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Administração Financeira 1. OBJETIVO E AMBIENTE DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 1.1 Papel de finanças e do administrador financeiro O Fluxo de fundos, em uma empresa industrial, envolve operações típicas de uma empresa industrial, mas, de maneira idêntica, outros empreendimentos, no âmbito comercial ou de prestação de serviços, também apresentam uma dinâmica semelhante ao de uma empresa industrial, no que se refere às entradas e saídas de recursos financeiros, que é o que visa demonstrar este fluxo. Analisemos este fluxo, passo a passo. A constituição do empreendimento irá requerer um aporte de capital ou a tomada de empréstimos e financiamentos. Esses recursos constituirão as disponibilidades financeiras do empreendimento, utilizadas para saldar os compromissos com os fornecedores tanto de matérias-primas, materiais auxiliares e outros insumos utilizados no processo produtivo, como de equipamentos, instrumentos, utensílios, edificações e outros ativos permanentes indispensáveis à operacionalização do negócio. E também para saldar compromissos financeiros com os prestadores de serviço, aí incluída a mão-de-obra direta – relacionada aos que se dedicam diretamente à operação do empreendimento, como os operadores de máquinas industriais – e execução de serviços especializados por terceiros – manutenção industrial, por exemplo. Com base nestes fatores de produção – máquinas industriais, matérias-primas, mão-de-obra direta, tecnologia de produto e de processo e, sobretudo, capacidade empresarial para aglutinar todos estes fatores – surgem os produtos que serão, finalmente, adquiridos pelos indivíduos para suprir determinadas necessidades. Durante o processo de produção e comercialização ocorrem despesas operacionais – aquelas decorrentes do suprimento de energia elétrica, pagamento de aluguel, mão-de-obra indireta e outras –, despesas financeiras – decorrentes de antecipações de valores a receber mediante desconto de duplicatas, por exemplo, ou decorrentes de empréstimos e financiamentos – e receitas financeiras – resultado da aplicação de recursos financeiros disponíveis no mercado de capitais, por exemplo. Essas despesas operacionais e despesas financeiras serão cobertas pelo lucro advindo das operações – resultado da diferença entre a receita proveniente das vendas e custos relacionados diretamente com a obtenção do produto ou mercadoria vendida ou prestação do serviço ao cliente. Essas vendas, quando realizadas à vista, irão ampliar imediatamente as disponibilidades da organização. Se realizadas a prazo, constituirão um bem ou direito a ser posteriormente recebido, como, por exemplo, as duplicatas a receber. Por último, mas não menos importante, existirão, ainda, os impostos incidentes sobre o lucro da atividade, o pagamento de dividendos aos acionistas ou cotistas do empreendimento e o que sobrar será incluído em contas de reservas e lucros retidos do empreendimento. Qualquer que seja o tipo de empreendimento é fato que as atividades empresariais requerem recursos financeiros para a sua operação. E desta operação resultam recursos financeiros que constituirão os lucros do negócio. As atividades empresariais envolvem funções relacionadas entre si, tais como produção, vendas, administração, contabilidade, finanças e outras. A gestão dos recursos financeiros movimentados por todas as áreas da empresa é parte essencial da função financeira. Por um lado, a função financeira responde pela obtenção dos recursos necessários ao desenvolvimento das atividades da organização. Por outro lado, deve participar ativamente da formulação de uma estratégia e sua implementação e controle no que se referir à otimização do uso desses fundos. Tarefas básicas da função financeira Ainda com base no fluxo de fundos de uma empresa industrial, as “válvulas” que estão dispostas entre um e outro “reservatório” de fontes e de usos dos recursos financeiros são, de fato, as oportunidades de atuação do gestor financeiro. A ele compete, diretamente, regular o fluxo de entrada e saída de recursos que, ao final, serão canalizados para o patrimônio líquido da empresa, sob a forma de capital, reservas e lucros retidos. E é do conhecimento das peculiaridades de cada uma destas fontes e destas possibilidades de utilização dos recursos financeiros que surge a indispensável qualificação do gestor financeiro. Na busca de soluções que visem a um adequado levantamento de recursos, o profissional da área de finanças deve explorar todas as fontes de recursos que são colocados à disposição de uma empresa. Estas fontes e usos estão relacionados diretamente com o próprio empreendimento, e, também, com o mercado financeiro e mercado de fatores de produção e de bens e serviços finais onde a empresa atua. Fig. 1 – Âmbito de ação do administrador financeiro O administrador financeiro age sobre o Ativo Circulante do negócio, dimensionando adequadamente os investimentos que serão realizados na sua operação, financiando clientes, investindo em estoques – tanto de matérias- primas e materiais auxiliares, como estoque de produtos acabados – e nas demais rubricas que configuram os bens e direitos num horizonte de 360 contados da data do balanço. Também dimensiona, de forma a mais adequada possível, os financiamentos que serão utilizados para os investimentos no ativo operacional do empreendimento e que irão consubstanciar o Passivo Circulante. Sua atuação no estabelecimento das condições de pagamento das compras e uma apropriada administração das rubricas que compõem o Contas a Pagar é de fundamental importância para a configuração de um adequado ciclo financeiro – resultado da composição dos prazos médios de recebimento das vendas, de renovação dos estoques e de pagamento das compras – do negócio, coerentemente com as reais possibilidades que o mercado e o próprio negócio oferecem. Ainda com relação às principais rubricas do balanço patrimonial constantes da Fig. 1, o administrador financeiro também atua sobre a composição do Ativo Permanente do negócio, interagindo com as demais funções para o estabelecimento das melhores condições possíveis à alocação dos recursos de terceiros resultantes de empréstimos e financiamentos, além dos recursos próprios, contrapartida da aquisição dos indispensáveis bens que configuram o imobilizado do empreendimento. E também, na evolução que se verifica na atividade, pelos investimentos que darão origem à ampliação do próprio negócio, explorando as oportunidades que se oferecerem para tal. Saindo do âmbito interno da empresa, o administrador financeiro coloca um olho atento nas condições oferecidas pelo mercado quanto ao risco e retorno das diversas possibilidades de aplicação financeira de recursos disponíveis. Nesta condição, municia-se adequadamente de informações sobre todos os fatores de ordem econômica que possam interferir direta ou indiretamente na condução das atividades, quer sejam elas derivadas do mercado de atuação como de forças econômicas, sociais, legais e tecnológicas provenientes do macroambiente de atuação da organização. No caso de empresas de capital aberto, sua atuação se concentra, por vezes, em atividades que possam interferir diretamente na avaliação do valor da ação do empreendimento no mercado, zelando por uma valorização crescente do valor de mercado, coerentemente com o valor patrimonial e com as possibilidades de retorno do investimento a níveis compatíveis com a taxa de atratividade do mercado específico de atuação. Tem-se, portanto, em uma síntese, que o papel do administrador financeiro é exercido tanto sobre os recursos próprios – aqueles que configuram o patrimônio líquido do negócio, como capital integralizado, reservas e lucros retidos – como recursos de terceiros – aqueles que compreendem as contas do passivocirculante e do exigível de longo prazo. São recursos permanentes quando provenientes de recursos próprios ou de dívidas de longo prazo e constituem recursos temporários quando se referirem a compromissos e dívidas a curto prazo. Podem, ainda, ser recursos onerosos – que implicam pagamento de despesas financeiras daí decorrentes – ou recursos não - onerosos – quando não constituírem recursos que irão exigir o pagamento de algum tipo de ônus financeiro para a sua obtenção. Do lado da alocação de recursos, ou seja, destinação e uso dos recursos financeiros obtidos, quaisquer que sejam as fontes de recursos, cabe ao administrador financeiro uma análise visando compatibilizar prazos e custos dessa tomada de recursos com a potencial geração dos lucros do negócio, que irão suportar tais custos em volume e em determinado momento. Assim sendo, o financiamento de um torno mecânico, por exemplo, deverá considerar as reais possibilidades de geração de receita com o produto advindo da operação deste item que irá compor o ativo imobilizado do empreendimento, na época e no volume de lucro compatível com os desembolsos financeiros por conta de um financiamento daí originado para a aquisição do bem. Mas a atuação do administrador financeiro não se faz unicamente pela obtenção e alocação de recursos financeiros destinados à aquisição de bens que irão compor o ativo permanente da empresa. Também se observa uma acentuada atuação do administrador financeiro no desenvolvimento das operações da organização. Neste conteúdo operacional da função financeira, os recursos podem ser alocados tanto em ativos fixos como em ativos circulantes, ou seja, nas disponibilidades, composição da carteira de contas a receber de clientes e administração dos estoques de matérias-primas, materiais auxiliares e produtos acabados. Por vezes, a atuação do administrador financeiro é de fundamental importância para a constituição de outros ativos, tais como participação societária em outras empresas e determinadas aplicações financeiras. No processo de administração das fontes de recursos e sua destinação despontam dois aspectos de extrema importância para o sucesso da administração financeira: a relação entre liquidez e rentabilidade. A liquidez, traduzida pela capacidade da organização em liquidar seus compromissos financeiros de curto prazo, tem a ver com o correto dimensionamento dos prazos médios a que nos referimos anteriormente. Entre a aquisição da matéria-prima e dos componentes necessários à fabricação do produto que será vendido existem custos e despesas que deverão ser suportados pela empresa. A definição dos prazos de pagamento desses materiais será importante para a “saúde” financeira do empreendimento: se os prazos de pagamento não forem compatíveis com o prazo de recebimento das vendas, poderá ocorrer um descompasso entre a entrada e a saída de recursos. Sabe- se que tais prazos médios de pagamento e de recebimento das vendas nem sempre são ditados pela própria empresa. Na maioria das vezes, estas condições são estabelecidas “no mercado”, quando todos os principais agentes econômicos envolvidos ficam dispersos em torno de uma média de dias, sob dependência do custo financeiro nas operações de refinanciamento existentes neste mercado: a custo maior corresponde prazo menor e vice-versa . Por isso, compete ao gestor financeiro a conciliação dos interesses envolvidos na área de produção e de vendas, por exemplo, funções onde se processam os paradoxos a que nos referimos: para a área de produção, interessa dispor de um elevado estoque de matéria-prima, componentes e partes e peças indispensáveis à elaboração do produto final. Desta maneira, ele poderá cumprir, com a máxima segurança, o cronograma de produção que lhe for destinado satisfazer. Isto requer uma disponibilidade de área – com todos os custos e despesas aí envolvidos, tais como aluguel ou amortização de investimento ou empréstimo para a aquisição do imóvel, despesas com a administração do estoque, com zeladoria, com vigilância e segurança etc. – e de capital de giro que, muitas vezes, não são facilmente suportados pela geração da receita e dos lucros. Por seu turno, a área de vendas certamente se sentiria mais capacitada a cumprir suas metas, se lhe fossem disponibilizados produtos para pronta entrega a preços inferiores aos praticados pelo mercado e com condições de pagamento a perder de vista. A compatibilidade entre as saídas e as entradas de recursos financeiros para a operação do empreendimento é decorrência do volume de recursos que são alocados no ativo circulante operacional (ACO) – duplicatas a receber, estoques e certos ajustes no ativo circulante – e no passivo circulante operacional (PCO) – fornecedores, contas a pagar e também certos ajustes no passivo circulante relacionados com a operação do empreendimento. A diferença entre ACO e PCO constitui a necessidade de capital de giro (NCG) do negócio. Sabidamente, quanto menor for o capital de giro do empreendimento, mais recursos poderão ser utilizados em outras áreas do empreendimento. A maioria das empresas apresenta um ACO maior do que o PCO. Neste caso, compete ao gestor financeiro a obtenção de recursos para financiamento destes ativos em condições adequadas ao negócio. Se, no entanto, o ACO for menor do que o PCO, sobram recursos na empresa, que deverão ser aplicados às melhores taxas do mercado financeiro ou mesmo utilizados para a expansão da planta, ou seja, investimento em ativos fixos. No tocante ao segundo aspecto desta análise sobre a eficácia da administração, devemos considerar a rentabilidade como um “grau de êxito econômico obtido pela empresa em relação ao capital nela investido” (Braga, 1989 p. 30). A relação entre o lucro operacional e o ativo operacional a que nos referimos anteriormente já indicará uma medida da eficiência na gestão dos recursos próprios e de terceiros, independentemente dos custos financeiros e de outros fatores. Por sua vez, uma relação entre o lucro líquido do negócio em determinado período de tempo, associado ao volume de capital próprio médio no período será um importante indicador, para o acionista, da rentabilidade do capital investido que, cotejado com outras taxas de atratividade no mercado financeiro, indicará se o investimento realizado no empreendimento está proporcionando uma rentabilidade adequada, em termos de custo de oportunidade do investimento. Ainda nesta ligeira digressão sobre a rentabilidade, a relação entre o lucro antes das despesas financeiras e o volume total de ativos do empreendimento proporciona uma outra medida da eficiência da empresa. Este retorno sobre o ativo, como também é conhecido, comparado com o custo da dívida – relação entre a despesa financeira e o volume de empréstimos bancários existentes na organização – poderá indicar se houve uma adequada alavancagem financeira do negócio, ou seja, se terá ou não valido a pena o endividamento bancário. Como se observa, portanto, o equilíbrio entre uma adequada liquidez corrente – o volume de bens e direitos de curto prazo, comparados com as obrigações de curto prazo – e rentabilidade do empreendimento são uma permanente preocupação do administrador financeiro e um constante desafio que se interpõe na consecução dos seus objetivos. 1.2 Objetivos do administrador financeiro Com os rudimentos de informação reunidos até aqui, já pudemos observar que as funções do administrador financeiro de uma organização estão reunidas em algumas atividades básicas, quais sejam: Análise e planejamento de todas as informações de cunho financeiro que possam se relacionar, direta ou indiretamente, com as operações da organização e mesmo com a expansão do negócio frente às oportunidades e mesmo com as ameaças derivadas ao ambiente externo, isto é, do macroambientee, sobretudo, do ambiente setorial, no processo de administração estratégica do empreendimento, conforme sintetizado na Fig. 1.4 – Administração Estratégica, com destaque para a necessidade de análise dos recursos de que dispõe a organização; Administração da estrutura dos ativos da empresa e de que forma tais ativos implicam obtenção de recursos financeiros para a sua aquisição e operacionalização, coerentemente com as possibilidades de geração de caixa destes ativos; Administração da estrutura financeira da empresa, aí entendidos os aspectos relacionados com a composição mais adequada de financiamento a curto, médio e longo prazos, dadas as suas implicações com a liquidez e rentabilidade do negócio, e também na própria determinação das melhores fontes de financiamento a curto, médio e longo prazos para suprimento das necessidades de capital de giro e recursos financeiros destinados à composição do ativo fixo da empresa. Administração Estratégica Estas funções são desempenhadas com um primordial objetivo: a maximização do patrimônio líquido da organização. Isto significa a ampliação da riqueza dos proprietários do empreendimento. Este é o fundamento de todos aqueles que investem seu capital em um empreendimento considerado de risco. Risco porque envolve a possibilidade de perda total ou parcial desses recursos. Assim, o risco é inerente a todos os empreendimentos e aplicações, podendo ser eficientemente avaliado, calculado, suportado ou mesmo eliminado, com base nas condições do macroambiente e ambiente setorial e, sobretudo, nas competências e habilidades desenvolvidas e aplicadas pelos gestores do empreendimento no planejamento, operacionalização, controle e condução do negócio. Neste sentido, é preciso considerar, neste estágio de nossa digressão, o que significa a maximização do patrimônio líquido do negócio ou a ampliação da riqueza dos seus donos. Em outras palavras, quanto vale o negócio? Existem várias formas para a medição do valor de um empreendimento. Vão desde o valor dos ativos, o valor da marca, o valor do patrimônio líquido e outros ativos tangíveis (ativo permanente) e intangíveis (marcas e patentes, licenças de produção etc.). Mas o que melhor reflete o valor de um empreendimento é a capacidade de geração de caixa deste empreendimento. Ou seja, a capacidade de gerar lucros, mediante o uso de seus ativos, o emprego de determinada tecnologia, sua competência gerencial e o seu próprio conceito junto a fornecedores, clientes e credores em geral. É sobre tais aspectos que deve se concentrar a atuação dos gestores do empreendimento, porque daí deriva o valor do negócio. Maximização da riqueza dos acionistas não significa necessariamente maximização dos lucros. Enquanto este aspecto resulta de ações imediatas, por vezes inconstantes e esporádicas e de curto efeito no tempo, a maximização do valor das ações ou cotas dos acionistas ou proprietários é fruto de uma perspectiva de longo prazo, com investimentos que visem, além de outros aspectos, à perpetuidade do empreendimento. Também é preciso atentar para o valor do dinheiro no tempo, que implica uma análise de valor presente líquido dos retornos anuais esperados para o negócio, descontados a uma determinada taxa de atratividade para os investimentos que serão cotejados com outras aplicações financeiras. Em se tratando de uma empresa que possui ações no mercado de capitais, a valorização destas ações também é de extrema importância para a fundamentação da maximização da riqueza do acionista, bem como os dividendos proporcionados por esta fração do capital. Neste particular aspecto, a periodicidade dos recebimentos de dividendos pode ser um interessante apelo para a atração de investidores. Dentre eles, aqueles que preferem receber dividendos de uma forma regular, independentemente das flutuações dos lucros. Desta forma, a empresa estará minimizando os efeitos negativos que possam afetar as cotações das ações. Além disso, há que se considerar a relação entre risco e retorno do investimento. Sabidamente, quanto maior o risco, maior a exigência de retorno do investimento por aqueles que irão disponibilizar os recursos. A interação da Administração Financeira com outras áreas do conhecimento Feita esta distinção, vejamos de que maneira a função da administração financeira se relaciona com outras áreas do conhecimento. Esta relação se dá principalmente no âmbito da Economia e da Contabilidade. A administração financeira se vale dos conceitos compreendidos tanto na macroeconomia quanto na microeconomia. São dois ramos teóricos da mesma ciência. A microeconomia estuda o comportamento dos consumidores e, por outro lado, certos aspectos relacionados ao funcionamento das empresas, no tocante a custos e produção de bens e serviços e, também, a receita e fatores produtivos. As teorias microeconômicas fornecem a base para a operação efi ciente da empresa, sobre a qual se assentam os estudos e conceitos da administração em suas várias funções empresariais. Os conceitos envolvidos nas relações de oferta e demanda e as estratégias de maximização do lucro são extraídas da teoria microeconômica. Questões relativas à composição de fatores produtivos, níveis ‘ótimos’ de vendas e estratégias de determinação de preço do produto são todas afetadas por teorias no nível microeconômico e, por isto, constituem um campo especial de atuação do administrador financeiro. A macroeconomia compreende o estudo dos agregados - a produção ou renda nacional, o consumo, o emprego, a moeda, o nível de preços, o comércio internacional. Estes são, pois, aspectos amplos e globais da realidade econômica, abordados de forma “macroscópica”. Esta mudança de enfoque – do micro para o macro – requer boa dose de abstração. Antes, no enfoque “microscópico”, podíamos observar de perto nossa participação na realidade econômica do país, ganhando e gastando, e economizando sempre que possível. Agora, ao tratarmos dos agregados, abordando aspectos como o custo de vida em contínua, imperceptível – até certo ponto – e persistente ascensão, o nível de emprego em volume inferior às necessidades, sentir-nos- emos alheios à própria evolução dos fatos, porque, aparentemente, as coisas fogem completamente do nosso controle pessoal. Vê-se, portanto, que a dúvida se deslocará de uma visão individualizada para uma visão da economia como um todo, na mudança de uma abordagem microeconômica para uma abordagem macroeconômica. Ambos os ramos teóricos são importantes para o administrador financeiro, dadas as implicações sobre sua atividade e seus objetivos em geral. Em relação à Contabilidade, a administração financeira dela se utiliza para uma visão acurada da posição financeira da organização. O contador, utilizando certos princípios padronizados e geralmente aceitos, prepara as demonstrações financeiras com base na premissa de que as receitas devem ser reconhecidas por ocasião das vendas. Por sua vez, as despesas devem ser reconhecidas quando incorridas, isto é, na sua geração. Este método é geralmente chamado de regime de competência dos exercícios contábeis. Por este método, o valor da venda comprovado por uma nota fiscal de venda emitida hoje, que será recebido no mês seguinte, deve ser registrado já neste mês. Por seu turno, uma despesa comprovada por uma determinada nota fiscal de fornecimento ou prestação de serviço com data de hoje deve ser assumida hoje, independentemente de ter seu pagamento realizado, por exemplo, daqui a um mês. Mas, para o administrador financeiro, sua tarefa consiste em proporcionar os fluxos de caixa necessários para atingir as metas da empresa. Sua preocupação se relaciona à solvência da empresa, ou seja, à capacidade da empresa de gerar receita e efetuar pagamentos por contade custos e despesas, investimentos e outros que tais. Assim sendo, ao invés de reconhecer receitas no ponto de vendas e despesas, quando incorridas, reconhece receitas e despesas somente com respeito a entradas e saídas de caixa. Observa-se, portanto, que a partir dos registros contábeis são elaboradas as demonstrações financeiras, que irão proporcionar ao administrador financeiro uma avaliação, o desenvolvimento de dados adicionais e posteriores decisões com base em análises subseqüentes, com vistas ao equilíbrio entre as entradas e saídas de recursos e, sobretudo, com vistas à maximização do valor do empreendimento, conforme já visto. 1.3 O ambiente operacional do administrador financeiro e da própria empresa Qualquer que seja o tipo de empreendimento – empresa industrial, comercial, prestadora de serviços ou financeira – a origem do capital – empresa privada ou empresa pública – bem como seu tamanho – grande ou pequena – ou sua finalidade – com ou sem fins lucrativos – haverá um lugar para um gestor dos seus ativos financeiros. São profissionais que se dedicam a uma série de tarefas financeiras da empresa, voltadas para o planejamento financeiro, fluxo de caixa, gestão e concessão de crédito a clientes, avaliação de projetos de investimento, captação de recursos para financiamento das atividades da empresa e alocação adequada desses recursos em operações geradoras de caixa. Dada a complexidade no ambiente econômico de operação das organizações e sua dinâmica, temos visto aumentar a importância e a complexidade das tarefas do administrador financeiro e, como conseqüência, estes profissionais têm assumido posições cada vez mais privilegiadas no organograma das empresas. 2. DECISÕES DE FINANCIAMENTO A CURTO PRAZO Nossa experiência, após centenas de demonstrações financeiras examinadas, sinaliza que as empresas entram num cenário de dificuldades financeiras basicamente por duas conseqüências: má-formação do capital social inicial ou busca de empréstimos bancários para sanar esta má-formação, redundando em excesso de despesas financeiras e baixa lucratividade. Vamos apresentar dois exemplos típicos com valores hipotéticos: a) Má-formação do capital social inicial Neste caso, os acionistas ou sócios dimensionaram sua participação em $ 3.000 no capital social. Este cálculo demonstrou ser, a princípio, provavelmente insuficiente, uma vez que dos $ 3.000 um percentual de 66,6% ou $ 2.000 foram aplicados na aquisição de imobilizado, sendo certo que esta participação é altíssima e poderá levar a empresa a uma busca de empréstimos bancários, se os restantes $ 1.000 não forem suficientes para o giro da empresa. O erro de má-formação inicial da empresa, em termos financeiros, poderá ser constatado ao calcularmos a necessidade de capital de giro. Se este cálculo indicar o valor, como exemplo, de $ 800 – isso significa que a empresa deverá tomar um empréstimo bancário em idêntico valor. Se não for assim, não terá como financiar o giro dos estoques e das vendas a prazo. b) Busca de empréstimos bancários Tomando-se o mesmo exemplo, e em continuidade, a empresa toma os $ 800 como empréstimo bancário para satisfazer seu giro e daí resultará o seguinte balanço patrimonial: Com esta alternativa, a empresa inicia um ciclo de decisões que poderá ser correto e adequado, ou, então, vicioso, chegando até a provocar o encerramento de suas atividades. Isto porque os acionistas cobrarão um retorno sobre o capital social de $ 3.000 e os bancos financiadores cobrarão despesas financeiras sobre o valor de $ 800. Assim, os gestores da empresa terão duas obrigações, simultaneamente: por um lado, atender aos acionistas e, por outro, atender aos bancos. Se os concorrentes não têm esta obrigação, certamente trabalharão com preços menores porque não terão as mesmas despesas financeiras, e, com isso, suas vendas serão mais estáveis e muito provavelmente com menores sacrifícios de preço e, portanto, melhores margens. Essas decisões são as que norteiam este capítulo, cujo objetivo principal será o de trazer exemplos de controles que as facilitem, e que permitam evitar as já conhecidas “cirandas financeiras”, que têm levado à bancarrota milhares de bons empreendimentos. 2.1 Planejamento de caixa Planejar o caixa consiste em estabelecer, com antecedência, as decisões financeiras que serão tomadas em circunstâncias e condições previamente estabelecidas, com a propriedade de previsão dos recursos que serão utilizados para que os objetivos traçados possam ser atingidos. Quando se fala de “caixa”, a abrangência é para todo o disponível, ou seja, para todo recurso em dinheiro que circula pelo ativo das empresas. Na realidade, o ativo circulante é um “grande caixa” que, partindo do dinheiro propriamente dito, se “desmancha” por utilização em outras contas que compõem o ativo como um todo, desde o circulante (estoques, duplicatas a receber) ao ativo fixo (imobilizações), retornando a ser “caixa” e assim sucessivamente. É notória a percepção e o objetivo dos empreendedores em geral em manter o maior volume de recursos no caixa, no saldo bancário, mas isso nem sempre é possível pela própria circulação e giro que a empresa tem, e que o gestor não consegue manipular de acordo com sua conveniência. Afinal, a empresa tem sua dinâmica e o caixa é, em particular, o representante desse dinamismo e dessa circulação diária de recursos. Um planejamento de caixa comporta três tipos específicos: a) o planejamento estratégico de caixa, que é de longo prazo, antecipado aos fatores externos e internos à empresa, sinalizando quase sempre decisões complexas e que envolvem grande volume de recursos; b) o planejamento tático de caixa, que tem um alcance mais curto em termos de prazo, envolvendo o resultado particular de alguma área, como a de marketing, por exemplo; c) o planejamento operacional de caixa, que tem a finalidade de maximizar os recursos aplicados em operações de determinado período, geralmente de curto e médio prazos. Qual, então, a essência de um planejamento de caixa? Trata-se, a nosso ver, de uma ação estratégica, razão de ser de um sistema orçamentário. Todos os orçamentos são elaborados – orçamento de pessoal, orçamento de despesas, orçamento de investimentos, orçamento de vendas e custos – e culminam no orçamento do caixa, que dá o tratamento final às possibilidades financeiras objetivadas nestes orçamentos. Não é propósito, neste trabalho, estabelecermos um modelo de planejamento de caixa, à margem dos demais orçamentos, porque se trata de mérito de outra disciplina no âmbito da formação do Administrador, que, aliás, assume importância capital no desenvolvimento de qualquer empreendimento, notadamente em regime de inflação rastejante. Procuraremos, nesta obra, tratar dos cenários existentes e que envolvam situações que possibilitem o conhecimento das variáveis que induzem a um planejamento eficiente de caixa e que, ao mesmo tempo, contribuam para a superação de algumas das dificuldades que, por vezes, tornam o planejamento inadequado enquanto elemento vital no processo decisório. 2.2 Política financeira Política, de modo geral, é um modo de ação que norteia a direção e o sentido para um processo de tomada de decisões que podem se repetir continuamente, ou que ocorram para atingirmos um objetivo. Como exemplo de uma política financeira, tem-se o caso de uma empresa que adota uma política de preços do tipo “cobrimos qualquer oferta” para crescer seu faturamento e, com isso, alcançar um acréscimo de 20% em suas vendas anuais. Visando atingir tal objetivo, a empresa autoriza a concessão de descontos de até 10% em seus preços de venda, independentemente de autorizaçãosuperior, bastando que os clientes apresentem os preços anunciados pelos concorrentes. 2.3 Administração do caixa É o aspecto mais prático e que envolve os saldos bancários de livre movimentação e as aplicações financeiras de resgate ou liquidez mais ou menos imediatas. O nível de saldos médios ou reserva de segurança deve ser objetivado pelo que denominamos de fluxo diário de caixa. As empresas devem ter uma previsão do seu dia-a-dia, dos valores que provavelmente serão depositados nos bancos nos diversos dias, e dos valores que, com certeza, deverão ser pagos naquelas datas. Este fluxo diário é que norteia o nível de saldo médio, que, se constituírem sobras financeiras, devem ser aplicadas no mercado financeiro, observadas as condições de liquidez, segurança, risco e rentabilidade inerentes a qualquer aplicação financeira. É importante destacar que saldo bancário excessivo não significa necessariamente a existência de lucro. O lucro pode, sim, transformar-se em saldo bancário, bastando que se tenha uma política de remuneração do acionista/cotista definida para tal transformação. Mas o lucro também pode estar em qualquer conta do ativo – nos estoques ou mesmo no financiamento do total de contas a receber, por exemplo – e não necessariamente à disposição para que se paguem contas, ou se adquiram bens para circulação ou não. Há vários outros motivos para que se tenha um maior ou, por vezes, um menor saldo médio bancário, ou, como também é reconhecido, uma reserva de segurança. Entre os mais comuns se situam uma especulação de preços junto a fornecedores, aquisição de algum item imobilizado que esteja em promoção por tempo limitado nos fornecedores ou em razão direta de alguma condição específica da parte dos proprietários de um terreno para investimento em ampliação futura, por exemplo. Um orçamento diário de caixa é uma projeção diária das entradas e saídas para um período de tempo imediatamente seguinte ao da data da sua elaboração. Vamos exemplificar, com uma situação existente numa indústria têxtil. EXERCÍCIOS 2.4 Capital circulante líquido O fluxo diário de caixa é uma previsão próxima da realidade, num horizonte de tempo de, por exemplo, um mês seguinte. Quanto maior o período de tempo a ser previsto, maior será a probabilidade de desvios em relação a esta previsão, porque aumenta o grau de incerteza dos lançamentos esperados. As atividades de estocagem, produção, vendas e recebimento das vendas têm determinação de épocas mais difícil de prever. Há, normalmente, uma dificuldade nesta previsão diária, e para tal surge o capital circulante líquido (CCL) que, por sua natureza, apresenta dados mais abrangentes. Observando-se a figura extraída do balanço patrimonial, podemos observar abaixo a faixa de informações que contém o capital circulante líquido. A figura demonstra que capital circulante líquido é a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante, constituindo-se na diferença positiva ou negativa entre estes grandes grupos pelos quais circulam os recursos. Numa situação em que haja carência de CCL, esta poderá ser corrigida com financiamentos de longo prazo, que entrarão pelo passivo de terceiros ou, ainda, por aporte de capital próprio. Exemplificando: Se desejarmos um CCL de $ 300 não devem ser realizados empréstimos bancários de curto prazo, sob pena de anulação da operação, porque tanto o ativo circulante como o passivo circulante serão ampliados no montante do empréstimo contraído, ou seja: Desta forma, para termos um CCL maior ou maior folga financeira, precisamos optar por outros canais de financiamento, preferivelmente por meio de recursos financeiros obtidos a longo prazo, ou, então, mediante aumento do capital próprio proveniente de acionistas ou cotistas. Exemplificando com os mesmos dados, e obtendo-se ao mesmo tempo um empréstimo de $ 200 a longo prazo, e um aumento de $ 300 de capital: Entende-se, portanto, que o capital circulante líquido seja um estudo que atinge apenas dois grupos financeiros do balanço patrimonial: o ativo circulante e o passivo circulante. Por isto mesmo, têm uma abrangência de curto prazo – um ano após o encerramento do balanço patrimonial, com base nos critérios legais de classificação. Como conclusões a respeito do CCL, podemos relacionar algumas afirmações e suas comprovações financeiras logo a seguir: a) Quanto maior o CCL menor será o risco de termos problemas financeiros envolvendo pagamentos atrasados ou descumprimento de obrigações nas datas previstas b) Se a participação dos estoques no ativo circulante da empresa for muito elevada, o CCL poderá não significar folga financeira: c) Se a conta de duplicatas a receber apresentar prazos extensos, ou seja, com um prazo médio de recebimento das vendas excessivo, o CCL poderá não significar folga financeira: d) O CCL de valor baixo pode não necessariamente implicar problemas como pontualidade no cumprimento das obrigações diárias: e) Quando um gestor financeiro aplicar recursos no ativo permanente, ele deve ter noção de que poderá provocar diminuição no CCL se estes recursos forem suprimidos do ativo circulante. De nada adiantará, também, neste caso, se os recursos forem obtidos a curto prazo: f) Quando um gestor financeiro aplicar recursos no ativo permanente, o ideal é que obtenha estes mesmos recursos através do exigível a longo prazo ou através dos acionistas ou sócios: g) Um CCL elevado significa sem dúvida um índice de liquidez corrente saudável: h) O CCL elevado tem limites quanto à sua influência junto à rentabilidade da empresa. Ele pode estar concentrado em contas cujo excesso não trazem rentabilidade, como estoques excessivos, ou saldos médios excessivos nas contas a receber: O capital circulante líquido é evidenciado na Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos, e demonstrado da seguinte forma: A conclusão pelo que expõe a DOAR é a de que, logo após a obtenção destes dados, a empresa terá $ 65.802 a mais em seu ativo circulante, identificando para o CCL uma variação positiva, ou um aumento deste em relação ao período anterior. 2.5 Administração do capital de giro Administrar o capital de giro pode ser sinônimo de administrar o ativo circulante, composto das disponibilidades, das contas a receber, dos estoques e de outros créditos. Nesta análise, não importam os vários conceitos de capital de giro, pois todos eles convergem para o mesmo ponto: é a soma dos recursos que giram (ou circulam); são os ativos que devem transformar-se em dinheiro; são os recursos que financiam o ciclo operacional e financeiro. Dentro deste panorama, vamos estudar a administração do capital de giro, situando-a nos seus componentes fundamentais: o disponível, o contas a receber e os estoques. 2.6 Administração do disponível Administrar o disponível - ou o caixa - é cuidar cotidianamente dos ativos cuja característica seja a sua transformação em dinheiro ou liquidez imediata, de forma natural e sem interferências de terceiros. Tradicionalmente a contabilidade os classifica em: valores em moeda corrente saldos bancários aplicações de liquidez imediata aplicações de liquidez a curto prazo aplicações em moeda estrangeira O trabalho do gestor da tesouraria, ou administrador do caixa, é cuidar diariamente para que a liquidez da empresa se mantenha nos níveis planejados, com observação da pontualidade e obediência aos vencimentos e contratos com seus fornecedores, governo etc. Basicamente, suas preocupações são com as entradase saídas previstas de caixa. Se a empresa tem filiais, ou várias unidades que podem interferir nesse processo, essa característica poderá ampliar seus controles e preocupações. A manutenção adequada e dentro das expectativas nas entradas e saídas de recursos previstas são o principal escopo diário. Como entradas típicas ou comuns, podemos relacionar: a) vendas à vista b) recebimento de vendas a prazo (duplicatas a receber) c) recebimento de outras contas a receber d) crédito de empréstimo bancário e) crédito de receitas financeiras f) recebimento de empréstimos de terceiros g) aumento do capital social Como saídas típicas ou comuns, podemos relacionar: a) pagamento de despesas diárias b) pagamento de fornecedores c) pagamento de empréstimos bancários d) aquisição de ativos permanentes e) pagamento de despesas financeiras f) empréstimos a terceiros g) pagamento de dividendos ou distribuição de lucros Uma dificuldade bastante significativa é a manutenção de um saldo mínimo de caixa. Estudos feitos por Baumol e Miller-Orr levam-nos a este assunto, até com muita propriedade, porém, sua aplicabilidade no Brasil é vedada pela impossibilidade, no momento, de os saldos excedentes serem aplicados no sistema de open market [mercado aberto, com operações conhecidas por overnight, isto é, de um dia]. De qualquer forma, iremos relacionar os tópicos mais relevantes que interferem ou colaboram para o controle desse saldo mínimo de caixa: tipo de atividade exercida - uma loja apresenta um caixa mínimo substancialmente diferente de uma indústria ou de um prestador de serviço; histórico anterior – o passado pode razoavelmente indicar qual o valor mínimo que devemos manter em determinadas situações, mesmo nas ocasiões sazonais; reciprocidade bancária – mesmo que não existam empréstimos bancários, a reciprocidade (saldos médios diários) é um fator de aproximação e exigência para futuros e eventuais empréstimos; política de vencimentos – podemos negociar alterações mínimas nas datas de nossos fornecedores mais comuns e constantes; uso de meios eletrônicos – facilitam as transações, mas nos escravizam na obediência aos vencimentos. Entretanto, podemos exigir o mesmo procedimento por parte de nossos clientes, pela utilização do meio mais rápido de crédito que possamos ter; acúmulo de vencimentos – é prática, no Brasil, que a maioria dos vencimentos salariais, locatícios, tributários e governamentais venham a ocorrer do dia 1 ao dia 10 de cada mês. Se este acúmulo não se coaduna com a situação, devemos tentar alterá-lo no que for possível, ou antecipar aquele que favoravelmente colabora para quitá-lo. Para melhor gerenciar o fluxo de caixa, é necessário que ele seja um instrumento gerencial para tomada de decisões, tanto para coletar e organizar os dados como para gerar subsídios que permitam a análise de desempenho financeiro da empresa. Com o manejo do fluxo de caixa, o gestor financeiro tem condições de compatibilizar, no tempo, as contas a pagar com as contas a receber, e, conseqüentemente, tomar decisões sobre situações importantes, como: o melhor momento de comprar e pagar o melhor momento de vender e receber os momentos mais acumulados de contas a pagar projeção de sobras, e faltas de caixa 2.7 Administração das duplicatas a receber Administrar as duplicatas a receber ou, como também é chamado, o contas a receber, significa cuidar do crédito e da cobrança nas transações a prazo. A decisão sobre vendas a prazo passa pelo estabelecimento de uma política de concessão do crédito, sem o qual poderemos ter problemas com a cobrança. Crédito é o instrumento de política financeira a serviço das entidades, quando estas correm o risco de transferir a posse de dinheiro, mercadorias ou serviços, mediante a promessa de reembolso futuro. Tem característica de reciprocidade, uma vez que, ao ser concedido por alguém, é automaticamente recebido por alguém. Nos regimes capitalistas, pressupõe-se que haja ao concessor uma vantagem financeira pelo ato de conceder, e, ao tomador, uma desvantagem financeira pelo ato de tomar. Esta vantagem/desvantagem financeira é geralmente determinada pelo valor dos juros compreendidos na operação de crédito. Sob o ângulo estritamente comercial, quando a concessão está ligada à transferência de mercadorias ou serviços, admite-se que ao concessor esteja ligado o interesse em obter maior lucratividade em suas transações, e, ao tomador, resta-lhe a obtenção de capitais de terceiros de que necessita também em seu negócio. O crédito cumpre uma série de funções específicas: a) movimentar o processo de produção em todas as suas etapas, possibilitando maior volume de operações b) estimular o consumo, tal que a produção crescente possa ser absorvida pela sociedade c) possibilitar aos investidores a aplicação de suas economias no processo produtivo, ou no consumo d) reunir capitais que, sozinhos, não conseguiriam financiar grandes projetos sociais, levando a sociedade a um bem-estar econômico e adequada distribuição da renda O crédito divide-se em dois tipos da forma mais ampla: o crédito público e o crédito privado. O crédito público trata das relações entre entidades públicas – governo federal, estadual e municipal - e as pessoas ou empresas. O crédito privado trata das relações entre as pessoas ou entre as empresas. O crédito privado, nosso foco nesta obra, pode subdividir-se em: crédito mercantil e crédito bancário. O crédito mercantil é a forma mais comum de financiamento a curto prazo, e também é conhecida como crédito comercial. Podemos definir crédito mercantil como crédito a curto prazo concedido por um fornecedor a um comprador, em decorrência da compra de mercadorias, matérias-primas ou serviços para posterior revenda ou utilização. O produtor concede o crédito, quando vende seus produtos, a prazo, ao atacadista. Concede-o depois, o atacadista, quando faz a venda desses mesmos produtos ao varejista. E concede-o, finalmente, o varejista, quando por sua vez, vende esses mesmos produtos ao consumidor final, a prazo. Bibliografia BRAGA, Roberto. Fundamentos e Técnicas de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1989. GITMAN, Lawrence, J. Princípios de Administração Financeira. 3ª. edição, São Paulo. Ed. Harper & Row: 1984. —————————— Princípios de Administração Financeira, 10a. edição. São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2004. site http://www.bcb.gov.br/?SFNCOMP, 9.6.2007, 8:20 h, do Banco Central do Brasil, sobre os agentes operadores do Sistema Financeiro Nacional. HOJI, Masakazu. Administração Financeira: uma abordagem prática: matemática financeira aplicada, estratégias financeiras, análise, planejamento e controle financeiro. 5ª. edição. São Paulo: Atlas, 2004. LEITE, Helio de Paula – Introdução à Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1994. MARION, José Carlos – Análise das Demonstrações Financeiras. São Paulo: Atlas, 2005.
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