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ȱ 1 Capítuloȱ 01:ȱ Basesȱ filosóficasȱ eȱ noçãoȱ deȱ ciênciaȱ emȱ AnáliseȱdoȱComportamentoȱ ȱ MárcioȱBorgesȱMoreiraȱ InstitutoȱdeȱEducaçãoȱSuperiorȱdeȱBrasíliaȱ UniversidadeȱdeȱBrasíliaȱ EleniceȱSeixasȱHannaȱ UniversidadeȱdeȱBrasíliaȱ ȱ ȱ Esseȱcapítuloȱ temȱoȱobjetivoȱdeȱapresentar,ȱemȱ linhasȱgerais,ȱumaȱfilosofiaȱchamadaȱ Behaviorismoȱ Radicalȱ eȱ umaȱ abordagemȱ psicológicaȱ (ouȱ ciênciaȱ doȱ comportamento)ȱ chamadaȱAnáliseȱdoȱComportamento,ȱbemȱcomoȱestabelecerȱrelaçõesȱentreȱambas.ȱFaremosȱ umaȱdistinçãoȱ importanteȱ entreȱoȱBehaviorismoȱRadicalȱ (correnteȱatual)ȱ eȱoȱBehaviorismoȱ Metodológico.ȱÉȱ importanteȱqueȱoȱ leitorȱatenteȱparaȱestaȱdistinção,ȱpoisȱaȱ faltaȱdelaȱé,ȱemȱ parte,ȱaȱrazãoȱdeȱmuitasȱcríticasȱincorretasȱfeitasȱaoȱmodernoȱBehaviorismoȱRadical.ȱ ȱ OȱpensamentoȱdeȱB.ȱF.ȱSkinnerȱeȱalgunsȱdosȱprincipaisȱpressupostosȱfilosóficosȱdeȱsuaȱ obraȱ serãoȱapresentadosȱbrevemente,ȱeȱ terãoȱaȱ funçãoȱdeȱ fornecerȱaoȱ leitorȱumȱ referencialȱ teóricoȱbásicoȱparaȱaȱmelhorȱapreciaçãoȱdosȱdemaisȱcapítulosȱdesseȱlivro.ȱAlémȱdosȱaspectosȱ concernentesȱ aoȱ Behaviorismoȱ Radical,ȱ apresentaremosȱ tambémȱ aȱ noçãoȱ deȱ ciênciaȱ emȱ Análiseȱ doȱ Comportamentoȱ eȱ algumasȱ deȱ suasȱ característicasȱ principais:ȱ seuȱ objetoȱ deȱ estudo,ȱsuaȱunidadeȱdeȱanáliseȱeȱseuȱmétodo.ȱ OȱSurgimentoȱdoȱBehaviorismoȱ ȱ Porȱ voltaȱ doȱ finalȱ doȱ séc.ȱ XIXȱ aȱ Psicologiaȱ começaȱ aȱ constituirȬseȱ comoȱ ciênciaȱ independenteȱ embalada,ȱ principalmente,ȱ pelasȱ pesquisasȱ deȱ Gustavȱ Fechnerȱ eȱ Wilhelmȱ Wundtȱ (cf.ȱ Goodwin,ȱ 2005/2005).ȱ Essenciaisȱ aoȱ surgimentoȱ eȱ desenvolvimentoȱ deȱ umaȱ ciênciaȱsãoȱaȱdefiniçãoȱdoȱseuȱobjetoȱdeȱestudoȱeȱdoȱseuȱmétodo.ȱNestaȱépoca,ȱsobretudoȱapósȱ WundtȱterȱcriadoȱoȱprimeiroȱlaboratórioȱdeȱPsicologiaȱexperimentalȱemȱLeipzig,ȱAlemanha,ȱ tornouȬseȱdifundidaȱaȱidéiaȱdeȱqueȱoȱobjetoȱdeȱestudoȱdaȱPsicologiaȱeraȱaȱconsciênciaȱ(eȱseusȱ elementosȱ constituintes)ȱ eȱ oȱ métodoȱ eleito,ȱ aȱ introspecçãoȱ experimental1ȱ (cf.ȱ Goodwin,ȱ 2005/2005).ȱÉȱnesteȱ contextoȱ que,ȱ emȱ 1913,ȱ oȱpsicólogoȱ JohnȱBroadusȱWatsonȱpublicaȱumȱ artigoȱ intituladoȱ “Aȱ Psicologiaȱ comoȱ umaȱ behavioristaȱ aȱ vê2”.ȱ Esteȱ artigoȱ ficouȱ conhecidoȱ posteriormenteȱcomoȱ“OȱManifestoȱBehaviorista3”.ȱ ȱ Emȱ seuȱartigo,ȱWatsonȱ (1913)ȱargumentouȱqueȱoȱusoȱdaȱ introspecçãoȱ experimentalȱ comoȱmétodoȱprincipalȱ falhouȱ emȱ estabelecerȱ aȱPsicologiaȱ comoȱumaȱ ciênciaȱnaturalȱ (umaȱ ciênciaȱqueȱlidaȱcomȱfenômenosȱqueȱocupamȱlugarȱnoȱtempoȱeȱnoȱespaço,ȱcomoȱaȱFísicaȱeȱaȱ Química).ȱ Aȱ críticaȱ deȱ Watsonȱ baseavaȬseȱ principalmenteȱ naȱ faltaȱ deȱ replicabilidadeȱ dosȱ resultadosȱproduzidos,ȱistoȱé,ȱquandoȱseȱrealizavaȱnovamenteȱumaȱmesmaȱpesquisaȱcomȱumȱ outroȱsujeito,ȱumaȱpessoaȱdiferente,ȱosȱresultadosȱencontradosȱeramȱdiferentesȱdaȱpesquisaȱ ȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱ 1ȱOsȱparticipantesȱdasȱpesquisasȱeramȱexaustivamenteȱ treinadosȱaȱdescreverȱestímulosȱapresentadosȱ peloȱexperimentadorȱantesȱdaȱrealizaçãoȱdaȱtarefaȱexperimentalȱpropriamenteȱdita.ȱ 2ȱTítuloȱoriginal:ȱ“PsychologyȱasȱtheȱBehavioristȱViewsȱit”.ȱ 3ȱ Matosȱ (1997/2006)ȱ apontaȱ queȱ oȱ “Manifesto”,ȱ naȱ verdade,ȱ correspondeȱ aȱ umȱ conjuntoȱ deȱ documentos,ȱeȱnãoȱapenasȱaoȱartigoȱseminalȱdeȱ1913.ȱ ȱ 2 anterior.ȱParaȱseȱterȱumaȱidéiaȱdoȱqueȱrepresentaȱesseȱproblema,ȱimagine,ȱporȱexemplo,ȱqueȱ seȱoȱmesmoȱproblemaȱ fosseȱ encontradoȱnaȱ farmacologia,ȱ cadaȱ indivíduoȱqueȱ tomasseȱumȱ analgésicoȱ teriaȱ umaȱ reaçãoȱ completamenteȱ diferenteȱ e,ȱ provavelmente,ȱ nenhumaȱ dessasȱ reaçõesȱseriaȱaȱdiminuiçãoȱdeȱumaȱdorȱdeȱcabeça.ȱ ȱ Watsonȱ (1913)ȱ salientouȱ tambémȱ outroȱ problemaȱ importanteȱ comȱ relaçãoȱ àȱ introspecçãoȱexperimental:ȱaȱ“culpa”ȱdasȱdiferençasȱentreȱosȱresultadosȱobtidosȱaȱpartirȱdeȱ talȱmétodoȱeraȱatribuídaȱaosȱsujeitosȱ(queȱeramȱtambémȱosȱobservadores),ȱeȱnãoȱaoȱmétodoȱ ouȱ àsȱ condiçõesȱ experimentaisȱ nasȱ quaisȱ essesȱ resultadosȱ foramȱ produzidos.ȱ Se,ȱ porȱ exemplo,ȱasȱimpressõesȱdeȱumȱsujeitoȱsobreȱumȱdeterminadoȱobjeto,ȱumaȱfruta,ȱporȱexemplo,ȱ diferiamȱ dasȱ impressõesȱ deȱ outroȱ sujeito,ȱ diziaȬseȱ queȱ umȱ delesȱ nãoȱ haviaȱ aprendidoȱ corretamenteȱ aȱ fazerȱ introspecçãoȱ (aȱ fazerȱ observaçõesȱ corretasȱ deȱ seusȱ estadosȱmentais).ȱ ParaȱWatson,ȱaȱPsicologiaȱdeveriaȱ seguirȱoȱexemploȱdeȱ ciênciasȱbemȱestabelecidasȱ comoȱaȱ Físicaȱ eȱ aȱ Química,ȱ queȱ atribuíamȱ asȱ falhasȱ emȱ suasȱ pesquisasȱ aosȱ instrumentosȱ eȱ aosȱ métodosȱutilizadosȱemȱseusȱestudos,ȱoȱqueȱlevariaȱaȱPsicologiaȱaȱumȱpatamarȱequivalenteȱdeȱ conhecimentoȱdoȱseuȱobjetoȱdeȱestudo.ȱ ȱ Watsonȱ (1913)ȱpropôsȱentãoȱ comoȱprincipaisȱobjetivosȱdaȱPsicologiaȱaȱprevisãoȱeȱoȱ controleȱ doȱ comportamento.ȱ Oȱ comportamentoȱ observávelȱ (porȱ maisȱ deȱ umȱ observador)ȱ seriaȱ oȱ objetoȱ deȱ investigaçãoȱ aȱ partirȱ doȱ métodoȱ experimental,ȱ noȱ qualȱ seȱ manipulaȱ sistematicamenteȱcaracterísticasȱdoȱambienteȱeȱverificaȬseȱoȱefeitoȱdeȱtaisȱmanipulaçõesȱsobreȱ oȱ comportamentoȱ dosȱ sujeitos.ȱ Paraȱ Watson,ȱ emboraȱ oȱ comportamentoȱ humanoȱ fosseȱ oȱ principalȱ interesseȱ daȱ Psicologia,ȱ oȱ comportamentoȱ animalȱ tambémȱ deveriaȱ serȱ estudadoȱ comoȱparteȱimportanteȱdaȱagendaȱdeȱpesquisasȱdessaȱciência.ȱAȱobraȱdeȱWatsonȱestendeuȬseȱ alémȱ doȱ textoȱ deȱ 1913ȱ eȱ incluía,ȱ segundoȱ Matosȱ (1997/2006),ȱ asȱ seguintesȱ características/proposiçõesȱprincipais:ȱȱ ȱ (...)ȱ estudarȱ oȱ comportamentoȱ porȱ siȱmesmo;ȱ oporȬseȱ aoȱMentalismoȱ eȱ ignorarȱ fenômenos,ȱ comoȱconsciência,ȱsentimentosȱeȱestadosȱmentais;ȱaderirȱaoȱevolucionismoȱbiológicoȱeȱestudarȱ tantoȱ oȱ comportamentoȱ humanoȱ quantoȱ oȱ animal,ȱ considerandoȱ esteȱ últimoȱ maisȱ fundamental;ȱadotarȱoȱdeterminismoȱmaterialístico;ȱusarȱprocedimentosȱobjetivosȱnaȱcoletaȱdeȱ dados,ȱ rejeitandoȱ aȱ introspecção;ȱ realizarȱ experimentaçãoȱ controlada;ȱ realizarȱ testesȱ deȱ hipótese,ȱdeȱpreferênciaȱcomȱgrupoȱdeȱcontrole;ȱobservarȱconsensualmente;ȱevitarȱaȱtentaçãoȱ deȱ recorrerȱaoȱ sistemaȱnervosoȱparaȱ explicarȱoȱ comportamento,ȱmasȱ estudarȱatentamenteȱaȱ açãoȱ dosȱ órgãosȱ periféricos,ȱ dosȱ órgãosȱ sensoriais,ȱ dosȱ músculosȱ eȱ dasȱ glândulasȱ (Matos,ȱ 1997/2006,ȱp.ȱ64).ȱ ȱ ȱ Oȱ“ManifestoȱBehaviorista”,ȱ comoȱ ficouȱ conhecidoȱoȱartigoȱdeȱWatsonȱ (1913),ȱ éȱumaȱ espécieȱdeȱmarcoȱhistóricoȱdoȱsurgimentoȱdoȱBehaviorismo.ȱEmboraȱalgumasȱdasȱconcepçõesȱ apresentadasȱ porȱWatsonȱ emȱ suaȱ obraȱ aindaȱ seȱ façamȱ presentes,ȱ noȱ queȱ seȱ conheceȱ porȱ Behaviorismoȱ Radicalȱ (Skinner,ȱ 1974/2003),ȱ aȱ propostaȱ originalȱ sofreuȱ inúmerasȱ reformulaçõesȱ eȱ aȱ corretaȱ compreensãoȱ doȱ queȱ éȱ oȱ Behaviorismoȱ deveȱ serȱ buscadaȱ principalmenteȱnãoȱnaȱobraȱdeȱWatson,ȱmasȱnaȱobraȱdeȱBurrhusȱFredericȱSkinner.ȱ OȱBehaviorismoȱRadicalȱdeȱB.ȱF.ȱSkinnerȱ OȱBehaviorismoȱnãoȱ éȱ aȱ ciênciaȱdoȱ comportamentoȱhumano,ȱmas,ȱ sim,ȱ aȱ filosofiaȱdessaȱ ciência.ȱAlgumasȱdasȱquestõesȱqueȱeleȱpropõeȱsão:ȱÉȱpossívelȱ talȱciência?ȱPodeȱelaȱexplicarȱ cadaȱ aspectoȱdoȱ comportamentoȱhumano?ȱQueȱmétodosȱpodeȱ empregar?ȱ Sãoȱ suasȱ leisȱ tãoȱ válidasȱ quantoȱ asȱ daȱ Físicaȱ eȱ daȱ Biologia?”ȱ Proporcionaráȱ elaȱ umaȱ tecnologiaȱ e,ȱ emȱ casoȱ ȱ 3 positivo,ȱqueȱpapelȱdesempenharáȱnosȱassuntosȱhumanos?ȱSãoȱparticularmenteȱ importantesȱ suasȱrelaçõesȱcomȱasȱformasȱanterioresȱdeȱtratamentoȱdoȱmesmoȱassunto.ȱOȱcomportamentoȱ humanoȱéȱoȱtraçoȱmaisȱfamiliarȱdoȱmundoȱemȱqueȱasȱpessoasȱvivem,ȱeȱdeveȬseȱterȱditoȱmaisȱ sobreȱeleȱdoȱqueȱsobreȱqualquerȱoutraȱcoisa.ȱEȱdeȱtudoȱoȱqueȱfoiȱdito,ȱoȱqueȱvaleȱaȱpenaȱserȱ conservado?ȱ(Skinner,ȱ1974/2003,ȱp.ȱ7,ȱgrifoȱnosso).ȱ ȱ ȱ Éȱ destaȱ formaȱ queȱ Skinnerȱ (1974/2003)ȱ começaȱ seuȱ livroȱ chamadoȱ “Sobreȱ oȱ Behaviorismo”.ȱDestacaȬseȱnestaȱcitaçãoȱumaȱdistinçãoȱgeralmenteȱnegligenciada:ȱaȱdiferençaȱ entreȱ Behaviorismoȱ eȱAnáliseȱ doȱComportamento.ȱCiênciaȱ eȱ Filosofiaȱ –ȱ ouȱ conhecimentoȱ científicoȱeȱconhecimentoȱfilosóficoȱ–ȱandam,ȱgeralmente,ȱdeȱbraçosȱdados,ȱmasȱháȱdiferençasȱ entreȱ umaȱ eȱ outra.ȱ Comoȱ destacadoȱ porȱ Skinnerȱ noȱtrechoȱ acima,ȱ quandoȱ falamosȱ deȱ Behaviorismo,ȱestamosȱdiscutindoȱquestõesȱfilosóficas,ȱ istoȱé,ȱquestõesȱqueȱorientamȱaȱformaȱ comoȱentendemosȱoȱmundoȱouȱumaȱparteȱespecíficaȱdele;ȱestamosȱfalandoȱdeȱumaȱvisãoȱdeȱ mundo.ȱAȱprópriaȱpossibilidadeȱdeȱumaȱ ciênciaȱdoȱ comportamentoȱ é,ȱ emȱ si,ȱumaȱquestãoȱ filosófica,ȱéȱumaȱquestãoȱdeȱcomoȱ“enxergamos”ȱoȱserȱhumano.ȱ BehaviorismosȱeȱasȱVicissitudesȱdoȱSistemaȱSkinnerianoȱȱ ȱ UmaȱconsultaȱrápidaȱsobreȱoȱBehaviorismoȱemȱmuitosȱdosȱmanuaisȱintrodutóriosȱdeȱ Psicologiaȱouȱ livrosȱdeȱHistóriaȱdaȱPsicologia,ȱatuaisȱeȱantigos,ȱ revelaráȱcríticasȱ tenazesȱaoȱ Behaviorismo,ȱ críticasȱ estasȱ apresentadas,ȱ muitasȱ vezes,ȱ sobȱ rótulosȱ comoȱ “mecanicista”,ȱ “simplista”,ȱ“reducionista”,ȱ“psicologiaȱestímuloȬresposta”,ȱ“psicologiaȱdaȱcaixaȬpreta”,ȱetc.ȱ Emboraȱseȱpossaȱargumentarȱqueȱaȱatribuiçãoȱdeȱalgunsȱdessesȱadjetivosȱaȱumaȱdeterminaȱ abordagemȱ científicaȱ nãoȱ sejaȱ necessariamenteȱ ruimȱ (háȱ umaȱ máȱ compreensão,ȱ ouȱ usoȱ inadequado,ȱdessesȱ termosȱporȱ algunsȱ autores),ȱ atribuíȬlosȱ aoȱ sistemaȱ skinnerianoȱ é,ȱpeloȱ menosȱ emȱ parte,ȱ “chutarȱ umȱ cachorroȱ morto”,ȱ istoȱ é,ȱ taisȱ críticasȱ sãoȱ feitas,ȱ geralmente,ȱ tendoȱcomoȱreferênciaȱconcepçõesȱbehavioristasȱultrapassadasȱ(Chiesa,ȱ1994/2006).ȱ ȱ Essasȱ concepçõesȱ têmȱ hoje,ȱ sobretudo,ȱ umȱ interesseȱ apenasȱ histórico,ȱ eȱ devemȱ serȱ atribuídasȱ tantoȱ aȱ pensadoresȱ eȱ pesquisadoresȱ diferentesȱ deȱ Skinnerȱ quantoȱ aoȱ próprioȱ Skinnerȱnosȱprimeirosȱmomentosȱdeȱsuaȱcarreiraȱ(Chiesa,ȱ1994/2006;ȱMicheletto,ȱ1997/2006).ȱ Michelettoȱ (1997/2006)ȱ sugereȱ queȱ aȱ propostaȱ deȱ Skinnerȱ podeȱ serȱ divididaȱ emȱ doisȱ momentosȱ distintos:ȱ deȱ 1930ȱ aȱ 1938ȱ eȱ deȱ 1980ȱ aȱ 1990.ȱ SegundoȱMicheletto,ȱ oȱ “primeiro”ȱ Skinnerȱ (1930Ȭ1938)ȱ éȱmarcadoȱ porȱ umaȱ forteȱ influênciaȱ dasȱ ciênciasȱ físicas,ȱ sobretudoȱ aȱ mecânicaȱnewtoniana,ȱeȱdaȱfilosofiaȱdoȱreflexo:ȱ ȱ (...)ȱSkinner,ȱnesteȱmomento,ȱaindaȱtemȱumaȱsuposiçãoȱassociadaȱaoȱmecanicismo,ȱdecorrenteȱ deȱterȱmantidoȱcaracterísticasȱoriginaisȱdaȱnoçãoȱdeȱreflexo:ȱapesarȱdeȱoperarȱcomȱaȱnoçãoȱdeȱ relaçãoȱ funcionalȱ eȱ nãoȱ comȱ umaȱ causalidadeȱ mecânica,ȱ buscaȱ umȱ eventoȱ noȱ ambienteȱ relacionadoȱcomȱoȱqueȱoȱorganismoȱfaz,ȱmasȱconsideraȱqueȱesteȱeventoȱdeveȱserȱumȱestímuloȱ antecedenteȱqueȱprovocaȱaȱocorrênciaȱdaȱrespostaȱ(Micheletto,ȱ1997/2006,ȱp.ȱ46).ȱ ȱ ȱ Jáȱoȱ“segundo”ȱSkinnerȱ(1980Ȭ1990),ȱsegundoȱMichelettoȱ(1997/2006),ȱmostraȬseȱmaisȱ comprometidoȱ comȱ oȱ modeloȱ causalȱ queȱ embasaȱ asȱ ciênciasȱ biológicas,ȱ influenciadoȱ principalmenteȱpelaȱteoriaȱdaȱevoluçãoȱdasȱespéciesȱporȱseleçãoȱnatural,ȱdeȱCharlesȱDarwinȱ (1859),ȱ eȱ menosȱ influenciadoȱ peloȱ modeloȱ newtoniano.ȱ Noȱ entanto,ȱ jáȱ emȱ 1938ȱ Skinnerȱ apresentavaȱumaȱrupturaȱcomȱoȱmodeloȱcausalȱmecanicista.ȱUmȱexemploȱclaroȱéȱaȱdefiniçãoȱ deȱ reflexo,ȱ entendidoȱ àȱ épocaȱ comoȱ umaȱ ligaçãoȱ diretaȱ entreȱ estímuloȱ eȱ resposta,ȱ eȱ reinterpretadoȱporȱSkinnerȱ(1938)ȱcomoȱumaȱcorrelaçãoȱentreȱdoisȱeventosȱobserváveis:ȱ“Emȱ ȱ 4 geral,ȱaȱnoçãoȱdeȱ reflexoȱdeveȱ seȱ livrarȱdeȱqualquerȱnoçãoȱdeȱ ‘empurrão’ȱdoȱestímulo.ȱOsȱ termosȱseȱreferemȱaquiȱaȱeventosȱcorrelacionados,ȱeȱaȱnadaȱmais”ȱ(Skinner,ȱ1938,ȱp.ȱ21).ȱDizȬ se,ȱ então,ȱ queȱ Skinnerȱ substituiȱ aȱ noçãoȱ deȱ causalidadeȱmecânicaȱ pelaȱ noçãoȱ deȱ relaçõesȱ funcionaisȱ (Chiesa,ȱ 1994/2006;ȱ Skinner,ȱ 1953/1998).ȱ Comoȱ apontaȱ oȱ próprioȱ Skinnerȱ (1953/1998),ȱ aȱ ciênciaȱ temȱ substituídoȱ oȱ termoȱ causaȱ peloȱ termoȱ relaçãoȱ funcional,ȱ poisȱ oȱ primeiroȱ remeteȱ aȱ forçasȱ eȱ mecanismosȱ queȱ “ligam”ȱ doisȱ eventos,ȱ jáȱ oȱ segundo,ȱ apenasȱ estabeleceȱregularidadeȱentreȱdoisȱ(ouȱmais)ȱeventos.ȱ Essaȱ mudançaȱ noȱ pensamentoȱ skinnerianoȱ éȱ comumenteȱ atribuídaȱ (ouȱ correlacionada)ȱ àȱ influênciaȱ doȱ físicoȱ eȱ epistemólogoȱ ErnestȱMachȱ (cf.,ȱChiesa,ȱ 1994/2006;ȱ Micheletto,ȱ 1997/2006;ȱ Todorov,ȱ 1989).ȱ Ernestȱ Machȱ (cf.,ȱ Chiesa,ȱ 1994/2006),ȱ gerouȱ certaȱ discussãoȱ entreȱ filósofosȱ eȱ físicosȱ aoȱ afirmarȱ queȱ oȱ conceitoȱ deȱ forçaȱ eraȱ absolutamenteȱ redundanteȱ paraȱ oȱ adequadoȱ entendimentoȱ eȱ aplicaçãoȱ daȱ mecânicaȱ clássica.ȱ Aȱ noçãoȱ propostaȱporȱMach,ȱdeȱqueȱnãoȱéȱnecessárioȱinferirȱouȱpostularȱumaȱ“forçaȱdeȱatração”ȱparaȱ explicarȱporqueȱobjetosȱcaem,ȱéȱaȱmesmaȱnoçãoȱpropostaȱporȱSkinnerȱ (1938)ȱdeȱqueȱnãoȱéȱ necessárioȱinferirȱumaȱforçaȱouȱmecanismoȱqueȱestabelecemȱoȱeloȱentreȱumȱestímuloȱeȱumaȱ resposta.ȱȱ ȱ Umȱpontoȱmarcanteȱnoȱdesenvolvimentoȱdoȱ sistemaȱdeȱpensamentoȱ skinneriano,ȱeȱ consideradoȱ oȱ “nascimento”ȱ doȱ Behaviorismoȱ Radicalȱ (Tourinho,ȱ 1987)ȱ éȱ aȱ publicação,ȱ emȱ 1945,ȱ doȱ artigoȱ intituladoȱ “Análiseȱ Operanteȱ deȱ Termosȱ Psicológicos4”ȱ (Skinner,ȱ 1945/1972).ȱ SkinnerȱforaȱconvidadoȱparaȱparticiparȱdeȱumȱsimpósioȱsobreȱoȱOperacionismo,ȱumaȱdoutrinaȱ filosóficaȱpropostaȱporȱBridgmanȱ(1927)ȱeȱcujaȱteseȱprincipalȱeraȱaȱdeȱqueȱosȱconceitosȱdevemȱ serȱ definidosȱ emȱ termosȱ dasȱ operaçõesȱ queȱ oȱ produzem.ȱOȱ significado,ȱ porȱ exemplo,ȱ deȱ comprimento,ȱ deveriaȱ serȱ buscadoȱ nasȱ operaçõesȱ pelasȱ quaisȱ oȱ comprimentoȱ éȱ medidoȱ (Skinner,ȱ1945/1972;ȱTourinho,ȱ1987).ȱ ȱ EmboraȱSkinnerȱ(1945/1972)ȱreconheçaȱaȱinfluênciaȱdaȱpropostaȱdeȱBridgmanȱemȱseusȱ trabalhosȱ iniciais,ȱnesteȱmomentoȱdeȱ suaȱobraȱeleȱquestionaȱaȱutilidadeȱdoȱOperacionismoȱ paraȱ oȱ desenvolvimentoȱ deȱ umaȱ ciênciaȱ doȱ comportamento,ȱ sobretudoȱ comȱ relaçãoȱ àȱ definiçãoȱ eȱ entendimentoȱ deȱ conceitosȱ psicológicos.ȱ Skinnerȱ (1945/1972)ȱ argumentaȱ inicialmenteȱ queȱ conceitosȱ devemȱ serȱ analisadosȱ comoȱ aquiloȱ queȱ realmenteȱ são:ȱ comportamentosȱ verbais.ȱ Paraȱ Skinner,ȱ então,ȱ analisarȱ conceitosȱ significaȱ analisarȱ oȱ comportamentoȱ verbal5ȱdoȱ cientistaȱ (ouȱdeȱ quemȱ osȱusa)ȱ e,ȱparaȱ tanto,ȱdeveȬseȱ buscarȱ asȱ condiçõesȱantecedentesȱeȱasȱcondiçõesȱconseqüentesȱdoȱusoȱdeȱdeterminadoȱconceitoȱ(análiseȱ funcional).ȱ ȱ Asȱ implicaçõesȱ dessaȱ propostaȱ deȱ Skinnerȱ (1945/1972),ȱ eȱ osȱ caminhosȱ percorridosȱ paraȱchegarȱaȱela,ȱserãoȱapresentadosȱemȱmaisȱdetalheȱemȱcapítulosȱsubseqüentesȱdesteȱlivro.ȱ Porȱenquanto,ȱparaȱosȱpropósitosȱdesseȱcapítulo,ȱbastaȬnosȱsaberȱqueȱtalȱpropostaȱestabeleceȱ umaȱdistinçãoȱdrásticaȱentreȱoȱbehaviorismoȱdeȱSkinner,ȱdenominadoȱporȱeleȱBehaviorismoȱ Radical,ȱeȱoȱBehaviorismoȱpraticadoȱ(ouȱdefendido)ȱporȱseusȱcontemporâneos,ȱreferidoȱporȱ SkinnerȱcomoȱBehaviorismoȱMetodológico.ȱNoȱBehaviorismoȱRadicalȱháȱoȱ reconhecimentoȱ deȱqueȱeventosȱpsicológicosȱprivadosȱ(e.g.,ȱpensamento,ȱconsciência,ȱetc.)ȱdevemȱfazerȱparteȱ doȱ objetoȱ deȱ estudoȱ deȱ umaȱ ciênciaȱ doȱ comportamento,ȱ eȱ podemȱ serȱ estudadosȱ comȱ oȱ mesmoȱrigorȱcientíficoȱqueȱeventosȱpúblicos.ȱ ȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱ 4ȱTítuloȱoriginal:ȱ“TheȱOperationalȱAnalysisȱofȱPsychologicalȱTerms”.ȱ 5ȱSegundoȱoȱpróprioȱSkinnerȱ(1945/1972),ȱparteȱdaȱargumentaçãoȱusadaȱemȱ1945ȱeraȱderivadaȱdeȱumaȱ outraȱobraȱsuaȱqueȱseȱencontravaȱemȱpreparaçãoȱeȱseriaȱpublicadaȱemȱ1957:ȱ“OȱcomportamentoȱVerbal”ȱ (Skinner,ȱ1957/1978).ȱ ȱ 5 ȱ Outraȱ importanteȱ característicaȱ doȱ BehaviorismoȱRadicalȱ apresentadaȱ noȱ artigoȱ deȱ 1945,ȱeȱdaȱqualȱderiva,ȱpeloȱmenosȱemȱparte,ȱaȱpossibilidadeȱdoȱestudoȱcientíficoȱdosȱeventosȱ privados,ȱ éȱ aȱ proposiçãoȱ deȱ Skinnerȱ (1945/1972)ȱ deȱ queȱ eventosȱ privadosȱ (ouȱ comportamentosȱprivados)ȱsãoȱ tãoȱ físicosȱquantoȱosȱeventosȱpúblicosȱ (ouȱcomportamentosȱ públicos),ȱistoȱé,ȱsãoȱdeȱmesmaȱnatureza:ȱ ȱ Deȱacordoȱcomȱessaȱdoutrinaȱ[behaviorismoȱmetodológico]ȱoȱmundoȱestáȱdivididoȱemȱeventosȱ públicosȱeȱprivados;ȱeȱaȱpsicologia,ȱparaȱatingirȱosȱcritériosȱdeȱumaȱciência,ȱprecisaȱseȱconfinarȱ aoȱestudoȱdosȱprimeiros.ȱEsseȱnuncaȱfoiȱumȱbomȱbehaviorismo,ȱmasȱeraȱumaȱposiçãoȱfácilȱdeȱ exporȱ eȱdefenderȱ eȱ freqüentementeȱdefendidaȱpelosȱprópriosȱbehavioristasȱ (...)ȱAȱdistinçãoȱ públicoȬprivadoȱenfatizaȱaȱáridaȱfilosofiaȱdaȱ‘verdadeȱporȱconcordância’.ȱ(...)ȱOȱcritérioȱúltimoȱ paraȱaȱadequaçãoȱdeȱumȱconceitoȱnãoȱéȱaȱconcordânciaȱentreȱduasȱpessoas,ȱmasȱseȱoȱcientistaȱqueȱusaȱoȱconceitoȱpodeȱoperarȱcomȱsucessoȱsobreȱseuȱmaterialȱ–ȱsozinhoȱseȱnecessário.ȱ(...)ȱAȱ distinçãoȱentreȱpúblicoȱeȱprivadoȱnãoȱé,ȱdeȱformaȱalguma,ȱaȱmesmaȱqueȱaȱdistinçãoȱentreȱfísicoȱ eȱmental.ȱÉȱporȱissoȱqueȱoȱbehaviorismoȱmetodológicoȱ(queȱadotaȱaȱprimeira)ȱéȱbemȱdiferenteȱ doȱbehaviorismoȱ radicalȱ (...).ȱOȱ resultadoȱéȱqueȱenquantoȱoȱbehaviorismoȱ radicalȱpode,ȱemȱ algunsȱcasos,ȱconsiderarȱeventosȱprivadosȱ(...),ȱoȱoperacionismoȱmetodológicoȱseȱcolocouȱemȱ umaȱposiçãoȱemȱqueȱnãoȱpodeȱ(Skinner,ȱ1945/1972,ȱp.ȱ382Ȭ383).ȱ ȱ ȱ Curiosamente,ȱ muitasȱ dasȱ críticasȱ queȱ Skinnerȱ (1945/1972)ȱ faziaȱ aosȱ behavioristasȱ metodológicosȱmaisȱdeȱ seisȱdécadasȱatrásȱ são,ȱaindaȱhoje,ȱ feitasȱaoȱpróprioȱSkinner.ȱEssasȱ críticasȱsão,ȱobviamente,ȱequivocadasȱ–ȱquandoȱfeitasȱaoȱBehaviorismoȱRadical.ȱFicaȱclaroȱnoȱ textoȱdeȱ1945/1972ȱbemȱ comoȱ emȱobrasȱ subseqüentesȱdeȱSkinnerȱ (e.g.,ȱSkinner,ȱ1974/2003)ȱ queȱoȱBehaviorismoȱRadical:ȱ(a)ȱéȱmonistaȱ(entendeȱeventosȱprivadosȱeȱpúblicosȱcomoȱsendoȱ deȱ mesmaȱ natureza);ȱ (b)ȱ temȱ comoȱ critérioȱ deȱ verdadeȱ aȱ efetividadeȱ –ȱ noȱ usoȱ doȱ conhecimentoȱ–ȱeȱnãoȱaȱconcordânciaȱentreȱobservadores;ȱeȱ(c)ȱtomaȱcomoȱlegítimosȱobjetosȱ deȱ estudoȱ osȱ eventosȱ privados,ȱ resgatandoȱ aȱ introspecçãoȱ eȱ oȱ estudoȱdaȱ consciência,ȱ nãoȱ comoȱmétodo,ȱmasȱcomoȱcomportamentosȱemȱseuȱpróprioȱdireito.ȱ ȱ Comoȱ apontadoȱ anteriormente,ȱ umaȱ mudançaȱ importanteȱ noȱ pensamentoȱ skinnerianoȱfoiȱaȱtransiçãoȱdeȱumȱmodeloȱexplicativoȱmenosȱinfluenciadoȱpelaȱfísicaȱeȱmaisȱ voltadoȱ paraȱ oȱ modeloȱ dasȱ ciênciasȱ biológicas,ȱ notadamenteȱ aȱ teoriaȱ daȱ evoluçãoȱ dasȱ espéciesȱporȱseleçãoȱnatural,ȱdeȱCharlesȱDarwinȱ(1859).ȱEmȱ1981ȱSkinnerȱpublicouȱnaȱrevistaȱ Science,ȱumȱdosȱmaisȱ importantesȱ eȱ influentesȱperiódicosȱ científicosȱnoȱmundo,ȱumȱ artigoȱ intituladoȱ “Seleçãoȱ porȱ Consequências”ȱ (Skinner,ȱ 1981/2007).ȱ Emboraȱ algumasȱ dasȱ idéiasȱ apresentadasȱnoȱartigoȱjáȱestivessemȱpresentesȱemȱtrabalhosȱbemȱanterioresȱdeȱSkinnerȱ(e.g.,ȱ Skinner,ȱ1953/1998),ȱoȱartigoȱrepresentaȱumaȱespécieȱdeȱformalizaçãoȱdoȱmodeloȱexplicativoȱ doȱBehaviorismoȱRadical:ȱoȱmodeloȱdeȱseleçãoȱpelasȱconsequências.ȱ ȱ Emȱseuȱlivroȱdeȱ1859,ȱDarwinȱexplicaȱaȱorigemȱdasȱdiferentesȱespéciesȱdeȱseresȱvivos,ȱ bemȱ comoȱ diferenciaçõesȱ deȱ umaȱ mesmaȱ espécie,ȱ aȱ partirȱ deȱ doisȱ processosȱ básicosȱ principais:ȱvariaçãoȱeȱseleção.ȱ ȱCadaȱindivíduoȱdeȱumaȱdadaȱespécieȱéȱúnico,ȱnoȱsentidoȱdeȱ serȱ diferente,ȱ emȱ maiorȱ ouȱ menorȱ grau,ȱ deȱ outrosȱ membrosȱ daȱ mesmaȱ espécie.ȱ Essasȱ diferençasȱ referemȬseȱaȱcaracterísticasȱanatômicas,ȱ fisiológicasȱeȱcomportamentais.ȱFalamosȱ aqui,ȱ então,ȱ deȱ variaçãoȱ ouȱ variabilidadeȱ entreȱ membrosȱ deȱ umaȱ mesmaȱ espécie.ȱ Estesȱ membrosȱdestaȱespécieȱvivem,ȱgeralmente,ȱemȱumȱmesmoȱambiente,ȱeȱ suasȱ característicasȱ anatômicas,ȱ fisiológicasȱ eȱ comportamentaisȱ sãoȱ favoráveisȱ àȱvidaȱnesteȱ ambiente,ȱ istoȱ é,ȱ aȱ espécieȱ estáȱ adaptadaȱ aoȱ ambiente.ȱ Enquantoȱ esteȱ ambienteȱ seȱ mantiverȱ inalterado,ȱ asȱ característicasȱdestaȱespécieȱseȱmanterãoȱ inalteradas,ȱmesmoȱqueȱhajaȱdiferençasȱentreȱcadaȱ membro.ȱ ȱ 6 ȱ Deȱ acordoȱ comȱDarwinȱ (1859),ȱ entretanto,ȱ seȱhouverȱmudançasȱnoȱ ambienteȱdestaȱ espécie,ȱ aquelesȱ indivíduosȱ cujasȱ característicasȱ mostraremȬseȱ maisȱ adequadasȱ aoȱ novoȱ ambienteȱ terãoȱmaisȱchancesȱdeȱsobrevierȱeȱpassarȱseusȱgenesȱadianteȱ(prole).ȱVejamosȱumȱ exemploȱfornecidoȱporȱDarwin:ȱ ȱ Vejamosȱoȱexemploȱdeȱumȱ lobo,ȱqueȱcaçaȱváriosȱ tiposȱdeȱanimais,ȱconseguindoȱalgunsȱpelaȱ estratégiaȱdeȱcaça,ȱoutrosȱpelaȱforçaȱeȱoutrosȱpelaȱrapidez;ȱsuponhamosȱqueȱumaȱpresaȱmaisȱ rápida,ȱ umȱ veado,ȱ porȱ exemplo,ȱ porȱ algumȱ motivo,ȱ aumentouȱ seuȱ númeroȱ emȱ umȱ determinadoȱlocal,ȱouȱqueȱoutrasȱpresasȱdiminuíramȱseuȱnúmero,ȱduranteȱaȱépocaȱdoȱanoȱnaȱ qualȱoȱloboȱmaisȱprecisaȱdeȱcomida.ȱSobȱessasȱcircunstâncias,ȱnãoȱvejoȱrazãoȱparaȱduvidarȱqueȱ osȱlobosȱmaisȱrápidosȱeȱmaisȱmagrosȱteriamȱasȱmelhoresȱchancesȱdeȱsobreviverem,ȱe,ȱportanto,ȱ deȱseremȱpreservadosȱouȱselecionadosȱ(...)ȱ(Darwin,ȱ1859,ȱp.ȱ90).ȱ ȱ ȱ Noȱ exemploȱ acimaȱ podemosȱ identificarȱ osȱ doisȱ princípiosȱ básicosȱ apontadosȱ porȱ Darwinȱ (1859):ȱ lobos,ȱmembrosȱdeȱumaȱmesmaȱespécie,ȱdiferem,ȱporȱexemplo,ȱemȱ forçaȱeȱ agilidadeȱ ouȱ rapidezȱ (variação);ȱ eȱ quandoȱ oȱ ambienteȱ mudaȱ (maiorȱ disponibilidadeȱ deȱ presasȱ velozes),ȱ aquelesȱ lobosȱ queȱ sãoȱ maisȱ velozesȱ têmȱ maisȱ chancesȱ deȱ sobreviverȱ eȱ transmitirȱ seusȱgenesȱparaȱ suaȱproleȱe,ȱconsequentemente,ȱdepoisȱdeȱalgumȱ tempoȱhaveráȱ umaȱ maiorȱ quantidadeȱ deȱ lobosȱ maisȱ velozes,ȱ istoȱ é,ȱ oȱ ambienteȱ selecionouȱ estaȱ característica.ȱ ȱ Dizerȱqueȱoȱambienteȱselecionouȱumaȱcaracterísticaȱéȱoȱmesmoȱqueȱdizerȱqueȱelaȱseȱ tornouȱmaisȱfreqüente.ȱNoȱexemploȱdeȱDarwinȱ(1859),ȱemȱumȱprimeiroȱmomento,ȱaȱmaioriaȱ dosȱlobosȱeraȱcapazȱdeȱcorrerȱaȱcertaȱvelocidadeȱmédiaȱX.ȱAlgunsȱpoucosȱlobosȱeramȱcapazesȱ deȱcorrerȱaȱumaȱvelocidadeȱmédiaȱumȱpoucoȱmenorȱqueȱXȱeȱoutrosȱaȱumaȱvelocidadeȱmédiaȱ umȱpoucoȱmaiorȱ(variabilidade).ȱQuandoȱasȱpresasȱdisponíveisȱnoȱambienteȱdosȱlobosȱeramȱ aquelasȱ maisȱ velozes,ȱ aquelesȱ poucosȱ lobosȱ queȱ eramȱ maisȱ rápidosȱ (eȱ issoȱ eraȱ umaȱ característicaȱgenéticaȱdeles)ȱforamȱmaisȱcapazesȱdeȱseȱalimentarȱeȱtransmitirȱseusȱgenesȱparaȱ seusȱdescendentes,ȱque,ȱprovavelmente,ȱtambémȱeramȱmaisȱvelozesȱqueȱaȱmédia.ȱDepoisȱdeȱ algumȱ tempo,ȱ aquelaȱ velocidadeȱ médiaȱ (maisȱ veloz)ȱ passouȱ aȱ serȱ bemȱ maisȱ freqüenteȱ naqueleȱ grupoȱ deȱ lobos,ȱ istoȱ é,ȱ haviaȱ maisȱ lobosȱ capazesȱ deȱ desenvolveremȱ velocidadesȱ maiores.ȱ Emȱseuȱartigoȱdeȱ1981,ȱSkinnerȱ(1981/2007)ȱafirmaȱqueȱoȱprocessoȱdeȱseleçãoȱnaturalȱ (Darwin,ȱ1859)ȱéȱapenasȱumȱprimeiroȱnívelȱ–ȱouȱtipoȱ–ȱdeȱseleçãoȱpelasȱconsequências,ȱeȱqueȱ nosȱ explicariaȱ aȱ origemȱ dasȱ diferentesȱ espécies,ȱ assimȱ comoȱ nosȱ explicariaȱ parteȱ doȱ comportamentoȱdosȱorganismos,ȱcomoȱapontadoȱpeloȱpróprioȱDarwin.ȱAoȱobservarmosȱosȱ comportamentosȱ deȱ indivíduosȱ deȱ diferentesȱ espécies,ȱ percebemosȱ queȱ háȱ umaȱ sérieȱ deȱ comportamentosȱqueȱestesȱorganismosȱemitemȱsemȱqueȱseȱfaçaȱnecessárioȱumaȱexperiênciaȱ anterior,ȱ semȱ queȱ hajaȱ aprendizagemȱ (Moreiraȱ &ȱ Medeiros,ȱ 2007).ȱ Entretanto,ȱ comoȱ apontadoȱ porȱ Skinner,ȱ há,ȱ deȱ formaȱ geral,ȱ duasȱ característicasȱ dosȱ animaisȱ queȱ foramȱ selecionadasȱpeloȱambienteȱqueȱsãoȱfundamentaisȱparaȱaȱPsicologia,ȱpoisȱestãoȱdiretamenteȱ relacionadasȱàȱnossaȱcapacidadeȱdeȱaprender:ȱ ȱ Oȱcomportamentoȱfuncionavaȱapropriadamenteȱapenasȱsobȱcondiçõesȱrelativamenteȱsimilaresȱ àquelasȱ sobȱ asȱ quaisȱ foraȱ selecionado.ȱ Aȱ reproduçãoȱ sobȱ umaȱ amplaȱ gamaȱ deȱ condiçõesȱ tornouȬseȱ possívelȱ comȱ aȱ evoluçãoȱ deȱ doisȱ processosȱ porȱ meioȱ dosȱ quaisȱ organismosȱ individuaisȱ adquiriamȱ comportamentosȱ apropriadosȱ aȱ novosȱ ambientes.ȱ Porȱ meioȱ doȱ condicionamentoȱ respondenteȱ (pavloviano),ȱ respostasȱpreparadasȱpreviamenteȱpelaȱ seleçãoȱ naturalȱ poderiamȱ ficarȱ sobȱ oȱ controleȱ deȱ novosȱ estímulos.ȱ Porȱ meioȱ doȱ condicionamentoȱ ȱ 7 operante,ȱ novasȱ respostasȱ poderiamȱ serȱ fortalecidasȱ (“reforçadas”)ȱ porȱ eventosȱ queȱ imediatamenteȱasȱseguissemȱ(Skinner,ȱ1981/2007,ȱpȱ129Ȭ130).ȱ ȱ ȱ ComoȱapontadoȱporȱSkinnerȱ (1981/2007)ȱnoȱ trechoȱacima,ȱquandoȱumȱdeterminadoȱ comportamentoȱéȱ selecionadoȱemȱumaȱdeterminadaȱespécie,ȱesseȱ comportamentoȱ somenteȱ seráȱ adaptativoȱ enquantoȱ asȱ condiçõesȱ ambientaisȱ queȱ oȱ selecionaramȱ permaneceremȱ asȱ mesmas.ȱ Noȱ entanto,ȱ oȱ próprioȱ processoȱ deȱ seleçãoȱ naturalȱ teriaȱ sidoȱ responsávelȱ pelaȱ seleçãoȱdeȱduasȱcaracterísticasȱimportantesȱqueȱpassaramȱaȱpermitirȱqueȱosȱmembrosȱdeȱumaȱ espécieȱpudessem,ȱduranteȱoȱperíodoȱdeȱsuaȱvida,ȱseȱadaptarȱaȱambientesȱdiferentesȱ–ȱouȱlidarȱ maisȱ facilmenteȱ comȱmudançasȱ emȱ seuȱpróprioȱ ambiente.ȱEssasȱ característicasȱpodemȱ serȱ definidasȱ comoȱ capacidadesȱ paraȱ aprenderȱ aȱ interagirȱ deȱ novasȱ formasȱ comȱ oȱ ambiente.ȱ Essasȱaprendizagensȱocorremȱdeȱduasȱmaneiras:ȱatravésȱdoȱcondicionamentoȱrespondenteȱeȱdoȱ condicionamentoȱ operanteȱ (essesȱdoisȱprocessosȱdeȱ aprendizagemȱ serãoȱ aprofundadosȱ emȱcapítulosȱsubseqüentes).ȱ ȱ Segundoȱ Skinnerȱ (1981/2007),ȱ oȱ condicionamentoȱ operanteȱ éȱ umȱ segundoȱ tipoȱ deȱ seleçãoȱ pelasȱ consequências.ȱ Emȱ algumȱ momentoȱ daȱ evoluçãoȱ dasȱ espéciesȱ oȱ comportamentoȱ dosȱ organismosȱ passouȱ aȱ serȱ suscetívelȱ aosȱ acontecimentosȱ queȱ ocorremȱ apósȱoȱcomportamentoȱserȱemitido,ȱistoȱé,ȱcertasȱconsequênciasȱdoȱcomportamentoȱ(eventosȱqueȱ osȱ sucedem)ȱ queȱ podemȱ fortalecerȱ esteȱ comportamentoȱ eȱ tornarȱ suaȱ ocorrênciaȱ maisȱ provável.ȱAȱanalogiaȱentreȱseleçãoȱnaturalȱeȱseleçãoȱoperanteȱéȱdireta.ȱNoȱentanto,ȱaȱseleçãoȱ naturalȱproduzȱasȱdiferençasȱentreȱespécies,ȱasȱmudançasȱocorridasȱ(selecionadas)ȱaoȱ longoȱ deȱ milharesȱ deȱ anos;ȱ jáȱ aȱ seleçãoȱ operante,ȱ estabeleceȱ asȱ diferençasȱ comportamentaisȱ individuais,ȱeȱasȱmudançasȱcomportamentaisȱocorridasȱduranteȱaȱvidaȱdeȱumȱindivíduo.ȱ ȱ Apenasȱcomoȱumȱexercícioȱparaȱentendermos,ȱdeȱmaneiraȱgeral,ȱoȱmodeloȱdeȱseleçãoȱ pelasȱconsequênciasȱnoȱnívelȱ individualȱ (seleçãoȱoperante),ȱ tenteȱ imaginarȱumȱserȱhumanoȱ emȱdiferentesȱmomentosȱdeȱsuaȱvida,ȱdesdeȱoȱseuȱnascimentoȱatéȱsuaȱmorte;ȱeȱtenteȱimaginarȱ tambémȱ esseȱ serȱ humanoȱ emȱdiferentesȱ situaçõesȱdoȱ seuȱ cotidianoȱ –ȱ eȱ aoȱ imaginarȱ essasȱ situações,ȱ tenteȱ imaginarȱnãoȱ sóȱoȱqueȱ esseȱ serȱhumanoȱ estáȱ fazendo,ȱmasȱ tambémȱoȱqueȱ aconteceȱdepoisȱqueȱeleȱfazȱalgumaȱcoisa.ȱImagine,ȱporȱexemplo,ȱumȱpequenoȱbebêȱemȱseuȱ berço,ȱ sorrindoȱparaȱ suaȱmãeȱ eȱbalbuciando.ȱOȱbebêȱ emiteȱdiferentesȱ sonsȱ aleatoriamenteȱ (variabilidade)ȱe,ȱemȱalgumȱmomento,ȱeleȱemiteȱumȱsomȱparecidoȱcomȱ“mãn”.ȱȱQuandoȱissoȱ acontece,ȱaȱmãeȱdoȱbebêȱ“fazȱumaȱfesta”ȱcomȱseuȱfilhoȱqueȱacabaȱdeȱdarȱoȱprimeiroȱpassoȱemȱ direçãoȱàȱpalavraȱ“mamãe”,ȱaconchegandoȱeȱfalandoȱcomȱoȱbebê.ȱAsȱreaçõesȱdaȱmãeȱpoderãoȱ terȱ umȱ efeitoȱ fortalecedorȱ sobreȱ oȱ comportamentoȱ doȱ bebê,ȱ ouȱ seja,ȱ poderãoȱ tornarȱmaisȱ provávelȱ queȱ eleȱ repitaȱ aqueleȱ somȱ (dizemosȱ queȱ aȱ reaçãoȱdaȱmãeȱ funcionouȱ comoȱ umaȱ conseqüênciaȱreforçadoraȱparaȱoȱcomportamentoȱdoȱbebê).ȱ ȱ Oȱ bebêȱ entãoȱ passaȱ aȱ falarȱ “mã”ȱ maisȱ vezes.ȱ Nesteȱ sentido,ȱ dizemosȱ queȱ esseȱ comportamentoȱfoiȱselecionadoȱporȱsuasȱconsequênciasȱnoȱambiente,ȱnesteȱcaso,ȱaȱreaçãoȱdaȱ orgulhosaȱmamãe.ȱAlgumasȱvezesȱoȱ“mã”ȱéȱseguidoȱporȱsonsȱparecidosȱcomȱ“pá”,ȱoutrasȱporȱ “dá”,ȱ eȱ etc.ȱ (variabilidade).ȱEmȱ algumȱmomento,ȱ oȱ “mã”ȱ éȱ seguidoȱ porȱ outroȱ “mã”,ȱ eȱ láȱ estaráȱ aȱ mãeȱ paraȱ fazerȱ outraȱ “festa”ȱ comȱ seuȱ filho,ȱ queȱ estáȱ quaseȱ falandoȱ “mamãe”.ȱ Dizemosȱentãoȱqueȱoȱcomportamentoȱdeȱdizer,ȱporȱenquanto,ȱ“mãmã”ȱ foiȱselecionadoȱporȱ suasȱconsequências.ȱ ȱ Imagineȱagoraȱumaȱcriançaȱporȱvoltaȱdosȱseusȱ3ȱouȱ4ȱanosȱqueȱpedeȱeducadamenteȱ umȱdoceȱaȱseuȱpai,ȱeȱesteȱdizȱnão.ȱAoȱouvirȱoȱ“não”ȱaȱcriançaȱpedeȱoȱdoceȱdeȱ formaȱmaisȱ vigorosa,ȱeȱouveȱoutroȱnão,ȱpedidoȱcadaȱvezȱdeȱ formaȱmaisȱvigorosaȱatéȱ iniciarȱumaȱbirraȱ (variabilidade).ȱNoȱ ápiceȱdaȱ birraȱ seuȱpaiȱ aȱ atende,ȱdáȬlheȱ oȱdoce.ȱ Imagineȱ queȱ situaçõesȱ ȱ 8 parecidasȱ continuemȱ ocorrendoȱ atéȱ queȱ aȱ criançaȱ passeȱ aȱ “darȱ birras”ȱ frequentemente.ȱ Dizemosȱ entãoȱ queȱ esteȱ comportamento,ȱ “darȱ birras”,ȱ foiȱ selecionadoȱ porȱ suasȱ consequências.ȱ ȱ Imagineȱ asȱ diversasȱ interaçõesȱ entreȱ paisȱ eȱ filhosȱ (oȱ queȱ osȱ paisȱ fazemȱ ouȱ dizemȱ quandoȱosȱfilhosȱfazemȱouȱdizemȱalgumaȱcoisa;ȱeȱoȱqueȱosȱfilhosȱfazemȱouȱdizemȱquandoȱosȱ paisȱ fazemȱ ouȱ dizemȱ algumaȱ coisa);ȱ imagineȱ asȱ diversasȱ interaçõesȱ entreȱ professoresȱ eȱ alunos;ȱ imagineȱ asȱ diversasȱ interaçõesȱ entreȱ alunos;ȱ imagineȱ asȱ diversasȱ interaçõesȱ entreȱ adolescentesȱpertencentesȱaȱumȱmesmoȱgrupo;ȱimagineȱasȱdiversasȱinteraçõesȱentreȱamigos;ȱ entreȱchefesȱeȱfuncionários;ȱentreȱfuncionáriosȱeȱfuncionários;ȱtiosȱeȱsobrinhos;ȱavósȱeȱnetos;ȱ enfim,ȱ asȱ diversasȱ interaçõesȱ queȱ ocorremȱ cotidianamenteȱ naȱ vidaȱ deȱ todosȱ nós.ȱ Seȱ examinarmosȱcomȱalgumȱcuidadoȱessasȱinterações,ȱperceberemosȱqueȱaȱreaçãoȱdosȱoutrosȱaoȱ queȱ pensamos,ȱ falamosȱ ouȱ fazemosȱ influenciaȱ bastanteȱ nossasȱ formasȱ deȱ pensar,ȱ oȱ queȱ falamosȱ eȱ oȱ queȱ fazemos,ȱ ouȱ seja,ȱ essasȱ reaçõesȱ sãoȱ consequênciasȱ dosȱ nossosȱ comportamentosȱ eȱosȱ selecionam,ȱnoȱ sentidoȱdeȱ tornarȱ algunsȱdeȱnossosȱ comportamentosȱ maisȱ freqüentesȱ eȱ outrosȱ menosȱ freqüentes.ȱ Obviamente,ȱ nossoȱ comportamentoȱ tambémȱ funcionaȱcomoȱconseqüênciaȱparaȱoȱcomportamentoȱdasȱpessoasȱcomȱasȱquaisȱinteragimos,ȱeȱ tambémȱselecionaȱcertosȱcomportamentosȱdessasȱpessoas.ȱOȱusoȱdoȱtermoȱ“interação”ȱnãoȱéȱ porȱ acasoȱ eȱ implicaȱ emȱ analisarȱ asȱ experiênciasȱ individuaisȱ comoȱ umȱ processoȱ deȱ retroalimentação.ȱCadaȱ interaçãoȱdoȱ indivíduoȱ comȱ seuȱ ambienteȱ alteraȱ aȱ formaȱ comoȱ asȱ interaçõesȱ seguintesȱ ocorrerão,ȱ caracterizandoȱ umȱ processoȱ extremamenteȱ dinâmicoȱ eȱ complexo.ȱ ȱ AȱPsicologia,ȱdeȱmaneiraȱgeral,ȱocupaȬseȱdosȱfenômenosȱrelacionadosȱaȱesteȱsegundoȱ nívelȱ deȱ seleçãoȱ pelasȱ consequências.ȱ Entendendoȱ comoȱ osȱ processosȱ deȱ variabilidadeȱ eȱ seleçãoȱoperamȱnesteȱsegundoȱnível,ȱnosȱtornamosȱcapazesȱdeȱexplicar,ȱentreȱoutrasȱcoisas,ȱ comoȱ aȱ personalidadeȱ deȱ umȱ indivíduoȱ éȱ formada,ȱ comoȱ surgemȱ boaȱ parteȱ dasȱ psicopatologias,ȱcomoȱaprendemosȱaȱ falar,ȱescrever,ȱpensar,ȱdescreverȱnossosȱ sentimentos,ȱ comoȱ surgeȱ nossoȱ temperamento,ȱ comoȱ surgeȱ aȱ subjetividade,ȱ comoȱ passamosȱ aȱ terȱ consciênciaȱ deȱ nósȱ mesmosȱ eȱ doȱ mundoȱ eȱ umaȱ infinidadeȱ deȱ outrosȱ comportamentosȱ eȱ processosȱpsicológicos.ȱParteȱsignificativaȱdesseȱlivroȱdedicaȬseȱaȱapresentarȱcadaȱumȱdessesȱ processosȱàȱluzȱdoȱmodeloȱdeȱseleçãoȱpelasȱconsequências.ȱ ȱ Aȱseleçãoȱnatural,ȱouȱfilogenia,ȱnosȱajudaȱaȱentenderȱaȱorigemȱdasȱdiferençasȱentreȱasȱ espécies;ȱ aȱ seleçãoȱ operante,ȱ ouȱ ontogenia,ȱ nosȱ ajudaȱ aȱ entenderȱ aȱ origemȱdasȱdiferençasȱ comportamentaisȱentreȱosȱ indivíduosȱe,ȱemboraȱesteȱsegundoȱnívelȱdeȱseleçãoȱnosȱpermitaȱ explicarȱumaȱ infinidadeȱdeȱcomportamentosȱeȱprocessoȱpsicológicos,ȱháȱaindaȱumaȱ lacunaȱ paraȱaȱadequadaȱcompreensãoȱdoȱ serȱhumano.ȱSegundoȱSkinnerȱ (1981/2007)ȱessaȱ lacunaȱéȱ preenchidaȱporȱumȱterceiroȱnívelȱdeȱseleçãoȱpelasȱconsequências:ȱoȱnívelȱdeȱseleçãoȱcultural.ȱ ȱ Deȱ acordoȱ comȱ Skinnerȱ (1981/2007),ȱ emȱ algumȱ momentoȱ daȱ evoluçãoȱ daȱ espécieȱ humana,ȱ “aȱmusculaturaȱ vocalȱ ficouȱ sobȱ controleȱ operante”ȱ (p.ȱ 131).ȱ Issoȱ querȱ dizerȱ queȱ vocalizaçõesȱ emitidasȱporȱumȱ indivíduoȱ ficaramȱ sensíveisȱ àsȱ suasȱ consequências,ȱ ouȱ seja,ȱ passaramȱaȱterȱsuaȱprobabilidadeȱdeȱvoltarȱaȱocorrerȱaumentadaȱouȱdiminuídaȱemȱfunçãoȱdoȱ queȱaconteciaȱnoȱambienteȱdoȱorganismoȱqueȱasȱemitia.ȱNestaȱcaracterísticaȱresideȱaȱorigemȱ (ouȱpossibilidade)ȱdaȱlinguagemȱeȱoȱcaráterȱeminentementeȱsocialȱdoȱserȱhumano:ȱ ȱ Oȱ desenvolvimentoȱ doȱ controleȱ ambientalȱ sobreȱ aȱ musculaturaȱ vocalȱ aumentouȱ consideravelmenteȱoȱauxílioȱqueȱumaȱpessoaȱrecebeȱdeȱoutras.ȱComportandoȬseȱverbalmente,ȱ asȱpessoasȱpodemȱcooperarȱdeȱmaneiraȱmaisȱeficienteȱemȱatividadesȱcomuns.ȱAoȱreceberemȱ conselhos,ȱ aoȱ atentaremȱ paraȱ avisos,ȱ aoȱ seguiremȱ instruções,ȱ eȱ aoȱ observaremȱ regras,ȱ asȱ ȱ 9 pessoasȱpodemȱseȱbeneficiarȱdoȱqueȱoutrosȱ jáȱaprenderam.ȱPráticasȱéticasȱsãoȱfortalecidasȱaoȱ seremȱ codificadasȱ emȱ leis,ȱ eȱ técnicasȱ especiaisȱ deȱ autogovernoȱ éticoȱ eȱ intelectualȱ sãoȱ desenvolvidasȱeȱensinadas.ȱOȱautoconhecimentoȱouȱconsciênciaȱemergemȱquandoȱumaȱpessoaȱ perguntaȱaȱoutraȱquestõesȱcomoȱ“Oȱqueȱvocêȱvaiȱ fazer?”ȱouȱ“Porȱquêȱvocêȱ fezȱaquilo?”.ȱAȱ invençãoȱdoȱalfabetoȱpropagouȱessasȱvantagensȱporȱgrandesȱdistânciasȱeȱperíodosȱdeȱtempo.ȱ Háȱ muitoȱ tempo,ȱ dizȬseȱ queȱ essasȱ característicasȱ conferemȱ àȱ espécieȱ humanaȱ suaȱ posiçãoȱ única,ȱemboraȱ sejaȱpossívelȱqueȱ talȱ singularidadeȱ sejaȱ simplesmenteȱaȱextensãoȱdoȱ controleȱ operanteȱàȱmusculaturaȱvocalȱ(Skinner,ȱ1981/2007,ȱp.ȱ131).ȱ ȱ ȱ Deȱ acordoȱ comȱ Skinnerȱ (1981/2007;ȱ 1987),ȱ oȱ surgimentoȱ daȱlinguagemȱ permitiuȱ oȱ surgimentoȱ deȱ ambientesȱ sociaisȱ cadaȱ vezȱ maisȱ complexos,ȱ ouȱ seja,ȱ permitiuȱ oȱ rápidoȱ desenvolvimentoȱdaȱculturaȱ (ouȱdeȱpráticasȱculturais).ȱParaȱSkinner,ȱassimȱcomoȱoȱmodeloȱ deȱ seleçãoȱ pelasȱ consequênciasȱ nosȱ explicaȱ asȱ origensȱ eȱ asȱ diferençasȱ entreȱ asȱ espécies;ȱ explicaȬnosȱasȱorigensȱeȱasȱdiferençasȱdosȱcomportamentosȱindividuais,ȱesseȱmodeloȱtambémȱ nosȱexplicaȱasȱorigensȱeȱasȱdiferençasȱentreȱasȱculturas.ȱ ȱ Vimosȱ queȱ aȱ variabilidadeȱ nasȱ característicasȱ (anatômicas,ȱ fisiológicasȱ eȱ comportamentais)ȱ entreȱ membrosȱ deȱ umaȱ mesmaȱ espécieȱ permiteȱ aȱ seleçãoȱ deȱ novasȱ característicasȱ que,ȱ emȱ algumȱ momento,ȱ passamȱ aȱ serȱ maisȱ adequadasȱ aȱ umȱ ambienteȱ (seleçãoȱ noȱ nívelȱ filogenético).ȱ Vimosȱ tambémȱ queȱ aȱ variabilidadeȱ nosȱ comportamentosȱ individuaisȱpermiteȱqueȱnovosȱcomportamentosȱsejamȱselecionadosȱpeloȱambienteȱ (seleçãoȱ noȱnívelȱontogenético).ȱDaȱmesmaȱ forma,ȱvariabilidadeȱnasȱpráticasȱculturaisȱdeȱumȱgrupoȱ permiteȱoȱsurgimentoȱdeȱnovasȱpráticasȱculturais,ȱistoȱé,ȱpermitaȱmudançaȱnaȱcultura.ȱ ȱ Asȱpráticasȱculturaisȱdeȱumȱpovo,ȱsegundoȱSkinnerȱ(1953/1998;ȱ1981/2007),ȱproduzemȱ certasȱ consequênciasȱ paraȱ esseȱ grupo.ȱ Porȱ exemplo,ȱ seȱ aȱ maioriaȱ dosȱ indivíduosȱ deȱ umȱ determinadoȱgrupo,ȱqueȱmoraȱàȱbeiraȱdeȱumȱrio,ȱemiteȱregularmenteȱcomportamentosȱqueȱ mantêmȱoȱ rioȱ limpo,ȱeȱobservamosȱesseȱhábitoȱatravésȱdasȱgeraçõesȱnesseȱgrupo,ȱdizemosȱ entãoȱqueȱessesȱcomportamentosȱconstituemȱumaȱpráticaȱculturalȱdaqueleȱgrupo.ȱSegundoȱ Skinner,ȱterȱoȱrioȱlimpoȱ(livreȱdeȱdoenças,ȱáguaȱpotável,ȱetc.)ȱéȱumaȱconseqüênciaȱdaȱpráticaȱ culturalȱ eȱ éȱ estaȱ conseqüência,ȱ esseȱ efeitoȱ sobreȱ oȱ grupoȱ comoȱ umȱ todo,ȱ queȱ mantémȱ aȱ ocorrênciaȱdessaȱprática.ȱNesteȱ sentido,ȱdizemosȱqueȱ estaȱ conseqüênciaȱ selecionouȱ aquelaȱ práticaȱcultural.ȱ CausalidadeȱeȱExplicaçãoȱnoȱBehaviorismoȱRadicalȱ ȱ Porȱqueȱasȱfloresȱcaemȱnoȱoutonoȱeȱnãoȱnaȱprimavera?ȱPorȱqueȱoȱcéuȱéȱazul?ȱPorȱqueȱ asȱcoisasȱcaemȱparaȱbaixoȱeȱnãoȱparaȱcima?ȱPorȱqueȱdepoisȱdeȱcozidoȱoȱovoȱnãoȱpodeȱserȱ “descozido”?ȱPorȱqueȱtemosȱcincoȱdedosȱemȱcadaȱmãoȱeȱnãoȱseis?ȱPorȱqueȱalgumasȱpessoasȱ induzemȱvômitoȱemȱsiȱmesmasȱdepoisȱdeȱcomer?ȱPorȱqueȱalgumasȱcriançasȱaprendemȱmaisȱ rapidamenteȱqueȱoutras?ȱPorȱqueȱalgunsȱgruposȱsociaisȱodeiamȱoutrosȱgruposȱsociais?ȱPorȱ queȱfulanoȱfezȱaquilo?ȱPorȱqueȱsicranoȱtemȱagidoȱdeȱformaȱtãoȱestranha?ȱEssasȱperguntasȱsãoȱ apenasȱexemplosȱdeȱumȱtraçoȱbastanteȱcaracterísticoȱdoȱcomportamentoȱhumano:ȱqueremosȱ explicarȱ tudoȱoȱqueȱaconteceȱaoȱnossoȱredor,ȱprincipalmenteȱaquiloȱqueȱasȱpessoasȱ(ouȱnósȱ mesmos)ȱfazemȱouȱdeixamȱdeȱfazer.ȱ Emȱumȱsentidoȱamplo,ȱexplicarȱsignificaȱapontarȱasȱcausasȱdeȱalgumaȱcoisa.ȱQuandoȱ fazemosȱ aȱ perguntaȱ “porȱ queȱ fulanoȱ agiuȱ daquelaȱ forma?”ȱ estamosȱ perguntandoȱ “oȱ queȱ causouȱaȱaqueleȱcomportamento”.ȱDuranteȱumȱcursoȱdeȱPsicologia,ȱporȱexemplo,ȱboaȱparteȱ doȱqueȱosȱprofessoresȱensinamȱrefereȬseȱàsȱcausasȱdosȱcomportamentosȱdosȱindivíduos;ȱporȱ queȱpensamȱoȱqueȱpensam?ȱPorȱqueȱsentemȱoȱqueȱsentem?ȱPorȱqueȱfalamȱoȱqueȱfalam?ȱPorȱ ȱ 10 queȱ fazemȱoȱqueȱ fazem?ȱOuȱporȱqueȱdeixamȱdeȱ falar,ȱ fazer,ȱpensarȱouȱsentirȱoȱqueȱ falam,ȱ fazem,ȱ pensamȱ eȱ sentem?ȱ Entretanto,ȱ oȱ alunoȱ deȱ Psicologia,ȱ jáȱ noȱ primeiroȱ semestreȱ doȱ curso,ȱseȱdeparaȱcomȱumȱ“problema”ȱqueȱoȱacompanharáȱatéȱoȱfinalȱdoȱcursoȱ–ȱeȱatéȱmesmoȱ depoisȱdeȱ formado:ȱ oȱ estudanteȱ começaȱ aȱ aprenderȱ queȱ existemȱdiversasȱ abordagensȱ emȱ Psicologiaȱ eȱ queȱ cadaȱ umaȱ delasȱ apontaȱ diferentesȱ causasȱ paraȱ osȱ comportamentosȱ dasȱ pessoas.Paraȱ complicarȱ maisȱ aindaȱ aȱ vidaȱ doȱ estudante,ȱ muitasȱ vezesȱ háȱ conflitos,ȱ divergênciasȱentreȱasȱexplicações.ȱNaȱaulaȱdoȱprimeiroȱhorárioȱoȱprofessorȱdizȱqueȱasȱcausasȱ deȱ umȱ determinadoȱ fenômenoȱ comportamentalȱ (umȱ transtornoȱ deȱ personalidade,ȱ porȱ exemplo)ȱsãoȱX;ȱ jáȱnaȱaulaȱdoȱsegundoȱhorárioȱoȱprofessorȱdizȱ“Turma,ȱXȱnãoȱexplicaȱnadaȱ sobreȱesseȱtranstornoȱdeȱpersonalidade.ȱNaȱverdade,ȱasȱverdadeirasȱcausasȱsãoȱYȱeȱZ”.ȱ Porȱ queȱ issoȱ ocorre?ȱ Porȱ queȱ essaȱ divergência?ȱ Essaȱ “confusão”ȱ ocorreȱ porȱ umȱ simplesȱmotivo:ȱexistemȱdiversosȱmodelosȱexplicativosȱnaȱPsicologiaȱ–ȱeȱnasȱciênciasȱemȱgeral.ȱ Umȱmodeloȱexplicativoȱ refereȬse,ȱdeȱmaneiraȱgeral,ȱàȱ formaȱ comoȱ seȱexplica,ȱ seȱapontaȱasȱ causas,ȱ deȱ umȱ dadoȱ fenômeno.ȱ Porȱ exemplo,ȱ imagineȱ oȱ casoȱ deȱ umȱ rapazȱ queȱ temȱ dificuldadesȱdeȱ iniciarȱeȱmanterȱumaȱconversaȱcomȱumaȱgarotaȱqueȱeleȱacheȱatraente.ȱUmaȱ formaȱdeȱexplicarȱessaȱdificuldadeȱéȱdizerȱqueȱoȱrapazȱéȱtímido,ȱintrovertido.ȱOutraȱéȱdizerȱ queȱeleȱ temȱmedoȱdeȱserȱ rejeitado,ȱouȱqueȱ temȱbaixaȱautoȬestima,ȱou,ȱainda,ȱqueȱhojeȱesseȱ rapazȱ temȱ essaȱdificuldadeȱporqueȱ emȱoutrasȱvezesȱqueȱabordouȱumaȱgarotaȱqueȱachasseȱ interessanteȱasȱconsequênciasȱforamȱdesastrosas.ȱ Porȱqueȱosȱorganismosȱseȱcomportam?ȱ Oȱ subtítuloȱ acimaȱ levaȱ oȱ mesmoȱ nomeȱ doȱ Capítuloȱ IIIȱ doȱ livroȱ Ciênciaȱ eȱ ComportamentoȱHumanoȱ(Skinner,ȱ1953/1998).ȱNesseȱcapítuloȱSkinnerȱabordaȱalgumasȱcausasȱ geraisȱ utilizadasȱ comumenteȱ pareȱ seȱ explicarȱ oȱ comportamento,ȱ apontandoȱ algunsȱ problemasȱ emȱ seȱ utilizarȱ taisȱ causas.ȱ Umȱ primeiroȱ pontoȱ destacadoȱ porȱ Skinnerȱ éȱ queȱ nenhumȱtipoȱdeȱcausaȱdeveȱserȱdescartadoȱdeȱimediato:ȱ“Qualquerȱcondiçãoȱouȱeventoȱqueȱ tenhaȱ algumȱ efeitoȱ demonstrávelȱ sobreȱ oȱ comportamentoȱ deveȱ serȱ consideradoȱ (p.ȱ 24)”.ȱ Note,ȱentretanto,ȱoȱusoȱdaȱpalavraȱdemonstrável.ȱOȱproblemaȱdeȱseȱatribuirȱcertasȱcausasȱaoȱ comportamentoȱnãoȱ éȱ aȱ causaȱ emȱ si,ȱmasȱ aȱ faltaȱdeȱ evidênciasȱqueȱ atestemȱqueȱ aȱ aqueleȱ eventoȱouȱcondição,ȱdeȱfato,ȱexerceȱalgumaȱinfluênciaȱsobreȱoȱcomportamentoȱdeȱalguém.ȱ Seȱumȱ indivíduoȱ acredita,ȱporȱ exemplo,ȱ queȱ aȱposiçãoȱdosȱ astrosȱ noȱmomentoȱdoȱ nascimentoȱ deȱ umaȱ pessoaȱ influência,ȱ ouȱ atéȱ mesmo,ȱ determinaȱ osȱ comportamentosȱ deȱ alguémȱpeloȱrestoȱdeȱsuaȱvida,ȱesteȱindivíduoȱdeveriaȱserȱcapazȱdeȱdemonstrarȱessaȱinfluência.ȱ Skinnerȱ (1953/1998)ȱ apontaȱ queȱ oȱ problemaȱ comȱ explicaçõesȱ advindas,ȱ porȱ exemplo,ȱ daȱ astrologiaȱ eȱ daȱ numerologia,ȱ “sãoȱ tãoȱ vagasȱ queȱ aȱ rigorȱ nãoȱ podemȱ serȱ confirmadasȱ ouȱ desmentidasȱ (p.ȱ25)”.ȱSeȱvocêȱdizȱ aȱumȱamigo:ȱ“amanhãȱvaiȱ chover,ȱmasȱpodeȱ fazerȱ sol”,ȱ ficaráȱ difícilȱ dizerȱ queȱ vocêȱ estavaȱ erradoȱ naȱ suaȱ previsão.ȱ Daȱ mesmaȱ forma,ȱ dizer,ȱ porȱ exemplo,ȱ “osȱ arianosȱ costumamȱ serȱ bastanteȱ ingênuos,ȱ porémȱ comȱ espíritoȱ inquietoȱ eȱ selvagemȱ àsȱ vezes”ȱ constituiȱumaȱproposiçãoȱdifícilȱdeȱdemonstrarȱ queȱ estáȱ incorreta,ȱdeȱ avaliar.ȱ Outraȱ explicaçãoȱ (ouȱ causa)ȱ queȱ asȱ pessoasȱ geralmenteȱ usamȱ paraȱ explicarȱ oȱ comportamentoȱ deȱ alguém,ȱ ouȱ delasȱ próprias,ȱ éȱ aȱ hereditariedade.ȱ Comoȱ vimosȱ anteriormente,ȱparteȱdoȱcomportamentoȱdosȱorganismosȱéȱfrutoȱdaȱseleçãoȱnatural,ȱouȱseja,ȱ sãoȱ determinadosȱ geneticamente.ȱ Entretanto,ȱ segundoȱ Skinnerȱ (1953/1998),ȱ explicarȱ asȱ diferençasȱdeȱcomportamento,ȱdeȱpersonalidadeȱeȱasȱaptidõesȱdeȱindivíduosȱdeȱumaȱmesmaȱ espécieȱ aȱ partirȱ daȱ hereditariedade,ȱ podeȱ constituirȱ umȱ equívoco.ȱ Éȱ bastanteȱ plausívelȱ ȱ 11 presumirȱ queȱ aȱ hereditariedadeȱ possaȱ desempenharȱ algumȱ papelȱ naȱ explicaçãoȱ dosȱ comportamentosȱdeȱ umaȱ pessoa.ȱNoȱ entanto,ȱ éȱ comumȱ exagerarȬseȱ naȱ importânciaȱdesseȱ papel,ȱalémȱdoȱfatoȱdeȱqueȱinfereȬseȱqueȱumȱcomportamentoȱéȱinatoȱporȱdesconhecermosȱosȱ efeitosȱ daȱ experiênciaȱ individualȱ paraȱ oȱ seuȱ desenvolvimentoȱ (hereditárioȱ éȱ oȱ queȱ nãoȱ consigoȱprovarȱqueȱéȱaprendido).ȱ Alémȱ daȱ faltaȱ deȱ dadosȱ conclusivosȱ sobreȱ aȱ influênciaȱ dessesȱ fatoresȱ noȱ comportamentoȱhumano,ȱistoȱé,ȱalémȱdaȱfaltaȱdeȱevidênciasȱdeȱqueȱessesȱfatoresȱsãoȱcausasȱ (ouȱ influências)ȱ legítimasȱdoȱcomportamento,ȱháȱumȱproblemaȱaindaȱmaior:ȱquantoȱmaisȱoȱ comportamentoȱdeȱumaȱpessoaȱforȱexplicadoȱporȱessesȱfatores,ȱmenosȱoȱpapelȱdoȱpsicólogoȱ seráȱnecessárioȱ(Skinner,ȱ1953/1998).ȱSeȱaȱ“causa”ȱdaȱtimidezȱdeȱalguémȱforȱhereditária,ȱporȱexemplo,ȱ issoȱ significaȱ dizerȱ queȱ éȱ genética,ȱ logo,ȱ essaȱ pessoaȱ estariaȱ “condenada”ȱ aȱ serȱ tímidaȱ peloȱ restoȱ deȱ suaȱ vida.ȱ Éȱ curiosoȱ observarȱ queȱ algunsȱ psicólogosȱ eȱ alunosȱ deȱ psicologiaȱ gostemȱ deȱ darȱ tantaȱ ênfaseȱ aoȱ papelȱ daȱ hereditariedadeȱ naȱ “causação”ȱ doȱ comportamento.ȱ Devemosȱ reconhecerȱ queȱ aȱ hereditariedadeȱ possaȱ explicarȱ parteȱ doȱ comportamentoȱdeȱumaȱpessoa,ȱmasȱdevemosȱ“apostarȱnossasȱfichas”ȱmaisȱnaȱaprendizagemȱ eȱ naȱ interaçãoȱ doȱ queȱ naȱ hereditariedade.ȱ Psicólogosȱ queȱ acreditamȱ queȱ “pauȱ queȱ nasceȱ torto,ȱmorreȱtorto”,ȱestãoȱnaȱprofissãoȱerrada.ȱ Skinnerȱ (1953/1998)ȱapontaȱaindaȱumȱoutroȱ conjuntoȱdeȱ causasȱ–ȱequivocadasȱ–ȱdoȱ comportamentoȱqueȱeleȱchamouȱcausasȱinternas,ȱqueȱsãoȱdeȱtrêsȱtipos:ȱ(a)ȱcausasȱneurais;ȱ(b)ȱ causasȱ internasȱ psíquicas;ȱ eȱ (c)ȱ causasȱ internasȱ conceituais.ȱ Estamosȱ explicandoȱ oȱ comportamentoȱ aȱ partirȱ deȱ causasȱ neuraisȱ quandoȱ utilizamosȱ expressõesȱ comoȱ “fulanoȱ estavaȱ comȱ osȱ nervosȱ àȱ florȱ pele”ȱ eȱ “sicranoȱ temȱmioloȱmoleȱ ouȱ nãoȱ bateȱ bemȱdaȱ bola”.ȱ Podemosȱusarȱ termosȱmaisȱ técnicosȱ também,ȱ como,ȱporȱ exemplo,ȱ “fulanoȱ estáȱdeprimidoȱ porqueȱseusȱníveisȱdeȱserotoninaȱestãoȱbaixos”.ȱ Skinnerȱ (1953/1998)ȱ fazȱ duasȱ consideraçõesȱ importantesȱ acercaȱ daȱ atribuiçãoȱ deȱ causasȱneuraisȱdoȱcomportamento.ȱAȱprimeiraȱdelasȱdizȱ respeitoȱaoȱ fatoȱdeȱqueȱcondiçõesȱ específicasȱdoȱnossoȱ sistemaȱnervosoȱnãoȱ sãoȱ asȱ causasȱdeȱumȱdadoȱ comportamento,ȱ sãoȱ parteȱdoȱcomportamentoȱdoȱindivíduo.ȱPorȱexemplo,ȱquandoȱdizemosȱqueȱumaȱpessoaȱestáȱ deprimida,ȱ estamosȱ dizendo,ȱ entreȱ outrasȱ coisas,ȱ queȱ elaȱ podeȱ estarȱ tendoȱ pensamentosȱ recorrentesȱdeȱmorteȱouȱsuicídioȱeȱtambémȱqueȱseusȱníveisȱdeȱserotoninaȱpodemȱestarȱbaixos.ȱ Aȱ causaȱ relevanteȱ daȱ depressão,ȱ paraȱ oȱ psicólogo,ȱ estaráȱ emȱ acontecimentosȱ daȱ vidaȱ daȱ pessoaȱ(e.g.,ȱperdaȱdeȱumȱenteȱquerido).ȱȱ Umȱsegundoȱproblemaȱemȱseȱatribuirȱcausasȱneuraisȱaoȱcomportamentoȱéȱdeȱordemȱ maisȱprática:ȱoȱpsicólogo,ȱnoȱ exercícioȱdeȱ suaȱprofissão,ȱnãoȱdispõeȱdeȱ instrumentosȱparaȱ “acessar”ȱ oȱ sistemaȱ nervosoȱ deȱ umaȱ pessoa,ȱ alémȱ deȱ nãoȱ poderȱ “interferir”ȱ diretamenteȱ nesseȱsistemaȱnervosoȱcom,ȱporȱexemplo,ȱcirurgiasȱeȱmedicamentos.ȱAlémȱdisso,ȱconformeȱ apontadoȱ porȱ Skinnerȱ (1953/1998),ȱ mesmoȱ conhecendoȱ todosȱ osȱ aspectosȱ neurológicosȱ relacionadosȱàȱdepressão,ȱporȱexemplo,ȱaindaȱassimȱdeveremosȱbuscarȱnaȱhistóriaȱdaȱpessoaȱ comȱdepressãoȱeventos,ȱsituaçõesȱqueȱserão,ȱdeȱfato,ȱaȱcausaȱ(ouȱcausas)ȱdaȱsuaȱdepressão,ȱouȱ seja,ȱqueȱ serãoȱaȱ causaȱúltimaȱdosȱ“sintomasȱ comportamentais”ȱ (e.g.,ȱ idéiasȱ suicidas)ȱbemȱ comoȱdasȱalteraçõesȱneurológicasȱ(e.g.,ȱbaixoȱnívelȱdeȱserotonina6).ȱ ȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱȱ 6ȱOȱconhecimentoȱqueȱtemosȱhojeȱsobreȱoȱfuncionamentoȱdoȱcérebroȱéȱconsideravelmenteȱmaiorȱqueȱ aqueleȱ disponívelȱ emȱ 1953,ȱ eȱ sabemosȱ hojeȱ comoȱ muitosȱ “estadosȱ internos”ȱ interferemȱ noȱ funcionamentoȱ globalȱ doȱ indivíduo.ȱ Noȱ entanto,ȱ aindaȱ devemosȱ analisarȱ comȱ bastanteȱ cuidadoȱ explicaçõesȱsobreȱoȱcomportamentoȱbaseadasȱnoȱfuncionamentoȱcerebral.ȱÉȱinteressante,ȱsempreȱqueȱ possível,ȱconsiderarȱasȱfunçõesȱcerebraisȱcomoȱparteȱdoȱcomportamento,ȱnãoȱsuaȱcausa.ȱ ȱ 12 Osȱ doisȱ outrosȱ tiposȱ deȱ causasȱ internasȱ (psíquicasȱ eȱ conceituais)ȱ apontadosȱ porȱ Skinnerȱ (1953/1998)ȱ podemȱ serȱ agrupadosȱ emȱ umȱ únicoȱ tipo,ȱ dadoȱ queȱ apresentamȱ osȱ mesmosȱproblemas:ȱ sãoȱ circularesȱ eȱ expressamȱ aȱ idéiaȱdeȱ outroȱ serȱ ouȱ agenteȱqueȱhabitaȱ nossosȱ corposȱ eȱ causaȱ nossosȱ comportamentos.ȱ Essesȱ doisȱ tiposȱ deȱ causaȱ podemȱ serȱ exemplificadosȱpeloȱusoȱdeȱexpressõesȱcomoȱ“fulanoȱtemȱumȱpersonalidadeȱdesordenada”,ȱ “suaȱconsciênciaȱéȱseuȱguia”,ȱ“fulanoȱfumaȱdemaisȱporqueȱ temȱoȱvícioȱdoȱfumo”,ȱ“eleȱ jogaȱ bemȱxadrezȱporqueȱéȱinteligente”,ȱ“elaȱbrigaȱporȱcausaȱdoȱseuȱinstintoȱdeȱluta”ȱouȱ“sicranoȱ tocaȱbemȱpianoȱporȱ causaȱdeȱ suaȱhabilidadeȱmusical”ȱ (Skinner,ȱ1953/1998,ȱp.ȱ32Ȭ33).ȱEssesȱ doisȱ tiposȱdeȱexplicaçãoȱsãoȱoȱqueȱSkinnerȱ (1974/2003)ȱchamouȱdeȱexplicaçõesȱmentalistas,ȱ queȱsãoȱexplicaçõesȱqueȱnosȱdãoȱaȱfalsaȱimpressãoȱdeȱestarmosȱexplicandoȱalgoȱquando,ȱnaȱ verdade,ȱnãoȱestamos.ȱVeremosȱporȱqueȱaȱseguir.ȱ Explicaçõesȱcircularesȱdoȱcomportamentoȱ Tomemosȱcomoȱexemploȱaȱ fraseȱcitadaȱanteriormente:ȱ“fulanoȱ fumaȱdemaisȱporqueȱ temȱoȱvícioȱdoȱfumo”.ȱQuandoȱdizemosȱumaȱfraseȱassimȱestamosȱquerendoȱexplicarȱporqueȱ alguémȱ fumaȱdemais,ȱ ouȱ seja,ȱ estamosȱ apontandoȱ aȱ causaȱ doȱ “fumarȱ demais”.ȱEstamosȱ tãoȱ acostumadosȱcomȱesteȱtipoȱdeȱexplicaçãoȱqueȱmuitasȱvezesȱnãoȱpercebemosȱumȱerroȱ lógicoȱ inerenteȱaȱele:ȱcausaȱeȱefeitoȱnãoȱpodemȱserȱaȱmesmaȱcoisa,ȱoȱmesmoȱeventoȱ(e.g.,ȱ“cairȱáguaȱ doȱcéu”ȱnãoȱpodeȱserȱaȱexplicaçãoȱdeȱporqueȱestáȱchovendo).ȱSeȱdedicarmosȱumȱpoucoȱdoȱ nossoȱ tempoȱ paraȱ analisarȱ proposiçõesȱ comoȱ essa,ȱ logoȱ perceberemosȱ queȱ nadaȱ estamosȱ explicando.ȱ“Fulanoȱfumaȱdemais”ȱeȱ“fulanoȱtemȱoȱvícioȱdoȱfumo”ȱsãoȱexatamenteȱaȱmesmaȱ proposição,ȱistoȱé,ȱtêmȱexatamenteȱoȱmesmoȱsignificado.ȱ Quandoȱdizemosȱ“fulanoȱfumaȱdemais”,ȱoȱdizemosȱaoȱobservarȱoȱcomportamentoȱdeȱ alguémȱ(oȱnúmeroȱdeȱcigarrosȱqueȱumȱamigoȱouȱconhecidoȱfumaȱporȱdia,ȱporȱexemplo).ȱAoȱ observarȱ oȱ comportamentoȱ (fumarȱdemais),ȱ queremosȱ explicáȬlo,ȱ indicarȱ suaȱ causa,ȱ entãoȱ dizemosȱ“fulanoȱfumaȱdemaisȱporqueȱtemȱoȱvícioȱdoȱfumo”.ȱDizerȱqueȱfulanoȱtemȱoȱvícioȱdoȱ fumo,ȱdeȱalgumaȱforma,ȱnosȱpassaȱumaȱidéiaȱdeȱqueȱháȱalgoȱ(oȱvício)ȱdentroȱdaquelaȱpessoa,ȱ eȱqueȱesteȱvícioȱaȱ impeleȱaȱ fumar.ȱNoȱentanto,ȱaȱúnicaȱevidênciaȱqueȱ temosȱdaȱexistênciaȱ desseȱvícioȱéȱoȱpróprioȱcomportamentoȱdeȱfumar.ȱOȱdiálogoȱabaixoȱtalvezȱdeixeȱmaisȱclaraȱaȱ circularidadeȱdesseȱtipoȱdeȱexplicação:ȱ ȱ Pessoaȱ1:ȱPorȱqueȱfulanoȱfumaȱtanto?ȱ Pessoaȱ2:ȱPorqueȱeleȱéȱviciado.ȱ Pessoaȱ1:ȱAh!ȱMasȱcomoȱvocêȱsabeȱqueȱeleȱéȱviciado?ȱ Pessoaȱ2:ȱOra!ȱPorqueȱeleȱfumaȱdemais!ȱ Pessoaȱ1:ȱMasȱporȱqueȱeleȱfumaȱdemais?ȱ Pessoaȱ2:ȱPorqueȱtemȱesseȱvício!ȱ Pessoaȱ1:ȱNãoȱestouȱentendendo!ȱEleȱfumaȱdemaisȱporqueȱéȱviciadoȱemȱcigarroȱouȱéȱviciadoȱ emȱcigarroȱporqueȱfumaȱdemais?ȱ Pessoaȱ2:ȱOsȱdois,ȱora!ȱ ȱ Dizer,ȱportanto,ȱqueȱalguémȱtemȱoȱvícioȱdoȱfumoȱsignificaȱapenasȱdizerȱqueȱalguémȱ fumaȱ(demais),ȱmasȱnadaȱnosȱexplicaȱsobreȱaȱorigem,ȱaȱcausa,ȱdoȱfumarȱdemaisȱ(ouȱdoȱvício).ȱÉȱ relativamenteȱsimplesȱperceberȱaȱcircularidadeȱdessaȱexplicaçãoȱpoisȱvícioȱdoȱfumoȱrefereȬseȱaȱ unsȱpoucosȱcomportamentosȱdoȱindivíduoȱrelacionadosȱaoȱconsumoȱdeȱcigarros.ȱEntretanto,ȱ háȱumaȱsérieȱdeȱoutrasȱexplicaçõesȱqueȱ lançamȱmãoȱdeȱconceitosȱpsicológicosȱparaȱexplicarȱ comportamentosȱ maisȱ complexosȱ eȱ queȱ incorremȱ noȱ mesmoȱ erro.ȱ Oȱ usoȱ doȱ conceitoȱ deȱ ȱ 13 inteligênciaȱéȱumȱbomȱexemplo.ȱVejamosȱaȱ seguinteȱ frase:ȱ“Joãoȱ jogaȱbemȱxadrezȱporqueȱéȱ inteligente”.ȱCertamenteȱ jogarȱxadrezȱbemȱnãoȱéȱaȱúnicaȱrealizaçãoȱdeȱumaȱpessoaȱqueȱnosȱ levaȱaȱdizerȱqueȱelaȱéȱinteligente.ȱHáȱumaȱinfinidadeȱdeȱcoisasȱqueȱasȱpessoasȱfalamȱeȱfazemȱ queȱ nosȱ levamȱ aȱ dizerȱ queȱ essasȱ pessoasȱ sãoȱ inteligentes.ȱ Entretanto,ȱ usar,ȱ porȱ exemplo,ȱ inteligênciaȱ comoȱ explicação,ȱ comoȱ causaȱdeȱ comportamentos,ȱ implicaȱ oȱmesmoȱproblemaȱ apontadoȱ paraȱ oȱ usoȱ deȱ vícioȱ comoȱ explicaçãoȱ paraȱ oȱ comportamentoȱ deȱ fumar:ȱ aȱ únicaȱ evidênciaȱqueȱtemosȱdeȱqueȱaȱpessoaȱéȱinteligenteȱéȱoȱfatoȱqueȱelaȱjogaȱbemȱxadrezȱ(eleȱjogaȱ bemȱxadrezȱporqueȱéȱinteligenteȱouȱéȱinteligenteȱporqueȱjogaȱbemȱxadrez?).ȱDizer,ȱnesteȱcaso,ȱ “fulanoȱéȱinteligente”ȱeȱ“fulanoȱjogaȱbemȱxadrez”ȱsignificamȱaȱmesmaȱcoisa,ȱumaȱproposiçãoȱ nãoȱéȱaȱexplicação,ȱaȱcausa,ȱdaȱoutra.ȱ Seȱpararmosȱporȱumȱmomentoȱparaȱanalisarmosȱosȱusosȱqueȱfazemosȱdoȱconceitoȱdeȱ inteligência,ȱperceberemosȱfacilmenteȱqueȱnãoȱestamosȱexplicandoȱporȱqueȱalgumasȱpessoasȱ fazemȱouȱ falamȱ certasȱ coisasȱ–ȱouȱ falamȱouȱ fazemȱ certasȱ coisasȱdeȱ certasȱmaneiras.ȱOȱusoȱ desseȱ conceito,ȱ porȱ exemplo,ȱ temȱ umaȱ funçãoȱ adverbial,ȱ istoȱé,ȱ nãoȱ estamosȱ explicandoȱ oȱ comportamentoȱ dasȱ pessoas,ȱ masȱ simȱ usandoȱ oȱ conceitoȱ comoȱ umȱ advérbioȱ (jogarȱ bemȱ xadrezȱ versusȱ jogarȱ malȱ xadrez;ȱ OliveriaȬCastroȱ &ȱ OliveiraȬCastro,ȱ 2003).ȱ Analisarȱ comoȱ usamosȱcertosȱconceitosȱpsicológicosȱéȱumaȱótimaȱatividadeȱparaȱpercebermosȱqueȱmuitasȱ dasȱcausas/explicaçõesȱqueȱatribuímosȱaoȱcomportamentoȱdosȱoutros,ȱeȱaoȱnossoȱpróprio,ȱnaȱ verdade,ȱ nadaȱ explicam.ȱ Apenasȱ comoȱ umȱ exercícioȱ desseȱ tipoȱ deȱ análise,ȱ eȱ paraȱ complementarȱoȱraciocínioȱsobreȱexplicaçõesȱcirculares,ȱapresentaremosȱaȱseguirȱumaȱbreveȱ análiseȱ deȱ umȱ conceitoȱ psicológicoȱ ostensivamenteȱ utilizadoȱ comoȱ causa/explicaçãoȱ doȱ comportamentoȱdosȱorganismos:ȱoȱconceitoȱdeȱmotivação.ȱ Asȱlógicasȱdoȱusoȱdoȱconceitoȱdeȱmotivaçãoȱ(exemploȱdeȱanáliseȱconceitual)ȱ Segundoȱ Todorovȱ eȱ Moreiraȱ (2005)ȱ “motivação,ȱ assimȱ comoȱ aprendizagem,ȱ éȱ umȱ termoȱ largamenteȱusadoȱemȱcompêndiosȱdeȱpsicologiaȱe,ȱcomoȱaprendizagem,ȱéȱusadoȱemȱ diferentesȱcontextosȱcomȱdiferentesȱsignificados”ȱ(p.ȱ120).ȱOȱusoȱdoȱconceitoȱdeȱmotivação,ȱ tantoȱnaȱ linguagemȱcotidianaȱquantoȱemȱcontextosȱmaisȱ técnicosȱouȱespecíficos,ȱéȱfeitoȱdasȱ maisȱ diferentesȱ maneiras,ȱ assumindoȱ muitasȱ vezesȱ lógicasȱ bastanteȱ distintas.ȱ Éȱ comumȱ usarmosȱoȱconceitoȱdeȱmotivaçãoȱparaȱexplicarȱoȱcomportamentoȱdosȱindivíduos,ȱentretanto,ȱ aȱ análiseȱdoȱ seuȱusoȱ tantoȱnaȱ linguagemȱdoȱdiaȬaȬdia,ȱ quantoȱ emȱ linguagemȱ técnica,ȱnosȱ revelaȱqueȱoȱconceitoȱéȱ importante,ȱ temȱsuaȱutilidade,ȱmasȱnãoȱnosȱ informa,ȱmuitasȱvezes,ȱ sobreȱasȱcausasȱdoȱcomportamentoȱdeȱalguém.ȱ Usoȱ disposicionalȱ (tendênciaȱ aȱ agirȱ deȱ certaȱmaneira).ȱOȱ filósofoȱ daȱ linguagemȱGilbertȱ Ryleȱ (1949)ȱ argumentaȱ queȱ muitosȱ dosȱ conceitosȱ psicológicosȱ utilizadosȱ paraȱ explicarȱ oȱ comportamentoȱ dasȱ pessoasȱ descrevemȱ disposiçõesȱ (conceitosȱ disposicionais)ȱ eȱ nãoȱ ocorrênciasȱ (algoȱqueȱacontece).ȱSegundoȱRyle,ȱaȱ lógicaȱdoȱusoȱdeȱconceitosȱdisposicionais,ȱ comoȱ explicaçãoȱ daȱ ação,ȱ éȱ diferenteȱ daȱ lógicaȱ deȱ explicaçõesȱ (causas)ȱ emȱ termosȱ deȱ ocorrências.ȱPodemosȱresumirȱessaȱdiferençaȱdaȱseguinteȱforma:ȱexplicaçõesȱcausaisȱsãoȱdoȱ tipoȱseȱAȱentãoȱB;ȱjáȱexplicaçõesȱdisposicionaisȱsãoȱdoȱtipoȱseȱAȱentãoȱtendênciaȱaȱocorrerȱB.ȱ Umȱexemploȱtípicoȱdeȱconceitoȱdisposicionalȱéȱvaidade.ȱDizerȱqueȱalguémȱéȱvaidosoȱéȱ equivalenteȱaȱdizerȱqueȱestaȱpessoaȱ temȱaȱ tendênciaȱdeȱagirȱdeȱdeterminadasȱmaneirasȱemȱ determinadasȱocasiões.ȱDizer,ȱportanto,ȱqueȱalguémȱéȱvaidoso,ȱapenasȱnosȱdáȱ informaçõesȱ sobreȱaȱprobabilidadeȱdessaȱpessoaȱagirȱdeȱcertasȱmaneiras,ȱmasȱnãoȱasȱcausasȱdessasȱações.ȱAȱ lógicaȱdoȱusoȱdesseȱconceitoȱéȱaȱmesmaȱdoȱconceito,ȱporȱexemplo,ȱdeȱfumante.ȱHá,ȱnoȱentanto,ȱ umaȱdiferençaȱcríticaȱentreȱessesȱdoisȱconceitosȱ(fumanteȱeȱvaidoso):ȱnoȱprimeiroȱexemploȱháȱ ȱ 14 umȱnúmeroȱ restritoȱdeȱ casos,ȱdeȱ comportamentosȱ (fumar;ȱacenderȱumȱ isqueiroȱeȱ comprarȱ cigarros)ȱ queȱ circunscrevemȱ aȱ listaȱ deȱ ocorrênciasȱ queȱ seȱ constituemȱ comoȱ umȱ casoȱ (umȱ comportamento)ȱ pertencenteȱ aoȱ conceito;ȱ jáȱ noȱ segundoȱ exemploȱ (vaidade)ȱ oȱ númeroȱ deȱ coisasȱqueȱoȱ indivíduoȱditoȱvaidosoȱ tendeȱaȱ fazerȱéȱpraticamenteȱ ilimitado.ȱTambémȱnãoȱéȱ necessário,ȱnaȱ lógicaȱdoȱusoȱdeȱconceitosȱdisposicionais,ȱverificarȱaȱocorrênciaȱdeȱ todosȱosȱ casosȱqueȱfazemȱparteȱdoȱconceito.ȱPorȱexemplo,ȱficarȱcomȱraivaȱaoȱverȱoutraȱpessoaȱsendoȱmuitoȱ elogiadaȱnãoȱéȱumaȱocorrênciaȱnecessáriaȱparaȱseȱdizerȱqueȱalguémȱéȱvaidoso.ȱ Conceitosȱdisposicionais,ȱportanto,ȱnãoȱespecificamȱaȱcausaȱdeȱumaȱação.ȱOȱconceitoȱ deȱ motivaçãoȱ pareceȱ serȱ usado,ȱ emȱ algunsȱ casos,ȱ deȱ acordoȱ comȱ aȱ lógicaȱ deȱ conceitosȱ disposicionais,ȱtantoȱnaȱlinguagemȱcotidianaȱquantoȱtécnicaȱdaȱPsicologia.ȱTalȱusoȱdeveȱserȱ examinadoȱcomȱcuidado,ȱvistoȱqueȱoȱconceitoȱdeȱmotivaçãoȱmuitasȱvezesȱéȱempregadoȱparaȱ explicarȱporȱqueȱasȱpessoasȱfazemȱoȱqueȱfazem.ȱ ȱ Dizer,ȱ porȱ exemplo,ȱ queȱ Pedroȱ éȱ bemȱ sucedidoȱ noȱ trabalhoȱ porqueȱ éȱ umȱ rapazȱ motivadoȱ(ouȱqueȱtemȱmuitaȱmotivaçãoȱparaȱoȱtrabalho)ȱnãoȱéȱapontarȱaȱcausaȱdoȱsucessoȱdeȱ Pedro,ȱmasȱapontarȱqueȱPedroȱ temȱumaȱ tendênciaȱparaȱagirȱdeȱdeterminadasȱmaneirasȱnoȱ trabalhoȱ como,ȱ porȱ exemplo,ȱ fazerȱ horaȬextraȱ semȱ reclamarȱ eȱ semȱ receberȱ porȱ isso,ȱ nãoȱ desistirȱ facilmenteȱ frenteȱ aȱ problemas;ȱ realizarȱ tarefasȱ queȱ estãoȱ alémȱ daȱ suaȱ obrigação,ȱ realizarȱbemȱtarefasȱnaȱausênciaȱdoȱchefeȱeȱetc.ȱNesteȱcaso,ȱdizerȱqueȱPedroȱéȱmotivado,ȱnãoȱ explicaȱ porqueȱ eleȱ éȱ bemȱ sucedidoȱ (ouȱ porqueȱ fazȱ asȱ coisasȱ queȱ oȱ levaramȱ aȱ serȱ bemȱ sucedido),ȱ ouȱ porqueȱ trabalhaȱ tanto,ȱ ouȱ porqueȱ trabalhaȱ daȱ formaȱ comoȱ trabalha.ȱDizer,ȱ nesteȱ exemplo,ȱ queȱ Pedroȱ éȱmotivadoȱ apenasȱ nosȱ trásȱ informaçõesȱ sobreȱ aȱ tendênciaȱ deȱ Pedroȱagirȱdeȱcertasȱmaneiras.ȱ Funçãoȱ adverbialȱ (fazerȱ duasȱ coisasȱ versusȱ fazerȱ deȱ certaȱ maneira).ȱ Certosȱ conceitosȱ psicológicosȱcomoȱ inteligência,ȱatenção,ȱobediência,ȱentreȱoutros,ȱ têmȱumaȱ funçãoȱadverbial,ȱ istoȱé,ȱnãoȱ representamȱalgoȱqueȱoȱ indivíduoȱ faz,ȱmasȱqualificamȱoȱqueȱoȱ indivíduoȱ faz,ȱaȱ formaȱ comoȱ eleȱ ageȱ (Ryle,ȱ 1949;ȱOliveiraȬCastroȱ&ȱOliveiraȬCastro,ȱ 2003).ȱEsseȱpareceȱ serȱ tambémȱ umȱ dosȱ usosȱ doȱ conceitoȱ deȱ motivação.ȱ Tomemos,ȱ comoȱ exemplo,ȱ umȱ jogoȱ deȱ futebol.ȱEmȱumaȱdeterminadaȱpartida,ȱtantoȱoȱJogadorȱ1ȱcomoȱoȱJogadorȱ2ȱcorrem,ȱchutamȱaȱ gol,ȱ fazemȱ passesȱ paraȱ osȱ outrosȱ jogadores,ȱ driblam,ȱ “roubam”ȱ bolasȱ dosȱ adversáriosȱ eȱ gritamȱ oȱ nomeȱ dosȱ colegasȱ pedindoȱ aȱ bola.ȱOȱ Jogadorȱ 1,ȱ noȱ entanto,ȱ realizaȱ todasȱ essasȱ atividadesȱdeȱformaȱmaisȱvigorosa,ȱmaisȱintensa,ȱeȱcomȱmaiorȱfreqüência,ȱdestacandoȬseȱnaȱ partidaȱaosȱolhosȱdeȱquemȱaȱassiste.ȱNãoȱseriaȱnenhumȱespantoȱseȱnoȱdiaȱseguinteȱaoȱ jogo,ȱ duranteȱ oȱ “cafezinhoȱ noȱ trabalho”,ȱ oȱ comentárioȱ geralȱ entreȱ osȱ colegasȱ queȱ foramȱ expectadoresȱdaȱpartidaȱnoȱdiaȱanteriorȱfosse:ȱ“OȱJogadorȱ1ȱestavaȱmuitoȱmaisȱmotivadoȱqueȱ oȱJogadorȱ2ȱnaȱpartidaȱ(porȱissoȱjogouȱmelhorȱqueȱosȱcolegas)”.ȱ ȱ Nesteȱcaso,ȱdizȬseȱqueȱoȱconceitoȱtemȱfunçãoȱadverbialȱporȱqualificarȱumaȱação.ȱFazerȱ comȱ motivaçãoȱ nãoȱ éȱ fazerȱ duasȱ coisasȱ (jogarȱ eȱ “estarȱ motivado”),ȱ masȱ simȱ fazerȱ deȱ determinadaȱmaneira;ȱcomoȱprestarȱatençãoȱouȱ fazerȱpensandoȱnoȱqueȱestáȱ fazendoȱnãoȱéȱ fazerȱduasȱcoisasȱdiferentes,ȱmasȱfazerȱumaȱmesmaȱcoisaȱdeȱformasȱdiferentesȱ(Ryle,ȱ1949).ȱ Oȱusoȱcomoȱ substantivoȱ (comoȱnome).ȱNoȱ tocanteȱaoȱusoȱdoȱconceitoȱdeȱmotivaçãoȱnaȱ linguagemȱ técnica,ȱesseȱ tipoȱdeȱusoȱpareceȱserȱoȱmaisȱ inapropriado.ȱ Issoȱseȱdá,ȱsobretudo,ȱ pelaȱ sobreposiçãoȱ comȱ conceitosȱ aparentadosȱ comoȱ impulso,ȱ energia,ȱ força,ȱ motivoȱ eȱ vontade,ȱ entreȱ outros,ȱ queȱ emȱ umaȱ análiseȱ maisȱ cuidadosaȱ geramȱ clarosȱ absurdosȱ ouȱ ampliamȱ tantoȱ oȱ usoȱdoȱ conceitoȱ queȱ esteȱ perdeȱ suaȱ utilidadeȱ (noȱ sentidoȱdeȱdiferenciarȱ certosȱ fenômenosȱdeȱoutros).ȱAbaixoȱ sãoȱapresentadosȱalgunsȱexemplosȱdesseȱ tipoȱdeȱusoȱ encontradosȱ emȱ livrosȱ técnicosȱdeȱPsicologiaȱ eȱAdministração,ȱ eȱ algunsȱ exemplosȱ escritosȱ porȱalunosȱnoȱseuȱprimeiroȱdiaȱdeȱaulaȱdoȱterceiroȱsemestreȱdoȱcursoȱdeȱPsicologiaȱ(emȱsuaȱ ȱ 15 primeiraȱaulaȱsobreȱMotivação).ȱAtenteȱparaȱasȱsemelhançasȱentreȱasȱdefiniçõesȱdeȱautoresȱ clássicosȱeȱasȱdefiniçõesȱfeitasȱpelosȱalunos.ȱ ȱ Nosȱlivros:ȱ 1. “Umȱmotivoȱéȱumaȱnecessidadeȱouȱdesejoȱacopladoȱ comȱaȱ intençãoȱdeȱatingirȱumȱobjetivoȱ apropriado”ȱ(Krenchȱ&ȱCrutchfield,ȱ1959,ȱp.ȱ272).ȱ 2. “Aȱpropriedadeȱbásicaȱdosȱmotivosȱéȱaȱenergizaçãoȱdoȱcomportamento”ȱ(Kimbleȱ&ȱGarmezy,ȱ 1963,ȱp.ȱ405).ȱ 3. “Oȱenergizadorȱdoȱcomportamento”ȱ(Lewis,ȱ1963,ȱp.ȱ560).ȱ 4. “Aȱpsicologiaȱtendeȱaȱlimitarȱaȱpalavraȱmotivaçãoȱ(...)ȱaosȱfatoresȱenvolvidosȱemȱprocessosȱdeȱ energia,ȱeȱaȱincluirȱoutrosȱfatoresȱnaȱdeterminaçãoȱdoȱcomportamento.”ȱ(Cofer,ȱ1972,ȱp.ȱ2).ȱ 5. “Aȱmotivaçãoȱéȱencaradaȱcomoȱumaȱespécieȱdeȱ forçaȱ internaȱqueȱemerge,ȱ regulaȱeȱsustentaȱ todasȱasȱnossasȱaçõesȱmaisȱimportantes.”ȱ(Vernon,ȱ1973,ȱp.11).ȱ6. “Oȱestudoȱdaȱmotivaçãoȱéȱaȱinvestigaçãoȱdasȱinfluênciasȱsobreȱaȱativação,ȱforçaȱeȱdireçãoȱdoȱ comportamento.”ȱ(Arkesȱ&ȱGarske,ȱ1977,ȱp.ȱ3).ȱ 7. “Sempreȱ queȱ sentimosȱ umȱ desejoȱ ouȱ necessidadeȱ deȱ algo,ȱ estamosȱ emȱ umȱ estadoȱ deȱ motivação.ȱMotivaçãoȱ éȱ umȱ sentimentoȱ internoȱ –ȱ éȱ umȱ impulsoȱ queȱ alguémȱ temȱ deȱ fazerȱ algumaȱcoisa.”ȱ(Rogers,ȱLudingtonȱ&ȱGraham,ȱ1997,ȱp.ȱ2).ȱ ȱ Dosȱalunos:ȱ 1. “Aoȱmeuȱmodoȱdeȱobservarȱeȱentenderȱasȱcoisas,ȱmotivaçãoȱéȱumaȱforçaȱinternaȱqueȱlevaȱumaȱ pessoaȱfazerȱalgoȱ(...)”.ȱ 2. “Aȱmotivaçãoȱestáȱligadaȱaoȱinteresse,ȱàȱiniciativa,ȱaȱumaȱvontadeȱdeȱquererȱfazerȱ(...)”.ȱ 3. “Aȱmotivaçãoȱéȱalgoȱqueȱnosȱimpulsionaȱaȱfazerȱalgumaȱcoisa,ȱsuprirȱumaȱnecessidade.”ȱ 4. “Motivaçãoȱéȱalgoȱqueȱestimulaȱoȱindivíduoȱaȱagirȱdeȱdeterminadaȱforma,ȱaȱrazão,ȱoȱmotivoȱ queȱlevaȱumaȱpessoaȱaȱemitirȱdeterminadoȱcomportamento.”ȱ 5. “(...)ȱmotivaçãoȱéȱumaȱforçaȱinternaȱqueȱnosȱlevaȱaȱfazerȱdeterminadasȱcoisasȱemȱdeterminadasȱ situações.”ȱ ȱ Nosȱexemplosȱacimaȱéȱpossívelȱsubstituirȱosȱ termosȱ forçaȱ interna,ȱenergia,ȱ impulso,ȱ motivoȱ eȱ desejoȱ unsȱ pelosȱ outrosȱ infinitasȱ vezes,ȱ eȱ aindaȱ assimȱ osȱ exemplosȱ continuarãoȱ inteligíveis,ȱ entretantoȱ carentesȱ deȱ sentido.ȱ Alémȱ disso,ȱ aȱ reificaçãoȱ doȱ conceitoȱ (i.e.,ȱ considerarȱalgoȱabstratoȱcomoȱcoisaȱmaterial)ȱgeraȱaȱnecessidadeȱdeȱseȱestabelecerȱondeȱeleȱ ocorre,ȱondeȱeleȱestá.ȱ Istoȱ seȱ refleteȱnaȱextensaȱ literaturaȱ sobreȱmotivaçãoȱ intrínsecaȱversusȱ motivaçãoȱ extrínseca.ȱ Aȱ necessidadeȱ deȱ talȱ distinçãoȱ simplesmenteȱ dissolveȬseȱ aoȱ seȱ abandonarȱoȱusoȱdoȱconceitoȱdeȱmotivaçãoȱcomoȱcoisa,ȱcomoȱcausaȱemȱ termosȱocorrênciasȱ (peloȱmenosȱnosȱ casosȱacimaȱ apresentados).ȱOȱ trechoȱ abaixoȱmostraȱumȱ tipoȱdeȱ confusãoȱ comumȱgeradaȱpeloȱestabelecimentoȱdeȱtalȱdistinçãoȱ(intrínsecaȱversusȱmotivaçãoȱextrínseca):ȱ ȱ “Se,ȱnoȱ inícioȱdoȱséculo,ȱoȱdesafioȱeraȱdescobrirȱaquiloȱqueȱseȱdeveriaȱfazerȱparaȱmotivarȱasȱ pessoas,ȱmaisȱrecentementeȱ talȱpreocupaçãoȱmudaȱdeȱsentido.ȱPassaȬseȱaȱperceberȱqueȱcadaȱ umȱ jáȱ trás,ȱ deȱ algumaȱ forma,ȱ dentroȱ deȱ si,ȱ suasȱ própriasȱ motivações.ȱ Aquiloȱ queȱ maisȱ interessa,ȱ então,ȱ éȱ encontrarȱ eȱ adotarȱ recursosȱ organizacionaisȱ capazesȱ deȱ nãoȱ sufocarȱ asȱ forçasȱmotivacionaisȱinerentesȱàsȱprópriasȱpessoas...ȱ(p.ȱ23)ȱ...nãoȱexisteȱoȱpequenoȱgênioȱdaȱ motivaçãoȱqueȱ transformaȱcadaȱumȱdeȱnósȱemȱ trabalhadorȱzelosoȱouȱnosȱcondenaȱaȱserȱoȱ piorȱdosȱpreguiçosos.ȱEmȱrealidade,ȱaȱdesmotivaçãoȱnãoȱéȱnenhumȱdefeitoȱdeȱumaȱgeração,ȱ nemȱumaȱqualidadeȱpessoal,ȱpoisȱelaȱestáȱligadaȱaȱsituaçõesȱespecíficasȱ(Bergamini,1997,ȱp.ȱ27,ȱ grifoȱnosso)”ȱ ȱ ȱ 16 ȱ Note,ȱnoȱ trechoȱacima,ȱqueȱumȱmesmoȱautor,ȱemȱumȱmesmoȱ livro,ȱconfundeȬseȱaoȱ usarȱoȱ conceitoȱdeȱmotivação,ȱ comoȱ algoȱqueȱ causaȱoȱ comportamento,ȱqueȱ estáȱdentroȱdoȱ indivíduoȱ eȱ oȱ impeleȱ aȱ agir,ȱ eȱ queȱ oraȱ estáȱ “deȱ fora”,ȱ oraȱ estáȱ “dentro”ȱdoȱ indivíduo.ȱAȱ confusãoȱ surgeȱ porqueȱ nãoȱ háȱ comoȱ explicarȱ osȱ comportamentosȱ dasȱ pessoas,ȱ deȱ formaȱ coerente,ȱsemȱfazerȱreferênciaȱàsȱsituaçõesȱpelasȱquaisȱasȱpessoasȱpassam.ȱOȱmesmoȱtipoȱdeȱ raciocínioȱpodeȱserȱaplicadoȱaȱconceitosȱcomoȱimpulso,ȱinstinto,ȱvontade,ȱdesejo,ȱetc.ȱComoȱ exercício,ȱeȱparaȱampliarȱsuaȱcompreensãoȱsobreȱesteȱassunto,ȱtenteȱaplicarȱaȱestesȱconceitosȱaȱ mesmaȱanáliseȱqueȱfoiȱfeitaȱcomȱoȱconceitoȱdeȱmotivação.ȱ ȱ Éȱimportanteȱlembrar,ȱentretanto,ȱqueȱnãoȱestamosȱdizendoȱaquiȱqueȱasȱpessoasȱsãoȱ organismosȱ“desprovidos”ȱde,ȱporȱexemplo,ȱvontadesȱeȱdesejos.ȱEstamosȱdizendoȱqueȱusarȱ essesȱ conceitosȱ comoȱ causasȱ deȱ outrosȱ comportamentosȱ nãoȱ pareceȱ serȱ umaȱ explicaçãoȱ razoável.ȱNaȱ verdade,ȱ oȱ queȱ oȱ bomȱpsicólogoȱdeveriaȱ fazerȱ éȱ serȱ capazȱdeȱ explicarȱ tantoȱ porqueȱalguémȱfazȱalgumaȱcoisaȱquantoȱporqueȱessaȱpessoaȱtemȱvontadeȱdeȱfazêȬlo.ȱEȱessasȱ explicações,ȱnoȱfimȱdasȱcontas,ȱestarãoȱsempreȱnaȱhistóriaȱdeȱinteraçõesȱdessaȱpessoaȱcomȱseuȱ mundo,ȱsobretudoȱnaȱhistóriaȱdeȱinteraçõesȱcomȱoutrasȱpessoas.ȱ Oȱproblemaȱcomȱagentesȱinternosȱqueȱcausamȱcomportamentoȱ Outroȱ tipoȱ deȱ “causa”ȱ internaȱ psíquicaȱ queȱ normalmenteȱ seȱ atribuiȱ aoȱ comportamentoȱdasȱpessoas,ȱeȱqueȱSkinnerȱ (1953/1998)ȱ tambémȱapontaȱcomoȱproblemáticaȱ ouȱ falaciosa,ȱ éȱ aȱ explicaçãoȱdoȱ comportamentoȱ aȱ partirȱdeȱ agentesȱ internosȱ comoȱ oȱ eu,ȱ aȱ consciência,ȱaȱmenteȱouȱoȱself.ȱQuando,ȱporȱexemplo,ȱalguémȱdizȱ“fizȱoȱqueȱminhaȱconsciênciaȱ meȱditou”,ȱestaȱpessoaȱestáȱdizendoȱqueȱsuaȱconsciênciaȱcausouȱseuȱcomportamento,ȱouȱseja,ȱ elaȱ (ouȱoȱqueȱelaȱditou)ȱéȱaȱexplicaçãoȱdoȱcomportamento.ȱNovamente,ȱ temos,ȱnoȱmínimo,ȱ umaȱexplicaçãoȱincompleta,ȱpoisȱnosȱrestariaȱaindaȱresponderȱàȱseguinteȱpergunta:ȱ“Eȱquemȱ ditouȱàȱsuaȱconsciênciaȱoȱqueȱfazer?”.ȱOȱusoȱdeȱconceitosȱcomoȱselfȱouȱmente,ȱporȱexemplo,ȱ paraȱ explicarȱ oȱ comportamentoȱ trazȱ implícitaȱ aȱ idéiaȱ deȱ queȱ existeȱ umaȱ “outraȱ pessoa”ȱ dentroȱdaȱpessoa,ȱeȱqueȱ“dita”ȱaȱelaȱoȱqueȱfazer.ȱMasȱquemȱditaȱaȱessaȱ“pessoinha”ȱinternaȱoȱ queȱfazer?ȱOutraȱ“pessoinha”?ȱEȱaȱestaȱoutraȱ“pessoinha”?ȱUmaȱoutra?ȱPercebaȱqueȱquandoȱ analisamosȱesseȱ tipoȱdeȱexplicação,ȱcaímosȱemȱumȱerroȱ lógicoȱqueȱosȱ filósofosȱchamamȱdeȱ regressãoȱaoȱinfinito.ȱNesteȱcasoȱcriaríamosȱ“pessoinhas”ȱinfinitamente,ȱumaȱparaȱexplicarȱoȱ queȱaȱoutraȱfez.ȱ Comȱ oȱ gigantescoȱ avançoȱ dasȱ neurociênciasȱ naȱ décadaȱ deȱ 90,ȱ umȱ outroȱ tipoȱ deȱ explicaçãoȱfalaciosaȱparaȱoȱcomportamentoȱcomeçouȱaȱ“virarȱmoda”.ȱBennettȱeȱHackerȱ(2003)ȱ chamaramȱesseȱtipoȱdeȱexplicaçãoȱdeȱ faláciaȱmereológica,ȱqueȱconsisteȱemȱatribuirȱaoȱcérebroȱ capacidadesȱouȱaçõesȱqueȱsóȱfazemȱsentidoȱquandoȱatribuídasȱaȱumȱindivíduoȱíntegro,ȱcomoȱ umȱtodo,ȱeȱnãoȱaȱpartesȱdesseȱindivíduoȱ(e.g.,ȱoȱcérebroȱdecide;ȱoȱcérebroȱescolhe;ȱoȱcérebroȱ sente,ȱ interpreta,ȱetc.).ȱRaramenteȱouvimosȱdizerȱ“asȱmãosȱdeȱfulanoȱpegaramȱaȱcaneta”ȱouȱ “asȱpernasȱdeȱsicranoȱcaminharamȱatéȱaȱporta”.ȱ ȱÉȱmaisȱcomumȱouvirmosȱ“fulanoȱpegouȱaȱ caneta”ȱeȱ“sicranoȱcaminhouȱatéȱaȱporta”.ȱÉȱmaisȱcomumȱporqueȱoȱusoȱcorretoȱdessesȱverbosȱ refereȬseȱaȱ indivíduosȱcomoȱumȱtodo,ȱeȱnãoȱaȱpartesȱdeles,ȱassimȱcomoȱdecidir,ȱ interpretar,ȱ escolher,ȱ ȱetc.ȱDizerȱqueȱoȱcérebroȱ fezȱ issoȱouȱaquiloȱ implicaȱnoȱmesmoȱerroȱapontadoȱporȱ Skinnerȱ(1953/1998)ȱdeȱdizer,ȱporȱexemplo,ȱ“minhaȱconsciênciaȱdecidiu”.ȱ Éȱnecessárioȱressaltarȱnovamenteȱqueȱdizerȱqueȱnãoȱéȱaȱconsciênciaȱdeȱumȱindivíduo,ȱ ouȱoȱseuȱself,ȱouȱsuaȱpersonalidade,ȱouȱoȱseuȱeuȱinterior,ȱouȱoȱseuȱcérebro,ȱporȱexemplo,ȱqueȱ explicamȱ oȱ comportamentoȱdasȱpessoas,ȱ queȱ sãoȱ asȱ causasȱdeȱ seusȱ comportamentos,ȱnãoȱ querȱdizerȱdeȱformaȱalgumaȱque,ȱparaȱoȱBehaviorismoȱRadical,ȱasȱpessoasȱsãoȱumaȱ“caixaȬ ȱ 17 preta”ȱouȱumȱorganismoȱvazio.ȱApenasȱquerȱdizerȱqueȱasȱcausasȱdosȱcomportamentosȱnãoȱ devemȱserȱatribuídasȱaȱprocessosȱouȱestruturasȱinternasȱinferidasȱaȱpartirȱdaȱobservaçãoȱdoȱ próprioȱcomportamentoȱdoȱ indivíduo.ȱAsȱexplicaçõesȱparaȱoȱqueȱasȱpessoasȱ fazem,ȱ falam,ȱ pensamȱ ouȱ sentemȱ devemȱ serȱ buscadaȱ naȱ suaȱ históriaȱ deȱ interaçõesȱ comȱ seuȱ ambiente,ȱ sobretudoȱ interaçõesȱ comȱ outrasȱ pessoas.ȱNesteȱ sentido,ȱ oȱmodeloȱ causalȱ naȱ perspectivaȱ behavioristaȱradicalȱéȱoȱmodeloȱdeȱseleçãoȱpelasȱconsequênciasȱ(apresentadoȱanteriormente),ȱ nosȱ trêsȱníveisȱemȱqueȱocorre:ȱfilogenético,ȱontogenéticoȱeȱculturalȱ(Skinner,ȱ1981/2007).ȱOsȱ demaisȱ capítulosȱ desteȱ livroȱ fornecerãoȱ umaȱ excelenteȱ amostraȱ deȱ comoȱ seȱ explicaȱ oȱ comportamentoȱaȱpartirȱdesseȱmodelo.ȱ AȱConcepçãoȱdeȱHomemȱnoȱBehaviorismoȱRadicalȱ ȱ “Osȱ homensȱ agemȱ sobreȱ oȱmundo,ȱmodificandoȬoȱ e,ȱ porȱ suaȱ vezȱ sãoȱmodificadosȱ pelasȱconsequênciasȱdeȱsuaȱação”ȱ(Skinner,ȱ1957/1978,ȱp.ȱ15).ȱEstaȱéȱaȱprimeiraȱfraseȱdeȱumȱ livroȱ deȱ Skinnerȱ chamadoȱ Oȱ comportamentoȱ verbal.ȱ Essaȱ fraseȱ ilustra,ȱ deȱmaneiraȱ geral,ȱ aȱ concepçãoȱ deȱ homemȱ doȱ Behaviorismoȱ Radical,ȱ denotandoȱ oȱ caráterȱ relacionalȱ entreȱ oȱ homemȱ eȱ oȱmundoȱ emȱ queȱ viveȱ (lembrandoȱ queȱ oȱ principalȱ aspectoȱ desseȱmundo,ȱ paraȱ entendermosȱcorretamenteȱessaȱfrase,ȱsãoȱosȱoutrosȱmembrosȱdaȱmesmaȱespécie,ȱasȱoutrasȱ pessoas).ȱ ȱ Éȱcomumȱouvirmosȱouȱlermosȱque,ȱparaȱoȱBehaviorismo,ȱoȱhomemȱéȱumȱserȱpassivo.ȱ Essaȱafirmaçãoȱé,ȱnoȱmínimo,ȱequivocadaȱeȱdenotaȱapenasȱaȱfaltaȱdeȱcompreensãoȱdeȱmuitosȱ autoresȱsobreȱaȱobraȱdeȱSkinner.ȱApenasȱaȱanáliseȱdaȱfraseȱinicialȱdeȱOȱcomportamentoȱverbalȱ (Skinner,ȱ1957/1978)ȱ jáȱpodeȱnosȱmostrarȱque,ȱparaȱoȱBehaviorismoȱRadical,ȱoȱhomemȱéȱumȱ serȱ ativoȱ emȱ seuȱmundo.ȱAȱ fraseȱ citadaȱ anteriormenteȱ éȱ compostaȱ por,ȱ peloȱmenos,ȱ trêsȱ proposiçõesȱbásicas:ȱ (1)ȱosȱhomensȱagemȱ sobreȱ seuȱmundo;ȱ (2)ȱosȱhomensȱmodificamȱ seuȱ mundoȱ (essasȱ modificaçõesȱ sãoȱ descritasȱ comoȱ asȱ consequênciasȱ deȱ suasȱ ações);ȱ (3)ȱ osȱ homensȱsãoȱmodificadosȱpelasȱconsequênciasȱdeȱsuasȱações.ȱSeȱoȱhomemȱmudaȱemȱfunçãoȱ dasȱmudançasȱemȱseuȱmundo,ȱproduzidasȱporȱeleȱmesmoȱ(dasȱconsequênciasȱdeȱsuasȱações),ȱ entãoȱ cadaȱ homemȱ éȱ capazȱ deȱ construirȬseȱ comoȱ homem,ȱ comoȱ pessoa,ȱ aȱ partirȱ deȱ suasȱ própriasȱações.ȱEstaȱconcepção,ȱaoȱcontrárioȱdoȱqueȱafirmamȱmuitosȱcríticos,ȱtalvezȱsejaȱumaȱ dasȱconcepçõesȱdeȱhomemȱqueȱmaisȱconferemȱaȱesteȱoȱdomínioȱsobreȱsuaȱprópriaȱvida,ȱjáȱqueȱ nãoȱ consideraȱ oȱ homemȱ umaȱ “vítima”ȱdeȱmotivaçõesȱ inconscientes,ȱdeȱ estruturasȱdeȱ suaȱ personalidadeȱeȱdeȱinstintos,ȱentreȱoutrasȱcoisas.ȱ ȱ Aȱ corretaȱ compreensãoȱ daȱ proposiçãoȱ deȱ queȱ oȱ homemȱ ageȱ sobreȱ oȱ mundo,ȱ modificandoȬo,ȱ eȱ éȱ modificadoȱ porȱ essasȱ mudançasȱ queȱ eleȱ mesmoȱ produziuȱ (Skinner,ȱ 1957/1978)ȱ requerȱ aȱnoçãoȱ adicionalȱdeȱqueȱ oȱhomemȱ éȱ tambémȱhistórico.ȱPense,ȱporȱumȱ instante,ȱ emȱ vocêȱ comoȱ vocêȱ éȱ hoje.ȱPenseȱ queȱ vocêȱ ageȱ sobreȱ seuȱmundoȱ (e.g.,ȱ vocêȱ fazȱ perguntasȱ àsȱpessoas;ȱ fazȱdeclaraçõesȱdeȱ amor,ȱ escreveȱ recados;ȱpedeȱ favores;ȱdáȱ ordens;ȱ pedeȱconselhos;ȱdáȱconselhos;ȱreclamaȱdaȱvidaȱàsȱvezes;ȱdiz,ȱàsȱvezes,ȱqueȱnãoȱpoderiaȱestarȱ maisȱ feliz;ȱ emiteȱ opiniõesȱ sobreȱ osȱ maisȱ diversosȱ assuntos;ȱ etc.).ȱ Todasȱ essasȱ açõesȱ produzem,ȱpeloȱmenosȱocasionalmente,ȱmudançasȱnoȱmundoȱaoȱseuȱredorȱ (e.g.,ȱasȱpessoasȱ concordamȱouȱdiscordamȱdeȱsuasȱopiniões;ȱsuasȱdeclaraçõesȱdeȱamorȱsãoȱrespondidasȱcomȱ carinhoȱouȱrechaçadas;ȱsuasȱordensȱeȱpedidosȱdeȱfavorȱàsȱvezesȱsãoȱatendidosȱeȱàsȱvezesȱnão;ȱ seusȱ conselhosȱ podemȱ serȱ seguidos;ȱ suasȱ “reclamaçõesȱdaȱ vida”ȱ podemȱ serȱ criticadasȱ ouȱ confirmadasȱporȱoutrasȱpessoasȱeȱassimȱporȱdiante).ȱ ȱ Deȱ acordoȱ comȱ essaȱ filosofiaȱ chamadaȱ Behaviorismoȱ Radicalȱ éȱ nesseȱ turbilhãoȱ deȱ interaçõesȱcomȱoȱseuȱmundo,ȱprincipalmenteȱcomȱasȱpessoasȱqueȱoȱcercam,ȱqueȱvocêȱaprendeȱ ȱ 18 aȱserȱquemȱvocêȱé,ȱaprendeȱasȱhabilidadesȱqueȱ tem,ȱosȱ“defeitos”ȱqueȱ tem,ȱasȱvirtudesȱqueȱ tem,ȱ suaȱ formaȱdeȱpensarȱ eȱdeȱ sentir,ȱ aprendeȱ aȱ terȱ consciênciaȱdeȱ quemȱ vocêȱ éȱ e,ȱ entreȱ inúmerasȱoutrasȱcoisas,ȱaȱ terȱconsciênciaȱdoȱmundoȱemȱqueȱvive.ȱMasȱ seȱvocêȱpensarȱnãoȱ apenasȱnasȱsuasȱinteraçõesȱcomȱoȱseuȱmundo,ȱeȱcomoȱelasȱinfluenciamȱseuȱcomportamento,ȱeȱ pensarȱ tambémȱnasȱ interaçõesȱdasȱpessoasȱqueȱvocêȱ conhece,ȱ rapidamenteȱvocêȱperceberáȱ queȱcertasȱconsequênciasȱdosȱseusȱcomportamentosȱinfluenciamȱvocêȱdeȱmaneirasȱdiferentesȱ doȱ queȱ asȱmesmasȱ consequênciasȱ influenciariamȱ oȱ comportamentoȱ dasȱ pessoasȱ queȱ vocêȱ conhece.ȱPorȱexemplo,ȱimagineȱqueȱvocêȱeȱumȱcolegaȱfizeramȱumȱprovaȱeȱqueȱosȱdoisȱnãoȱseȱ saíramȱ muitoȱ bemȱ naȱ referidaȱ prova.ȱ Fazerȱ umaȱ provaȱ (responderȱ asȱ questões)ȱ éȱ comportamento,ȱ éȱ agirȱ sobreȱ oȱmundo.ȱReceberȱ umaȱ notaȱ boaȱ ouȱ umaȱ notaȱ ruimȱ éȱ umaȱ conseqüênciaȱ desseȱ comportamento.ȱ Paraȱ facilitarȱ oȱ exemplo,ȱ imagineȱ tambémȱ queȱ asȱ respostasȱdeȱvocêsȱnaȱprovaȱforamȱbastanteȱparecidas.ȱPortanto,ȱemȱnossoȱexemplo,ȱvocêȱeȱ seuȱ colegaȱ emitiramȱ umȱmesmoȱ comportamento,ȱ umaȱmesmaȱ açãoȱ sobreȱ oȱmundo,ȱ eȱ asȱ consequênciasȱ(notaȱruim)ȱforamȱtambémȱbastanteȱsimilares.ȱNoȱentanto,ȱaoȱreceberȱaȱnota,ȱ vocêȱdizȱ“vouȱmeȱ esforçarȱmaisȱdaȱpróximaȱvez”ȱ (eȱvocêȱ fazȱ exatamenteȱ issoȱnaȱpróximaȱ prova),ȱeȱseuȱcolegaȱdizȱ“essaȱmatériaȱéȱmuitoȱdifícil,ȱvouȱ‘trancar’ȱaȱdisciplina”ȱ(eȱassimȱeleȱ faz).ȱ ȱ Nesteȱexemplo,ȱaȱconseqüênciaȱdasȱsuasȱaçõesȱeȱdasȱaçõesȱdeȱseuȱcolegaȱinfluenciouȱ seusȱ comportamentosȱ futuros,ȱ eȱosȱdeȱ seuȱ colega,ȱdeȱ formasȱdiferentes.ȱDuasȱ implicaçõesȱ importantesȱpodemȱserȱextraídasȱdesseȱexemplo:ȱaȱprimeiraȱimplicaçãoȱéȱqueȱmesmoȱqueȱdeȱ formasȱ diferentes,ȱ aȱ conseqüênciaȱ doȱ comportamento,ȱ seuȱ eȱ deȱ seuȱ colega,ȱ influenciouȱ comportamentosȱfuturosȱ(desistirȱouȱseȱesforçarȱmais),ȱ istoȱé,ȱvocêsȱagiramȱsobreȱoȱmundo,ȱ modificandoȬo,ȱ eȱ foramȱ modificadosȱ pelasȱ consequênciasȱ deȱ suasȱ ações;ȱ aȱ segundaȱ implicaçãoȱ importanteȱdizȱ respeitoȱaoȱ fatoȱdeȱqueȱumaȱmesmaȱconseqüênciaȱ influenciaȱdeȱ maneirasȱ diferentesȱ comportamentosȱ deȱ diferentesȱ pessoas.ȱ Novamente,ȱ asȱ razõesȱ dessaȱ diferença,ȱ deȱ porqueȱ diferentesȱ pessoasȱ reagemȱ deȱ formasȱ diferentesȱ aȱ aspectosȱ doȱ seuȱ ambiente,ȱ devemȱ serȱ buscadasȱ naȱ históriaȱ deȱ interaçõesȱ daȱ própriaȱ pessoa.ȱ Nesteȱ caso,ȱ poderíamosȱnosȱperguntar,ȱporȱexemplo,ȱcomoȱosȱseusȱpaisȱeȱosȱpaisȱdeȱseuȱcolegaȱreagiramȱ aȱnotasȱruinsȱnoȱpassado.ȱ ȱ Éȱnesteȱsentido,ȱportanto,ȱqueȱdizemosȱque,ȱparaȱoȱBehaviorismoȱRadical,ȱoȱhomemȱéȱ umȱserȱhistórico.ȱOȱhomemȱéȱtambém,ȱparaȱestaȱfilosofia,ȱumȱserȱinerentementeȱsocial,ȱjáȱqueȱ boaȱ parteȱ dasȱ modificaçõesȱ queȱ produzimosȱ noȱ mundoȱ são,ȱ naȱ verdade,ȱ mudançasȱ nosȱ comportamentosȱdasȱpessoasȱcomȱasȱquaisȱconvivemos.ȱ ȱ Comoȱvimosȱanteriormente,ȱoȱhomemȱ éȱpertencenteȱàȱ espécieȱhumanaȱ e,ȱportanto,ȱ parteȱdoȱseuȱcomportamentoȱeȱdeȱsuasȱcapacidadesȱéȱresultadoȱdeȱumȱprocessoȱdeȱseleçãoȱeȱ variaçãoȱnoȱnívelȱfilogenético.ȱOȱhomemȱaprendeȱcomȱsuasȱinteraçõesȱcomȱoȱmundo,ȱmudaȱ seusȱ comportamentosȱ emȱ funçãoȱdasȱmodificaçõesȱqueȱproduzȱnesseȱmundo:ȱprocessoȱdeȱ variaçãoȱ eȱ seleçãoȱ (deȱ comportamentos)ȱ noȱ nívelȱ ontogenético.ȱEssaȱ aprendizagemȱ seȱdá,ȱ sobretudo,ȱ pelaȱ mediaçãoȱ deȱ outrasȱ pessoas.ȱ Muitasȱ pessoasȱ emȱ umȱ grupoȱ socialȱ fazemȱ muitasȱ coisasȱ parecidas,ȱ gostamȱ deȱ muitasȱ coisasȱ parecidas,ȱ têmȱ crençasȱ eȱ valoresȱ semelhantes,ȱentreȱoutrasȱcoisas.ȱEssaȱsimilaridadeȱentreȱosȱcomportamentosȱdeȱ indivíduosȱ deȱumȱmesmoȱgrupoȱéȱmuitasȱvezesȱchamadaȱdeȱcultura,ȱeȱéȱ transmitidaȱdeȱgeraçãoȱparaȱ geração:ȱ falamosȱ entãoȱ doȱ processoȱ deȱ variaçãoȱ eȱ seleçãoȱ (deȱ comportamentos)ȱ noȱ nívelȱ cultural.ȱ Portanto,ȱ dizerȱ queȱ oȱ homemȱ éȱ umȱ serȱ socialȱ eȱ históricoȱ éȱ dizerȱ queȱ eleȱ é,ȱ seȱ constituiȱcomoȱhomem,ȱcomoȱpessoa,ȱaȱpartirȱdeȱprocessosȱdeȱvariaçãoȱeȱseleçãoȱnessesȱtrêsȱ níveis:ȱfilogenético,ȱontogenéticoȱeȱcultural.ȱ ȱ 19 AȱPropostaȱdeȱumaȱCiênciaȱdoȱComportamentoȱ ȱ Provavelmenteȱvocêȱ jáȱouviuȱoȱditadoȱpopularȱqueȱdizȱqueȱ“deȱmédicoȱeȱloucoȱtodoȱ mundoȱtemȱumȱpouco”.ȱTalvez,ȱparaȱqueȱeleȱficasseȱumȱpoucoȱmaisȱcorreto,ȱdeveriaȱserȱditoȱ daȱseguinteȱforma:ȱ“deȱmédico,ȱ loucoȱeȱpsicólogoȱtodoȱmundoȱtemȱumȱpouco”.ȱComoȱditoȱ anteriormente,ȱtodosȱtemosȱnossasȱprópriasȱexplicaçõesȱparaȱosȱcomportamentosȱdasȱoutrasȱ pessoasȱeȱparaȱoȱnossoȱpróprio.ȱEsseȱconhecimentoȱ–ȱqueȱasȱpessoasȱemȱgeralȱtêmȱsobreȱosȱ maisȱ diversosȱ assuntosȱ e,ȱ nesseȱ caso,ȱ sobreȱ oȱ comportamentoȱ humanoȱ –ȱ éȱ chamadoȱ deȱ conhecimentoȱ doȱ sensoȱ comum.ȱ Inúmerosȱ filósofos,ȱ muitosȱ delesȱ muitoȱ importantesȱ (porȱ exemplo,ȱ Sócrates,ȱ Aristótelesȱ eȱ Platão),ȱ produziramȱ umaȱ quantidadeȱ absurdaȱ deȱ conhecimentoȱsobreȱoȱserȱhumano,ȱsobreȱsuasȱessências,ȱsuaȱnatureza,ȱsuasȱrazões,ȱetc.ȱEsseȱ tipoȱ deȱ conhecimentoȱ éȱ chamadoȱ conhecimentoȱ filosófico.ȱ Padres,ȱ pastores,ȱ sacerdotesȱ eȱ clérigosȱemȱgeralȱtambémȱtêmȱsuasȱprópriasȱconcepçõesȱeȱexplicaçõesȱparaȱmuitosȱassuntosȱ humanos;ȱesseȱconhecimentoȱéȱchamadoȱconhecimentoȱreligioso.ȱ ȱ Há,ȱ entretanto,ȱ umȱ tipoȱ deȱ conhecimentoȱ diferenteȱ destesȱ trêsȱ apresentados:ȱ oȱ conhecimentoȱcientífico.ȱMasȱqualȱaȱdiferençasȱentreȱessesȱtiposȱdeȱconhecimento?ȱPoderíamosȱ dizerȱ queȱ oȱ conhecimentoȱdoȱ sensoȱ comumȱ éȱ produzidoȱ pelasȱ pessoasȱ emȱ geral,ȱ queȱ oȱ conhecimentoȱ filosóficoȱ éȱ aqueleȱ produzidoȱ peloȱ filósofo,ȱ queȱ oȱ conhecimentoȱ religiosoȱ éȱ aqueleȱ produzidoȱ porȱ religiososȱ (padres,ȱ bispos,ȱ pastores,ȱ etc.)ȱ eȱ queȱ oȱ conhecimentoȱ científicoȱ éȱ aqueleȱ produzidoȱ porȱ cientistas.ȱ Masȱ essaȱ distinçãoȱ aindaȱ nosȱ deixaȱ outraȱ pergunta:ȱ oȱ queȱ nosȱ permiteȱ dizerȱ queȱ alguémȱ éȱ umȱ cientista,ȱ ouȱ umȱ filósofoȱ ouȱ umȱ religioso?ȱAȱrespostaȱaȱessaȱpergunta,ȱeȱqueȱtambémȱdistingueȱumȱtipoȱdeȱconhecimentoȱdeȱ outro,ȱestáȱnaȱformaȱcomoȱoȱconhecimentoȱéȱproduzido.ȱ ȱ DissemosȱanteriormenteȱqueȱoȱBehaviorismoȱRadicalȱéȱumaȱfilosofiaȱqueȱembasaȱumaȱ ciênciaȱ doȱ comportamentoȱ (Skinner,ȱ 1974/2003).ȱ Essaȱ ciênciaȱ éȱ chamadaȱ Análiseȱ doȱ Comportamento.ȱBehaviorismoȱRadicalȱeȱAnáliseȱdoȱComportamentoȱtratamȱdoȱserȱhumanoȱ eȱ deȱ seusȱ comportamentos,ȱ masȱ abordamȱ essesȱ assuntosȱ deȱ maneirasȱ diferentesȱ eȱ oȱ conhecimentoȱ derivadoȱ queȱ cadaȱ umȱ dessesȱ camposȱ doȱ saberȱ éȱ produzidoȱ deȱ formasȱ diferentes.ȱSeȱ jáȱexisteȱumaȱfilosofiaȱqueȱtrataȱdessesȱassuntos,ȱparaȱqueȱprecisamosȱdeȱumaȱ ciênciaȱ queȱ tambémȱ trataȱ dessesȱ assuntos?ȱ Oȱ conhecimentoȱ filosóficoȱ éȱ extremamenteȱ importanteȱeȱdeleȱderivaȱinclusiveȱaȱprópriaȱconcepçãoȱdeȱciência.ȱPraticamenteȱnãoȱháȱumaȱ ciênciaȱqueȱnãoȱestejaȱfortementeȱancoradaȱemȱpressupostosȱfilosóficos.ȱEmboraȱcadaȱtipoȱdeȱ conhecimentoȱ tenhaȱsuaȱutilidade,ȱcadaȱ tipoȱ tambémȱ temȱsuasȱ limitações.ȱOȱconhecimentoȱ científicoȱ (oȱproduzidoȱdeȱ formaȱcientífica)ȱapresentaȱcertasȱcaracterísticasȱ importantesȱqueȱ preenchemȱ algumasȱ lacunasȱ deixadasȱ pelosȱ outrosȱ tiposȱ deȱ conhecimento.ȱ Estasȱ característicasȱ doȱ conhecimentoȱ científicoȱ permitemȱ que,ȱ deȱ certaȱ forma,ȱ eleȱ avanceȱmaisȱ rapidamenteȱqueȱasȱoutrasȱformasȱdeȱconhecimento.ȱVejamosȱoȱqueȱdizȱSkinnerȱsobreȱisso:ȱ ȱ OsȱresultadosȱtangíveisȱeȱimediatosȱdaȱciênciaȱtornamȬnaȱmaisȱfácilȱdeȱavaliarȱqueȱaȱFilosofia,ȱ aȱArte,ȱaȱPoesiaȱouȱaȱTeologia.ȱ (...)ȱaȱciênciaȱéȱúnicaȱaoȱmostrarȱumȱprogressoȱacumulativo.ȱ Newtonȱexplicavaȱsuasȱimportantesȱdescobertasȱdizendoȱqueȱestavaȱdeȱpéȱsobreȱosȱombrosȱdeȱ gigantes.ȱTodosȱosȱcientistasȱ(...)ȱcapacitamȱaquelesȱqueȱosȱseguemȱaȱcomeçarȱumȱpoucoȱmaisȱ além.ȱ (...)ȱ Escritores,ȱ artistasȱ eȱ filósofosȱ contemporâneosȱ nãoȱ sãoȱ apreciavelmenteȱ maisȱ eficazesȱ doȱ queȱ osȱ daȱ idadeȱ deȱ outroȱ daȱGrécia,ȱ enquantoȱ oȱ estudanteȱ secundárioȱmédioȱ entendeȱmuitoȱmaisȱaȱnaturezaȱdoȱqueȱoȱmaiorȱdosȱcientistasȱgregosȱ(p.ȱ11).ȱ(...)ȱOsȱdados,ȱnãoȱ osȱcientistas,ȱ falamȱmaisȱalto.ȱ (p.ȱ13)ȱ (...)ȱOsȱcientistasȱdescobriramȱ tambémȱoȱvalorȱdeȱ ficarȱ semȱumaȱrespostaȱatéȱqueȱumaȱsatisfatóriaȱpossaȱserȱencontradaȱ(p.ȱ14).ȱ(...)ȱOȱcomportamentoȱ ȱ 20 éȱ umaȱmatériaȱ difícil,ȱ nãoȱ porqueȱ sejaȱ inacessível,ȱmasȱ porqueȱ éȱ extremamenteȱ complexo.ȱ Desdeȱ queȱ éȱ umȱ processo,ȱ eȱ nãoȱ umaȱ coisa,ȱ nãoȱ podeȱ serȱ facilmenteȱ imobilizadoȱ paraȱ observação.ȱÉȱmutável,ȱfluidoȱeȱesvanescente,ȱe,ȱporȱestaȱrazão,ȱfazȱgrandesȱexigênciasȱtécnicasȱ daȱengenhosidadeȱeȱenergiaȱdoȱcientistaȱ(p.ȱ16)ȱ(Skinner,ȱ1953/1998,ȱp.ȱ11Ȭ16).ȱ ȱ ȱ Resumidamente,ȱoȱqueȱSkinnerȱ(1953/1998)ȱestáȱdizendoȱnoȱtrechoȱacimaȱéȱcadaȱnovaȱ geraçãoȱdeȱcientistasȱqueȱseȱformaȱtemȱumȱconhecimentoȱmaisȱprecisoȱsobreȱosȱassuntosȱqueȱ estudaȱqueȱaȱgeraçãoȱanterior,ȱmasȱoȱmesmoȱnãoȱéȱválidoȱpara,ȱporȱexemplo,ȱnovasȱgeraçõesȱ deȱ filósofosȱouȱartistas.ȱ Issoȱ sóȱéȱpossívelȱporqueȱosȱ cientistasȱdescobriramȱumaȱ formaȱdeȱ testarȱ oȱ conhecimentoȱ queȱ produzemȱ (oȱ métodoȱ científico).ȱ Aȱ formaȱ comoȱ osȱ cientistasȱ trabalhamȱ eȱdivulgamȱoȱ conhecimentoȱproduzidoȱpermiteȱqueȱoutrosȱ cientistasȱ repitamȱ aȱ pesquisaȱ queȱ seusȱ colegasȱ fizeram,ȱ eȱ queȱ avaliemȱ seȱ osȱ resultadosȱ apresentadosȱporȱ seusȱ colegasȱseȱrepetemȱouȱnão.ȱAȱciência,ȱnesteȱsentido,ȱéȱautocorretiva:ȱequívocosȱsãoȱpassíveisȱ deȱidentificaçãoȱeȱcorreção.ȱ Éȱ interessanteȱ destacarȱ tambémȱ aȱ seguinteȱ fraseȱ daȱ citaçãoȱ anteriorȱ deȱ Skinnerȱ (1953/1998):ȱ“Osȱcientistasȱdescobriramȱ tambémȱoȱvalorȱdeȱ ficarȱsemȱumaȱrespostaȱatéȱqueȱ umaȱsatisfatóriaȱpossaȱserȱencontrada”.ȱÉȱporȱissoȱqueȱmuitasȱvezesȱvemosȱpropagandasȱdeȱ produtosȱdizendoȱqueȱseusȱ feitosȱ foramȱ testadosȱ cientificamente.ȱQuandoȱoȱcientistaȱdivulgaȱ umȱ conhecimentoȱ ele,ȱgeralmente,ȱ temȱmuitosȱdadosȱ (obtidosȱ atravésȱdeȱ experimentação)ȱ queȱsustentamȱoȱqueȱestáȱdizendo,ȱeȱnãoȱapenasȱhipótesesȱeȱargumentosȱ lógicoȬlinguísticosȱ bemȱestruturados.ȱ OȱObjetoȱdeȱEstudoȱdaȱAnáliseȱdoȱComportamentoȱ ȱ Dissemosȱanteriormenteȱqueȱoȱqueȱdistingueȱoȱ conhecimentoȱ científicoȱdosȱdemaisȱ tiposȱdeȱconhecimentoȱéȱaȱformaȱcomoȱeleȱéȱproduzido,ȱoȱmétodoȱutilizadoȱparaȱproduziȬlo.ȱ Masȱ oȱ queȱ distingueȱ umaȱ ciênciaȱ daȱ outra?ȱOȱ queȱ distingueȱ aȱ Físicaȱ daȱQuímica?ȱOuȱ aȱ BiologiaȱdaȱPsicologia?ȱEssaȱdistinçãoȱ seȱdá,ȱprincipalmente,ȱpeloȱ objetoȱ deȱ estudoȱdeȱ cadaȱ ciência.ȱSeȱdigoȱqueȱestudoȱoȱmovimentoȱdosȱcorpos,ȱentãoȱestouȱ falandoȱdeȱumaȱáreaȱdaȱ Física,ȱseȱestudoȱoȱdesenvolvimentoȱembrionárioȱdeȱrépteis,ȱentãoȱestouȱfalandoȱdeȱumaȱáreaȱ daȱBiologia.ȱMasȱqualȱoȱobjetoȱdeȱestudoȱdaȱPsicologia?ȱ NãoȱháȱnaȱPsicologia,ȱtalvezȱporȱserȱaindaȱumaȱciênciaȱrelativamenteȱnova,ȱconsensoȱ sobreȱ qualȱ éȱ oȱ seuȱ objetoȱ deȱ estudo.ȱDiferentesȱ abordagensȱ psicológicasȱ (e.g.,ȱAnáliseȱ doȱ Comportamento,ȱPsicanálise,ȱPsicologiaȱHumanista)ȱpostulamȱdiferentesȱobjetosȱdeȱestudoȱ paraȱaȱPsicologia.ȱParaȱaȱAnáliseȱdoȱComportamento,ȱaȱPsicologiaȱdeveȱ terȱcomoȱobjetoȱdeȱ estudoȱasȱ interaçõesȱdosȱorganismosȱvivosȱcomȱseuȱmundo,ȱcomoȱapontandoȱporȱTodorovȱ (1989)ȱemȱumȱartigoȱchamadoȱAȱPsicologiaȱcomoȱoȱEstudoȱdeȱInterações:ȱ ȱ Aȱpsicologiaȱestudaȱinteraçõesȱdeȱorganismos,ȱvistosȱcomoȱumȱtodo,ȱcomȱseuȱmeioȱambienteȱ (Harzemȱ eȱ Miles,ȱ 1978).ȱ Obviamenteȱ nãoȱ estáȱ interessadaȱ emȱ todosȱ osȱ tiposȱ possíveisȱ deȱ interaçõesȱ nemȱ emȱ quaisquerȱ espéciesȱ deȱ organismo.ȱ Aȱ psicologiaȱ seȱ ocupaȱ fundamentalmenteȱdoȱhomem,ȱaindaȱqueȱparaȱentendêȬloȱmuitasȱvezesȱtenhaȱqueȱrecorrerȱaoȱ estudoȱdoȱcomportamentoȱdeȱoutrasȱespéciesȱanimaisȱ(KellerȱeȱSchoenfeld,ȱ1950).ȱQuantoȱàsȱ interações,ȱestãoȱ foraȱdoȱâmbitoȱexclusivoȱdaȱpsicologiaȱaquelasȱqueȱseȱ referemȱaȱpartesȱdoȱ organismo,ȱeȱsãoȱestudadasȱpelaȱbiologia,ȱeȱasȱqueȱenvolvemȱgruposȱdeȱindivíduosȱtomadosȱ comoȱumaȱunidade,ȱ comoȱnasȱ ciênciasȱ sociais.ȱClaroȱ estáȱqueȱ aȱ identificaçãoȱdaȱpsicologiaȱ comoȱdistintaȱdaȱbiologiaȱeȱdasȱciênciasȱsociaisȱnãoȱseȱbaseiaȱemȱfronteirasȱrígidas:ȱasȱáreasȱdeȱ sobreposiçãoȱ deȱ interessesȱ têmȱ sidoȱ importantesȱ aȱ pontoȱ deȱ originarȱ asȱ denominaçõesȱ deȱ ȱ 21 psicofisiologiaȱ eȱpsicologiaȱ social,ȱporȱ exemplo.ȱAsȱ interaçõesȱ organismoȬambienteȱ sãoȱ taisȱ queȱpodemȱserȱvistasȱcomoȱumȱcontinuumȱondeȱaȱpassagemȱdaȱpsicologiaȱparaȱaȱbiologiaȱouȱ paraȱ asȱ ciênciasȱ sociaisȱ éȱ muitasȱ vezesȱ questãoȱ deȱ convencionarȬseȱ limitesȱ ouȱ deȱ nãoȱ seȱ preocuparȱmuitoȱ comȱ eles.ȱ (...)ȱNestaȱ caracterizaçãoȱ daȱ psicologia,ȱ oȱ homemȱ éȱ vistoȱ comoȱ parteȱ daȱ natureza.ȱ Nemȱ pairandoȱ acimaȱ doȱ reinoȱ animal,ȱ comoȱ viramȱ pensadoresȱ préȬ darwinianos,ȱ nemȱ meroȱ robô,ȱ apenasȱ vítimaȱ dasȱ pressõesȱ doȱ ambiente,ȱ naȱ interpretaçãoȱ errônea,ȱfeitaȱporȱalgunsȱautoresȱ(...)ȱ(Todorov,ȱ1989,ȱp.ȱ348).ȱ ȱ ȱ Algunsȱpontosȱdaȱcitaçãoȱacimaȱmerecemȱumȱdestaqueȱespecial.ȱOȱprimeiroȱrefereȬseȱ aoȱ fatoȱ deȱ que,ȱ paraȱ aȱ Análiseȱ doȱ Comportamento,ȱ devemosȱ estudarȱ interaçõesȱ comportamentoȬambiente,ȱeȱnãoȱapenasȱoȱqueȱoȱindivíduoȱfaz,ȱfala,ȱpensaȱouȱsente.ȱOȱqueȱoȱ indivíduoȱ faz,ȱ fala,ȱpensaȱ ouȱ senteȱdeveȱ sempreȱ serȱ contextualizado.ȱDizer,ȱporȱ exemplo,ȱ “Mariaȱ chorou”ȱ nãoȱ éȱ deȱ muitaȱ utilidadeȱ paraȱ oȱ psicólogo.ȱ Nãoȱ estamosȱ interessadosȱ somenteȱ noȱ queȱ asȱ pessoasȱ fazem,ȱ ouȱ pensam,ȱ ouȱ sentem;ȱ estamosȱ interessadosȱ nasȱ condiçõesȱemȱqueȱesteȱfazer/pensar/sentirȱocorreȱeȱnasȱconsequênciasȱ(mudançasȱambientais)ȱ
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