Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
(Aula 4) Ordem Jurídica Medieval e Pluralismo Jurídico na Idade Média e Idade Moderna UFRJ – FND Prof.a Hanna Helena Sonkajärvi 2016/1 O pluralismo político A sociedade medieval foi uma sociedade de • status • feudal • caracterizada pela pluralidade das ordens política e jurídica. A ordem politica é imaginada como um corpo hierárquico, o soberano formando a cabeça dessa hierarquia percebida como uma ordem natural. 2 Uma soberania “fraca” Segundo Pietro Costa, o imperador, o papa ou os príncipes medievais podem ser considerados um soberano (mesmo que não existisse o Estado), se adotarmos uma definição “fraca” da soberania: • Ele não tinha o monopólio da força física legítima nem um poder legislativo absoluto. • O soberano medieval é soberano em relação a um outro superior. 3 A soberania da Idade Moderna • Na transição para a Idade Moderna (século XVI), os soberanos da Idade moderna se tornaram cada vez mais poderosos outorgando-se: • o monopólio da legislação, • da graça, • da naturalização e do recebimento de pedidos dos sujeitos, entre outros. 4 Um mundo jurispluralista • Jean Bodin (seculo XVI), ainda diferenciava entre o Direito e a lei: o Direito é composto de regras e normas formuladas em escala local, pelo costume e pela jurisdição local. A lei é composta de normas e ordenações dadas pelo rei. • O soberano é absoluto, mas isso não significa que as leis e os costumes particulares deixassem de existir! 5 Pluralismo jurídico • Com “pluralismo jurídico”, entende-se que coexistiam ordens jurídicas diversas no seio do mesmo ordenamento jurídico. • Na Idade Media e Moderna, conviviam o direito comum temporal (basicamente identificável com o direito romano), o direito canônico e os direitos próprios. • Não existiam um Estado ou soberano capazes de pretender o monopólio da definição de todo o direito. 6 Felipe Destacar Felipe Destacar Felipe Destacar Dois Exemplos de Pluralismo Político e Jurídico no Século XVIII • A tentativa de introdução dos decretos austríacos sobre crimes militares e da Constitutio Criminalis Carolina nos Países Baixos austríacos (hoje, a Bélgica) • A tentativa de introdução de um morador judeu na cidade de Estrasburgo (que, desde 1681, foi francês) nos anos 1760- 89. 7 8 Ordonnance de 1732, Art. 7: « [...] & les ordonnances penales & criminelles de l’Empereur Charles V. qui pour cet effet seront traduites en François & en Flamand; & s’il se presentoient des cas douteux, qui ne seroient pas assez clairement & distinctement compris dans nos Ordonnances Imperiales, Nous voulons & ordonnons, qu’on ait recours aux anciennes Loix militaires des Païs-bas pour autant que suivant nôtre pied Imperial militaire elles seront censées y être applicables, & au défaut des unes & des autres, au Droit Romain. » Archives Générales du Royaume (AGR), Bruxelles, T 100, Sécrétairerie d’État et de Guerre, Fasz. 809, sans fol., “Ordonnance de 1736 portant sur la jurisdiction militaire”, Art. VII. L’ordonnance répète le contenu de l’ordonnance du 15 novembre 1732. 1748, 16 ans mais tarde… « je [= l‘auditeur général] fremis quand je reflechis sur les jugemens, qui se sont faits et fairont encore par les guemines des Regimens Nationaux, les quatorze personnes dont elles sont composées pretent serment de sententier les coupables des delits communs selon le prescrit de la souvent d[i]t ordonnance, que les auditeurs des d[it]s regimens, qui sont considere ́ dans le fait de la justice comme des oracles par les officiers, bas-officiers et soldats portent ordinairement avec eux en latin pour expliquer l’article concernant à leurs assesseurs en françois ne sachant pas d’autre langue et doivent par ainsy donner leur voix conformement au sentiment d’un seul homme, qui est par la le plus souvent l’arbitre de la vie ou de la mort, patience encore s’il avoit les qualités requises pour remplir les devoirs d’un juge, comment peut’on le presumer dans ces sortes des sujets, qui sont ad nutum amovibles et bien moins aux regimens de Ligne et Prié infanterie, ou les deux respectifs auditeurs ont été des fouriers qui comprennent á peine le latin et n’ont pas d’autre etude. » 9 AGR, T 100, Sécrétairerie d’État et de Guerre. 809, fol. 380-404, „Répresentations du lietenant auditeurgénéral Beelen concernant les difficultés provoqués par le règlement de 1726, Aix-la-Chapelle, le 6 Novembre 1748“. Carta de Naturalização de Cerf Berr « Louis, par la grâce du Dieu, roi de France et de Navarre […]. Voulant donner au sieur Cerfbeer un témoignage particulier de la satisfaction que Nous avons des services qu’il a rendus et qu’il continue de Nous rendre, avec autant de zèle et d’intelligence que de désintéressement et de probité. A ces causes et de notre grâce spéciale, Nous avons accordé et accordons audit Cerfbeer, à ses enfants nés ou à naître en légitime mariage, les mêmes droits, facultés, exemptions, avantages et privilèges, dont jouissent nos sujets naturels ou naturalisés. En conséquence permettons audit Cerfbeer d’acquérir par achat, donation, legs, succession, ou autrement, tenir et posséder dans notre royaume tous biens, meubles et immeubles de quelque nature qu’ils puissent être. Donné à Versailles, l’an de grâce 1775, au mois de mars. Signé Louis ». 10 Bibliothèque Nationale, Paris, Ms. Joly de Fleury 2494, f. 40, Lettres patentes portant permission à Cerf Berr d’acquérir et posséder des biens dans le royaume, registrés le 10 mars 1775. A Rejeição, pelo Magistrado de Estrasburgo, de um Morador Judeu, 1776 « Je me bornerai à vous faire connaître que l’état de la bourgeoisie de la ville est tel, que Cerf Berr à qui les lettres patentes assûrent les avantages des autres sujets du Roy, ne peut l’acquérir. En effet toute la bourgeoisie est divisée en 20 tribus [= corporações] , chacune d’elles est composé[e] de différents corps de métiers. Chaque tribu choisit parmi les membres qui la composent les échevins qui doivent être à sa tête. C’est dans ce corps d’échevins qu’on établit tous les ans les sénateurs du grand et du petit sénat et ce sont ces sénateurs qui élisent tous les ans l’ammeistre régent celui qui pendant l’année de régence préside l’autorité du Magistrat. Ces sénateurs sont eux-mêmes éligibles à la régence et ce seroit donner à Cerf Berr le droit d’y prétendre que de l’admettre dans aucune tribu. » 11 Archives Municipales de Strasbourg, AA 2380, sans fol., Copie de la lettre de M. le Préteur royal de Strasbourg à M. le sieur Saint Germain, le 13 avril 1776. O direito comum (Direito romano), o direito canônico, os direitos próprios • O direito canônico, como direito diretamente ligado à autoridade religiosa, pretende um papel de critério último de validade das outras ordens jurídicas • Como “direito geral” vigora o ius commune, constituído por um enorme conjunto de normas tidas como provenientes da razão natural (direito subsidiário). • “Direitos próprios”: (i) os direitos dos reinos; (ii) os estatutos das cidades; (iii) os costumes locais; (iv) os privilégios territoriais ou corporativos 12 Felipe Destacar Felipe Nota nullLembrar jusnaturalismo medieval: ordem jurídica divina revelada aos homens pela igreja. Superior ao direito positivo. Felipe Destacar Fatores de flexibilidade do sistema jurídica • Pluralidade de ordens normativas • Todas as normas devem valer integralmente, umas nuns casos, outras nos outros (caráter casuístico). • Poder extraordinário da graça: Legitima ações dos príncipes • A ideia de equidade: Permite adaptação da regra a um caso especifico (fazer a decisão justo). 13 Felipe Destacar O pluralismojurídico não é apenas um fenômeno histórico! • O pluralismo jurídico, hoje, se designa como a multiplicidade de práticas existentes num mesmo espaço sócio-político. • A maioria dos sistemas jurídicos contém regulações paralelas e frequentemente contraditórias sobre a organização social, econômica e política. Essas são baseadas em diferentes tipos de legitimação: direito internacional, direito estatal, direito religioso, direito costumeiro e formas de auto-regulação. 14 Literatura • COSTA, Pietro. Soberania, representação, democracia. Ensaios do pensamento jurídico. Curitiba: Juruá, 2010, p. 81-142. • HESPANHA, António Manuel. Os juristas como Couteiros. A Ordem na Europa Ocidental dos inícios da Idade Moderna. In: Análise Social, v. 36, n. 161, p. 1183-1208, 2001. • VALLEJO, Jesús, El cáliz de plata. Articulación de órdenes jurídicos en la jurisprudencia del ius commune. Revista de Historia del Derecho, v. 38, p. 1-13, 2009. • WOLKMER, Antônio Carlos. Pluralismo e Crítica do Constitucionalismo na América Latina. In: Anais do IX Simpósio Nacional de Direito Constitucional, 2011, Curitiba-PR. Simpósio Nacional de Direito Constitucional da ABDConst. Curitiba: ABDConst, 2010, p. 143-155. 15
Compartilhar