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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E O GERENCIAMENTO DE CAPITAL AULA 3 Daniel Weigert Cavagnari 2 CONVERSA INICIAL Vimos na rota anterior que a administração financeira se baseia em escolhas, mas isso não significa que elas sejam aleatórias. Uma das principais questões que regem essas escolhas é a precisão ou, no mínimo, o máximo de precisão possível. A maior parte das incertezas devem ser transformadas em certezas. Dados coletados da realidade devem ser transformados em outros dados mais sintetizados, esclarecedores. Para tanto, unimos grandes e extensas informações financeiras e contábeis e as transformamos em dados que resumem as informações mais importantes, de forma mais clara. Essa fase da administração financeira é muito importante, porque é na reunião desses dados que estabelecemos informações de diagnóstico para tomadas de decisões precisas, ou ao menos bem próximas disso. CONTEXTUALIZANDO Em meados dos anos 1980, viajei com meu irmão em um Fusca rumo ao litoral. Nessa época as estradas não só eram precárias, como também inexistentes em muitos trechos. Um dia chovia muito, e sabíamos que, apesar de faltarem apenas 30 km do destino final, nos últimos 5 km, a estrada de início ao balneário, que não era asfaltada, estaria alagada e, no mínimo, ofereceria risco de atolamento. A questão era importante, principalmente porque chovia muito e a noite apenas havia começado. Não era possível parar e dormir no carro, por exemplo, porque até pelo para-brisa do Fusca entrava água. O risco ainda era maior se esperássemos no acostamento. Precisávamos de um lugar intermediário, que ficasse entre a alegria de chegar sãos e salvos e de ter passado a pior parte da viagem: este seria nosso ponto de equilíbrio. Isso mesmo, precisávamos parar em algum local onde pudéssemos acomodar o Fusca e a nós mesmos. Um hotel. De lá, no dia seguinte, o final da viagem seria mais seguro. Lembramos então que, de onde estávamos, se rodássemos por aproximadamente mais 20 km, estaríamos apenas a 10 km do nosso destino final e a 7 km de distância da entrada do balneário, trecho esse da estrada 3 provavelmente barrento e alagado. E nesse ponto, sabíamos que havia um município pequeno, que poderia nos oferecer hospedagem e refeição. Foram 20 km difíceis, lentos, mas pelo menos com a certeza de que não atolaríamos, nem ficaríamos sem apoio até para uma possível carona. Uma hora depois chegamos ao hotel. Nos acomodamos e no dia seguinte pela manhã seguimos nossa viagem. Não digo que foi um final de viagem tranquilo, mas pelo menos bem mais seguro. Em uma empresa, o ponto de equilíbrio significa uma condição de segurança a ser alcançada. A partir dele, os lucros aparecem. Antes dele, só prejuízo. E quanto mais tempo você permanecer antes desse ponto, maior o risco. Pesquise Com base na situação relatada, pesquise e apresente o máximo de Pontos de Equilíbrio (break-even point) que puder, de preferência relacionados a negócios e que possam fazer parte da produção, das vendas, dos recursos humanos, entre muitos outros. TEMA 1 – PONTO DE EQUILÍBRIO OPERACIONAL O ponto de equilíbrio operacional (PEO) é o nível de produção (quantidade produzida) ou atividade que torna o resultado operacional nulo, ou seja, as receitas operacionais (ROB) são iguais ao valor total dos custos e despesas operacionais (RT = CT ou ROB = COB). Por meio do PEO a empresa administra seu recurso mínimo produtivo, ou seja, a receita mínima que deverá cobrir seus custos e despesas totais. Perceba que o PEO é uma condição nula. Ou seja, ele não é bom nem ruim, no entanto, no ponto de equilíbrio operacional há mais perigo do que segurança. Imagine-se à beira de um penhasco: embora você não tenha caído, não significa que esteja seguro. Então, a linha que divide a segurança da queda no penhasco é nosso ponto de equilíbrio operacional. Lembre-se, portanto, de que a condição de ponto de equilíbrio se compara a uma possibilidade maior de prejuízo do que de lucratividade segura. Outra questão importante acerca da fronteira do penhasco, digo, do PEO, é onde ele está. Pense que nem sempre será dia, ou haverá uma planície que 4 nos permita perceber o ponto de equilíbrio de imediato. Assim, o importante é saber onde ele está, para nos distanciarmos dele o máximo possível. Para tanto, é preciso identificar o PEO, pois, ao contrário do que se imagina, nem sempre os custos e as receitas serão os mesmos. Mas afinal, o que leva uma empresa ao ponto de equilíbrio, abaixo ou acima dele? Veremos isso mais à frente. O PEO apresenta algumas formas específicas, com posicionamentos específicos. Vejamos: PEOq (PEO em quantidade produzida) – É o total que estabelece a quantidade mínima de unidades produtivas que deve ser produzida para se chegar ao ponto de equilíbrio da empresa. PEORT ou PEOR$ (PEO em receita total) – Estabelece a receita (faturamento) mínima, que, deduzidos os custos variáveis, seja suficiente para cobrir os custos fixos e determinar o ponto de equilíbrio operacional. PEO% (PEO em percentual) – Estipulado o limite máximo produtivo (infraestrutura), apresenta, em percentual, quanto está sendo usado da infraestrutura produtiva da empresa para se manter no PEO. Quanto maior esse percentual, maior o risco de a empresa não ter potencial de receita para um lucro maior. TEMA 2 – CUSTOS FIXO E VARIÁVEL Para calcular o PEO são necessárias algumas variáveis importantes, presentes no Demonstrativo de Resultado no Exercício (DRE). Outras variáveis também devem ser calculadas. Para tanto, vejamos algumas variáveis importantes nesse processo. 2.1 Custo Fixo (CF) ou Custo Fixo Total (CFT) São aqueles custos que se mantêm inalterados dentro de certos limites, independentemente das variações nos níveis de atividade. Exemplos de custos fixos são os aluguéis, entre outros, que não influenciam diretamente a produção. Os custos fixos sempre serão custos indiretos. 5 2.2 Custo Variável (CV) ou Custo Variável Total (CVT) São aqueles que variam proporcionalmente ao volume de produção ou outras medidas de atividade da empresa. Matéria-prima, mão de obra direta (operários), entre outros são exemplos de custos que variam conforme aumento ou diminua a produção. Exemplo: se aumentamos a produção de determinado bem, precisamos de mais matéria-prima (aumento nos custos de matéria-prima) e algumas vezes de mais trabalhadores. Esse aumento de custos foi ocasionado pelo aumento na produção, portanto são custos diretos e variáveis. Claro que a relação de custos variáveis ou fixos depende do tipo e do tamanho da empresa, por exemplo. A mão de obra operária em uma montadora de veículos é um custo variável. Duvida? Adivinhe quantos operários de montadoras de automóveis foram demitidos em 2015 por causa da queda na venda de automóveis? Já em uma panificadora ou posto de gasolina, o salário dos trabalhadores pode ser um custo fixo. Contabilmente falando, há condições ainda que tratam esse tipo de custo fixo como direto, considerando sua relação produtiva, mas sem alteração. Cargos como gerência de produção e supervisão são exemplos típicos disso. TEMA 3 – MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO 3.1 Margem de contribuição Antes de definir esse conceito, vamos lembrar alguns raciocínios de senso comum. Imagine que você preparou alguns doces para vender aos colegas na faculdade. Você levou 100 brigadeiros no primeiro dia. Esses brigadeiros custaram-lhe, considerando seu trabalhoe os ingredientes R$ 50,00. Na faculdade você vendeu todos eles a R$ 2,00 cada um, rendendo-lhe R$ 200,00 no total. Qual o seu lucro? Fazendo os cálculos: R$ 200,00 de receita, menos R$ 50,00 de custos, total de R$ 150,00 de lucro. Certo? Errado! Esses R$ 150,00 que você chama de lucro é, na verdade, a margem de contribuição (MC). O lucro (lucro operacional bruto) só ocorrerá quando forem descontados os custos fixos. A margem de contribuição é calculada da seguinte forma: 6 MC = RT – CVT Em que: RT = Receita total CVT = Custos variáveis totais Se a margem de contribuição for suficiente apenas para cobrir os custos fixos, chega-se ao PEO. Se for maior, há lucro. Portanto, MC é o valor com o qual a produção vendida contribui para o pagamento dos custos fixos e a obtenção do lucro. Vejamos esse raciocínio: PEO = R$ 80,00 ou CF = R$ 30,00 e CV = R$ 50,00. Nesse caso o PEO será o mesmo que os custos totais (CT). Nesse caso, uma margem de contribuição de R$ 150,00 cobriria os R$ 30,00 de CF. A diferença disso, portanto, seria o lucro, ou seja, R$ 120,00. Da mesma forma que se operam os valores em totais, é possível calcular considerando unidades, conforme determinada quantidade de itens produzidos. Pense assim: todo produto tem um preço unitário de venda (PV), deve ter um custo médio (CMT) ou custo unitário, um custo variável unitário (CVu) e também uma margem de contribuição unitária (MCu). 3.2 Margem de contribuição unitária (MCu) É o valor com o qual cada unidade produzida vendida, dado seu preço unitário menos seu custo variável unitário, contribui para o pagamento dos CF e a obtenção do lucro desejado. 3.3 Cálculo aplicado ao PEO Vejamos a seguir quais as fórmulas que nos permitem chegar aos valores dessas variáveis: CVU = 𝑪𝑽𝑻 𝒒 MCU = PV – CVu MC = 1- 𝑪𝑽𝑻 𝑹𝑻 PEOq = 𝑪𝑭𝑻 𝑴𝑪𝑼 PEOq = 𝑷𝑬𝑶𝑹$ 𝑷𝑽 PEOR$ = PEOq * PV PEOR$ = 𝑪𝑭𝑻 𝟏− 𝑪𝑽𝑻 𝑹𝑻 PEOR$ = 𝑪𝑭𝑻 𝑴𝑪 PEO% = 𝑪𝑭𝑻 𝑹𝑻−𝑪𝑽𝑻 *100 7 Exemplo: Considerando os valores a seguir, apure o ponto de equilíbrio operacional (PEO) em quantidades físicas, em volume de receita (RT) e em percentual. CF: R$ 300.000,00 CV: R$ 1.800.000,00 Produção mensal: 200.000 unidades Preço de venda: R$ 12,00 CVU = 1.800.000/200.000 = R$ 9,00 MCU = 12 – 9 = R$ 3,00 PEOq = 300.000/3 = 100.000 unidades MC = 1- 1.800.000/2.400.000 = 1 - 0,75 = 0,25 PEOR$ = 100.000 * 12,00 = 1.200.000,00 Ou PEOR$ = 300.000/(1-1.800.000/2.400.000)=300.000/0,25 = R$ 1.200.000,00 PEO% = 300.000/(2.400.000-1.800.000)*100 = 50% O PEOR$ vale R$ 1.200.000,00, ou seja, esse é o mínimo que a empresa deve faturar para que todos seus custos sejam cobertos. Qualquer valor que ultrapasse essa cifra será seu lucro operacional bruto (Ex.: 1.200.001,00, lucro de R$ 1,00). Abaixo, prejuízo. O PEOq é de 100.000 unidades. Ou seja, se a empresa produzir 100.000 unidades cobrirá todos os seus custos (PEO). 99.999 unidades, prejuízo. Como se trata de uma unidade abaixo do mínimo, com margem de contribuição unitária (MCu) de R$ 3,00, prejuízo de R$ 3,00. Nosso PEO% de 50% identifica, dado o potencial atual de 200.000 unidades, que para chegar ao PEO é necessário apenas 50% da capacidade. Vejamos outro exemplo, agora partindo de uma Demonstração de Resultados do Exercício (DRE) simplificada: Com base na DRE a seguir, apure o ponto de equilíbrio operacional em receita e percentual (PEOR$ e PEO%). Em seguida, ajuste a DRE com produção a 50% (metade da produção atual) e recalcule o PEO com a nova receita. 8 Metade da PEO% produção 40,3% DISCRIMINAÇÃO 100% 50% Ponto Equilíbrio 1. Receita operacional 189.430,00 94.715,00 76.316,38 2. Custos totais 116.538,80 82.858,80 76.316,38 2.1. Custos variáveis 67.360,00 33.680,00 27.137,58 2.2. Custos fixos 49.178,80 49.178,80 49.178,80 3. Lucro operacional 72.891,20 11.856,20 – 4. I.R. + Contr. Social (7%) 5.102,38 829,93 – 5. Lucro Líq. Anual após IR 67.788,82 11.026,27 – 6. Lucro Líq. Mensal após I.R. 5.649,07 918,86 – MC = 1- CVT/RT Assim: PEOR$ = CFT/(1 - CVT/RT) PEOR$ = (49178,8)/(1 – 67.360/189.430) = 76.316,38 (a 100%) PEOR$ = (49178,8)/(1 – 33.680/94.715) = 76.316,38 (a 50%) PEO% = (49178,8)/(189.430 - 67.360)*100 = 40,33% * 189.430 = 76.316,38 Note na DRE que a receita operacional diminui, assim como os custos variáveis, pela metade. Já o custo fixo (por ser fixo) permanece o mesmo. Para o cálculo do PEOR$, não importa a capacidade produtiva, o PEO será sempre o mesmo. Concluindo: Os custos fixos da empresa e os custos variáveis unitários (CVu) são proporcionais ao ponto de equilíbrio operacional. Se aumentam, o PEO aumenta, e vice-versa. O PEO tem relação direta com os custos totais da empresa. Consequência do CT = CF + CV. Alterações na produção (aumento ou diminuição da quantidade produzida) não afetam o PEO. O custo variável total, se alterado pela quantidade produzida (CV = q * CVu), não influencia o PEO. 9 Uma alteração na receita total, dada uma mudança na quantidade produzida (RT = q * PV), não altera o PEO. Portando, influências em qualquer variável (RT, CT e CVT) dadas pela quantidade produzida (e vendida), não alteram o PEO. O preço unitário do produto é inversamente proporcional ao PEO. O PEO% se altera proporcionalmente à receita máxima estabelecida. Um PEO é considerado alto quando está próximo da receita máxima permitida pela empresa. Um aumento no custo fixo, caracterizado por investimentos em ampliação na estrutura produtiva da empresa (possibilidade de maior receita), no longo prazo, reduz o PEO. Saiba mais Análise do ponto de equilíbrio e alavancagem operacional como fatores de tomada de decisão na definição de metas de vendas e lucros. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/producao-academica/analise-do-ponto-de- equilibrio-e-alavancagem-operacional-como-fatores-de-tomada-de-decisao-na- definicao-de-metas-de-vendas-e-lucros/5864/>. Acesso em 21 maio 2017. TEMA 4 – GRAU DE ALAVANCAGEM OPERACIONAL O Grau de Alavancagem Operacional (GAO) é a variação do resultado operacional (lucro) ocasionada por uma alteração no volume de produção (quantidade) e venda da empresa, em proporção maior. Ou seja, a produção aumenta, e, se o lucro aumentar em proporção maior, significa que os custos fixos estão excessivamente altos. Porém, o efeito contrário (redução nas vendas) também é previsto e arriscado. A questão é a proximidade do faturamento com o ponto de equilíbrio da empresa. Se próximo, qualquer aumento passa a ser significativo. O GAO é uma ferramenta importante na identificação da saúde da empresa. Vejamos um exemplo: 10 Tabela 1 – Nível de grau de alavancagem TIPO PEO LUCRO STATUS EXEMPLO GAO alto Proximidade do PEO Aumento dos lucros é proporcionalmente bem maior que o aumento da receita Situação problemática GAO = 5 (o grau alto depende do tipo da empresa). Para cada unidade % de aumento na produção, os lucros aumentam 5 vezes mais. GAO médio Pouco próximo do PEO Aumento dos lucros é proporcionalmente maior que o aumento da receita Situação de atenção GAO = 3 Para cada unidade % de aumento na produção, os lucros aumentam 3 vezes mais. GAO baixo Distante do PEO Aumento dos lucros é igual à receita ou apenas um pouco maior Situação confortávelGAO = 1 (Abaixo de 2 é bem confortável na maioria dos casos). Para cada unidade % de aumento na produção, os lucros aumentam na mesma proporção. Fonte: O autor. Aparentemente parece que um GAO alto (aumento dos lucros em proporção maior que a receita) é uma coisa boa, contudo, não é. Se está alto, significa que há uma proximidade do PEO e, portanto, proximidade do penhasco. A lógica é a seguinte: Lucro e receita próximos ao PEO: PEO = R$ 100,00 Receita = R$ 110,00 Lucro = 10 Aumento da receita em 100%: PEO = R$ 100,00 Receita = R$ 200,00 Lucro = R$ 110,00 GAO = 10 ou aumento em 1.000% nos lucros. No exemplo, houve um aumento de 100% na receita e 1.000% nos lucros. Vejamos agora um lucro e receita distantes do PEO: PEO = R$ 100,00 Receita = R$ 1.100,00 11 Lucro = R$ 1.000,00 Aumento da receita em 100%: PEO = R$ 100,00 Receita = R$ 2.200,00 Lucro = R$ 2.100,00 (110%) GAO = 1,1 ou aumento em 110% nos lucros. Note que, com a receita de R$ 1.100,00, há uma distância do PEO (R$ 100,00), portanto, uma situação confortável. Outra questão é o lucro. Anteriormente houve um lucro (em valor) de apenas R$ 100,00 a mais, apesar do aumento em percentual ter sido significativo (1000%). Agora, com um GAO baixo e longo do PEO, houve um aumento no lucro de R$ 1.100,00, ou seja, de apenas 110%. O que é melhor, um aumento de 1000% ou 110%? Entretanto, essa é a pergunta errada. A certa é, o que é melhor, um aumento de R$ 100,00 (1000%) ou de R$ 1.100,00 (110%)? Obviamente o melhor é um lucro maior, R$ 1.100,00. 4.1 Cálculo do grau de alavancagem operacional GAO = △% 𝐋𝐮𝐜𝐫𝐨 △% 𝐕𝐨𝐥𝐮𝐦𝐞 𝐚𝐭𝐢𝐯𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 Para calcularmos o GAO, necessitamos calcular, antes de tudo, o PEO em quantidades. Na sequência, utilizamos as seguintes fórmulas (MCu e PEOq iniciam os cálculos): MCU = PV – CVu PEOq = CF MCU LO = (q atual – PEOq) * MCU ↑LO = (q atual + △%q – PEOq) * MCU △LO% = Valor final − Valor inicial Valor inicial (x100) ou △LO% = Valor final Valor inicial -1 (x100) GAO = △%LO △%q ou GAO = △%LO △%RT 12 Veja que, o cálculo do GAO é simplesmente a fórmula GAO = (△%LO)/(△%q). Porém, algumas variáveis, que não temos, devem ser calculadas. Vejamos nosso exemplo anterior: Atual PEO = R$ 100,00 Receita = R$ 1.100,00 Lucro = R$ 1.000,00 Aumento da receita em 100%: PEO = R$ 100,00 Receita = R$ 2.200,00 Lucro = R$ 2.100,00 (110%) Assim, precisamos primeiramente calcular a variação das mudanças: △%Receita = (2.200 )/1.100 – 1 = 100% △LO% = (2.100 )/1.000 – 1 = 110% GAO = (△%LO)/(△%RT) = 110/100 = 1,1 Grau de alavancagem = 1,1. Baixo grau, distância significativa do PEO, lucro efetivo alto. Boa condição. Por vezes, calculamos o GAO em condições mais aprofundadas, como uma condição de aumento na quantidade produzida, comparando alguns níveis projetáveis de produção e uma condição média de aumento nas vendas. Exemplo: Calcule o GAO da empresa a seguir para os seguintes níveis de produção e venda: Janeiro/2016 Fevereiro/2016 Março/2016 500 unidade 1.000 unidades 2.000 unidades Considere ainda os seguintes dados: Custo fixo mensal: R$ 2.000,00 Custo variável unitário: R$ 10,00 Preço de venda: R$ 15,00 Percentual de variação média nas vendas: 30% MCU = PV – Cvu = 15 – 15 = 5 PEOq = CF/MCU = 2000/(15-10) = 400 unidades Produção em 500 unidades: LO = (500 – 400) * 5 = R$ 500,00 Aumentando em 30% as vendas, o lucro operacional passa a: 13 (500,00 * 1,30 – 400) * 5 = R$ 1.250,00 Variação no lucro operacional: △LO% = (1.250-500)/500 = 150,0% GAO = (150,0%)/(30%) = 5,0 (Ou seja, a cada unidade % na variação das vendas (q), ocorre uma variação 5 vezes maior no lucro operacional). Produção em 1.000 unidades: LO = (1.000 – 400) * 5 = R$ 3.000,00 Aumentando em 30% as vendas, o lucro operacional: (1.000 * 1,30 – 400) * 5 = R$ 4.500,00 △LO% = (4.500-3000)/3000 = 50,0% GAO = (50,0%)/(30,0%) = 1,67 (A cada unidade percentual na variação das vendas, o lucro aumenta percentualmente 1,67 vezes). Apesar de o GAO ser menor que o anterior, há uma condição de lucros mais atraente. Produção em 2.000 unidades: LO = (2.000 – 400) * 5 = R$ 8.000,00 Aumentando em 30% as vendas, o lucro operacional: (2.000 * 1,30 – 400) * 5 = R$ 11.000,00 △LO% = (11.000-8.000)/8.000 = 37,5% GAO = (37,5%)/(30%) = 1,25 (A cada unidade percentual na variação das vendas, o lucro aumenta percentualmente 1,25 vezes). Note que a partir de um GAO baixo, a diferença não é tão maior. O GAO mínimo é de 1,0. Conclusão: Quanto menor o GAO, menor é o impacto dos CF, menor será a alavancagem e maior será o lucro. Quanto maior o GAO, maior é o impacto dos CF, maior será a alavancagem nos lucros e menor será o lucro em volume. Essa condição ocorre pela proximidade da produção ao PEO. Quanto mais distante a empresa estiver operando do PEO (GAO baixo), menor será o impacto em uma provável queda nas vendas. 14 Leitura complementar “Alavancagem operacional”. In: LUZ, A. E. da. Introdução à administração financeira e orçamentária. Curitiba: Intersaberes, 2015, p. 149-151. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788544301814/pages/149>. TEMA 5 – GRAU DE ALAVANCAGEM FINANCEIRA Apesar do termo alavancagem, não há uma relação direta entre o grau de alavancagem financeira (GAF) e o GAO. A principal característica do GAF é o risco, que nesse caso são os juros pagos às instituições financeiras. Imagine que uma empresa necessita de capital externo (empréstimo bancário, venda de ações na bolsa, entre outros). Esse capital, apesar de ser uma entrada de recurso na empresa, gera uma despesa de juros que devem ser pagos ao credor. Considere a seguinte situação. Você tem uma empresa que fatura R$ 100.000,00 por mês. Faz um empréstimo de R$ 50.000,00 para investir em uma nova máquina. Essa nova máquina vai gerar duas reações no fluxo de caixa, o lucro pelo seu uso e a despesa de juros pelo pagamento do investimento. Assim, calculamos o GAF que o investimento da máquina gerou. Ou melhor, calculamos o GAF causado pela entrada de capital de terceiros. Vejamos: GAF = (∆%Lucro)/(∆%LAJIR) Ou GAF = LAJIR/LAIR Sendo que: LAJIR: Lucro apresentado no DRE antes dos juros (pagos aos credores) e antes do Imposto de Renda. LAIR: Lucro antes do IR (depois que pagou os juros). O GAF é um indicador que segue este raciocínio: Se o resultado do cálculo estabelecer um GAF = 1, a alavancagem financeira foi nula. Ou seja, a variação do lucro líquido foi a mesma da variação 15 do LAJIR. Ou então o valor do LAJIR foi o mesmo do LAIR, portanto, ou não houve captação de recurso de terceiros ou os recursos do empréstimo geraram um lucro equivalente a não fazer o investimento. Se o GAF > 1, temos uma alavancagem financeira favorável, pois os empréstimos adquiridos e aplicados geraram um lucro maior e, portanto, um aumento no patrimônio líquido da empresa, apesar das despesas de juros. Se o GAF < 1, o investimento não foi satisfatório, pois as despesas com os juros, gerados pelo uso de capital de terceiros, foram maiores que os benefícios adquiridos. Neste caso, os terceiros estarão absorvendo o patrimônio da empresa, reduzindo-o. O GAF é um índice simples, mas preciso. Leitura obrigatória “Alavancagem financeira”.In: LUZ, A. E. da. Introdução à administração financeira e orçamentária. Curitiba: Intersaberes, 2015, pp. 151-155. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788544301814/page s/149>. TROCANDO IDEIAS Pesquise o conceito de custo fixo (CF), o qual se mantém o mesmo (ou no mesmo nível em média) quando há um aumento produtivo (mais produtos produzidos, vendidos ou mais serviços prestados). Pesquise também o custo variável (CV), que, a cada aumento do produto ou serviço, varia em proporção equivalente. Munido dessa pesquisa, apresente uma atividade qualquer, comercial ou não, determinando quais são seus custos fixos e quais são seus custos variáveis. Uma dica: o churrasco da turma. NA PRÁTICA Dados os valores a seguir, apure o GAO, com base em um aumento de 20% na produção (quantidade produzida) mensal. Custo fixo (CF): R$ 295.900,00 Custo variável (CV): R$ 1.470.833,33 16 Produção mensal (q): 165.250 unidades produzidas Preço de venda do produto (PV): R$ 13,35 Fórmulas aplicadas (em ordem) CVu = CV q MCU = PV – CVu PEOq = CF MCU LO = (quant. atual – PEOq) * MCU ↑LO = (quant. atual + △%q – PEOq) * MCU △%LO = ↑LO − LO LO GAO = △%LO △%q Gabarito: CVu = 1.470.833,33 165.250 = 8,90 MCU = 13,35 – 8,90 = 4,45 PEOq = 295.900 4,45 = 66.494,38 LO = (165.250 – 66.494,38) * 4,45 = 439.462,51 ↑LO = (165.250 + 20% – 66.494,38) * 4,45 = (198.300 – 66.494,38) * 4,45 = 586.535,01 △%LO = 586.535,01−439.462,51 439.462,51 = 33,47% GAO = 33,47% 20% = 1,67 Responda: 1. Qual o diagnóstico decorrente do GAO calculado? Justifique. 2. Que variáveis influenciam o grau de alavancagem operacional? 3. Quais delas podem ser mudadas por decisões administrativas? Por quê? FINALIZANDO Nesta aula pudemos observar algumas ferramentas essenciais para suporte e apoio à administração financeira. Ferramentas para cálculo, projeções e planificações dos dados, utilizando planilhas e fórmulas específicas para essa função. Também foram abordadas algumas questões que nos fazem refletir acerca dos investimentos. Vimos, ainda, alguns instrumentos de raciocínio e projeção de dados para análise, fundamental para previsões gerenciais com menor ou maior risco, tanto de investimento, quanto de ampliação. REFERÊNCIAS ANDRICH, E. G.; CRUZ, J. A. W. Gestão financeira moderna: uma abordagem prática. Curitiba: Intersaberes, 2013. ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2008. CHIAVENATO, I. Gestão financeira: uma abordagem introdutória. 3. ed. Barueri: Manole, 2014. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. HOJI, M. Administração financeira: uma abordagem prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006. LUZ, A. E. da. Introdução à administração financeira e orçamentária. Curitiba: InterSaberes, 2015. REHDER, M. Indústria paga caro por empréstimos. Remade. Disponível em: <http://www.remade.com.br/noticias/1924/industria-paga-caro-por- emprestimos>. Acesso em: 21 maio 2017. SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de economia. 6. ed. São Paulo: Best Seller, 2001. SILVA, B. W. S. Objetivos da administração financeira. Administradores. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e- financas/objetivos-da-administracao-financeira/69169/> Acesso em: 21 maio 2017. SILVA, J. P. da. Análise financeira das empresas. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2008. WESTON, J. F.; BRIGHAM, E. F. Fundamentos da administração financeira. 10. ed. São Paulo: Makron Books, 2004.
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