constitui uma comunidade sustentável e o próprio desenvolvimento sustentável. Por que a carta da terra é importante? Em um momento no qual grandes mudanças na nossa maneira de pensar e viver são urgentemente necessárias, a Carta da Terra nos desafia a examinar nossos valores e a escolher um caminho melhor. Além disso, nos faz um chamado para procurarmos um terreno comum no meio da nossa diversidade e para que acolhamos uma nova visão ética compartilhada por uma quantidade crescente de pessoas em muitas nações e culturas ao redor do mundo. Qual é o histórico da carta da terra? Em 1987, a Comissão Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento fez um chamado para a criação de uma nova carta que estabelecesse os princípios fundamentais para o desenvolvimento sustentável. A redação da Carta da Terra fez parte dos assuntos não concluídos da Cúpula da Terra no Rio em 1992 e, em 1994, Maurice Strong, Secretário Geral da Cúpula da Terra e Presidente do Conselho da Terra e Mikhail Gorbachev, Presidente da Cruz Verde Internacional, lançaram uma nova Iniciativa da Carta da Terra com o apoio do Governo da Holanda. A Comissão da Carta da Terra foi formada em 1997 para supervisionar o projeto e estabeleceu-se a Secretaria da Carta da Terra no Conselho da Terra na Costa Rica. Como foi criada a carta da terra? A Carta da Terra é o resultado de uma série de debates interculturais sobre objetivos comuns e valores compartilhados, realizados em todo o mundo por mais de uma década. A redação da Carta da Terra foi feita através de um processo de consulta aberto e participativo jamais realizado em relação a um documento internacional. Milhares de pessoas e centenas de organizações de todas as regiões do mundo, diferentes culturas e diversos setores da sociedade participaram. [...] <http://www.reviverde.org.br/CARTAdaTERRA.pdf> 28 Direito Ambiental sível ou sério ao meio ambiente, deve ser tomada uma ação de precaução para prevenir prejuízos. Segundo Paulo de Bessa Antunes12 o princípio da precau- ção é: [...] aquele que determina que não se produzam inter- venções no meio ambiente antes de ter a certeza de que estas não serão adversas para o meio ambiente. É evi- dente, entretanto, que a qualificação de uma intervenção como adversa está vinculada a um juízo de valor sobre a qualidade da mesma e a uma análise de custo/benefício do resultado da intervenção projetada. E, para arrematar cite-se o pensamento de Maria Luiza Machado Granziera13: O princípio da precaução tende para a necessidade de maiores prospecções sobre a atividade, com vistas a as- segurar, o quanto possível, que a mesma não causará danos, no futuro. E antes de uma resposta consistente sobre os riscos, não se autoriza a sua implantação. Exis- tindo dúvida sobre a possibilidade futura de dano ao ho- mem e ao meio ambiente, a solução deve ser favorável ao ambiente e não ao lucro imediato – por mais atraente que seja para as gerações presentes. 12 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental, Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2002, p. 35. 13 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito de Águas: disciplina jurídica das águas doces, São Paulo: Atlas, 2006, p. 53. Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 29 Quando se examinam os Princípios da Prevenção e da Precaução, torna-se necessário o enfrentamento da distinção entre perigo e risco. Aquele é uma condição da essência do ser. Este é uma probabilidade de ocorrerem acidentes. Por exemplo, voar é perigoso, contudo se a aeronave sofrer uma perfeita manutenção técnica, se os tripulantes estiverem bem treinados para o uso do equipamento, se os aeródromos fo- rem dotados da infra-estrutura e de recursos humanos tecnica- mente adequados, poder-se-á reduzir o riscode acidentes. Da mesma forma, o transporte de cargas perigosas pode implicar em graves contaminações ambientais. Portanto, o transporte rodoviário de produtos químicos é perigoso para o meio am- biente e para a comunidade. Entretanto, se a transportadora utilizar-se de um equipamento tecnicamente adequado, mo- torista treinado para o transporte de cargas perigosas e rotas adequadas, poder-se-á evitar o risco de acidentes. 3. Princípio poluidor-pagador A Declaração do Rio – Conferência das Nações Unidas de 1972, no Princípio 16, estabelece: As autoridades nacionais devem procurar garantir a internalização dos custos ambientais e o uso de instru- mentos econômicos, considerando o critério de que, em princípio, quem contamina deve arcar com os custos da descontaminação e com a observância dos interesses públicos, sem perturbar o comércio e os investimentos internacionais. 30 Direito Ambiental O Princípio Poluidor-Pagador prima pela internalização e não pela socialização dos custos da degradação ambiental. Em geral toda atividade que explora recursos ambientais pode ocasionar impactos ao meio ambiente, assim esse Princípio prevê que o infrator arque com os custos de sua atividade, absorvendo as chamadas externalidades negativas. Quando se fala em internalização das externalidades ne- gativas, significa evitar que a coletividade suporte os prejuízos, enquanto o produtor somente perceba os lucros da atividade. Importante alertar que o fato do poluidor pagar pelos da- nos ocasionados, não se trata de uma condição para poluir, ou seja “pago, então posso poluir”. Não, o objetivo do pa- gamento é desestimular as condutas poluidoras. Veja-se na dicção de Antônio Herman V. Benjamin14: O princípio do poluidor-pagador não é um princípio de compensação dos danos causados pela poluição. Seu alcance é mais amplo, incluídos todos os custos da pro- teção ambiental, quaisquer que eles sejam, abarcando, a nosso ver, os custos de prevenção, de reparação e de repressão do dano ambiental. Ensina Maria Luiza Machado Granziera15 que: 14 Antonio Herman V. Benjamin. O princípio do poluidor-pagador e a reparação do dano ambiental. In Dano Ambiental: Prevenção, reparação e repressão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, p. 227. 15 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito de Águas: disciplina jurídica das águas doces. São Paulo: Atlas, 2006, p 59. Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 31 [...] o fundamento do princípio “usuário-pagador” é de que os recursos ambientais existem para o benefício de todos. Assim, todos os usuários sujeitam-se à aplicação dos instrumentos econômicos estabelecidos para regu- lar seu uso, para o bem comum da população. Seria o pagamento pelo uso privativo de bem público, em detri- mento dos demais interesses. Ensina Édis Milaré16 sobre o Principio Poluidor-Pagador: Assenta-se este princípio na vocação redistributiva do Di- reito Ambiental e se inspira na teoria econômica de que os custos sociais externos que acompanham o processo produtivo (v.g., o custo resultante dos danos ambientais) devem ser internalizados, vale dizer, que os agentes eco- nômicos devem levá-los em conta ao elaborar os custos de produção e, consequentemente, assumi-los [...]. A Constituição Federal, no § 3º do art. 225 contempla a responsabilização dos poluidores sob o plano da responsa- bilidade administrativa, penal e civil. É o que se depreende da expressão “independentemente da obrigação de reparar os danos causados”, a qual reflete a responsabilização civil dos poluidores. Art. 225 [...] [...] § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas 16 MILARE, Édis. Direito do Ambiente, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 100. 32 Direito Ambiental ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, in- dependentemente da obrigação de reparar os danos causados. O art. 4º da Lei n.º 6.938, de 31.08.81, estabelece os objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente. Veja-se bem: Art. 4º A Política Nacional do Meio Ambiente visará: VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obri- gação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. E o § 1º, do art. 14 da Lei 6.938, de 31.08.81 contem- pla a responsabilidade objetiva pelos danos ambientais, isto é, prescinde do elemento subjetivo. Dessa forma ao responsabi- lizar o poluidor não haverá a investigação dos aspectos sub- jetivos que levaram o agente poluidor a causar a degradação ambiental. Não, a responsabilidade é aferida pelo princípio da responsabilidade objetiva, ou seja, causou o dano responde. Art. 14 [...] § 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Es- tados terá legitimidade para propor ação de responsa- bilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 33 Saliente-se que o escopo do Princípio Poluidor-Pagador é impor as pessoas físicas ou jurídicas, jurídicas públicas ou pri- vadas, uma sanção. Esta objetiva prevenir novas agressões, inibindo comportamentos atentatórios ao meio ambiente. 4. Princípio da participação e da cooperação Todos devem atuar na defesa do meio ambiente. Não há só direitos ao ambiente sadio e equilibrado. Também há obriga- ções do povo em tutelar o meio ambiente. Basta verificar no caput do art. 225 da Constituição Federal. Há diversas formas de garantir-se a participação da so- ciedade na tutela do meio ambiente, seja através da repre- sentação que os cidadãos levam aos órgãos ambientais, seja através das representações encaminhadas ao Ministério Pú- blico, seja através da judicialização das questões de natureza ambiental, ou, até mesmo, através da participação ativa da comunidade nas audiências públicas ambientais. Contudo, para que se possam assegurar a participação de todos os cidadãos, das entidades representativas da sociedade e, especialmente, das ONGs ambientalistas na tomada das decisões ambientais há necessidade da divulgação das infor- mações. Portanto, somente se legitimará a participação na medida em que os cidadãos forem devidamente informados sobre as matérias ambientais. 34 Direito Ambiental A título ilustrativo cita-se uma representação do Presiden- te da Subsecção da OAB de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, na Curadoria do Meio Ambiente do Ministério Público Estadual de São Paulo, contra a TRANSPETRO S/A, empresa do Grupo da PETROBRAS S/A, em decorrência de crimes ambientais ocorridos em APP (Área de Preservação Permanente). O presidente da Subsecção da OAB, alerta que houve o desvio de corpo d’água e assoreamento de afluente do Rio Guaecá, fatos estes que provocaram quatro autuações com multas contra a mencionada Empresa, pela Polícia Am- biental. Pode-se evidenciar neste fato a participação ativa da OAB participando ativamente na defesa do meio ambiente. 13/07/200813/07/2008 3131 Outra forma de participação se dá nas relações interna- cionais quando ocorrem acidentes com petroleiros como foi o caso do Navio Exxon Valdez, no Alasca e o acidente nuclear Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 35 de Chernobil, na Ucrânia. Registre-se, também, os gravíssimos eventos provocados pela natureza como a tragédia ocorrida na Indonésia – Província de Aceh, na extremidade norte da ilha de Sumatra, região mais seriamente atingida pelo Tisunami que eclodiu no dia 26 de dezembro de 2004. 13/07/200813/07/2008 4242 Situaçãoigualmente preocupante é a dos denominados re- fugiados ambientais. A ONU calcula que mais de 50 milhões de pessoas podem ser obrigadas a abandonar suas casas nos próximos anos por causas ambientais como elevação do nível do mar, desertificação, inundações e degradação da terra. Os dados da Cruz Vermelha são extremamente contundentes, ten- do em vista que os refugiados devido a desastres naturais so- mam mais do que os refugiados de guerra, produzindo gran- des correntes de migração permanente. 36 Direito Ambiental Segundo Édis Milaré17, o Princípio da Participação reflete a participação do cidadão no equacionamento e implemen- tação da política ambiental, com a participação de todas as categorias da população e das forças sociais para atingir o objetivo desse princípio, qual seja, a contribuição, proteção e melhoria do meio ambiente. A cooperação entre os povos para o progresso da humani- dade está expressa no inciso IX do art. 4º da Constituição Fe- deral. Ora é sabido que o meio ambiente não tem fronteiras, havendo uma interdependência entre as nações em favor da tutela ambiental. Da mesma forma não se desconhece que os efeitos da degradação ambiental em uma determinada região poderão trazer funestas consequências em outras regiões. Esta é a razão pela qual é necessário incentivar a formali- zação de acordos e convenções internacionais, disciplinando o uso do meio ambiente em prol da preservação ambiental e da melhoria da qualidade de vida planetária. Por derradeiro, deve-se lembrar o item 1.3 do Preâmbulo da Agenda 21:18 A Agenda 21 está voltada para os problemas prementes de hoje e tem o objetivo, ainda, de preparar o mundo 17 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 141. 18 A agenda 21seundo a Marina Silva, ex Ministra do Meio Ambiente: A Agenda 21 reúne o conjunto mais amplo de premissas e recomendações sobre como as nações devem agir para alterar seu vetor de desenvolvimento em favor de modelos sustentáveis e a iniciarem seus programas de sustentabilidade. Disponível em: www.mma.gov.br Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 37 para os desafios do próximo século. Reflete um consenso mundial e um compromisso político no nível mais alto no que diz respeito a desenvolvimento e cooperação ambiental. O êxito de sua execução é responsabilidade, antes de mais nada, dos Governos. Para concretizá-la são cruciais as estratégias, os planos, as políticas e os processos nacionais. A cooperação internacional deverá apoiar e completar tais esforços nacionais. Nesse con- texto, o sistema das Nações Unidas tem um papel funda- mental a desempenhar. Outras organizações internacio- nais, regionais e subregionais também são convidadas a contribuir para tal esforço. A mais ampla participação pública e o envolvimento ativo das organizações não governamentais e de outros grupos também devem ser estimulados. 5. Princípio da informação Para se possa assegurar a participação da sociedade na toma- da das decisões ambientais, há necessidade de informar a co- munidade. Aliás, quanto maior for a sadia cumplicidade entre a comunidade envolvida, o empreendedor e o órgão ambien- tal, tanto maior será a legitimidade da decisão tomada. Entretanto, para que a sociedade possa participar, reitere- -se, há necessidade dela ser competentemente informada. 38 Direito Ambiental Segundo Paulo Affonso Leme Machado19: [...] a declaração do Rio de Janeiro/92, em uma das fra- ses do princípio 10, afirma que, no nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações relati- vas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e ativida- des perigosas em suas comunidades. O direito de saber, portanto, é um direito dos cidadãos e uma obrigação do poder público. Aliás, os atos da adminis- tração devem por força do art. 37 da Constituição Federal se revestir de publicidade. Trata-se da indispensável transparên- cia dos atos administrativos. Somente através da divulgação dos atos administrativos é que a sociedade poderá aquilatar a legalidade ou não e o seu grau de eficiência. Destarte, deverão os atos que envolvam matérias ambien- tais receber a mais ampla publicidade, sendo publicados em veículos de imprensa oficial e em jornais de grande circulação ou afixados em locais das repartições públicas destinados para este fim, salvo nas raríssimas hipóteses em que se admite o sigilo das informações. Contudo, vale lembrar que a regra é a publicidade e o sigilo é a exceção. Sempre que o direito a informação não for assegurado pe- los órgãos ambientais poderá ser reclamado através do direito de petição (art. 5º, XXXIV, “a” da Constituição Federal) e por certidões (art. 5º, XXXIV, “b” da Constituição Federal). Nega- 19 MACHADO, Paulo Affonso Lem. Direito Ambiental Brasileiro, São Paulo: Malheiros, 2003, p. 76. Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 39 do o direito a informação, poderá o administrado valer-se de medidas judiciais, através do mandado de segurança (art. 5º, LXIX da Constituição Federal) e o habeas data (art. 5º, LXXII da Constituição Federal). Para arrematar, é preciso lembrar que a Lei n.º 10.650, de 16.04 de 2003, a qual dispõe sobre o acesso público aos dados e informações existentes em órgãos e entidades inte- grantes do SISNAMA20, estabelece em seu art. 2º a obrigação dos órgãos ambientais de permitir o acesso público aos docu- mentos, expedientes e processos administrativos que tratem de matéria ambiental e a fornecer todas as informações ambien- tais que estejam sob a sua guarda. 6. Princípio da educação ambiental A Constituição Federal agasalhou a educação ambiental no inciso VI, § 1º do art. 225. O poder público está obrigado a promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino. Veja-se bem: Art. 225 [...] § 1º [...] [...] VI – Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preserva- ção do meio ambiente; 20 SISNAMA significa Sistema Nacional do Meio Ambiente e está previsto na Lei n.º 6.938/81. 40 Direito Ambiental Ademais, a o inciso X, do art. 2º da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), alinhada com a disposição constitucional exige não somente a educação a todos os níveis de ensino mas também a capacitação da comunidade para participação ativa na defesa do meio ambiente. Veja-se bem: Art. 2º [...] [...] X educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclu- sive a educação da comunidade objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. Contudo, foi a Lei n.º 9.795, de 27.04.99 que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental. No seu art. 2º dis- põem: Art. 2º A educação ambiental é um componente essen- cial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e mo- dalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. Todos reconhecem que a educação é um fator de cabal importância na proteção do meio ambiente. Ninguém valoriza aquilo que desconhece. Há indivíduos que não estão suficiente informados sobre a necessidade de se mudar determinadas práticas de desperdício, sob pena de, em um futuro próximo, carecermos de recursos básicos para a sadia qualidade de vida. Não é incomum visualizarmos praticas de desperdício de energia e de água. Nesse cenário surge a educação ambiental como um dos mais importantes instrumentos de reversão de Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 41 condutas desajustadas e quiçá de prevenção de futuras ca- rências das necessidades básicas (água, alimentos, energia e etc.). Há basicamente duas formas de promoverem-se a educa- ção ambiental. A primeira é denominada deeducação formal (arts. 9º ao 12 da Lei n.º 9.795/99), isto é, aquela que é ministrada da pré-escola ao pós-doutoramento. O educan- do e a instituição educacional mantém um vinculo, possibi- litando inclusive a avaliação dos níveis de aprendizagem. A segunda, ou seja, a educação não formal (art. 13 da Lei n.º 9.795/99) é aquela em que as ações e práticas educacionais estão voltadas à sensibilização da coletividade sobre as ques- tões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. Normalmente o educando não mantém qualquer vinculo com a instituição que promove a educação não formal. Esta é ministrada, por exemplo, pelos meios de comunicação, através dos jornais, dos programas de rádio e televisão, tendo uma maior penetração no contexto so- cial e atingindo um maior numero de pessoas. Aquela poderá ser ministrada, por exemplo, em uma escola de primeiro grau, onde as crianças terão noções básicas de ecologia. Forçoso é reconhecer-se, portanto, que não basta o Estado dispor de instrumentos para proteção do meio ambiente se o cidadão comum desconhece seus direitos. Há necessidade de informá-lo, dotá-lo do indispensável conhecimento para o en- frentamento das questões ambientais, especialmente para que ele possa ter uma participação ativa nas audiências públicas e nos pleitos a serem dirigidos ao poder público. 42 Direito Ambiental É oportuno relembrar o acidente radiológico de Goiânia21. Claro que ele foi fruto da irresponsabilidade do poder público e da curiosidade das pessoas. Entretanto, se aquelas pessoas que se expuseram a radiação tivessem noção dos riscos a que estavam se submetendo jamais teriam aberto equipamentos médicos que continham produtos radioativos. É o desconheci- mento, a falta da informação e da educação. 13/07/200813/07/2008 4646 Acidente radiolAcidente radiolóógico de Goiânia: gico de Goiânia: irresponsabilidade e curiosidadeirresponsabilidade e curiosidade Outro exemplo são os agrotóxicos usados de forma inade- quada por pessoas de baixa instrução e desinformados. Não é incomum, nas áreas rurais, a intoxicação dos agricultores resultante da exposição a agente químicos. Há situações em que os agricultores reutilizam embalagens de agrotóxicos para 21 A contaminação em Goiânia (ocorreu em 13.09.87), originou-se de uma cápsula que continha cloreto de césio – um sal obtido do radioisótopo 137 do elemento químico césio. Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 43 guardar gêneros alimentícios, manipulam substancias quími- cas agressivas sem equipamentos de proteção individual. Por tudo isso não é incomum a ocorrência de casos de crianças que nascem com anincefalia, teratogênese e etc. 13/07/200813/07/2008 4747 13/07/200813/07/2008 4848 44 Direito Ambiental Página interativa Faça um resumo das principais ideias contidas no Capítulo 4 da Agenda 21, documento da Conferência das Nações Uni- das sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que tratou das mudanças dos padrões de consumo, no Site:.:MMA – Ministé- rio do Meio Ambiente – Agenda 21:. Referência comentada MILARÉ, Édis. Direito ao meio ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pp. 760/780. No Capítulo III da mencio- nada obra o Autor faz uma excelente abordagem sobre os Princípios Fundamentais do Direito do Ambiente, possibili- tando a complementação dos estudos sobre um dos mais importantes temas de tutela ambiental. Referências ANTUNES, Paulo de Bessa. Curso de Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. BENJAMIN. Herman V. Benjamin. O princípio do poluidor-pa- gador e a reparação do dano ambiental. In Dano Ambien- tal: Prevenção, reparação e repressão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 45 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2007. GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito de Águas: discipli- na jurídica das águas doces. São Paulo: Atlas, 2006. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2005. MILARÉ, Édis. Direito ao meio ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: Malheiros, 1997. Autoavaliação Examine os fatos abaixo e escolha a alternativa que melhor corresponda ao(s) Princípio(s) Ambiental(ais) com maior inci- dência. 1. O Ministério Público do Estado de São Paulo, por intermé- dio do Promotor de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente da Comarca de Santos, ajuizou Ação Civil Pública com Pedido Liminar contra empresa Eficiência Telecomunica- ções Ltda., com base na representação da Associação dos Amigos e Defesa do Meio Ambiente da Praia de Santos. A Requerida alugou um terreno no Loteamento Vila Real, visando construir ali uma antena de telefonia celular, do tipo banda “B”. Preocupados com os efeitos que poderiam advir da instalação de mais uma antena transmissora/re- 46 Direito Ambiental ceptora, tendo em vista que nas imediações daquela área já estão instaladas 6 (seis) antenas que emitem, de tele- visão e rádio e, além disto, que desta vez a antena a ser construída estaria encravada em meio a lotes com residên- cias já construídas. Alega a referida entidade ecológica que além da total irregularidade na construção pretendida pela empresa-ré, há risco à saúde pública decorrente da nocividade da atividade ante o acúmulo absurdo da radia- ção não ionizante a que já estão submetidos os moradores do citado Loteamento. a) Princípio da legalidade e o Princípio do Desenvolvi- mento Sustentável. b) Princípio do Poluidor-Pagador e o Princípio da Autotu- tela. c) Princípio da Educação Ambiental e o Princípio do De- senvolvimento Sustentável. d) Princípio do Poluidor-pagador e o Princípio da Preven- ção. 2. Mais quatro produtos encontrados em supermercados bra- sileiros contêm ingredientes transgênicos. O resultado foi divulgado ontem pela Organização Greenpeace, durante protesto no Supermercado Pão de Açúcar em São Paulo. [...] Segundo a coordenadora da campanha de Engenha- ria Genética do Greenpeace, Mariana Paoli, o laboratório identificou a presença de soja transgênica Roudup Ready, da Monsanto, e milho transgênico Bt 176, da Novartis, no sopão de galinha da Knorr, na sopa de galinha Pokemon, Capítulo 2 Princípios Básicos de Direito Ambiental 47 da Arisco, no Ovomaltine Cereais e Fibras, da Novartis, e na mistura para bolo de chocolate da Sadia. (fonte: ZH, 21.09.00). a) Princípio da legalidade e o Princípio do Desenvolvi- mento Sustentável. b) Princípio do Poluidor-Pagador e o Princípio da Autotu- tela. c) Princípio da Participação e o Princípio da Precaução. d) Princípio do Poluidor-pagador e o Princípio da Preven- ção. 3. Água, a substância mais abundante do planeta, está pou- co a pouco se tornando uma raridade em diversos países. (...) Segundo previsões do Programa Ambiental das Na- ções Unidas (Unep), a não ser que sejam modificadas as atuais práticas de desperdício e degradação dos recursos hídricos, dois terços da população mundial estará vivendo em condições de escassez de água até 2025. Com um crescimento populacional estimado em 2 bilhões de pes- soas nos próximos 25 anos, especialistas e autoridades internacionais alertam para um possível colapso das reser- vas de água doce da Terra. (fonte: O Estado de São Paulo, 18.09.00). a) Princípio do Desenvolvimento Sustentável e o Princípio da Informação. b) Princípio do Poluidor-Pagador e o Princípio da Educa- ção Ambiental. 48 Direito Ambiental c) Princípio da Responsabilidade Objetiva e o Princípio do Desenvolvimento Sustentável. d) Princípio do Poluidor-pagador e o Princípio da Prevenção. 4. Técnicos do Instituto Brasileirodo Meio Ambiente e Recur- sos Naturais Renováveis (Ibama), em Curitiba, decidiram manter a multa de R$ 168 milhões aplicada à Petrobras após o vazamento de 4 milhões de litros de óleo da Refi- naria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Auracária, em meados de julho. (Fonte: Jornal do Comércio, 18.09.00). a) Princípio do Desenvolvimento Sustentável. b) Princípio da Precaução. c) Princípio da Educação Ambiental. d) Princípio do Poluidor-pagador. 5. Examine a sentença abaixo e marque verdadeira (V) ou falsa (F). Principal símbolo da Bahia, o Pelourinho é um capítulo à parte na visita a Salvador: antes ponto de prostituição, venda de drogas e violência, o local atualmente reúne restaurantes com o melhor sabor da culinária baiana, artesanato, arquitetura barroca, religião, centros culturais e o legítimo batuque do Olodum. Pode-se afirmar que ao tutelar este patrimônio esta- remos protegendo o meio ambiente. Respostas 1. D; 2. C; 3. A; 4. D; 5. V Capítulo 3 Aspectos da Evolução HIstórica Legislativa do Meio Ambiente no Brasil 50 Direito Ambiental Este Capítulo tem por escopo propiciar um “voo de pás- saro” sobre questões históricas legislativas do meio ambiente no Brasil. Não é incomum a algumas pessoas afirmarem que a tutela ambiental iniciou após a Revolução Industrial, o que, sem dúvida, constitui um erro crasso. A história do homem neste planeta está ligada a degradação ambiental. Entretanto, no Brasil há necessidade de iniciarmos a análise da evolução histórica legislativa da proteção do meio ambiente ao tempo das Ordenações do Reino1. Serão analisados os seguintes tópicos: 1. Ordenações do Reino. 2. Normas com repercussão ambiental e normas ambientais propriamente ditas. 3. Aspectos da evolução histórica legislativa ambiental no Brasil. 1 Segundo a Roda da História (publicação mensal sobre assuntos do passado): “Foi D. Afonso Henriques quem estabeleceu as primeiras leis em Portugal para governo dos povos,no ano de 1143. Dizem autores antigos que el-rei convocara para o efeito os magnates e procuradores das principais cidades e vilas e que os reuniu na cidade de Lamego, onde formaram Cortes. Ali se providenciou a fórmula de sucessão. As primeiras leis gerais foram dadas para o governo do Reino e boa administração da Justiça, em 1211, por D. Afonso II, no primeiro ano do seu reinado. Na torre do Tombo existiu (e não sabemos se ainda existe) o tratado dessas regras. É fora de dúvida que Portugal sempre foi governado com base nas leis estabelecidas pelos nossos monarcas -e isso no campo geral como nos domínios particulares. As gerais ordenavam para o reino todo; as particulares para cada vila ou cidade, e eram os seus forais, usanças e costumes, como então lhes chamavam. As Ordenações foram mandadas copiar primeiramente por D. Afonso V, sendo depois melhoradas por ordem dos reis subsequentes. As mandadas compilar por el-rei D. Manuel têm a data de 1521; e as de D. Filipe I, de Portugal, a de 1603.” Disponível em: http://rondadahistoria.conhecimento.info/ordenacoes-do-reino/ Acesso em 21.06.08. Capítulo 3 Aspectos da Evolução HIstórica Legislativa... 51 1. Ordenações do reino Inicialmente, é importante reforçar-se a ideia de que o berço das normas ambientais brasileiras repousa nas Ordenações do Reino Português. Aliás, não se pode olvidar que o Brasil foi colônia de Portugal. As Ordenações Afonsinas, cuja compilação foi concluída em 1446, estabeleceu, entre outras disposições legais, a proi- bição do corte deliberado de árvores frutíferas e que o furto da aves, para efeitos criminais, era equiparado a qualquer espé- cie de furto. Nas Ordenações Manuelinas, cuja compilação foi conclu- ída em 1521, destaca-se a proibição da caça de determina- dos animais com instrumentos capazes de causar-lhes a morte com dor e sofrimento. Registre-se que a atual Lei 9.605, de 12.02.98 (dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências), ao tratar dos crimes contra a fauna, estabelece: Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mu- tilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, na- tivos ou exóticos: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiên- cia dolorosa e cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alter- nativos. 52 Direito Ambiental § 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se ocorre morte do animal. Ademais, verifica-se que o zoneamento ambiental, previsto no inciso II, do art. 9º da Lei 6.938, de 31.08.81 (Dispõe so- bre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanis- mos de formulação e aplicação, e dá outras providências), já era disciplinado nas Ordenações Manuelinas, pois a caça era liberada em determinados locais e vedada em outros, consti- tuindo uma forma de zoneamento ambiental. Nas Ordenações Manuelinas verifica-se, outrossim, que o ato de cortar as árvores frutíferas poderia resultar em severas penalidades, inclusive no pagamento de multas, de acordo com o valor das árvores abatidas. Pode-se identificar neste dis- positivo legal os primórdios da teoria da reparação do dano, hoje largamente utilizada na tutela do meio ambiente, prin- cipalmente através da utilização da Lei 7.347, de 24.07.85 (disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências). Nas Ordenações Filipinas – compilação de 1595 – des- taca-se o Regimento sobre o Pau-Brasil (12.12.1605), o qual constitui a edição da primeira Lei protecionista florestal brasi- leira denominada de Regimento sobre o Pau-Brasil. As Ordenações Filipinas contem disposições legais sobre a conservação dos recursos naturais, legislação de caça, pes- ca, controle das queimadas e da poluição das águas. A título Capítulo 3 Aspectos da Evolução HIstórica Legislativa... 53 ilustrativo destaca-se o seguinte excerto, em sua linguagem arcaica: O que cortar árvores de fruto, em qualquer parte que estiver, pagará a estimação dela ao seu dono em três dobro e se o dano que assim fizer nas árvores for valia de quatro mil Reis, será açoutado e degredado quatro anos para África e se for valia de trinta Cruzados, e dali para cima, será degredado para sempre para o Brasil. 2. Evolução histórica legislativa das normas ambientais no Brasil Há dois momentos legislativos na tutela do meio ambiente no Brasil. O primeiro antecede o ano de 1973, ao qual denomi- na-se de período de normas com repercussão ambiental. O segundo período ocorre a partir de 1973, em que o legislador brasileiro passa a legislar especificamente sobre a proteção ambiental. O primeiro momento legislativo pode-se deno- miná-lo de período das normas com repercussão ambiental, isto é, onde o escopo do legislador brasileiro – salvo algumas exceções – não estava direcionado a proteção do meio am- biente. Algumas normas, cujo objeto de tutela era destinado a outros interesses, em determinadas situações, alcançavam a proteção do meio ambiente. É o caso do uso nocivo da pro- priedade, previsto no art. 554 do antigo Código Civil Brasilei- ro (Lei 3.071, de 01.01.16): 54 Direito Ambiental Art. 554 O proprietário, ou inquilino de um prédio tem o direito de impedir que o mau uso da propriedade vizinha possa prejudicar a segurança, o sossego e a saúde dos que o habitam. Em algumas situações poder-se-ia empregá-lo como nor- ma de proteção ambiental, em outros não. Veja-se, a título ilustrativo, a situação em que um pequeno estabelecimento industrial causava ruído acima dos limites toleráveis.Nessa hi- pótese, havendo um vácuo legislativo específico para proteger os moradores residentes no entorno da mencionada indústria, poderiam estes se valer do mencionado dispositivo do Código Civil Brasileiro. Contudo, se a fonte poluidora emissora de po- luentes atmosféricos estivesse situada em um município distan- te das residências dos moradores referidos, haveria a impos- sibilidade do emprego desse dispositivo legal para tutelar os direitos dos moradores molestados pelos efeitos da poluição gerada pela fonte emissora. Deve-se debitar essa inviabilidade ao escopo da norma não ter como foco a efetiva proteção ambiental. O bem juridicamente tutelado não era o meio am- biente. Insta acentuar-se que no período que antecede o ano de 1973, isto é, período das normas com repercussão ambien- tal, há algumas exceções como, por exemplo, o Código das Águas (Decreto 24.643, de 10.07.34), Código Florestal (Lei 4.771, de 29.06.65), Lei de Proteção à Fauna (Lei 5.197, de 03.01.67). Contudo, reafirme-se, foi a partir do ano de 1973 que os legisladores brasileiros passaram a dar mais ênfase à proteção ambiental. Capítulo 3 Aspectos da Evolução HIstórica Legislativa... 55 Importante sinalizar que a Conferência das Nações Uni- das, realizada em Estocolmo em 1972 e as novas influências internacionais e nacionais foram decisivas para a mudança de comportamento dos legisladores e administradores públicos, no aprimoramento do sistema legislativo brasileiro de prote- ção ambiental. No gráfico abaixo, procurou-se representar os dois períodos, ou seja, o das normas com repercussão am- biental e o das normas ambientais propriamente ditas. EvoluEvoluçção Histão Históórica Legislativa das rica Legislativa das Normas Ambientais no BrasilNormas Ambientais no Brasil Normas com repercussão Normas com repercussão ambientalambiental O bem juridicamente O bem juridicamente tutelado não era o meio tutelado não era o meio ambienteambiente Normas ambientais Normas ambientais propriamente ditaspropriamente ditas O bem juridicamente O bem juridicamente tutelado tutelado éé o meio o meio ambienteambiente SEMA 1973OR DE NA ÇÕ ES DO RE IN O LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS 3. Evolução da legislação ambiental no Brasil Sem qualquer pretensão de exaurimento do tema, procurar- -se-á arrolar cronologicamente algumas das principais normas 56 Direito Ambiental ambientais, sejam elas com repercussão ambiental ou normas ambientais propriamente ditas.  ÂOrdenações do Reino  Lei 3.071/16 – Código Civil Brasileiro  Decreto 24.643/34 – Código das Águas  Decreto-Lei 2.848/40 – Código Penal  Lei 4.771/65 – Código Florestal  Lei 5.197/67 – Proteção da Fauna  Decreto 221/67 – Proteção e Estímulo a Pesca  Declaração de Estocolmo/72 – Assembleia ONU  Decreto-Lei 1.1413/75 – Controle da Poluição do Meio Ambiente provocada por Atividades Poluidoras  Lei 6.766/79 – Parcelamento do Solo Urbano  Lei 6.938/81 – Política Nacional do Meio Ambiente  Lei 7.473/85 – Ação Civil Pública  Lei 7.661/88 – Plano Nacional de Gerenciamento Cos- teiro  Constituição Federal de 1988  Lei 7.802/89 – Agrotóxicos  Declaração do Rio/92 – Assembleia da ONU  Lei 9.433/97 – Política Nacional de Recursos Hídricos Capítulo 3 Aspectos da Evolução HIstórica Legislativa... 57  Lei 9.605/98 – Lei dos Crimes Ambientais  Lei 9.985/00 – Sistema Nacional de Unidades de Con- servação  Lei 10.257/01 – Estatuto da Cidade Página interativa Examine o índice cronológico da legislação ambiental de uma Coletânea de Legislação Ambiental, completando o rol das normas federais arroladas neste Capítulo. Para tanto, poderá valer-se das coletâneas de legislação ambiental publicadas pelas principais editoras jurídicas nacionais, especialmente as da Editora Revista dos Tribunais, da Editora Saraiva, da Editora Verbo Jurídico ou através dos Sites de pesquisa de legislações, como o do Senado Federal, Câmara dos Depu- tados e etc. Referência comentada WAINER, Ann Helen. Legislação Ambiental Brasileira: Evolução Histórica do direito Ambiental. Revista de Direito Ambiental, São Paulo: Revista dos Tribunais, Vol. 0, pp. 158/169. Trata-se de um artigo em que a Autora promove uma revisão da evolução histórica legislativa do meio ambiente no Bra- 58 Direito Ambiental sil. Vários aspectos históricos legislativos são enfrentados, possibilitando-lhe um aprofundamento dos conhecimentos sobre este Capítulo. Referências ANTUNES, Paulo de Bessa. Curso de Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2007. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2005. MILARÉ, Édis. Direito ao meio ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: Malheiros, 1997. SIRVINKAS. Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. São Pau- lo: Saraiva, 2002. WAINER, Ann Helen. Legislação Ambiental do Brasil. Rio: Fo- rense, 1991. Capítulo 3 Aspectos da Evolução HIstórica Legislativa... 59 Autoavaliação Leia as sentenças abaixo e assinale verdadeiro (V) ou falso (F). 1. Não há uma relação de pertinência entre a sentença “A” e a sentença “B”. A) As Ordenações Manuelinas (1.521) proibia a caça de determinados animais com instrumentos capazes de causar-lhes a morte com dor e sofrimento. B) Lei 9.605/98: Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domes- ticados, nativos ou exóticos: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. 2. Há uma relação de pertinência entre a sentença “A” e a sentença “B”. A) Caça era liberada em determinados lo- cais e vedada em outros. B) Lei 6.938/81: Art. 9º São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: [...] II – o zoneamento ambiental; [...]. 3. As normas com repercussão ambiental, o legislador não tinha por objetivo a efetiva proteção do meio ambiente. 4. Pode-se afirmar que a Constituição Federal Brasileira é uma norma com repercussão ambiental. Respostas 1. F; 2. V; 3.V; 4. F Capítulo 4 Definições Legais de Meio Ambiente, Degradação da Qualidade Ambiental, Poluição, Poluidor e Recursos Ambientais Capítulo 4 Definições Legais de Meio Ambiente, Degradação... 61 Ao enfrentar-se qualquer conflito ambiental há necessidade de definir com absoluta clareza o objeto que esta sendo prote- gido, a sua agressão e quem são os agentes que provocam a degradação ambiental. É lógico que existem várias definições bibliográficas. Contudo, quando o legislador já estabeleceu o campo de aplicação da norma, mais fácil se tornará a tarefa do operador do direito ao procurar amparar suas medidas de controle nas definições legais. Destarte, o art. 3º da Lei 6.938, de 31.08.81 define meio ambiente, degradação da qualidade ambiental, poluição, po- luidor e recursos ambientais. Veja-se bem: Art. 3º – Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influ- ências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas for- mas; II – degradação da qualidade ambiental, a alteração ad- versa das características do meio ambiente; III – poluição, a degradação da qualidade ambiental re- sultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e eco- nômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias
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